Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA E A RELEVÂNCIA DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 64, DE 04 DE FEVEREIRO DE 2010, NO BRASIL CEZAR, Augusto 1 MARIN, Lorena Cypriano 2 ALPOIM, Luiza Miranda 3 RANGEL, Tauã Lima Verdan 4 Resumo: O presente artigo trata do direito humano a alimentação adequada, bem como a constitucionalização deste no Brasil. A princípio analisa-se o percurso da consolidação do direito à alimentação como fundamental e positivado no âmbito mundial. Posteriormente, é ressaltada a evolução e o desenvolvimento deste direito na forma da lei de Segurança Alimentar e Nutricional, como precedente da incorporação do direito à alimentação na Constituição Federal. Após a apreciação da trajetória do reconhecimento do direito humano à alimentação adequada e seus reflexos na conjuntura mundial, fica cognoscível, portanto, a relevância da Emenda Constitucional nº 64, de 04 de fevereiro de 2010, para a população brasileira, no que tange a possibilidade da exigibilidade desse direito. Dito que a subnutrição caracteriza má qualidade de vida e, logo, impõe a responsabilidade do Estado ante seu compromisso com o direito a vida e a dignidade da pessoa humana. Palavras-chave: Direito Humano à Alimentação Adequada. Segurança Alimentar e Nutricional. Direitos Humanos. Direitos Fundamentais. 1Graduando do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo-ES, augusto.place@gmail.com; 2Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo-ES, lorenacyprianomarin2@gmail; 3Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo-ES, luiza.m.alpoim@hotmail.com; 4 Professor orientador: Doutorando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense. Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense, taua_verdan2@hotmail.com 1. COMENTÁRIOS INICIAIS Faz-se dispensável o debate a respeito das consequências de uma má alimentação para os seres humanos, uma vez que se trata de uma premissa evidente e incontestável que a desnutrição gera efeitos degradantes à qualidade de vida de qualquer indivíduo. Uma alimentação sadia, adequada, dentro dos padrões nutricionais, é matéria unânime para a existência do ser humano, bem como seu pleno desenvolvimento, não somente durante sua infância, mas ao longo de toda vida. É inerente à história do ser humano a apreensão com os recursos alimentícios desde os tempos da teoria do aumento populacional em progressão geométrica que previa a produção de alimentos cresceria em escala aritmética, logo, o receio se dava pela ideia de que em certo momento não haveria alimentos disponíveis para todos. Mas no que concerne a essa premissa, os produtos transgênicos se manifestaram como solução, através da capacidade científica de desenvolver alimentos mais resistentes e de maior escala produtiva no tempo. Todavia, a problemática não foi ao todo resolvida, a preocupação do sustento populacional meramente migraram de curso, da insuficiência produtiva para o acesso diminuto à nutrição de qualidade. Infelizmente, a fome e a insegurança alimentar e nutricional ainda se fazem presentes na realidade de muitas famílias brasileiras. É importante que o enfoque do debate desvie da ótica engessada das necessidades dos indivíduos em situação de subnutrição, e passe a levar em consideração os direitos inerentes a eles, o que implica diretamente no dever das autoridades públicas em garantir esse direito. Nesse sentido, Comparato ressalta a importância da afirmação dos direitos humanos de cada Estado: Sem dúvida, o reconhecimento oficial de direitos humanos, pela autoridade política competente, dá muito mais segurança às relações sociais. Ele exerce, também, uma função pedagógica no seio da comunidade, no sentido de fazer prevalecer os grandes valores éticos, os quais, sem esse reconhecimento oficial, tardariam a se impor na vida coletiva. (COMPARATO, p.71) A subnutrição, a fome e a miséria são condições de extremo insulto a dignidade da pessoa humana, por tanto, para sua erradicação faz-se indispensável a intervenção imediata do Estado, na forma de políticas públicas que atendam com prioridade a realização do direito alimentar, em observação ao direito universalmente consagrado à vida. Dito isto, vale frisar que o Direito Humano à Alimentação Adequada, assim como todo direito humano, mostra-se universal, inalienável, interdependente e indivisível. Entretanto, compete aos Estados fundamentá-lo em sua constituição e facultar assim a sua exigibilidade de fato à população. Por tanto é nítida a relevância da Emenda Constitucional nº 64, de fevereiro de 2010, que é propósito de esclarecimento deste estudo. 2. BREVE HISTÓRICO DO DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA E SUA AFIRMAÇÃO JURÍDICA NO ÂMBITO MUNDIAL Desde meados do século XX, a coletividade internacional procura respostas para erradicar a subnutrição no mundo. Grande é a influência do estudo da história para entender o mundo jurídico, principalmente ao se tratar dos direitos fundamentais à pessoa humana. O direito à liberdade, à vida, acesso à saúde, moradia, educação, informação e alimentação adequada, por exemplo, são direitos universais, indivisíveis e inalienáveis. Dito isso, a possibilidade de uma maior compreensão acerca dos direitos fundamentais e direitos humanos está profundamente ligado a história, uma vez que, estes foram edificados ao longo dos anos. (ABRANDH, 2013, p.24; SIQUEIRA et al, 2014, p.302) A alimentação é uma necessidade básica do ser humano e ninguém deve ser destituído da mesma. Essa foi incorporada a vários tratados internacionais sobre Direitos Humanos. A Convenção de Genebra em 1864 foi uma das pioneiras a discorrer sobre o assunto, com o seu contexto histórico de guerra, se fez necessária a discussão sobre esses temas. O Protocolo Adicional à Convenção de Genebra de 12 de agosto de 1949 delibera o artigo 14: Inanição dos civis como um método de combate é proibido. É, então, proibido atacar, destruir, remover ou tornar inútil, para este propósito, objetos indispensáveis à sobrevivência da população civil, como gêneros alimentícios, áreas agrícolas para a produção de gêneros alimentícios, culturas, criação de animais, instalações e abastecimento de água potável e trabalhos de irrigação. (BRASIL, 1943) Esta declaração de proteção humanitária tem como dois princípios básicos a proibição à expulsão forçada das populações que é uma das maiores causas da fome e todas as necessidades primárias da população civil. Dessa forma já é possível perceber uma preocupação com o direito a alimentação desde 1864. Diante do contexto da promoção do direito à alimentação como um padrão adequado de vida, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Pacto de direitos econômicos, sociais e culturais; efetiva o direito à alimentação adequada em seu artigo25 no ano de 1948: Artigo 25 - 1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle. (ONU, 1948) O mesmo direito é reiterado no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) no artigo 11 que prevê: 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa a um nível de vida adequando para si próprio e sua família, inclusive à alimentação, vestimenta e moradia adequadas, assim como a uma melhoria continua de suas condições de vida. Os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para assegurar a consecução desse direito, reconhecendo, nesse sentido, a importância essencial da cooperação internacional fundada no livre consentimento. 2. Os Estados Partes do presente Pacto, reconhecendo o direito fundamental de toda pessoa de estar protegida contra a fome, adotarão, individualmente e mediante cooperação internacional, as medidas, inclusive programas concretos, que se façam necessárias para: a) Melhorar os métodos de produção, conservação e distribuição de gêneros alimentícios pela plena utilização dos conhecimentos técnicos e científicos, pela difusão de princípios de educação nutricional e pelo aperfeiçoamento ou reforma dos regimes agrários, de maneira que se assegurem a exploração e a utilização mais eficazes dos recursos naturais; b) Assegurar uma repartição eqüitativa dos recursos alimentícios mundiais em relação às necessidades, levando-se em conta os problemas tanto dos países importadores quanto dos exportadores de gêneros alimentícios. (ONU, 1966) Reconhecendo basicamente que os Estados Partes precisam garantir direito de toda pessoa a um nível de vida adequado para si próprio e sua família, inclusive à alimentação entre outras medidas. A Declaração Universal para a erradicação da Fome e Subnutrição teve um papel importante na responsabilidade fundamental dos governos, além de dar prioridade à subnutrição crônica entre os grupos mais vulneráveis. Sendo sua primeira Conferência Mundial da Alimentação sediada em Roma no ano de 1974 declarando: Todo homem, mulher e criança tem o direito alienável de estar livre da fome e da subnutrição, para que se desenvolva plenamente e mantenha suas faculdades físicas e mentais. A sociedade hoje já possui recursos suficientes, capacidade de organização e tecnologia e, portanto, a competência para alcançar este objetivo. Dessa forma, a erradicação da fome é um objetivo comum de todos os países da comunidade internacional, especialmente dos países desenvolvidos e de outros que estejam em posição de ajudar. (ONU, 1974) Desse modo, é responsabilidade de toda comunidade internacional assegurar a disponibilidade de suprimentos mundiais de alimentos básicos, por meio de reservas apropriadas, incluindo reservas emergenciais. Existindo assim, uma colaboração na consolidação de um sistema efetivo de segurança mundial contra a fome. 3. A LEI ORGÂNICA DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL: PRECURSORA DO DIREITO FUNDAMENTAL À ALIMENTAÇÃO NO BRASIL A concepção de Segurança Alimentar e Nutricional – SAN encontra-se em constante evolução, bem como a sociedade a qual pertence. Os mais diversos tipos de interesses estão co-relacionados à questão alimentar e nutricional, portanto trata-se de assunto amplamente questionado e debatido por inúmeras Conferências com temática alimentícia. Progressivamente, a SAN passa a ser compreendida como uma estratégia pública que assume garantir o Direito Humano à Alimentação Adequada a todos. Nesse sentido, destaca-se a Lei de nº 11.346, de 15 de setembro de 2006, “Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências.” (BRASIL, 2006), dispõe em seu art. 3º, o conceito vigente no Brasil de Segurança Alimentar e Nutricional: A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam: ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. (BRASIL, 2006) A concepção de Segurança Alimentar e Nutricional prioriza a quantidade, qualidade e regularidade no acesso a alimentos. No que concerne o aspecto do acesso aos alimentos, nota-se que apesar da escala produtiva ser suficiente para o abastecimento mundial, as populações carentes dispõe tendência a encontrar dificuldades nesse acesso regular. No tocante à qualidade dos alimentos disponíveis para o consumo, esses devem estar aptos à ingestão humana, não sendo passível de qualquer tipo de restrição sanitária ou submetidos a riscos de contaminação. E referente ao aspecto quantitativo, compreende-se o acesso constante e regular aos nutrientes, partindo da premissa de que um desenvolvimento saudável requer três refeições diárias. Logo, políticas de distribuição infrequente de cestas básicas, por exemplo, não atende o propósito de erradicação da situação de acesso restrito e insuficiente de determinada classe, como destaca o Professor Belik (2003, p.15) Assim, a relação existente entre a SAN e o DHAA caracteriza uma linha tênue, que segue numa mesma vertente de propósito, levando em consideração que para obter o sucesso, a Política de SAN deve ser o meio garantidor da realização do DHAA, bem como dispor dos mecanismos para a exigibilidade deste direito. Torna-se imprescindível ressaltar que, a Lei nº 11.346/06 reconhece a alimentação adequada como um direito fundamental em respeito aos direitos sancionados pela Constituição Federal, como enaltece o seu art. 2º: A alimentação adequada é direito fundamental do ser humano, inerente à dignidade da pessoa humana e indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal, devendo o poder público adotar as políticas e ações que se façam necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e nutricional da população. (BRASIL, 2006) A normatização do direito a alimentação adequada pela Lei de Segurança Alimentar e Nutricional, suscitou a exigibilidade do DHAA no Brasil, de modo que transformou o acesso à nutrição de qualidade e quantidade suficiente, um direito de caráter fundamental. Essa disposição dá ao cidadão as condições necessárias para exigir a fundamentação desse direito, visto que a alimentação encontrava-se disposta somente de forma indireta na Constituição. A lei traz ainda outra disposição relevante para a exigibilidade,que é a determinação da responsabilidade do Estado em promover a SAN que, portanto deixa de ser uma iniciativa governamental de caridade e assume a posição de uma política de Estado, passível de reivindicação populacional plenamente respaldada pela lei. 4. A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA PELA EC Nº 64/2010 A Emenda Constitucional nº 64, de 04 de fevereiro de 2010, incorporou a alimentação ao rol de direitos sociais do art. 6º da Constituição Federal, que até então não constava em sua redação, passando a vigorar com a seguinte formulação: “São direitos sociais: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção a maternidade e a infância, assistência aos desamparados, na forma desta constituição”. (BRASIL, 2010) Na esfera do direito de família, a nova emenda constitucional já tem um veemente defensor que é o principio da solidariedade, destacado pelo art. 3º, da CF. Portanto seus atributos já devem ser visualizados instantaneamente, complementando todas as garantias jurídico-institucionais em ajuda daqueles que necessitam de uma alimentação adequada, especialmente tendo em vista o pleno desenvolvimento da criança como um ser mais frágil neste processo. A partir do momento que passa a evidenciar-se vizinho a outros direitos como a saúde, a educação, a moradia, o trabalho, a segurança, o lazer, a proteção à maternidade, a previdência social e a assistência aos desamparados, o DHAA quebra totalmente o tabu premeditado que envolve a fome como assunto reprimido. Dessa forma, ao fixar o espaço desse direito por entre outros direito sociais, fortifica uma importante proteção, dando impulso primordial para que a sociedade civil faça frente a qualquer tipo de discurso que busca posicionar a fome como um tema simplesmente econômico. Com a ratificação da emenda, o dever de solidariedade ganhou forma mais vigorante na tarefa alimentar, é conhecido que no espaço do direito de família, os alimentos resultam de parentesco, dever de assistência, atenção ao amparo aos idosos e obrigações, dentre outras relações. Segundo Diniz (2002, p.467), o fundamento desta obrigação de prestar alimentos é o inicio da preservação da dignidade humana e o da solidariedade familiar, pois vem a ser personalíssimo, compromisso pelo alimentante na causa do parentesco que o liga ao alimentado. De acordo com essa visão Valente relata: Um direito humano básico, sem o qual não há direito á vida, nem há cidadania, não há humanidade, isto é, o direito de acesso á riqueza material, cultural, cientifica e espiritual produzida pelo gênero humano. As pessoas necessitam de alimentos apropriados, no sentido quantitativo. No entanto, isto não é suficiente. Para o ser humano alimentar-se, o ato é ligado á tradição, vida familiar, amizade, e celebrações coletivas. Quando comendo com amigos, com a família, comendo pratos de sua infância e de sua cultura indivíduos renovam-se a si mesmos além do aspecto físico, fortalecendo a sua saúde física e menta (VALENTE et alii apud VALENTE, 2002, p.71) É palpável a obrigação do congresso nacional em ter presteza de lei que tratam do direito á alimentação. Além disto, não se pode justificar que o cumprimento das leis e políticas públicas fique a favor de interesses políticos e que a sociedade fique no anseio de esperar a realização desse direito fundamental. O estimulo para o cumprimento do direito á alimentação adequada aponta desafios enfrentados pela sociedade e pelos órgãos públicos, e também oportunidade na aquisição de resultados positivos, especialmente com a relação de órgãos e instituições na construção de objetivos comuns. Diante desse contexto, a Emenda Constitucional nº 64/2010 pode ser compreendida, na esfera jurídica, como o resultado final que consolidou um processo histórico de luta pelo reconhecimento dos problemas da pobreza, da fome e da miséria em nosso país como desafios que devem ser enfrentados por todos, deixando de ser um tema discriminado da nossa civilização, como anuncia Josué de Castro (CASTRO, 1965, 1984). Podemos dizer que a positivação do tema alimentação é primordial, pois o direito à alimentação é parte dos direitos fundamentais humanos, esses direitos refletem um aglomerado de condições essenciais para que todos os seres humanos, de forma equitativa e sem nenhum tipo de discriminação, existam e desenvolvam suas capacidades plenamente na vida social. Segundo, o relator especial da ONU para o direito á alimentação definiu o DHAA declarando: O direito á alimentação adequada é um direito humano inerente a todas as pessoas de ter acesso regular, permanente e irrestrito, quer diretamente ou por meios de aquisições financeiras, a alimentos seguros e saudáveis, em quantidade e qualidade adequadas e suficientes, correspondentes ás tradições culturais do seu povo e que garanta uma vida livre do medo, digna e plena nas dimensões físicas e mental, individual e coletivo. (ONU, 2002) Neste raciocínio, torna-se substancial o acesso á alimentação como um direito em si mesmo, que não pode ser contrapor sem negar a primeira condição para a cidadania, que é a própria vida. Assim, pertence aos Estados seguirem a legislação sobre os direitos humanos garantindo o respeito, a proteção, a promoção e o fornecimento dos mesmos e assegurar que todas as pessoas possam exercer livremente o seu direito humano á alimentação adequada. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo principal deste trabalho foi evidenciar a importância da Emenda Constitucional nº 64, de 04 de fevereiro de 2010, no Brasil. Discorrendo sobre seus impulsores, que colaboraram para a efetivação do direito à alimentação adequada como um direito fundamental e humano na Constituição Federal de 1988. O presente artigo apontou relevantes contribuições nesse aspecto no âmbito histórico-sociológico e em especial, na área jurídica, intercalando tais campos com a Bioética, evidenciando assim, a preocupação com a dignidade da pessoa humana. Paralelamente, foram pesquisados alguns doutrinadores como Maria Helena Diniz, Fábio Konder Comparato entre outros que tiveram papéis relevantes para o desenvolvimento desta pesquisa. Em relação ao Direito Humano à Alimentação Adequada, é possível perceber que o Brasil firmou uma sequência de Tratados Internacionais e leis internas que deliberam sobre esse ponto, contando, por exemplo, com a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional em 2006, como citada anteriormente, que foi fundamental para a afirmação e colaboração de tal direito em sua elevação como constitucional. Mera formalidade, se levado em consideração que no Brasil, os tratados internacionais possuem valor supra constitucional. Dessa maneira, posteriormente a isso, a inserção do direito à alimentação no artigo6º da Constituição Federal, através da aprovação da emenda nº 64/2010, foi um meio do Estado Brasileiro ratificar, de fato, o seu engajamento com as obrigações assumidas nos tratados internacionais de direitos humanos com a publicação de leis nacionais relacionadas a esse direito. A conclusão é que a emenda nº 64 traz mais confiança na luta contra a fome, visto que, mesmo existindo normas que garantiam o direito à alimentação, a menção expressa desse direito na Constituição impulsionou o uso de argumentos para promover e exigir este direito diante daqueles que, por motivos políticos, ideológicos ou técnicos não fazem uma leitura da Constituição Federal e de outras normas legais que afirmam a promoção e a exigibilidade do DHAA. Destarte, essa proposta de inclusão é fundamental porque reforçam argumentos em prol do DHAA de duas ordens política e jurídica. Além de que, deve-se buscar das melhores formas os recursos necessários para garantir um mundo democrático e pacífico. REFERÊNCIAS ABRANDH (Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos). O Direito Humano à Alimentação Adequada e o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional. Brasília, 2013. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/segurancaalimentar/publicaco es%20sisan/dhaasisan-miolo-030413.pdf/download> Acesso em 12 jun 2015. ALBUQUERQUE, Maria de Fátima Machado de. A segurança alimentar e nutricional e o uso da abordagem de direitos humanos no desenho das políticas públicas para combater a fome e a pobreza. Rev. nutr , v. 22, n. 6, p. 895-903, 2009. Disponível em: <http://pesquisa.bvs.br/brasil/resource/pt/lil-544482> Acesso em 10 mai 2015. BELIK, Walter. Perspectivas para segurança alimentar e nutricional no Brasil. Saúde e sociedade, v. 12, n. 1, p. 12-20, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v12n1/04.pdf> Acesso em 03 jun 2015. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, Diário Oficial da União, 1988. ________. Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 2006. ________. Constituição (1988). Emenda Constitucional nº 64, de 04 de fevereiro de 2010. Altera o art. 6º da Constituição Federal, para introduzir a alimentação como direito social. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 2010. ________. Decreto nº 849, de 25 de junho de 1993. Promulga os Protocolos I e II de 1977 adicionais às Convenções de Genebra de 1949, adotados em 10 de junho de 1977 pela Conferência Diplomática sobre a Reafirmação e o Desenvolvimento do Direito Internacional Humanitário aplicável aos Conflitos Armados. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 1993. __________. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Segurança Alimentar e Nutricional. Disponível em: <http://www.mds.gov.br> Acesso em: 23 mai. 2015. CASTRO, Josué de. Geografia da fome. 10.ed. Rio de Janeiro: Editora Antares, 1984. CASTRO, Josué de. Geopolítica da fome. 7.ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1965. COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 7 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2010. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. GAMBÁ, Juliane Caravieri Martins; MONTAL, Zélia Maria Cardoso. Direito humano à alimentação adequada e responsabilidade internacional. Semina: Ciências Sociais e Humanas , v. 30, n. 1, p. 53-70, 2009. Disponível em: < http://www.uel.br/revistas /uel/index.php/seminasoc/article/viewFile/7714/6802> Acesso em 24 mai 2015. MALHEIROS, Mariana Rocha. O reconhecimento do direito a alimentação como direito fundamental e a segurança alimentar como método para a efetivação desse direito na região de Guarapuava. Revista Eletrônica do Curso de Direito, p.28. Disponível em: <http://scholar.googleusercontent.com/scholar?q=cache:cK6Q5 Q3NBfQJ:scholar.google.com/+emenda+64&hl=pt-BR&as_sdt=0,5&as_vis=1> Acesso em 07 junho 2015. NETO, Othoniel Pinheiro. Os efeitos da Emenda Constitucional nº 64/2010 no Direito de Familia. Refletindo o Direito, v. 1, n. 1, 2013. Disponível em: <http://www.egov.u fsc.br/portal/conteudo/os-efeitos-da-emenda-constitucional-n%C2%BA-642010-no-di reito-de-fam%C3%ADlia> Acesso em 05 maio 2015. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/00 1394/139423por.pdf >. Acesso em 16 mai. 2015. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966. Disponível em: <http://www.unfpa.org.br /Arquivos/pacto_internacional.pdf > Acesso em 23 mai 2015. PEREIRA, Angélica Teresa. A relação entre o direito e a bioética. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, X, n. 45, set 2007. Disponível em: <http://www.ambito-juridico. com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2237>. Acesso em 16 mai. 2015. SIQUEIRA, Dirceu Pereira; PICCIRILLO, Miguel Belinati. Direitos fundamentais: a evolução histórica dos direitos humanos, um longo caminho. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XII, n. 61, fev. 2009. Disponível em: < http://www.ambito-juridico.com.br /site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5414>. Acesso em 02 mai. 2015. VALENTE, Flávio Luiz Schieck. Direito humano à alimentação: desafios e conquistas. São Paulo: Cortez, 2002. VAZ, Jose Eduardo Parlato Fonseca. Reflexões sobre a Emenda Constitucional 64/2010. In: Âmbito Jurídico , Rio Grande, XIII, n. 75, abr 2010. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura &artigo_id=7607>. Acesso em 07 junho 2015. VIEIRA, Tereza Rodrigues. Bioética e Direito. São Paulo: Editora Jurídica Brasileira, 1999.
Compartilhar