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Resumo Psicanálise 1 4

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Alguns conceitos básicos da teoria 
psicanalítica - as "Tópicas" 
Talvez o conceito mais conhecido da Psicanálise seja o 
conceito de Inconsciente, e isso não se deve ao acaso. 
Realmente ele é uma das contribuições mais originais da 
Psicanálise, e é em torno deste conceito que boa parte da 
teoria psicanalítica se desenvolve. Chamamos a atenção 
para este fato, a Psicanálise é um saber que se 
desenvolve, e já na época de Freud, ela passou por 
reformulações importantes. 
A primeira grande transição importante na teoria 
psicanalítica ficou conhecida como a transição da "primeira 
tópica" para a "segunda tópica", ou seja, a transição de um 
primeiro modelo do aparelho psíquico para um segundo 
modelo, que conserva, mas também altera muito do que 
veio antes. Em ambos os modelos o inconsciente 
desempenha um papel muito importante. 
Primeira tópica 
Uma das principais preocupações teóricas de Freud era 
tentar fornecer um modelo que pudesse ser usado como 
base para a explicação dos casos clínicos com o qual se 
deparava. A partir de seus estudos sobre hipnose, 
interpretação de sonhos e o papel da associação livre na 
clínica das neuroses, houve a necessidade de postular uma 
porção inconsciente do psiquismo e buscar compreender 
como esta parte do aparelho psíquico se relacionaria com a 
nossa experiência consciente. A primeira tentativa de 
formulação de um modelo do aparelho psíquico data de 
1900, quando publicou sua obra, A Interpretação dos 
Sonhos. 
O caminho encontrado por Freud em um primeiro momento 
foi o de postular um modelo que dividira o aparelho 
psíquico em três instâncias, ou topos (lugar em grego -, daí 
o nome tópica): Inconsciente, Pré-Consciente e 
Consciente. Apesar de ser tentador, não devemos nos 
deixar enganar pela simplicidade do modelo, nem pelo 
aspecto sugestivo dos nomes concedidos a cada instância, 
o que poderia nos levar a acreditar que se tratam de um 
gradiente que oscila entre diferentes graus de consciência. 
O pré-consciente não é um meio-termo entre o 
Inconsciente e o Consciente. 
O Consciente seria o lugar da consciência, da percepção e 
da integração entre o que se passa na realidade externa ao 
sujeito (percepção, atenção) e o que ocorre em seu mundo 
interno (lembranças, raciocínio, etc.). Na consciência os 
conteúdos de nossa experiência organizam-se em uma 
determinada ordem temporal, sequencialmente (passado, 
presente e futuro em um fluxo unidirecional), ou 
simultaneamente (no caso de eventos que ocorrem 
concomitantemente). 
O Pré-Consciente, por sua vez, é o lugar de tudo que não 
está presente na consciência em um determinado 
momento, mas que pode se tornar consciente a qualquer 
momento pela ação de um processo consciente. Por 
exemplo, quando nos perguntam sobre um evento passado 
do qual não nos lembrávamos, mas que somos capazes de 
recuperar por um esforço de memória. 
O Inconsciente por sua vez, é o lugar dos conteúdos que 
por sua natureza são, ou por alguma razão se tornaram 
inacessíveis à consciência. O inconsciente não estaria 
sujeito aos mesmos processos de ordenamento temporal 
das experiências como os processos conscientes, 
poderíamos dizer em certo sentido que o insconsciente é 
atemporal. Por exemplo, a lembrança de um determinado 
evento traumático pode se tornar inacessível à 
inconsciência, e ainda assim gerar uma marca atemporal 
em nosso inconsciente tornando-a insuperável. 
Segunda tópica 
A segunda tópica também é tripartite, mas sugere 
outros topos, o Id, Ego e Super Ego (na verdade esses 
nomes são traduções para o latim dos termos usados por 
Freud em alemão, que traduzidos para o português seriam 
equivalentes, aproximadamente, a Isso, Eu e Além do Eu). 
Estas três instâncias psíquicas, seriam regidas por leis 
distintas e surgem em momentos diferentes da vida. 
A mais primitiva de todas é o Id, que seria regido pelo que 
Freud chama de princípio do prazer. O Id é essencialmente 
a fonte do desejo, e opera a nível inconsciente. O princípio 
do prazer não conhece mediações, ele pede pela 
satisfação imediata do desejo. 
Obviamente nem sempre isso é possível, na realidade as 
satisfações de nossas necessidades e impulsos precisam 
ser adiadas, moduladas, reformuladas, para que possam 
ser atendidas. A esta necessidade, Freud chama princípio 
da realidade. 
É da confrontação com esta realidade, que cerceia a 
realização plena e imediata do desejo, que surge o Ego. 
Uma instância do aparelho psíquico que procura tornar as 
demandas do Id realizáveis, ainda que reformuladas, 
adaptadas e adiadas. O Ego, é o lugar da consciência. 
Muito cedo nós descobrimos um aspecto nesta realidade 
que nos resiste que é muito peculiar. Para além das 
impossibilidades físicas da realização de certos desejos 
(não nos podermos nos alimentar porque não há alimento 
disponível, por exemplo), há impossibilidades sociais de 
realização dos desejos (há alimento disponível, mas o 
adulto impede o acesso a ele, pois "ainda não está na hora 
de mamar", por exemplo). O confronto com este tipo de 
freio ao desejo, leva ao surgimento da terceira instância do 
aparelho psíquico: o Super Ego. 
O Super Ego é o lugar da internalização das normas morais 
do grupo ao qual o sujeito pertence, e normalmente sofre 
grande influência da vivência do sujeito com seus primeiros 
cuidadores (usualmente, mas não necessariamente os 
pais). Em especial, Freud destaca o lugar do pai (ou da 
"figura paterna") na constituição do Super Ego. Este 
destaque se deve ao bloqueio, observado por ele em sua 
clínica, que os pais exerciam sobre o acesso incondicional 
das crianças pequenas àquele que era o seu objeto de 
desejo primordial mais intenso, qual seja, suas mães (ou às 
"figuras maternas", aquelas que provêm alimentação, 
cuidado, acolhimento). 
Diferente do que poderia parecer a um olhar superficial, 
estes processos de internalização de imperativos morais, e 
construção de ideais de eu, não são processos 
conscientes, pelo contrário, o Super Ego é uma instância 
inconsciente do aparelho psíquico. Não se trata aqui da 
elaboração consciente e reflexiva de regras de conduta, 
mas da adesão irrefletida e pré-racional a um conjunto de 
valores axiomáticos. É possível, e comum, que haja 
coincidência entre estes dois conjuntos de processos, mas 
isso não é uma relação necessária que se estabeleça entre 
eles. 
A emergência do Super Ego, por sua vez, gera mais uma 
camada de atividade para as estruturas do Ego, que agora, 
além de precisar mediar as demandas do Id frente aos 
apelos da realidade física, também o precisa fazer ante os 
imperativos de ordem moral (e portanto social) do Super 
Ego. Do mesmo modo, o Ego também precisa "negociar" 
com o Super Ego, maneiras de conseguir realizar os 
desejos e necessidades de uma maneira que seja 
socialmente aceitável. Daí proviriam coisas como regras de 
etiqueta, toilette, e de corte sexual, por exemplo. 
Por último, é importante esclarecer que apesar do Ego ser 
o lugar dos processos conscientes, ele não é uma instância 
completamente consciente. Há aspectos e estruturas do 
Ego que permanecem inconscientes. Talvez o exemplo 
mais intuitivo disso, seja o que se chama de "mecanismo 
de defesa", ferramentas do Ego para lidar com as pressões 
do Id e do Super Ego. Tomemos o mecanismo da 
racionalização para explorar este ponto. Na racionalização 
o sujeito esmera-se na construção de uma justificativa 
racional para atender a finalidades inconscientes (as quais 
o próprio sujeito não é capaz de reconhecer e admitir para 
si mesmo): por exemplo, argumentos racionais que 
justificam os impulsos agressivos, como em declarações de 
guerra, ou mesmo em episódios onde pequenas agressões 
acabam servindo como via velada para o alívio de 
frustrações vividas no nosso cotidiano 
 
 
. Fases do desenvolvimento 
psicossexualComo tivemos a oportunidade de dizer na última aula, 
Freud via o aparelho psíquico como algo sujeito à 
transformação, que a partir de sua estrutura mais primitiva, 
o Id, vai se diferenciando nas demais instâncias e se 
tornando cada vez mais complexo. Nesta aula trataremos 
destas mudanças com mais detalhamento. 
O desenvolvimento do psiquismo, de acordo com Freud, 
deve ser entendido como a história das transformações 
pelas quais passam o nosso desejo, pelas transformações 
que a nossa libido (a "energia" que alimenta nosso 
psiquismo) sofre ao se defrontar com os diferentes desafios 
impostos pela realidade física e social que nos circunda. 
Fase Oral 
Devido a uma série de fatores, dentre eles a própria 
maturação biológica do nosso corpo, o primeiro foco de 
nossa libido são as nossas necessidades de nutrição, 
satisfeitas normalmente através de nossa boca através do 
aleitamento. Neste momento de vida há, portanto, a 
erotização (isto é, a concentração de nossa energia 
libidinal) da região bucal. 
É por esta razão que Freud vai chamar esta primeira fase 
do desenvolvimento de fase oral, pois a boca é o epicentro 
somático do nosso investimento libidinal. Por outro lado, é 
preciso salientar que o seio materno também se reveste de 
um papel importante nesta fase, pois é ele a fonte primária 
da alimentação e de satisfação do bebê. O principal objeto 
do desejo nesta etapa é o seio materno, fonte de nutrição, 
conforto e prazer, ao qual o Id demanda acesso imediato 
assim que a fome surge. 
Neste momento da vida, ainda não existe uma clara 
consciência ou diferenciação do eu em relação ao mundo e 
aos objetos que cercam o bebê. Portanto é algo impreciso 
nos referirmos ao seio materno como um objeto visado pelo 
bebê. Do ponto de vista do lactante, o seio é visto como 
uma prolongação do próprio corpo, assim como todos os 
seus dados da experiência (isto é, não há uma clara 
distinção entre o eu que percebe e o objeto percebido, 
estando ambos de certa maneira fundidos na experiência, e 
só aos poucos se diferenciando). Esta indiferenciação 
primária entre eu e mundo (com destaque para a mãe) 
recebe em psicanálise o nome de narcisismo. 
Fase Anal 
Conforme o corpo e o parelho psíquico vão amadurecendo 
e novas possibilidades de interação com o mundo e 
conosco mesmo vão surgindo, nossa libido pode procurar 
satisfação na realização de outras atividades para além da 
região da boca. Neste sentido, uma das principais 
conquistas deste período é a possibilidade do controle 
consciente dos esfíncteres, isto é, o controle sobre as 
excreções. Nas sociedades ocidentais modernas este 
período tem uma grande importância, é o momento do 
desfralde do bebê. 
Apesar de poder parecer uma conquista pequena do ponto 
de vista adulto, o desfralde representa uma grande 
conquista para o bebê, que ganha controle sobre partes do 
seu corpo até então “arredias”. Consequentemente este 
controle traz consigo um novo patamar de independência 
do bebê em relação ao adulto, e também em relação às 
próprias demandas imediatas de satisfação das 
necessidades excretoras, uma vez que pode adiá-las de 
acordo com sua vontade (ao menos parcialmente). Este 
controle consciente crescente sobre as diversas funções 
corporais marcaria um momento de grande estruturação e 
fortalecimento do Ego. 
O controle dos esfíncteres não tem valor apenas do ponto 
de vista do autocontrole que a criança passa a ter sobre 
seu corpo, mas ele também significa um momento de 
trocas significativas com os adultos. Os cuidadores tendem 
a valorizar essa conquista, elogiando e premiando os 
sucessos nesta direção e por vezes admoestando e 
punindo a criança em momentos de fracasso deste domínio 
sobre o corpo próprio. As crianças por sua vez podem se 
apropriar destas reações do adulto e também usar o 
controle/descontrole das excreções como forma de 
agradar/punir o adulto. 
Uma outra grande conquista que tem lugar nesta fase é o 
desenvolvimento da função simbólica, isto é, do domínio da 
representação linguística, da fala. 
Ambas as conquistas são condições importantes para 
rompimento com o narcisismo inicial da fase oral. Agora 
entre o sujeito e o mundo existem diferenciações e 
mediadores de ordens muito distintas: as excreções e as 
palavras mediam a relação do bebê com o mundo, e em 
especial com os cuidadores. 
Fase Fálica 
A próxima fase estudada por Freud recebe o nome de 
fálica. Fálico é um adjetivo que se refere ao falo, ou, em um 
linguajar mais acessível, o pênis. Nesta fase, em que a 
criança já é capaz de diferenciar-se do outro em alguma 
medida, uma nova descoberta se impõe com uma força 
avassaladora: a diferença entre os gêneros. É nesta etapa 
que a distinção entre meninos e meninas, homens e 
mulheres se torna importante para a criança. 
É ao diferenciar-se da mãe, que a criança também pode 
estabelecer uma série de outras diferenciações, a mais 
importante entre a figura materna e a paterna e a partir daí 
se identificar com uma delas. Até então, a criança 
concederia importância especial a sua genitália, que só 
assume valor quando passa a funcionar de índice para sua 
identificação e diferenciação em relação aos genitores. 
(Neste ponto é bom lembrar que Freud está pensando em 
uma família burguesa tradicional de uma sociedade 
judaico-cristã europeia, da qual ele mesmo provém e a 
totalidade de seus pacientes). 
Mas qual o papel desempenhado pelo pênis nesse 
processo? Não devemos olhar para esta fase com os 
nossos olhos de adulto. A erotização da genitália neste 
momento não é a mesma que ocorre na fase adulta. Para a 
criança a presença do pênis seria apenas o índice de 
pertença ao gênero masculino. Já a sua ausência 
representaria a pertença ao gênero feminino. Para Freud, 
teríamos então a feminilidade, vista pelos olhos da criança 
nesta fase, como o “negativo” da masculinidade. Para usar 
termos mais técnicos, apenas o pênis teria positividade, 
vagina seria entendida como uma castração do pênis. 
A descoberta tanto do pênis, como da possibilidade da sua 
perda (a castração que implica a vagina), levariam a 
criança a desenvolver uma série de fantasias em torno 
deste novo foco do investimento libidinal, e ao 
desenvolvimento assimétrico dos gêneros. Os meninos por 
possuírem um pênis e as meninas por não o possuírem 
teriam suas linhas de evolução psicológica diferenciadas a 
partir daí. 
Apesar de partirem de um mesmo ponto comum, o desejo 
de serem amados pela mãe, meninos e meninas se veem 
em condições diferentes para alcançar esse objetivo. 
Ambos entendem que tem por maior rival na conquista do 
amor materno, a figura paterna, que compete por esse 
amor. Os meninos podem identificar-se com ele, uma vez 
que ambos possuem um pênis. As meninas, por sua vez 
estariam mais identificadas com a mãe, por serem ambas 
“castradas”. 
Para os meninos duas possibilidades antagônicas se 
abrem: por um lado eles poderiam se entender como 
postulantes legítimos ao amor materno, pois eles possuem 
aquilo que o atual detentor deste amor, o pai, possui, o 
pênis. Por outro lado, a possibilidade de perder o pênis, ser 
castrado, também se torna uma angústia. O medo de 
perder o pênis, pela intervenção paterna no embate pelo 
amor da mãe, recebe o nome de angústia de castração. 
As meninas se veriam na situação oposta, elas já seriam 
castradas, elas já perderam o pênis, e veriam nisso uma 
prova de “desamor” da mãe por elas – uma vez que as fez 
assim – e incapazes de competir com o pai pelo amor da 
mãe. Assim elas deslocariam a disputa pelo amor materno 
para a obtenção do amor paterno. Ter o amor do pai, seria 
a via para que as meninas pudessem ter um falo, e assim 
conseguir, por vicariância, o amor da mãe. O desejo da 
menina por possuir um falo para poder competir em 
melhores condições pelo amor da mãerecebe o nome de 
inveja do pênis. 
Estas duas dinâmicas da fase fálica no menino e na 
menina são conhecidas por vezes pelo o nome de 
Complexo de Édipo e Complexo de Electra, 
respectivamente. Derivando seus nomes de personagens 
da mitologia grega que tiveram sua história marcada pela 
rivalidade (muitas vezes desconhecida a nível consciente, 
mas nem por isso menos real) com os genitores do mesmo 
gênero. 
Apesar disso, a terminologia empregada por Freud não 
incluía menção à figura de Electra, ele se referia à vivência 
feminina da rivalidade como Complexo de Édipo Feminino, 
ou Complexo de Édipo Negativo. O termo Complexo de 
Electra foi cunhado por Jung. Freud mantém o nome de 
Édipo nos dois casos por querer evidenciar que os 
processos possuem analogias estruturais em termos da 
constituição do psiquismo. 
A substituição da relação diádica (criança-mãe) pela 
triádica (criança-pai-mãe) possibilitada pela diferenciação 
dos gêneros, é o caminho para o desenvolvimento e 
fortalecimento do Super Ego, ou seja, da instância moral no 
psiquismo. Em outras palavras, é só a partir de então, que 
o psiquismo realmente passaria a estar inserido na 
sociedade, ao reconhecer regras que ultrapassam a sua 
experiência imediata e que representam um freio ao desejo 
que vai além da impossibilidade física para sua realização. 
Fase de Latência 
A fase seguinte é conhecida como fase de latência, e é 
marcada por uma certa “suspensão” do drama edípico e 
adormecimento da sexualidade em termos de zonas 
erógenas corpóreas (daí o nome latência). Para Freud a 
resolução do Complexo de Édipo de maneira saudável 
levaria à identificação da criança com o genitor do mesmo 
gênero, e a um apaziguamento do desejo pelo amor 
materno a partir da assunção da impossibilidade de sua 
realização efetiva pela interferência da figura paterna, e da 
interdição psíquica e social do incesto decorrente. 
A libido descolada da possibilidade de investimento bem-
sucedido nas zonas erógenas do próprio corpo, seria 
deslocada para outras formas de obtenção de prazer, como 
o investimento intelectual na idade escolar que traria 
consigo tanto a satisfação das curiosidades infantis, quanto 
o reconhecimento dos pais e mestres do empenho da 
criança. 
Fase Genital 
A última fase do desenvolvimento psicossexual descrita por 
Freud recebe o nome de fase genital, e ela tem como 
marco de seu início a puberdade e as transformações 
somáticas e sociais que esta etapa da vida trás. A 
maturação sexual e as novas cargas hormonais 
“despertam” a sexualidade que havia permanecido latente 
e podem reacender os dramas edípicos que permaneciam 
adormecidos, dando a eles novos desfechos. 
Já identificado com um de seus genitores, e já na plenitude 
do desenvolvimento das características sexuais do seu 
gênero desenvolvidas, na fase genital encontramos uma 
novidade em relação às demais fases anteriores à latência, 
pois nesta fase o investimento libidinal já não é mais focado 
em zonas erógenas do próprio corpo, mas volta-se para o 
exterior. A satisfação sexual se dá por via genital, é 
verdade, mas a genitália é agora entendida como um meio, 
o fim é externo, o fim é o outro. 
Teríamos nesta fase a possibilidade parcial de realização 
das fantasias edípicas, não mais focados exatamente nos 
genitores, mas em “substitutos” não interditos a eles. Ou 
seja, haveria uma tendência típica nesta fase de 
procurarmos pares que possuíssem alguma semelhança 
significativa com o nosso genitor com o qual não nos 
identificamos. 
 
 
As Noções de Repetição, 
Transferência e Contratransferência 
Para Freud a repetição, ou melhor, a compulsão à 
repetição, é um dos fenômenos centrais da vida psíquica e 
do trabalho psicoterapêutico, ela está na base dos 
sintomas neuróticos e da dinâmica da transferência 
(processo que trataremos em seguida). Mas o que é isso 
que nos vemos compelidos a repetir, segundo Freud? 
Em linhas gerais podemos dizer que o que se repete no 
sintoma é alguma vivência que por alguma razão, 
usualmente traumática, acabou ficando confinada ao 
inconsciente. Por sua intensidade e centralidade para a 
história do sujeito, essa vivência acaba se revestindo de 
grande energia libidinal, demandando, portanto, satisfação 
e expressão. 
Um exemplo típico de vivência que clama pela repetição é 
o conflito edípico sobre o qual falamos na aula anterior. A 
rivalidade com um de nossos genitores, e as razões 
incestuosas por trás dela, seriam algo sempre presente no 
nosso psiquismo, mas recalcado para o registro 
inconsciente. 
O recalque funciona como uma defesa contra o efeito 
devastador que tal assunção poderia trazer se emergida no 
domínio da consciência. Todavia, isso não quer dizer que 
não revivamos esta experiência no nosso dia a dia. 
Repetimo-la, não de maneira literal, mas de maneira 
metafórica e simbólica, por exemplo, quando procuramos 
inconscientemente nos nossos parceiros sexuais e/ou 
românticos características do nosso genitor-rival, ou de 
alguma outra figura de identificação. 
Muitos transtornos psicológicos, como a neurose 
obsessiva, hoje mais conhecida pelo acrônimo TOC, nos 
dão um testemunho caricato desta tendência à repetição 
em forma de sintomas. A repetição ritualística de um 
determinado comportamento (que pode variar grandemente 
de caso para caso), é o principal sintoma deste transtorno, 
que numa interpretação psicanalítica simplificada pode ser 
entendido como a “fixação” do sujeito em um determinado 
evento de sua vida que se tornou insuperável (ao menos 
enquanto for mantido no registro inconsciente). 
O quadro da neurose obsessiva também é um ótimo 
exemplo para ilustrar o caráter metafórico da repetição. Um 
comportamento típico destes quadros muito ilustrado na 
ficção (Melvin Udall, personagem de Jack Nicholson em 
Melhor é Impossível; Monk, personagem de Tony Shalloub 
na série homônima, etc.), mas também comum na vida 
real, são os rituais ligados à limpeza, por exemplo, pessoas 
que compulsivamente lavam suas mãos. É difícil crer que 
essas pessoas tenham tido alguma experiência traumática 
ligada a lavar mãos durante a solução do conflito edípico, 
mas seria fácil entender que elas tenham vivido, ou 
testemunhado, algo que julgaram “sujo” relacionado à 
sexualidade (própria, ou dos genitores) nesta época de 
vida. 
Para além da sintomática, como dissemos acima, a 
repetição também se manifesta naquilo que Freud chamou 
de transferência. Encontramos a seguinte definição de 
transferência em um famoso dicionário de Psicanálise: 
“o processo pelo qual desejos inconscientes se 
atualizam sobre determinados objetos no quadro de um 
certo tipo de relação estabelecida com eles, e 
eminentemente, no quadro da relação analítica. Trata-
se aqui de uma repetição de protótipos infantis vivida 
com sentimento de atualidade acentuada” (LAPLACHE 
E PONTALIS, 2016, p. 514). 
Ou seja, trata-se de algo similar ao que falamos acima em 
termos de uma revivescência do Édipo. Mas aqui aparecem 
duas novidades em relação ao que apontamos 
anteriormente. 
Primeiramente: o “sentimento de atualidade acentuada”, na 
transferência (e no sintoma) o sujeito não sente estar 
revivendo padrões de relacionamento que construiu em um 
passado traumático. E nem poderia, porque esta 
experiência está exilada de sua consciência. Na 
transferência vivemos a repetição como se fosse algo 
inédito, como uma experiência autêntica e nova, mesmo 
que o padrão se repita uma infinidade de vezes (seria algo 
como o avesso de um déjà vu). 
Em segundo lugar: a transferência dar-se-ia, 
eminentemente, no “quadro da relação analítica”, em outras 
palavras, seria um fenômeno típico da análise que o cliente 
transfira seus padrões de relacionamento construídos na 
fase edípica para a figura do terapeuta. Não sendo 
incomumque clientes se “apaixonem” por analistas (ou que 
os odeiem – a depender da solução do conflito edípico e 
qual figura seja projetada no analista). 
 
Mas talvez seja exagerado dizer “eminentemente”, pois 
como Roudinesco e Plon nos lembram: 
“Desde 1909, Sandor Ferenczi observou que a 
transferência existia em todas as relações humanas: 
professor e aluno, médico e paciente etc. Mas ele notou 
que, na análise, tal como na hipnose e na sugestão, o 
paciente colocava inconscientemente o terapeuta numa 
posição parental” (1998, p.768). 
Por ser vivida como uma experiência atual, a transferência 
termina por funcionar como uma espécie de resistência 
(seja do analisando, seja da pessoa em situações do dia-a-
dia), em lidar com a situação recalcada em sua forma 
“crua”. Dessa forma a pessoa é capaz de expressar (de 
maneira limitada e insatisfatória, mas ainda assim 
aliviadora) o conteúdo recalcado, mas sem o ônus de trazê-
lo à sua consciência. 
Por outro lado, a transferência, para Freud também se 
reveste de um aspecto positivo para o trabalho do analista. 
Por ser algo que o sujeito experimenta de maneira vívida, 
ela se torna uma ferramenta para se explorar os conteúdos 
e vivências recalcados, dificilmente acessíveis, ao menos 
não de modo tão explícito, de outra forma. 
O conceito de contratrasnferência, por sua vez, é um 
conceito bastante mais polêmico e recebe diversas 
interpretações dentro do movimento psicanalítico, mas em 
linhas gerais pode ser entendido como o “negativo” da 
transferência. O que se quer dizer por isso? Algo que 
podermos simplificar da seguinte forma: alguém ao ser 
“alvo” da transferência alheia é compelido a também reagir 
transferencialmente a ela. Ou seja, também tendemos a 
colocar em cena, na relação com a pessoa em questão, 
nossas vivências inconscientes, mas as vivemos como se 
se tratasse de uma vivência autêntica e inédita. 
Em um primeiro momento, Freud pensou a 
contratransferência como um fenômeno exclusivamente 
pertencente à experiência psicanalítica e centrada na do 
analista. Estaríamos tratando, nesta primeira formulação, 
da reação inconsciente do analista em relação a 
transferência do analisando. Posteriormente a noção foi 
ampliada por Lagache que deu a ela o aspecto mais 
simétrico e amplo que comentamos acima. 
De todo modo, seja na formulação original dada por Freud 
ou nas revisões do conceito, a contratransferência 
precisaria ser manejada pelo analista de maneira tanto ou 
mais cuidadosa quanto a própria transferência. Esse 
fenômeno, na verdade, é uma das bases a justificar o 
porquê de todo psicanalista ser obrigado a também estar 
submetido a tratamento psicanalítico, isto é, para melhor 
poder manejar sua contratransferência. 
 
 
 
As noções de Mal-estar na 
Civilização e Sublimação 
Ao longo das últimas aulas temos enfatizado que o 
psiquismo se desenvolve, segundo a Psicanálise, a partir 
da tensão entre as demandas de satisfação imediata que 
se originam no Id (regidas pelo princípio do prazer) por um 
lado, e a necessidade de adesão ao princípio de realidade, 
que rege o Ego. Para além desta tensão, também vimos 
que ao longo do desenvolvimento o Ego também precisará 
lidar com outra fonte de conflitos: os imperativos morais 
trazidos pelo Super Ego, que se constituem como uma 
camada a mais de obstáculos para a satisfação do desejo 
pretendida pelo Id. 
Dissemos ainda que o próprio surgimento do Super Ego, 
enquanto instância psíquica, pode ser entendido como um 
importante marco na socialização do sujeito. Os entraves 
para a realização imediata dos desejos deixam de ser 
entendidos como unicamente derivados de uma simples 
impossibilidade natural, e passam também a ser 
compreendidos como tendo uma possível segunda fonte, a 
interdição por um outro – usualmente a figura paterna. 
Esta remissão a figura de um outro que se opõem à 
satisfação do desejo, vai aos poucos assumindo um papel 
muito importante na teoria Psicanalítica. Já na obra de 
Freud surgem interpretações sobre um significado mais 
amplo desse campo de tensão eu-outro, que extrapola o 
nível das relações íntimas e pessoais e passa a englobar 
as relações entre sujeito-cultura. 
As analogias entre o lugar da figura paterna do ponto vista 
do psiquismo individual, e o da cultura do ponto de vista do 
psiquismo coletivo, são muito frequentes nas obras de 
Freud de caráter mais “sociológico”, como Totem e 
Tabu, Mal-estar na Civilização, O Futuro de uma 
Ilusão (para citar alguns exemplos). Elas abrangem tanto 
paralelos entre as interdições realizadas pela figura paterna 
na infância com o papel desempenhado pelos padrões 
culturais de moralidade e ética enquanto cerceadores e 
moderadores da manifestação do desejo do sujeito adulto; 
quanto as possibilidades de resolução sadia ou patológica 
das tensões oriundas destes conflitos no plano individual e 
no coletivo. 
Na realidade, Freud vai mais além, e diz que tais tensões 
são estruturantes de nosso psiquismo. Do mesmo modo 
que precisamos ceder às sanções que a figura paterna nos 
impõe, para atender a uma demanda de realidade, e assim 
conseguirmos realizar parcialmente nosso amor pela figura 
materna (ainda que de uma forma transformada), 
fenômeno análogo ocorreria no plano civilizatório, é 
necessário que abramos mão da livre expressão do nosso 
desejo para que possamos realizá-lo de alguma forma, de 
uma forma sancionada socialmente. Nas palavras de 
Freud: 
"Se a civilização impõe sacrifícios tão grandes, não 
apenas à sexualidade do homem, mas também à sua 
agressividade, podemos compreender melhor porque 
lhe é difícil ser feliz nessa civilização. Na realidade, o 
homem primitivo se achava em situação melhor, sem 
conhecer restrições de instinto. Em contrapartida, suas 
perspectivas de desfrutar dessa felicidade, por qualquer 
período de tempo, eram muito tênues. O homem 
civilizado trocou uma parcela de suas possibilidades de 
felicidade por uma parcela de segurança" (FREUD, 
1980). 
É a essa “dificuldade em ser feliz na civilização”, este 
“sacrifício tão grande da sexualidade e da agressividade”, 
que Freud chama de mal-estar na civilização (em algumas 
traduções também encontramos a expressão “mal-estar na 
cultura”, a palavra alemã original usada por Freud nesses 
textos é Kultur, que tem tradução difícil para o português). 
O mal-estar inevitável traz consigo a necessidade do 
desenvolvimento de meios de convivência com ele, se o 
sujeito pretende permanecer membro da cultura. Sujeito e 
cultura desenvolvem estratégias que permitam conviver as 
forças pulsonais, e as regras de convívio socialmente 
estabelecidas. Sendo assim, é preciso canalizar a pulsão 
para a realização de metas e para objetos que sejam 
socialmente aceitos. A este processo de transformação do 
destino do desejo Freud chama de sublimação. De acordo 
com a definição do Vocabulário de Laplanche e Pontalis a 
sublimação é: 
"Processo postulado por Freud para explicar atividades 
humanas sem qualquer relação aparente com a 
sexualidade, mas que encontrariam o seu elemento 
propulsor na força da pulsão sexual. Freud descreveu 
como atividades de sublimação principalmente a 
atividade artística e a investigação intelectual. Diz-se 
que a pulsão é sublimada na medida em que é derivada 
para um novo objetivo não sexual e em que visa objetos 
socialmente valorizados" (2016, p. 495). 
Alguns autores mais contemporâneos, como Dejours, 
destacam a ideia já presente em Freud que ao lado as 
atividades artísticas e intelectuais, a atividade laboral, isto 
é, o trabalho, também deve constar no rol das principais 
vias de sublimação do desejo. 
 
Talvez o exemplo mais emblemático da relação entre os 
conceitos de mal-estar e sublimação na obra de Freud 
esteja em sua explicação para o fenômeno antropológico 
do totemismo.As características básicas do totemismo são a adoração 
ritual de um totem por um clã ou grupo tribal que se 
identifica com o ente espiritual representado por ele 
(normalmente representada por um animal), e definem 
vários aspectos de sua vida e função desta identificação 
(hábitos alimentares, de caça, coleta, alianças e inimizades 
com outros clãs e seus representantes totêmicos animais, 
etc.). Os clãs ou tribos que aderem a religiões totemistas, 
são exógamos, isto é, só permitem casamentos realizados 
com membros de outro clã ou tribo. 
Freud vê nestas sociedades, que eram muito estudadas 
pelos antropólogos de sua época, uma chave para explicar 
as origens da civilização de acordo com a Psicanálise. 
Penna (1994), nos apresenta uma versão desta explicação: 
"[Para Freud] o totem é uma fobia animal coletiva que 
representa o pai primitivo, contra quem os filhos se 
revoltaram [e assassinaram] devido ao domínio total que 
exercia sobre as mães. O totemismo é, portanto, um 
paralelo íntimo, na psicologia de grupo, das fobias 
animais encontradas normalmente em crianças 
pequenas. A regra da exogamia é o equivalente coletivo 
das proibições individuais do incesto, subjacentes à 
família nuclear. A instituição do totemismo como 
acontecimento histórico representa uma transição da 
selvageria para a cultura, pois envolve a repressão e a 
sublimação de instintos básicos e o estabelecimento de 
meios sociais para implementá-los, e proporciona a 
representação simbólica dos desejos incestuosos 
reprimidos, agora repudiados. Os filhos que se 
revoltaram contra o pai instituem a evitação do incesto 
como um meio de eliminar os próprios conflitos 
edipianos que os leva[ra]m a destruí-lo em primeiro 
lugar. Mas, juntamente com isso, também entronizam o 
pai rejeitado como o superego sob a máscara do totem 
animal, rodeado de toda a ambivalência que Freud 
identifica com a palavra tabu" (p. 76-77).

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