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Sartre e a Liberdade
Ediane Soares
"(...) o homem existe, encontra a si mesmo, surge no mundo e só posteriormente se define. O homem, tal como o existencialista o concebe, só não é passível de uma definição porque, de início, não é nada: só posteriormente será alguma coisa e será aquilo que ele fizer de si mesmo. Assim, não existe natureza humana, já que não existe um Deus para concebê-la. O homem é tão-somente, não apenas como ele se concebe, mas também como ele se quer; como ele se concebe após a existência, como ele se quer após esse impulso para a existência. O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo: é esse o primeiro princípio do existencialismo" (Sartre – O Existencialismo é um Humanismo). 
O Existencialismo que Sartre representa, defende que se Deus não existe, e assim sendo, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito. Este ser é o homem, e está condenado a ser livre. O homem antes de existir não é nada, somente depois que ele encontra a si mesmo é que ele surge no mundo, para então se definir, ou seja, ser aquilo que ele fizer de si mesmo.
1. "O homem está condenado à liberdade"
Essa é a máxima que marca a ideia sartriana de liberdade. Diferentemente do conceito renascentista e iluminista, para Sartre a liberdade é uma condição da existência humana e não um mérito ou um estado. A liberdade consiste em que não há nenhum dado anterior a nossa existência ou posterior, pautado em valores pré-estabelecidos capazes de nos isentar da responsabilidade por nossas escolhas. A liberdade sartriana é sinônima de responsabilidade.
Somos os únicos responsáveis pelos nossos atos e escolhas. O filósofo existencialista afirma, a exemplo de Nietzsche, que "Deus está morto", o que faz lembrar a obra de Dostoievski, Os Irmãos Karamazov, que diz que "se Deus está morto então tudo é permitido". Para Sartre, fazer tal afirmação, sem considerar o aspecto da responsabilidade, pode banalizar a ideia de liberdade. A questão não é simplesmente negar a existência de Deus, mais afirmar a existência do homem como único ser do qual nenhum conceito pode ser feito antes da existência. Mesmo tudo sendo permitido, o homem é responsável pelas suas escolhas e cada ato individual afeta a toda a humanidade.
Sartre afirma também que a consciência dessa condenação à liberdade leva à angústia, e faz com que o homem, enquanto projeto de si mesmo, realize-se como tal. O que acontece contrariamente ao homem alienado, pois este, não tendo consciência da própria liberdade, não se angustiará diante da vida, e não poderá realizar-se como um ser em si mesmo, logo não poderá definir-se de maneira autêntica.
2. "O inferno são os outros"
Para Sartre negar a liberdade é morrer em vida. É não existir originalmente. É abrir mão de ser a si mesmo plenamente. Sendo assim, se queremos viver plenamente, ou seja, se queremos dar sentido a nossa existência, só podemos querer a liberdade que nos já é dada arcando com as implicações necessárias.
A existência, no seu processo dialético entre liberdade e alteridade, nos traz a seguinte reflexão: se todos somos livres, isso quer dizer que tanto eu como os outros estamos igualmente condenados, porém EU, só posso dar conta da minha liberdade, mesmo essa refletindo diretamente numa coexistência. Enfim, a liberdade não é apenas uma implicação subjetiva, mas também está sob o julgo do olhar do outro.
Assim, Sartre, na peça Entre Quatro Paredes mostra a importância de todos os outros para cada individuo. O autor procura deixar claro que, uma relação ruim com os outros pode fazer com que tenhamos uma "má ideia" sobre nós mesmos (o que implica à má-fé) e que é muito importante manter relações interpessoais autênticas no compartilhamento da nossa liberdade.
3. Liberdade e Contingência
O aspecto contingente da existência é algo que interfere nas nossas escolhas sem restringir a nossa liberdade. De maneira que, são as limitações impostas pelos acasos que tornam essa liberdade possível. Pois, se fossemos capazes de realizar instantaneamente tudo o que quiséssemos sem limitações, não estaríamos no mundo real, mas em sonhos.
Para Sartre, é nesse mundo, contingente, limitado e ‘abandonado’ que existindo como projeto de si, estamos livres para fazer as escolhas que serão o caminho para a nossa definição.

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