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Apostila Prof. Rômulo 16

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1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE DIREITO 
 
 
DIREITO AGRÁRIO – 3º PERÍODO 
 
 
 
 
 
 
 
PROF. RÔMULO MENEZES 
 
2016 
 
 
 2 
1. Breve Histórico do Direito Agrário no Brasil: 
 
 - As origens do Direito Agrário remontam aos primórdios da civilização 
(Cód. de Hamurabi e Lei das XII Tábuas). 
 
 - Tratado de Tordesilhas (07/06/1494): Portugal adquiriu o domínio 
sobre as terras encontradas à direita da linha imaginária do pólo ártico ao 
pólo antártico, distante 370 léguas das Ilhas de Cabo Verde (direito de 
propriedade decorreu do Tratado). 
 
 1.1 Regime Sesmarial (1531 a 17/07/1822): 
 - Em Portugal o regime sesmarial era utilizado para corrigir distorções 
detectadas no uso de terras rurais (ociosidade, êxodo rural e falta de 
alimentos): confisco e redistribuição, PRODUÇÃO DE ALIMENTOS, 
COMBATER A CRISE AGRÍCOLA QUE ATINGIA PORTUGAL E TODA A EUROPA, 
ALIADA A PESTE NEGRA, E EM PORTUGAL A ORIGEM DATA EM 1375. No 
Brasil apenas o domínio útil era transmitido (similitude com a enfiteuse). 
 
 - 1531: Martim Afonso de Souza – missão: distribuir as terras 
descobertas para fins de colonização (defesa do território contra invasões 
estrangeiras). Grandes quantidades de terras entregues a um pequeno 
número de pessoas. 
 
 - Obrigações impostas ao sesmeiro (cláusulas resolutivas): 
colonizar a terra, ter nela sua morada habitual e cultura permanente, 
demarcar os limites, pagar os tributos, A) EXPLORAR E AUFERIR LUCRO 
DESSA EXPLORAÇÃO B) PROTEGER AS TERRAS CONTRA POSSÍVEIS 
INVASÕES. Instituto do comisso: se não cumprisse as obrigações, caía em 
comisso e as terras voltavam ao patrimônio da Coroa. Era transmissível por 
herança (causa mortis). MAS TAMBÉM HAVIAM DIREITOS: LEGAR AS 
TERRAS AOS SEUS HERDEIROS; B) REDISTRIBUIR PARCELAS DE TERRAS 
DE SUA CAPITANIA. 
 
 - Influenciou o processo de formação de latifúndios e minifúndios 
(trabalhadores que ocupavam as sobras de sesmarias não aproveitadas ou 
áreas não concedidas – abastecimento interno - posseiros). 
 
 1.2 Período “Extra legal” ou “das posses” (de 17/07/1822 a 
18/09/1850): 
 
 - Período sem qualquer lei disciplinando a aquisição de terras (nem a 
Constituição de 1824 trouxe regulamentação a respeito – Resolução do 
Príncipe Regente de 07/07/1822: “conceda-se as terras requeridas e 
suspenda-se a concessão de novas sesmarias até a assembléia 
constituinte”). 
 
 3 
- Situações verificadas: a) proprietários legítimos, por títulos de 
sesmarias concedidas e confirmadas, com todas as obrigações adimplidas 
pelos sesmeiros; b) possuidores de terras originárias de sesmarias, mas sem 
conformação por inadimplência das obrigações assumidas pelos sesmeiros; 
c) possuidores sem nenhum título hábil subjacente; e d) terras devolutas: 
aquelas dadas em sesmarias que foram devolvidas porque os sesmeiros 
caíram em comisso. 
 
- Ocupação desordenada do território (pequenas e grandes áreas). 
Império da força. 
 
 1.3 Período de institucionalização do direito agrário (de 
18/09/1850 em diante): 
 
 a) Lei de Terras de 1850 (Lei nº 601 de 18/09/1850) (tentativa 
de converter as situações fáticas em jurídicas): 
- objetivos: a) proibir a investidura de qualquer súdito, ou 
estrangeiro, no domínio de terras devolutas, excetuando-se os casos 
de compra e venda; b) outorgar títulos de domínio aos detentores de 
sesmarias confirmadas; c) outorgar títulos de domínio a portadores de 
quaisquer outros tipos de concessões de terras feitas na forma da lei 
então em vigor uma vez comprovado o cumprimento das obrigações 
assumidas nos respectivos instrumentos; e d) assegurar a aquisição do 
domínio de terras devolutas através da legitimação de posse, desde 
que fosse mansa e pacífica, anterior e até a vigência da lei. Foi 
regulamentada pelo Decreto nº 1.318 em 30/01/1854. 
 
- Registro Paroquial ou do Vigário (art. 97 do Decreto nº 
1.318/1854): 
 
Art. 97. Os Vigários de cada uma das Freguesias do Império 
são os encarregados de receber as declarações para o registro 
das terras, e os incumbidos de proceder a esse registro dentro 
de suas Freguesias, fazendo-o por si, ou por escreventes, que 
poderão nomear, o Ter sob sua responsabilidade 
 
 - problemas: insuficiência de pessoal habilitado para o 
desempenho dos ofícios de juiz comissário e inspetor de medição de 
terras vagas; barreiras institucionais e geográficas. 
 
 - destaques: legitimação de posse; proteção aos silvícolas; 
limitações ao acesso de estrangeiros; proteção às terras situadas na 
faixa de fronteira. 
 
 4 
 - impediu o acesso à terra aos negros e aos pobres, pois obrigou 
que a terras públicas, após a data da edição da Lei, somente 
poderiam ser vendidas. 
 
 b) Constituição Republicana de 1891: transferiu (art. 64) aos 
Estados as terras devolutas, ficando reservadas à União apenas as áreas 
destinadas à defesa das fronteiras, fortificações, construções militares e 
estradas de ferro, e terrenos de marinha. 
 
Art. 64. Pertencem aos Estados as minas e terras devolutas 
situadas nos seus respectivos territórios, cabendo à União 
somente a porção do território que for indispensável para a 
defesa das fronteiras, fortificações, construções militares e 
estradas de ferro federais. 
Parágrafo único. Os próprios nacionais, que não forem 
necessários para o serviço da União, passarão ao domínio dos 
Estados, em cujo território estiverem situados. 
Art. 72. § 17. O direito de propriedade mantém-se em toda a 
sua plenitude, salva a desapropriação por necessidade ou 
utilidade pública, mediante indenização prévia. 
As minas pertencem aos proprietários do solo, salvas as 
limitações que forem estabelecidas por lei a bem da exploração 
deste ramo de indústria. 
 
 c) Código Civil de 1916: disciplinou vários institutos (como a posse, 
por exemplo), mas com uma visão muito individualista. Posse agrária X 
posse civil. 
 
DIFERENÇAS ENTRE POSSE AGRÁRIA E POSSE CIVIL 
 
POSSE AGRÁRIA POSSE CIVIL 
Verifica-se somente em imóveis 
públicos rurais 
Verifica-se somente em terras particulares (rurais 
e urbanas) 
É imprescindível que seja legítima Pode ser legítima ou ilegítima 
Deve ser exercida diretamente pelo 
posseiro e seus familiares 
Pode ser exercida por interposta pessoa 
Sua transformação em domínio visa o 
atendimento de um interesse social 
Sua transformação em domínio visa o 
atendimento de um interesse individual 
Transforma-se em domínio através da 
legitimação de posse 
Transforma-se em domínio através do usucapião 
 
Art. 593 – CC/16: disciplinava sobre a ocupação de enxames de abelhas, 
temos a regra: “são coisas sem dono e sujeitas à apropriação: (...) III – Os 
enxames de abelhas, anteriormente apropriadas, se o dono da colmeia, a 
que pertenciam, os não reclamar imediatamente”. 
 5 
Arts. 683, 685, 681 e 692 – CC/16: (Fontes legais do Direito Agrário 
Brasileiro) 
Enfiteuse: recaía sobre terras não cultivadas e que se destinam ao cultivo 
agrícola, podendo ser objeto de contratos agrários. 
 
 O enfiteuta não podia vender o domínio útil sem prévio aviso ao 
senhorio; caso o fizesse, poderia este usar de seu direito de preferência (CC, 
art.683). Já se dispunha que “o enfiteuta que sem acordo do senhorio vende 
uma parte do prazo incorre em comisso”. (OPITZ apud LAFAYETTE) 
 
 Os bens enfitêuticos transmitiam-se por herança, mas podiam ser 
divididos em glebas sem consentimento do senhorio (CC, art. 681). “Por 
morte do enfiteuta passa o prazo aos seus herdeiros, os quais ficam 
possuindo indiviso até que se faça a partilha”. (OPITZ apud LAFAYETTE) 
 
 A CF/88 extinguiu a enfiteuse rural. 
 
 
 d) Constituição Federal de 1934: 
 
Art. 113. 17) É garantido odireito de propriedade, que não 
poderá ser exercido contra o interesse social ou coletivo, na 
forma que a lei determinar. A desapropriação por necessidade 
ou utilidade pública far-se-á nos termos da lei, mediante prévia 
e justa indenização. Em caso de perigo iminente, como guerra 
ou comoção intestina, poderão as autoridades competentes 
usar da propriedade particular até onde o bem público o exija, 
ressalvado o direito à indenização ulterior. 
Art. 1251. Todo brasileiro que, não sendo proprietário rural ou 
urbano, ocupar, por dez anos contínuos, sem oposição nem 
reconhecimento de domínio alheio, um trecho de terra até dez 
hectares, tornando-o produtivo por seu trabalho e tendo nele a 
sua morada, adquirirá o domínio do solo, mediante sentença 
declaratória devidamente transcrita. 
Art. 129. Será respeitada a posse de terras de silvícolas que 
nelas se achem permanentemente localizados, sendo-lhes, no 
entanto, vedado aliená-las. 
Art. 130. Nenhuma concessão de terras de superfície, superior 
a dez mil hectares, poderá ser feita sem que, para cada caso, 
preceda autorização do Senado Federal. 
Art. 166. Dentro de uma faixa de cem quilômetros ao longo das 
fronteiras, nenhuma concessão de terras ou de vias de 
comunicação e a abertura destas se efetuarão sem audiência 
do Conselho Superior da Segurança Nacional, estabelecendo 
 
1 Usucapião pro labore 
 6 
este o predomínio de capitais e trabalhadores nacionais e 
determinando as ligações interiores necessárias à defesa das 
zonas servidas pelas estradas de penetração. 
§ 3º O Poder Executivo, tendo em vista as necessidades de 
ordem sanitária, aduaneira e da defesa nacional, 
regulamentará a utilização das terras públicas, em região de 
fronteira, pela União e pelos Estados, ficando subordinada à 
aprovação do Poder Legislativo a sua alienação. 
 
e) Constituição de 1937: 
 
Art. 122. 14) O direito de propriedade, salvo a desapropriação 
por necessidade ou utilidade pública, mediante indenização 
prévia. O seu conteúdo e os seus limites serão os definidos nas 
leis que lhe regularem o exercício. 
Art. 148. Todo brasileiro que, não sendo proprietário rural ou 
urbano, ocupar, por dez anos contínuos, sem oposição nem 
reconhecimento de domínio alheio, um trecho de terra até dez 
hectares, tornando-o produtivo com o seu trabalho e tendo 
nele a sua morada, adquirirá o domínio, mediante sentença 
declaratória devidamente transcrita. 
Art. 155. Nenhuma concessão de terras, de área superior a dez 
mil hectares, poderá ser feita sem que, em cada caso, preceda 
autorização do Conselho Federal. 
Art. 165. Dentro de uma faixa de cento e cinqüenta 
quilômetros ao longo das fronteiras, nenhuma concessão de 
terras ou de vias de comunicação poderá efetivar-se sem 
audiência do Conselho Superior de Segurança Nacional, e a lei 
providenciará para que nas indústrias situadas no interior da 
referida faixa predominem os capitais e trabalhadores de 
origem nacional. 
 
f) Constituição de 1946: 
 
Art. 141 § 16. É garantido o direito de propriedade, salvo o 
caso de desapropriação por necessidade ou utilidade pública, 
ou por interesse social2, mediante prévia e justa indenização 
em dinheiro. Em caso de perigo iminente, como guerra ou 
comoção intestina, as autoridades competentes poderão usar 
da propriedade particular, se assim o exigir o bem público, 
ficando, todavia, assegurado o direito à indenização ulterior. 
Art. 147. O uso da propriedade será condicionado ao bem-estar 
social. A lei poderá, com observância do disposto no art. 141, § 
 
2 Criação da desapropriação por interesse social 
 7 
16, promover a justa distribuição da propriedade, com igual 
oportunidade para todos. 
Art. 156. A lei facilitará a fixação do homem no campo, 
estabelecendo planos de colonização e de aproveitamento das 
terras públicas. Para esse fim, serão preferidos os nacionais e, 
dentre eles, os habitantes das zonas empobrecidas e os 
desempregados. 
§ 1º Os Estados assegurarão aos posseiros de terras devolutas, 
que nelas tenham morada habitual, preferência para aquisição 
até vinte e cinco hectares. 
§ 2º Sem prévia autorização do Senado Federal, não se fará 
qualquer alienação ou concessão de terras públicas com área 
superior a dez mil hectares. 
§ 3º Todo aquele que, não sendo proprietário rural nem 
urbano, ocupar, por dez anos ininterruptos, sem oposição nem 
reconhecimento de domínio alheio, trecho de terra não superior 
a vinte e cinco hectares, tornando-o produtivo por seu trabalho 
e tendo nele sua morada, adquirir-lhe-á a propriedade, 
mediante sentença declaratória devidamente transcrita. 
Art. 180. Nas zonas indispensáveis à defesa do País, não se 
permitirá, sem prévio assentimento do Conselho de Segurança 
Nacional: 
I – qualquer ato referente à concessão de terras, a abertura de 
vias de comunicação e a instalação de meios de transmissão; 
§ 1º A lei especificará as zonas indispensáveis à defesa 
nacional, regulará a sua utilização e assegurará, nas indústrias 
nelas situadas, predominância de capitais e trabalhadores 
brasileiros. 
 
g) Emenda Constitucional nº 10 de 10/11/1964: 
 
Art. 1º A letra a do nº XV do art. 5º da Constituição Federal 
passa a vigorar com a seguinte redação: 
“Art. 5º Compete à União: 
XV – Legislar sobre: 
a) Direito Civil, Comercial, Penal, Processual, Eleitoral, 
Aeronáutico, do 
Trabalho e Agrário”; 
 
 Devido a pressão política, social e econômica, dominante naquela 
época, forçaram a edição de seu aparecimento, até como forma de 
justificação ao movimento armado que eclodira poucos meses antes e que 
teve como estopim o impedimento a um outro movimento que pretendia, 
especificamente no universo fundiário, eliminar a propriedade como direito 
individual. 
 
 8 
 
 
h) Estatuto da Terra (Lei nº 4.504 de 30/11/1964) 
 
 - necessidade do Estado apresentar proposta para a resolução da 
questão agrária (agravada nos anos 60 e 70 – condução da questão 
agrícola, processo de industrialização) 
 
 - marco no regime jurídico brasileiro; consagrou o princípio da função 
social da propriedade rural (primeiro atender às necessidades coletivas e 
só depois satisfazer as do indivíduo proprietário); traçou a disciplina das 
relações jurídicas agrárias. 
 
 No campo específico do direito agrário, tem-se a função social da 
propriedade quando ela produz, respeita a ecologia e as regras inerentes às 
relações de trabalho. 
 
 - Carlos Marés: "No Brasil, o Estatuto da Terra de 1964 seguiu a tradição 
dos sistemas anteriores de permitir um discurso reformista ao Governo mas 
impedir, de fato, uma quebra da tradição latifundiária da ocupação territorial. É 
verdade que modernizou os termos, humanizou os contratos, impediu velhas 
práticas semifeudais e pós-escravistas, mas na essência manteve intacta a 
ideologia da supremacia da propriedade privada sobre qualquer benefício social". 
 
O E.T. foi o segundo passo para a proteção do agricultor e do 
trabalhador rural, porque este já recebera o amparo devido com a Lei nº 
4.214/63, que estabelecera o Estatuto do Trabalhador Rural (posteriormente 
regulado pela Lei 5.889/73). 
 
Nosso E.T., combinado com o Trabalhador Rural, pode ser equiparado 
nas suas linhas gerais ao “Trade Board Act” (Ato da Junta Comercial), de 
1909, do Reino Unido. 
 
 1.4 Marcos do Direito Agrário Brasileiro: Lei de Terras (Lei nº 
601/1850); EC 10/64 e Estatuto da Terra. 
 
 E.T. – Procura desmembrar a grande propriedade do solo, na época, 
monopolizada por uma minoria, adotando a divisão prevista no art. 4º, mas 
sem esquecer a proteção social e econômica devida aos arrendatários 
cultivadoresdiretos e pessoais da terra. 
 
 
 -Fixação do preço do arrendamento/parceria 
 -Segurança posse do imóvel 
+Prazos das notificações 
 9 
Cópia da Lei Inglesa +Direito de preferência 
 +Indenização das benfeitorias 
 
 
2. Autonomia do Direito Agrário: 
 
 2.1 Autonomia legislativa: Emenda Constitucional nº 10 de 
10/11/1964 (art. 5º, XV, “a”: compete à União legislar sobre direito 
agrário); Estatuto da Terra (Lei nº 4.504, de 30/11/1964). 
 
 2.2 Autonomia científica: existência de princípios e normas 
próprias; objeto particularizado (atividade agrária). 
 
 2.3 Autonomia didática: disciplina em cursos de graduação e pós-
graduação. 
 
 2.4 Autonomia jurisdicional: agraristas defendem a implantação da 
Justiça Agrária; a CF/88 refere-se ao tema no art. 126: 
 
Art. 126. Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça 
proporá a criação de varas especializadas, com competência 
exclusiva para questões agrárias. (Redação dada pela Emenda 
Constitucional nº 45, de 2004) 
Parágrafo único. Sempre que necessário à eficiente prestação 
jurisdicional, o juiz far-se-á presente no local do litígio. 
 
3. Conceito de Direito Agrário: 
 
3.1 Denominação: A denominação mais utilizada é direito agrário 
(direito rural, direito da reforma agrária, direito da agricultura, direito 
agrícola). A EC nº 10 de 10/11/1964 adotou a terminologia “direito agrário”, 
o que foi mantido na CF/88 (art. 22, I). 
 
 3.2 Conceitos da doutrina: Todos os conceitos convergem para um 
denominador comum: ou falam dos princípios ou da atividade agrária 
(objeto); a função social da propriedade também é a grande fundamentação 
dos principais conceitos de direito agrário. (Homem, terra, produção, 
sociedade, dignidade da pessoa humana, solidariedade). 
 
 - Fernando Pereira Sodero: “é o conjunto de princípios e normas, de 
direito público e de direito privado, que visa disciplinar as relações 
emergentes da atividade rural, com base na função social da terra”. 
 
 - Paulo Torminn Borges: “é o conjunto sistemático de normas jurídicas 
que visam disciplinar as relações do homem com a terra, tendo em vista o 
 10 
progresso social e econômico do rurícola e o enriquecimento da 
comunidade”. 
 
 - Octávio Mello Alvarenga: “é o ramo da ciência jurídica, composto de 
normas imperativas e supletivas, que rege as relações emergentes da 
atividade do homem sobre a terra, observados os princípios de 
produtividade e justiça social”. 
 
 - Raymundo Laranjeira: “é o conjunto de princípios e normas que, 
visando a imprimir função social à terra, regulam relações afeitas à sua 
pertença e uso e disciplinam a prática das explorações agrárias e da 
conservação dos recursos naturais”. 
 
Logo, o Direito Agrário é o conjunto sistemático de normas 
jurídicas que visam disciplinar as relações do homem com a terra, 
tendo em vista o progresso econômico e social do rurícola e o 
enriquecimento da comunidade. 
 
 
 3.3 Atividades Agrárias (objeto): ação humana orientada no sentido 
da produção agrícola (processo produtivo). Classificação: a) explorações 
rurais típicas (lavoura, pecuária, extrativismo vegetal e animal, 
hotigranjearia); b) exploração rural atípica (agroindústria); c) atividade 
complementar da exploração rural (transporte e comercialização dos 
produtos). 
 
4. Princípios de Direito Agrário: 
 
 4.1: Princípios conforme Benedito Ferreira Marques: 
a) monopólio legislativo da União (art. 22, I, CF); 
b) a utilização da terra se sobrepõe à titulação dominial; 
c) a propriedade da terra é garantida, mas condicionada ao 
cumprimento da função social; 
d) o direito agrário é dicotômico: compreende política de 
reforma (reforma agrária) e política de desenvolvimento (política 
agrícola); 
e) as normas jurídicas primam pela prevalência do interesse 
público sobre o individual; 
f) a reformulação da estrutura fundiária é uma necessidade 
constante; 
g) o fortalecimento do espírito comunitário, através de 
cooperativas e associações; 
h) o combate ao latifúndio, ao minifúndio, ao êxodo rural, à 
exploração predatória e aos mercenários da terra (especulação); 
i) a privatização dos imóveis rurais públicos; 
 11 
j) a proteção à propriedade familiar, à pequena e à média 
propriedade; 
k) o fortalecimento da empresa agrária; 
l) a proteção da propriedade consorcial indígena; 
m) o dimensionamento eficaz das áreas exploráveis; 
n) a proteção do trabalhador rural; e 
o) a conservação e preservação dos recursos naturais e a 
proteção do meio-ambiente. 
 
 BARROS, cita 5 princípios fundamentais do Direito Agrário: 
 
1. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE, 
2. JUSTIÇA SOCIAL, com a criação do direito agrário buscou a justiça 
social no campo criando leis inovadoras que permitissem mudar a 
estrutura injusta existente em que o homem do campo era apenas um 
trabalhador, uma engrenagem. 
3. PREVALÊNCIA DO INTERESSE COLETIVO SOBRE O INDIVIDUAL, 
é a forma intermediária para que se pudesse chegar à justiça social. 
4. REFORMULAÇÃO DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA 
5. PROGRESSO ECONÔMICO E SOCIAL, as mudanças propostas 
também visavam a maior produtividade, não só no contexto individual, 
mas também no aumento da produção primária do País. 
 
 4.2 A Função Social da Propriedade: 
 - primeiro momento da história: desenvolvimento da agricultura e 
domesticação dos animais: propriedade coletiva; 
 - conceito absolutista de propriedade: aquele pelo qual deve ser 
assegurado em toda a sua plenitude, podendo o proprietário usar, gozar e 
dispor da coisa como bem entenda; 
 - socialismo: propunha a abolição da propriedade; 
 - função social da propriedade: mitigação do conceito absolutista, 
não para extinguir o direito, mas para tornar possível a sua sustentação; 
 - as duas primeiras Constituições brasileiras não fizeram menção à 
função social da propriedade: caráter absolutista; 
 - Constituição de 1934: subordinação do exercício do direito de 
propriedade ao interesse social ou coletivo; 
 - Constituição de 1937: apesar de não vincular diretamente o exercício 
do direito de propriedade ao interesse social ou coletivo, dispôs que "o seu 
conteúdo e seus limites serão definidos nas leis que regulam o seu 
exercício"; 
 - Constituição de 1946: criação do instituto da desapropriação por 
interesse social; 
- Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964 (Estatuto da Terra): 
instituiu o princípio da função social na legislação brasileira: 
 12 
"Art.2º. É assegurada a todos a oportunidade de 
acesso à propriedade da terra, condicionada pela 
sua função social, na forma prevista nesta Lei. 
§1º A propriedade da terra desempenha 
integralmente a sua função social quando, 
simultaneamente: 
a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos 
trabalhadores que nela labutam, assim como de 
suas famílias; 
b) mantém níveis satisfatórios de produtividade; 
c) assegura a conservação dos recursos naturais; 
d) observa as disposições legais que regulam as 
justas relações de trabalho entre os que a possuem 
e a cultivam." 
- Constituição de 1967: a função social da propriedade alcançou status 
constitucional: 
"Art.157. A ordem econômica tem por fim realizar a 
justiça social, com base nos seguintes princípios: 
(...) 
III - função social da propriedade." 
 - Constituição de 1988: 
Art. 186. A função social é cumprida quando a 
propriedade rural atende, simultaneamente, segundo 
critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos 
seguintes requisitos: 
I - aproveitamento racional e adequado; 
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis 
e preservaçãodo meio ambiente; 
III - observância das disposições que regulam as relações 
de trabalho; 
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos 
proprietários e dos trabalhadores. 
 
 A função social da propriedade sustenta que o direito de propriedade 
está condicionado ao bem-estar social. 
5. Terras Devolutas e Ação Discriminatória: 
 5.1 Terras devolutas: 
- instituto genuinamente brasileiro; origens: terras dadas em 
sesmarias que foram devolvidas porque os sesmeiros caíram em comisso 
(não cumpriram as obrigações); 
 
- Lei nº 601/1850, art. 3º: São terras devolutas: as que não se 
acharem aplicadas a algum uso público nacional, provincial ou municipal; as 
que não se acharem no domínio particular, por qualquer título legítimo, nem 
forem havidas por sesmarias e outras concessões do Governo Geral ou 
Provincial, não incursas em comisso por falta de cumprimento das condições 
 13 
de medição, confirmação e cultura; as que não se acharem dadas por 
sesmarias, ou outras concessões do governo, que, apesar de incursas em 
comisso, forem revalidadas por esta lei; as que não se acharem ocupadas 
por posses, que, apesar de não se fundarem em título geral, forem 
legitimadas por esta lei (definição por exclusão); 
 
- Constituição de 1891 transferiu aos Estados as terras devolutas, 
ficando reservadas à União apenas as áreas destinadas à defesa das 
fronteiras, fortificações, construções militares e estradas de ferro, e terrenos 
de marinha; 
 
- o Decreto-lei nº 2.375/87 trouxe o conceito de não serem 
devolutas as terras que eventualmente tenham sido arrecadadas ou 
discriminadas e matriculadas em nome da União por força do DL nº 1.164 
/71 (faixa de 100 km às margens das rodovias citadas): o STF acolheu esse 
conceito (ACO nº 481-TO e ACO nº477-TO): 
 
“Não são passíveis de enquadramento como terras devolutas, 
para o efeito previsto no caput do artigo 2º do Decreto-Lei nº 
2.375/87, as glebas que tiveram situação jurídica devidamente 
constituída ou em processo de formação. Tal é o caso de imóvel 
matriculado no registro de imóveis em nome da União, ao tempo 
em que ocorre a tramitação de processos objetivando a titulação 
por posseiros via o Instituto Nacional de Colonização e Reforma 
Agrária (INCRA)”. 
 - Constituição Federal de 1988: 
Art. 20. São bens da União: 
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, 
das fortificações e construções militares, das vias federais de 
comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei; 
Art. 188. A destinação de terras públicas e devolutas será 
compatibilizada com a política agrícola e com o plano nacional de 
reforma agrária. 
§ 1º - A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras 
públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares a 
pessoa física ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, 
dependerá de prévia aprovação do Congresso Nacional. 
§ 2º - Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as 
alienações ou as concessões de terras públicas para fins de 
reforma agrária 
Art. 225 § 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou 
arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, 
necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. 
 
 14 
 5.2 Processo Discriminatório: 
 - conceito da Lei nº 601/1850: estremar o domínio público do 
particular; 
 - o INCRA é o representante da União (art. 11 do Estatuto da Terra); 
 - Lei nº 6.383/76: procedimento administrativo e procedimento 
judicial (ação); sentença homologatória serve de título de proprietário para o 
registro imobiliário competente; tem caráter preferencial e prejudicial em 
relação às ações em andamento, que se refiram ao domínio ou à posse de 
imóveis situados no todo ou em parte, na área discriminada. 
 
PROCESSO ADMINISTRATIVO: a Presidência do INCRA cria uma 
Comissão Especial de 3 membros com a finalidade específica de discriminar 
terras devolutas da União. Formada esta, inicia-se o processo administrativo 
propriamente dito, com a apresentação de memorial descritivo da área 
apontada como devoluta, intimando-se os interessados por edital para que 
em 60 dias se manifestem a respeito, abrindo-se lhes prazo de defesa e 
produção de prova. Ausentes de dúvidas, que as terras são efetivamente 
devolutas, o Presidente da Comissão Especial determinará seu registro no 
Registro de Imóveis competente. 
 
PROCESSO JUDICIAL: de discriminação de terras devolutas tem o rito 
sumário do Código de Processo Civil e será proposto na Justiça Federal, 
diante do interesse da União. A petição inicial será instruída com memorial 
descritivo do imóvel; os interessados serão citados e poderão responder e 
produzir provas. A apelação da sentença que discrimina a terra devoluta tem 
apenas efeito devolutivo, o que faculta sua imediata execução, que 
corresponde à demarcação da área. O Ministério Público da União é presença 
obrigatória no processo. 
 
6. Imóvel Rural: 
 
 6.1 Definição: 
 - art. 4º, I do Estatuto da Terra: o prédio rústico, de área 
contínua qualquer que seja a sua localização que se destina à exploração 
extrativa agrícola, pecuária ou agro-industrial, quer através de planos 
públicos de valorização, quer através de iniciativa privada. 
 - art. 4º, I da Lei nº 8.629/93: o prédio rústico de área contínua, 
qualquer que seja a sua localização, que se destine ou possa se destinar à 
exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agro-industrial. 
 
 
Estatuto da Terra (Lei n. 4054/64), art. 4°, inciso I: 
 
“I - "Imóvel Rural", o prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a 
sua localização que se destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou 
 15 
agro-industrial, quer através de planos públicos de valorização, quer através 
de iniciativa privada;” 
Logo, o Estatuto da Terra adotou o critério da DESTINAÇÀO como 
elemento diferenciador entre imóvel rústico e urbano. 
 
O Código Tributário Nacional (Lei n. 5172/66) adotou o critério da 
LOCALIZAÇÃO, no art. 29: 
“Art. 29. O imposto, de competência da União, sobre a propriedade 
territorial rural tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a 
posse de imóvel por natureza, como definido na lei civil, localização 
fora da zona urbana do Município.” 
 
Posteriormente, quanto a matéria legal em plena vigência, a Lei n. 
8.629/93, que veio regulamentar os arts. 184 e 186 da CF/88, trouxe em 
seu art. 4°, inciso I, novamente o critério DESTINAÇÃO DO IMÓVEL: 
 
“I - Imóvel Rural - o prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a 
sua localização, que se destine ou possa se destinar à exploração agrícola, 
pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agro-industrial;” 
 
Não obstante, a Lei. 9.393/96, que atualmente dispõem sobre o ITR também 
utilizou-se do critério LOCALIZAÇÃO DO IMÓVEL, em seu art. 1°: 
 
Art. 1º O Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR, de apuração 
anual, tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de 
imóvel por natureza, localizado fora da zona urbana do município, em 
1º de janeiro de cada ano. 
 
§ 1º O ITR incide inclusive sobre o imóvel declarado de interesse social para 
fins de reforma agrária, enquanto não transferida a propriedade, exceto se 
houver imissão prévia na posse. 
§ 2º Para os efeitos desta Lei, considera-se imóvel rural a área 
contínua, formada de uma ou mais parcelas de terras, localizada na 
zona rural do município. 
§ 3º O imóvel que pertencer a mais de um município deverá ser 
enquadrado no município onde fique a sede do imóvel e, se esta não 
existir, será enquadrado no município onde se localize a maior parte 
do imóvel. 
 
Elementos constitutivos do Imóvel Rural: prédio rústico, área 
contínua e destinação voltada para as atividades agrárias. 
 
Prédio rústico:O prédio rústico é aquela construção que atende às 
necessidades de moradia e exploração econômica do meio rural, repleto de 
benfeitorias para o recolhimento de gado, para estocagem de frutos, cereais, 
etc. 
 16 
 
Área contínua: é a extensão de terra continuamente, ou seja 
ininterruptamente que se dedica à atividade agrária. (Existe a possibilidade 
de intervalos de produção para descanso do solo etc., não desnaturando a 
finalidade da área para a exploração de atividades rurais). 
 
 6.2 Dimensionamento do imóvel rural: 
 
 - Módulo rural: segundo o Estatuto da Terra (art. 4º, II e III) 
era a medida de área fixada para a propriedade familiar; obs.: art. 65: o 
imóvel rural não é divisível em áreas de dimensão inferior à constitutiva do 
módulo de propriedade rural; 
 
O inciso II, do art. 4º, do Estatuto da Terra (Lei 4.504/64), 
define como "Propriedade Familiar" o imóvel rural que, direta e 
pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a 
força de trabalho, garantido-lhes a subsistência e o progresso social e 
econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, 
e eventualmente, trabalhado com a ajuda de terceiros. 
 
O conceito de módulo rural é derivado do conceito de 
propriedade familiar, e, em sendo assim, é uma unidade de medida, 
expressa em hectares, que busca exprimir a interdependência entre a 
dimensão, a situação geográfica dos imóveis rurais e a forma e condições do 
seu aproveitamento econômico. Definir o que seja Propriedade Familiar é 
fundamental para entender o significado de Módulo Rural. 
 
Logo: MÓDULO RURAL = PROPRIEDADE FAMILIAR!!! 
 
Órgão competente para afixar a medida de área: INCRA 
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). 
 
A INDIVISIBILIDADE DO MÓDULO RURAL 
 
Um dos fundamentos básicos para a criação do módulo rural foi 
a necessidade de se estabelecer uma área mínima de terra, onde o homem 
do campo e sua família pudessem trabalhar com perspectiva de progresso 
econômico e social. 
 
Ao estabelecer essa quantidade mínima de terra dentro de sua 
pretensão reformista de desapropriação de áreas, cobranças de tributos, 
também o legislador proibir que, fora de seu campo de atuação, pudessem 
os imóveis sofrer divisões em áreas inferiores a esse mínimo, ou nos 
também chamados minifúndios. 
 
 17 
Art. 65. O imóvel rural não é divisível em áreas de dimensão 
inferior à constitutiva do módulo de propriedade rural. 
§ 1º Em caso de sucessão causa mortis e nas partilhas 
judiciais ou amigáveis, não se poderão dividir imóveis em 
áreas inferiores às da dimensão do módulo de propriedade 
rural. 
§ 2º Os herdeiros ou os legatários, que adquirirem por 
sucessão o domínio de imóveis rurais, não poderão dividi-los 
em outros de dimensão inferior ao módulo de propriedade 
rural. 
 
 Módulo Fiscal (art. 50, §2°, Estatuto da Terra, 
com redação dada pela Lei n. 6746/79) 
 
Conceito: Unidade de medida expressa em hectares, fixada para 
cada município, considerando os seguintes fatores: 
• Tipo de exploração predominante no município; 
• Renda obtida com a exploração predominante; 
• Outras explorações existentes no município que, embora não 
predominantes, sejam significativas em função da renda ou da área 
utilizada; e 
• Conceito de propriedade familiar. 
 
 - Finalidades do Módulo Fiscal: 
• Inicialmente servia como elemento constitutivo para a fixação 
do ITR; 
• Segundo o art. 22, incisos I, II e III, do Decreto n. 84.685/80: 
minifúndio, propriedade familiar, empresa rural, latifúndio por exploração e 
latifúndio por dimensão13; 
• serve de parâmetro para classificação do imóvel rural quanto a 
sua dimensão, definindo os limites para a pequena e média propriedade nos 
termos do art. 4º, incisos II e III da Lei nº 8.629 de 25 de fevereiro de 
1993; 
• delimitação dos beneficiários do Programa Nacional de 
Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF; 
• estabelece os critérios de resgate da dívida agrária pagos como 
indenização das desapropriações por interesse social, de acordo com o art. 
5º, parágrafo 3º, da Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993 e suas 
alterações; 
• base de cálculo para a contribuição do Serviço Nacional de 
Aprendizagem Rural – SENAR. 
O Módulo Fiscal, vigente de cada município, foi fixado pelos 
seguintes atos normativos: Instruções Especiais/INCRA Nº 19/80, 20/80, 
23/82, 27/83, 29/84, 32/85, 33/86 e 37/87; Portaria/MIRAD nº 665/88 e 
33/89; Portaria MA nº 167/89; Instrução Especial/INCRA nº 39/90, Portaria 
Interministerial MEFP/MARA nº 308/91 e nº 404/93; Instrução Especial 
 18 
INCRA nº 51/97, Instrução Especial INCRA Nº 1/2001e Instrução Especial 
INCRA Nº 03/2005. 
 
Diferença entre Módulo Rural e Módulo Fiscal: 
 
Módulo Rural é calculado para cada imóvel rural em separado, e 
sua área reflete o tipo de exploração predominante no imóvel rural, segundo 
sua região de localização. 
 
Módulo Fiscal por sua vez é estabelecido para cada município, e 
procura refletir a área mediana dos Módulos Rurais dos imóveis rurais do 
município. 
 
Fração Mínima de Parcelamento – FMP: 
 
Conceito de Fração Mínima de Parcelamento: 
Área mínima fixada para cada município, que a lei permite 
desmembrar, para constituição de um novo imóvel rural, desde que o imóvel 
original permaneça com área igual ou superior à área mínima fixada (artigo 
8º, da Lei nº 5.868/72). 
A Fração Mínima de Parcelamento do imóvel rural corresponderá 
sempre à menor área entre o módulo rural e a fração mínima do município. 
Quando o módulo rural do imóvel for menor do que a fração mínima do 
município, este imóvel não poderá ser desmembrado. 
 
A Instrução Especial INCRA nº 50/97 que estabelece as novas 
ZTM – Zona Típica de Módulo, estende a FMP – Fração Mínima de 
Parcelamento, prevista para as capitais dos estados aos demais municípios e 
revoga as Portarias MIRAD nº 32/89 e MA nº 168/89. Com a aprovação 
desta Instrução Especial, a FMP do município passou a corresponder ao 
módulo de exploração hortigranjeira da ZTM a que pertence. 
 
 
 6.3 Classificação do imóvel rural: 
 
 - minifúndio: imóvel rural de área e possibilidades inferiores às 
da propriedade familiar; 
 
 - propriedade familiar: art. 4º, II do Estatuto da Terra: o 
imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua 
família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência 
e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região 
e tipo de exploração, e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros; 
conceito era antes vinculado ao módulo rural, mas após a criação da fração 
mínima de parcelamento passou a ser atrelado a ela; 
 
 19 
 - pequena propriedade: art. 4º, II, a, da Lei nº 8.629/93: área 
compreendida entre 1 e 4 módulos fiscais; 
 
 - média propriedade: art. 4º, III, a, da Lei nº 8.629/93: área 
compreendida entre 4 e 15 módulos fiscais; 
 
 - grande propriedade: área compreendida entre 15 e 600 
módulos fiscais; 
 
 - latifúndio: a) por extensão: mais de 600 módulos fiscais 
(Decreto nº 84.658/80 que regulamentou a Lei nº 6.746/79); b) por 
exploração: art. 22, II, b, do Decreto nº 84.658/80: não excedendo o 
limite referido no inciso anterior e tendo dimensão igual ou superior a um 
módulo fiscal, seja mantido inexplorado em relação às possibilidades físicas, 
econômicas e sociais do meio, com fins especulativos, ou seja, deficiente ou 
inadequadamente explorado, de modo a vedar-lhe a inclusão no conceito de 
empresa rural. 
 
 
REFORMA AGRÁRIA 
 
 
 A história da propriedade rural no Brasil pode ter como marco o 
Tratado de Tordesilhas, de 07/06/1494, firmado entre D. João e D.Fernando 
e Isabel, homologado por bula papal, pacificando as rivalidades entre os 
reinos de Portugal e Espanha. 
 
 Com a descoberta do Brasil, Portugal sentiu necessidade de colonizar 
as novas terras, com o claro intuito de fortalecer a segurança do reino, 
incentivar o seu povoamento e aumentar a sua riqueza. Assim foi enviado ao 
nosso País Martin Afonso de Souza, na condição de Governador-Geral, com 
poderes para doar a posse de terras aos que nelas produzissem, sob pena 
de retomada; surgindo dessa forma o donatarialismo. 
 
 Como a mencionada forma de exploração não surtiu efeitos foi 
implantada as capitanias hereditárias, dizendo que estas tentativas pela 
Coroa Portuguesa serem as primeiras formas de reforma agrária. 
 
 Terras Devolutas e Ação Discriminatória: 
 
 Terras devolutas: 
 
Conceito art. 3º da Lei nº 601/1850. 
 
 Processo Discriminatório: 
 20 
 
 - conceito da Lei nº 601/1850: estremar o domínio público do 
particular; 
 
 Como já se viu, terras devolutas são terras públicas, em decorrência 
da própria origem da propriedade no País. Mas, como se adota o princípio de 
consolidação do direito de propriedade somente através do registro público, 
evidentemente que surgiu a necessidade de se discriminar tais áreas, 
tornando-as passíveis de inserção no registro de imóveis. Surgindo a Lei nº 
6.383/76 que estabeleceu regras para discriminar as terras devolutas da 
União. 
 
 Segundo a respectiva lei o processo discriminatório pode ter origem 
administrativa ou ser instaurado judicialmente. Em qualquer das formas por 
ser o INCRA o representante da União (art. 11 do Estatuto da Terra) este é o 
titular da proposição. 
 
PROCESSO ADMINISTRATIVO: a Presidência do INCRA cria uma 
Comissão Especial de 3 membros com a finalidade específica de discriminar 
terras devolutas da União. Formada esta, inicia-se o processo administrativo 
propriamente dito, com a apresentação de memorial descritivo da área 
apontada como devoluta, intimando-se os interessados por edital para que 
em 60 dias se manifestem a respeito, abrindo-se lhes prazo de defesa e 
produção de prova. Ausentes de dúvidas, que as terras são efetivamente 
devolutas, o Presidente da Comissão Especial determinará seu registro no 
Registro de Imóveis competente. 
 
PROCESSO JUDICIAL: de discriminação de terras devolutas tem o rito 
sumário do Código de Processo Civil e será proposto na Justiça Federal, 
diante do interesse da União. A petição inicial será instruída com memorial 
descritivo do imóvel; os interessados serão citados e poderão responder e 
produzir provas. A apelação da sentença que discrimina a terra devoluta tem 
apenas efeito devolutivo, o que faculta sua imediata execução, que 
corresponde à demarcação da área. O Ministério Público da União é presença 
obrigatória no processo. 
 
Conceito de Reforma Agrária: 
 
 O Estatuto da Terra em seu art. 1º, § 1º, conceitua o que se deve 
entender por reforma agrária, quando menciona 
 
 Considera-se Reforma Agrária o conjunto de medidas que 
visem a promover melhor distribuição da terra, mediante 
modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender 
aos princípios de justiça social e ao aumento de produtividade 
 
 21 
 Do conceito estabelecido pelo legislador, logo se extrai a conclusão de 
que reforma agrária é, acima de tudo, distribuição de terras, mas não 
apenas isso. As terras serão distribuídas, porém com duas finalidades 
básicas: a busca de justiça social e o aumento de produtividade. 
 
 
Terras passíveis de Reforma Agrária: 
 
 A desapropriação de terras pela União, para fins de reforma agrária, 
tornou-se possível no direito positivo brasileiro através do art. 147, § 1º, 
CF/1946, pela redação que lhe deu a EC 10/64, que foi o marco de 
surgimento do direito agrário no País. E a implementação ordinária desse 
dispositivo veio com o Estatuto da Terra. 
 Uma vez que as terras passíveis de reforma agrária, na visão 
estatutária, eram as seguintes: 
 
 Art. 20. As desapropriações a serem realizadas pelo Poder 
Público, nas áreas prioritárias, recairão sobre: 
 I - os minifúndios e latifúndios; 
 II - as áreas já beneficiadas ou a serem por obras públicas de 
vulto; 
 III - as áreas cujos proprietários desenvolverem atividades 
predatórias, recusando-se a pôr em prática normas de conservação 
dos recursos naturais; 
 IV - as áreas destinadas a empreendimentos de colonização, 
quando estes não tiverem logrado atingir seus objetivos; 
 V - as áreas que apresentem elevada incidência de 
arrendatários, parceiros e posseiros; 
 VI - as terras cujo uso atual, estudos levados a efeito pelo 
Instituto Brasileiro de Reforma Agrária comprovem não ser o 
adequado à sua vocação de uso econômico. 
 
 A especificação de terras passíveis de reforma agrária, estabelecida 
pelo Estatuto da Terra, tinha um leque muito grande de possibilidades. No 
entanto, a maior ênfase foi dada às áreas de minifúndios e de latifúndios. 
Estas, correspondendo àquelas terras de tamanhos inferiores a um módulo 
rural, que podem se enquadrar entre 2 e 120 hectares, dependendo de sua 
localização geográfica e tipo de exploração nela verificada. Já os latifúndios 
seriam aquelas superiores a 600 módulos rurais. 
 
 Mas devido o insucesso da reforma agrária após a edição do Estatuto 
da Terra, em 1987 foi promulgado o Decreto-Lei nº 2362, restringindo às 
propriedades acima de 1.500 hectares, na zona da SUDAM – 
Superintendência para Desenvolvimento da Amazônia - , de 1.000 hectares, 
para aquelas da região da SUDECO - Superintendência para 
Desenvolvimento do Centro-Oeste -, de 500 hectares, para a região da 
 22 
SUDENE - Superintendência para Desenvolvimento do Nordeste – e de 250 
hectares para o restante do País, acentuando ainda, como segundo 
pressuposto, a condição de improdutivas. 
 
 A Constituição Federal de 1988 modificou os critérios de 
desapropriação, tendo como regra geral que toda a área que não cumpra a 
sua função social será desapropriada, conforme o art. 184. Entretanto, veio 
o art. 185, que tornou insuscetíveis de desapropriação a pequena e a média 
propriedade, desde que o proprietário não possua outra, e a propriedade 
produtiva. Logo, restam áreas passives de reforma agrária apenas as 
grandes propriedades improdutivas. 
 
 A Lei nº 8.629/03, no seu art. 4º, definiu pequena propriedade como 
aquela de área inferior a 4 módulos fiscais; média propriedade, aquela de 
área superior a 4 até 15 módulos fiscais. Evidentemente que a lei não 
conceituou a que seria uma grande propriedade, sendo facilmente inserível 
de ser aquela área superior a 15 módulos ficais. 
 
 O conceito de módulo fiscal, instituto originalmente criado para 
calcular o ITR, está na atualidade abandonado em seu mister pela Lei nº 
8.847/94, que estabeleceu novas regras para o ITR e retornou para o 
hectare, é encontrável na análise dos arts. 49 e 50 da Lei 4504/64, e que 
pode ser definido como o resultado encontrado pela divisão da área 
aproveitável de uma propriedade com o módulo fiscal padrão 
existente em todo município. 
 
 Exemplo: propriedade de 100 ha, com área aproveitável de 80 ha, 
situada no município cujo padrão de módulo fiscal prévio estabelecido pelo 
INCRA seja de 10 ha por módulo, ter-se-á, portanto, uma área de 8 módulos 
fiscais; logo, na definição legal, uma média propriedade e por isso 
insuscetível de desapropriação para a reforma agrária. Como segundo temos 
uma propriedade rural de 100 ha, com um excelente aproveitamento de 90 
ha, situada em município que prefixou o módulo fiscal em 5 ha. O resultado 
é uma propriedade com 45 módulos fiscais e, dessa forma, uma grande 
propriedade rural para efeitos de desapropriaçãopara fins de reforma 
agrária. 
 
 O conceito de propriedade produtiva, como elemento econômico para 
se reconhecer como insuscetível de desapropriação uma propriedade rural, é 
encontrável no art. 6° da Lei 8.629/93, 
 Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada 
econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de 
utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices 
fixados pelo órgão federal competente. 
 
 23 
 E no § 1° do mesmo artigo, diz que o grau de utilização da terra não 
pode ser inferior a 80% entre a área passível de aproveitamento e a 
efetivamente utilizada. Quanto ao conceito de eficiência na exploração, 
estabelece a lei grau 100% para todos os tipos de atividades agropastoris, 
não podendo ser inferior àqueles índices regionais. 
 
 Em suma, uma propriedade será considerada produtiva se explorar 
80% de sua área aproveitável com eficiência de 100% da média do que se 
produz regionalmente. 
 
O procedimento de desapropriação para Reforma Agrária 
 
 A desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária, 
prevista no art. 184 da CF, assim o princípio do devido processo legal 
desapropriatório, garantia constitucional ao indivíduo proprietário mesmo de 
uma grande propriedade improdutiva, de só se ver privado de seu imóvel 
rural mediante regramento específico, tem nestas leis suas regras 
procedimentais. 
 
 Competência: diz a lei e a CF que a competência para desapropriar, 
por interesse social, para fins de reforma agrária, é da União, através de seu 
órgão executor da reforma agrária, o INCRA. 
 
 Logo, os Estados e Municípios não podem desapropriar imóveis rurais 
para fazer reforma agrária, mas eles podem adquirir por compra, imóveis 
rurais e os distribuir conforme entenderem. 
 
 O processo judicial tramitará na vara da Justiça Federal. 
 
 A CF não recepcionou o Estatuto da Terra no tocante ao processo de 
desapropriação, já que criou estrutura própria no Título VII, Capítulo III – 
Da Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária, estabelecendo 
princípios inequívocos quanto à competência federal. 
 
 Prévio procedimento administrativo: não basta o INCRA pretender 
desapropriar esta ou aquela grande propriedade improdutiva, para que 
possa imediatamente ajuizar a ação desapropriatória. Há necessidade de um 
prévio procedimento administrativo, instaurado no próprio órgão, para que 
ele possa aferir se efetivamente o imóvel é grande e improdutivo, nos 
termos da Lei n° 8.629/93, procedimento este que culminará com decreto 
do Presidente da República, declarando o imóvel de interesse social, para 
fins de reforma agrária. 
 
 Decreto desapropriatório: a cópia desse decreto, publicado no 
Diário Oficial da União, se constituirá em prova do bom direito do poder 
 24 
expropriante, para o ajuizamento de medida cautelar de vistoria e avaliação, 
preparatória da ação de desapropriação propriamente dita. 
 
 Diante da importância do direito em discussão e em respeito ao 
princípio do contraditório e da ampla defesa, e ainda que o laudo daí 
resultante servirá de prova para a propositura da ação de desapropriação, 
que esta comunicação deve se operar na pessoa do proprietário como regra. 
 
 Prazo para ajuizamento da ação de desapropriação: a Lei 
Complementar n° 76, o seu art. 3°, estabelece que a ação de 
desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária, será 
ajuizada no prazo de 2 anos, contados da publicação do decreto declaratório 
no Diário Oficial da União. 
 
 Conteúdo da petição inicial desapropriatória: a desapropriação 
por interesse social, para fins de reforma agrária, é uma ação especial e por 
isso tem requisitos próprios. 
 
 A sua petição inicial, conforme o art. 5° da Lei Complementar n° 
76, além do conteúdo exigível para qualquer ação previsto no Código de 
Processo Civil, exige que contenha ela a oferta do preço e seja instruída com 
os documentos constantes nos incisos do respectivo dispositivo. 
 
 A LC 88/93 acrescentou dois outros documentos como indispensáveis: 
a) o comprovante de lançamento dos Títulos da Dívida Agrária 
correspondente ao valor ofertado para pagamento da terra nua e b) o 
comprovante de depósito em banco ou outro estabelecimento no caso da 
inexistência de agência na localidade, à disposição do juízo, correspondente 
ao valor ofertado para pagamento das benfeitorias úteis e necessárias. 
 
 Oferta do preço, como requisito para propositura da ação 
desapropriatória, é explicável como obediência ao princípio constitucional de 
que, embora sendo possível a retirada da propriedade privada pelo poder 
público, isso somente se realizará, mediante justa e prévia indenização, em 
títulos da dívida agrária, para a terra nua, e em dinheiro, para as 
benfeitorias úteis e necessárias, nos termos do art. 5°, XXIV e 184 CF. Deve 
ser observado que ainda não é o depósito do preço. É apenas uma oferta, 
pois ele pode não ser aceito judicialmente. Essa oferta de preço deve 
corresponder ao que for apurado na prévia vistoria e avaliação, realizada 
administrativamente pelo INCRA. 
 
 Texto do decreto declaratório de interesse social para 
desapropriação: deve acompanhar a inicial, pois é através dele que fica 
demonstrada a declaração de vontade pública de retirar a propriedade 
privada. E esta vontade tem de respeitar o princípio da publicidade, art. 37 
 25 
CF. Logo, é documento essencial para a propositura da ação de 
desapropriação em análise. 
 
 Certidão atualizada de domínio e de ônus real do imóvel e a 
certidão cadastral do imóvel servem para indicar quem é o proprietário 
do imóvel, se sobre ele existe algum ônus real e qual sua condição cadastral 
no INCRA. 
 
 Laudo de vistoria e avaliação serve para demonstrar judicialmente 
que a propriedade imóvel nele apontada é grande e improdutiva e, ainda, 
para fixar a existência de todas as circunstâncias nele encontradas, como 
minudentemente descreve a própria lei, ou seja, a desapropriação está 
sendo realizada tomando por base dados técnicos, e não empíricos, do 
imóvel. 
 
 Petição inicial desapropriatória em juízo: estando a petição inicial 
em ordem, será distribuída a um juiz federal da situação do imóvel que, de 
plano, ou em 48 horas: a) mandará intimar o autor na posse do imóvel; b) 
determinará a citação do expropriado para contestar o pedido e indicar 
assistente técnico, se quiser e c) expedirá mandado ordenando a averbação 
de ajuizamento da ação no registro de imóvel expropriando, para 
conhecimento de terceiro. 
 
 A determinação de imissão imediata na posse do imóvel é 
alteração criada pela LC 88, eis que o dispositivo anterior submetia a oferta 
do preço ao prévio crivo judicial. A justificativa propalada pelo Governo 
Federal para a criação deste dispositivo é de que, pela sistemática anterior, 
a imissão de posse pelo INCRA se tornava muito demorada, o que impedia o 
desenvolvimento da reforma agrária. 
 
 Sabemos que o Poder Judiciário é independente nos precisos termos 
constitucionais, e não pode sofrer ingerência na sua função de dizer o 
direito. Evidentemente que, se houver correspondência entre o preço 
ofertado e depositado e aquilo que a CF chama de indenização prévia e justa 
do imóvel desapropriado, em respeito ao princípio da presunção de verdade 
onde se embasam as declarações de vontade da administração pública, é de 
ser deferida a liminar imissiva de posse. 
 
 Embora se a determinação legal não prevalecerá se o processo 
desapropriatório estiver eivado de vícios formais, como depósito insuficiente 
da oferta de preço, inicial desacompanhada de documentos exigidos por lei e 
houver dúvida quanto à natureza do imóvel passível de desapropriação. 
 
 Formação do contraditório:a LC 76/93 estabelece que a citação do 
expropriando será feita na pessoa do proprietário do bem ou de seu 
representante legal, ressalta que, sendo ele espólio e inexistindo 
 26 
inventariante, ela será feita na pessoa do cônjuge sobrevivente ou na de 
qualquer herdeiro ou legatário que esteja na posse do imóvel (art. 7º, § 2º). 
 
 Como fica a situação da figura do companheiro? 
 
 Ainda, só serão citados os confrontantes que, fundamentalmente, 
tenham contestado as divisas do imóvel no processo administrativo de 
desapropriação. 
 
 A lei possibilita citação via postal, através de carta com aviso de 
recebimento. 
 
 A LC 88/96 instituiu a possibilidade de o juiz designar audiência de 
conciliação, com o intuito de abreviar o processo desapropriatório, para isso 
intimado as partes e o Ministério Público para data previamente 
estabelecida. Uma vez havendo acordo será homologado e terá força de 
sentença para posterior registro imobiliário. 
 
 A defesa dos interessados: sendo a desapropriação para reforma 
agrária de interesse social, a LC 76/93 estabeleceu a possibilidade de ampla 
defesa, mas com a expressa ressalva de exclusão quanto ao interesse social 
declarado. (art. 9º) Logo, a defesa deverá ser apenas oposta quanto ao 
valor da indenização, eis que vedada qualquer discussão sobre o interesse 
social. 
 
 Mas se o ato administrativo declaratório de interesse social for 
irregularmente expedido, como por exemplo, declarando a propriedade rural 
como grande e improdutiva, na definição dos arts. 4º e 6º da Lei 8629/93, 
evidente que a declaração está viciada. 
 
 Podemos evocar a Súmula 473 do Supremo Tribunal Federal. 
 
 Qual o valor considerado justo para que se possa indenizar a terra nua 
expropriada? Considera-se justa a indenização que reflita o preço atual de 
mercado do imóvel em sua totalidade, aí incluídas as terras e acessões 
naturais, matas e florestas e as benfeitorias indenizáveis, observados os 
aspectos do art. 12 da Lei 8.629/93. 
 
 A fase instrutória da desapropriação: na regra geral apenas se 
discute o quantum a indenizar na fase instrutória, e excepcionalmente, a 
existência de algum vício no ato administrativo que declarou o interesse 
social do imóvel, estabelecendo o legislador que no tocante ao quantum 
cingiria apenas aos pontos impugnados no laudo de vistoria e avaliação que 
acompanhou a inicial. 
 
 27 
 Sentença desapropriatória: como não se pode discutir no processo 
de desapropriação, o interesse social declarado por decreto do Presidente da 
República, a sentença, por óbvio, transmitirá, no primeiro momento, a 
propriedade do particular para a União e, no segundo momento, fixará o 
valor da indenização correspondente aos TDAs, quanto à terra nua, e em 
dinheiro, para as benfeitorias úteis e necessárias, valendo-se o juiz de 
qualquer meio de convencimento, inclusive pesquisa de mercado. 
 
 O valor da indenização deverá corresponder ao valor apurado na data 
da perícia, corrigido monetariamente até a data do efetivo pagamento, se 
evidentemente se louvá-lo nesta prova. 
 
 Embora a lei não determine, a jurisprudência é pacífica em fazer 
integrar ao valor da indenização também o pagamento dos juros 
compensatórios e dos juros moratórios. Aqueles, de 12% ao ano, a partir da 
imissão da posse, como uma forma de compensar o proprietário pelo não-
uso da terra. Estes, de 6% ao ano, agora a partir do trânsito em julgado da 
sentença ou do acórdão, compreendendo eles uma forma de compensação 
pela demora no pagamento. 
 
 Os juros compensatórios e os juros moratórios são plenamente 
cumuláveis, consoante decisões pacíficas da jurisprudência, pois incidem 
sobre fatos diferenciados. 
 
 Efeitos da apelação na ação desapropriatória: a regra geral 
disposta pelo CPC é que toda a apelação tenha duplo efeito, suspensivo – 
que tudo aquilo que foi decidido na sentença está suspenso até nova decisão 
pelo órgão recursal – e devolutivo que o processo será devolvido por inteiro 
ao segundo grau de jurisdição. 
 
 Entretanto a sentença de desapropriação para fins de reforma agrária 
sofre algumas modificações. 
1. Quanto ao ato de desapropriação em si mesmo, ou seja, a passagem 
da propriedade do domínio privado para o domínio público. Como não 
é possível a discussão sobre o mérito do interesse social declarado 
nesse ato, conforme vedação imposta pelo art. 9º da LC 76, o 
conteúdo sentencial que transmite a propriedade não estará sujeito à 
apelação. 
2. Se haver vícios no ato desapropriatório e devidamente alegado na 
contestação, por via de consequência a sentença deverá enfrentá-lo, e 
se não admitir a alegação de defesa, ensejará apelação que 
necessariamente deverá ser aceita em efeito suspensivo, pois, se paira 
dúvida sobre a propriedade a desapropriar, o princípio constitucional 
que lhe protege surge como uma muralha na pretensão pública. 
3. A segunda consequência da sentença é a indenização. E mesmo para 
essa, a apelação terá efeito meramente devolutivo, se interposta pelo 
 28 
expropriado, e suspensivo, se interposta pelo expropriante. Trata-se 
de um privilégio do Estado, justificável, nesse caso, pela necessidade 
social de conseguir terras para implementar a reforma agrária. 
4. Reexame necessário ou recurso de ofício: a LC 76 excepcionou a regra 
ao estabelecer no seu art. 13, § 1º, que somente haverá sujeição 
obrigatória ao duplo grau de jurisdição se a diferença entre o preço 
oferecido na inicial e a condenação fixada na sentença for superior a 
50%, significando que, se a diferença for inferior, o privilégio da 
Fazenda Pública deixará de existir. 
 
Ministério Público Federal: será indispensável a presença e 
intervenção do MPF, art. 18, § 2º da LC 76/93. 
 
Distribuição das terras desapropriadas para a Reforma Agrária. 
 
O ato administrativo desapropriatório por interesse social, para fins de 
reforma agrária, portanto é complexo e não se exaure na tão-só transmissão 
de domínio. Há de haver, obrigatoriamente, a distribuição das terras 
desapropriadas. 
 
O prazo e os beneficiários da distribuição de terras na reforma agrária 
– a Lei n° 8.629/93 fixou no art. 16 o prazo de 3 anos, contados da data do 
registro do título translativo do domínio, para que o INCRA, que é o órgão 
federal encarregado da reforma agrária, destine as terras aos beneficiários, 
estabelecendo, agora no art. 19, ordem de preferência. 
 
 
Se no referido prazo o órgão governamental responsável pela reforma 
agrária não distribuir as terras, teria o proprietário expropriado direito de 
nulificar o ato administrativo. 
 
 
Títulos da dívida agrária: A CF, no seu art. 184, estabeleceu que a 
desapropriação para fins da reforma agrária teria como correspondente 
indenização o pagamento em títulos da dívida agrária. Como o próprio nome 
diz, trata-se de título público com finalidade específica para fins de custear a 
reforma agrária e que deve conter 
 
1. A denominação Título da Dívida Agrária. 
2. A quantidade de títulos; 
3. A data do lançamento, 
4. O valor nominal em real. 
 
Esses títulos podem ser transferidos mediante ordem do alienante e do 
alienatário à instituição financeira que o represente no sistema de liquidação 
 29 
e custódia, vedado seu fracionamento. Vencem juros de 6% ao ano ou 
fração pro rata e correção monetária mensal. 
 
 
CONTRATOS AGRÁRIOS 
 
 Legislação: Estatuto da Terra (Lei 4.504/64) – artigos 92 a 96 
 Lei nº 4.947/66 – artigos 13 a 15 
 Decreto nº 59.566/66 – regulamenta a legislação. 
 Código Civil – Orientação geral e aplicação subsidiária. 
 
1. CONSIDERAÇÕES GERAIS 
 
1.1. Referências históricas: 
Nosso ordenamento jurídico, até o advento do código Civil de 
1.916, era completamenteomisso no tocante à regulamentação das relações 
jurídicas contratuais relacionadas com as atividades agrárias. A Lei de Terras 
( de 1850) silenciou a respeito do tema. Nem mesmo a proclamação da 
república mudou este quadro. Assim, as primeiras regras reguladoras dos 
contratos agrários estão inseridas no Código Civil de 1.916, que estabelecia 
disposições especiais aplicáveis aos prédios rústicos (artigos 1.211 a 1215), 
e regras referentes à parceria agrícola (artigos 1.410 a 1.423). 
 
O Código Civil de 1.916, apesar da economia da época ser 
essencialmente agrícola, é eminentemente urbano. Por isso estabeleceu 
poucas regras especificamente aplicáveis ao meio rural de forma a 
considerar proprietários e parceiros ou arrendatários como se fossem 
efetivamente iguais. 
 
É possível identificar considerável aperfeiçoamento na 
regulamentação dos contratos agrários a partir das normas editadas através 
do Estatuto da Terra, a partir do qual os contratos agrários passaram a ter 
regulamentação própria. Ainda assim, mesmo levando-se em conta maior 
limitação da liberdade contratual das partes envolvidas, dadas as imposições 
legais, não é possível dizer que houve real evolução dos contratos agrários a 
partir da Lei no 4.504/64, uma vez que esta não efetuou modificação 
substancial nos contratos de arrendamento e de parceria. 
 
O atual Código Civil (Lei nº 10.406/02), que entrou em vigor em 
janeiro/2003, não repetiu os dispositivos anteriores referentes à locação de 
prédio rústico e em relação à parceria rural, em função da legislação 
específica ( Estatuto da Terra). Quanto ao Comodato, também aplicável ao 
meio rural, o novo código repetiu a redação anterior e, no que diz respeito à 
empreitada, trouxe algumas alterações, como se pode ver no capítulo 
específico (art. 610 a 626). 
 30 
 
Mas a grande inovação refere-se aos contratos em geral e, neste 
caso, serve como orientação também para os contratos agrários, sejam 
nominados ou inominados. Trata-se da inserção do princípio geral da função 
social do contrato. O art. 421 do novo Código assim dispõe: “ A liberdade de 
contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”. 
 
Em relação aos contratos agrários, cujas regras específicas estão 
no Estatuto da Terra e seus regulamentos, parte da doutrina agrarista, mais 
crítica, entende que não contribuem para o alcance da justiça social no 
campo. Como bem ressalta José dos Santos Pereira Braga ( in Dir. Agrário 
Brasileiro - org. Raimundo Laranjeira - Ed. Ltr), “os contratos de 
arrendamento e parceria, como estão disciplinados no Estatuto da Terra, 
constituem verdadeiros óbices à realização da justiça social no campo e o 
cumprimento da função social na medida em que, garantindo o desempenho 
econômico do imóvel e sua exclusão da reforma agrária, preterem o acesso 
do trabalhador à propriedade, com a negação do fundamental direito à 
terra.” 
 
Neste sentido, o Estatuto da Terra traz contradições em seu 
texto. Se por um lado (art. 2º) assegura a todos a oportunidade de acesso 
à terra, visando alcançar a justiça social (art. 16), por outro lado, na parte 
dedicada ao desenvolvimento rural, mais especificamente nos contratos 
agrários, acaba por estabelecer restrições ao acesso à terra por parte de 
quem efetivamente trabalha a terra. 
 
É necessário entender, contudo, que tanto a propriedade quanto 
a posse (agrária) estão condicionados ao princípio da função social e ao 
preceito básico de justiça social. Mas, a posse agrária, de quem 
efetivamente trabalha a terra, tende a tornar-se mais importante do que a 
propriedade estática. 
 
Não resta dúvida, portanto, que os contratos agrários baseiam-
se em princípios e regras especiais, diferentes daquelas que regem os 
contratos em geral. Porém, com nova orientação inserida no novo Código 
civil (art. 421), o principio da autonomia da vontade e o princípio de que o 
contrato faz lei entre as partes, que já não tinham o mesmo significado no 
âmbito dos contratos agrários, agora, com maior ênfase, devem se 
subordinar à orientação geral da função social. 
 
Quanto ao cumprimento das regras obrigatórias estabelecidas 
em relação aos contratos agrários, o judiciário tem uma importante tarefa, 
evidentemente levando em conta os fins sociais da lei (art. 5º da L.I.C.C.), 
a efetiva garantia da função social do contrato e, em especial, levando em 
conta os objetivos estabelecidos no artigo 103 do Estatuto da Terra. 
 
 31 
1.2. Suporte legal atual dos contratos agrários: 
 
Atualmente, a Lei nº 4.504/64 regula os contratos agrários nos 
artigos 92 a 96, além das regras estabelecidas pela Lei nº 4.947/66 (artigos 
13 a 15), sendo que o regulamento da matéria está no Decreto nº 
59.566/66. As 
disposições do Código Civil, conforme disposto no art. 92, § 9º da lei nº 
4504/64, continuam sendo de aplicação subsidiária. 
1.3. Características dos contratos agrários: 
 
- São consensuais: os direitos e obrigações das partes surgem com o 
simples consentimento das partes, aperfeiçoando-se com a integração 
das declarações de vontade dos declarantes. Porém, para o registro do 
contrato e nos casos de financiamento, é evidente e necessário que 
sejam feitos por escrito. 
 
- Bilaterais: as partes se obrigam reciprocamente, com interdependência 
entre as obrigações. 
 
- Onerosos: ambas as partes visam obter benefícios numa relação de 
equivalência, com obrigações de ambas as partes, o que apenas não 
ocorre no comodato, não regulado pela legislação específica. 
 
- Comutativos: há benefícios recíprocos certos, numa relação de 
equivalência das prestações. 
 
- De trato sucessivo: as obrigações são continuadas e não se esgotam 
numa simples operação de crédito. 
 
- Formais: ao menos em sua maioria, uma vez que devem ser escritos e 
registrados. Contudo, não há unanimidade neste aspecto, até porque a 
lei não exige forma especial para a sua formação e validade. 
 
- Maior limitação da liberdade de contratar, porque a lei estabelece 
cláusulas obrigatórias e, por outro lado, direitos e garantias 
irrenunciáveis, visando a proteção à parte mais fraca. 
 
 
2. CONCEITOS 
 
Para Vivanco (apud José Braga - In D. Agrário Brasileiro), 
“contrato agrário é a relação jurídica agrária convencional que consiste no 
acordo de vontade comum destinado a reger os direitos e obrigações dos 
sujeitos intervenientes na atividade agrária, com relação a coisas e serviços 
agrários.” 
 
 32 
Para Otávio M. Alvarenga ( apud Benedito F.Marques - In Dir. 
Agrário Brasileiro, AB Editora), “por contrato agrário devem ser entendidas 
todas as formas de acordo de vontade que se celebrem, segundo a lei, para 
o fim de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos vinculados à 
produtividade da terra.” Este conceito, como se pode verificar, abrange os 
contratos típicos ( parceria e arrendamento) e os atípicos. 
 
 
3. MODALIDADES 
 
Os contratos agrários, à luz da legislação em vigor, podem ser 
divididos em contratos nominados ou contratos típicos, que englobam os 
contratos de arrendamento e parceria, e os contratos inominados ou 
atípicos, do que são exemplos o comodato, a empreitada, entre outros. 
Estes últimos, mesmo não havendo regra especial definida na lei, devem, 
como condição de validade e no que lhes for aplicável, cumprir as regras 
obrigatórias estabelecidas para os contratos de parceria e arrendamento. É o 
que vem disciplinado no art. 39 do Decreto nº 59.566/66. 
 
 
4. ELEMENTOS OBRIGATÓRIOS: 
 
Qualquer que seja a forma do contrato e a modalidade adotada, 
ficam estabelecidas às partes as seguintes obrigações legais, independente 
de estarem inseridos na redação do contrato: 
 
- conservar os recursos naturais,- dever de proteção ao mais fraco na relação contratual ( via de regra o 
arrendatário e o parceiro outorgado); 
- Observância dos prazos mínimos estabelecidos por lei; 
- fixação do preço do aluguel dentro dos limites legais; 
- indenização, com direito de retenção das benfeitorias úteis e 
necessárias; 
- proibição de prestação de serviços gratuitos pelo arrendatário e parceiro 
outorgado; 
- proibição de obrigação do arrendatário beneficiar seus produtos na 
usina do arrendador e de vender a este os seus produtos. (art. 93 da 
Lei nº 4.504/64); 
- obrigatoriedade de cláusulas que assegurem a conservação dos 
recursos naturais (art. 13,111 da Lei nº 4.947/66 e art. 13,11 do 
Decreto 59.566/66); 
- proibição de usos e costumes predatórios da economia agrícola ( art. 92 
do ET; art. 13,I da Lei nº 4.947/66 e art. 13,VII,b do Dec. Nº 
59.566/66); 
- irrenunciabilidade de direitos e vantagens legalmente definidos em prol 
do arrendatário e parceiro-outorgado (art. 13,IV da Lei nº 4.947/66 e 
 33 
art. 13, I do Dec. 59.566/66). 
 
Além de buscar a preservação dos recursos naturais renováveis e 
do meio ambiente em geral, as cláusulas obrigatórias nos contratos têm 
também, como finalidade garantir a proteção ao débil econômico, com 
fundamento claro de ordem pública, como vem estabelecido no artigo 13 da 
Lei nº 4.947/66. 
 
5. PARTES: 
 
Os contratos agrários têm como partes contratantes, de um lado 
o proprietário ou quem detenha a posse, ou ainda, quem tenha a livre 
administração do imóvel rural. 
 
Tratando-se de arrendamento, quem cede a terra é denominado 
de arrendante e se for parceria rural, será denominado de parceiro 
outorgante (também chamado de parceiro proprietário). 
 
Do outro lado da relação contratual situa-se quem vai exercer a 
atividade agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista (art. 1º do 
Dec. Nº 59.566/66). Além da terra, o gado, isoladamente, também pode ser 
objeto de parceria rural, especificamente a parceria pecuária. O contratante 
trabalhador, no arrendamento rural é denominado de arrendatário e na 
parceria rural sua denominação é parceiro-outorgado. Tanto o arrendatário 
como o parceiro outorgado, podem ser uma pessoa ou o conjunto familiar. 
 
 
 
6. DIFERENÇAS ENTRE ARRENDAMENTO E PARCERIA: 
 
A diferença básica está relacionada às vantagens auferidas pela 
parte que se dedica à exploração do imóvel. 
 
No contrato de arrendamento rural são cedidos uso e o gozo 
do imóvel rural. Assim o arrendatário aufere todas as vantagens do imóvel, 
de acordo com o que ficou avençado. Na parceria é cedido apenas o uso 
específico do imóvel rural. 
 
 O pagamento do arrendamento é ajustado em quantia 
certa (em dinheiro), como valor certo (art. 18 do Decreto), enquanto que na 
parceria, parceiro outorgante e parceiro outorgado partilham o resultado 
obtido. 
 
No arrendamento, os riscos correm por conta do arrendatário; 
na parceria rural, espécie de sociedade, os riscos correm por conta das duas 
partes, podendo ocorrer a partilha de prejuízos. 
 34 
 
7. FORMA DOS CONTRATOS: 
 
Pode ser tanto escrita como verbal, de forma expressa ou tácita 
( art. 92). Contudo, para maior garantia, convém que os contratos sejam 
escritos. Nos contratos verbais subentende-se estarem presentes todas as 
cláusulas e condições obrigatórias estabelecidas em lei. O contrato agrário 
pode, portanto, ser provado exclusivamente por testemunhas, 
independentemente do seu valor. 
 
8. PRAZOS MÍNIMOS LEGAIS: ( regra geral é o prazo mínimo de 3 anos) 
 
Os contratos de arrendamento e de parceria podem ser 
celebrados por prazo determinado ou indeterminado. De qualquer forma é 
obrigatória a observância dos prazos mínimos estabelecidos na lei. Sendo de 
prazo indeterminado, não pode ser extinto antes deste prazo mínimo 
estabelecido na lei, presumindo-se feito pelo prazo mínimo de 3 anos. 
 
Quanto ao arrendamento (locação) por prazo indeterminado, o 
Estatuto da Terra estabeleceu uma inovação em relação ao Código Civil de 
1.916. Este, na falta de estipulação de prazo certo, previa a duração 
necessária a uma colheita. 
 
O artigo 95, I e II e o art. 96,I do ET fixam o prazo mínimo 
de 3 anos para os contratos de arrendamento e de parceria, com a garantia 
de prorrogação até a ultimação da colheita. A mesma regra vem 
estabelecida nos artigos 21 e 37 do Regulamento. No caso da parceria, 
há o entendimento de que o prazo é mínimo e único, de 3 anos. Porém, se 
a lavoura for permanente, ainda assim o prazo mínimo deve ser de 5 anos. 
 
O art. 13, II do Regulamento (Decreto nº 59.566/66) se 
encarregou de detalhar os prazos mínimos para as diversas modalidades de 
arrendamento, assim estabelecendo: 
 
- Prazo mínimo de 3 anos de arrendamento para lavoura temporária 
e/ou pecuária de pequeno e médio porte (art. 13,II,a); 
- prazo mínimo de 5 anos, nos casos de arrendamento em que ocorram 
atividades de exploração de lavoura permanente e ou de pecuária de 
grande porte para cria, recria, engorda ou extração de matérias 
primas de origem animal ; 
- prazo mínimo de 7 anos, nos contratos em que ocorra atividade de 
exploração florestal. 
 
Os prazos mínimos têm, entre outras, as finalidades de proteger 
o débil econômico, ou seja, o arrendatário ou o parceiro-outorgado e de 
evitar o mau uso da terra. Neste sentido, quanto maior a duração do 
 35 
contrato, maior será a possibilidade de obtenção de renda pelo contratado e, 
ao mesmo tempo, este se preocupará mais com a preservação ambiental no 
imóvel objeto do contrato. 
 
9. ARRENDAMENTO RURAL: 
 
9.1. Conceito: 
Arrendamento rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se 
obriga a ceder a outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo do 
imóvel rural, parte ou partes do mesmo, incluindo, ou não, outros bens, 
benfeitorias ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercida atividade de 
exploração agrícola, pecuária, agro-industrial, extrativa ou mista, mediante 
certa retribuição ou aluguel, observados os limites percentuais da lei (art. 3º 
do Decreto nº 59.566/66). 
 
Como se verifica no conceito, o arrendatário, em decorrência do 
contrato, passa a ter o uso e gozo do imóvel, não estando definido o tipo de 
atividade a ser exercida. O uso e gozo supõe o livre exercício de qualquer 
atividade agrária licita, observadas as regras legais de uso do solo. 
 
9.2. Valor máximo do arrendamento (preço): 
 
Pelas regras específicas em vigor, o valor do arrendamento não 
pode ser ajustado livremente, uma vez que há limites legais. (Estatuto da 
Terra, art. 95,XII e art. 17, § 1º do Decreto ), não podendo ser superior a 
15% (no caso de arrendamento total) do valor cadastral do imóvel (valor da 
terra nua), acrescido do valor das benfeitorias que entrarem na composição 
do negócio. Valor da terra nua é o valor total do imóvel, menos o valor das 
benfeitorias, culturas, pastagens cultivadas e florestas plantadas. 
 
Tratando-se de arrendamento parcial, com exploração intensiva 
e alta rentabilidade, o preço pode ir ao limite de 30% sobre o valor cadastral 
da parte que for arrendada. 
 
Ajuste e pagamento: O preço do arrendamento sempre deve ser 
ajustado em dinheiro, em valor certo, mas o pagamento pode ser efetuado 
tanto em dinheiro, como em produtos ou frutos, conforme preço de mercado 
local, nunca inferior ao preço mínimo oficial. (art. 18 do Decreto 59.566/66). 
9.3 – Obrigações das partes: art. 40 e 41 do Decreto 59.566/66 
 
10. PARCERIA RURAL: 
 
10.1. Conceito: Parceria rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se 
obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso específico de 
imóvel rural, de parte ou partes do mesmo, incluindo, ou não, benfeitorias, 
 36

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