Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
� G46��G46����� ��� ����� � �� � ��� ������������ ���� �������� G46�������� ��� ����� Professor do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa ��������� �! Professor do Departamento de Solos da North Carolina State University �� �������� INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1 �������� � FORMAS DE FÓSFORO NO SISTEMA SOLO-PLANTA .......................................... 7 �������� � FATORES INTENSIDADE, QUANTIDADE E CAPACIDADE .................................... 15 �������� ADSORÇÃO DE FÓSFORO NO SOLO ................................................................... 21 �������� � TRANSFORMAÇÃO DE FÓSFORO LÁBIL EM NÃO-LÁBIL ................................... 33 �������� � FONTES MINERAIS DE FÓSFORO ........................................................................ 47 �������� � FÓSFORO ORGÂNICO NO SOLO .......................................................................... 83 �������� � EXTRATORES ......................................................................................................... 91 �������� � APLICAÇÃO LOCALIZADA ................................................................................... 105 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 123 �������� ���"�# ��$ ��� �� ��� % R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS ������� G46���������� �� G46��G46��� �� ���� O conceito de relação fonte-dreno, largamente utilizado em Fisiologia Vegetal (Salisbury & Ross, 1969), trouxe, particularmente para os iniciantes no estudo desta disciplina, a compreensão da existência de compartimentos que atuam como fonte de carboidrato (as folhas por exemplo) para outros compartimentos que preferencialmente o acumulam (raízes, frutos em crescimento, etc.). Assim como em um equilíbrio químico, estabelece-se a interdependência entre componentes de uma entidade ou, em uma linguagem mais simples, entre o fazer e o como fazer. Para uma planta, grande dreno (ou grande consumidor) de CO2, há necessidade de atmosfera como fonte de carbono. A planta, como dreno, tem o solo como sua fonte principal de nutrientes minerais. Enquanto a concentração de CO2 atmosférico se mantém razoavelmente constante, a concentração de nutrientes no solo pode ser extremamente variável, em amplitude que vai desde valores que impedem o crescimento de uma planta pela falta até valores que o podem impedir pelo excesso. No caso mais freqüente da deficiência de nutrientes, a produtividade de uma planta é viabilizada pela fertilização do solo, isto é, aumento da fonte de nutrientes para satisfazer o dreno-planta, para dada produtividade. Há, portanto, na manutenção da produtividade de uma cultura (de seu dreno), necessidade de manutenção do suprimento (de sua fonte) de nutrientes em níveis adequados para a planta. Assim, pode-se utilizar, também em Fertilidade do Solo, a relação fonte-dreno entre os compartimentos solo e planta. O solo poderá ser naturalmente fonte de nutrientes, fértil, ou tornar-se fonte, com maior ou menor restrição (tamponamento) a essa mudança, por meio da adição de fertilizantes. Bem, chegamos ao ponto de embasamento de boa parte do nosso trabalho, sobre o qual nossos argumentos serão desenvolvidos: o solo poderá ser fonte ou dreno ou, até mesmo, nem uma coisa nem outra. O solo poderá ser fonte de P quando ainda apresentar características nutricionais (reservas) favoráveis à planta, mesmo que insatisfatórias. O que se adiciona como fertilizantes irá somar-se, sem maiores restrições, às reservas já existentes no solo. No caso do solo-dreno, haverá competição entre a planta (dreno) e o solo pelo P adicionado como fertilizante. Portanto, o solo agirá, também, como dreno. Para transformá-lo em fonte, grande parte do fertilizante fosfatado aplicado será utilizada para atender sua demanda de dreno, bem maior que a necessária ao solo-fonte (ou planta-dreno). Capítulo 1 - INTRODUÇÃO �& FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS Solo e planta, como drenos, estarão competindo entre si pelo fertilizante aplicado, e em muitos dos casos o dreno-solo é maior que o dreno-planta. Com o aumento do grau de intemperismo, há uma mudança gradual de características de um solo, basicamente no sentido de torná-lo menos eletronegativo e, como conseqüência, mais eletropositivo (Quadro 1), com mudanças direta ou indiretamente ligadas a esse perfil de carga. Sua capacidade de troca catiônica (CTCefetiva) cai, a adsorção aniônica aumenta, diminui a saturação por bases, enquanto aumenta gradualmente a retenção de ânions, como o fosfato, o sulfato, o molibdato, etc. Como conseqüência, diz-se que Latossolos são ácidos, lixiviados, muito pobres em P-disponível. Numa comparação, o quadro 1 mostra, claramente, os contrastes entre um solo muito intemperizado (Latossolo) e outro pouco intemperizado (Entisol). Com o intemperismo, os solos passam gradualmente de fonte para dreno de P (Figura 1). Em condições extremas de intemperismo, como acontece em alguns Latossolos de cerrado, o solo é um forte dreno de P. Para torná-lo fonte, são necessárias grandes quantidades de fertilizante fosfatado. Solos como esses podem adsorver mais de 2 mg cm-3 de P (Fernández R., 1995; Ker, 1995), valor que equivale a 4.000 kg ha-1 de P (9.200 kg ha-1 de P2O5), incorporado de 0-20 cm de profundidade. Como será visto mais adiante, a metade desse valor poderá ser fixada em até um mês de contato com o solo (desenvolvimento de formas “não-trocáveis”, ou o que se denomina formas não-lábeis), com reversibilidade (dessorção) pequena ou nula, em termos práticos (Campello et al., 1994). Enquanto plantas de cultivo anual, como a soja, imobilizam em toda a sua biomassa Fonte: Melgar et al. (1992). Quadro 1. Características químicas e físicas de um Latossolo muito intemperizado e um Entisol pouco intemperizado, da região amazônica Carga Profundidade Arg ila S ilte pH (H 2O) Ca 2+ CTC efetiv a Negat iva Positiva cm ___________ % ___________ _______________________________ cm ol c kg -1 _______________________________ Latossolo 15-30 82 9 4,5 0 ,60 2 ,24 0 ,77 1 ,55 30-45 84 8 4,5 0 ,38 1 ,65 0 ,82 1 ,82 45-60 92 1 4,4 0 ,34 1 ,56 0 ,43 2 ,12 Entisol 15-30 18 60 6,1 7 ,56 9 ,36 11,24 0 ,25 30-45 16 56 6,0 7 ,74 9 ,81 12,59 0 ,24 45-60 13 53 5,8 7 ,36 9 ,35 11,54 0 ,28 ' R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS aproximadamente 20 kg ha-1 de P, o solo pode imobilizar cem vezes mais em formas não-lábeis, pelo menos com os procedimentos usuais de manejo de solo. Como, em muitos de nossos solos, o já elevado intemperismo continua, o caráter-dreno-P deverá também continuar aumentando, com o tempo. Se pensarmos numa floresta tropical, com 54,5 kg ha-1 de P imobilizados em sua biomassa, com valores de ciclagem da ordem de 17 kg ha-1 ano-1, via serapilheira e transprecipitação (Clevelario Jr., 1996), sobre um solo com poder de fixar 4.000 kg ha-1 de P, torna-se difícil explicar como esse equilíbrio se mantém. A floresta, dreno pequeno, com lenta aquisição de P (anos) para sua formação, contrasta com o solo, dreno muito grande (73,4 vezes maior que o primeiro) e com poder de adsorção extremamente rápido (alguns dias para efetivar essa tarefa). O que se espera é uma perda gradual de P da biomassa para o solo. Não deve haver, na verdade, equilíbrio entre planta, ou entre o P ciclado, e componentes minerais do solo. Se esse equilíbrio ocorresse de fato, de maneira plena, o solo não permitiria a manutenção do P na biomassa, em quantidades necessárias à floresta, na grandeza atual. Assim, esse solo não é apenas um meio físico de sustentação da floresta, mas também um “buraco-negro” para o P que entrar em contatocom sua fase mineral. O que se pode conjecturar é que praticamente não deve haver contato do P ciclado com a fase mineral desses solos. A planta absorveria diretamente do que mineralizasse do substrato orgânico (“litter”) ou da fase orgânica (Cap. 7 - Fósforo Orgânico no Solo) sem dar chances ao substrato mineral do solo de se envolver no equilíbrio existente. Tudo isto leva a forte argumentação contra a queima Figura 1. Relação fonte-dreno de fósforo em solos em diferentes estádios de intemperismo. Intemperismo Fonte Dreno G ra n de za Capítulo 1 - INTRODUÇÃO �( FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS de resíduos da exploração florestal, ignorados aspectos sócio-econômicos. Praticar a queima ou o manejo intensivo do solo, acelerando a mineralização da manta orgânica (uma fonte de P de liberação lenta) em solos mais intemperizados e, particularmente nos mais argilosos (Figura 2), seria favorecer o grande dreno-P do solo. Portanto, quando o solo ainda é fonte, o que ocorre em condições de menor intemperismo, a queima será menos danosa. Nesse caso, o P liberado pela cinza será preferencialmente “consumido” pelo dreno-planta, dada sua supremacia sobre o dreno-solo. Com o aumento do intemperismo dos solos das atuais florestas naturais, o conseqüente aumento do desequilíbrio entre os drenos solo e planta deverá fazer com que a planta não mais sustente a disputa com o solo. O que viria depois dessas florestas com sua exclusão do sistema? O clima mudaria, alterando a intensida de do intemperismo e restringindo o aumento do dreno-solo? Poderia haver síntese de novo de minerais em condições então semi-áridas (“semidesérticas”), “rejuvenescendo” o solo para o reinício, mais tarde, de um novo ciclo? Estaria a Natureza fazendo um “cultivo itinerante”, de muito longo prazo, como faz o Homem no curto prazo? Regiões atuais, que já foram grandes florestas naturais e foram substituídas por grandes áreas desérticas, não seriam componentes desse mega-cultivo itinerante? A fração argila, sua qualidade em particular, é a principal característica que define o solo como fonte ou como dreno (Figura 2). Num solo muito intemperizado, dada sua mineralogia, o aumento de seu teor de argila fará com que haja aumento preferencial de seu caráter-dreno, enquanto num pouco intemperizado haverá, como conseqüência, aumento preferencial Figura 2. Relação fonte-dreno de fósforo em solos com diferentes teores de argila e em diferentes estádios de intemperismo. Dreno Dreno Fonte Fonte Argiloso ArenosoArenoso Solo muito Intemperizado Solo pouco Intemperizado G ra n de za ) R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS de seu caráter fonte. Há, também no solo menos intemperizado, aumento do caráter-dreno (adsorção do P) com o aumento do teor de argila, embora de maneira muito menos expressiva que do caráter fonte. Com o aumento do teor de argila dos solos mais intemperizados, pouco se ganha como fonte e perde-se muito como dreno. Isso justifica, como será visto mais tarde, por que nossos solos de cerrado, pobres em P e de texturas médias (de 15 a 35% de argila) ou mesmo os mais arenosos (< 15% de argila), têm-se mostrado mais produtivos com culturas anuais do que os argilosos. Dá-se o contrário com os solos menos intemperizados de regiões temperadas, como os de Iowa, nos EUA, onde as maiores produtividades são conseguidas nos solos mais argilosos. Portanto, com o aumento do teor de argila do solo, nas condições de Iowa, ganha-se mais (aumento da fonte) do que se perde (aumento do dreno). Como se observou, o aumento de cargas positivas nos solos mais intemperizados e argilosos é a causa básica do caráter-dreno-P do solo. A situação oposta, ou seja, aumento de cargas negativas em solos menos intemperizados e argilosos, com o conseqüente aumento da adsorção de cátions (> CTCefetiva), como K+, Ca2+ e Mg2+, deveria fazer com que esses solos se comportassem como dreno, com relação a esses nutrientes. Todavia, isso não acontece, dada a manutenção do caráter trocável quando esses cátions são adsorvidos pelo solo, por causa da atração eletrostática envolvida. A ligação covalente (troca de ligantes) do P com o solo (Parfitt, 1978), dada sua grande estabilidade, faz com que não haja analogia entre P e K nas duas situações de intemperismo, maior ou menor. Portanto, quando se diz que a grandeza do dreno para K, por exemplo, aumenta com o intemperismo (Figura 1), isso significa que haverá maiores perdas de K por lixiviação com o decréscimo da CTCefetiva do solo. Tanto para o P como para o K há perdas (o sistema aumenta seu caráter-dreno) com o intemperismo do solo: para o P, pela adsorção com limitada reversibilidade, e, para o K, pela lixiviação, facilitada por sua baixa energia de adsorção. A adsorção de K pelo complexo de troca de um solo, em qualquer condição de intemperismo, significa reserva ou fonte imediatamente disponível, o que, para o P, não é verdade, refletindo a magnitude dessa adsorção a magnitude do dreno-P. O nosso maior objetivo, com este trabalho, foi sumariar as informações disponíveis sobre fósforo na relação solo-planta, com ênfase nas condições tropicais, procurando, sempre que possível, compará-las com as disponíveis para as condições temperadas. Não foi nosso propósito fazer uma revisão exaustiva do assunto, de difícil leitura, freqüentemente dispersa ou inconsistente quanto a resultados e conclusões. Vamos apresentar um modelo, apesar de todos os riscos e “bias” que poderão estar envolvidos nesse procedimento. ���"�# ��% G46� �������G46��G46� ������������������������ * R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS ����������������� � ������ ���� O primeiro choque do estudante ante grandes esquemas, com setas interligando diferentes compartimentos, para mostrar a interdependência entre eles, pode ser traumático ou desestimulante. O ciclo do nitrogênio no sistema solo-planta constitui, para os recém-chegados à Fertilidade do Solo, exemplo típico dessa dificuldade. A maior resistência do estudante parece advir mais do desconhecimento do conteúdo dos compartimentos antes de se falar do equilíbrio entre eles. Querer compreender o todo, quando ainda não se conhece a unidade, é muito difícil. Todavia, alguns pesquisadores argumentam que, se os fenômenos da natureza fossem analisados no seu todo (visão holística), o retorno científico já obtido teria sido bem maior que o obtido por meio do estudo de componentes do fenômeno (visão reducionista), integrando-os no todo à medida que cada unidade fosse compreendida. Segundo Capra (1986), compreender o comportamento de uma enzima numa planta, sem compreender satisfator iamente o comportamento dessa planta no ambiente onde se encontra, é procedimento com alta inércia ou com forte restrição à rápida evolução da ciência. Bem, vamos iniciar este capítulo por um esquema geral (Figura 1), com o intuito maior de estabelecer um índice ou conteúdo do trabalho. Esses compartimentos serão abertos, um a um, em capítulos distribuídos ao longo do texto, mostrando seu conteúdo (conceitos, resultados de pesquisa, etc.) e sua interdependência com outros compartimentos, vizinhos ou não. Assim, os títulos dos capítulos serão, basicamente, os compar timentos apresentados no esquema, com subdivisões necessárias à compreensão de cada capítulo. Para tentar evitar o choque ou desinteresse inicial dos recém- apresentados ao esquema, vamos sumariar neste capítulo as principais características de seus componentes e de suas interdependências, para dar uma visão geral do comportamento do P na relação solo-planta, ou seja, o comportamento do P na planta e na sua interdependência (relação) com o solo. Outra maneira de avaliar essa relação é dizer que a planta depende do solo que lhe cede o P: em alguns casos, a planta “toma” o P dosolo ou “impõe” ao solo sua liberação. Vamos, então, iniciar nossa caminhada pelo esquema, apresentando-o a partir de Fonte Mineral, provavelmente o compartimento com mais significado prático, ou seja, o repositório de fertilizantes aplicados no solo, de modo particular para a maioria dos solos tropicais, naturalmente pobres em P-disponível. Podem ser utilizadas diferentes fontes minerais de P, em Capítulo 2 - FORMAS DE FÓSFORO NO SISTEMA SOLO-PLANTA �+ FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS diferentes condições, as quais se caracterizam por apresentar maior ou menor reatividade (Solubilização). Alguns fosfatos naturais, como as apatitas brasileiras, podem apresentar reatividade muito pequena, em muitos casos insuficiente para manter uma concentração de P, na solução do solo (P-Solução) e junto à raiz, satisfatória para a necessidade da planta (Influxo). Em outros casos, a solubilidade é tão alta que a concentração de P em solução (P-Solução) atinge valores indesejavelmente elevados, mesmo que por curto espaço de tempo. Pode-se, assim, antecipar o conceito, relacionado com alguns solos, como os tropicais em geral, de que falta ou excesso de solubilidade podem ser igualmente indesejáveis, como será compreendido mais adiante. A seta que indica a direção de P-Solução para Fonte Mineral, denominada Retrogradação, indica que em algumas condições de solo pode haver um caminho contrário do P, ou seja, do P-Solução para alguma forma de baixa reatividade que constitui as Fontes Minerais. Em condições de elevado pH de solo, o P em solução poderá ser precipitado em formas Figura 1. Formas de fósforo no sistema solo-planta; interdependências e equilíbrios. Fixação P Não- Lábil (NQ) Adsorção P- Solução (I) P- Lábil (Q) Ef lu x o Liberação Dessorção P- Solução junto à raiz Erosão Lixiviação Volatilização (Q/I) In flu x o P-Planta D ifu s ão Imo bili zaç ão Min era liza ção Fonte Mineral Retrogradação Solubilização Fonte Orgânica Resíduos Absorção (?) Perd a $, R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS de baixa solubilidade, causando decréscimo no tamanho do compartimento P-Solução e aumento no compartimento Fonte Mineral. Algo inverso à prática de suprir P a planta estaria acontecendo. Vamos voltar ao compartimento P-Solução, ou concentração de P na solução do solo. Solos muito pobres em P, particularmente os mais intemperizados e argilosos (lembre-se do conceito “solo-dreno”, discutido inicialmente), apresentam baixos valores de “P-disponível” por um extrator (medida mais próxima do compartimento denominado P-Lábil), o que redunda em concentrações de P-Solução próximas de zero. Esse valor de P-Solução aumenta, para determinado solo, com o aumento do “P- disponível” ou, mais adequadamente, com a melhoria da fertilidade em P do solo. A absorção de P por uma planta é sensível ao P-Solução: maior absorção ocorrerá com o aumento da concentração de P na solução de um solo. O “status” nutricional de P de uma planta, em determinado solo, é o “termômetro” do P-Solução. Outra maneira de alterar a concentração de P na solução do solo é o uso de Fontes Orgânicas. À semelhança do que ocorre com as Fontes Minerais, as Fontes Orgânicas poderão ser fonte (aumentar) ou ser dreno (diminuir) o P-Solução. Com a Mineralização de Resíduos de cultivos, ou mesmo da matéria orgânica humificada do solo, o teor de P liberado da biomassa contribuirá para o conteúdo de P-Solução. Por outro lado, poderá haver imobilização temporária do P da solução do solo pela sua incorporação à biomassa microbiana, aumentada pela adição de uma fonte de carbono, como Resíduos de cultivos, com limitado conteúdo de P para atender ao crescimento da população de microrganismos. Portanto, para a mineralização desses resíduos, há necessidade de imobilizar P por um tempo correspondente ao decréscimo da fonte de carbono, quando a atividade microbiológica decresce a valores próximos aos iniciais, anteriores à adição da fonte de carbono. Com isso, o P-Solução volta a aumentar, com o predomínio da Mineralização sobre a Imobilização. Como se verá, a influência da atividade de raízes sobre as fontes orgânicas, liberando o P imobilizado, pode ser muito grande. O P-Solução, temporariamente aumentado pelas Fontes Minerais (fertilizantes químicos) ou orgânicas (Resíduos orgânicos ou matéria orgânica do solo - MO), ocasionará um desequilíbrio, em relação ao anterior, aumentando a Adsorção, o que significa aumento do compartimento P- Lábil, ou, por outro lado, aumentando a Difusão, isto é, o transporte de P em direção à raiz da planta. Ambos, Adsorção e Difusão de P, serão maiores com o aumento do P-Solução. No entanto, a Adsorção é um mecanismo bem mais rápido de depleção do P-Solução do que a Difusão, Capítulo 2 - FORMAS DE FÓSFORO NO SISTEMA SOLO-PLANTA �$$ FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS particularmente nos solos com o caráter-dreno maior do que o caráter-fonte. Compreende-se então por que uma fonte de P com alta reatividade(1), aplicada em um solo-dreno, pode não ser tão conveniente como outra de reatividade menor, embora não tão menor a ponto de restringir a Difusão, o que, em última análise, pode significar maior crescimento da planta. Por outro lado, quando o P-Solução vai sendo exaurido pela absorção (ou pela Retrogradação, pela Imobilização ou pelas perdas), o estoque de “P- trocável” (P-Lábil) irá recompor o P-Solução, pelo menos parcialmente, num novo equilíbrio para um sistema-solo menos rico em P do que o anterior. Logo, o P-Lábil, que ao longo do texto será denominado também “fator- quantidade” (Q), indica o tamanho do estoque de P (como uma caderneta de poupança) que irá repor retiradas do P-Solução (dinheiro cash, prontamente utilizável). O aumento do P-Solução, que, ao longo do texto, terá o mesmo significado de “fator intensidade” (l), implica aumento do P- Lábil, e vice-versa, do mesmo modo que ganho de dinheiro implica possibilidade de aumento de poupança, e vice-versa. Todavia, os solos diferem quanto à sensibilidade do P-Lábil a alterações do P-Solução, como há diferenças entre pessoas em resistir mais ou menos a recorrer à poupança quando se gasta ou se ganha mais dinheiro. Essa resistência do solo a mudar o P-Lábil, como conseqüência de mudanças no P-Solução, ou vice-versa, é denominada Fator Capacidade de P do Solo (FCP) ou Poder Tampão de P do Solo. Solos com maior FCP, como os mais intemperizados e argilosos (solos-drenos), mantêm mais constante o valor de P-Solução (l) quando submetidos à adição ou à retirada de P. A relação Q/l de um solo é a medida do FCP. Para o mesmo grupo de solos (semelhante qualidade de argila), todos com a mesma concentração de P em solução, os mais argilosos terão valores maiores de Q do que os dos de texturas médias e estes mais que os arenosos. Por analogia, poder-se-ia dizer que entre pessoas com o mesmo salário aquelas com mais dinheiro na poupança teriam maior fator capacidade- dinheiro (ou seriam mais avarentos?), portanto com meios para manter o dinheiro disponível (cash) mais constante. Veremos mais tarde que, nos solos com maior FCP (maior Q/l), a planta otimiza a menor concentração do P-Solução que lhe é disponível, conseguindo produzir mais biomassa por unidade de P absorvido do que nos solos com menor FCP (arenosos, por exemplo), na condição de crescimento máximo das plantas. Solos com alta relação Q/l deverão, para o mesmo valor de Q, manter menores valores de l, embora mais constantes (tamponados) que nos solos com menores relações Q/l. Pelo que vimos até agora, o P-Lábil proporciona um mecanismo ao solo que tampona o sistema, que o regulamenta, procurando controlar tanto excessos como carências, dentro de limites próprios a cada solo. Um $% R.F. NOVAIS & T.J.SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS aparente “erro” da Natureza, ou nosso, pela cultura científica que temos ao fazer análises reducionistas de fenômenos complexos, é a transformação do P-Lábil, com o tempo, em P não-Lábil, um compartimento fechado, ou quase fechado, onde o P é retido, com poucas chances de retorno. Sobre esse fenômeno, pode-se, ainda, fazer um comentário de ordem filosófica: é interessante observar que o N, em grande abundância no planeta, presente tanto na atmosfera como na biomassa, apresenta mecanismos pouco severos para sua manutenção no solo, estando sujeito à volatilização em temperaturas relativamente baixas, transformações freqüentes em formas gasosas facilmente perdidas, lixiviação intensa de formas mineralizadas, bem como baixo coeficiente de utilização pelas plantas e animais (biomassa produzida por unidade do nutriente absorvido (Gerloff & Gabelman, 1983). Em contrapartida, o P, escasso na maioria de nossos solos, apresenta mecanismos de conservação bastante efetivos, embasados na fixação (transformação de P-Lábil em P não-Lábil). Essa característica do P torna- se mais intrigante quando se considera que nos sistemas em que sua presença torna-se mais escassa, como em solos tropicais mais intemperizados (solos-drenos), os mecanismos de sua manutenção no sistema tornam-se também mais rígidos: a fixação é maior, a passagem para a forma não-lábil é mais rápida, consumindo grande percentual do que é aplicado em formas solúveis; a planta torna-se mais eficiente em utilizar o pouco P que lhe é liberado para a formação de biomassa, etc. O P retido inicialmente na forma lábil, ainda sujeito à dessorção, é retido com mais energia com o passar do tempo. Ligações adicionais à primeira fazem com que essa forma se transforme em não-lábil, com restrita reversibilidade, na maioria de condições de solo, como se verá mais tarde. Em linguagem figurada, pode-se dizer que essa transformação de P-Lábil em P não-Lábil assemelha-se à situação de um inseto, que tem, inicialmente, apenas uma das patas presa em uma teia de aranha. Nessa condição, o inseto ainda poderá escapar da “armadilha”, mas, se, com o tempo, mais patas ficarem presas em outros pontos da teia, a possibilidade de escapar é praticamente nula. A pergunta que nos fazemos é: se, de fato, há uma Ordem nas coisas da Natureza, como sugere Capra (1986), para que serve esta forma de P não-Lábil? Considerando que não há equilíbrio entre ela e o P-Solução, pode-se dizer haver algo semelhante a um FCP ou a um poder tampão infinito, com a transformação extrema de toda a forma lábil em não-lábil (quantidade de P não-Lábil/ausência de P em solução em equilíbrio com aquela forma). Haveria, então, à medida que se vai de solos-fontes para solos-drenos, um aumento gradual do FCP, com valor teórico tendendo para infinito. Certamente, bem antes de se chegar a este extremo, o suprimento de P para as plantas em um solo com esse perfil tende a se Capítulo 2 - FORMAS DE FÓSFORO NO SISTEMA SOLO-PLANTA �$& FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS tornar impossível. Conseqüentemente, como se comentou inicialmente, vegetações naturais, como as florestas, perderiam gradualmente o P de sua biomassa para o solo à medida que este nutriente fosse ciclado. Bem, vamos voltar à planta, a partir do P-Solução. Para que um elemento, essencial ou não, seja absorvido pela planta, é necessário que ele chegue junto à raiz, mais precisamente que atravesse a parede celular e chegue à membrana celular (plasmalema). Embora a raiz possa interceptar o elemento em sua trajetória de crescimento, para o P essa contribuição é pequena em relação à que se obtém por via de seu transporte na solução do solo, em direção à superfície da raiz, local em que a concentração de P é menor, por estar sendo absorvido. Esse gradiente de concentração de P desenvolvido entre a superfície da raiz e a solução de solo mais distante faz com que esse elemento, em suas formas iônicas, difunda-se até as raízes, onde poderá ser absorvido. Há, também, a possibilidade de haver Absorção do P de algumas formas orgânicas, sem passar pelo P-Solução da fase mineral do solo (Cap. 7. Fósforo Orgânico no Solo). Como comentado no capítulo anterior, particularmente em solos considerados dreno-P, a Absorção de P diretamente do “litter” em florestas tropicais, sem o acesso da fase mineral desses solos a essa fonte de P, é uma aparente solução para o problema de manutenção do conteúdo de P nas árvores. Para que o compartimento P-Planta seja alcançado, o P deverá ser absorvido em determinada taxa (Influxo) bem maior que a relativa a perdas (Efluxo) do P já absorvido. O Efluxo pode ocorrer em níveis mais elevados quando a concentração de P em uma planta é bastante alta, o que não é o caso da maioria dos solos com alto FCP, encontrados em condições tropicais, de modo geral. A diferença entre plantas em absorver P com maior ou menor eficiência em condições distintas de grandeza do P-Solução e a influência de características do solo e da própria planta sobre essa eficiência têm sido intensamente pesquisadas, como será visto mais adiante. O P-Solução pode ser submetido a perdas por Erosão, por meio de perdas de camadas superficiais do solo, mais ricas em P; por Lixiviação, possível em solos mais arenosos, quando a quantidade de P proveniente de uma fonte qualquer se aproxima do poder de Adsorção máxima de P do solo ou o ultrapassa (é bem mais facilmente lixiviado quando em formas orgânicas); ou mesmo por Volatilização desse elemento em altas temperaturas. Algumas dessas perdas poderão causar problemas relativos à eutroficação de águas, como será visto. $' R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS Esperamos que depois da compreensão dos componentes desse esquema (Figura 1), com a leitura dos demais capítulos deste texto, a volta a ele, com uma fácil compreensão de seu todo, deverá ser tranqüila, sem as dificuldades de quando apresentado pela primeira vez. ���"�# ��& G46��� ���������������� ��������������������� $) R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS ���������� Há quase sete décadas, foi desenvolvida uma pesquisa de excelente qualidade (Tidmore, 1930) sobre o assunto tratado neste capítulo. O autor verificou que a concentração de P em solução nutritiva necessária ao crescimento satisfatório de diferentes plantas era, sistematicamente, maior que a concentração de P na solução do solo(1). Em solução nutritiva, o crescimento máximo das plantas foi obtido com, pelo menos, 0,5 ppm PO4(2); um pequeno crescimento das plantas foi obtido com 0,05 ppm de PO4. Por outro lado, solos que não respondiam à adição de fertilizante fosfatado apresentavam concentração de P em solução inferior a 0,02 ppm PO4 (“traços”). A concentração média de P em sete desses solos foi de 0,06 ppm PO4. O autor concluiu que “a solução extraída não é a verdadeira solução do solo, e que a fase sólida tem uma função importante no suprimento de P às plantas”. Essa concentração de 0,06 ppm PO4 (aproximadamente, 0,02 ppm P) corresponde a 12 g de P em um hectare desse solo, com 30% de água retida, para a profundidade de 0-20 cm. Admitindo-se que uma cultura anual absorva 20 kg ha-1 de P, o valor de 0,02 ppm P teria de ser renovado 1.667 vezes. Verifica-se que, de fato, a fase sólida terá de compatibilizar esses números, como concluiu Tidmore. Sua conclusão de que a solução extraída não é a verdadeira solução do solo pode estar correta, uma vez que o método de extração pode interferir nos valores das concentrações determinadas (Olsen & Khasawneh,1980). Poderia ter sido, também, concluído que uma mesma concentração analítica de P na solução nutritiva e na solução do solo poderia ter diferentes atividades de P, como conseqüência de diferenças entre as duas soluções quanto à força-iônica, como será discutidoneste capítulo. O P na solução do solo, ou P-solução, é denominado Fator Intensidade (I) (Figura 1, Cap. 2. Formas de Fósforo no Sistema Solo-Planta). Como se viu pelo trabalho de Tidmore e por uma vasta literatura sobre o assunto, atualmente disponível, a planta não pode ter apenas no valor de I sua fonte de P. O ressuprimento ou “renovação” de I, à medida que o P é absorvido, é feito pelo Fator Quantidade (Q), quantitativamente muito maior que I. Há, portanto, um equilíbrio entre I e Q, de modo que qualquer alteração (retirada ou adição) em um deles implica alteração no outro. Essa interdependência de I e Q caracteriza o Fator Capacidade (FCP), quantitativamente definido pela relação Q/I. Com o aumento de I (adição de fertilizante, por exemplo), (1) Para manter constante a concentração de P em solução, foram utilizados vasos com 1.000 L de solução nutritiva, com nove “seedlings” por vaso e troca de solução de uma a três vezes por dia. (2) Unidade e forma de P como utilizadas pelo autor. Capítulo 3 - FATORES INTENSIDADE, QUANTIDADE E CAPACIDADE �$- FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS haverá um aumento de Q, mantendo-se a relação Q/I razoavelmente(1) constante, o que a caracteriza como propriedade intrínseca de um solo (Novais, 1977; Ozanne, 1980). Em solos com maior adsorção de P, como os mais argilosos e, de modo particular, os mais intemperizados, a relação Q/I será maior que em solos com menor adsorção, como nos arenosos e, se argilosos, menos intemperizados. Portanto, para o mesmo valor de Q + I, um solo argiloso terá menos P em solução (I) e mais P-lábil (Q) que um solo arenoso. Por outro lado, para solos com o mesmo valor de I, a planta terá mais P à sua disposição naquele com maior Q (maior FCP). A recíproca é verdadeira: para valores iguais de Q, a planta será beneficiada no solo com maior I (menor FCP). A compreensão do significado de I, Q e Q/I é essencial ao entendimento do comportamento da planta em diferentes solos, dos extratores do “P- disponível”, da “solubilidade” (reatividade) e do aproveitamento de fontes de P, do residual do P aplicado em cultivos anteriores, da recomendação de adubação, de possíveis perdas e conseqüentes problemas ambientais, etc. Este capítulo procura dar esta compreensão e o suporte necessário ao entendimento de todo o texto. G46���� ����������� A concentração de P, para diferentes formas de P na solução do solo, que define o fator intensidade tem sido considerada um índice de disponibilidade desse nutriente para as plantas, quando outros fatores (quantidade e, ou, capacidade) são também considerados. O fator intensidade de P do solo tem sido expresso pela sua concentração na solução do solo, pela atividade dessa concentração ou, mesmo, pela transformação dessa atividade em potencial. Embora o teor total de P dos solos se situe, de modo geral, entre 200 e 3.000 mg kg-1 de P, menos de 0,1% desse total encontra-se na solução do solo. Em solos agrícolas, os valores de P em solução estão, com freqüência, entre 0,002 e 2 mg L-1 de P (Fardeau, 1996). G46���� ���������� O acúmulo de P no solo ao longo dos cultivos (“residual”) tem como causa reações que levam à sua adsorção. Como resultante dessa adsorção, parte do P irá encontrar-se em forma ainda disponível à planta (P-lábil) e (1) Há condições que fazem com que a relação Q/I de um mesmo solo deixe de ser constante, como será discutido neste capítulo. $* R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS parte não, pelo menos no curto prazo (P não-lábil). Estudos mostram que a cinética de formação de P não-lábil em solo de cerrado é muito rápida, particularmente naqueles com maior fator capacidade (FCP) (Cap. 5. Transformação de Fósforo-Lábil em Não-Lábil). Esse fenômeno tem merecido grande atenção em todo o mundo. Segundo Sample et al. (1980): “Este fenômeno chamado fixação, ou retenção, tem sido conhecido por bem mais de um século e tem proporcionado mais pesquisa do que qualquer outro aspecto da interação solo-fertilizante-planta”. A adsorção de P pelo solo pode ser considerada providencial quando comparada à não retenção de formas minerais de nitrogênio pelo solo. Todavia, há condições, particularmente em solos mais intemperizados, que favorecem a adsorção de P em magnitude tal, que a planta deixa de acessá- lo. Como não se perde do sistema, acredita-se que, de alguma forma, o P poderá ser utilizado por plantas que possam viabilizar sua absorção (Gillespie & Pope, 1990a,b; Hinsinger & Gilkes, 1997) ou tornar-se disponível por alterações físico-químicas no sistema (Barrow, 1980; Fernández R., 1995). O fator quantidade envolve, para fins práticos, a soma da concentração do elemento, teoricamente considerado fator quantidade (Q) mais sua concentração em solução (I). A separação das duas formas, para obtenção do valor de Q, não se justifica, uma vez que a concentração do P em solução é, de modo geral, extremamente menor que a de Q, não alterando, para o nível de precisão da determinação, o valor de Q obtido. Como utilizada em geral (Russell et al., 1954), a Eq.16 equivale à Eq.11, de Fardeau et al. (1996). Portanto, quando não se utiliza “carrier”, as equações que determinam a diluição isotópica medida para estimar os valores E, L ou A são a Eq.7 (ou Eq.12) e a Eq.10, que se equivalem. Quando se utiliza “carrier”, as equações para estimar esses valores são a Eq.11 e a Eq.13. A Eq.14 pode, também, ser utilizada para estimar o valor A. G46���� ���������� O fator capacidade de P (FCP) pode ser entendido como a resistência do solo a mudanças no fator intensidade (I) quando se põe ou se retira P do solo (Q). O FCP (Q/I) é definido pelo equilíbrio ou “ligação” entre variação de quantidade e variação de intensidade. Esquematicamente, esses três fatores podem ser representados por um sistema de vasos comunicantes (Figura 2). A caixa maior, que comporta Q ou P-lábil, representa a capacidade máxima de adsorção de P do solo (CMAP). Essa “caixa” é, para dadas condições de solo, uma constante. Latossolo argiloso, por exemplo, Capítulo 3 - FATORES INTENSIDADE, QUANTIDADE E CAPACIDADE �$+ FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS apresenta maior CMAP do que Areia Quartzosa. O tamanho da caixa maior não diz a quantidade de Q, mas, sim, a quantidade máxima de Q que ela comporta. Portanto, a quantidade de P na caixa “Q” representa o fator quantidade de P do solo. Este pode ser aumentado por fertilização ou diminuído pela absorção pelas plantas, por fixação em formas não-lábeis ou mesmo por lixiviação em condições especiais, como será visto (Cap. 13. Fósforo e Ambiente). A pequena caixa à direita (I), bem menor que a primeira (Q), tem, no seu conteúdo, o fator intensidade. A relação entre os tamanhos das duas caixas é bem grande, uma vez que em Latossolos, por exemplo, são freqüentes valores de CMAP superiores a 1,0 mg g-1 de P no solo (Bahia Filho & Braga, 1975a; Fernández R., 1995; Ker, 1995), enquanto o valor de intensidade fica em torno de 0,05 mg L-1 de P (Yost et al., 1979). Essa relação entre os valores máximos de Q (igual a CMAP) e de I, neste exemplo (1.000 mg kg-1 P/0,05 mg L-1 P), é de 20.000. Para um solo arenoso, comparado a um argiloso, ambos pertencentes a um mesmo grande grupo, a relação entre os tamanhos das duas caixas diminui consideravelmente, não só pelo menor tamanho da “caixa” de Q, também, pelo aumento da “caixa” de I. Para o mesmo valor de Q, deve-se, portanto, encontrar valores de I bem maiores nos solos arenosos. Como mostra o esquema (Figura 2), as duas caixas encontram-se no mesmo nível, e, dessa maneira, I será igual a zero quando Q for, também, zero. O diâmetro do tubo que liga as duas caixas representa o fator capacidade. Um diâmetro maior condicionará a manutenção do nível de I mais próximo do nível de equilíbrio quando P é adicionado ao solo ou dele removido (mudançarápida de Q). Menor diâmetro desse tubo (menor FCP) pode não manter o nível de I em equilíbrio com o nível de Q, em condições Figura 2. Representação esquemática dos fatores quantidade (Q), intensidade (I) e capacidade (Q/I) (φ φ φ φ φ representa o diâmetro da tubulação entre os dois compartimentos – Q e I). (Q/I) IQ A bsorção Im obilização Fixação Lixiviação R etrogradação Fator C apacidade φ %, R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS de absorção intensa de P, por exemplo. Em condições de solos com pequena CMAP (solos arenosos, por exemplo) é preciso maior valor de I (concentração ótima) para atender à demanda da planta e compensar a menor vazão entre Q e I. Como conseqüência prática, há necessidade de 0,2 mg L-1 de P na solução do solo, como concentração ótima, em solos arenosos, e de valores até mesmo menores do que 0,05 mg L-1 em solos com grande CMAP (grande FCP), como discutido no início deste capítulo. Tendo a CMAP como uma medida do FCP (Novais, 1977; Muniz et al., 1985,1987; Fabres et al., 1987; Novais et al., 1993), compreende-se a razão da equação sugerida por Rajan (1973) (Cmáx = ab-k), discutida anteriormente. Essa equação indica que a concentração de I que condiciona o crescimento máximo de uma planta é função inversa do FCP. Quanto à fertilização de solos com diferentes valores de FCP, o aumento da concentração de P- disponível, em solos com alto FCP, irá requerer doses mais elevadas de P, em relação a solos com baixo FCP, ambos com o mesmo teor inicial de P- disponível. Entretanto, obtida essa concentração, o solo com maior FCP irá manter o P-disponível mais constante e por períodos mais longos de cultivo. O fator capacidade, ou “poder tampão”, de P pode ser comparado às alterações da acidez pela aplicação de calcário em solos com diferentes valores de poder tampão da acidez (Figura 3). O Solo B é mais tamponado que o solo A, dado que seu valor de pH é menos alterado pela adição de calcário. A tangente βββββ é menor que a tg ααααα. Portanto, há uma relação inversa entre o poder tampão da acidez do solo e o valor da tangente (∆pH/∆t ha-1 de calcário). Matematicamente, o poder tampão desses solos é definido pelo inverso das tangentes, ou: 1/(tg ângulo) = 1/(∆pH/∆t ha-1 de calcário) = (∆t ha-1 de calcário)/∆pH(1) (1) Uma medida de quantidade (Q) sobre uma de intensidade (I). Figura 3. Alteração do pH de dois solos com diferentes valores de poder tampão da acidez, em resposta à adição de calcário (considerando relacionamento linear entre as duas variáveis). α β Solo A Solo B Calcário (t ha-1) pH ���"�# ��' ���� �������G46��G46� ��������� %% R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS ���������� O fenômeno de retenção de P no solo é conhecido há quase um século e meio pelo trabalho de Tomas Way (1850), citado por Sample et al. (1980). Embora essa retenção seja um fenômeno favorável à utilização do P pelas plantas, o “envelhecimento” dessa retenção, com a formação de P não- lábil, torna-se problemático. A retenção do P adicionado ao solo, em formas lábeis ou não, ocorre tanto pela precipitação do P em solução com formas iônicas de Fe, Al e Ca, como, principalmente, de maneira mais significativa, pela sua adsorção pelos oxidróxidos de Fe e de Al, presentes, de modo geral, em maiores quantidades em solos tropicais mais intemperizados, de modo particular nos mais argilosos. Reação semelhante à apresentada pelos oxidróxidos de Fe ocorre, também, com os oxidróxidos de Al (Hingston et al., 1974; Parfitt, 1978; Sanchez & Uehara, 1980; Bahia Filho, 1982; Resende, 1983; Sanyal & De Datta, 1991). Adsorção é um termo genérico que indica reações químicas e mesmo físicas que ocorrem em interfaces (superfícies de separação de duas fases). A superfície (óxidos, por exemplo) é chamada adsorvente. A substância (íons fosfato, no caso) é chamada adsorvato. A superfície muitas vezes é porosa, ou mostra imperfeições ou microporos, permitindo a difusão do adsorvato em seu interior, dando continuidade às reações. A esse fenômeno chama-se absorção (Sanyal & De Datta, 1991). É comum na literatura o termo sorção, mais genérico, que engloba os fenômenos de adsorção e absorção. O P inicialmente adsorvido à superfície de agregados de solo difunde-se, com o tempo, para seu interior (Haynes, 1984; Nye & Staunton, 1994; Linquist et al., 1997). É um processo lento, que pode levar anos para atingir o equilíbrio, devendo ser, também, responsável pela diminuição da disponibilidade de P de um solo recém-fertilizado, com o aumento do tempo de contato do P com esse solo (Barrow,1985). Portanto, essa penetração difusiva de P no interior do adsorvente leva a uma dificuldade a mais para a escolha da terminologia adequada para o processo. Esse processo, segundo Barrow (1985), seria mais adequadamente denominado “sorção” e “retenção”, sendo retenção a soma de adsorção e penetração (absorção). A dificuldade em utilizar a terminologia adequada é evidente no trabalho de Reis et al. (1995), que utilizam sorção no título do trabalho e adsorção ao longo do texto. Por outro lado, Iyamuremye & Dick (1996) consideram que sorção pode incluir reações de adsorção e de precipitação. Esses autores definem perdas de P da solução do solo para a fase sólida por adsorção e por precipitação. Alguns trabalhos clássicos Capítulo 4 - ADSORÇÃO DE FÓSFORO NO SOLO �%& FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS utilizam o termo adsorção generalizadamente (Parfitt, 1978), ou utilizam sorção e adsorção indistintamente (Sanyal & De Datta, 1991). Um complicador, que induz a utilização desse termo, são as isotermas de adsorção, que, apesar da denominação, medem o “desaparecimento” do P em solução, com o envolvimento provável de todos os processos discutidos. Neste texto, temos utilizado o termo adsorção no sentido amplo. Embora conscientes da inadequabilidade plena do termo, não vemos como ser precisos quando esse “desaparecimento” não nos permite identificar o processo responsável por ele. Como será visto no Cap. 5. Transformação de Fósforo-Lábil em Não-Lábil, há um termo adicional para retenção de P no solo, fixação, utilizado mais adequadamente para identificar a formação de P não-lábil, não mais em equilíbrio com o P-solução (Van Der Zee et al., 1987; Hsu, 1989). Este capítulo tem como objetivo enfatizar as isotermas de adsorção, seus fundamentos e características principais, como são obtidas e utilizadas na prática, e discutir o comportamento diferencial de constantes dessas isotermas, em relação a características de solos. �!"#$%&# '#$ �()!$*()!#" !+ G46+$$# + !+ �,-./0# Na fase inicial de rápida adsorção de P no solo, há uma atração eletrostática inicial (Barrow, 1985), seguida pela adsorção por oxidróxidos, por meio de troca de ligantes (Parfitt, 1978; Barrow, 1985; Goldberg & Sposito, 1985; Sanyal & De Datta, 1991). Nessa reação, denominada quimiossorção, há troca de ligantes, como OH- e OH2+, da superfície dos óxidos, por fosfato da solução (Figuras 1 e 2). É uma l igação predominantemente covalente (“adsorção específica”), ao contrário do NO3- ou do Cl-, adsorvidos por atração eletrostática (“adsorção não-específica”) (Parfitt et al., 1975; Parfitt, 1978). Com o aumento do pH, a carga superficial de partículas do solo torna- se cada vez mais negativa, aumentando a repulsão (menor adsorção) entre fosfato e superfície adsorvente e, diminuindo o potencial eletrostático do plano de adsorção (Ψa) (Posner & Bowden, 1980; Haynes, 1984; Barrow, 1985). Como conseqüência, a adsorção de P pelo solo deve ser máxima com baixos valores de pH (Parfitt, 1978; Haynes, 1984). O aumento do pH de um solo, diminuindo a adsorção de P, não é tão direto e simples como sugere a figura 1. A pequena e não consistente alteração da capacidade máxima de adsorção de P (CMAP) de amostras de doisLatossolos, submetidas a diferentes níveis de pH, foi observada por Vasconcellos et al. %' R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS (1974). Por outro lado, com o aumento do pH, diminui a presença da forma H2PO4-, em relação à HPO42-, esta (bivalente) preferencialmente adsorvida. Portanto, com o aumento do pH, aumenta a forma bivalente, que tende a contrabalançar o decréscimo do Ψa. Adicionalmente, a força-iônica da solução do solo (concentração de eletrólitos e tipo de cátion presente) afeta o Ψa. O aumento de cátions numa superfície negativamente carregada torna o Ψa menos negativo, aumentando a adsorção de P. Esse efeito é mais intenso para cátions de valência maior, como Ca2+, comparativamente a K+, e este maior que para Na+ (este com menor raio iônico que o do K+), Figura 1. Desenvolvimento de carga elétrica na interface de oxidróxido de Fe, ou de Al, variável de acordo com o pH do meio. À esquerda do ponto de carga zero (PCZ, ou pH que gera essa condição de carga), observa-se adsorção de prótons (cargas positivas), à direita, dessorção de prótons (cargas negativas). Fica claro que o PCZ refere-se à carga líquida, ou seja, cargas positivas iguais às negativas (1a e 1b). Fonte: Adaptado de Herbilon (1985). PCZ Fe O Fe Fe O Fe OH2 + OH2 + OH2 + OH2 + OH OH 3+ 1+ Fe O Fe Fe O Fe OH OH OH OH2 + OH O_ O_ O_ O_ OH OH O_ Fe O Fe Fe O Fe 0 0 3 _ 1 _ 3H+ H+ 3OH_ OH_ (1a) (1b) Capítulo 4 - ADSORÇÃO DE FÓSFORO NO SOLO �%( FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS Figura 2. Adsorção do íon H2PO4 - na superfície de oxidróxido de Fe, com diferentes cargas líquidas superficiais. Fonte: Adaptado de Sanchez & Uehara (1980). a) Abaixo do PCZ (superfície com carga positiva) b) No PCZ (superfície com carga líquida zero) c) Acima do PCZ (superfície com carga negativa) Fe O Fe OH OH OH 0 + H2PO4 _ Fe O Fe OH O OH P OH + OH_ OH O Fe O Fe OH OH2 + OH 1+ + H2PO4 _ Fe O Fe OH O OH P OH + H2O OH O Fe O Fe OH O _ OH 1 _ + H2PO4 _ Fe O Fe OH O OH P OH + O2 _ OH O %) R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS justificando, por exemplo, a maior difusão de P na forma de NaH2PO4 que na de Ca(H2PO4)2 em solos (Cap. 9. Difusão). Semelhantemente, o aumento da força-iônica da solução de solos ácidos com a calagem e a grande presença de Ca mascaram o efeito esperado de maior pH, decrescendo a adsorção (aumentando a dessorção) de P dos solos. O nem sempre observado efeito da calagem de solos sobre a diminuição da adsorção de P tem, ainda, causas adicionais a essas. A calagem de solos ricos em Al3+ tende a aumentar a adsorção de P, diminuindo-a em solos pobres em Al3+, conforme Haynes (1984). Segundo esse autor, polímeros de hidróxido de Al recém-formados com a calagem apresentam alta afinidade pelo P. O tempo e ciclos alternativos de hidratação e secagem podem causar o “envelhecimento” dessas superfícies, aumentando a cristalização dos polímeros de hidróxido de Al (diminuindo-lhes a superfície específica em relação às formas amorfas iniciais) e diminuindo a adsorção de P. A ordem preferencial de adsorção de ânions pelo solo é, segundo Parfitt (1978), a seguinte: fosfato > arseniato > selenito = molibdato > sulfato = fluoreto > cloreto > nitrato. Menor adsorção de P (menor constante k de Freundlich) em um Alfisol, em resposta à aplicação de fluoreto, foi observada por Camargo (1979). A grande concentração de F utilizada na obtenção da isoterma de adsorção (concentração crescente de P em uma solução de KF 0,01 mol L-1, numa relação solo:solução de 1:20) dificulta a avaliação prática dos resultados obtidos. O efeito do fluoreto sobre a redução da adsorção de P pelo solo deve ser visto não apenas pela troca de ligantes com goethita ou gibbsita, à semelhança do que ocorre com P (Parfitt,1978), mas, também, pelo efeito complexante de F sobre Al, liberando P (Cap. 8. Extratores). �!"#$%&# '#$ �,-.)0#""),)123#" A presença de grupamentos OH e, ou, OH2+, dependendo do pH do meio, nas bordas de argilas silicatadas proporciona mecanismo de adsorção semelhante ao apresentado para os oxidróxidos (Figura 3). �!"#$%&# '#$ 4235$)2 �$670)12 Correlações positivas entre teor de matéria orgânica (MO) do solo e adsorção de P têm sido freqüentes na literatura (Cap. 3. Fatores Intensidade, Quantidade e Capacidade). Embora possa haver uma razão indireta, por via da correlação positiva entre teor de argila e MO no solo, a razão principal Capítulo 4 - ADSORÇÃO DE FÓSFORO NO SOLO �%- FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS parece ser, dado o caráter aniônico da MO, por via de pontes de cátions (Sanyal & De Datta, 1991), como Al, Fe e Ca a ela adsorvidos, que reteriam o P. Há, contudo, trabalhos que mostram participação negativa da MO, reduzindo a adsorção de P em solos, por meio de ácidos orgânicos adsorvidos, bloqueando sítios de adsorção, como os dos oxidróxidos (Parfitt, 1978; Sanchez & Uehara, 1980; Evans, 1985; Sibanda & Young, 1986), como se vê no esquema para oxalato (Iyamuremye & Dick, 1996): O envolvimento da MO na adsorção/dessorção de P do solo pode ser sumariada, em seus pontos principais, da seguinte maneira: 1. Embora a CMAP de um solo aumente, com freqüência, com o seu teor de MO (Haynes, 1984; Sanyal & De Datta, 1991), a adição de matéria orgânica ao solo, como na forma de esterco animal, causa efeito contrário, ocasionando, de modo geral, diminuição da adsorção e aumento da disponibilidade de P para as plantas (Sanyal & De Datta, 1991) (Cap. 13. Fósforo e Ambiente). 2. O solo pode adsorver ácidos orgânicos com grande energia, competindo com os sítios de adsorção de P e aumentando a disponibilidade desse nutriente para as plantas (Haynes, 1984). A estrutura e carga desses ácidos controlam a grandeza de sua adsorção. Moléculas com maior número de grupos funcionais, como OH e COOH, são mais efetivas na competição Figura 3. Desenvolvimento de carga elétrica em aluminossilicatos. Os grupamentos OH e OH2 - podem ser trocados por fosfato, que é adsorvido. Fonte: Adaptado de Parfitt,1978). OH2 + OH2 + Al 2OH _ Al OH OH OH _ Al O _ OH 2+ Argila Silicatada 0 1 _ + 2H2O + H2O pH aumenta (PCZ) %* R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS pelos sítios de adsorção que aquelas com menor número. Ácido málico, com um grupo OH e dois COOH, foi mais efetivo em reduzir a adsorção de P do solo que o ácido acético, com um COOH apenas (Hue, 1991). Comparação semelhante pode ser feita entre citrato e acetato. 3. Apesar da sua efetividade em restringir a adsorção de P pelo solo, alguns ácidos orgânicos são rapidamente mineralizados quando aplicados no solo (dependendo da estrutura, alguns deles são mais resistentes a essa mineralização) (Hue, 1991; Iyamuremye & Dick, 1996). A aplicação de esterco de curral, como reposição contínua desses ácidos, a exsudação de raízes e o metabolismo de microrganismos, como fontes naturais desses ácidos, mantêm esse processo de bloqueio de sítios de adsorção de P de maneira mais contínua e, portanto, mais efetiva. 4. O efeito da adição de resíduos orgânicos sobre a retenção de P pelo solo depende da concentração de P do resíduo. A imobilização do P da solução do solo torna-se maior que a mineralização do P orgânico quando o resíduo tem menos que 0,2% de P total. Segundo Iyamuemye & Dick (1996), relação C:P menor que 100 leva à mineralização do P orgânico; maior que 300 leva à imobilização de formas minerais de P pelos microrganismos (Cap. 7. FósforoOrgânico no Solo). �$+1)')32%&# !+ G46*"8#$# 0#" �#,#" Precipitação é a reação entre íons, com a formação de uma nova fase ou composto definido. É um processo tridimensional, ao contrário da adsorção, que é bidimensional (Sposito, 1984). Todavia, segundo esse autor, esses dois mecanismos de retenção de P pelo solo são de difícil distinção e ambos são descritos pelo mesmo modelo matemático. É a reação de P às formas iônicas de Al e de Fe em solos ácidos ou a Ca2+ em solos neutros ou calcários, formando compostos de composição definida e pouco solúveis (Dean, 1949; Hsu, 1965; Sample et al., 1980). A precipitação de P em solos torna-se particularmente importante durante a dissolução de grânulos de fertilizantes fosfatados, ultrapassando os produtos da solubilidade de componentes da reação solo-fertilizante (atividade das espécies fosfatadas e dos íons metálicos) (Sample et al., 1980). Isotermas de solubilidade de compostos fosfatados, tomando pH2PO4 (fração solubilizada) em função de pH (condicionante de solubilização), mostram, por exemplo, que fosfatos de Al (variscita) e de Fe (estrengita) são mais estáveis em meio ácido (têm a solubilidade aumentada com o aumento do pH do meio), ao passo que fosfatos de Ca, pelo contrário, são Capítulo 4 - ADSORÇÃO DE FÓSFORO NO SOLO �%+ FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS menos estáveis em meio ácido (diminuem a solubilidade com o aumento do pH) (Olsen & Khasawneh, 1980). Alumínio em solução (semelhantemente, íons de Fe) pode causar precipitação de fosfatos adicionados ao solo: Para evitar essa reação, deve-se “eliminar” (precipitar) o Al3+, por calagem anterior à adição da fonte de P. De toda maneira, a retenção de P pelo solo mantém-se em valores estequiométricos semelhantes quando se substitui a precipitação do P pelo Al3+ do solo ácido pela sua adsorção pelo hidróxido de Al recém-formado pela calagem (Haynes, 1984). Além do mais, polímeros catiônicos de Al formados com a calagem podem capear colóides do solo, restringindo-lhes a carga negativa (Haynes, 1984). E, quando se considera que P-Al é, aparentemente, a forma que melhor representa o P-lábil do solo, entre as formas minerais, verifica-se que essa forma de retenção de P no solo não pode ser considerada pior opção quanto à disponibilidade de P para as plantas, quando comparada com P-Fe e P- Ca (Cap. 8. Extratores). Solos com pH mais elevado, com muito Ca trocável, natural ou como conseqüência de uma supercalagem, podem ter a precipitação de fosfatos adicionados ao solo (Sample et al., 1980), fenômeno denominado “retrogradação” por Malavolta (1967): O produto “insolúvel” formado é uma forma de P-Ca de menor disponibilidade para as plantas que o P-Al formado em condição ácida. Observa-se que a solubilização do fosfato tricálcico formado - reação deslocada para a esquerda - ocorre com a acidificação do solo e, evidentemente, torna-se cada vez menos solúvel com o aumento do pH do meio. Uma calagem, numa condição dessas, seria problemática quanto à disponibilidade de P para as plantas. Por outro lado, o P é adsorvido em CaCO3 em menor quantidade relativa e com menor energia do que em oxidróxidos de Fe e de Al (Sample et al., 1980; Solis & Torrent, 1989). Deve-se considerar que a forma P-Ca do fracionamento de Chang & Jackson (1957), como a de uma apatita, por exemplo, dada sua grande estabilidade estrutural, não deve ser a mesma A l3+ + H 2PO 4- + 2H 2O 2H + + A l(O H )2H 2PO 4 (trocáve l) (so lúve l) (“inso lúve l”) 3C a2+ + 2H 2PO 4- C a3 (PO 4)2 + 4H + (trocáve l) (so lúvel) (“ inso lúvel”) &, R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS formada pela adsorção de P a CaCO3. Holford & Mattingly (1975) observaram que a menor “energia de adsorção”, correspondente à segunda região de Langmuir, para solos calcários, correlacionou-se com a área superficial de CaCO3 e com o teor de MO. Por outro lado, a maior “energia de ligação” correspondente à primeira região de Langmuir correlacionou- se com o Fe extraído por ditionito, apesar da baixa presença dessa forma de P nesses solos. ���9���� �� �������� �� G46��G46��� �� ���� A expectativa, ao aplicar uma fonte solúvel de P num solo, é que esse material permaneça em solução, por considerável período de tempo, à disposição da planta. Resultados de pesquisa têm mostrado que, na verdade, o tempo necessário para que a adsorção ocorra é bem curto (Novais, 1977; Singh et al., 1983b; Reis et al., 1995). A adsorção de P pelos solos efetua-se em dois estádios (Kuo & Lotse, 1974a,b, e Barrow & Shaw, 1975). As reações do primeiro estádio ocorrem em horas ou minutos, ao passo que as do segundo estádio são bem mais lentas (Cap. 5. Transformação de Fósforo Lábil em Não-Lábil). A rápida reação de adsorção inicial é um fenômeno de superfície, enquanto formas ativas de Al e de Fe em solos ácidos e de Ca em solos neutros ou calcários levam, também, a uma rápida precipitação de P solúvel (Hsu, 1965). Para o estudo da cinética de adsorção de P em amostras de solos de cerrado, 50 mg L-1 de P, na forma de KH2PO4, foram agitados por períodos de tempo que variaram de meia a 192 horas, determinando-se, depois de cada período de tempo, o P na solução de equilíbrio (Gonçalves et al., 1985). Cerca de 75% do P adicionado foi adsorvido em menos de meia hora de contato para os solos com maior CMAP e menos de doze horas para aqueles com menor CMAP, quando se considerou 100% a adsorção obtida com 192 horas de equilíbrio (Quadro 8). A equação C = kt-n (em que C é a concentração de P em equilíbrio, medida no tempo t de equilíbrio, e k e n são constantes) ajustou-se significativamente aos dados, com R2 superior a 0,90. As constantes k e n mostraram-se correlacionadas com medidas do FCP dos solos, o que indica que a velocidade de adsorção de P é maior nos solos com maior CMAP. Observou-se, ainda, que a calagem prévia do solos não alterou de, maneira consistente, a velocidade e a magnitude de adsorção de P pelos solos. Em trabalho semelhante, Novais (1977) estudou a cinética de adsorção de P, para doses aplicadas correspondentes à CMAP, em amostras de cinco Capítulo 4 - ADSORÇÃO DE FÓSFORO NO SOLO �&$ FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS Quadro 8. Quantidade de P adsorvido em amostras de solos que receberam, inicialmente, 50 mg kg-1 de P, na ausência ou na presença de calcário, em diferentes tempos de equilíbrio Fonte: Gonçalves et al. (1985). Solo Tempo de equilíbrio (hora) 0,5 1 2 4 8 12 24 48 192 __________________________________________________ mg kg-1 de P no solo __________________________________________________ Sem calagem AQ 10,4 14,4 15,6 17,2 22,0 28,4 30,4 33,3 34,0 LE-1 44,6 46,9 48,0 49,5 49,4 49,5 49,5 49,4 49,8 LE-2 45,4 47,1 48,3 48,6 49,4 49,7 49,7 49,8 49,8 LVm-1 25,6 26,9 32,6 33,3 37,6 42,6 45,4 45,8 46,0 LVm-2 24,5 25,5 29,3 31,5 34,7 40,4 43,1 43,1 43,3 LE-3 38,4 41,7 43,6 45,1 47,8 48,4 48,4 48,6 49,4 LE-4 37,5 41,0 42,2 43,8 46,7 48,0 48,2 48,2 49,4 LE-5 40,7 43,4 46,0 46,6 48,5 49,1 49,2 49,3 49,7 LV-1 39,2 42,7 44,9 46,3 47,5 49,0 49,1 49,2 49,6 LVm-3 18,5 19,2 20,8 23,9 26,9 32,4 35,7 40,7 42,0 Média 32,5 34,9 37,1 38,5 41,1 43,7 44,9 45,7 46,3 Com calagem AQ 12,9 15,9 16,3 19,2 26,4 29,2 32,1 35,2 36,0 LE-1 42,7 45,1 47,1 47,4 48,9 49,2 49,2 49,4 49,8 LE-2 43,1 45,8 47,1 47,9 49,0 49,4 49,6 49,7 49,8 LVm-1 23,9 26,0 30,2 30,7 35,8 40,9 43,0 44,7 44,7 LVm-2 22,5 22,5 27,9 27,9 33,2 38,9 40,6 41,7 42,4 LE-3 37,5 39,4 42,8 44,2 46,7 48,3 48,5 48,4 49,3 LE-4 34,9 38,1 39,7 41,4 44,9 46,2 47,0 47,2 49,0 LE-5 38,2 41,5 44,1 45,2 47,8 48,5 48,7 48,9 49,6 LV-1 38,1 41,4 43,4 45,2 47,3 48,2 48,5 48,7 49,4 LVm-3 19,4 20,2 21,4 24,3 27,1 32,4 36,6 41,4 42,2 Média 31,3 33,6 36,0 37,3 40,7 43,1 44,4 45,5 46,2 solos. O P em solução de CaCl2 0,01mol L-1 foi determinado depois de 1, 3, 6, 12, 24, 72, 144, 288, 576 e 1.152 h de equilíbrio com as amostras dos solos, numa relação solo:solução de 1:10 (Quadro 9). A equação, x/m = kC o t1/n (Kuo & Lotse, 1974a), na sua forma linear, log x/m = log kC o + 1/n log t, foi ajustada aos resultados (x/m é P adsorvido pelo solo em mg kg-1, k e 1/n são constantes, C0 é a concentração inicial de P, correspondente à CMAP de cada solo, t é o tempo de equilíbrio, em hora). Determinou-se o tempo requerido para que o P correspondente à metade da CMAP fosse adsorvido (t1/2CMAP) (Quadro 10). O valor de t1/2CMAP correlacionou-se negativa e significativamente com o FCP e medidas com ele relacionadas, como CMAP e constante k, de Freundlich (Quadro 11), indicando que solos com maior poder de adsorção de P adsorvem uma fração de sua CMAP mais depressa que &% R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS Fonte: Novais (1977). *, **, ns significativos a 5 e 1% e não-significativo, respectivamente. (1) FCP é o fator capacidade de P do solo, em mol P x 10-8/g solo/unidade de potencial de fosfato. Quadro 11. Coeficiente de correlação linear simples entre as constante da equação de cinética de adsorção de P por amostra de solo, tempo necessário para que metade do P adicionado (CMAP) a cada solo seja adsorvida (t½ CMAP) e características dos solos Fonte: Novais (1977). *** significativo a 0,1%. Quadro 10. Forma linear da equação de cinética de adsorção de P (mg kg-1), constantes k e 1/n dessa equação e tempo (h) necessário para que metade do P adicionado (CMAP) a cada solo seja adsorvida (t1/2CMAP) S olo E quação R 2 k 1 /n t½ C MAP (h) G eogeville log x/m = 1,578 + 0,109 log t 0 ,969*** 0 ,478 0 ,109 1 ,5 G oldsboro log x/m = 0,917 + 0,166 log t 0 ,985*** 0 ,257 0 ,166 54,5 W agram log x/m = 0,716 + 0,202 log t 0 ,988*** 0 ,209 0 ,202 75,2 P ortsm outh log x/m = 1,270 + 0,179 log t 0 ,949*** 0 ,290 0 ,179 21,0 N orfo lk log x/m = 0,285 + 0,181 log t 0 ,976*** 0 ,212 0 ,181 113,0 Característica (1) k (cinética) 1/n (cinética) t½CMAP FCP 0,942* -0,820ns -0,892* CMAP - Langm uir (mg g -1) 0,879* -0,726ns -0,979** "energia de ligação" - Langmuir 0,939* -0,866ns -0,713ns Constante k - Freundlich 0,955* -0,823ns -0,925* Argila (% ) 0,988** -0,944* -0,750ns Constante k - Equação de c inét ica - -0,953* -0,830ns Constante 1/n - Equação de c inética -0,953* - 0,684ns Quadro 9. Concentração inicial de P colocada em equilíbrio com amostras dos solos, correspondente à CMAP, e P adsorvido após diferentes períodos de tempo de equilíbrio Fonte: Novais (1977). (1) Alguns tempos de equilíbrio do trabalho original foram omitidos. P adsorvido após diferentes tempos de equilíbrio(1) Solo Concentração inicial 1h 6h 24h 72h 288h 1.152h mg L-1 ___________________________________________ mg kg-1 __________________________________________ Georgeville 79,3 40,0 46,0 52,3 64,4 71,9 78,2 Goldsboro 32,1 8,7 10,8 14,1 17,9 21,5 25,2 W agram 24,9 5,5 7,4 9,9 13,2 17,0 20,1 Portsmouth 64,3 18,8 25,5 33,9 46,8 54,4 56,1 Norfolk 9,1 2,2 2,5 3,5 4,2 5,2 6,9 aqueles com menor poder de adsorção. É possível estimar as constantes k do modelo cinético adotado a partir da constante k, de Freundlich (Quadro 11). Todavia, a constante 1/n, como acontece com a constante n, de Freundlich (Quadro 7), não é tão relacionada com medidas do FCP. ���"�# ��( � ���G46� ���������G46��G46� �������������������� &' R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS ���������� Quando se compara o comportamento do fósforo ao do nitrogênio no sistema solo-planta-atmosfera, alguns contrastes são evidentes. O coeficiente de difusão (D) de P no solo tem uma grandeza de 10-11 cm2 s-1 (Cap. 9. Difusão), ao passo que os de NO3 - e NH4 + apresentam valores da ordem de 10-6 e 10-7 cm2 s-1, respectivamente (Barber, 1974). Como conseqüência, há dois extremos de mobilidade no solo: o P muito pouco móvel, não lixiviável em condições normais, ao passo que as formas de N, particularmente a nítrica, são muito móveis e, por conseguinte, lixiviáveis. Esta é uma primeira aproximação para compreender a presença de residual para a fertilização fosfatada e sua “ausência” para a nitrogenada. Enquanto a perda de N, pela queima da biomassa, de uma pastagem abandonada da Amazônia foi de 132 kg ha-1, a de P foi apenas de 2 kg ha-1 (McKerrow, 1992). A quantidade de N imobilizada na biomassa de uma floresta de eucalipto é da ordem de 200 kg ha-1 e a de P é, aproximadamente, 10 vezes menor (Barros et al., 1990). Relações semelhantes ocorrem em outras espécies. Para compreender esse número, basta verificar que uma planta em condições adequadas de crescimento deve ter uma concentração aproximada de 2,0 g kg-1 de P (0,2%) na matéria seca; para N, esse valor é da ordem de 20,0 g kg-1. Quando é comparada a presença de N à de P na atmosfera, chega-se ao extremo de presença de N como elemento dominante e virtual ausência de P. A pequena participação quantitativa de P no sistema solo-planta- atmosfera, ao contrário de N, está de alguma maneira, por alguma razão, ligada a mecanismos restritivos à sua presença em formas menos estáveis, como P-solução, condição para perdas. E, à medida que o sistema se torna mais pobre em P, como nos solos tropicais mais intemperizados, essa restrição torna-se maior. Há uma aparente economia crescente, imposta por uma pobreza também crescente, fazendo com que as plantas otimizem essa carência imposta pelo intemperismo, que continua (Cap. 11. Fósforo na Planta). Boa parte do P adicionado aos solos é retida com uma energia tal que seu equilíbrio com o P-solução desaparece, deixando, portanto, de ser útil ao crescimento imediato da planta. Essa forma de P não-lábil deve ser quantificada, compreendida, e idealmente controlada, para otimizar a fertilização fosfatada como fator de crescimento de plantas, particularmente para os solos mais intemperizados (Figura 1). Capítulo 5 - TRANSFORMAÇÃO DE FÓSFORO LÁBIL EM NÃO-LÁBIL �&( FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS O P-lábil (Q) encontra-se em equilíbrio com o P-solução, ou fator intensidade (I), como em um sistema de vasos comunicantes, interligados por uma tubulação com diâmetro variável, representando o também variável fator capacidade de P (FCP), entre solos. Nesse esquema (Figura 1), Q supre o P não-lábil (NQ) (sistema passivo), mas não o contrário. A solução que o esquema sugere para NQ suprir Q é bombear NQ para o compartimento Q (sistema ativo, com demanda de energia). Algumas práticas, como a diminuição do potencial redox e a adição, ou acúmulo, de matéria orgânica ao solo, sugerem demanda de energia para que esse sistema se torne reversível, pelo menos parcialmente (Sah & Mikkelsen, 1989; Sah et al., 1989a,b). Este capítulo procura trazer alguma informação sobre a forma de P não-lábil em solos. G46��4���� �� G46��G46��� �����: �� A retenção de fósforo pelo solo, ou adsorção, como denominada, de maneira genérica, neste trabalho, apresenta como maior vantagem a quase total ausência de lixiviação de P e, como conseqüência, o acúmulo (residual) desse elemento ao longo dos cultivos. Quando se aplica uma fonte solúvel de P num solo, freqüentemente mais de 90% do aplicado é adsorvido na primeira hora de contato com o Figura 1. Representação esquemática da interdependência das formas de P não-lábil (NQ), P-lábil (Q), P-solução (I) e fator capacidade (Q/I) do solo. (Q/I) IQ NQ ? φ &) R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS solo (Loganathan & Fernando, 1980; Singh et al., 1983b; Gonçalves et al., 1985). Essa primeira fase de rápida adsorção é seguida de uma fase bem lenta, representada pelos modelos exponenciais (Barrow, 1974). Essa adsorção de P pelo solo apresenta um componenteadicional à simples formação de P-lábil (Q), que é a formação de P não-lábil (NQ). O NQ é a quantidade de P fixado(1) no solo que não se encontra em equilíbrio com o P em solução, pelo menos em curto prazo. Essa falta de equilíbrio inviabiliza ou dificulta à planta ter acesso ao P dessa forma, uma vez que o P-solução absorvido pela planta não será reposto pelo NQ, mas, sim, pelo Q. Aparentemente, entre os mecanismos mais prováveis de formação de P não-lábil, a partir de uma fonte solúvel aplicada no solo, está a ocorrência de duas ligações coordenadas com a superfície adsorvente. Essas duas ligações, ao contrário de uma única, não permitiriam a dessorção do P (Kafkafi et al., 1967; Parfitt, 1978). O modelo de formação de P não-lábil é semelhante ao da adsorção de uma fonte solúvel aplicada no solo: rápido inicialmente (horas ou dias), com fase lenta (meses) posterior, com a conformação de uma exponencial assintótica ao eixo da variável tempo. Esse modelo foi utilizado por Barrow (1974) e, mais recentemente, por Gonçalves et al. (1989). Devine et al. (1968) verificaram que, um ano após a aplicação de superfosfato simples em quatro solos, 58% do P aplicado encontrava-se disponível, 38% depois de dois anos e 20% depois de três anos. Em trabalho semelhante, Williams & Reith (1971) encontraram de 20 a 28% disponível depois de um ano de contato do P aplicado no solo, e apenas de 2,7 a 4,2%, depois de 6-8 anos. Para 160 kg ha-1 de P2O5, aplicados a lanço e incorporados em um Latossolo Vermelho-Escuro de cerrado, somente depois de dez colheitas de milho não mais se observou resposta ao P aplicado inicialmente. Durante essas dez colheitas, 56% do P aplicado foi recuperado (Lobato, 1982). Essa elevada recuperação de P, no solo utilizado, parece ser, em parte, explicada pela baixa produtividade obtida ao longo dos cultivos (28%), em relação ao melhor tratamento, constituído pela aplicação de 1.960 kg ha-1 de P2O5, a lanço, ou de 1.280 kg ha-1, subdivididos em quatro aplicações. Para o tratamento de 160 kg ha-1 de P2O5, a décima colheita foi apenas de 350 kg ha-1 de grãos de milho, o que faz com que a recuperação de P tenha sentido pouco prático. A grandeza da maior dose necessária a uma produtividade média de 6.164 kg ha-1 de grãos por colheita revela que a (1) O termo “fixação” é adequadamente utilizado com o sentido de “retenção” do fósforo pelo solo de forma não-reversível ou não-lábil (Van Der Zee et al., 1987; Hsu, 1989). Capítulo 5 - TRANSFORMAÇÃO DE FÓSFORO LÁBIL EM NÃO-LÁBIL �&- FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS dificuldade de suprir P para as culturas, em níveis mais econômicos, nesses solos com maior FCP, não está ainda adequadamente solucionada. Para nossas condições, estudos desse tipo ainda são escassos. Em trabalho mais recente, Gonçalves et al. (1989) aplicaram, em amostras de cinco Latossolos de cerrado, doses crescentes de uma fonte solúvel de P. Incubadas em épocas diferentes (300, 240, 180, 120, 60, 30, 15 e 0 dias), completaram todos os períodos de incubação num mesmo dia quando os solos foram amostrados, o P-extraível foi avaliado por diferentes procedimentos e cultivados com sorgo. Apresenta-se o efeito do tempo sobre a diminuição do P-extraível e sobre o crescimento das plantas, para um dos solos, o LV-1, com 55% de argila e capacidade máxima de adsorção (CMAP) de 0,980 mg g-1 de P no solo (Quadro 1). Esse efeito do tempo sobre o P- extraível foi avaliado pelo ajuste da equação de Barrow (1974): Ct = Co (Kt/b)-b (Eq.1) em que Ct é o P recuperado pelos extratores nos diferentes tempos de incubação, em mg kg-1; C o , o P recuperado no tempo zero de incubação, na mesma unidade; K, a taxa de transformação de P-lábil em não-lábil, em dia-1; t, o tempo de incubação, em dia; b, uma constante adimensional. O decréscimo da capacidade de recuperação do P aplicado com o tempo, pelos extratores, foi obtido pela derivada primeira dessa equação: ∂∂∂∂∂Ct/∂∂∂∂∂t = (Cobk-bt-b-1)/b-b (Eq.2) Também, como exemplo, são apresentadas as derivadas dessa equação apenas para o solo LV-1, para os extratores Mehlich-1 e Resina de Troca Aniônica (RA), para os três tempos iniciais e para o final e para duas doses de P (Quadro 2). Os maiores decréscimos do P-extraível com o tempo (∂∂∂∂∂Ct/∂∂∂∂∂t negativa) ocorreram com a maior dose de P aplicada (450, comparativamente à dose de 150 mg kg-1 de P no solo). Observa-se que a RA, com 0,04 dia de equilíbrio (1h), extraiu P numa taxa de 128,2 mg kg-1 dia-1, para a dose de 150 mg kg-1; esse valor caiu para aproximadamente 0,13 com 15 dias e para 0,004 mg kg-1 dia-1 com 300 dias de incubação. Admitindo ser o P extraído pela RA uma medida adequada do P-lábil, cerca de 79 a 95% dos 150 mg kg-1 de P aplicados nos diferentes solos estudados transformaram-se em P não-lábil no final de 300 dias. Verificou-se que o decréscimo do P-extraível, com o tempo, medido pelos valores de ∂∂∂∂∂Ct/∂∂∂∂∂t, foi significativamente alterado pela capacidade máxima de adsorção de P (CMAP) (Quadro 3); com o aumento da CMAP, a conversão de P-lábil em &* R.F. NOVAIS & T.J. SMYTH FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS não-lábil aumentou (correlação negativa porque os valores da diferencial foram negativos). Como estudos de cinética de adsorção de P em solos têm essa primeira fase rápida definida em horas (Reis et al., 1995), sendo positivamente correlacionada com a CMAP (Gonçalves et al., 1985) e com a transformação de P-lábil em não-lábil, com uma primeira fase definida em dias e, igualmente, dependente da CMAP, pode-se pressupor que a formação de P não-lábil envolva mecanismos adicionais à primeira fase de formação do P-lábil, como num processo de “envelhecimento”. Não seriam, assim, mecanismos paralelos, mas em fase. Há, portanto, uma primeira fase rápida, caracterizada por uma atração eletrostática (física). E, com a aproximação do P à superfície adsorvente, há troca de ligantes (OH- por H2PO4-, por exemplo), com a formação de ligações coordenadas simples, como componente externo da estrutura do oxidróxido (Figura 2). Essa fase, mais rápida, é seguida de outra, mais lenta. É provável que a formação de uma ligação adicional à primeira (Parfitt, 1978) seja dependente do tempo Quadro 1. Fósforo recuperado pelos extratores Mehlich-1 e Resina, e produção de matéria seca da parte aérea de plantas de sorgo, com diferentes tempos de incubação(1) de doses de fósforo aplicadas em um dos solos utilizados (LV-1) Fonte: Gonçalves et al. (1989). (1) Não são apresentados os resultados correspondentes aos tempos de 60, 120, 180 e 240 dias, constantes do trabalho original. Tempo de incubação (dia) Dose de P 0 15 30 300 mg kg-1 ____________________________________ Mehlich-1 (mg kg-1) ____________________________________ 0 0,2 0,4 0,4 0,5 50 2,3 1,4 1,6 1,5 150 12,7 5,0 5,1 4,4 450 81,5 26,5 26,4 14,9 _______________________________________ Resina (mg kg-1) _______________________________________ 0 5,7 5,2 4,2 0,9 50 27,0 5,6 7,5 0,9 150 44,3 21,1 18,6 2,9 450 155,4 54,7 50,1 33,0 __________________________________ Matéria seca (g/vaso) __________________________________ 0 0,67 0,63 0,87 0,64 50 1,56 1,02 0,89 0,48 150 9,10 4,59 4,53 1,99 450 13,44 9,59 11,85 8,36 Capítulo 5 - TRANSFORMAÇÃO DE FÓSFORO LÁBIL EM NÃO-LÁBIL �&+ FÓSFORO EM SOLO E PLANTA EM CONDIÇÕES TROPICAIS (Figura 2). Essa fase mais lenta de adsorção de P pelo solo é, também, segundo Barrow (1983, 1985), caracterizada pela penetração (difusão) do fosfato nas imperfeições dos cristais (difusão em fase sólida, segundo esse autor) ou entre os microcristais, tornando-se cada vez menor seu equilíbrio com o P-solução e, por conseguinte, a disponibilidade para as plantas (Cap. 4. Adsorção de Fósforo no Solo). A correlação entre o P-extraível do solo em determinado tempo de equilíbrio (∂∂∂∂∂Ct/∂∂∂∂∂t, Quadro 2) e a CMAP
Compartilhar