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Psicologia da Educação Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Renan de Almeida Sargiani Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin Introdução à Psicologia da Educação • Qual a Importância da Psicologia para a Educação? • Conceituação da Psicologia da Educação • Bases Históricas e Epistemológicas da Psicologia da Educação • Abordagens Contemporâneas da Psicologia da Educação • Psicologia, Neurociências e Educação no Século XXI · Introduzir o estudo ao campo da Psicologia da Educação, como uma disciplina ponte entre a Psicologia e a Educação, apresentando suas bases históricas e epistemológicas, bem como as suas principais abor- dagens e tendências contemporâneas. OBJETIVO DE APRENDIZADO Introdução à Psicologia da Educação Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Introdução à Psicologia da Educação Qual a Importância da Psicologia para a Educação? Quando falamos em Psicologia, talvez a primeira ideia que lhe venha à cabeça seja a imagem de um senhor barbudo sentado em uma grande poltrona e atendendo uma pessoa deitada em um divã, certo? Então, quando falamos em Psicologia da Educação, talvez para algumas pessoas surja também a ideia de que nós pretendemos ana- lisar crianças deitadas em um divã na Escola. Mas será que é isso mesmo? É claro que não! Essa primeira imagem da Psicologia a qual nos referimos foi estereotipada socialmente com base no famoso método psicanalítico de Sigmund Freud (1856-1939), mas pouco tem a ver com a realidade do que é a Psicologia. Pouco tem a ver porque, de fato, a Psica- nálise já utilizou muito os divãs e alguns tera- peutas até podem fazer uso atualmente, mas isso não equivale a dizer que todos os psicólo- gos são exatamente assim. Figura 1 – Sigmund Freud Fonte: Wikimedia Commons Importante! É bom lembrar que Psicanálise é uma coisa e Psicologia é outra. A Psicanálise é uma teoria e um método terapêutico criado por Sigmund Freud, e a Psicologia é uma Ciência muito mais ampla, que também considera a teoria psicanalítica entre seus estudos, utilizando para isso o termo abordagem psicodinâmica. Importante! Além disso, essa imagem dos psicólogos com divãs carrega consigo uma crença implícita de que a Psicologia está relacionada apenas à área da Saúde, principalmente à Saúde Mental, o que também é um grande mito. Na realidade, a Psicologia é uma Ciência muito mais ampla, que contribui não apenas com a área da Saúde, mas também com outras esferas de nossa vida, como a Educação, o Trabalho, os Esportes, a Sociedade e a Política, entre outras possibilidades. 8 9 A verdade é que em uma das definições possíveis da Psicologia, podemos considerar que ela é a Ciência que estuda a mente e o comportamento, tanto em animais, quanto em seres humanos. Por essa razão, os Psicólogos estão interessados em todos os fenômenos psicológicos que envolvem as ações e as relações humanas. Assim, a Educação é um campo muito especial para a Psicologia, já que envolve temas muito importantes para a Ciência Psicológica, como, por exemplo, a aprendizagem, o desenvolvimento, a mente, o cérebro, a cognição, a motivação, a memória e os relacionamentos interpessoais. Como você pode notar, estamos nos referindo aqui à Psicologia como Ciência e não àquela que vem do Senso Comum, do uso cotidiano do que também chamamos de Psicologia. Por exemplo, quando falamos que alguém vende bem seus produtos porque usa psicologia ou convence alguém porque tem psicologia, estamos nos referindo a um conhecimento psicológico do senso comum, não o mesmo conhecimento da Psicologia Científica. Quando falamos de Psicologia como Ciência, nós estamos nos referindo a um conhecimento sistemático, produzido por meio de pesquisas que usam o método científico. Estamos falando de uma área do conhecimento científico que tem seu início no final do século XIX, quando foi possível delimitar mais claramente seu objeto e seu campo de estudo. A Psicologia da qual estamos falando é uma Ciência que investiga o comportamento humano e as suas relações com o ambiente em que vivemos, considerando a história e a cultura em que vivemos. Uma Ciência que compreende o homem como um ser Biológico, Psicológico e Social, criando, assim, uma visão mais integradora e completa do homem. Mas afinal, qual a importância dessa Psicologia Científica para a Educação? Para essa questão podemos obter inúmeras respostas. Você mesmo certamente pode ter suas próprias respostas, que serão complementadas pelas nossas. Como a área de atuação da Psicologia é muito extensa, ela fornece inúmeros conhecimentos, que se relacionam direta ou indiretamente com a Educação. Vamos pensar um pouco! Você acha que todos nós aprendemos da mesma forma? O tempo que levamos para aprender algo é o mesmo para todos? Temos um limite para aprender, ou podemos aprender tudo? O ambiente em que estamos tem influência em nossa aprendizagem? O que nos motiva a conhecer? As pessoas nascem inteligentes ou se tornam inteligentes? São tantos os questionamentos que temos quando pensamos em Educação que, certamente, a Psicologia poderá nos auxiliar nas respostas, mostrando como essa Ciência é importante para entendermos melhor a relação ensino-aprendizagem, fenômeno fundamental para a Educação. 9 UNIDADE Introdução à Psicologia da Educação Importante! Na área de Educação, é comum utilizar o termo “processo de ensino-aprendizagem” para se referir à interação e indissociabilidade entre ensino e aprendizagem. Educadores como Paulo Freire acreditam que não existe ensino sem aprendizagem; todavia, não é sempre que alguém ensina que o outro aprende, como também nem sempre é necessário que alguém ensine para que exista aprendizagem; são processos separados, que obviamente se influenciam e estão intimamente relacionados. Assim, para a Psicologia da Educação, embora alguns teóricos também optem pelo uso desse mesmo binômio, muitos outros preferem utilizar os termos separadamente,ou seja, “processo de ensino” e “processo de aprendizagem”. Essa opção facilita a operacionalização dos conceitos para fins de pesquisa e também permite melhor compreensão de cada processo, já que uma pessoa é responsável pelo ensino, enquanto outra é responsável pela aprendizagem. Você pode optar por qualquer opção, já que ambas as formas são apropriadas, mas partem de perspectivas teóricas distintas. Contudo, como se trata de uma Disciplina da Psicologia da Educação, nós optamos por separar os processos e utilizar o termo “relação ensino- aprendizagem” para quando tratarmos dos dois conceitos em conjunto. Trocando ideias... Além da relação ensino-aprendizagem, a Psicologia como Ciência pode, tam- bém, contribuir para melhor compreensão do fenômeno educacional quando am- pliamos nosso objeto de estudo e focarmos as relações humanas. Partindo da premissa que aprendemos com o outro e que as interações com o ambiente que nos cerca influenciam a nossa aprendizagem, encontraremos na Escola um espaço que propicia as relações humanas. A Escola é lugar privilegiado de relacionamentos e interações. Nela temos nossos amigos, lá brincamos, conversamos, fazemos novos vínculos com professores, com as pessoas que lá trabalham com ou colegas da turma. Para os professores, a Escola também é um espaço de relacionamentos e interações, com as crianças, com outros professores, com coordenadores, gestores, pais e demais funcionários. Quando focamos as relações humanas, não podemos deixar de considerar a afetividade pertinente às relações entre as pessoas. Os vínculos que criamos com outras pessoas são carregados de afetividade, de sentimentos e de significados particulares que vamos construindo, na medida em que convivemos com as pessoas frequentadoras da Escola. Como podemos notar, a Psicologia pode contribuir com a Educação de maneira sistemática, exercendo um importante papel na Educação, seja no que se refere à aprendizagem, ensino, afetividade, seja nas relações humanas. Davis e Oliveira argumentam sobre o tema e podem ajudar a nossa reflexão: O papel da Psicologia é investigar as modificações que ocorrem nos processos envolvidos na relação do indivíduo com o mundo (cognitivos, emocionais, afetivos etc.), analisando os seus mecanismos básicos. Para 10 11 realizar sua proposta, a Psicologia interage com outras ciências tais como a Medicina, a Biologia, a Filosofia, a Genética, a Antropologia, a Sociologia, além da Pedagogia (DAVIS & OLIVEIRA, 1994, p.17). As autoras demonstram a importância de um olhar plural sobre a Educação. Apontam para um entendimento mais completo e complexo sobre o fenômeno Educação, entendendo os indivíduos do ponto de vista cognitivo, emocional e afetivo, objetos de estudo da Psicologia. A Psicologia, como Ciência, contribui para o estudo da Educação, da Psicologia da Educação, da Psicopedagogia e da Psicologia do Desenvolvimento, que são áreas de conhecimento que convergem seus interesses e investigações sobre os processos de ensino e de aprendizagem ou tudo que se relaciona à problemática educativa e escolar. A aprendizagem é um fenômeno fundamental para a sociedade, tanto que criamos espaços e contextos especificamente educativos, que chamamos de Escola, para tornar a Educação mais eficiente e eficaz. A Psicologia da Educação busca contribuir para que a Educação seja cada vez mais eficiente e eficaz. Nesta primeira unidade, discutiremos como a Psicologia e a Educação foram estreitando laços desde o final do século XIX, possibilitando o desenvolvimento do que hoje denominamos Psicologia da Educação e que será o tema desta Disciplina. Ao longo desta Unidade iremos, conhecer um pouco melhor o que é e como se construiu a Psicologia da Educação e quais são as contribuições mais recentes, fruto de anos de pesquisa científica, para as práticas de ensino. Conceituação da Psicologia da Educação Definir a Psicologia da Educação pode parecer uma tarefa simples num primeiro momento. Entretanto, ao realizar essa conceituação, logo fica evidente que se trata de algo complexo, polêmico e de difícil consenso. Como bem discute Coll (2004), não há dúvidas de que a Psicologia pode contribuir muito para a Educação, e essa é justamente a origem da Psicologia da Educação: a crença de que ao aplicar os princípios, explicações e achados da Psicologia Científica às teorias e às práticas educativas, isso pode beneficiar – e muito – a Educação. Contudo, isso também é motivo de grande desacordo entre muitos especialistas, que consideram que uma pura aplicação ou transposição seria equivalente a dizer que a Psicologia é superior à Educação ou que esta está subordinada àquela. Por essa razão, um termo pouco usado hoje em dia é Psicologia aplicada à Educação, no qual ficava patente a ideia de que se tratava de uma transposição direta dos conhecimentos da Psicologia para a Educação. 11 UNIDADE Introdução à Psicologia da Educação Essa visão da Psicologia da Educação como uma Engenharia psicológica aplicada à Educação foi preponderante durante a primeira metade do século XX, pelo menos até o final dos anos 1950, com base na crença inabalável de que a nova psicologia científica seria a disciplina ”mestra” ou a “rainha das Ciências da Educação”. Essa história começa a se modificar nos anos 1960, quando ocorrem mudanças significativas nesse protagonismo absoluto da Psicologia da Educação e começa um processo de reconhecimento da necessidade da multidisciplinaridade, do compartilhamento do espaço e do reconhecimento da importância de outras Ciências Sociais e da Educação para os fenômenos educacionais. Assim, a Psicologia da Educação passa por uma vasta revisão de seus pressupostos básicos, de suas teorias e de suas maneiras de abordar as questões e problemas educacionais, discutindo, também, o seu alcance e as suas limitações. Começam a surgir, assim, novas formas de entender a Psicologia da Educação. Entre essas alternativas que surgiram temos, por exemplo, a proposta do termo “Psicologia na Educação” (ver Davis & Oliveira, 1994), dando a ideia de que não se tratava de uma transposição direta, mas sim das contribuições da Psicologia Científica, que na Educação se modificavam para incorporar as necessidades e os conhecimentos próprios do campo educacional. Outra possibilidade mais consensual é o termo Psicologia Educacional, mais utilizado em inglês, e que equivale ao termo Psicologia da Educação, mais comum no Brasil. Outros teóricos, como aponta Coll (1996), discutem também que o termo Psicologia da Educação seria apenas uma espécie de etiqueta que serviria para designar o conjunto de explicações e princípios psicológicos que são pertinentes e relevantes para a Educação e para o ensino, não se configurando como uma área do conhecimento própria, mas sim como um conjunto selecionado de contribuições de outras áreas da Psicologia, como a Psicologia da Aprendizagem, a Psicologia do Ensino, a Psicologia do Desenvolvimento e a Psicologia da Motivação. Dessa forma, a Psicologia da Educação, por si só, não seria uma área do conhecimento ou uma Disciplina formal, mas tão somente o nome dado ao conjunto de teorias e evidências de áreas da Psicologia que são importantes para a Educação. No entanto, para Coll (1996; 2004), a Psicologia da Educação, atualmente, já reúne elementos suficientes para ser considerada Disciplina própria, área específica do conhecimento, pois não se limita a apenas transpor da Psicologia para a Educação, mas sim faz contribuições originais, considerando tanto os princípios psicológicos quanto as características dos processos educativos. Para Coll (2004) a Psicologia da Educação é uma Disciplina própria, pois possui: 1. Programa de pesquisas que objetiva estudar os processos psicológicos en- volvidos nos processos educativos; 12 132. Objetivos próprios que se configuram pela ideia de que os métodos e os procedimentos da Psicologia podem beneficiar os processos educativos; 3. Conteúdos próprios, ou seja, teorias, hipóteses, métodos e evidências oriundas de estudos conduzidos pela própria Psicologia da Educação. Nesta Disciplina, tomaremos a posição de Coll (2004), adotando uma perspectiva da Psicologia da Educação o mais integradora possível, respeitando a diversidade e a disparidade de opiniões, conceituações e proposições acerca da Psicologia da Educação, de seus objetivos e campo de atuação. Buscaremos demonstrar a sua especificidade como campo autônomo do conhecimento, com objeto e métodos de estudo próprios e como se relaciona com outras áreas do conhecimento psicológico e educativo. Dessa maneira, definiremos Psicologia da Educação, não como uma área da Psicologia, nem como uma disciplina da Educação, mas sim, como uma disciplina- ponte entre Psicologia e Educação. Isso significa que ela não se identifica exclusivamente nem com as Disciplinas psicológicas, nem com as educativas, mas sim como Disciplina intermediária, que participa ao mesmo tempo de ambas, tornando-se, assim, uma nova Disciplina, que também se comunica e contribui para ambas as áreas. Importante! A Psicologia da Educação é uma disciplina-ponte entre a Psicologia e a Educação, que objetiva estudar cientifi camente os processos de ensino e de aprendizagem em contextos educacionais, sejam eles formais (na Escola) ou informais (fora da Escola). Importante! Como Disciplina psicológica, a Psicologia da Educação se beneficia das preocu- pações, métodos e explicações que também são comuns a outras áreas da Psico- logia Científica. Como disciplina educativa, ela se junta à Didática e à Sociologia da Educação para formar o núcleo das Ciências, cuja finalidade é estudar os processos educativos. Nas palavras de Coll (1996), o objeto de estudos da Psicologia da Educação são “os processos de mudança comportamental provocados ou induzidos nas pessoas, como resultado de sua participação em atividades educativas” (p.18). Em outras palavras, podemos dizer que a Psicologia da Educação é o estudo científico dos componentes psicológicos da aprendizagem e do ensino. Considerando que a Educação é um fenômeno extraordinariamente complexo e que exige aproximação multidisciplinar, a contribuição da Psicologia da Educação consiste, principalmente, na análise dos processos de mudança que experimentam os participantes no ato educativo (sejam alunos ou professores), de sua natureza e características, dos fatores que facilitam ou dificultam a aprendizagem e o ensino. 13 UNIDADE Introdução à Psicologia da Educação Em síntese, a Psicologia da Educação se ocupa de dois grandes blocos de objeti- vos: a) os relativos ao processo de mudança comportamental dos aprendizes e b) os relativos aos fatores ou variáveis das situações educativas, direta ou indiretamente responsáveis pelos processos de mudança. Os primeiros incluem os processos de aprendizagem, desenvolvimento e socialização, e os segundos incluem fatores intrapessoais ou internos ao aluno ou fatores ambientais, interpessoais e próprios da situação educacional. Quando falamos em Educação, logo pensamos em Escolas e, por conseguinte, pensamos em crianças. Mas a Psicologia da Educação não se resume ao estudo da aprendizagem de crianças e muito menos de crianças em Escolas. A Psicologia da Educação abarca tanto a aprendizagem infantil quanto a de adolescentes e adultos. Além disso, também se ocupa dos estudos sobre a aprendizagem em ambientes formais e informais, como nas escolas, famílias, comunidades etc. Nós dissemos que a Psicologia da Educação é a Ciência que estuda a aprendizagem, certo? Essa é uma Disciplina de Graduação ministrada em ambientes virtuais. Portanto, nós estamos em outro contexto de Educação. Será que a Psicologia da Educação pode estudar isso? E de que forma seria? Como a Psicologia da Educação poderia colaborar com a Educação em Ambientes Virtuais? Pense sobre isso; se precisar pode pesquisar sobre Psicologia da Educação e aprendizagem em Ambientes Virtuais. Ex pl or Nós aprendemos o tempo todo, desde que nascemos até a hora de nossa morte. Não aprendemos apenas na Escola. Por essa razão, a Psicologia da Educação estuda a aprendizagem em quaisquer situações, seja na Escola com crianças ou adolescentes, em ONGs, abrigos, em casa e em outras situações menos estruturadas. Além disso, psicólogos educacionais estão envolvidos na preparação e na avaliação de materiais didáticos, programas educativos de TV e de jogos e brinquedos educativos. Eles também estão envolvidos em pesquisas educacionais e até mesmo em Políticas Públicas de Educação. Como já dissemos, existem muitas formas de entender a Psicologia da Educação, e podemos chamar essas diferentes formas de abordagens ou perspectivas. Ao longo da história, essas perspectivas foram se modificando, e como lembra Carrara (2004), em alguns momentos históricos, apenas uma ou outra abordagem dominou, seja pelo prestígio alcançado, seja por preferências, às vezes, incluindo até mesmo modismos. Nós acreditamos que é essencial que você conheça as diferentes possibilidades de se olhar para os processos psicológicos e fenômenos educacionais. Isso fortalecerá a sua formação e possibilitará a você desenvolver um olhar mais crítico e fundamentado para discutir os processos educacionais e melhorar as suas práticas profissionais. 14 15 Dessa forma, ao longo desta e das próximas Unidades, iremos discutir as dife- rentes formas de se entender os processos psicoeducacionais. Nesta Unidade, iremos seguir agora com um breve histórico de como a Psicologia da Educação se constituiu em paralelo ao avanço da Psicologia Científica, dando origem a algumas abordagens contemporâneas da Psicologia da Educação, que serão discutidas em profundidade também nas próximas Unidades. Bases Históricas e Epistemológicas da Psicologia da Educação Atualmente, pode nos parecer óbvio que para ensinar alguém é preciso, antes de tudo conhecer, ainda que minimamente, pelo menos algumas características de nosso aprendiz. É preciso saber a sua idade, seus conhecimentos prévios, suas principais habilidades e dificuldades. É preciso, também, planejar as atividades, a ordem e a forma de apresentação dessas atividades, com o objetivo de melhorar a aprendizagem. Entretanto, isso nem sempre foi assim. Podemos traçar as origens das ideias que viriam a fundamentar a Psicologia da Educação desde os antigos gregos, como Platão e Aristóteles que, embora não tivessem o intuito de criar uma Psicologia da Educação, refletiam sobre problemas como as diferenças individuais, as avaliações de aprendizagem, a resolução de pro- blemas, a transferência de aprendizagem e a natureza do que deveria ser ensinado. Todos esses são tópicos são cruciais e ainda atuais para a Educação e envolvem aspectos do psiquismo humano, portanto, da Psicologia. Aristóteles, por exemplo, discutiu os fenômenos de associação e estudou os processos de memorização e aprendizagem. Existe, atualmente, no Brasil grande crítica à memória e à memorização no campo da Educação, principalmente por críticas a métodos antigos de memorização, ditos mecanicistas. Todavia, não existe aprendizagem sem memorização; a memória é fundamental para qualquer processo de aprendizagem. https://youtu.be/aG3xBR2YFZ0 Ex pl or Diversos outros pensadores também pensaram e escreveram sobre a Educação nos séculos seguintes, com destaque para Johan Herbart (1776-1841), que é considerado por alguns como um dos pais da Psicologia Educacional. Para ele, a Filosofia Moral deveria indicar à Pedagogia os objetivos a serem alcançados na Educação, enquanto a Psicologia deveria procurar os meios apropriados para isso. 15UNIDADE Introdução à Psicologia da Educação Evidente que essa Psicologia à qual ele se referia ainda era a do campo da Filosofia, e não a Psicologia Científica, que só surgiria no final do século XIX. A Psicologia da Educação com base científica tal qual estamos estudando nesta Disciplina surge somente mais tarde. Podemos considerar como marco histórico da criação da Psicologia da Educação o ano de 1903, devido à publicação do primeiro livro intitulado Educational Psychology (Psicologia Educacional), de Edward L. Thorndike (1874-1949). Assim, como se pode perceber, o campo da Psicologia da Educação é relativamen- te recente, tem pouco mais de cem anos, e tem crescido com mais intensidade nos últimos 40 anos. Mas vale lembrar que a Psicologia também é uma Ciência recente. Figura 2 – E. L. Thorndike, Johan Herbat e W. Wundt Fonte: Wikimedia Commons A Psicologia ganhou o status de Ciência a partir dos estudos de Wilhem Wundt (1823-1926) quando ele criou, na Universidade de Leipzig, na Alemanha, o primeiro laboratório de Psicologia, para fazer experimentos na área da Psicofísica. Os primeiros trabalhos de Wundt e seus colaboradores avaliavam processos psicológicos básicos como as sensações, percepções, sentimentos e emoções e se davam por meio do método de “introspecção”. Esse método e termo foram criados por ele próprio. O método consistia em treinar os sujeitos para realizar a auto-observação de suas sensações e experiências pessoais e narrar ao pesquisador com a maior quantidade de detalhes possíveis. A partir de seus experimentos, Wundt construiu vasta produção teórica acerca da Psicologia e definiu a consciência como o objeto de estudo da Psicologia, afastando a ideia de Psicologia como estudo da alma e aproximando a possibilidade de entendermos a Psicologia como Ciência. A influência de Wundt marcou a constituição da Psicologia como Ciência, fazendo com que ele fosse considerado pai da Psicologia Moderna ou Científica. 16 17 A Psicologia Científica teve e tem diferentes abordagens desde Wundt, o que também se denomina escolas psicológicas. Ele influenciou mais diretamente as três primeiras escolas, que são: o Estruturalismo, o Funcionalismo e o Associacionismo. A Psicologia já foi entendida como o estudo da alma, devido à origem etimológica do termo, em que Psico = psyché equivale à alma, mente, espírito em grego e logos é estudo. A Psicologia que nasce como o estudo da alma, a partir dos estudos de grandes fi lósofos, passa a ser uma Ciência “sem alma” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2009, p.43), no sentido de que os psicólogos, como cientistas, rejeitam a ideia de alma e passam a investigar os fenômenos mentais em laboratórios, por meio de experimentos de observação e medição. O Estruturalismo, cujo principal expoente foi seu criador, Edward Titchener (1867-1927), buscava, nos EUA, determinar o que era a consciência, ou seja, quais as estruturas componentes da consciência. Essa Escola sofria forte oposição da outra escola, também americana, denominada Funcionalismo, cujos líderes eram William James (1842-1910) e John Dewey (1859-1952). Os funcionalistas estavam interessados na função da consciência, e não em sua estrutura. Eles queriam investigar para que servia a consciência e seus pro- cessos básicos. Essas duas escolas não sobreviveram a seus criadores, embora tenham sido importantes no desenvolvimento da Psicologia nos EUA. William James é conside- rado o pai da Psicologia nos EUA e fez muitas contribuições pioneiras para a Edu- cação, como uma série de palestras sobre Psicologia para professores, que foram posteriormente reunidas em um livro influente, no começo do século XX. John Dewey também deu significativas contribuições para a Educação. Ele de- fendia uma educação mais progressista e acreditava que as Escolas deveriam focar mais nos alunos do que nos assuntos e nas Disciplinas, defendia uma aprendiza- gem ativa e acreditava que os alunos deveriam “colocar a mão na massa”, isso é, ele acreditava que experienciar as coisas era uma importante parte dos processos de aprendizagem. No Brasil, as ideias de Dewey influenciaram muito o movimento Escola Novista. O pedagogo brasileiro Lourenço Filho, por exemplo, era adepto das ideias de Dewey e foi precursor da Psicologia no Brasil, participando da criação de muitos laboratórios de Psicologia nas Escolas de Magistério e criando o famoso Teste ABC para avaliar a prontidão para Leitura. Para saber mais sobre a história da Psicologia da Educação no Brasil leia: ANTUNES, M. A. M. Psicologia Escolar e Educacional: história, compromissos e perspectivas. Psicol. Esc. Educ. (Impr.), Campinas, v.12, n.2, p.469-475, dez. 2008. https://goo.gl/tDa5xl Ex pl or 17 UNIDADE Introdução à Psicologia da Educação De fato, quando a Psicologia Científica começou a dar seus primeiros passos, as expectativas de que o desenvolvimento dessa nova e promissora Ciência proporcionariam à Teoria da Educação deram impulso definitivo para que os psicólogos abordassem problemas educacionais. Como lembra Coll (1996), Edward L. Thorndike (1874-1949) foi um dos primei- ros psicólogos a propor as bases da relação entre a Psicologia e a Educação e, como já mencionamos, é dele o primeiro livro intitulado Psicologia Educacional, de 1903. Thorndike insistia na necessidade de fundamentar as propostas educativas com base nos resultados da pesquisa psicológica de natureza experimental e aconselhava a desconfiar sistematicamente das opiniões pedagógicas que não tivessem essa base. Ele formulou uma teoria psicológica voltada para a aprendizagem denominada Associacionismo, que é considerada a terceira Escola de Psicologia. Os associacionistas partem do princípio de que a aprendizagem se estabelece a partir da associação de ideias. Aprendemos do simples para o complexo, ou seja, aprendemos as ideias mais complexas quando elas estão associadas a ideias mais simples. Thorndike formulou a primeira sistematização sobre a aprendizagem, unindo definitivamente estas duas áreas do conhecimento: a Psicologia e a Educação: Thorndike formulou a Lei do Efeito, que seria de grande utilidade para a Psicologia Comportamentalista. De acordo com essa lei, todo o comportamento de um organismo vivo (um homem, um pombo, um rato etc.) tende a se repetir se nós o recompensamos (efeito), assim que ele o emitir. Por outro lado, o comportamento tenderá a não acontecer, se o organismo for castigado (efeito) após sua ocorrência. E pela lei do Efeito, o organismo irá associar essas situações com outras semelhantes (BOCK; FURTADO & TEIXEIRA, 2009, p.35). No mesmo período, na Suíça, também temos a contribuição de Edouard Claparède (1873-1940), que é um dos maiores nomes em Educação e Psicologia do Desenvolvimento, e acreditava que a Psicologia deveria desempenhar um papel de primeira ordem na elaboração de uma Pedagogia Científica. Claparède conduziu seminários de Psicologia Pedagógica para instruir professores sobre os métodos da Psicologia Experimental e da Psicologia da Criança. Além disso, criou, em 1912, o Instituto de Pesquisa Psicológica e Educativa Jean-Jacques Rousseau que, mais tarde, seria presidido pelo famoso biólogo e epistemólogo suíço Jean Piaget (1896-1980). No mesmo período, Alfred Binet (1857-1911), um psicólogo francês, construía o primeiro teste de inteligência, o famoso teste de Q.I. (Quociente de Inteligência), que era uma forma de usar testes psicológicos para selecionar alunos para as poucas vagas nas escolas francesas. Os testes serviam para ajudar o governo francês a 18 19 identificar as crianças que tinham atrasos no desenvolvimento e criar programas especiais de Educação e, sem dúvida, impulsionaram muito o campo da avaliação psicológica e da Psicologia da Educação. A Psicologia da Educação do começo do século XX se baseava,essencialmente, em três áreas que vinham se desenvolvendo muito rapidamente: a Psicologia da Criança, a Psicologia da Aprendizagem e a Psicologia das Diferenças Individuais. A Convicção da época é que a Psicologia da Educação permitiria fazer com que a Pedagogia alcançasse definitivamente o estatuto de cientificidade. Até a década de 1950, a definição de Psicologia da Educação não era muito clara e precisa, embora a área já tivesse grande reconhecimento e prestígio. Durante os anos 1950, segundo Coll (2004), começam as discussões mais importantes sobre as contradições e as dificuldades em abarcar e integrar os conhecimentos produzidos pelas diferentes escolas da Psicologia Científica, o que gerava dúvidas sobre a sua aplicabilidade no campo da Educação. Além disso, outras Ciências da Educação, principalmente a Sociologia da Educação, a Economia da Educação, a Educação Comparada e o Planejamento Educativo, começaram a surgir nesse período e colocar em destaque a insuficiência e a limitação da Psicologia da Educação para uma compreensão global dos fenômenos educativos. Somadas a isso, as mudanças políticas e econômicas e as disputas tecnológicas com a Guerra Fria também impulsionaram os investimentos em Ciências da Educação e a Psicologia da Educação também passou a receber mais investimentos devido à sua posição privilegiada historicamente, fazendo com que novas teorias e formas de entender essa área fossem surgindo. Um desses novos teóricos que contribuiu muito para a Educação foi B. F. Skinner (1904-1990), que ampliou os pressupostos do Associacionismo de Thorndike sobre a Lei do Efeito, e a escola psicológica denominada Behaviorismo Metodológico, de John B. Watson (1878-1958), criando uma nova escola denominada Behaviorismo Radical, Análise do Comportamento Aplicada ou Psicologia Comportamental. A proposta dos behavioristas é centrar a atenção nas interações entre organismos e ambientes, sem a necessidade do uso de termos mentais. Os behavioristas analisam as relações funcionais entre estímulos, respostas (comportamentos) e consequências, que guiam todos os comportamentos. O foco dos behavioristas, portanto, é a aprendizagem e os métodos de ensino. Skinner formula em sua teoria o conceito de Condicionamento Operante, que pressupõe a possibilidade de manipular comportamentos humanos, na busca de um comportamento esperado, a partir do controle das contingências. A Psicologia de Skinner influenciou fortemente a Educação a partir da segunda metade do século XX, e será discutida mais aprofundadamente posteriormente. Outra importante Escola de Psicologia que contribuiu com a Educação do ponto de vista dos processos de aprendizagem é a Psicologia da Gestalt, ou Gestaltismo. 19 UNIDADE Introdução à Psicologia da Educação Essa Escola teve como um de seus fundadores o psicólogo Max Wertheimer (1880-1943). Diferente do Behaviorismo, essa concepção psicológica compreende que nossa percepção sobre as coisas depende das condições ambientais em que acontecem e, principalmente, como interpretamos o conteúdo percebido. Para Gestalt (que quer dizer Forma, em alemão), a aprendizagem é gerada a partir de como configuramos os estímulos: importa o como percebemos e como estruturamos nosso campo perceptivo. Assim, a Gestalt foca seu olhar no ser que aprende, o aluno, e não mais nos métodos de ensino, como preconizava o Behaviorismo. A Psicologia da Educação, a partir dos anos 1960, passa a aceitar a necessidade de mudar sua proposta de análise dos fenômenos educacionais e de adotar uma perspectiva multidisciplinar, incluindo e reconhecendo a importância de outras Ciências da Educação. Muitas mudanças graduais e significativas ocorrem nesse período e áreas temáticas clássicas como aprendizagem como um conceito geral, medidas das diferenças individuais, crescimento e desenvolvimento humano perdem espaço para o estudo da aprendizagem das matérias escolares específicas e dos fatores que incidem sobre ele. As grandes teorias gerais começam a ceder espaço às teorias menores, que explicam fenômenos específicos. Além disso, surge uma nova abordagem da Psicologia Científica, que ganha força a partir dos anos 1950, a chamada Psicologia Cognitiva, que não pode ser considerada propriamente uma Escola, já que seus fundadores a definiram como uma revolução, que objetivava superar os limites do Behaviorismo, que era a escola dominante da época. Os Psicólogos Cognitivos enfatizavam a necessidade do retorno ao estudo dos processos mentais na explicação do comportamento humano. Para isso, eles combinavam os estudos de neuropsicologia, da Psicologia da Gestalt, de inteligência artificial, dos estudos de Piaget e dos inovadores modelos computacionais, com o rigor dos estudos e métodos behavioristas. Dessa forma, a Psicologia Cognitiva ganhou rapidamente adeptos e cresceu com contribuições que mudaram a forma de entender a aprendizagem e o ensino, resgatando o estudo da mente e dos processos mentais como pensamento, linguagem, memória e atenção. Com isso, a Psicologia da Educação passa a cada vez mais à analise de tarefas e situações que fazem parte do currículo escolar, na medida em que foi adotando uma perspectiva cognitiva nos estudo dos processos de aprendizagem escolar. Encontramos, ainda, como importante concepção da Psicologia sobre a Educa- ção, a abordagem humanista e não diretiva da Psicologia em relação à Educação. Preconizada por Carl Rogers (1902-1987), essa abordagem percebe a Educação como um fenômeno complexo. Rogers desenvolve uma teoria da aprendizagem na qual a Educação seja centrada na pessoa; essa exigência requer mudanças estruturais na instituição escolar, em que a figura do professor é central. 20 21 A Educação e a Escola devem criar condições para facilitar a aprendizagem do aluno, impulsionando-o para a autoaprendizagem e para a autonomia. Nessa concepção, portanto, o foco está sempre no aluno e o professor é apenas um facilitador da aprendizagem. Desde os anos 1970, muitas abordagens e teorias foram criadas na Psicologia, com reflexos na Psicologia da Educação que, por sua vez, também criou suas próprias teorias e abordagens. Contudo, grandes Escolas de Psicologia, como o Behaviorismo e o Cognitivismo, permanecem sendo as duas maiores e mais fortes influências na Psicologia da Educação contemporânea. Abordagens Contemporâneas da Psicologia da Educação Atualmente, pode-se dizer que a Psicologia da Educação é composta por seis diferentes abordagens ou perspectivas que reúnem as principais contribuições teóricas já mencionadas, como apresentamos a seguir: Abordagem Desenvolvimental A Abordagem Desenvolvimental parte da ideia de que ao entender como as crianças pensam em diferentes estágios de desenvolvimento, pode-se entender o que as crianças são capazes de fazer e aprender em cada ponto de seu desenvolvimento. Isso pode ajudar a criar métodos de ensino e materiais mais apropriados para determinadas faixas etárias. Como representantes dessa abordagem, podemos considerar Jean Piaget e os seus famosos estágios do desenvolvimento cognitivo. Abordagem Comportamental A Abordagem Comportamental foca em como as pessoas aprendem e como se pode melhorar o ensino. Não por acaso, essa abordagem ganhou muita notoriedade na segunda metade do século XX, e é amplamente utilizada ainda hoje. Seu maior expoente é B. F. Skinner, com seus trabalhos sobre o Condicionamento Operante, a Tecnologia de Ensino e o papel de reforçamentos na Educação. Abordagem Cognitiva A Abordagem Cognitiva centra-se na compreensão de como as pessoas pensam, aprendem, lembram e processam informações; por isso, também é chamada de abordagem do processamento de informações. Embora Piaget e Vygotsky trabalhem com a ideia de desenvolvimento cognitivo, eles não devem ser classificados nessa Abordagem,que é mais recente e parte das ideias da Psicologia Cognitiva, surgida no final dos anos 1950. David Ausubel é um dos representantes dessa Abordagem com a Teoria da Aprendizagem Significativa. 21 UNIDADE Introdução à Psicologia da Educação Abordagem Construtivista A Abordagem Construtivista é uma das mais recentes teorias de aprendizagem, que enfoca como as crianças constroem ativamente seu conhecimento do mundo. Essa perspectiva é fortemente influenciada pelo trabalho do psicólogo russo Lev Vygotsky, que propôs ideias como a zona de desenvolvimento proximal. Piaget também é frequentemente classificado como um construtivista e inclusive foi um pioneiro em dizer que as crianças constroem o conhecimento de forma particular. Veja que classificar um autor em uma ou outra Abordagem é uma tarefa difícil e nem sempre precisa, já que os autores podem ser classificados em mais de uma Abordagem, de acordo com os critérios utilizados. Abordagem Humanista A Abordagem Humanista têm menor expressão entre todas as demais abor- dagens, atualmente, pois, hoje em dia, a maioria de suas ideias estão diluídas nas outras abordagens. A característica essencial dessa Abordagem é o foco no aluno, na motivação para aprender e no respeito à individualidade, características que podem ser identificadas, por exemplo, nas abordagens construtivistas, cognitivistas e comportamentais também. Destaca-se a Teoria de Ensino, de Carl Rogers, e a Teoria da Motivação, de Abraham Maslow. Abordagem Psicodinâmica Denominamos Abordagem Psicodinâmica as teorias baseadas no método psica- nalítico, como, por exemplo, Sigmund Freud, Jacques Lacan e Erik Erikson. Essas te- orias, em geral, são mais relacionadas ao desenvolvimento humano do que propria- mente à Educação; entretanto, também são estudadas por psicólogos da Educação. Psicologia, Neurociências e Educação no Século XXI No século XXI, não há duvidas de que a Educação é uma prioridade para o pleno desenvolvimento de sociedades democráticas mais igualitárias. É por meio da Educação que somos capazes de possibilitar profundas transformações sociais, ou seja, melhorar as condições de vida das pessoas, o que inclui o acesso igualitário às Tecnologias desenvolvidas ao longo da História da Humanidade. O ganhador do prêmio Nobel da Paz, Nelson Mandela (2003), resumiu bem essa ideia da importância da Educação em uma conferência em que disse que: “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.” De fato, se você parar para pensar, a Educação é o modo mais concreto de possibilidade de transformação social. Não por acaso, na História da Humanidade, foram desenvolvidos diferentes modos de educar as pessoas, de transmitir os conhecimentos historicamente produzidos pela Humanidade. 22 23 Assim, atualmente, podemos dizer que é um período excitante para estar envolvido com a Educação, o desenvolvimento de alunos e a formação de professores. Bons professores são necessários em todas as salas de aula e melhorar a qualidade da Educação para populações diversas de alunos em nossas escolas é uma necessidade constante. Por essa razão, cada vez mais se faz necessário incluir a Disciplina de Psicologia da Educação na formação de profissionais que irão trabalhar com Educação. Além disso, os avanços das Tecnologias e das Neurociências também têm contribuído para mudanças profundas nas teorias e proposições da Psicologia da Educação. As Tecnologias Digitais, os avanços da Informática e da interconectividade promovida pela Internet têm demandado dos professores mudanças profundas nos métodos de ensino e nos conteúdos a serem ensinados. As Neurociências, mais especificamente a Neurociência Cognitiva, que se ocupa dos estudos dos mecanismos cerebrais envolvidos na aprendizagem, tem promo- vido novas compreensões sobre como as pessoas aprendem e como podemos melhorar a aprendizagem. Não por acaso, os professores recebem constantemente propostas de cursos de Neurociências, Neuroeducação, Neuropsicopedagogia e tantos outros “neuros-alguma coisa”, e precisam ficar atentos para a real contribui- ção desses Cursos. Muitos especialistas têm alertado para essa proliferação do uso do termo “neuro” relacionado à Educação, pois, muitas vezes, pessoas com formação inapropriada ou insuficiente acabam divulgando informações erradas ou equivocadas como se fossem verdadeiras, gerando uma onda de “neuromitos” que as pessoas acreditam serem verdadeiros. Exemplos de neuromitos em Educação que as pessoas acreditam são os estilos de aprendizagem. Saiba mais sobre isso lendo o artigo da Revista Nova Escola. https://goo.gl/MouLXG Ex pl or Isso posto, fica claro que vivemos em um contexto em que a Educação é ao mesmo tempo uma solução e um problema. Uma solução, como já falamos, por todo o seu potencial de transformação social. Um problema, pela necessidade constante de que pensemos cada vez mais em uma Educação baseada em evidências científicas, que considere não só as necessidades contextuais, mas também as transformações sociais que já ocorreram, que considere o estudo de práticas de ensino mais eficientes e que seja balizada não por questões do senso comum, políticas, ideológicas e partidárias, mas sim pelo crivo imparcial das evidências científicas. 23 UNIDADE Introdução à Psicologia da Educação Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Portal Psicologia Explica que existem vários textos sobre Psicologia da Educação. www.psicologiaexplica.com.br Caçadores de Mitos No site Caçadores de Mitos você encontrará vários neuromitos que são comuns na educação, é bom para se manter atualizado http://www.cacadoresdeneuromitos.com Livros Desenvolvimento Psicológico e Educação: Psicologia da Educação Escolar Capítulo: COLL, C. Concepções e tendências atuais em psicologia da educação. In: COLL, C.; PALACIOS, J.; MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educa- ção: psicologia da educação escolar. 2.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2004; Leitura Psicologia Escolar e Educacional: História, Compromissos e Perspectivas Artigo: ANTUNES, M. A. M. Psicologia Escolar e Educacional: história, compromissos e perspectivas. Psicol. Esc. Educ. (Impr.), Campinas, v.12, n.2, p.469-475, dez. 2008. https://goo.gl/jHUr3X 24 25 Referências BOCK, A. M. B. B., FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introduç ã o ao estudo de psicologia. 14.ed. Sã o Paulo: Saraiva, 2009. CARRARA, Kester. Introduç ã o à psicologia da educaç ã o: seis abordagens. Sã o Paulo: Avercamp, 2004. COLL, C. Concepções e tendências atuais em psicologia da educação. In: COLL, C.; PALACIOS, J.; MARCHESI, A. Desenvolvimento psicoló gico e educaç ã o: psicologia da educaç ã o escolar. 2.ed. Porto Alegre: Artes Mé dicas, 2004. COLL, C. Psicologia e Educação: Aproximação aos Objetivos e Conteúdos da Psicologia da Educação. In: COLL, C.; PALACIOS, J.; MARCHESI, A. (org.) Desenvolvimento Psicológico e Educação – Psicologia da Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. v.2. DAVIS, C.; OLIVEIRA, Z. Psicologia na educação. 2a ed. Sã o Paulo: Cortez, 1994. MANDELA, N. Lighting your way to a better future. Planetarium. Johannesburg: University of the Witwatersrand, 16th July, 2003. 25
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