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O DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA E A 
RELEVÂNCIA DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 64, DE 04 DE 
FEVEREIRO DE 2010, NO BRASIL 
 
 
 
 
CEZAR, Augusto 1
MARIN, Lorena Cypriano 2
ALPOIM, Luiza Miranda 3
RANGEL, Tauã Lima Verdan 4
 
 
 
Resumo: O presente artigo trata do direito humano a alimentação adequada, bem como a 
constitucionalização deste no Brasil. A princípio analisa-se o percurso da consolidação do direito 
à alimentação como fundamental e positivado no âmbito mundial. Posteriormente, é ressaltada a 
evolução e o desenvolvimento deste direito na forma da lei de Segurança Alimentar e Nutricional, 
como precedente da incorporação do direito à alimentação na Constituição Federal. Após a 
apreciação da trajetória do reconhecimento do direito humano à alimentação adequada e seus 
reflexos na conjuntura mundial, fica cognoscível, portanto, a relevância da Emenda 
Constitucional nº 64, de 04 de fevereiro de 2010, para a população brasileira, no que tange a 
possibilidade da exigibilidade desse direito. Dito que a subnutrição caracteriza má qualidade de 
vida e, logo, impõe a responsabilidade do Estado ante seu compromisso com o direito a vida e a 
dignidade da pessoa humana. 
 
 
 
Palavras-chave: Direito Humano à Alimentação Adequada. Segurança Alimentar e Nutricional. 
Direitos Humanos. Direitos Fundamentais. 
 
1Graduando do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo-ES, ​augusto.place@gmail.com​; 
2Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo-ES, ​lorenacyprianomarin2@gmail​; 
3Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo-ES, ​luiza.m.alpoim@hotmail.com​; 
4 Professor orientador: Doutorando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito 
da Universidade Federal Fluminense. Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade 
Federal Fluminense, taua_verdan2@hotmail.com 
 
1. COMENTÁRIOS INICIAIS 
 
Faz-se dispensável o debate a respeito das consequências de uma má 
alimentação para os seres humanos, uma vez que se trata de uma premissa 
evidente e incontestável que a desnutrição gera efeitos degradantes à qualidade de 
vida de qualquer indivíduo. Uma alimentação sadia, adequada, dentro dos padrões 
nutricionais, é matéria unânime para a existência do ser humano, bem como seu 
pleno desenvolvimento, não somente durante sua infância, mas ao longo de toda 
vida. 
É inerente à história do ser humano a apreensão com os recursos 
alimentícios desde os tempos da teoria do aumento populacional em progressão 
geométrica que previa a produção de alimentos cresceria em escala aritmética, logo, 
o receio se dava pela ideia de que em certo momento não haveria alimentos 
disponíveis para todos. Mas no que concerne a essa premissa, os produtos 
transgênicos se manifestaram como solução, através da capacidade científica de 
desenvolver alimentos mais resistentes e de maior escala produtiva no tempo. 
Todavia, a problemática não foi ao todo resolvida, a preocupação do 
sustento populacional meramente migraram de curso, da insuficiência produtiva para 
o acesso diminuto à nutrição de qualidade. Infelizmente, a fome e a insegurança 
alimentar e nutricional ainda se fazem presentes na realidade de muitas famílias 
brasileiras. 
É importante que o enfoque do debate desvie da ótica engessada das 
necessidades dos indivíduos em situação de subnutrição, e passe a levar em 
consideração os direitos inerentes a eles, o que implica diretamente no dever das 
autoridades públicas em garantir esse direito. Nesse sentido, Comparato ressalta a 
importância da afirmação dos direitos humanos de cada Estado: 
 
Sem dúvida, o reconhecimento oficial de direitos humanos, pela autoridade 
política competente, dá muito mais segurança às relações sociais. Ele 
exerce, também, uma função pedagógica no seio da comunidade, no 
sentido de fazer prevalecer os grandes valores éticos, os quais, sem esse 
reconhecimento oficial, tardariam a se impor na vida coletiva. 
(COMPARATO, p.71) 
 
A subnutrição, a fome e a miséria são condições de extremo insulto a 
dignidade da pessoa humana, por tanto, para sua erradicação faz-se indispensável a 
intervenção imediata do Estado, na forma de políticas públicas que atendam com 
prioridade a realização do direito alimentar, em observação ao direito universalmente 
consagrado à vida. 
Dito isto, vale frisar que o Direito Humano à Alimentação Adequada, assim 
como todo direito humano, mostra-se universal, inalienável, interdependente e 
indivisível. Entretanto, compete aos Estados fundamentá-lo em sua constituição e 
facultar assim a sua exigibilidade de fato à população. Por tanto é nítida a relevância 
da Emenda Constitucional nº 64, de fevereiro de 2010, que é propósito de 
esclarecimento deste estudo. 
 
 
2. BREVE HISTÓRICO DO DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA E 
SUA AFIRMAÇÃO JURÍDICA NO ÂMBITO MUNDIAL 
 
Desde meados do século XX, a coletividade internacional procura 
respostas para erradicar a subnutrição no mundo. ​Grande é a influência do estudo 
da história para entender o mundo jurídico, principalmente ao se tratar dos direitos 
fundamentais à pessoa humana. O direito à liberdade, à vida, acesso à saúde, 
moradia, educação, informação e alimentação adequada, por exemplo, são direitos 
universais, indivisíveis e inalienáveis. Dito isso, a possibilidade de uma maior 
compreensão acerca dos direitos fundamentais e direitos humanos está 
profundamente ligado a história, uma vez que, estes foram edificados ao longo dos 
anos. (ABRANDH, 2013, p.24; SIQUEIRA et al, 2014, p.302) 
A alimentação é uma necessidade básica do ser humano e ninguém deve 
ser destituído da mesma. Essa foi incorporada a vários tratados internacionais sobre 
Direitos Humanos. A Convenção de Genebra em 1864 foi uma das pioneiras a 
discorrer sobre o assunto, com o seu contexto histórico de guerra, se fez necessária 
a discussão sobre esses temas. O Protocolo Adicional à Convenção de Genebra de 
12 de agosto de 1949 delibera o artigo 14: 
 
Inanição dos civis como um método de combate é proibido. É, então, proibido 
atacar, destruir, remover ou tornar inútil, para este propósito, objetos 
indispensáveis à sobrevivência da população civil, como gêneros 
alimentícios, áreas agrícolas para a produção de gêneros alimentícios, 
culturas, criação de animais, instalações e abastecimento de água potável e 
trabalhos de irrigação. (BRASIL, 1943) 
 
Esta declaração de proteção humanitária tem como dois princípios básicos 
a proibição à expulsão forçada das populações que é uma das maiores causas da 
fome e todas as necessidades primárias da população civil. Dessa forma já é 
possível perceber uma preocupação com o direito a alimentação desde 1864. 
Diante do contexto da promoção do direito à alimentação como um padrão 
adequado de vida, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Pacto de 
direitos econômicos, sociais e culturais; ​efetiva o direito à alimentação adequada em 
seu artigo25 no ano de 1948: 
 
Artigo 25 - 1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de 
assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, 
vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais 
indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, 
invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de 
subsistência fora de seu controle. (ONU, 1948) 
 
O mesmo direito é reiterado no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais (PIDESC) no artigo 11 que prevê: 
 
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda 
pessoa a um nível de vida adequando para si próprio e sua família, inclusive 
à alimentação, vestimenta e moradia adequadas, assim como a uma 
melhoria continua de suas condições de vida. Os Estados Partes tomarão 
medidas apropriadas para assegurar a consecução desse direito, 
reconhecendo, nesse sentido, a importância essencial da cooperação 
internacional fundada no livre consentimento. 
2. Os Estados Partes do presente Pacto, reconhecendo o direito 
fundamental de toda pessoa de estar protegida contra a fome, adotarão, 
individualmente e mediante cooperação internacional, as medidas, inclusive 
programas concretos, que se façam necessárias para: 
a) Melhorar os métodos de produção, conservação e distribuição de 
gêneros alimentícios pela plena utilização dos conhecimentos técnicos e 
científicos, pela difusão de princípios de educação nutricional e pelo 
aperfeiçoamento ou reforma dos regimes agrários, de maneira que se 
assegurem a exploração e a utilização mais eficazes dos recursos naturais; 
b) Assegurar uma repartição eqüitativa dos recursos alimentícios mundiais 
em relação às necessidades, levando-se em conta os problemas tanto dos 
países importadores quanto dos exportadores de gêneros alimentícios. 
(ONU, 1966) 
 
Reconhecendo basicamente que os Estados Partes precisam garantir 
direito de toda pessoa a um nível de vida adequado para si próprio e sua família, 
inclusive à alimentação entre outras medidas. A Declaração Universal para a 
erradicação da Fome e Subnutrição teve um papel importante na responsabilidade 
fundamental dos governos, além de dar prioridade à subnutrição crônica entre os 
grupos mais vulneráveis. Sendo sua primeira Conferência Mundial da Alimentação 
sediada em Roma no ano de 1974 declarando: 
 
Todo homem, mulher e criança tem o direito alienável de estar livre da fome 
e da subnutrição, para que se desenvolva plenamente e mantenha suas 
faculdades físicas e mentais. A sociedade hoje já possui recursos 
suficientes, capacidade de organização e tecnologia e, portanto, a 
competência para alcançar este objetivo. Dessa forma, a erradicação da 
fome é um objetivo comum de todos os países da comunidade internacional, 
especialmente dos países desenvolvidos e de outros que estejam em 
posição de ajudar. (ONU, 1974) 
 
Desse modo, é responsabilidade de toda comunidade internacional 
assegurar a disponibilidade de suprimentos mundiais de alimentos básicos, por meio 
de reservas apropriadas, incluindo reservas emergenciais. Existindo assim, uma 
colaboração na consolidação de um sistema efetivo de segurança mundial contra a 
fome. 
 
 
3. A LEI ORGÂNICA DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL: 
PRECURSORA DO DIREITO FUNDAMENTAL À ALIMENTAÇÃO NO BRASIL 
 
A concepção de Segurança Alimentar e Nutricional – SAN encontra-se em 
constante evolução, bem como a sociedade a qual pertence. Os mais diversos tipos 
de interesses estão co-relacionados à questão alimentar e nutricional, portanto 
trata-se de assunto amplamente questionado e debatido por inúmeras Conferências 
com temática alimentícia. Progressivamente, a SAN passa a ser compreendida 
como uma estratégia pública que assume garantir o Direito Humano à Alimentação 
Adequada a todos. 
Nesse sentido, destaca-se a Lei de nº 11.346, de 15 de setembro de 2006, 
“Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN com vistas 
em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências.” 
(BRASIL, 2006), dispõe em seu art. 3º, o conceito vigente no Brasil de Segurança 
Alimentar e Nutricional: 
 
A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de 
todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em 
quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades 
essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que 
respeitem a diversidade cultural e que sejam: ambiental, cultural, econômica 
e socialmente sustentáveis. (BRASIL, 2006) 
 
A concepção de Segurança Alimentar e Nutricional prioriza a quantidade, 
qualidade e regularidade no acesso a alimentos. No que concerne o aspecto do 
acesso aos alimentos, nota-se que apesar da escala produtiva ser suficiente para o 
abastecimento mundial, as populações carentes dispõe tendência a encontrar 
dificuldades nesse acesso regular. 
No tocante à qualidade dos alimentos disponíveis para o consumo, esses 
devem estar aptos à ingestão humana, não sendo passível de qualquer tipo de 
restrição sanitária ou submetidos a riscos de contaminação. E referente ao aspecto 
quantitativo, compreende-se o acesso constante e regular aos nutrientes, partindo 
da premissa de que um desenvolvimento saudável requer três refeições diárias. 
Logo, políticas de distribuição infrequente de cestas básicas, por exemplo, não 
atende o propósito de erradicação da situação de acesso restrito e insuficiente de 
determinada classe, como destaca o Professor Belik (2003, p.15) 
Assim, a relação existente entre a SAN e o DHAA caracteriza uma linha 
tênue, que segue numa mesma vertente de propósito, levando em consideração que 
para obter o sucesso, a Política de SAN deve ser o meio garantidor da realização do 
DHAA, bem como dispor dos mecanismos para a exigibilidade deste direito. 
Torna-se imprescindível ressaltar que, a Lei nº 11.346/06 reconhece a alimentação 
adequada como um direito fundamental em respeito aos direitos sancionados pela 
Constituição Federal, como enaltece o seu art. 2º: 
 
A alimentação adequada é direito fundamental do ser humano, inerente à 
dignidade da pessoa humana e indispensável à realização dos direitos 
consagrados na Constituição Federal, devendo o poder público adotar as 
políticas e ações que se façam necessárias para promover e garantir a 
segurança alimentar e nutricional da população. (BRASIL, 2006) 
 
A normatização do direito a alimentação adequada pela Lei de Segurança 
Alimentar e Nutricional, suscitou a exigibilidade do DHAA no Brasil, de modo que 
transformou o acesso à nutrição de qualidade e quantidade suficiente, um direito de 
caráter fundamental. 
Essa disposição dá ao cidadão as condições necessárias para exigir a 
fundamentação desse direito, visto que a alimentação encontrava-se disposta 
somente de forma indireta na Constituição. A lei traz ainda outra disposição 
relevante para a exigibilidade,que é a determinação da responsabilidade do Estado 
em promover a SAN que, portanto deixa de ser uma iniciativa governamental de 
caridade e assume a posição de uma política de Estado, passível de reivindicação 
populacional plenamente respaldada pela lei. 
 
 
4. A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO 
ADEQUADA PELA EC Nº 64/2010 
 
A Emenda Constitucional nº 64, de 04 de fevereiro de 2010, incorporou a 
alimentação ao rol de direitos sociais do art. 6º da Constituição Federal, que até 
então não constava em sua redação, passando a vigorar com a seguinte formulação: 
“São direitos sociais: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o 
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção a maternidade e a infância, 
assistência aos desamparados, na forma desta constituição”. (BRASIL, 2010) 
Na esfera do direito de família, a nova emenda constitucional já tem um 
veemente defensor que é o principio da solidariedade, destacado pelo art. 3º, da CF. 
Portanto seus atributos já devem ser visualizados instantaneamente, 
complementando todas as garantias jurídico-institucionais em ajuda daqueles que 
necessitam de uma alimentação adequada, especialmente tendo em vista o pleno 
desenvolvimento da criança como um ser mais frágil neste processo. 
A partir do momento que passa a evidenciar-se vizinho a outros direitos 
como a saúde, a educação, a moradia, o trabalho, a segurança, o lazer, a proteção à 
maternidade, a previdência social e a assistência aos desamparados, o DHAA 
quebra totalmente o tabu premeditado que envolve a fome como assunto reprimido. 
Dessa forma, ao fixar o espaço desse direito por entre outros direito sociais, fortifica 
uma importante proteção, dando impulso primordial para que a sociedade civil faça 
frente a qualquer tipo de discurso que busca posicionar a fome como um tema 
simplesmente econômico. 
Com a ratificação da emenda, o dever de solidariedade ganhou forma mais 
vigorante na tarefa alimentar, é conhecido que no espaço do direito de família, os 
alimentos resultam de parentesco, dever de assistência, atenção ao amparo aos 
idosos e obrigações, dentre outras relações. Segundo Diniz (2002, p.467), o 
fundamento desta obrigação de prestar alimentos é o inicio da preservação da 
dignidade humana e o da solidariedade familiar, pois vem a ser personalíssimo, 
compromisso pelo alimentante na causa do parentesco que o liga ao alimentado. De 
acordo com essa visão Valente relata: 
 
Um direito humano básico, sem o qual não há direito á vida, nem há 
cidadania, não há humanidade, isto é, o direito de acesso á riqueza 
material, cultural, cientifica e espiritual produzida pelo gênero humano. As 
pessoas necessitam de alimentos apropriados, no sentido quantitativo. No 
entanto, isto não é suficiente. Para o ser humano alimentar-se, o ato é 
ligado á tradição, vida familiar, amizade, e celebrações coletivas. Quando 
comendo com amigos, com a família, comendo pratos de sua infância e de 
sua cultura indivíduos renovam-se a si mesmos além do aspecto físico, 
fortalecendo a sua saúde física e menta (VALENTE et alii apud VALENTE, 
2002, p.71) 
 
É palpável a obrigação do congresso nacional em ter presteza de lei que 
tratam do direito á alimentação. Além disto, não se pode justificar que o cumprimento 
das leis e políticas públicas fique a favor de interesses políticos e que a sociedade 
fique no anseio de esperar a realização desse direito fundamental. 
O estimulo para o cumprimento do direito á alimentação adequada aponta 
desafios enfrentados pela sociedade e pelos órgãos públicos, e também 
oportunidade na aquisição de resultados positivos, especialmente com a relação de 
órgãos e instituições na construção de objetivos comuns. 
Diante desse contexto, a Emenda Constitucional nº 64/2010 pode ser 
compreendida, na esfera jurídica, como o resultado final que consolidou um 
processo histórico de luta pelo reconhecimento dos problemas da pobreza, da fome 
e da miséria em nosso país como desafios que devem ser enfrentados por todos, 
deixando de ser um tema discriminado da nossa civilização, como anuncia Josué de 
Castro (CASTRO, 1965, 1984). 
Podemos dizer que a positivação do tema alimentação é primordial, pois o 
direito à alimentação é parte dos direitos fundamentais humanos, esses direitos 
refletem um aglomerado de condições essenciais para que todos os seres humanos, 
de forma equitativa e sem nenhum tipo de discriminação, existam e desenvolvam 
suas capacidades plenamente na vida social. Segundo, o relator especial da ONU 
para o direito á alimentação definiu o DHAA declarando: 
 
O direito á alimentação adequada é um direito humano inerente a todas as 
pessoas de ter acesso regular, permanente e irrestrito, quer diretamente ou 
por meios de aquisições financeiras, a alimentos seguros e saudáveis, em 
quantidade e qualidade adequadas e suficientes, correspondentes ás 
tradições culturais do seu povo e que garanta uma vida livre do medo, digna e 
plena nas dimensões físicas e mental, individual e coletivo. (ONU, 2002) 
 
Neste raciocínio, torna-se substancial o acesso á alimentação como um 
direito em si mesmo, que não pode ser contrapor sem negar a primeira condição 
para a cidadania, que é a própria vida. Assim, pertence aos Estados seguirem a 
legislação sobre os direitos humanos garantindo o respeito, a proteção, a promoção 
e o fornecimento dos mesmos e assegurar que todas as pessoas possam exercer 
livremente o seu direito humano á alimentação adequada. 
 
 
5. ​CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O objetivo principal deste trabalho foi evidenciar a importância da Emenda 
Constitucional nº 64, de 04 de fevereiro de 2010, no Brasil. Discorrendo sobre seus 
impulsores, que colaboraram para a efetivação do direito à alimentação adequada 
como um direito fundamental e humano na Constituição Federal de 1988. O presente 
artigo apontou relevantes contribuições nesse aspecto no âmbito 
histórico-sociológico e em especial, na área jurídica, intercalando tais campos com a 
Bioética, evidenciando assim, a preocupação com a dignidade da pessoa humana. 
Paralelamente, foram pesquisados alguns doutrinadores como ​Maria 
Helena Diniz, Fábio Konder Comparato entre outros que tiveram papéis relevantes 
para o desenvolvimento desta pesquisa. 
Em relação ao Direito Humano à Alimentação Adequada, é possível 
perceber que o Brasil firmou uma sequência de Tratados Internacionais e leis 
internas que deliberam sobre esse ponto, contando, por exemplo, com a Lei 
Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional em 2006, como citada anteriormente, 
que foi fundamental para a afirmação e colaboração de tal direito em sua elevação 
como constitucional. Mera formalidade, se levado em consideração que no Brasil, os 
tratados internacionais possuem valor supra constitucional. 
Dessa maneira, posteriormente a isso, a inserção do direito à alimentação 
no artigo6º da Constituição Federal, através da aprovação da emenda nº 64/2010, 
foi um meio do Estado Brasileiro ratificar, de fato, o seu engajamento com as 
obrigações assumidas nos tratados internacionais de direitos humanos com a 
publicação de leis nacionais relacionadas a esse direito. 
A conclusão é que a emenda nº 64 traz mais confiança na luta contra a 
fome, visto que, mesmo existindo normas que garantiam o direito à alimentação, a 
menção expressa desse direito na Constituição impulsionou o uso de argumentos 
para promover e exigir este direito diante daqueles que, por motivos políticos, 
ideológicos ou técnicos não fazem uma leitura da Constituição Federal e de outras 
normas legais que afirmam a promoção e a exigibilidade do DHAA. 
Destarte, essa proposta de inclusão é fundamental porque reforçam 
argumentos em prol do DHAA de duas ordens política e jurídica. Além de que, 
deve-se buscar das melhores formas os recursos necessários para garantir um 
mundo democrático e pacífico. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
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Brasília: Senado Federal, Diário Oficial da União, 1988. 
 
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