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Educação Física no ensino Médio: uma proposta pedagógica Educação Física no ensino Médio: uma proposta pedagógica A questão é, como ficam os alunos não-atletas? Muitos optam em não participar das aulas alegando que não gostam de praticar esportes, ou recorrem as “parcerias” insti- tuídas com clubes e academias, a fim de que possam obter a nota obrigatória nesta disciplina, I. Introdução esquecendo a importância da ação pedagógica que as aulas de As aulas de Educação Física... Educação Física possuem na cons- Quem não se sentiu discriminado trução do conhecimento humano. nesta disciplina? Seja por estar esteticamente distante dos Realidades como esta ocorrem padrões de beleza, ou por proble- diariamente, seja por acomodação mas de saúde e/ou se sentir excluí- do Profissional ou pela sua não- do pelo grupo por não ter habilida- qualificação. Este projeto surgiu des para a execução do movimen- com a necessidade eminente de to. Esta realidade se apresenta na quebrar os paradigmas tradicio- maioria das escolas de Imperatriz, nais que norteiam a prática das e até mesmo no país. aulas de Educação Física, junta- mente com a busca pessoal de legi- Fazendo uma breve análise das timar esta prática e identificar a aulas de Educação Física na cida- relação desta disciplina com as de de Imperatriz no Maranhão, demais, enquanto área de saber. percebe-se que ocorre o fenômeno Rever a definição de Educação da “esportivização”, que se dá a Física é o primeiro passo para exe- partir do trabalho voltado para o cução de um projeto neste campo. rendimento técnico (performan- Compreender as diversas áreas de ce) e pelos critérios de avaliação, atuação e eleger a educação como que englobam desde a freqüência possibilidade de transformação. nos “treinos”, o resultados dos jogos e o empenho individual de Espera-se atingir ao longo do pro- cada “aluno atleta”. Nota-se que cesso uma prática pedagógica dire- o planejamento está voltado para cionada para a construção do o calendário dos Jogos Escolares e saber e ainda compromissada com dos amistosos que contribuem a qualidade de vida, desvelando os para a preparação física e tática da múltiplos olhares que as aulas pos- equipe. sibilitam, compromissada com a prática da cidadania. Samya Maria de Almeida Botelho Pestana Porque se chamavam homens, também se chamavam sonhos. E sonhos não envelhecem. Lô Borges, Márcio Borges, Milton Nascimento 30 II. Educação Física no Ensino de transmissão ao longo das gera- teúdos, isto é, implica tanto na leitu- Médio: um projeto pedagógico ções e ainda a influência desta postu- ra da sociedade na qual a comunida- ra corporal no funcionamento bioló- de está inserida, como na que é alme- Cultura corporal ou cultura de movi- gico do corpo. jada. Logo, o porquê e o como de mento cada conteúdo elegido, deve estar Outro estudioso também citado por ligado a uma teoria e prática pedagó- O termo Educação Física tem sido D A O L I O ( 1 9 9 5 , p . 3 9 ) é gica que a justifique. utilizado em dois sentidos: restrito e RODRIGUES, onde ele confere à amplo, o que tem gerado um caos na sociedade um certo número de atri- BRACHT (1997, p. 41) coloca que sua definição, dificultando a comu- butos, que elegem e configuram o “a pedagogia da Educação Física nicação científica e a reflexão teóri- homem com ele deve ser, tanto do enquanto ciência prática tem seu sen- ca, como esclarece BRACHT (1997 ponto de vista intelectual ou moral, tido não na compreensão, mas no p. 15). quanto no ponto de vista físico. É aperfeiçoamento da práxis”. Seria neste corpo que estão circunscritas a fundamental que a produção de No sentido “restrito”, o termo maioria das regras, normas e valores conhecimento que direciona e sus- Educação Física abrange as atitudes de uma determinada sociedade, per- tenta esta prática pedagógica esti- pedagógicas, tendo como tema o cebidos por meio de comportamen- vesse presente no currículo, bem movimento corporal... No sentido tos específicos como: sorrir, beijar, como nos critérios de avaliação esco- “amplo” tem sido utilizado para cumprimentar, comer etc. lar. designar todas as manifestações cul- turais ligadas a ludomotricidade É importante enfatizar que a expres- Cabe a interdisciplinaridade auxiliar humana, que no seu conjunto, pare- são corporal não deve se limitar a os educadores na superação da visão cem-me melhor abarcadas por temas uma simples classificação de movi- dicotômica e hegemônica de como cultur5a corporal ou cultura de mentos, e/ou de técnicas corporais. Educação Física. Essa pode ser uma movimento. O corpo não é fruto apenas do bioló- atitude fundamental, quando bem gico, sobre o qual a cultura impinge utilizada para propiciar uma abran- O t e r m o c u l t u r a c o r p o- especificidades, ele é resultado da gência mais ampla e inovadora na ral/movimento confere a especifici- interação natureza/cultura. proposta de cultura corporal em dade à Educação Física no interior benefício da qualidade de vida, no da escola, contudo é importante sali- Educação Física na escola contexto escolar. Entendendo inter- entar que não é qualquer movimento disciplinaridade como superação da que compõe esta cultura. Faz parte A Educação Física escolar se legiti- visão fragmentada da produção do deste universo o movimento huma- ma quando sua identidade é formali- conhecimento e também como pos- no com significados/sentidos deter- zada, ou seja, quando a prática peda- sibilidade de fusão nas diversas dis- minados pelo contexto histórico- gógica tematiza elementos da cultu- ciplinas escolares, é possível abarcar cultural. Esses movimentos são ra corporal/movimentos. E ainda, a construção do saber humano numa representados por intermédio de quando os conteúdos abordados são perspectiva globalizada e complexa. jogos, ginásticas, esportes, danças contextualizados histórica e social- etc. Essas atividades possuem códi- mente. Seria então, o grande “boom” O planejar interdisciplinar é a ferra- gos que permitem sua análise histó- transformar o saber elaborado em menta principal neste processo de rica, que expressam um sentido, fina- saber escolar. Como afirma mudança no qual este projeto se des- lidade e são incorporados dentro de SAVIANI (1991, p. 79): lumbra. Contextualizar a prática da um contexto social. Educação Física no processo educa- Essa transformação é o processo atra- cional significa discutir a respeito do O principal objeto de estudo dessa vés do qual seleciona-se, do conjun- corpo, percebendo-o na sua genera- cultura corporal circunda a percep- to do saber sistematizado os elemen- lidade, estudando-o de forma frag- ção do corpo. Sua definição e as tos relevantes para o crescimento mentada sem perder a visão sócio- diversas maneiras que ele interage intelectual dos alunos e organizam- econômica e cultural que constroem com o meio, uma vez que é possível se esses elementos numa forma, a concepção de totalidade que o discutir o corpo como uma constru- numa seqüência tal que possibilite corpo possui. Compreender o dis- ção cultural. DAOLIO (1995, p. 38) sua assimilação. curso dialético entre corpo/mente e apud MAUSS, considera os gestos e corpo/físico é mergulhar nas diver- os movimentos corporais como téc- Essa transformação deve ter seu sas manifestações culturais que o nicas criadas pela cultura, passíveis ponto de partida no planejar dos con- movimento cultural abrange. educação física escolar é saúde 31 FAZENDA (1991, p. 119) apud saltar no que se refere à formação faixa etária de envolver-se com ati- KOSEK (1976) faz uma ressalva em dos Profissionais de Educação vidades esportivas não escolares e relação ao significado de totalidade Física: pode-seafirmar que estes trazer experiências para dentro do do ponto de vista interdisciplinar. estão sendo capacitados para exerce- grupo de classe, acredita-se que seja rem um papel crítico na sociedade tarefa da Educação Física garantir o A totalidade não significa todos os com autonomia e consciência para acesso dos alunos às práticas da cul- fatos, mas o todo estruturado e dialé- saltarem de um estado subjetivo, tura corporal, tendo o aluno convivi- tico no qual um fato qualquer (ou um onde existem limitações, a um está- do com elas ou não. conjunto de fatos) pode vir a ser raci- gio compreensivo, no qual a incor- onalmente compreendido. poração de novas experiências, com- É importante ainda esclarecer e apon- pletando sua própria prática? Como tar estas práticas corporais dentro de Completando o pensamento, LUCK aborda FAZENDA (1991 p. 91): seus cotidianos, para que os alunos (2001, p.59) busca estabelecer o sen- ...mais importante que a modifica- possam optar e compreender os bene- tido de unidade na diversidade medi- ção na estrutura curricular, faz-se fícios destas para suas vidas. ante uma visão de conjunto que per- necessário uma modificação nas pes- mite ao homem dar sentido aos soas, ou seja, uma abertura na O projeto aqui referenciado não tem conhecimentos e informações disso- forma de conceber a educação, é o intuito de solucionar todos os pro- ciados e até mesmo antagônicos que compreender a cultura. blemas que a prática da Educação vem recebendo, de modo a reencon- Física escolar vem enfrentando nes- trar a identidade do saber na multi- III. Considerações finais tes últimos anos, mas sem dúvida é plicidade de conhecimento. um passo importante na transforma- Considerando a capacidade dos alu- ção de uma visão hegemônica e tec- Porém, para tal compreensão é pre- nos do Ensino Médio de apresentar e nicista. Espera-se ter contribuído ciso entrar numa outra discussão, lidar com uma quantidade e comple- para a abertura de um novo espaço que não convém aprofundar neste xidade maior de informações, bem de discussão e de estudos para esta momento, mas que é oportuno res- como a necessidade inerente a esta disciplina. Referências bibliográficas BRACHT, Valter. Educação Física e aprendizagem social. 2.ed.-Porto Alegre: Magister,1997. DAOLIO, Josimar. Da cultura do corpo, Campinas, SP: Papirus, 1995. FAZENDA, Ivani. Práticas Interdisciplinares, coordenadora.- São Paulo: Cortez,1991. LUCK, Heloísa. Pedagogia interdisciplinar: fundamentos teóricos - metodológicos. Petrópolis, Rj: Vozes, 2001. SAVIANI, D. Escola e democracia. São Paulo, Autores Associados/Cortez, 1984. Samya Maria de Almeida Botelho Pestana • CREF 001528-G/RJ Faculdade Integrada de Amparo (FIA) Curso de Pós-Graduação Lato Sensu Especialização em Administração e Supervisão Escolar 32 acesse e participe da discussão sobre o Código de Ética www.confef.org.br
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