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Artigo - Crônica de uma morte anuncia - ênfase no narrador

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¹ Acadêmicas do segundo ano do curso de Direito da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – 
UNIOESTE – Campus de Francisco Beltrão/PR. 
OBRA CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA, DE GABRIEL GARCÍA 
MÁRQUEZ, COM ÊNFASE NO NARRADOR 
 
Camila Tais Menegoto¹ 
Jéssica Caroline Valandro¹ 
Mariana Reineri¹ 
Suéllen Andressa Pagno¹ 
 
RESUMO 
O presente texto possui como base de desenvolvimento a obra Crônica de uma 
morte anunciada do autor Gabriel García Márquez, tendo como objetivo principal a 
associação desta com os tipos de narradores e, mais precisamente, com o autor da 
obra. O trabalho foi desenvolvido através de pesquisas bibliográficas como artigos e 
comentários mais profundos acerca do tema, bem como, através de vídeos 
relacionados ao assunto, mas não deixando de ter como principal fonte a própria 
obra escrita por Márquez. Por fim, se buscou compreender o diálogo entre textos 
diversos de diferentes autores, fazendo uma análise mais profunda no que tange as 
peculiaridades de quem é o narrador e da sua influência na obra, diante das 
diversas avaliações subjetivas e das autorreflexões que este faz ao longo da crônica 
por ele escrita. 
 
PALAVRAS-CHAVE¹: Literatura. Crônica. Gabriel García Márquez. Narrador. Tipos 
de narrador. Direito. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 Crônica de uma morte anunciada, um romance, escrito por Gabriel García 
Márquez, em 1981, é um relato em primeira pessoa, que busca, de certa forma, 
reconstituir o assassinato do personagem Santiago Nasar. Entretanto, tal obra não 
se limita ao mundo da ficção, visto que os fatos aconteceram em um povoado onde 
morou, envolvendo pessoas as quais conhecia, tornando-se assim, muito realista, 
como mencionado pelo próprio autor, que afirma ter voltado ao vilarejo onde vivia 
para tentar “reconstituir com tantos estilhaços disperses o espelho quebrado da 
memória.” (GARCÍA MÁRQUEZ , 1983, p.04). 
 
 
 Neste sentido, embora sejam concisas suas descrições, elas não coincidem 
com as das demais personagens, justamente por isso, permitem ao leitor tanto 
imaginar Santiago, sua origem social, seus laços de parentesco e seus vínculos com 
o poder, quanto desconfiar das avaliações subjetivas feitas por este em relação ao 
protagonista (GALVÃO FERREIRA, 2009, p. 03). 
O livro possui cinco capítulos que apresentam, equilibradamente, a narrativa. 
Esses capítulos completam-se e, mantém a atenção de quem lê através do 
suspense, buscando criar uma atmosfera de tensão e de contradição entre os 
discursos das testemunhas, todavia, Gabriel García Márquez Assim, descreve a 
história com uma cronologia bem marcada em episódios, procurando sempre 
mencionar o horário em que os fatos acontecem, ou, de alguma forma, mostrar a 
progressividade. 
Além do contexto geral do romance, busca-se também dar ênfase ao 
narrador, as reflexões que este faz ao longo da obra, das descrições que faz dos 
personagens, algumas vezes de forma breve e concisa, outras, de forma mais 
detalhada e já com certos julgamentos acerca do personagem, fazendo com que o 
leitor tenha possibilidade de interpretar o figura dramática e imaginá-la, ao mesmo 
tempo que, preliminarmente, faz colocações acerca destes, de forma muitas vezes 
imparcial, estimulando também a crítica do leitor no sentido de aceitar ou não sua 
colocação feita acerca de seus personagens. 
 
2 CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA 
2.1 A obra 
A obra Crônica de Uma Morte Anunciada, de Gabriel García Márquez, é baseada 
em acontecimentos passados em meados do século XX, na Colômbia rural, a qual 
narra a história do assassinato de Santiago Nasar, pelos irmãos Vicário de forma 
injusta, acusado por Ângela Vicário de tê-la desonrado. 
A história vai se encaixando aos poucos, instigando os leitores a continuar a 
leitura para ter um maior entendimento da obra, que se da pela superposição das 
diferentes visões de pessoas que estiveram mais próximas ao protagonista. A obra 
 
 
relata principalmente, como se deu a morte, sem que Santiago pudesse defender-
se. Mesmo tendo sido escrita no século passado, a crônica faz uma ponte com 
muitos fatos reais que ocorrem hoje em dia. 
No romance, quase todos os habitantes do lugarejo onde vive Santiago, ficam 
sabendo do homicídio premeditado anteriormente, o que da o nome da obra, ou 
seja, que a morte já estava anunciada, as pessoas já estavam sabendo do que 
poderia acontecer, mas não se faz nada de concreto para proteger a vítima ou 
impedir os algozes. 
 Desde o inicio, García Márquez revela-nos o seu final, mas o fato é esquecido 
durante a leitura, e não deixa a obra menos interessante, pois o autor prende-nos 
pelo motivo que se dará a morte do protagonista. 
 Ângela Vicário, uma das personagens principais, mulher de boa família, casa-
se com Bayardo San Román, um homem forasteiro e com um passado nebuloso 
envolto em mistério, que aparece na cidade dizendo viajar o mundo a procura de 
uma esposa, seu comportamento extravagante na forma como exibe o poder de 
compra, conquista a família de Ângela – a qual vê nele uma porta de saída de uma 
vida pobre. Logo, a trama se desenvolve a partir do momento em que Bayardo 
encontra a mulher ideal, Ângela. O noivado durou apenas quatro meses, dada à 
urgência do noivo. 
Este, por sua vez, gastou uma fortuna para agradar a Ângela, com a casa que 
esta mais gostava, e o casamento, foi o maior acontecimento da cidade. 
O principal fato, que levará ao assassinato de Santiago Nasar, é o que a 
família de Ângela quer esconder, a perda da virgindade da noiva, a qual a mãe que 
criou os filhos a rigor de ferro, tenta manobrar e fazer com que a filha disfarce, para 
que o casamento se efetue, e que sua família não seja desonrada perante a 
sociedade daquela época. A mãe aconselha a filha, com maneiras de fingir que 
ainda era virgem para o então marido, mas Ângela não os leva a sério. 
Após o casamento, na noite de núpcias, Ângela não consegue disfarçar sua “não 
pureza”. Assim, leva uma surra e é devolvida aos pais pelo infeliz marido. 
 Chamados com urgência pela mãe, os irmãos saem da festa de casamento, 
voltando para casa um pouco antes das três, para ficarem a par dos fatos ocorridos. 
Pressionada pela família, a jovem Ângela, denuncia Santiago Nasar como sendo o 
 
 
autor da façanha, àquele que “tirou” sua pureza, julgando que a sua fortuna fará dele 
um intocável, e que nada irá acontecer. 
Por isso, os irmãos, revoltos, começam a planejar a morte de Santiago, e 
buscam-no pela cidade. Logo, esta fica sabendo que Santiago está jurado de morte. 
Também, tem-se a chegada do bispo, e algumas pessoas com medo de que os 
murmúrios de assassinato podiam realmente ser verdadeiros, pediam para que se 
esperasse a chegada deste para discutir os fatos, e o que realmente havia ocorrido. 
Entretanto, a chegada do bispo não foi esperada e os irmãos Vicário, afiam 
suas facas e deram fim a vida de Santiago Nasar, para tentar limpar, de alguma 
forma, a honra da família. 
 
3 QUEM É O NARRADOR 
 
O narrador é quem conta os fatos em uma história, o que ocorreu com os 
personagens em local e tempo definidos, a história pode ser real ou imaginária. 
Nos textos de ficção o autor tem a opção de dirigir-se diretamente ao leitor ou 
intermediar sua história através de um narrador. Que escreve a obra pode criar uma 
espécie de intermediário entre o leitor e o universo ficcional. Este intermediário é o 
narrador. 
Narrador é aquele que conta a história. Ele pode fazer parte da história, ou 
apenas contá-la para o leitor. Quando o narrador faz parte da história, isto é, quando 
também é uma personagem, dizemos que é um narrador em primeira pessoa. 
Muitas vezes o narrador está distanteem relação àquilo que vai contar, ele não se 
envolve com a narrativa. Nesse caso, falamos em um narrador em terceira pessoa. 
Ao contar uma história, o narrador exerce variadas funções. Ele Tem 
apresenta ao leitor as personagens, a sequência dos fatos, descreve o ambiente em 
que eles se passam. O narrador é o intermediário entre a narrativa, contada pelo 
autor da história, e o leitor. Ele coloca o universo ficcional diante dos olhos do leitor. 
Esse universo da obra pode ser exposta ao leitor de várias formas, como já visto, em 
primeira ou terceira pessoa. O próximo item irá tratar da classificação do narrador, 
didaticamente falando. 
 
 
4 TIPOS DE NARRADOR 
4.1 Narrador em primeira pessoa 
4.1.1 Narrador personagem 
Além de contar a história em primeira pessoa, faz parte dela, sendo por isso 
chamado de personagem. É marcado por características subjetivas, opiniões em 
relação aos fatos ocorridos. A narrativa é dotada de características emocionais 
daquele que narra. Esse tipo de personagem tem visão limitada dos fatos, de modo 
que isso pode causar um clima de suspense na narrativa. O leitor vai fazendo suas 
descobertas ao longo da história junto com o narrador personagem. 
4.1.2 Narrador Protagonista 
O narrador é o personagem principal da história. Todos os acontecimentos 
giram em torno de si mesmo. O leitor é induzido a compartilhar dos sentimentos de 
satisfação ou insatisfação vividos pelo personagem, o que dificulta uma visão geral 
da história. 
4.1.3 Narrador como testemunha 
É um dos personagens que vivem a história contada, mas não é a 
personagem principal. Também registra os acontecimentos sob uma ótica individual, 
mas como é personagem secundário da trama não há uma sobrecarga de emoções 
na narração, são os simples relatos de alguém que viu a história passar pelos seus 
olhos. 
4.2 Narrador em terceira pessoa 
4.2.1 Narrador onisciente 
É aquele que sabe de tudo. Há vários tipos de narrador onisciente, mas 
podemos dizer que são chamados assim porque conhecem todos os aspectos da 
história e de seus personagens. Pode, por exemplo, descrever sentimentos e 
pensamentos das personagens, assim como pode descrever coisas que acontecem 
em dois locais ao mesmo tempo. 
4.2.2 Narrador onisciente neutro 
 
 
Relata os fatos e descreve as personagens, mas não influencia o leitor com 
observações ou opiniões a respeito das personagens. Fala somente dos fatos 
indispensáveis para a boa compreensão da narrativa. Síntese da história. 
4.2.3. Narrador onisciente seletivo 
Narra os fatos sempre com a preocupação de relatar opiniões, pensamentos 
e impressões de uma ou mais personagens, influenciando assim o leitor a se 
posicionar a favor ou contra eles. 
4.2.4. Narrador observador 
É o que presencia a história, mas ao contrário do onisciente não tem a visão 
de tudo, mas apenas de um ângulo. Comporta-se como uma testemunha dos fatos 
relatados, mas não faz parte de nenhum deles, e a sua única atitude é a de 
reproduzir as ações que enxerga a partir do seu ângulo de visão. Não participa das 
ações nem tem conhecimento a respeito da vida, pensamentos, sentimentos ou 
personalidade das personagens. 
5 DO NARRADOR DA OBRA 
A obra é narrada em primeira pessoa, sendo que o narrador é um narrador- 
personagem, por se encontrar como figurante da história, além de passar sua visão 
dos fatos ao leitor, mesmo que essa visão seja limitada ao que realmente viu e ao 
que lhe contaram as demais pessoas, com quem foi coletar informações. Como 
exemplo, pode-se perceber a influência do narrador- personagem em primeira 
pessoa nos seguintes trechos da obra: “Minha mãe escreveu-me para o colégio em 
fins de agosto (...)”(GARCÍA MÁRQUEZ, 1983, p. 13), “Eu voltava a vê-la ano após 
ano, durante as minhas férias no Natal (...)”(GARCÍA MÁRQUEZ, 1983, p. 15). 
O cronista Gabriel Garcia Márquez relata uma história de morte anunciada 
baseada em fatos reais que ele próprio vivenciou em meados de 1957, em que após 
30 anos da ocorrência do crime que comoveu a vila onde morava na Colômbia, o 
autor vai em busca de recuperar a história, entrevistando as pessoas e consultando 
o que sobrou dos autos. 
Passando a uma análise do narrador e sua relação junto aos demais 
personagens, está claro que ele conhecia bem os autores do crime, Pedro e Pablo 
 
 
Vicário, chegando a afirmar que eles eram pessoas de boa índole, seus parceiros. 
Quanto à vítima, Santiago Nasar era seu amigo de infância, sendo que conta com 
detalhes como era seu jeito de ser, seus costumes, citando que não entendia como 
Santiago era o culpado da história, pois eles não guardavam nenhum segredo entre 
si, além do mais, passou o tempo todo, na igreja e na festa ao lado dele. 
O personagem narra que sua mãe o escreveu para o colégio fora da vila, e 
que apenas recebia cartas de sua mãe contando sobre os acontecimentos da vila, 
que havia chegado um homem na vila cujo nome era Beyardo San Román, que era 
encantador e nadava em ouro e queria se casar com Angela Vicário, sua prima. 
Pouco tempo depois, quando vai passar as férias de Natal com sua família o 
narrador conhece Beyardo San Román, que vira seu “amigo da pinga” como diz. 
Percebe-se que o narrador possui muitos irmãos, sendo que uma irmã era 
freira, Jaime que era o mais novo de uns 7 anos, Margot que pouco antes de 
matarem Santiago Nasar o convidou para tomar o penqueno-almoço em sua casa, e 
outros que em ocasiões eram citados. 
O narrador conta que nos anos após o crime, ele e seus irmãos iam até a 
casa abandonada, a qual Beyardo San Román comprou para viver com sua esposa, 
e descobriam muitos objetos, sendo um deles a malinha de mão que Ângela levava 
consigo na noite de núpcias. 
Anos após, quando foi colher os últimos testemunhos para a crônica o relator 
foi até onde se encontrava Beyardo San Román, mas ele o recebeu com certa 
agressividade e negou a responder a questão célere do drama, a qual seja o que 
este homem veio fazer naquela terra tão distante, sem outro motivo além de casar-
se com uma mulher que nunca viu. 
Já a relação com sua prima Ângela sempre foi boa, recebia notícias pelas 
suas irmãs que a visitavam frequentemente, e após 23 anos do drama o autor, como 
ele mesmo diz, em uma época incerta em que tentava compreender alguma coisa 
dele próprio, vendendo enciclopédias e livros de medicina em terras de Guajira, foi 
ter casualmente com sua prima naquele morredouro de índios, a qual o tratou como 
sempre, como um primo afastado e respondeu a todas as suas perguntas com um 
bom ar e humor, porém quando ele tentou arrancar-lhe a verdade sobre quem 
 
 
realmente tirou sua honra, ela nem levantava os olhos para rebatê-lo, pois ninguém 
acreditava que seria mesmo Santiago Nasar, falavam que ela acusou ele para 
defender um grande amor. Quanto à mãe de Ângela, não quis falar sobre o passado, 
tendo o autor do drama teve que contentar-se com as poucas coisas que a mãe dele 
o contava. 
5.1 Da mensagem do narrador-personagem aos leitores e da obra 
Por fim o narrador deixa sua opinião pessoal, dizendo que Santiago Nasar 
morreu sem compreender a sua morte, pois caminhava desprevenido e contente. Ou 
seja, Para ele, Santiago se deixou matar ou por que se atordoara com os avisos 
desencontrados da população, ou por descuido da inocência. 
Baseado no ponto de vista do narrador e nos fatos questionáveis, o trama 
passa aos leitores um certo mistério, haja vista que ninguém consegue imaginar 
quem tenha sido o verdadeiro responsável pela desonra de Ângela, ademais 
nenhum dos que foram entrevistados confiaram que foi Santiago Nasar. 
Neste momento, passa-se a abordar sobre a mensagem que o narradortenta 
passar e seu papel na obra. Compreende-se que o personagem procura desvendar 
o que motivou a morte de Santiago Nasar e mostra porque esse assassinato tão 
anunciado não foi impedido por ninguém. 
No final da crônica o narrador revela que seu objetivo não era provar sua 
hipótese de que a morte já estava prevista e, apesar disso, ninguém fizera nada, 
era, antes, apaziguar a própria inquietude a respeito do conceito de honra. Este 
apresenta, em seu jogo com o leitor, uma estratégia de manutenção do tom 
jornalístico e jurídico, e também humorístico, com fins de assegurar a atmosfera de 
tensão e de contradição entre os discursos das testemunhas oculares. 
Em outra seara, nota-se que o jogo discursivo propicia o questionamento ao 
leitor, logo, pela abordagem da temática, a obra contribui para o desenvolvimento da 
percepção de mundo, para a reflexão sobre a realidade, sobre si mesmo e sobre o 
outro. Pelo emprego do intertexto, da linguagem e do jogo discursivo, ela favorece a 
ampliação das referências estéticas, culturais e éticas do leitor. 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
A referida obra de Gabriel García Márquez possui uma critica quanto à 
mentalidade atrasada que afirma ser a morte a única maneira de se pagar por um 
crime, ou até mesmo, neste caso, por um costume da época, o qual as mulheres 
deveriam casar-se virgem – sendo estas penalizadas por esse costume – por ter um 
comportamento diverso do esperado, na época, sendo também o que se vê diversas 
vezes atualmente, vindo a desencadear discriminação e violência descontrolada. 
O próprio autor faz tal reflexão: 
 
Mas a maioria das pessoas que teriam podido fazer alguma coisa para impedir o 
crime e, no entanto, não o fizeram, consolaram-se com o pretexto de que os 
assuntos de honra são arquivos sagrados a que só têm acesso os donos do 
drama (GARCÍA MÁRQUEZ, 1983, p. 45). 
 
 Assim, procura mostrar o narrador, a atmosfera de julgamento público, 
ocorrendo como se fosse um espetáculo, o qual ocorre inclusive com o 
consentimento até mesmo das autoridades e do representante da Igreja, fazendo 
uma nítida crítica associada à honra, a liberdade e a virgindade. 
A referida crítica feita pelo autor e narrador deve ser trazida para o contexto 
atual, fazendo com que tenhamos o dever de questionar se o consenso social detém 
realmente a verdade, ou se estamos hoje presos em um julgamento baseado em 
valores sociais reafirmados ao longo do tempo, valores estes, como o da virgindade, 
trazido na obra, muitas vezes ligados à simplicidade das pessoas, as quais, no caso 
da obra em si, procuraram fazer justiça com as próprias mãos movidas por um 
sentimento de desigualdade, impunidade, acreditando, como o próprio autor 
menciona: “reconfortava-os o prestígio de terem cumprido a sua lei (...)” (GARCÍA 
MÁRQUEZ, 1983, p. 37). 
Gabriel García Márquez procura mostrar que os gêmeos fizeram o que 
qualquer outro faria naquele povoado. O escritor colombiano, então deixa claro que 
os acusados foram absolvidos, conforme entendimento da maioria do “tribunal da 
consciência”. Tal tribunal seria a sociedade e o símbolo da sua justiça, situação esta 
que se pode trazer com convicção aos dias atuais, visto que se vê noticiado com 
frequência o cometimento de delitos, estes, absolvidos pela consciência e pelo 
entendimento do que é justiça pela comunidade. 
 
 
 
7 REFERÊNCIAS 
GARCÍA MARQUEZ, Gabriel. Crônica de uma morte anunciada. Trad. Teófilo de 
Deus. São Paulo: Coletivo Sabotagem, 2004. 
 
Colégio Web: Tipos de Narrador. Mai. 2012. Disponível em: 
<http://www.colegioweb.com.br/trabalhosescolares/portugues/redacao/tipos-de-
narrador.html#ixzz3HNRMlIn0>. Acesso em: 27 de out. de 2014. 
 
UOL Educação: Narrador: Quem conta a história. Nov. 2005. Disponível em: 
<http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/narrador-quem-conta-a- 
historia.htm> Acesso em: 29 de out. de 2014. 
Nau Literária: O papel do leitor na obra híbrida Crônica de uma morte 
anunciada, de Gabriel García Márquez. Disponível em: < 
http://www.seer.ufrgs.br/NauLiteraria/article/view/8949>Acesso em: 30 de out. de 
2014. 
Direito literário: Crônica de uma Morte Anunciada - Gabriel García Márquez. 
Disponível em: <diretorioliterario.com/2014/04/resenha-cronica-de-uma-morte-
anunciada.html> Acesso em: 30 de out. de 2014. 
Elas leram: Resenha: Crônica de uma morte anunciada - Gabriel García 
Márquez. Disponível em: http://www.elasleram.com/2013/07/cronica-de-uma-morte-
anunciada-gabril.html> Acesso em: 30 de out. de 2014. 
Desenredos: Memorável praça de acontecimentos. Disponível em: 
<http://desenredos.dominiotemporario.com/doc/9Artigo SocorroGarciaMarquez.pdf> 
Acesso em: 31 de out. de 2014. 
Universidade de Santa Cruz do Sul: O crime em defesa da honra e a narrativa 
literária: um entrecruzar de caminhos da literatura e do pensamento jurídico. 
Disponível em: <http://www.unisc.br/portal/images/stories/mestrado/letras/dissertaco 
es/2005/marileda.pdf> Acesso em: 10 de nov. de 2014.

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