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Antibióticos Aula 1 - Mecanismo de Ação dos Antibióticos Os antibióticos são medicações bastante utilizadas em Odontologia. O problema é que, na maioria das vezes, o uso dessas medicações é feito de maneira errada e indiscriminada. Por isso, vamos relembrar alguns conceitos fundamentais para que sua prescrição seja realizada da melhor maneira possível e individualizada para cada caso! A Flora da Cavidade Bucal Antes de prescrever uma medicação para combater uma infecção bucal, precisamos saber como é formada a microbiota oral. Para colonizar a cavidade oral, os microrganismos orais devem aderir às superfícies mucosas e dentais, ou aos microrganismos já aderidos a essas superfícies, formando biofilmes. Os biofilmes são estruturas organizadas de microrganismos que, na cavidade oral, podem ser encontrados nas superfícies dos dentes, nas mucosas e em superfícies artificiais como aparelhos ortodônticos e próteses dentárias. A formação de biofilmes proporciona proteção a seus membros pela maior resistência aos antimicrobianos e à remoção física, além de elevar a capacidade de evasão das defesas do hospedeiro. Já foram identificadas mais de 700 espécies bacterianas nos biofilmes orais, mas até o momento apenas um pequeno número dessas foi associado a doenças. A flora bucal usual é mista, com predomínio de bactérias Gram-positivas aeróbias e bactérias anaeróbias. Doenças associadas às bactérias que colonizam a cavidade bucal Bem, já vimos que na cavidade bucal há bactérias Aeróbias e Anaeróbias, Gram positivas e negativas. Você lembra a diferença entre esses tipos de bactérias? A célula de uma bactéria gram-positivaé circundada pela parede celular onde se encontra o peptidioglicano em todas as formas de bactérias, com excecã̧o dos micoplasmas. O peptidioglicano é formado por cadeias dissacarid́icas, ligadas entre si através de pontes peptid́icas.Internamente à parede celular existe a membrana plasmática formada por dupla camada de fosfolipid́ios e proteińa, onde toda a energia da célula é produzida. A célula de uma bactéria gram-negativaalém de apresentar as estruturas da gram-positiva, possui de fora para dentro, uma membrana externa à parede celular com dupla camada de lipid́ios, contendo proteińa, semelhante à membrana plasmática. Portanto, a complexidade da membrana externa da bactéria gram-negativa também dificulta a penetracã̧o de antibióticos, sendo que alguns destes são menos ativos contra gram-negativos do que contra gram-positivos. Não esqueça que a parede celular é uma estrutura exclusiva das bactérias, ou seja, não é encontrada em células de mamíferos! Isso explica por que alguns antibióticos não apresentam toxicidade às nossas células. Luz, Câmera …. AÇÃO! Podemos classificar os antibióticos em dois grandes grupos, de acordo com seu mecanismo de ação: Bactericidas: são capazes de, nas concentrações atingidas no sangue, determinar a morte de microorganismos sensíveis; Bacteriostáticos: quando inibem o crescimento e a multiplicação dos microorganismos, sem, todavia, destruí-los. De uma maneira simplista, os antibióticos Bactericidas são aqueles que conseguem inibir a síntese parede bacteriana; os Bacteriostáticos alteram o metabolismo bacteriano. Confira a ilustração abaixo. Identifique os antibióticos bactericidas (que agem da parede bacteriana) e os bacteriostáticos (que agem no metabolismo). E ESSA CONCENTRAÇÃO? Você já ouviu falar em Concentração Inibitória Mínima (CIM)? É a concentração do fármaco capaz de inibir a multiplicação do agente infeccioso. Deve-se atentar ao fato que o fármaco deve atingir, no sítio de infecção, níveis 3 a 5 vezes mais altos que a CIM para ser realmente efetivo. Após a administração de dose padronizada de um antimicrobiano, sua concentração plasmática aumenta rapidamente, até atingir a concentração sérica máxima; depois disso, na medida em que se distribui entre os tecidos e é eliminado ou metabolizado, sua concentração no sangue vai diminuindo progressivamente até se tornar nula. Para ter a CIM, o cálculo da dose individualizada e o intervalo das doses devem ser respeitadas. Por esse motivo é tão importante não alterar o horário da tomada da medicação! EXCREÇÃO A eliminação (excreção) das drogas no organismo é realizada, principalmente, através dos rins e do fígado, embora algumas possam ser eliminadas pelo pulmão, trato gastrintestinal ou pele. As substâncias eliminadas nas fezes são geralmente aquelas ingeridas por via oral e não absorvidas ou metabólitos eliminados pela bile e não reabsorvidos. Pode haver eliminação pelo leite, pouco importante como via de eliminação, mas de interesse pela possibilidade de causar efeitos no lactante. Pequenas quantidades do medicamento podem ser eliminadas pelo suor ou pela saliva. MAIS UMA DOSE, POR FAVOR … A dose de ataque é utilizada (em alguns casos) no início do uso do antibiótico, com o objetivo de se obter níveis séricos maiores em menos tempo (para que a infecção possa ser combatida mais rapidamente). Essa dose é 2 a 3 vezes a dose usual do antibiótico determinado (Exemplo: dose de ataque da Amoxicilida = 1g da medicação na primeira tomada). RESISTÊNCIA BACTERIANA A resistência bacteriana ocorre quando a bactéria evolui para combater o mecanismo de acã̧o do fármaco. Acredita-se que o desenvolvimento da resistência bacteriana a antibióticos foi acelerada pelo uso indiscriminado desses medicamentos. Por esse motivo, devemos utilizar o receituário especial branco ou uma receita carbonada quando dispensamos esse medicamento hoje em dia. Aula 2 - Antibióticos Disponíveis para Uso em Odontologia Senta que lá vem história .... O primeiro antibiótico identificado pelo homem foi a penicilina. Alexander Fleming, bacteriologista do St. Mary's Hospital, de Londres, já vinha um tempo pesquisando substâncias capazes de matar ou impedir o crescimento de bactérias nas feridas infectadas. A descoberta da penicilina deu-se em condições muito peculiares, graças a uma sequência de acontecimentos imprevistos e surpreendentes. No mês de agosto de 1928 Fleming tirou férias e, por esquecimento, deixou algumas placas com culturas de estafilococos sobre a mesa. Ao retornar ao trabalho, em setembro do mesmo ano, observou que algumas das placas estavam contaminadas com mofo, fato este relativamente frequente.O fungo foi identificado como pertencente ao gênero penicillium, de onde deriva o nome da penicilina dado à substância por ele produzida. Fleming passou a empregá-lo em seu laboratório para selecionar determinadas bactérias, eliminando das culturas as espécies sensíveis à sua ação. Pouco tempo depois, a penicilina já era produzida em larga escala para o controle das infecções bacterianas. É o antibiótico há mais tempo disponível para uso e, pelas suas características, ainda hoje é o mais utilizado em Odontologia. Famílias e Medicações Antibióticas Antes de mais nada, é importante salientar que não existe uma droga padrão que sirva para todas as infecções e para todos os pacientes. A seleção dos antibióticos obedece a critérios clínico-farmacológicos conhecidos como linha de escolha. O medicamento eficaz contra uma infecção específica, em um determinado paciente, de acordo com suas condições sistêmicas e que produza o menor efeito colateral possível é chamado de primeira linha de escolha. Se, por alguma razão (hipersensibilidade, resistência ou qualquer outra condição), este não puder ser prescrito, lança-se mão de um outro, já contendo mais efeitos colaterais, portanto de segunda linha de escolha. Em odontologia, podemos prescrever antibióticos em duas situações distintas: Tratamento de infecções instaladas Prevenção da instalação de infecções empacientes susceptíveis Abaixo, listamos os grandes drupos de antibióticas acordo com os seus mecanismos de ação e espectro. BETALACTÂMICOS O grupo de antimicrobianos classificados como ß-lactâmicos possui em comum no seu núcleo estrutural o anel ß-lactâmico, o qual confere atividade bactericida.Conforme a característica da cadeia lateral definem-se seu espectro de ação e suas propriedades farmacológicas. O mecanismo de ação dos antimicrobianos ß-lactâmicos resulta em parte da sua habilidade de interferir com a síntese do peptideoglicano (responsável pela integridade da parede bacteriana). São descritas três formas principas pelas quais as bactérias apresentam resistência aos antimicrobianos ß–lactâmicos: A. Produção de ß–lactamases: é o meio mais eficiente e comum das bactérias se tornarem resistentes aos antimicrobianos ß–lactâmicos; B. Modificações estruturais das proteínas ligadoras de penicilina (PLP) codificadas pelo gene mecA; C. Diminuição da permeabilidade bacteriana ao antimicrobiano através de mutações e modificações nas porinas, proteínas que permitem a entrada de nutrientes e outros elementos para o interior da célula. 1. PENICILINAS Descobertas em 1928, por Fleming, permanecem até hoje como uma excelente classe de antimicrobianos. São divididas em: Benzilpenicilinas ou penicilinas naturais Entre as benzilpenicilinas, a associação da penicilina com determinadas substâncias determina sua farmacocinética e farmacodinâmica. Penicilina cristalina ou aquosa: restrita ao uso endovenoso. Apresenta meia-vida curta (30 a 40 minutos), é eliminada do organismo rapidamente (cerca de 4 horas). Distribuí-se amplamente pelo organismo, alcançando concentrações terapêuticas em praticamente todos os tecidos. É a única benzilpenicilina que ultrapassa a barreira hemato-encefálica em concentrações terapêuticas, e mesmo assim, somente quando há inflamação. Penicilina G procaína: apenas para uso intramuscular. A associação com procaína retarda o pico máximo e aumenta os níveis séricos e teciduais por um período de 12 horas. Penicilina G benzatina: é uma penicilina de depósito, pouco hidrossolúvel, e seu uso é exclusivamente intramuscular. Os níveis séricos permanecem por 15 a 30 dias, dependentes da dose utilizada. Penicilina V: apenas para uso oral. Os níveis séricos atingidos por esta preparação são 2 a 5 vezes maiores do que os obtidos com as penicilinas G administradas por via intramuscular e com distribuição tecidual similar a esta. Pode ser utilizada como terapêutica seqüencial oral na substituição das penicilinas parenterais, exceto contra Neisseria spp eHaemophilus spp.. Aminopenicilinas As aminopenicilinas são penicilinas semi-sintéticas, disponíveis desde 1960, após a adição de um grupo amino na cadeia lateral, e de espectro de ação mais amplo, em relação às benzilpenicilinas. Apresentam boa absorção, tanto oral como parenteral. São dois dos antibióticos mais utilizados em Odontologia: Ampicilina e Amoxicilina. Ampicilina: apresenta meia-vida de 1,2 horas, não devendo ser utilizada com intervalos maiores que 6 horas. Tem boa distribuição em todos os compartimentos orgânicos e atinge concentrações terapêuticas no LCR, líquido pleural, articulações e fluidos peritoneais na presença de inflamação e após administração parenteral. Amoxicilina:A absorção por via oral é melhor do que a da ampicilina. Utilizada com intervalos de 8 horas. Alcança níveis no LCR inferiores a ampicilina, não havendo vantagem do seu uso para terapêutica de pacientes com meningoencefalites bacterianas. Penicilinas de amplo espectro, obtidas por associação com inibidores de ß-lactamase Apesar do desenvolvimento de toda essa variedade de penicilinas, a produção das ß- lactamases continuou sendo o meio mais eficiente e comum das bactérias se tornarem resistentes aos antimicrobianos ß–lactâmicos. Novas estratégias foram desenvolvidas para recuperar o espectro destes antimicrobianos. Os inibidores de ß–lactamases, quando em associação com antimicrobianos ß-lactâmicos, ligam-se às ß-lactamases. Dessa forma, evitam a hidrólise do anel ß–lactâmico e potencializam sua atividade. Amoxicilina - ácido clavulânico: Tanto a amoxacilina quanto o ácido clavulânico são absorvidos rapidamente pelo trato digestivo. Tem meia-vida de aproximadamente uma hora. Ligação protéica baixa (18 e 25%), com rápida penetração na maioria dos tecidos e líquidos extravasculares, incluindo líquidos pleural, peritoneal e secreções pulmonares. Apresenta excelente atividade contraS. aureus e anaeróbios produtores da ß-lactamases. Ativo contraH. influenzaee Moraxella catarrhalis produtoras de ß-lactamases. Ampicilina – sulbactam: A relação é de 2:1 e a dose total de sulbactam não deve ultrapassar a 4g por dia. Meia-vida de uma hora para ambas as drogas. Mais de 75% desta associação é eliminada por via renal. Ambos penetram bem tanto nos tecidos como nos líquidos extravasculares. No líquido peritoneal atinge 90% da concentração sérica. Na presença de meninges inflamadas atinge bom nível liquórico, porém a correlação clínica precisa ser melhor avaliada. A ampicilina quando em associação com sulbactam é ativa contra cepas produtoras de ß-lactamases incluindo S. aureus, H. influenzae, M. catarrhalis, E. coli, Proteus spp., Providencia spp.,Klebsiella spp.e anaeróbios. Não tem atividade contra P. aeruginosa ou cepas de enterobacteriaceas indutoras de ß-lactamases. Já existem relatos de cepas de E. coli resistentes a esta associação. Efeitos adversos das penicilinas Geralmente, as penicilinas apresentam elevado ińdice terapêutico e relativamente são atóxicas para o organismo humano. As reacõ̧es alérgicas constituem os principais efeitos adversos do uso das penicilinas, freqüentemente, a sensibilizacã̧o é resultante do tratamento prévio com uma penicilina. A maioria das reacõ̧es alérgicas a penicilina é resultante da sensibilidade ao anel beta- lactâmico na estrutura da penicilina. 2. CEFALOSPORINAS As cefalosporinas são classificadas em gerações, que se referem à atividade antimicrobiana e às características farmacocinéticas e farmacodinâmicas e não necessariamente à cronologia de co-mercialização. Em geral, as cefalosporinas são bem toleradas. Dentre as reações adversas descritas, as mais frequentes são tromboflebite (1 a 5%), hipersensibilidade, que varia de 5 a 16% nos pacientes com antecedente de alergia às penicilinas, e de 1 a 2,5% nos pacientes sem esse antecedente. Nos pacientes com história de reação de hipersensibilidade grave às penicilinas, o uso das cefalosporinas deve ser evitado. As cefalosporinas de primeira geração são muito ativas contra cocos gram-positivos e têm atividade moderada contra E. coli, Proteus mirabilis e K. pneumoniae. Não têm atividade contra H. influenzae e não agem contra estafilococos resistentes à oxacilina, pneumococos resistentes à penicilina, Enterococcus spp. e anaeróbios. As cefalosporinas de primeira geração podem ser usadas durante a gestação. Os fármacos disponíveis no Brasil são cefalotina, cefazolina, cefalexina e cefadroxila. Devido a baixa toxicidade, espectro de ação, baixo custo e meia-vida prolongada, a cefazolina é recomendada na profilaxia de diversas cirurgias. Em relação às cefalosporinas de primeira geração, as cefalosporinas de segunda geração apresentam maior atividade contra H. influenzae, Moraxella catarrhalis, Neisseria meningitidis, Neisseria gonorrhoeae. Ascefalosporinas de segunda geração disponíveis no Brasil são cefoxitina, cefuroxima, axetilcefuroxima e cefaclor. As cefalosporinas de terceira geração são mais potentes contra bacilos gram-negativos anaeróbios facultativos, e têm atividade antimicrobiana superior contra S. pneumoniae (incluindoaqueles com sensibilidade intermediária às penicilinas), S. pyogenes e outros estreptococos. Os fármacos disponíveis no Brasil são ceftriaxona, cefotaxima e ceftazidima, de uso exclusivamente por via parenteral. Com exceção da ceftazidima, apresentam atividade moderada contra os S. aureus sensíveis à oxacilina, por outro lado, somente a ceftazidima tem atividade contra P. aeruginosa. As cefalosporinas de quarta geração agem contra bactérias gram-negativas, inclusive Pseudomonas spp., além de apresentarem atividade contra cocos gram-positivos, especialmente estafilococos sensíveis à oxacilina. Além disso, são resistentes às β- lactamases e pouco indutoras da sua produção. O único fármaco disponível no Brasil é a cefepima. TETRACICLINAS As tetraciclinas são agentes bacteriostáticos de amplo espectro de ação. Esses fármacos existem como misturas de formas lipofílicas e hidrofílicas, o que permite a sua entrada tanto em células bacterianas gram-positivas como em gram-negativas. As tetraciclinas são efetivas contra bactérias gram-positivas, gram-negativas aeróbias e anaeróbias, espiroquetas, riquétsias, micoplasma, clamídias e alguns protozoários. A clortetraciclina é um composto natural produzido por Streptomyces spp. que começou a ser utilizado em 1948 e tem eficácia clínica limitada devido ao aparecimento de cepas resistentes. A partir da emergência de cepas resistentes às tetraciclinas de primeira geração, foram desenvolvidas as tetraciclinas de segunda geração, como adoxiciclina, e de terceira geração, como a tigeciclina, única representante do grupo das glicilciclinas. A utilização terapêutica das tetraciclinas na odontologia é limitada já que a substância apresenta amplo espectro de ação, podendo induzir infecções oportunistas. As tetraciclinas se difundem muito bem no tecido ósseo, tendo sido empregadas como adjuvante ao tratamento mecânico na periodontite agressiva; atualmente, têm sido substituídas por outros agentes, como a associação de amoxicilina e metronidazol. No entanto, além da atividade antimicrobiana, foi demonstrada a atividade inibidora de metaloproteinases das tetraciclinas, mesmo em doses subinibitórias (abaixo da CIM para a maioria dos microrganismos), tendo sido sugerido seu uso comoadjuvante ao tratamento periodontal no controle da destruição tecidual promovida por essas enzimas durante o processo inflamatório. As tetraciclinas não devem ser administradas em mulheres durante a gestação e em crianças de até 8 anos de idade, devido a sua toxicidade para o osso e os dentes em formação. Seu uso durante a mineralização dos dentes está associado a manchas dentais, pois elas se ligam aos íons Ca2+ durante a odontogênese, causando hipoplasia de esmalte e dentina. Quando o dente erupciona, as tetraciclinas sofrem oxidação, levando ao surgimento de manchas amarronzadas permanentes. A minociclina, um derivado semissintético da tetraciclina, quando utilizada por longos períodos de tempo, por jovens e adultos, para o tratamento de acne e artrite reumatoide, pode produzir manchas em dentes já irrompidos por via sistêmica. Os efeitos adversos mais comuns da utilização de tetraciclinas são irritação gastrintestinal e prolongamento do tempo de coagulação , além disso, não podem ser administradas concomitantemente a outros antibióticos e a contraceptivos orais. LINCOSAMIDAS O grupo das lincosamidas, representado pela lincomicina e clindamicina, apresenta efeito bacteriostático com espectro de ação limitado a cocos gram-positivos comoStreptococcus e Staphylococcus, associados a infecções de pele, além de ser ativo contra organismos anaeróbios estritos. A clindamicina é recomendada como antibiótico alternativo (depois da amoxicilina) . A clindamicina pode ser administrada por via oral, IV ou tópica. A via intramuscular é dolorosa, devendo ser evitada. Por via intravenosa atinge o pico ao final da infusão, alcançando altas concentrações na maioria dos tecidos. No osso, atinge 1/3 da concentração plasmática. A clindamicina não atravessa a barreira hematencefálica, mas atravessa a placenta, atingindo o feto, embora não haja relatos de teratogenicidade. A maior parte do fármaco é metabolizada no fígado e eliminada por vias biliar e renal, devendo-se fazer ajuste de dose na presença de doença hepática isolada ou associada à lesão renal. As lincosaminas são indicadas parainfecções odontogênicas como abscessos e lesões endoperiodontais. Seus efeitos adversos consistem principalmente em distúrbios gastrintestinais que podem se manifestar na forma de diarreia grave e colite pseudomembranosa. MACROLÍDEOS Os macrolídios compõem uma grande família de antimicrobianos bacteriostáticos usados desde os anos 1950, com a introdução do produto natural eritromicina. Além dessa, fazem parte deste grupo azitromicina, claritromicina, espiramicina, miocamicina e roxitromicina. Esses agentes se difundem através da camada de peptidoglicano e da membrana citoplasmática de bactérias gram-positivas. No entanto, são moléculas lipofílicas grandes, que não atravessam a membrana externa da parede das bactérias gram-negativas, cuja maioria é resistente à sua ação. São indicados para o tratamento de infecções por bactérias gram-positivas em pacientes com alergia a betalactâmicos e para infecções respiratórias causadas por Pneumococcus pneumoniae, S. pyogenes, Mycoplasma e Legionella. Depois dos derivados da penicilina, a eritromicina é o segundo fármaco mais frequentemente empregado no tratamento de infecções odontogênicas, sendo reservado comoalternativa para pacientes alérgicos às penicilinas nas infecções de pequena ou média gravidade. O agente tem aplicação limitada na periodontia porque seu nível no fluido gengival é insuficiente para inibir a maioria dos patógenos periodontais. A eritromicina é um antibiótico notavelmente seguro, que produz um número relativamente pequeno de efeitos adversos como distúrbios gastrintestinais, e toxicidade hepática; porém, potencializa os efeitos de diversos fármacos, inclusive de anticoagulantes de uso oral como, por exemplo, a varfarina. METRONIDAZOL O metronidazol foi introduzido na clínica em 1959, como agente antiparasitário. Posteriormente, foi demonstrado que esse agente apresentava atividade bactericida contra bactérias anaeróbias estritas, inclusive bactérias gram-positivas, como Clostridium, e gram- negativas, como espécies de Bacteroides, Prevotella e Porphyromonas, podendo também ser ativo contra alguns microrganismos microaerófilos como Helicobacter pylori. No entanto, bacilos gram-positivos anaeróbios estritos dos gêneros Actinomyces ePropionibacterium são geralmente resistentes. O metronidazol é usado para o tratamento de infecções mistas por bactérias anaeróbias estritas, como nas diarreias por Clostridium difficile, infecções ginecológicas, infecções mistas por anaeróbios em tecido ósseo e sistema nervoso central. Esse agente é também indicado em diversas infecções orais e dentárias, sendo efetivo como adjuvante ao tratamento mecânico convencional da periodontite crônica, associada a bactérias anaeróbias estritas como Porphyromonas gingivalis, Tannerella forsythia e Treponema denticola. Disponível nas formas oral, tópica e intravenosa, é quase totalmente absorvido no tubo digestivo, apresentando meia-vida plasmática de 8 h. O metronidazol apresenta excelente penetração nos tecidos, ao contrário da clindamicina, muito usada contra bactérias anaeróbias, sendo capaz de atingir o fluido cerebrospinal. Além disso, tem a capacidade de penetrar e agir no conteúdo em abscessos e empiemas. O metronidazol atravessa a placenta e é excretado no leite materno, sendo, portanto, contraindicado a gestantes e lactantes. Os principais efeitos colaterais do metronidazol são os distúrbios gastrintestinais e são raros os relatos de resistênciaentre as espécies normalmente suscetíveis. Sua interação com o álcool é grave, ocorrendo a reação denominada efeito dissulfiram ou efeito antabuse, que se caracteriza por desconforto abdominal, rubor, vômitos e cefaleia. Embora não seja comum, o paciente deve ser alertado sobre essa reação. O metronidazol é metabolizado principalmente pelo fígado, originando metabólitos de baixa toxicidade. A maior parte é excretada pelos rins (60 a 80%). Em caso de doença renal e hepática concomitantes, a dose deve ser ajustada. Em odontologia, é muito usado em associação com amoxicilina, para aumentar o espectro de ação. QUINOLONAS São representantes desta classe ciprofloxacino, levofloxacino, noxifloxacino e gemifloxacino. As quinolonas são moléculas bactericidas pequenas, hidrofílicas, capazes de atravessar a parede de bactérias gram-positivas e negativas, se difundir através da membrana citoplasmática e atingir seu alvo. As quinolonas de primeira geração são representadas pelo ácido nalidíxico, que apresenta atividade somente contra bactérias gram-negativas e já foi bastante utilizado para tratar infecções urinárias, por alcançar altas concentrações no local da infecção. Posteriormente, essas quinolonas foram modificadas para obtenção dasfluoroquinolonas, representadas por ciprofloxacino e levofloxacino. Essas possuem amplo espectro de ação, agindo tanto em bactérias gram-negativas quanto em gram-positivas, inclusive anaeróbios estritos. Esses fármacos têm ampla distribuição nos tecidos, atingem intestinos e pulmão e são efetivos em baixas concentrações SULFONAMIDAS E TRIMETOPRIMA As sulfonamidas começaram a ser utilizadas nos anos 1930 e foram os primeiros agentes antimicrobianos efetivos usados para o tratamento de infecções sistêmicas. O grupo das sulfonamidas compreende a sulfanilamida e os fármacos derivados da sulfanilamida: sulfafurazol, sulfacetamida, ácido paraminobenzoico, sulfadiazina e sulfametoxazol. São bacteriostáticos, que têm estrutura similar à do ácido paraminobenzoico (PABA), competindo com esse composto pela ligação à enzima di- hidropteroato sintetase, que converte o PABA em ácido L-glutâmico. Desse modo, as sulfonamidas previnem a síntese de ácido fólico necessário ao crescimento bacteriano. As sulfonamidas são comumente empregadas em associação à trimetoprima, um agente bactericida de amplo espectro que inibe a redução de di-hidrofolato a tetraidrofolato pela ação da tetraidrolato desidrogenase. A combinação sulfonamida e trimetoprima tem efeito sinérgico, pois os fármacos atuam em passos diferentes da síntese do ácido folínico, necessária para a síntese dos ácidos nucleicos. No entanto, patógenos como Enterococcus, P. pneumoniae e P. aeruginosa são resistentes a esses agentes. Aula 3 - Posologias e Indicações de Uso DOSAGEM E INTERVALO ENTRE AS DOSES A maioria das infecções agudas bucais têm início muito rápido, o que não permite que se estabeleça em pouco tempo a concentração inibitória mínima (CIM). Por esse motivo, recomenda-se iniciar o tratamento com uma dose de ataque, geralmente o dobro da dose de manutenção. As doses de manutenção devem proporcionar níveis adequados do antibiótico nos tecidos afetados, que excedam a CIM do microorganismo-alvo em 2 a 8 vezes. Aduração vai depender da severidade da infecção, da gravidade da recidiva, da resistência orgânica do paciente, das condições sistêmicas e da conduta odontológica. Aconselha-se que a antibioticoterapia seja mantida até dois dias depois de desaparecer o último sintoma da infecção.Em casos mais graves (GUNA, osteomielite, angina de Ludwig) a duração fica a critério do Cirurgião-Dentista. As penicilinas devem ser prescritas com um mínimo de 7 dias. O tempo máximo da Azitromicina é de 5 (250mg) ou 3 (500mg) dias. Na tabela abaixo, confira as posologias das medicações antibióticas. FALHA NA ANTIBIOTICOTERAPIA Alguns fatores que estão relacionados à falha da antibioticoterapia: Escolha inapropriada do antibiótico; Falha no cálculo da dosagem; Antibiótico não consegue penetrar no sítio da infecção; Antagonismo entre antibióticos; Microorganismos resistentes; Falta de adesão ao tratamento. INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA O álcool estaria envolvido em uma menor absorção do antibiótico, além de aumento do risco de hepatotoxicidade e aumento da diurese, interferindo desta maneira no tratamento. Ao uso do metronidazol, deve-se orientar abstenção de bebidas alcoólicas por 48hs após o término do tratamento. O uso de antibióticos parece reduzir a efetividade de contraceptivo oral, devendo haver esclarecimento do Cirurgião-Dentista com a paciente nesses casos. ASSOCIAÇÃO ENTRE DROGAS Em alguns casos, há necessidade de associação entre antibióticos para que se aumente o espectro de ação e portanto a resposta à infecção. A associação deve sempre seguir o esquema abaixo: Bactericida + Bactericida – ocorre sinergismo entre as drogas Ex. Penicilinas associadas com aminoglicídeos (gentamicina); Bacteriostático + Bacteriostático – ocorre sinergismo entre drogas Ex. sulfas com trimetropim. Neste caso a associação poderá até se tornar bactericida; Bactericida + bacteriostático – ocorre antagonismo. Deve ser evitado. Aula 4 - Profilaxia Antibiótica Há mais de um século foi sugerido que a cavidade oral, por conter grande número de microrganismos e intensa vascularização, poderia atuar como fonte primária de infecções focais ao permitir que bactérias atinjam a corrente sanguínea. A maior parte dos microrganismos que atingem a circulação sanguínea é prontamente eliminada. Mas, certas espécies apresentam capacidade de sobreviver a fatores de defesa do hospedeiro e podem se instalar em locais distantes da infecção inicial. A presença transitória de bactérias na circulação sanguínea é chamada de bacteriemia. De acordo com a Associação Americana do Coração (American Heart Association,AHA), vários procedimentos odontológicos, como a raspagem e o alisamento radicular, podem causar bacteriemia. A dimensão do trauma dos tecidos, a densidade e diversidade microbiana e o grau de inflamação no local do trauma vão afetar essa ocorrência. Embora infecções focais de origem oral possam afetar qualquer órgão, as endocardites bacterianas (EB) são consideradas as mais importantes devido a sua alta morbidade e mortalidade. Estima-se que haja de 3 a 10 episódios de EB/100.000 pessoas por ano, sendo que até 20% dos casos têm como causa microrganismos que migraram da boca. As infecções no endocárdio são causadas por microrganismos que entram na corrente sanguínea e colonizam as paredes da câmara do coração, vasos ou valvas com defeitos congênitos ou adquiridos. Os principais microrganismos residentes da cavidade oral associados a EB são membros do grupo dos estreptococos viridans e do grupo HACEK. O grupo viridans é formado por diferentes espécies de Streptococcus, entre elas S. sanguinis, S. oralis, S. gordonii, S. mitis, S. mutans, S. salivarius e S. anginosus. A espécieAggregatibacter actinomycetemcomitans, associada à periodontite agressiva, é a mais prevalente em casos de EB entre os membros do grupo HACEK. Esse grupo (Haemophillus spp., Aggregatibacter spp., Cardiobacterium hominis, Eikenella corrodens e Kingella spp.) é formado por bacilos gram-negativos fastidiosos, e é responsável por 3% dos casos de EB. Em 1955, a AHA publicou o primeiro guia para administração profilática de antibiótico (penicilina) antes de procedimentos cirúrgicos, incluindo-se procedimentos odontológicos, como forma de prevenir a EB. Desde então, a utilização profilática de antibióticos para pacientes submetidos a tratamentos odontológicos tem sidodiscutida devido às dúvidas sobre sua real necessidade e eficácia. Pacientes com defeito cardíaco congênitoou adquirido são geralmente aconselhados a tomar antibióticos uma hora antes de procedimentos odontológicos ou procedimentos que envolvam boca, garganta, sistema gastrintestinal, genital ou urinário. O protocolo atual de profilaxia da EB recomenda a utilização de amoxicilina em dose única, por via oral. Aos alérgicos às penicilinas, é recomendado o uso da clindamicina ou azitromicina para adultos, eazitromicina ou claritromicina para crianças. De forma geral, a profilaxia é indicada para procedimentos que requerem a manipulação da região gengival, periapical ou perfuração da mucosa oral em pacientes que tenham maior risco de desenvolver endocardite após um procedimento odontológico, tais como aqueles com história prévia de endocardite, lesões congênitas valvares ou cardíacas importantes, e portadores de próteses cardíacas, vasculares, ortopédicas ou neurológicas. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomenda a profilaxia antibiótica para prevenir EB em pacientes com cardiopatias com condições cardíacas subjacentes associadas a maior risco de desfecho desfavorável de endocardite infecciosa. Esse grupo inclui pacientes com substituição articular total realizada nos últimos 2 anos e com imunodepressão (diabéticos, desnutridos, em tratamento com imunossupressores, entre outros). A profilaxia é indicada previamente a procedimentos como extrações dentárias, procedimentos periodontais que incluam cirurgia, raspagem e aplanamento radicular, colocação de implante dentário ou reimplante de dentes avulsos, instrumentação ou cirurgia endodôntica além do ápice, colocação de bandas ortodônticas (mas não colagem de “brackets”), injeções intraligamentares de anestésico local, limpeza profilática de dentes ou implantes, e em todo procedimento que ocasione sangramento. Para pacientes com alto risco para EB, outras estratégias devem também ser empregadas como planejamento do tratamento visando realizar o maior número de procedimentos odontológicos, sob uma mesma cobertura antibiótica e uso de enxaguatórios antissépticos como digluconato de clorexidina a 0,12%, antes do procedimento, diminuindo a carga microbiana na cavidade oral. Esquemas Terapêuticos de Profilaxia ADMINISTRADOS UMA HORA ANTES DO ATENDIMENTO ALÉRGICOS À PENICILINA ADMINISTRADOS UMA HORA ANTES DO ATENDIMENTO Segundo a AHA, indica-se profilaxia antibiótica nas seguintes condições: 1.Valvas cardíacas protéticas; 2.Endocardite bacteriana prévia; 3.Conduto pulmonar sistêmico construído cirurgicamente; 4. Doença cardíaca congênita cianótica (transposição de grandes artérias); 5.Malformações cardíacas congênitas; 6.Doença cardíaca reumática; 7.Cardiomiopatia hipertrófica; 8. Prolapso da valva mitral com regurgitação valvar
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