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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/271702347 Atletismo Chapter · January 2003 DOI: 10.13140/2.1.2327.0724 CITATIONS 0 READS 2,447 1 author: Cristiano Frota de Souza Laurino Brazilian Arthroscopy and Sports Traumatology Society - ( Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte - SBRATE) 46 PUBLICATIONS 359 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Cristiano Frota de Souza Laurino on 02 February 2015. The user has requested enhancement of the downloaded file. capítulo 48 ATLETISMO Cristiano Frota de Souza Laurino, Alberto de Castro Pochini INTRODUÇÃO Desde os tempos mais remotos, o homem se utiliza de algumas habilidades para resguardar a integridade física e preservar sua sobrevivência. Abater um animal durante a caça, ou mesmo proteger-se durante a fuga nas situações de perigo, exigem do homem a execução de movimentos corporais complexos. A expressão lúdica dessas habilidades tão ovacionadas pela Grécia Antiga fez nascer o Atletismo, esporte que enfatiza os movimentos básicos do ser humano: andar, correr, saltar e arremessar. É chamado, por isso, de “Esporte Natural” ou “Esporte Base”, pois sua prática confunde-se com os movimentos essenciais do ser humano. Individualmente ou em combinação, os quatro movimentos podem se expressar através de uma variação infinita de técnicas, mantendo sempre o objetivo de atingir os maiores resultados dentro da modalidade executada. O tempo e a distância serão sempre os limites a serem superados, independentemente da forma com que os movimentos sejam executados, embora regras tenham que ser respeitadas para uniformizar as condutas entre os atletas. A particularidade desse esporte, considerado por muitos como o mais completo dentre os praticados, é o fato de ser executado de forma individual, o que valoriza o atleta no que se refere à capacidade de aprender, aperfeiçoar movimentos e buscar sempre a superação de limites. O atletismo moderno é disputado desde meados do século 19, e muitas de suas provas atuais já tinham sido apresentadas durante a Olimpíada de Atenas (Grécia) em 1896 (1ª versão dos Jogos Olímpicos da Era Moderna). Criada em 1912, durante os Jogos Olímpicos de Estocolmo (Suécia), a IAAF (International Athletics Amateur Federation), com sede em Monte Carlo (Mônaco), é o órgão internacional responsável por esse esporte em todo o mundo. No Brasil, a direção do esporte é de responsabilidade da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), órgão filiado à IAAF. As modalidades que compõem o atletismo moderno podem ser divididas conforme se observa no Quadro 48-1. Quadro 48-1. Modalidades do atletismo Corridas rasas: 100 m, 200 m, 400 m 50 m, 55 m, 60 m, 200 m, 400 m (“indoor”) Corridas com barreiras ou com obstáculos: 100 m (f.), 110 m (m.), 400 m (m. e f.) 50 m, 60 m, (“indoor”) Saltos: distância, triplo, em altura, com vara Arremesso e lançamentos de: peso, disco, dardo, martelo Marcha atlética: 20 km, 50 km (m.) Corridas de meio-fundo: 800 m, ½ milha, 1.500 m, milha Corridas de fundo: 2.000 m com obstáculos (f.), 3.000 m, 3.000 m com obstáculos (Steeplechase), 5.000 m, 10.000 m, maratona, corridas de rua Provas combinadas: decatlo (m.) e heptatlo (f.) Cross-country (corridas no campo, com obstáculos naturais ou artificiais) m. = Masculino; f. = feminino. LESÕES As lesões resultantes diretamente de atividades esportivas podem ser classificadas em dois grupos básicos: 1,2,3 1. Lesões intrínsecas. Decorrentes de características biológicas, individuais e psicossociais. 2. Lesões extrínsecas. Decorrentes do meio ambiente e de fatores externos. O atletismo, considerado esporte sem contato físico, origina predominantemente lesões intrínsecas.1 Comportando uma ampla variedade de eventos de características biomecânicas diversas, alguns estudos revelam que entre 17% a 76% dos atletas praticantes de atletismo apresentam lesões musculoesqueléticas.1-6 O índice de exposição à lesão varia entre 2,5 a 5,8 lesões/1.000 horas de treinamento, dependendo da modalidade estudada.2 Dentro do conceito atual do esporte, os riscos assumidos pelos atletas muitas vezes os tornam vulneráveis a lesões que geralmente apresentam caráter de cronicidade e são geradas basicamente pela sobrecarga do sistema locomotor.7 A grande maioria dessas lesões, quando diagnosticadas precocemente, pode ser tratada efetivamente com mínimas modificações nos programas de treinamento e nos hábitos do atleta.8,9 As lesões musculoesqueléticas acompanham a vida dos atletas, limitando o rendimento esportivo provisoriamente e, algumas vezes, de maneira definitiva. Com a evolução dos programas de treinamento e intensificação no ritmo de competições, os fatores etiopatogênicos têm-se modificado ao longo do tempo, assim como a própria natureza das lesões. Embora menos freqüentes, as lesões de natureza acidental ou traumática podem provocar limitações de magnitudes diversas ou até mesmo ser fatais.10 Muitos acidentes ocorrem durante sessões de treinamento, o que torna essencial que técnicos e atletas desenvolvam hábitos seguros de treinamento durante todo o tempo. Alguns fatores devem ser considerados no estudo das lesões no atletismo, como: idade, sexo, nível de competição, tempo de treinamento, número de modalidades praticadas, horas de treino, presença do treinador. 1,6 A presença do treinador durante as atividades do atleta representa efeito controverso na prevenção das lesões no atletismo,1,6 é essencial no sentido não apenas de preparar a programação de treinamento, quanto aprimorar movimentos, corrigir defeitos técnicos e até interferir nos aspectos psicológicos que o esporte desencadeia no atleta. Conforme observou D´Souza, 40,4% dos 147 atletas avaliados em seu estudo apresentaram lesões com o treinador presente todo o período de treinamento/competição, em comparação ao grupo de atletas com o treinador ausente, em que a incidência de lesões representou 81,8%.1 Diferentemente, Laurino constatou em seu estudo que 70,7% dos atletas que se diziam acompanhados integralmente durante os treinamentos apresentaram lesões.6 Os índices de lesões foram estatisticamente semelhantes entre os grupos de atletas acompanhados parte do treino, ou não acompanhados pelo treinador, respectivamente 87,1% e 75,0%.6 As propriedades biomecânicas dos tecidos se alteram com a evolução da idade, portanto, há também influência da idade no surgimento de lesões.2 D’ Souza observou diferença estatisticamente significante em seu estudo, em que 96,2% dos atletas adultos (> 20 anos) avaliados apresentaram lesões quando comparados aos 51,3% dos atletas com idade inferior a 17 anos.1 Laurino observou, a partir de uma casuística com idades variando entre 15 e 38 anos, resultados semelhantes a D’ Souza e Bennell.1,2,6 O nível de desempenho também apresenta controvérsias na literatura quanto à sua real interferência na incidência de lesões durante a prática do Atletismo.1 D’ Souza aponta para uma incidência de lesões diminuída dentro do grupo de atletas de alto desempenho avaliados, em comparação aos demais grupos, e atribui o resultado ao fato de esses atletas apresentarem maior experiência de treinamento e maior tempo acompanhados pelos treinadores, embora os resultados dos estudos de Watson e Di Martino apontem para conclusões diferentes.1 Apesar de haver predomínio de lesões no período de treinamento, elas durante competições representam valores significativos (20%)1 se considerada a reduzida duração do evento em comparação com a duração de um treinamento específico. Aspectos psicológicos envolvidos também precisam ser considerados como fatores predisponentes às lesões durante as competições.1 A localização anatômica das lesões no atletismo segueuma distribuição variada na literatura, embora o acometimento dos membros inferiores seja predominante (82,2%).6,11 Laurino avaliou retrospectivamente 103 atletas, 69 (67,0%) homens e 34 (33,0%) mulheres, praticantes de atletismo.6 Foram estudados a presença e o comportamento da dor e das lesões musculoesqueléticas decorrentes do treinamento/competição.6 A presença da dor foi relatada por 79 (76,7%) atletas, sendo 54 (68,4%) homens e 25 (31,6%) mulheres. Dos atletas avaliados, 78 (75,7%) apresentaram lesões, sendo 54 (69,2%) homens e 24 (30,8%) mulheres.6 As regiões mais freqüentemente acometidas por lesões foram: coxa (53,3%), seguida pelo joelho (17,5%), tronco e membros superiores (11,7%), tornozelo e pé (9,1%) e perna (8,3%).6 Bennell avaliou retrospectivamente 95 atletas no período de um ano, e obteve a seguinte distribuição de lesões por região anatômica: perna (27,7%), coxa (21,5%), joelho (16,2%), pé (14,6%), tornozelo (7,3%) e dorso/pelve/quadris (13%). Quarenta e sete (2%) atletas apresentaram recidiva das lesões no período de um ano estudado.2 As lesões musculotendíneas foram as mais predominantemente encontradas nos estudos retrospectivos de Laurino, com a seguinte distribuição percentual conforme os grupos musculares: músculos isquiotibiais (60,4%), músculo quadríceps (19,8%), músculos adutores da coxa (4,4%), músculos da perna (5,5%), músculos dos membros superiores (6,6%), e músculos do tronco (3,3%).6 Laurino constatou em seu estudo que as modalidades de velocidade e barreiras foram responsáveis por 43,3% das lesões, seguidas por 30,8% nas provas de salto, 13,3% nas provas de arremesso e lançamento, 7,5% nas provas de meio-fundo e 5,0% fundo.6 A prevenção das lesões traumáticas acidentais recai sobre fatores a serem observados, conforme o Quadro 48-2.12 Quadro 48-2. Medidas de segurança durante a prática do atletismo12 Conhecimento das regras da modalidade praticada Certificação de que os equipamentos e materiais utilizados estejam dentro dos padrões de especificação e regras estabelecidas Introdução de programas de orientação e treinamento para a utilização segura da pista e equipamentos específicos de cada modalidade Freqüentemente observa-se atletas que encerram suas carreiras prematuramente, antes de terem atingido o desempenho máximo dentro da modalidade. Alguns fatores podem ser identificados como decisivos para o encerramento de uma carreira: exigências escolares, profissão, necessidade de tempo livre, conflitos familiares ou no ambiente de treinamento (técnicos, patrocinadores, clubes), dificuldades financeiras, perda de motivação, e finalmente, o aparecimento de lesões. Alguns estudos apontam que o aumento da freqüência de lesões em combinação com a estagnação do desempenho pode levar ao encerramento prematuro da carreira esportiva.13 De acordo com Kröger, um quarto dos atletas afirma serem as lesões os principais contribuintes na decisão de abandonar o esporte competitivo.13 MODALIDADES DE CORRIDA Corridas de velocidade As modalidades de velocidade são eventos disputados em distâncias pré-definidas, conforme o Quadro 48-1. Os praticantes dessas modalidades, denominados “velocistas”, procuram correr distâncias rasas dentro de uma velocidade máxima possível, objetivando chegar ao final da distância no menor tempo. Os calçados (sapatilhas) desenvolvidos para as provas de velocidade apresentam algumas características específicas quanto à sua forma e estrutura. São geralmente os mais leves utilizados no atletismo, apresentando solado com reforço apenas na região do antepé, local de fixação dos “pregos” (pontas metálicas rosqueadas com tamanho e números variados e limitados em número e comprimento pelas regras impostas para cada tipo de superfície de pista). Os atletas iniciam a corrida a partir de uma posição conhecida como “saída de taco” ou “posição de largada”. Para tanto são utilizados os “tacos” ou “blocos” de partida, acessórios introduzidos em 1927 para otimizar a largada de corridas de velocidade e barreiras. Fixado provisoriamente à pista, o taco de saída é o equipamento, a partir do qual os movimentos de impulso são gerados, permitindo que o atleta apóie os dois pés sobre anteparos angulados. A regulagem dos tacos de saída é feita pelo próprio atleta em função de suas características corporais e técnicas. Essas regulagens se fazem pela modificação da angulação dos pés em relação à superfície, distância entre os pés e distância entre o pé da frente e a linha de saída. Os membros superiores são posicionados de maneira simétrica, com os ombros aduzidos e flexionados a 90°, extensão de cotovelos e dedos estendidos, apoiados na superfície da pista através do contato das polpas. Os membros inferiores estão dispostos de maneira assimétrica, mantendo o membro à frente com apoio simples (pé), enquanto o membro contralateral mantém um duplo apoio (pé e joelho) A ordem de preparação que antecede a largada permite que o atleta eleve os quadris através do movimento de semi-extensão dos joelhos, mantendo-se fixos os apoios proximal e distal, mãos e pés respectivamente (Fig. 48-1). A tiro de largada, o atleta executa movimentos potentes de extensão dos quadris, joelhos e tornozelos, impulsionando o taco de saída. Os membros superiores realizam movimentos opostos, no sentido de contrabalançar a ação dos membros inferiores, enquanto o atleta eleva progressivamente o centro de gravidade. Os movimentos cíclicos da corrida são executados com velocidade progressiva, até que se atinja a velocidade máxima, que teoricamente deve ser sustentada pelo atleta durante o percurso restante. A análise cinemática da modalidade dos 100 m rasos nos serve de base de informações para as demais provas de velocidade no que tange às características, como: velocidade, amplitude e freqüência de passadas.14 O comportamento da velocidade durante a corrida dos 100 m pode ser dividido em fases (Quadro 48-3). 14 Quadro 48-3. Distribuição da velocidade de corrida de 100 m em relação à distância Fase I – (0-30 m): Fase de grande aceleração Fase II – (30-60 m): Fase de menor aceleracão A Fase II caracteriza o momento de “velocidade máxima” do velocista. Atletas de elite atingem velocidades máximas próximas ao final da Fase II (50-60 m),14 podendo ainda permanecer acelerando até 70-80 m, enquanto velocistas de nível inferior atingem velocidades máximas em torno de 30-40 m14 Fase III – (60-100 m): Fase de desaceleração A grande amplitude das passadas associada à capacidade de mantê-las até o término da corrida é fator primordial na execução de uma corrida de alto desempenho.14 O aumento gradual da amplitude de passadas em corredores de elite ocorre até os 70-80 m iniciais, momento a partir do qual a amplitude se mantém praticamente inalterada.14 A capacidade de manter passadas de grande amplitude requer preparação específica, enfocada no desenvolvimento de potência muscular e resistência anaeróbia.14 O módulo da freqüência de passadas de uma corrida de 100 m também se comporta de maneira ascendente dentro dos 70-80 m iniciais, a partir dos quais ocorre um decréscimo até o final da prova.14 Dentre as características das corridas de velocidade, a freqüência de passadas parece não ter importância tão determinante quanto a amplitude no desempenho de velocistas de elite, quando comparados grupos de atletas de diferentes níveis.14 As provas de 200 m e 400 m apresentam a particularidade de apresentarem trechos de curva, um e dois, respectivamente. A corrida se faz sempre no sentido anti-horário, e o atleta larga inicialmente num trecho de curva, o que difere da prova dos 100 m, em que o atleta apenas executa movimentos retilíneos. Nos trechos de curva, o atleta procura manter a velocidade, ao mesmo tempo em que inclina o corpo para manter-se próximo ao limite interno da raia. As provas de velocidade(200 m, 400 m) disputadas em pistas cobertas (“indoor”) apresentam trechos de curva inclinada, devido ao fato de os raios de curvatura dos trechos de curva serem menores do que os das pistas descobertas. Os movimentos cíclicos das passadas de corrida nas provas de velocidade são marcados pelos toques repetidos do antepé, poupando-se as demais estruturas do contato contra a superfície da pista. Esse fato sugere a sobrecarga das estruturas tendíneas (tendão tibial posterior, flexor longo dos dedos e flexor longo do hálux) podendo gerar processos inflamatórios, degenerativos ou até rupturas.15 A lesão inflamatória do tendão tibial posterior manifesta-se clinicamente por dor localizada na área de inserção óssea e/ou região retromaleolar medial. As lesões degenerativas manifestam-se por dor e diminuição progressiva do arco longitudinal medial. 15 As tendinopatias inflamatórias são tratadas clinicamente com uso de antiinflamatórios não-hormonais, infiltrações locais, órteses, fisioterapia e modificações técnicas no treinamento.15 O velocista suporta cargas elevadas sobre o grupamento musculotendíneo gastrocnêmio–sóleo, a fim de gerar potência que promova o rápido deslocamento do atleta à passada seguinte. A sobrecarga gerada sobre o tendão calcâneo propicia o surgimento de lesões inflamatórias, podendo estar associadas às lesões degenerativas da ultra-estrutura do tendão.15 Embora as lesões inflamatórias sejam mais freqüentemente localizadas numa área localizada 2 cm proximalmente à inserção óssea no calcâneo, pode haver variações da área acometida, gerando dor, edema local e impotência funcional progressiva. As lesões parciais do tendão calcâneo manifestam-se com história clínica prolongada de dor recidivante, diminuição do desempenho e aparecimento de nodulações ou espessamentos localizados que representam áreas de degeneração mucinosa. 15 A prolongada atividade eletroneuromiográfica dos músculos isquiotibiais durante a corrida de velocidade reflete sua importância para o ganho de velocidade do atleta. Os músculos isquiotibiais atuam como extensores do quadril e flexores do joelho, simultaneamente, gerando e coordenando os movimentos das duas articulações. Da mesma maneira, antagonizam as ações dos potentes músculos extensores do joelho e flexores do quadril.6,11,16-18 As regiões anatômicas mais comumente afetadas dos músculos isquiotibiais são o ventre muscular e a transição miotendínea, embora as lesões por avulsão da tuberosidade isquiática, “fraturas do velocista”, também possam ocorrer principalmente nos atletas jovens (crianças e adolescentes).19 A tensão na unidade miotendínea está relacionada a dois fatores: o comprimento do músculo (componente passivo) e a sua atividade contrátil (componente ativo).17 A magnitude da tensão ativa que um músculo pode produzir é proporcional ao padrão de distribuição de fibras musculares tipos I e II.17 A proporção aumentada de fibras tipo II, recrutadas nas contrações musculares de grande intensidade e velocidade, sugere que os músculos isquiotibiais, gastrocnêmios e retofemoral sejam capazes de gerar grandes valores de tensão ativa.17 O estudo dos fatores desencadeantes e predisponentes das lesões entre os músculos isquiotibiais incluem: a anatomia biarticular, desequilíbro de forças entre músculos isquiotibiais e músculo quadríceps da coxa,18 proporção elevada de fibras musculares do tipo II em relação aos músculos quadríceps e adutores,17 fraqueza genérica da musculatura,18 “aquecimento” e “alongamento muscular” insuficientes,19,21 além das deficiências de flexibilidade e coordenação neuromuscular.2,3,6,11, 17,20,21 A recorrência das lesões isquiotibiais está intimamente relacionada a dois fatores principais: o tempo de reabilitação insuficiente e o retorno precoce ao treinamento de velocidade. A razão de forças (flexores/extensores) tem sido citada também como fator predisponente às lesões isquiotibiais.18 Estudos apontam que uma razão flexo-extensora do joelho inferior a 60% ou 75% seja um dos fatores predisponentes às lesões musculares.18 Yamamoto aponta que os métodos de análise de forças empregados (isométrica, isotônica, isocinética) podem levar a resultados discrepantes e pouco esclarecedores, quando se deixa de considerar a modalidade esportiva praticada e as características individuais do atleta.18 Dois fatores devem ser enfatizados no condicionamento de grupos musculares solicitados nas situações que demandem força e velocidades elevadas: a especificidade e a sobrecarga no treinamento.17 O treinamento deve visar ao condicionamento muscular nas situações de intensidade e duração que simulem a real demanda durante a execução dos movimentos. Negligenciar tal princípio expõe o atleta a situações de risco e desencadeia lesões.6,11,17 A sobrecarga musculoesquelética do treinamento de provas de velocidade propicia o aparecimento de reações de estresse ósseo, sobretudo nos membros inferiores, principalmente localizados na tíbia, metatarsos, ossos do tarso e fíbula. Tais reações ósseas fisiológicas podem entrar em desequilíbrio do balanço osteogênese/osteólise e desencadear processos patológicos como a síndrome do estresse tibial medial e a fratura por estresse.8,9 As dores na perna do corredor e do saltador, também descritas como “canelites” ou “periostites”, podem representar patologias diversas, embora se manifestem clinicamente de maneira semelhante. O estudo radiográfico se faz de pouca valia na elucidação diagnóstica, sendo necessária a utilização de técnicas de diagnóstico por imagem como a cintilografia óssea em três fases e a ressonância nuclear magnética.8,9 Corridas de revezamento As corridas de revezamento são modalidades disputadas por velocistas e representam provas de equipe. Algumas modalidades de revezamento em distâncias não Olímpicas (4 × 800 m e o 4 × 1.500 m) não são consideradas provas de velocidade em função das distâncias percorridas. Alguns fatores são necessários para o resultado final de uma corrida de revezamento: velocidade do atleta, estratégia da corrida, distribuição dos atletas segundo as habilidades pessoais (desenvolvimento de velocidades máximas nos trechos de reta ou curva) e, finalmente, a técnica de passagem do bastão. As modalidades de revezamento disputadas são o 4 × 100 m, 4 × 400 m outdoor para ambos os sexos e 4 × 200 m, 4 × 400 m indoor. Quatro atletas correm distâncias semelhantes dentro dos limites estabelecidos pelas regras de cada prova e têm como objetivo passar o bastão para o companheiro seguinte, a fim de atingir a linha de chegada no menor tempo. O chamado “primeiro homem” da corrida de revezamento larga na posição de “saída de taco”, enquanto os demais atletas aguardam a aproximação do companheiro, podendo adotar variadas posições com ou sem apoio de uma das mãos no solo. Na tradicional prova de revezamento 4 × 100 m, os corredores de 1ª e 3ª posições correm trechos de curva, acompanhando a margem interna da mesma e empunhando o bastão geralmente com a mão direita. Os corredores de 2ª e 4ª posições correm inicialmente pequenos trechos de curva seguidos por reta, empunhando o bastão com a mão esquerda, embora a mudança de empunhadura possa ocorrer durante a corrida. Os esforços resultantes durante a corrida podem gerar lesões musculotendíneas que nada diferem das provas de velocidade. O ato da passagem do bastão, considerado o momento crítico da corrida de revezamento, difere entre as provas disputadas (Fig. 48-2). Durante o revezamento 4 × 100 m, o atleta que recebe o bastão o faz geralmente mediante um comando sonoro do atleta que se aproxima e não visualmente, como ocorre no revezamento 4 × 400 m. Os acidentes, tais como o choque de companheiros dentro da mesma raia, são provocados por erro técnico. O atleta que recebe o bastão inicia a corrida tardiamente, o que leva à aproximação do companheirorapidamente, provocando o acidente. O contato entre atletas que invadem a raia adjacente pode levar a conseqüências desastrosas para os envolvidos, já que, no momento da passagem do bastão, as equipes competidoras encontram-se geralmente próximas umas das outras. O revezamento 4 × 400 m apresenta a possibilidade de aproximação de um atleta fatigado pela corrida, apresentando sinais de descoordenação. A passagem do bastão propicia acidentes nessas condições o que aumenta as chances de acidentes, mesmo sendo a passagem do bastão coordenada visualmente por ambos os atletas. A mudança de empunhadura do bastão por desatenção pode também provocar acidentes, já que o atleta que se aproxima pode estar correndo na mesma margem da raia do atleta receptor, o que pode provocar atropelamentos e ferimentos nos pés, tornozelos e pernas com os pregos das sapatilhas de ambos os atletas. A passagem intempestiva do bastão pode ocasionar lesões traumáticas na mão do atleta receptor (contusões, lacerações), e até mesmo provocar a queda do bastão. Corrida com obstáculos (barreiras) As modalidades com obstáculos (110 m, 100 m, 400 m) (Quadro 48-1) são consideradas provas de velocidade, nos quais os atletas procuram ultrapassar obstáculos, utilizando ao máximo sua velocidade. O atleta corre e ultrapassa obstáculos, utilizando técnica e coordenação, de tal modo que a ultrapassagem não compreende movimentos saltatórios, o que fatalmente provocaria uma desaceleração importante da corrida. Os obstáculos possuem as mesmas especificações técnicas e são dispostos em seqüência, intervalados por distâncias iguais, definidas pelas regras de cada prova. As barreiras são estruturas leves e facilmente deslocadas, quando ultrapassadas inadequadamente, o que gera desequilíbrio, diminuição de velocidade e, até mesmo, a queda do atleta. As provas são balizadas e iniciadas como nas demais modalidades de velocidade, com o atleta adotando posição de “saída de taco”. A elevação do tronco após o início da largada se faz de maneira progressiva, até o momento da ultrapassagem do primeiro obstáculo, quando o atleta deve estar posicionado com o tronco ligeiramente flexionado. O membro inferior de ataque à barreira flexiona o quadril em torno de 90°, e, em seguida, estende rapidamente o joelho, enquanto o membro superior contralateral acompanha o movimento, flexionando o ombro em torno de 90°, e estendendo o cotovelo, o que promove mais equilíbrio ao movimento. O membro inferior contralateral adota uma posição de flexo-abdução do quadril, rotação interna e flexão do joelho no momento em que se encontra sobre a barreira durante a ultrapassagem. O atleta facilita a ultrapassagem do obstáculo flexionando o tronco, o que leva o centro de gravidade para frente. O instante de ataque à barreira, se executado demasiadamente próximo do obstáculo, poderá causar choque do membro inferior contra o mesmo, e causar traumatismos variados (escoriações de perna e coxa, contusões, lacerações de pele, ferimentos). A extensão súbita do joelho (m. quadríceps) contrabalançada pela ação da musculatura isquiotibial pode gerar lesões miotendíneas durante a seqüência de movimentos. Rapidamente após a passagem do membro de ataque sobre a barreira, o atleta estende o quadril até o toque do pé no solo, momento em que o atleta passa a solicitar também a musculatura isquiotibial para a continuidade da corrida. A posição do membro de passagem da barreira (contralateral ao membro de ataque) propicia traumatismos, provocando contusões, abrasões de pele e ferimentos no joelho, devido ao choque do mesmo com a barreira (Fig. 48-3). Nas modalidades de 100 m para mulheres e 110 m para homens, o membro inferior de ataque à barreira deve ser o mesmo durante toda a corrida, para que o resultado seja eficiente, o que leva o atleta a executar constantemente três passos de corrida em velocidade máxima e coordenada entre as barreiras. A modalidade de 400 m com barreiras apresenta a particularidade de distribuir as barreiras não somente nas retas, como também nas curvas, o que dificulta a técnica de ultrapassagem das mesmas. Muito freqüentemente o atleta se utiliza dos dois membros inferiores para o ataque às barreiras, em função da variação do número de passos executados entre os obstáculos. Acidentes ocorrem, podendo envolver mais de um atleta, quando o desequilíbrio de um deles provoca a invasão da baliza ao lado. Corridas de meio-fundo As modalidades de meio-fundo abrangem as provas de 800 m, 1/2 milha, 1.500 m e a milha (1.609 m). Particularmente, os corredores de meio-fundo apresentam uma característica de equilíbrio das qualidades de velocidade e resistência, o que os posiciona como corredores intermediários entre velocistas e fundistas. As passadas de um corredor de meio-fundo apresentam amplitude menor do que os velocistas, porém maior do que os fundistas.15 As modalidades de meio-fundo apresentam a peculiaridade de os atletas correrem desbalizados durante parte ou toda a corrida, o que significa corredores muito próximos, disputando espaço e liderança a cada passada. Tal situação propicia o aparecimento de lesões traumáticas, provocadas por quedas decorrentes do contato entre atletas, desequilíbrios na tentativa de alterar o ritmo das passadas, ou mesmo, contato dos calçados (pregos das sapatilhas), provocando até ferimentos de pele. Corridas de longa distância A corrida de longa distância abrange o maior e mais representativo grupo de modalidades do atletismo moderno, com milhares de novos adeptos surgindo anualmente. O surgimento de novas modalidades esportivas durante o século XX fez com que a corrida de longa distância se difundisse no mundo, tornando-se parte integrante de outras modalidades (provas de triatlo, provas de aventura) ou mesmo como esporte específico. As modalidades de longa distância abrangem desde as tradicionais provas de pista (Milha, 3.000 m, 3.000 m Steeplechase, 5.000 m, 10.000 m) como as de campo (distâncias diversas de cross-country) e rua (distâncias diversas, e as tradicionais: 1/2 maratona, maratona, ultramaratona). A biomecânica da corrida de longa distância difere das demais provas de corrida. As distâncias percorridas, assim como as diferenças de superfície e as características da prova, exigem do atleta técnica e estratégias específicas. Podemos citar, como exemplo, a posição do tronco durante algumas modalidades de corrida. A angulação de inclinação do tronco dos corredores de longa distância varia entre 5° e 9°, enquanto nos corredores de velocidade é de 25°, e nos corredores de meio-fundo, 15°.15 A cadência de movimentos estabelecida pelo atleta é a chave para a execução de uma corrida de longa distância sem que haja o aparecimento de complicações de treinamento. A modificação súbita nas características das passadas (velocidade, amplitude) propicia o surgimento de lesões, já que sintomas de fadiga passam a acometer o atleta.15 Dentre as provas de pista, a modalidade de 3.000 m com obstáculos e, mais recentemente, a modalidade de 2.000 m com obstáculos (mulheres), conhecidas como steeplechase, apresentam algumas particularidades técnicas que as diferenciam das demais provas de pista. Os corredores de steeplechase devem compor qualidades corporais de velocidade e resistência, o que de certa forma tende a aproximá-los da velocidade de um atleta de 1.500 m, da resistência de um fundista de 10.000 m e da capacidade e força em ultrapassar obstáculos de um corredor de cross-country.22,23 “...No ano de 1850, nos arredores de Oxford, alguns jovens cavaleiros ingleses liderados por Halifax Wyatt deixaram de competir com seus cavalos num dia chuvoso, temendo que acidentes pudessem acontecer em função das condições do terreno. Apesar disso os cavaleiros decidiram por disputar uma competição correndo pelo mesmo trajeto em que se disputariaa corrida de cavalos. A prova fora disputada no percurso de 2 milhas em terrenos acidentados e compunha vinte e quatro saltos sobre obstáculos naturais e depressões cheias d’água. Nascia, portanto, a prova de Steeplechase. As competições desta nova modalidade passaram a ser realizadas regularmente, até que em 1900 tornou-se modalidade olímpica, tendo a distância de 3.000 m oficializada em 1920. As regras foram definitivamente oficializadas a partir de 1954 pela IAAF...” (Schiffer) Uma das maiores dificuldades dos corredores de Steeplechase é a ultrapassagem dos obstáculos, estruturas fixas, que permitem ao atleta apoiar sobre o mesmo enquanto estão sendo ultrapassados. A ultrapassagem do obstáculo e da fossa olímpica (depressão angulada projetada na pista preenchida por água), situados na curva final da pista de 400 m, constitui-se uma das maiores dificuldades técnicas do atleta, que deve cumprir com certas etapas, para que a passagem tenha êxito: 1) aproximação do obstáculo mantendo-se a passada de corrida; 2) os pregos da sapatilha devem apoiar firmemente o obstáculo em seu topo; 3) o centro de gravidade deve ser mantido baixo; 4) impulso do membro de apoio deve ocorrer com extensão do joelho.24 O treinamento do corredor de steeplechase não difere muito dos treinamentos dos corredores de meio-fundo, embora se enfatizem os treinos de saltos e barreiras. Talvez essa prova seja uma das poucas em que o atleta realmente se beneficia em liderá-la, pois não necessita ajustar sua corrida para ultrapassar os obstáculos em função da presença dos adversários à frente, e sim somente concentrar-se em sua própria corrida.25 Durante a tentativa de ultrapassagem dos obstáculos, sem que haja perda da velocidade, o atleta acelera as últimas 6 a 8 passadas, principalmente durante os momentos finais, quando já se observam sinais de fadiga do atleta, no intuito de ultrapassar sem tocar o obstáculo.26 Os traumatismos nas passagens de obstáculos decorrem da proximidade com que os atletas executam seus movimentos, ultrapassando o mesmo obstáculo, muitas vezes ao mesmo tempo. A aterrissagem desequilibrada na fossa olímpica pode desencadear torsões predominantemente de tornozelo, ou mesmo traumatismos noutras regiões do corpo. Dentre as lesões mais freqüentemente observadas entre os corredores de longa distância, podem-se citar as chamadas “lesões de estresse” ou de sobrecarga, tais como: tendinopatia de calcâneo, síndrome do estresse tibial medial, fraturas de estresse, tendinite do semimembranoso, tendinite do poplíteo, tendinite da “pata de ganso”, síndrome do trato ílio-tibial e a fascite plantar.27 A hiperpronação do pé é um dos fatores biomecânicos de risco mais freqüentemente encontrados nas lesões por sobrecarga.27 A pronação do pé está associada com a atividade concêntrica da musculatura pronadora, provocando um trabalho excêntrico da musculatura supinadora.27 Quanto mais pronunciada for a pronação do pé, maior será a atividade excêntrica supinadora, que se manifesta como pico máximo de ação durante o ponto médio da fase de apoio da corrida.27 O trabalho excêntrico da musculatura supinadora pode ser considerado um dos fatores predisponentes às lesões por sobrecarga nos membros inferiores.27 O treinamento freqüente de corrida nas situações de declive propicia situações de risco para o atleta. A necessidade de controlar a velocidade da corrida na situação de declive torna necessária uma desaceleração do movimento. Tal fato faz com que o centro de gravidade do atleta se mantenha atrás do membro inferior dianteiro, que toca o solo em posição de flexão plantar (contração concêntrica do músculo tríceps-sural e excêntrica do músculo tibial anterior), mantendo uma contração excêntrica do músculo quadríceps. A tensão patelofemoral gerada propicia o aparecimento do fenômeno da dor anterior do joelho, caracterizada pela hipersensibilidade na região retinacular (medial e/ou lateral), tendinopatias associadas (patelar, quadricipital, poplíteo), podendo ser acompanhada por lesão condral da articulação patelofemoral subjacente.15 A corrida praticada em terrenos inclinados, tais como terrenos acidentados, ou mesmo ruas e avenidas com as margens inclinadas lateralmente (escoadouros pluviais), determina para o corredor uma condição de assimetria relativa dos membros inferiores. O membro inferior mais próximo da margem baixa das pistas inclinadas (perna baixa ou inferior) assume uma posição de supinação do pé, rotação externa da perna, causando estresse ao longo do canto póstero-medial do joelho, o que propicia o surgimento de lesões no músculo semimembranoso, estiramento retinacular medial, lesão do ligamento colateral medial e acentuação de lesões meniscais mediais. A tendinite do músculo semimembranoso acomete corredores de meia idade e se caracteriza clinicamente por dor no canto póstero-medial do joelho imediatamente abaixo da interlinha articular intensificada pela manobra de rotação externa da perna (joelho fletido a 90°).28 Como fatores predisponentes, podem-se citar a rotação externa da tíbia excessiva, hiperpronação do pé e a torção femoral interna, condições anatômicas que promovem estresse da inserção do músculo semimembranoso no nível do joelho.28 A tendinite/bursite da pata de ganso se manifestam por dor na região anteromedial da tíbia de corredores e fazem diagnóstico diferencial com as lesões do ligamento colateral medial.28 A tendinite do poplíteo pode ser encontrada entre os corredores de longa distância, caracterizada pela dor no canto póstero-lateral e pela tensão aumentada do tendão poplíteo (localizada na região anterior ao ligamento colateral lateral do joelho), e tem como um dos fatores predisponentes a pronação do pé excessiva (hiperpronação).15 A Síndrome da Gordura de Hoffa, também conhecida como a síndrome da gordura infrapatelar, acomete corredores, em decorrência do traumatismo da gordura de Hoffa, durante a realização de movimentos repetitivos de extensão máxima do joelho.28 A síndrome do trato iliotibial é uma síndrome de over use causada pela fricção excessiva entre o trato iliotibial e o epicôndilo lateral do fêmur. Acomete corredores de longa distância em 1,6% a 12%29 e tem como fatores predisponentes o pé cavo, genu varo, epicôndilo lateral do fêmur proeminente, tíbia vara, torção tibial interna, assimetria de membros, erros de treinamento, como mudanças bruscas de intensidade, duração e freqüência.28 A síndrome compartimental crônica é a forma de manifestação mais comum das síndromes compartimentais em atletas, localizada preferencialmente na perna.30 Os sintomas são restritos ao período da atividade física, cursando assintomática durante o repouso.30 As cargas axiais repetitivas provocadas durante a corrida aumentam o risco da síndrome compartimental crônica, caracterizada pelo aumento da pressão dentro de um compartimento. Embora a fisiopatologia da síndrome compartimental seja semelhante nos tipos agudo e crônico, a isquemia tecidual não está necessariamente presente no tipo crônico.30 O difícil diagnóstico da síndrome compartimental crônica decorre de as manifestações clínicas apresentadas serem inespecíficas.30 O atleta geralmente apresenta dor recorrente associada ao esforço, e que cessa durante o repouso. As manifestações são bilaterais em 75% a 95% dos casos.30 O diagnóstico da síndrome compartimental crônica é obtido por meio de medidas da pressão compartimental avaliadas nos períodos pré e pós-exercício. Qualquer pressão compartimental superior a 30 mmHg, medidas 1 minuto após a realização de exercício, ou pressões superiores a 20 mmHg 5 minutos após a realização de esforço, são considerados diagnósticos positivos. A situação de “overtraining”, termo empregado para descrever uma condição física de diminuição do desempenho associado à fadiga crônica e precipitada pelo estresse do treinamento,vem ganhando expressão nos dias atuais, devido ao advento de modalidades esportivas que demandam grandes volumes de treinamento, seguidos por um tempo de recuperação insuficiente, e que expõem o atleta a períodos competitivos prolongados.11 Há numerosos relatos de queda do desempenho de atletas sem razão aparente, e que necessitam de um longo período para recompor a forma física.11,12 O overtraining desencadeia uma série de alterações metabólicas, comprometendo os sistemas cardiovascular, neuroendócrino, imune e musculoesquelético.11,12 “Overtraining” é uma síndrome, um complexo de sinais e sintomas que podem variar entre indivíduos.12 Também conhecida como “Síndrome da Fadiga Crônica”, o “overtraining” não apresenta evidências de um único fator fisiopatológico. Alguns atletas, altamente motivados, mesmo sabedores de suas quedas de rendimento, aumentam a carga de treinamento, levando a um círculo vicioso de mais fadiga e mais diminuição do desempenho. Brown considera alguns padrões de treinamento e competição como elementos de risco elevado para a “síndrome de overtraining”:12 1. Sessões de treinamento de alta intensidade com períodos de recuperação insuficiente. 2. Aumento abrupto no volume de treinamento. 3. Intervalos reduzidos entre competições. 4. Rotina monótona de treinamento. Apesar de os atletas acometidos por lesões de sobrecarga relacionarem mudanças no treinamento com suas lesões, Bennell não observou diferença estatisticamente significante entre fatores extrínsecos, como: a média semanal de horas de treinamento, distância de corrida, tipo de treinamento, tipo de calçado e tipo de superfície, quando comparados atletas lesionados e sãos.2,3 Embora não haja sinais clínicos específicos associados à síndrome de sobrecarga, os sintomas mais freqüentemente observados são aqueles observados no Quadro 48-4:11,12 Quadro 48-4. Sinais e sintomas da “Síndrome de Sobrecarga” Perda da iniciativa Labilidade emocional: ansiedade, irritabilidade, depressão Distúrbios do sono, com sensação de cansaço permanente Distúrbios do apetite, com perda de peso Queda do rendimento esportivo Alterações no ritmo menstrual Susceptibilidade aumentada a infecções Fadiga excessiva com dificuldades de recuperação entre sessões de treinamento Dores persistentes associadas à tensão muscular aumentada, desproporcionais ao nível de treinamento. Procura do atleta por métodos de relaxamento (massagens, fisioterapia) As definições de fadiga são variáveis, tais como: “falência na manutenção de força durante contrações musculares repetidas ou sustentadas”; “falência na manutenção de força esperada ou requerida”; “decréscimo transitório da capacidade de trabalho resultante de atividade física prévia...geralmente evidenciada pela falência de manutenção ou desenvolvimento de força muscular”.31 A fadiga, para o corredor, representa uma condição subjetiva, com sintomas diversos, tais como a perda da concentração e a pequena tolerância à atividade. Para o médico, a fadiga significa freqüentemente um risco potencial à lesão muscular.11 Interroga-se freqüentemente a possibilidade de cada passo na cadeia de eventos da contração muscular ser sede de instalação de fadiga. Há estudos que classificam a fadiga em duas categorias: central e periférica.32 A discussão implica concentrar a atenção na fadiga periférica, que envolve alterações na transmissão neuromuscular, no sarcolema, acúmulo de metabólitos e desequilíbrio iônico. Talvez a fadiga deva ser vista como um mecanismo protetor contra lesões musculares irreversíveis, e o treinamento, um meio de prevenir a instalação da fadiga.11 As fibras musculares do Tipo I, ou oxidativas, são recrutadas preferencialmente durante as corridas de longa distância, desenvolvem menor potência, porém apresentam maior resposta ao “endurance”, sendo, portanto, também conhecidas como fibras lentas.11 Características como o exercício intenso de longa duração e com predomínio de contração muscular excêntrica constitui-se nos principais fatores predisponentes das lesões de fibras musculares.11 As lesões se iniciam no nível subcelular, em pequenas proporções do grupo muscular, podendo levar à dor e queda do desempenho. A progressão da lesão muscular pode ser descrita em 4 estágios básicos:11 1. Inicial. Fatores metabólicos e mecânicos disparam as sucessivas fases de degeneração e regeneração das fibras musculares. Os fatores metabólicos abrangem temperaturas elevadas (alteração de proteínas), respiração mitocondrial insuficiente (altera o mecanismo das bombas de cálcio), queda do pH e produção elevada de radicais livres. Os fatores mecânicos envolvem a ruptura de estruturas celulares (sarcolema, retículo sarcoplasmático e miofibrilas). 2. Autógeno. Segue o evento inicial, caracterizado pela degradação de estruturas celulares (proteólise e lipólise). Observa-se que, com o rompimento da barreira da membrana celular, tem-se passagem de constituintes intramusculares para o espaço extracelular e vice-versa. A perda da homeostase do cálcio, caracterizada pela elevação dos níveis de cálcio mitocondrial, promove alterações na respiração celular, com diminuição do pH, ativação da fosfolipase A2, e conseqüente aumento de prostaglandinas, leucotrienos, proteases lisossomais e radicais livres. Esse período precede em várias horas a invasão de células fagocíticas no local da lesão. 3. Fagocítico. Prevalece de 4 a 6 horas após o início dos eventos, e mantém-se de 2 a 4 dias seguidos ao exercício. É marcado por uma típica resposta inflamatória do tecido. 4. De regeneracão. Embora não haja demarcação evidente entre os períodos de degeneração e regeneração, cerca de 4 a 6 dias após o evento inicial, há uma clara evidência de recuperação de miofibrilas e do tecido lesionado. Por volta de 10 a 14 dias, o tecido muscular aparece normal. Há evidências de que alterações teciduais se processam na corrida de longa distância.33 A análise histoquímica de biópsias musculares de músculos gastrocnêmios de maratonistas em 5 momentos diferentes (pré-maratona, 1 dia, 3 dias, 5 dias, e 7 dias após a maratona) evidencia que tanto o treinamento para a maratona, quanto a prova em si, induzem degeneração de fibras musculares e necrose, podendo causar rabdomiólise e mioglobinúria.33,34 Durante o período de treinamento para a maratona, foram identificadas fibras musculares com amplo acúmulo de glicogênio, mitocôndrias e lipídios, sinais de trauma em 8 de 10 amostras obtidas, com visualização de eritrócitos e mitocôndrias livres no espaço extracelular e rupturas do sarcolema com desorientação de fibras. Imediatamente após a maratona, observou-se menor acúmulo de glicogênio, presença de eritrócitos e mitocôndrias livres no espaço extracelular, nodos de espasmo muscular e fendas no sarcolema em praticamente metade dos corredores. Do 1º ao 3º dia após a maratona, as anormalidades aparecem com mais prevalência, o que vem explicar a demora na recuperação do cansaço muscular experimentado pelos atletas, encontrando-se evidências celulares de necrose. Em quase todas as amostras de cada período, mitocôndrias estavam presentes no espaço extracelular, sugerindo que a ruptura de fibras musculares continuava após a maratona.34 A fadiga muscular, causando redução da absorção de choque e conseqüente redistribuição das forças atuantes sobre os ossos, associada às forças repetitivas originadas das contrações musculares durante a corrida, pode desencadear alterações do metabolismo ósseo, gerando fraturas de estresse.35 As fraturas de estresse representam 4,7% a 30% das lesões encontradas em corredores2,3,8,9,28,35-43 e situam-se preferencialmente nos membros inferiores: tíbia (49,9%), ossos do tarso (25,3%), metatarsos (8,8%), fêmur (7,2%), fíbula (6,6%), pelve (1,6%), sesamóides (0,9%) e coluna (0,6%) Entre os corredores, osfatores considerados elementos de risco para as fraturas de estresse são: a corrida de longa distância praticada por indivíduos com idade superior a 20 anos, sexo feminino, raça branca, o uso de calçados inadequados, portadores de distúrbios anatômicos e biomecânicos, erros de treinamento, deficiências nutricionais e alterações hormonais.8,9,28,35-39 A fascite plantar (processo inflamatório da fáscia plantar) representa a causa mais comum de dor na região inferior do pé, somando 10% das lesões encontradas nos corredores.44 A faixa etária mais freqüentemente acometida é de corredores adultos jovens. O diagnóstico clínico é relativamente simples, por meio de história e exame físico adequados, com 90% dos casos apresentando melhora por meio do tratamento clínico e fisioterápico, reservando 10% dos casos para tratamento cirúrgico.44 Os fatores predisponentes ao aparecimento da fascite plantar podem ser divididos em anatômicos, biomecânicos e ambientais. Os fatores anatômicos são: pés planos, pronação da subtalar, pés cavos, assimetria de membros, coalizão tarsal.44 Os fatores biomecânicos são: tensão aumentada do tendão do calcâneo, diminuição de força de flexores plantares, tornozelo e intrínsecos do pé, obesidade, súbito ganho de peso e trauma.44 Os fatores ambientais representam mudanças de treinamento, aumento súbito de velocidade, intensidade e duração da corrida, corrida em aclives, terrenos irregulares, mudança súbita de material, calçados inadequados, alongamento insuficiente.44 As lesões por sobrecarga em corredores de longa distância podem ser evitadas ou minimizadas, se algumas regras forem consideradas: 1. Correr sobre superfícies planas e firmes, porém não muito duras. 2. Evitar a utilização do mesmo par de tênis nos treinamentos em dias consecutivos, sobre a mesma superfície, à mesma velocidade. 3. Realizar um período de aquecimento, antes do início da corrida. 4. Praticar regularmente exercícios de alongamento com atenção particular aos músculos dos membros inferiores. 5. Manter um período adequado de recuperação após treinamentos longos ou de sobrecarga. 6. Treinar de outras regiões do corpo, além dos membros inferiores (cross-trainning). 7. Evitar treinamentos longos ou de sobrecarga nos dias de fadiga acentuada ou nos períodos de recuperação de lesões. MARCHA ATLÉTICA A marcha atlética é uma modalidade de resistência, caracterizada pela caminhada de longas distâncias previamente determinadas (provas de 20 km para homens e mulheres; 50 km para homens). Apresenta como regra fundamental a necessidade de manter ao menos um dos pés em contato com o solo durante todo o tempo da marcha, não permitindo, assim, que o atleta mantenha uma fase aérea entre os passos, como acontece necessariamente durante a corrida. Um pé não poderá deixar o solo enquanto o contralateral não estiver tocando o solo à frente. Infringir a regra implica desclassificação imediata da prova durante uma competição (Fig. 48-4). A biomecânica da marcha caracteriza-se por movimentos de um “caminhar” de grande vigor e velocidade elevada. O tronco assume uma posição ereta, diferentemente da posição de semiflexão da corrida, o que acarreta a necessidade de movimentos torcionais e conseqüentemente maior solicitação dos músculos paravertebrais e abdominais para que a execução eficiente do passo. A dor lombar do marchador pode ser prevenida por meio de exercícios de alongamento da musculatura paravertebral lombar, musculatura abdominal e oblíquos. No início da fase de apoio, o contato do retropé com solo exige do atleta movimentos de extensão/ hiperextensão do joelho seguida pela dorsiflexão (extensão) do tornozelo, procurando compensar o ganho de amplitude do passo sem a fase aérea. As forças de hiperextensão atuantes no joelho podem desencadear dor na região poplítea por distração das estruturas posteriores, podendo significar o surgimento de tendinopatias crônicas. Os exercícios de alongamento da musculatura extensora e o simultâneo fortalecimento dos músculos flexores previnem ou minimizam as queixas no joelho. Os movimentos de extensão do tornozelo e o conseqüente choque do calcanhar no solo propiciam queixas álgicas no retropé (coxim gorduroso plantar) e região do tendão calcâneo. A execução de exercícios de alongamento conjugada ao uso de palmilhas para a elevação do retropé minimiza os efeitos dolorosos. A ação dos membros superiores se faz de maneira a equilibrar e intensificar os movimentos dos membros inferiores. Alternadamente, os ombros executam movimentos de flexo/ extensão de pequena amplitude, mantendo-se os cotovelos flexionados em torno de 90° e atitude de punhos cerrados. A velocidade de execução dos movimentos da marcha relaciona-se diretamente a fatores como a capacidade aeróbia, coordenação, flexibilidade e equilíbrio do atleta. Os movimentos articulares, sobretudo dos membros inferiores, exigem do atleta o máximo de amplitude, e, para que tal objetivo seja atingido, esse deve ser flexível e manter uma rotina de exercícios de alongamento específica e regular.45 MODALIDADES DE SALTOS Salto em distância Histórico O salto em distância, também conhecido como salto em extensão, é uma das mais antigas modalidades do atletismo, datando de 708 A.C (XVIII Jogos Olímpicos) sua primeira aparição.46 Disputado originalmente como integrante do pentatlo, prova representada por cinco modalidades (lançamento do disco, lançamento do dardo, corrida, salto em extensão e luta), o salto em distância era considerado o evento mais elegante e representativo dessa prova.46 A História deixa dúvidas quanto às características técnicas das primeiras provas do salto em distância disputadas nos Jogos Olímpicos.46 Os indícios históricos não esclarecem se o salto era realizado precedido ou não por uma corrida de aproximação.46 Narrativas, pinturas em vasos e peças antigas retratam o saltador de distância empunhando dois halteres. Feitos em pedra ou chumbo, os halteres possuíam forma e peso que variavam de acordo com a categoria e a compleição física do atleta, adaptando-se às exigências individuais para permitir melhores resultados.46 Algumas peças eram achatadas com formato de “rim” e possuíam um orifício que permitia uma empunhadura mais firme.46 Outras se assemelhavam aos “halteres” de hoje e havia, ainda, exemplares com formato de um pequeno sabre com maior peso na parte dianteira da peça.46 Nas escavações de Corinto, foram encontrados exemplares de 1,35 a 1,9 kg, mas o peso poderia chegar a 2,5 kg.46 O terreno destinado ao salto em distância apresentava regiões específicas como a área de impulso e a de aterrissagem. A área de impulso, local onde o saltador desprendia o último pé de apoio, considerada firme e dura, era conhecida na Grécia antiga como “bater”, e a área de aterrissagem, especialmente preparada para amortecer a queda, media aproximadamente 15 m, e era chamada de “skamma”46,47 “Saltar por cima da skamma” era um provérbio grego que retratava uma distância extraordinária atingida pelo atleta.47 A prova do salto em distância se realizava ao som da ária pítica, composta em homenagem ao deus Apolo e executada em flauta dupla.46 Segundo a lenda, o deus da luz, antonomásia atribuída ao deus Apolo, teria obtido diversas vitórias nessa prova, e os gregos acreditavam que, sendo homenageado, protegeria o atleta, favorecendo-o a atingir grandes resultados. A música proporcionava, também, sincronização de movimentos e ritmo.46 A melhor marca olímpica dessa prova data de 664 D.C. atingida nos XXIX Jogos Olímpicos e manteve-se em poder de Quionis de Esparta, que registrou 16,66 m.46 Phayllos teria saltado, posteriormente, a extraordinária distância de 16,76 m.47 Ambos os resultados jamais foram igualados em nenhuma versão dos jogos gregos e originaram estudos com o objetivo de comprovara veracidade dos feitos.47 Uma corrente de opinião defende a idéia de que as marcas atingidas teriam sido resultado de uma espécie de salto triplo, uma variante que integrava os Jogos Olímpicos.46,47 Biomecânica do salto em distância O salto em distância consiste de uma corrida de aproximação veloz, um impulso explosivo a partir de uma tábua de madeira no mesmo plano da superfície da pista, uma trajetória aérea e, finalmente a aterrissagem na caixa de areia.48-52 A distância efetiva do salto é marcada a partir da borda final da tábua de impulso até a primeira marca feita pelo atleta na caixa de areia. Alguns pré-requisitos básicos são necessários para um bom desempenho no salto em distância, como: a velocidade, a posição corporal e a precisão do impulso.48-52 O resultado ideal no salto em distância depende, dentre outras variáveis, da capacidade do atleta em desenvolver alta velocidade no momento do impulso. Quanto maior for a velocidade horizontal do centro de gravidade do atleta, no momento do impulso na tábua, maior será a distância atingida no salto.48-52 O salto em distância pode ser dividido didaticamente em quatro partes consecutivas: 1. Corrida de aproximação (approach) A corrida de aproximação é o período compreendido entre o início da corrida ou da caminhada que a antecede, até o momento em que o pé de impulsão toca o solo pela última vez (touchdown). As técnicas utilizadas pelos saltadores, para iniciar a corrida de aproximação, são várias, mas, basicamente, podemos dividi-las em duas: na primeira, o atleta inicia a corrida a partir de uma posição estática e progressivamente acelera, até atingir a velocidade máxima ideal para o salto. Na segunda técnica, o saltador realiza alguns passos até a marca da corrida e, a partir daí, a realiza em velocidade elevada. A velocidade máxima atingida durante a corrida de aproximação para o salto se aproxima da máxima velocidade que o saltador é capaz de atingir.48-52 O comprimento da corrida, o número, a freqüência e o comprimento dos passos necessários para a realização da aproximação são determinados pelas características corporais e pelas habilidades próprias do saltador no desenvolvimento da velocidade ideal para o salto.48-52 Durante a corrida, os músculos possuem duas funções essenciais: acelerar o corpo na direção horizontal e agir contra a força da gravidade atuante na direção vertical.16 O comportamento dos quatro últimos passos de corrida que antecedem o impulso, têm sido alvo de muitas especulações no que se refere à relação desse parâmetro com a distância final atingida pelo saltador. 48-52 As conclusões afirmam que a metragem final do salto independe do comprimento dos últimos dois passos de corrida que antecedem o impulso48 e tampouco há relação entre a posição de passada (1º, 2º, 3º ou 4º passo que antecede o impulso final) em que a velocidade máxima é atingida, e a metragem final do salto. 48-52 Embora Hay afirme que o comprimento ideal de corrida de aproximação deva estar entre 50 m e 60 m, a literatura nos revela que os atletas se utilizam de distâncias menores na prática dessa prova, em torno de 40 m a 50 m.48-52 A freqüência dos passos, durante a corrida de aproximação, aumenta substancialmente com a aproximação do momento do impulso, embora ainda haja discussão a respeito da relação do comprimento ideal dos últimos passos de corrida com o comprimento final do salto.48-52 O padrão de comportamento do centro de gravidade (C.G.) do saltador, durante a corrida, é praticamente linear, pouco alterando sua posição vertical em relação ao solo. Os últimos passos que antecedem o impulso levam a uma diminuição da altura do C.G. Hay observou o abaixamento do C.G. nos últimos dois passos para o impulso em saltadores experientes.48-52 A diminuição da altura do C.G. até os níveis de 10% da altura média, mantida durante a corrida, é considerada uma manobra de facilitação na aquisição de velocidade vertical no momento do impulso48-52 O deslocamento vertical do C.G. na fase do impacto inicial durante o impulso demonstra o quanto o atleta consegue suportar e converter as grandes forças de impacto e, conseqüentemente, se beneficiar da energia elástica resultante.48-52 A precisão com que o saltador atinge a superfície de impulsão (tábua) é obviamente um fator determinante do sucesso do salto. Os atletas geralmente fazem ajustes no comprimento da corrida de aproximação, também em função de modificações no tempo, direção e intensidade de vento e condições físicas próprias do atleta.48-52 Os ajustes do salto também são realizados de maneira súbita durante a corrida de aproximação, quando o atleta altera a freqüência e/ou o comprimento dos passos de corrida, visando atingir a tábua de impulso com mais precisão, melhor velocidade, e coordenação de movimentos. A corrida de aproximação pode ser subdividida também em duas etapas. Na primeira, ou chamada fase de estratégia programada, o atleta executa movimentos de corrida condicionados durante o treinamento.48-52 A segunda etapa ou fase de estratégia visual, que geralmente caracteriza os cinco últimos passos que antecedem o impulso, se caracteriza pelos ajustes na corrida praticados pelo atleta por meio da avaliação visual da distância da tábua.48-52 As alterações no comportamento e os movimentos de corrida podem provocar o aparecimento de lesões musculoesqueléticas, antes mesmo da fase de impulso ter sido iniciada. A simples alteração súbita, ou não programada na freqüência e amplitude dos passos da corrida, a fim de atingir com maior precisão a tábua de impulsão pode levar o atleta às lesões miotendíneas, principalmente localizadas na musculatura isquiotibial durante a fase de contração excêntrica.53 Da mesma forma, o toque do pé de impulso na tábua com o joelho muito estendido, em decorrência de uma aproximação imprecisa (último passo longo), leva o centro de gravidade do atleta para uma posição para trás, o que gera desaceleração significativa, tornando o salto ineficiente e podendo causar lesões no joelho.53 2. Impulso (Takeoff) O impulso é o momento primordial da execução do salto, considerado o intervalo entre o toque do pé no solo e seu desprendimento para a fase aérea. A força gerada durante o impulso origina-se das propriedades elásticas dos músculos extensores do membro inferior de impulso, tanto por meio do reflexo de estiramento dos mesmos, como de suas contrações ativas.48-52 O intervalo de tempo que o pé de impulso se mantém no solo varia de 0,08 a 0,14s.48-52 A redução da velocidade horizontal no momento do impulso depende primariamente da duração e da magnitude do retardo, ou seja, o tempo e a intensidade das forças do pé no solo48-52. A correlação estatística encontrada por Hay afirma que, quanto maior for a velocidade de aproximação do atleta, e menor for o tempo de impulso, maior será a distância de salto atingido.48-52 Há duas correntes teóricas a respeito da biomecânica do pé de impulso no momento em que esse toca o solo. A primeira, e aparentemente mais aceita, afirma que o pé toca o solo, realizando um movimento chamado de “aterrissagem ativa”, em que a seqüência de apoio se faz primeiro pelo retropé, seguido pelo médio-pé e finalmente o antepé, o que proporciona a redução da velocidade horizontal do pé no impacto, resultando numa reação de frenagem a partir do solo.48-52 A segunda teoria afirma que o pé toca o solo com a superfície plantar total, sem que haja uma distribuição gradual de carga como na técnica anterior.48-52 Nenhuma das teorias citadas oferece evidências convincentes que suportem suas posições,48-52 embora estudos eletroneuromiográficos observem padrões de contração muscular que evidenciem a utilização de ambas as técnicas entre os saltadores, com um predomínio da técnica de “aterrissagem ativa”.52 Hay divide o momento do impulso em 3 fases: A)Fase inicial ou isométrica A fase inicial ou isométrica se caracteriza por um ângulo de flexão do joelho que permanece praticamente inalterado.48-52 Nessa fase, a potência desenvolvida pelas estruturas osteoligamentares do joelho atinge quase 2,5 vezes os valores de potência desenvolvidos pelos músculos que cruzam a articulação do joelho. A potência gerada pelas estruturas osteoligamentares do quadril apresenta uma magnitude que representa 83% da potência desenvolvida pelo joelho.48-52 Durante essa fase, o movimento de flexão plantar da articulação do tornozelo provoca uma ação excêntrica da musculatura anterior da perna.48-52 B) Base média ou excêntrica A fase média se caracteriza pela ação excêntrica da musculatura do quadríceps, promovendo um aumento do ângulo de flexão do joelho.48-52 C) Base final ou concêntrica Durante a fase final, a ação concêntrica da musculatura do quadríceps promove uma diminuição do ângulo de flexão do joelho, até a extensão total.48-52 O comportamento dos músculos dos membros inferiores durante a fase de impulso foi estudada por Hay, 48-52 que observou: Músculo glúteo máximo. Contração isométrica mantendo o comprimento relativamente constante durante os 30% a 50% iniciais da fase de impulso, seguido de encurtamento na fase de desprendimento do pé (contração concêntrica), refletindo a angulação relativamente constante da articulação do quadril na metade inicial da fase de impulso. Músculos vastos. Contração excêntrica, com aumento do comprimento na primeira metade da fase de impulso, seguido de encurtamento (contração concêntrica). A magnitude da variação de comprimento encontrada foi de 0,3 ± (0,1) cm.52 Há correlação positiva entre o tempo em que a musculatura sofre a ação excêntrica e a geração de velocidade vertical. Músculos isquiotibiais. Contração concêntrica com diminuição linear ou próxima de um comportamento linear do comprimento, progressivo, a partir do toque do pé no solo até o seu desprendimento em função das mudanças de posição que estão ocorrendo nas articulações do quadril e joelho. A correlação existente entre a variação de comprimento dos músculos isquiotibiais e a mudança de velocidade vertical durante o impulso revela que, quanto maior for o encurtamento muscular, maior será o ganho de velocidade vertical. Das possibilidades existentes para permitir um grau de encurtamento eficiente, a extensão ampla do quadril é o movimento mais provável. Músculo retofemoral. Contração excêntrica com padrão linear a partir de uma fase breve de contração isométrica. Músculos sóleo e gastrocnêmio. O comportamento varia em função do padrão de apoio do pé de impulso. O padrão de “aterrissagem ativa”, que caracteriza o toque inicial do retropé no solo, reproduz um movimento de flexão plantar, seguido de dorsiflexão do tornozelo. Observa-se, então, uma fase de contração muscular concêntrica, seguida de uma fase excêntrica. Quando a técnica de impulso se caracteriza pelo toque do pé em sua extensão completa (flat-foot), a dorsiflexão do tornozelo resulta no padrão de contração muscular excêntrica, seguida da flexão plantar (contração concêntrica). A considerar-se o período total, a fase concêntrica da musculatura do tríceps sural se inicia em média nos 22% a 28% finais da fase de impulso. A magnitude do estiramento muscular varia de 1,9 a 5,7 em ± 1,5, enquanto o encurtamento varia de 0, 1 a 2,3 cm.52 Quanto maiores for a distância em que a musculatura sofrer a ação excêntrica e a velocidade em que o músculo sóleo sofrer ação excêntrica, maior será o ganho de velocidade vertical ao final da fase de impulso. O ângulo de inclinação do tronco no momento do impulso varia entre 75º e 107° em relação à horizontal.48 No salto em distância, quanto maior for a velocidade de aproximação desenvolvida pelo atleta, menor será o ângulo de inclinação do impulso (AII), ou seja, grandes velocidades tornam difícil a tarefa de realizar saltos predominantemente verticais. Os AII descritos para os saltadores de elite não se assemelham à inclinação de 45° freqüentemente citada como o ângulo ideal da trajetória parabólica de um projétil para que ele atinja uma distância horizontal máxima. Esse conceito se torna inválido no caso do salto em distância, pois a velocidade no momento do impulso e o AII são negativamente correlatos, ou seja, mesmo que um saltador de distância tivesse a capacidade de gerar velocidade vertical como um saltador de altura de elite, a redução na velocidade horizontal seria por volta de 50% ao saltar em AII de 45°, o que levaria a um salto de pouca eficiência em termos de comprimento final.48 Durante um salto em distância, ao realizar o impulso, a velocidade horizontal desenvolvida pelo atleta durante a corrida de aproximação é reduzida na ordem de 9,5% a 17%. Essa diminuição da velocidade horizontal se faz necessária para que ocorra o aumento da velocidade vertical e a elevação do C.G. do atleta.54 O módulo de redução da velocidade horizontal apresenta uma correlação direta com o aumento da velocidade vertical no momento do impulso.48-52 A razão entre as velocidades horizontal e vertical, no momento do impulso do salto em distância, varia de 2:1 a 3:1.48 Witters considera que apenas 20% a 30% da fração de energia cinética da corrida de aproximação perdida no movimento horizontal durante o impulso se converte em movimento vertical.53 O pico de força de reação vertical do solo representa 16,4 vezes o peso corporal, durante a fase de impacto inicial do impulso.48-52 3. Vôo (Flight) O vôo, ou a fase aérea do salto, compreende o intervalo entre o impulso e o momento em que o atleta faz o primeiro contato com o solo no tanque de areia. Após o desprendimento do pé do solo, o atleta descreve uma trajetória aérea visando atingir a maior distância horizontal (Fig. 48-5). O comportamento do C.G. na fase aérea correlaciona-se com alguns parâmetros do impulso, como a velocidade, o AII e altura do C.G. em relação ao solo no momento do impulso.48 A altura atingida pelo C.G. no ápice da fase aérea, em relação à altura inicial no momento do impulso, varia de 29 a 49 cm para as mulheres e 22 a 75 cm para os homens.48 As técnicas de vôo mais empregadas durante o salto agrupam-se em 3 tipos o “sail”, “hang”, e “hitchkick” embora haja também variações e combinações entre essas.48 A técnica mais elementar usada durante a fase aérea, ou “sail”, é aquela na qual o saltador flexiona os joelhos e os quadris. O atleta adota uma posição sentada e mantém essa atitude enquanto progride no ar.48-52 No momento do impulso, o membro inferior desprendido da tábua realiza o movimento de extensão de joelho e quadril, além da flexão de tornozelo, enquanto o membro contralateral se encontra com o quadril flexionado e o joelho partindo de uma flexão para a extensão. Segue-se, então, uma flexão do quadril e joelho do membro de impulso, passando à frente do tronco, para se juntar ao membro inferior contralateral para a aterrissagem. 55 Outros atletas modificam a posição da técnica de sail e realizam a técnica de hang, em que mantêm elevados os membros superiores, estendendo os membros inferiores, e assim otimizando a aterrissagem.48-52 O “hitchkick”, também conhecido como “pedaladas no ar” ou “corrida no ar” alterna movimentos dos membros superiores e inferiores, mantendo o tronco estável durante a trajetória aérea (Fig. 48-6). Possui duas variações básicas, dependendo do número de passos realizados pelo atleta; assim sendo, temos o hitchkick de 2 1/2 e 3 1/2.48-52 Utilizar uma ou outra técnica de vôo tem como objetivo atingir a melhor distância do salto, realizando movimentos dentro de uma eficiência biomecânica, a fim de que o atleta assuma uma posição ideal para a aterrissagem.55 4. Aterrissagem (Landing) Intervalo entre o momento do toque na superfície de areia até a passagemdo centro de gravidade do atleta (C.G.) à frente dos pés ou o término do movimento. A atitude corporal ideal de aterrissagem mantém os quadris totalmente flexionados, o tronco fletido sobre as coxas, os joelhos estendidos e os membros superiores estendidos e posicionados atrás do tronco.48-52 A aterrissagem ótima é caracterizada pela máxima distância de aterrissagem atingida pelo atleta (DA) e a mínima perda dessa mesma distância (DP).55 A posição corporal, aliada à técnica empregada, pode promover uma perda significativa do comprimento do salto, como ocorre quando o atleta toca com as mãos a areia durante a aterrissagem. Hay considera que a distância atingida pelo atleta durante o salto é um somatório de três distâncias parciais: 1. Distância de impulsão (D.I.) Distância horizontal entre a borda anterior da tábua de impulsão e C.G. no instante do impulso. 2. Distância de vôo (D.V.) Distância horizontal percorrida pelo C.G. enquanto o atleta encontra-se na fase aérea. 3. Distância de aterrissagem (D.A.) Distância horizontal entre o C.G. no momento em que há o toque dos calcanhares do atleta no solo e a marca na areia na qual a distância do salto é efetivamente medida. Duas medidas são oficialmente utilizadas na avaliação do desempenho do atleta na prova do salto em distância:48-52 1. Distância oficial (D.O). Distância horizontal do salto, medida a partir da borda anterior da tábua de impulsão em ângulo reto até a marca mais próxima deixada pelo atleta na superfície de areia. 2. Distância efetiva (D.E.). Distância horizontal do salto, medida a partir da extremidade os dedos do pé de impulsão em ângulo reto até a marca mais próxima deixada pelo atleta na superfície de areia. Hay considera que das três distâncias definidas: (D.I., D.V., D.A.), a D.V. é aquela que exerce influência percentual dominante sobre a distância efetiva e oficial do S.D., após não encontrar correlação estatisticamente significante entre as distâncias D.I. e D.A. e a D.E.. Após observar os melhores resultados de saltos pessoais (superiores a 7,70 m) de 12 atletas de elite, Hay concluiu a seguinte contribuição percentual média das distâncias dos saltos D.I. 0,4%; D.V.: 92,9%; D.A.: 1,7%.48-52 Os fatores predisponentes das lesões durante a fase de aterrissagem podem ser divididos em: extrínsecos e intrínsecos. Os fatores extrínsecos dizem respeito às condições inadequadas tanto da tábua de impulsão, quanto da caixa de areia, superfícies envolvidas diretamente nas fases de impulso e aterrissagem, respectivamente. Analisando os fatores relacionados com a fase de aterrissagem, não há como negligenciar as condições da tábua de impulsão, já que os movimentos e o comportamento do centro de gravidade durante a fase aérea também podem interferir diretamente na última fase do salto. Pode-se citar como condições inadequadas de superfície da tábua de impulsão: irregularidades, ondulações, desgaste com depressões, presença de areia sobre a mesma, degrau existente entre a pista e a tábua. Devem-se enfatizar as condições irregulares da caixa de areia, como o desnível existente entre a pista e a superfície de areia, a irregularidade de superfície, a areia demasiadamente compacta e o volume de areia insuficiente. Ainda hoje, encontram-se lesões decorrentes das condições supracitadas, muitas vezes deixando seqüelas e até afastando o atleta definitivamente da modalidade ou do esporte. O joelho e o tornozelo são as articulações mais afetadas, podendo ser acometidas de fraturas, lesões ligamentares, tendíneas e nervosas. Os fatores intrínsecos das lesões durante a fase de aterrissagem são descritos no Quadro 48-5. Quadro 48-5. Fatores intrínsecos predisponentes às lesões no salto em distância Técnica inapropriada Perda de equilíbrio e coordenação durante as fases de impulso e aérea Desequilíbrios musculares Lesões musculoesqueléticas preexistentes A aterrissagem com a posição de costas com as mãos estendidas pode levar ao aparecimento de lesões no ombro.53 A extensão do ombro combinada com a contração do músculo bíceps pode resultar em lesões do tipo SLAP da articulação glenoumeral, significando uma avulsão da inserção bicipital na superfície superior do lábio glenoidal numa direção anteroposterior.53 O tratamento se baseia inicialmente no uso de medicações antiinflamatórias não-hormonais e fisioterapia, com ênfase no fortalecimento do manguito dos rotadores. O tratamento cirúrgico é indicado na falha dos tratamentos clínico e fisioterápico, com reparo e debridamento artroscópico, ou reconstrução aberta.53 Salto triplo O salto triplo consiste de uma corrida de aproximação, seguida de três saltos assim distribuídos: 1º salto, também chamado de hop, em que o atleta inicia o salto a partir de um pé e aterrissa sobre o mesmo pé.; 2º salto ou step, cujo impulso é dado com o mesmo pé do 1º salto e a aterrissagem é feita sobre o pé alternado; 3º salto ou jump, no qual impulso é dado com o pé de aterrissagem do 2º salto e a aterrissagem é feita com ambos os pés na areia.56,57 A velocidade final da corrida de aproximação para o salto triplo em geral é de magnitude inferior àquela desenvolvida por atletas da prova do salto em distância.51 A explicação para tal fato vem da necessidade do atleta em manter as forças que agem sobre seu corpo dentro de um limite de tolerabilidade e de controle, o que demanda menor velocidade horizontal no momento do impulso para o 1º salto.51 As distribuições percentuais das distâncias atingidas em cada etapa em relação ao comprimento total alcançado no salto triplo foram estudadas ao longo dos anos entre saltadores, e podem ser assim descritas: o 1º salto (34% a 41%), o 2º salto (22% a 30%) e o 3º salto (31% a 37%).56-60 O 2º salto é invariavelmente o menor dos três e funciona como uma fase de transição. Em virtude das variações fisiológicas, antropométricas e biomecânicas, diferenças nas técnicas usadas pelos atletas são esperadas.58 Com relação aos percentuais dos três saltos que compõem o salto triplo, pode-se dividi-lo em três tipos:56 1. 1º salto dominante. O percentual de contribuição do 1º salto é ao menos 2% maior do que os demais saltos. 2. 3º salto dominante. O percentual de contribuição do 1º salto é ao menos 2% maior do que os demais saltos. 3. Equilibrado. O maior salto contribui com menos de 2% de diferença em relação aos demais saltos. O atleta necessita controlar precisamente a posição de seu corpo a cada salto em resposta às forças de reação do solo nos momentos de impulso e aterrissagem. A perda do equilíbrio ou o erro de técnica interferem no comprimento dos saltos e podem culminar em lesões.53 As forças de reação do solo foram estudadas por Amadio (1985).59 O pico de força máxima vertical de reação do solo encontrada durante o 1º salto variou de 14,0 a 22,3 vezes o peso corporal.59 Para um atleta de elite de 774 N de peso, 22,3 vezes o peso corporal representa uma força de 17,3 KN, o que significa 2 toneladas. 56,57,59 Embora os valores descritos representem uma magnitude de carga significativa, os saltos estudados por Amadio mediam em média 3 metros a menos do que a melhor distância já saltada pelo homem nos dias de hoje, o que indica a possibilidade de forças maiores de reação do solo.56,57 A diminuição da velocidade da corrida de aproximação eventualmente se faz necessária para que o atleta consiga um melhor controle e equilíbrio de seu corpo nas fases subseqüentes.56,57 As forças de reação do solo podem atingir tal magnitude, que o atleta não mais é capaz de controlar o salto e o interrompe. A persistência de continuar o movimento pode gerar o aparecimento de lesões.56,57 Amadio estudou as forças internas atuantes no membro de impulsão do saltador de triplo e verificou que as forças resultantes máximas, na articulação do tornozelo, foram inferiores às forças
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