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PROCESSOS DE USINAGEM AULA 5 Prof. Claudimir José Rebeyka 2 CONVERSA INICIAL Todo processo de usinagem vai produzir alterações nas superfícies usinadas pela ação da ferramenta. Nesta aula, vamos ver que a peça pode sofrer alterações superficiais ou subsuperficiais. Vamos conhecer os tipos de desvios macrogeométricos e microgeométricos resultantes desses processos. Vamos identificar algumas alterações abaixo das superfícies usinadas, de natureza mecânica e de natureza metalúrgica. Isso acontece durante a ação da ferramenta na usinagem da peça, principalmente devido a dois fenômenos muito importantes: atrito e aquecimento. O fenômeno do atrito é causado principalmente pelo escorregamento do cavaco sobre a superfície da ferramenta. O aquecimento é resultante da dissipação do atrito e outras formas de energia resultantes da formação do cavaco. Para reduzir os efeitos do aquecimento e do atrito durante a usinagem, são aplicados fluidos de corte. Os fluidos de corte têm como principais funções a refrigeração e a lubrificação, visando à preservação da ferramenta e a integridade da superfície usinada. Como a aplicação de fluidos de corte pode melhorar o desempenho das ferramentas nas operações de usinagem? A utilização de fluidos de corte pode provocar problemas no ambiente? Nesta aula, vamos estudar a classificação dos fluidos de corte e ver exemplos de aplicações. Vamos discutir os aspectos ambientais e as alterações promovidas nas peças usinadas. Com isso, poderemos compreender melhor como manter a integridade das superfícies usinadas. TEMA 1 – VARIAÇÕES DIMENSIONAIS E GEOMÉTRICAS GERADAS POR PROCESSOS DE USINAGEM Durante a fabricação, podemos observar variações dimensionais e geométricas nas peças produzidas por usinagem. Veja como exemplo o processo de torneamento interno ilustrado a seguir: 3 Figura 1 – Torneamento interno Nesse caso, você poderá observar duas direções de forças: uma no sentido tangencial (Ft) e outra no sentido radial (Fr). Essas forças de corte vão provocar o deslocamento da ponta da ferramenta, causando variação dimensional na peça usinada. Isso acontece porque a ferramenta não é perfeitamente rígida, de tal forma que ela absorve essas forças sofrendo um deslocamento temporário na direção delas. Ou seja, a ponta da ferramenta é deslocada durante o processo de usinagem devido à condição dinâmica do processo. Esse deslocamento pode resultar em variações dimensionais e geométricas. As variações podem afetar o funcionamento da peça e, inclusive, impossibilitar a montagem no conjunto mecânico. Por exemplo, se o diâmetro final da peça for alterado, é possível que isso dificulte a montagem. Dependendo do tamanho da variação, é possível que a peça fique fora da tolerância dimensional estabelecida no projeto. Também o desgaste da ferramenta vai aumentar as forças envolvidas na usinagem e, consequentemente, pode aumentar a variação dimensional. Veja outro exemplo: 4 Figura 2 – Variação dimensional no processo de furação Dependendo do tipo da broca, do material da peça e da broca, além das condições de usinagem, o furo resultante deverá estar entre um diâmetro mínimo (Dmin) e um diâmetro máximo (Dmax). Se durante a usinagem ocorrer o aquecimento da broca, o diâmetro do furo resultante pode aumentar além do diâmetro máximo do projeto, causando folga na montagem do conjunto. Além disso, as operações de furação frequentemente exigem grandes valores de força e potência para sua execução. Isso favorece o deslocamento da ponta da ferramenta, em um mecanismo semelhante ao do torneamento (discutido no exemplo anterior) e que também pode resultar na variação dimensional e geométrica. Geralmente, os furos produzidos por brocas helicoidais de aço rápido não são perfeitamente cilíndricos e o diâmetro do furo produzido pode apresentar variações dimensionais – por isso, essa operação é considerada uma operação de desbaste. Para atingir menores tolerâncias dimensionais e formas geométricas mais regulares, é necessária uma operação de acabamento posterior ao furo executado com broca helicoidal de aço rápido. Como podemos ver por meio desses exemplos, a ferramenta e a peça interagem de forma dinâmica, gerando tensões durante o processo de usinagem. As tensões de origem mecânica e térmica são as principais responsáveis pelas variações resultantes nas peças usinadas. 5 TEMA 2 – ALTERAÇÕES SUPERFICIAIS E SUBSUPERFICIAIS Agora vamos estudar os dois tipos de desvios resultantes dos processos de usinagem: 1 – Os desvios macrogeométricos são relacionados à forma das superfícies e suas relações geométricas. Observe para elementos isolados o desvio de cilindricidade ilustrado na figura a seguir: Figura 3 – Desvio de cilindricidade Fonte: Adaptado de ABNT, 1997b. A geometria final do componente usinado, representada pela linha tracejada, deve ficar entre dois cilindros concêntricos distantes, com variação no raio igual à tolerância estabelecida no projeto e representada no desenho. No caso, a indicação no desenho estabelece uma tolerância de 0,01 mm para que a superfície usinada esteja entre os dois cilindros concêntricos de controle. Também podemos estabelecer medidas de referência em relação a dois ou mais elementos geométricos associados. Como exemplo, observe o desvio de batimento a seguir: Figura 4 – Desvio de batimento Fonte: Adaptado de ABNT,1997b. 6 O desvio de batimento ocorre quando duas superfícies cilíndricas ficam afastadas de uma determinada linha de centro no desenho. Nesse caso, o batimento permitido entre as superfícies A e B é de 0,1 mm. Para medir os desvios macrogeométricos, normalmente utilizamos um relógio comparador para indicar a variação dimensional em uma ou mais dimensões. Veja, por exemplo, na figura a seguir, como se faz a medição do batimento. Figura 5 – Relógio comparador Fonte: Shutterstock. Ao girar a peça sobre o dispositivo de medição, o ponteiro do relógio comparador vai indicar os afastamentos mínimo e máximo de uma superfície paralela ao eixo de rotação da peça. Se o relógio comparador indicar um valor superior ao indicado pela tolerância, a peça não atende ao requisito de integridade superficial e, portanto, não possui qualidade para montagem. Assim como o desvio de cilindricidade e 7 o de batimento, existe uma série de outros desvios geométricos que podem ocasionar falha na integridade superficial do componente usinado. Veja abaixo a simbologia utilizada para especificar as tolerâncias de forma para elementos isolados. Isso pode ser encontrado nas normas técnicas NBR 6409 (ABNT, 1997b), NBR 14646 (ABNT, 2001a) e NBR ISO 2768-2. (ABNT, 2001b). Tabela 1 – Tolerâncias de forma Características afetadas pelas tolerâncias F O R M A p a ra e le m e n to s i s o la d o s Retilineidade Planeza Circularidade Cilindricidade Forma de uma linha qualquer Forma de uma superfície qualquer Fonte: Adaptado ABNT, 1997b. 2 – Os desvios microgeométricos são relacionados à qualidade das superfícies e sua rugosidade. Observe a figura a seguir e perceba que toda a superfície será formada por um perfil composto de pequenas irregularidades. Essas irregularidades representam uma qualidade chamada de rugosidade. 8 Figura 6 – Rugosidade A rugosidade é composta de pequenas alterações que são causadas pela ação da ferramentadurante o processo de corte do material da peça. Essas alterações podem ser resultantes do avanço de corte, da geometria da ponta da ferramenta, do arrasto do cavaco sobre a superfície da peça, do desgaste da ponta da ferramenta e, em alguns casos, de efeitos decorrentes da formação da aresta postiça de corte. De forma geral, podemos dizer que a rugosidade determina de forma quantitativa o quanto é lisa uma superfície. Quanto mais lisa a superfície, menor será a rugosidade superficial. Em alguns casos, por exemplo, em superfícies de rolamentos, a superfície deve ser bem lisa, e a rugosidade superficial deve ser bem pequena. Em outros casos, por exemplo, em cilindros de motores a combustão, a superfície deve ser mais rugosa para que o óleo permaneça nela, criando uma camada lubrificante. Figura 7 – Exemplos de diferentes níveis de rugosidade 9 Fonte: Shutterstock. Podemos considerar que a rugosidade associada à qualidade é um parâmetro relativo à função do componente mecânico. Ou seja, a rugosidade é um parâmetro de qualidade superficial. Todo processo de usinagem deve ocorrer dentro de um limite aceitável desses desvios, que possa garantir a funcionalidade da peça ou conjunto mecânico. A rugosidade superficial pode ser calculada de acordo com o processo de fabricação (Machado et al., 2009). Veja uma representação do perfil teórico de rugosidade no torneamento: Figura 8 – Perfil teórico de rugosidade no torneamento Nesse cálculo, para o torneamento consideramos que o avanço (fn) é menor que o raio (re) da ponta da ferramenta. Repare que, para o torneamento, a profundidade de corte (ap) não exerce influência na rugosidade superficial. Para o processo de fresamento, o cálculo da rugosidade teórica vai ser diferente. Veja a seguir uma ilustração do perfil teórico de rugosidade gerada no fresamento tangencial. Figura 9 – Perfil teórico de rugosidade gerada no fresamento tangencial 10 Veja que a rugosidade vai ser dependente do avanço por dente (fz) e do raio (R) da fresa. A profundidade de corte vai ser alinhada com o eixo de rotação da ferramenta, e novamente não vai exercer influência na rugosidade da superfície fresada. As alterações subsuperficiais são observadas em camadas abaixo da superfície da peça, podendo ser provocadas por fatores de natureza mecânica ou de natureza metalúrgica. As alterações de natureza mecânica incluem a deformação plástica, formação de rebarbas, alterações de microdureza, trincas e tensões residuais. A maioria desses fenômenos resulta em irregularidades dimensionais que podem ser observadas a olho nu ou com o auxílio de instrumentos simples de medição. Por exemplo, a ruptura de componentes mecânicos por fadiga pode iniciar com alterações de natureza mecânica: uma trinca formada pelo excesso de tensão pode evoluir até chegar à falha completa do componente usinado. A ocorrência de trincas pode ser avaliada pela execução do ensaio de líquido penetrante. As alterações de natureza metalúrgica acontecem principalmente quando a usinagem ocorre em altas temperaturas, que atingem o patamar de transformação de fases do material da peça. Se o calor não for dissipado de forma adequada, ele acaba direcionado para promover a mudança da estrutura do material. Também pode ocorrer a recristalização devido à deformação plástica e ao aquecimento. Por exemplo, a usinagem de uma peça de aço com alto teor de carbono pode gerar alterações de natureza metalúrgica. Podemos observar isso quando 11 a peça é muito aquecida durante a usinagem e, logo em seguida, resfriada rapidamente. Se o aquecimento for suficiente para mudar a estrutura de fases do material, o resfriamento rápido pode promover a têmpera da peça, aumentando sua dureza no final do processo. Para avaliar as alterações metalúrgicas que ocorrem nos processos de usinagem, podemos fazer a medição de dureza e a análise metalográfica. Em alguns casos, precisamos remover um corpo de prova para ensaios destrutivos. Também podemos aplicar outros ensaios mais complexos, como raios-X e espectroscopia. 12 TEMA 3 – FLUIDOS DE CORTE APLICADOS NA USINAGEM Durante a ação da ferramenta na usinagem, a ferramenta está submetida a elevadas forças e temperaturas, além do atrito decorrente da passagem do cavaco. Os fluidos de corte são aplicados nessas condições com as funções principais de refrigerar e lubrificar a peça, a ferramenta e o cavaco durante a usinagem. Figura 10 – Fluido de corte Fonte: Shutterstock. A ferramenta gira e se desloca em relação à peça, executando a usinagem. Para elevadas velocidades de corte, a operação pode resultar em aquecimento da ferramenta e variação dimensional e geométrica da peça. Nesse caso, a aplicação de fluido refrigerante em forma de jorro (como foi ilustrado na figura) possibilita dissipar o calor gerado na formação do cavaco. Esse fluido é captado por uma calha e levado a um reservatório da máquina. No reservatório, uma bomba envia o fluido para a região de corte através de um sistema de tubos. Portanto, o fluido refrigerante é recirculado nesse sistema hidráulico e pode ser reaproveitado enquanto oferecer qualidade compatível com o trabalho a ser realizado. Veremos mais adiante que a composição do fluido pode ser corrigida ou todo o fluido pode ser substituído quando for necessário. 13 Figura 11 – Fluido de corte Fonte: Shutterstock. De maneira geral, para altas velocidades de corte, recomenda-se a aplicação dos fluidos com alta capacidade de refrigeração. Nesses casos, a preferência deve ser dada aos casos em que sejam geradas altas quantidades de calor no processo, afinal, o calor pode prejudicar a superfície da peça e reduzir a vida útil da ferramenta. Além disso, cavacos quentes podem gerar acidentes, e peças quentes podem ser difíceis de manusear. Na figura a seguir, você poderá ver a aplicação de um fluido sintético em uma operação de retífica cilíndrica. Figura 12 – Aplicação de fluido sintético Fonte: Shutterstock. 14 A grande quantidade de fluido e sua alta capacidade refrigerante vão dissipar o calor intenso gerado em função da alta velocidade de corte. Isso vai impedir deformações geométricas de empenamento na peça e transformações subsuperficiais no material usinado. A principal função do fluido nessa aplicação é a refrigeração. Para baixas velocidades de corte, recomenda-se a aplicação de fluidos com alta capacidade lubrificante. Você deve dar preferência a essa função quando há necessidade de reduzir o atrito e a área de contato entre a ferramenta e o cavaco. Nesse caso, o calor gerado no processo é menor devido às baixas velocidades, e a refrigeração perde sua importância. Ou seja, a aplicação deve permitir a formação de um filme com resistência ao cisalhamento menor que a resistência do material da peça. Veja outro exemplo na figura abaixo, uma fresa de perfil executando a usinagem dos dentes de uma engrenagem: Figura 13 – Fluido lubrificante Fonte: Shutterstock. Nesse tipo de aplicação, a velocidade de corte é baixa e a força de corte é elevada. A aplicação de fluido lubrificante em forma de jorro diretamente na região de corte (conforme ilustrado) permite reduzir o atrito do cavaco com a ferramenta, facilitando a execução da usinagem. Em alguns casos, as funções complementares podem assumir o papel principal na aplicação dos fluidos de corte. Um exemplo disso é a execução de 15 furos profundos. Observe a seguir duas brocas com canais internos para lubrificação.Figura 14 – Aplicação de fluidos pelas brocas Fonte: Sandvik Coromant, 2015. Nos casos como o da imagem, o fluido de corte vai ser injetado em alta pressão pelos canais até a ponta da ferramenta. Durante a furação, o cavaco é arrastado pelo fluido para fora do furo. Perceba que, nessa situação crítica, uma broca sem o canal interno poderia manter o cavaco dentro do furo durante a usinagem, aumentando o atrito e o torque necessários para execução da operação. Se o cavaco não for removido, o atrito pode aumentar progressivamente e resultar até na quebra da ferramenta. O fluido assume, nesse caso, a função principal de remover o cavaco da região de corte. Em todos os casos, é importante que você considere o tipo da aplicação, o volume de produção, a relação custo-benefício, a necessidade da refrigeração ou lubrificação e, também, a forma de descarte do fluido após a sua utilização, conforme veremos a seguir. Como funções complementares dos fluidos de corte, podemos destacar a remoção dos cavacos da região de corte e a proteção contra a oxidação da peça, da máquina e das ferramentas. TEMA 4 – CLASSIFICAÇÃO DOS FLUIDOS DE CORTE Os líquidos são os fluidos mais amplamente utilizados na usinagem e podem ser agrupados em três categorias: 1) óleos, 2) emulsões e 3) soluções (CIMM, 2016). 16 1. Óleos – podem ser vegetais integrais ou minerais. Os óleos vegetais integrais estão caindo em desuso porque degradam facilmente, e sua aplicação é inviável devido ao alto custo. Atualmente, são empregados como aditivos nos fluidos minerais para melhorar a função de lubrificação. Os óleos minerais são derivados do petróleo, com base parafínica, o que resulta em excelentes funções lubrificantes e ótima resistência à oxidação. São óleos de alta viscosidade, baixa condutividade térmica e baixo calor específico, o que os torna ineficientes na função de refrigeração. 2. Emulsões – podem ser classificadas em: fluidos emulsionáveis e emulsões semissintéticas. Os fluidos emulsionáveis também são aqueles que conhecemos equivocadamente por óleos solúveis. Na verdade, o óleo desse fluido não é solúvel. Os fluidos emulsionáveis são líquidos compostos com duas fases: uma de óleos minerais e outra de água na proporção entre 1:10 e 1:100, dependendo da aplicação. Ou seja, são misturas de óleo e água com pequena proporção de óleo e a maior parte de água, com uma coloração esbranquiçada. Para garantir a uniformidade desse composto, devemos acrescentar agentes surfactantes e emulsificantes. A estabilidade gerada por esses aditivos produz glóbulos de óleo extremamente pequenos, o que confere o aspecto translúcido para o fluido. A mistura é tão homogênea e os glóbulos de óleo são tão pequenos que parece que os óleos são solúveis. Sua principal função é retirar o calor, promovendo a refrigeração pela grande capacidade térmica da água e, ao mesmo tempo, promover a lubrificação pela inserção dos glóbulos de óleo na interface da ferramenta com o cavaco. As emulsões semissintéticas apresentam entre 5% e 50% de óleo mineral no fluido, além de aditivos e outros compostos químicos que, de fato, são solúveis em água e formam moléculas distintas. Uma grande quantidade de elementos emulsificantes resulta em um líquido mais homogêneo e transparente. Oferecem menor risco à saúde humana, quando comparados com os óleos emulsionáveis. 3. Soluções – também são conhecidas como fluidos sintéticos e são compostas de apenas uma fase, na qual o óleo é completamente 17 dissolvido na água. Não contêm óleos minerais. São compostos por sais, aditivos e outros elementos adicionados à água. Têm como funções principais a de retirar o calor, promovendo a refrigeração, a de atuar como agentes biocidas e a de oferecer propriedades anticorrosivas. No quadro abaixo, podemos ver um resumo das principais características dos fluidos de corte. Quadro 1 – Características dos fluidos de corte Propriedades do fluido de corte Soluções Emulsões Óleos Poder lubrificante baixo intermediários alto Poder refrigerante alto intermediários baixo Velocidade de corte (vc) alta alta baixa Admite aditivo EP sim sim sim Suscetível à infecção bacteriana* não sim sim Propriedades anticorrosivas** fracas fracas boas * A manutenção correta e uso de bactericidas amenizam o problema. ** É comum a ocorrência de corrosão com fluidos em geral; o que pode ser minimizado com a correta formulação e manutenção do fluido de corte. Fonte: CIMM, 2016. O uso de aditivos de extrema pressão (EP) tem a função de criar uma interface entre a ferramenta e o cavaco para reduzir o desgaste por atrito. Somente as soluções não são suscetíveis à infecção por bactérias, porque não contêm óleos de origem animal ou mineral, apenas óleos sintéticos. Por fim, podemos observar que apenas os óleos aliam alto poder lubrificante a boas propriedades anticorrosivas, porque não utilizam água em sua constituição. TEMA 5 – TRATAMENTO E DESCARTE DOS FLUIDOS DE CORTE Geralmente, os fluidos são armazenados em um tanque com sistema hidráulico de bombeamento. O fluido é conduzido até a região de corte e depois é coletado por um sistema de tubos até o reservatório, o que garante a continuidade da aplicação. 18 Entretanto, o calor gerado na usinagem faz evaporar parte do fluido e, desta forma, variar a relação entre as quantidades de óleo e de água no fluido. Por isso os fluidos de corte perdem suas propriedades durante o uso: se a ferramenta não é corretamente lubrificada e a peça não é corretamente refrigerada, a máquina pode sofrer corrosão. Uma forma bastante prática de mensurar a concentração de óleo nos fluidos de corte é a utilização de um refratômetro, conforme ilustrado na figura a seguir: Figura 15 – Refratômetro Fonte: Blaser, 2015. Esse instrumento simples permite o ajuste da concentração por meio da adição do óleo ou da água, conforme a necessidade. Basta gotejar uma porção do fluido sobre a lente do instrumento e observar contra a luz. A quantidade de óleo contida no fluido será indicada em uma escala graduada. Para prolongar a utilização dos fluidos de corte, temos de ajustar a proporção da mistura, acrescentando água quando houver muito óleo. Ou acrescentando óleo quando houver muita água. Os resíduos dos fluidos de corte podem ocasionar efeitos nocivos na atmosfera e a degradação do solo e recursos hídricos. Na figura a seguir, podemos ver um diagrama de relações do resíduo dos fluidos de corte com o meio ambiente: 19 Figura 16 – Impacto ambiental dos resíduos dos fluidos de corte Fonte: CIMM, 2015b. Vamos identificar basicamente dois tipos de resíduos. No primeiro tipo, os vapores, fumaças, gases e fumos são resultantes da evaporação de parte dos fluidos. Isso ocorre devido às altas temperaturas dos processos de usinagem. Se esses resíduos forem descartados na atmosfera, podem causar doenças respiratórias nos operadores. No segundo tipo, os efluentes sólidos e líquidos são resultantes da perda das propriedades funcionais e devem ser substituídos. Se esses resíduos forem descartados diretamente no solo, podem causar degradação do solo e dos recursos hídricos. Não temos ainda um fluido de corte universal que atenda a todas as condições de usinagem. As aplicações vão ser orientadas por uma ou outra característica mais necessária ao processo de usinagem específico. Assim, podemos concordar que os fluidos devem ser utilizados na menor quantidade possível. Quando não houver alternativa para redução do uso, a sua aplicação deve ser controlada comsistemas de exaustão e captação de gases e com o posterior tratamento dos efluentes sólidos e líquidos. Por isso, os fluidos de corte devem ser tratados de forma adequada antes do seu descarte. Na medida do possível, recomenda-se a realização da usinagem sem a utilização de fluidos de corte, a chamada usinagem a seco, ou a redução da sua quantidade. Outra técnica de aplicação com Mínima Quantidade de Lubrificante (MQL) tem avançado de forma bastante significativa nos processos de usinagem. 20 Nesse sistema, uma bomba goteja um óleo integral que é aspergido sobre a peça por um sopro pneumático. Veja na figura abaixo um exemplo de aplicação de um sistema MQL. Figura 17 – Aplicação com a Mínima Quantidade de Lubrificante Fonte: Shutterstock. No sistema em questão, o óleo é soprado em alta velocidade e penetra melhor na interface entre o cavaco e a ferramenta. O óleo é bastante fino e consegue atingir os locais que a água dos processos de jorro em baixa pressão não alcança. Além disso, o volume de óleo empregado é muito pequeno, da ordem de 10 ml/h a 200 ml/h. O óleo permanece sobre a superfície usinada da peça, formando uma camada protetora contra a oxidação do meio ambiente. Obviamente, também há problemas nesse sistema. Os principais estão associados à necessidade de máquinas especiais para conter os cavacos que são removidos em alta velocidade e ao elevado nível de ruído, devido à pressão de ar empregada. NA PRÁTICA Resolva as questões a seguir. As respostas poderão ser encontradas após a seção de Referências. 1. Calcule os valores de rugosidade Ra e Rt esperados para o torneamento de uma peça de aço-carbono com uma ferramenta de raio de ponta 0,8 mm com 21 profundidade de corte ap = 2,5 mm e avanço 0,25 mm/rot. Considere o ângulo de ataque a 90°. a) Ra = 2,5 µm; Rt = 0,98 µm. b) Ra= 2,5 µm; Rt = 9,8 µm. c) Ra= 0,25 µm; Rt = 9,8 µm. d) Ra= 0,25 µm; Rt = 0,98 µm. 2. Indique se as seguintes considerações sobre integridade superficial são verdadeiras (V) ou falsas (F): ( ) Furos produzidos com broca helicoidal geralmente apresentam desvios de forma. ( ) Nas equações de cálculo teórico para a rugosidade prevista no processo de torneamento, o valor da profundidade de corte tem papel fundamental, pois influencia no cálculo do valor de Ra. ( ) O aquecimento gerado nos processos de fabricação pode resultar em desvios de empenamento em superfícies planas. ( ) Podemos medir vários desvios de forma diretamente na máquina antes de soltar a peça da máquina. Isso garante a qualidade da peça antes do término da operação. ( ) Peças de aço inoxidável não sofrem desvio de forma devido ao calor gerado no processo de usinagem porque esse tipo de material não sofre aquecimento. ( ) Uma das formas de reduzir os desvios de forma provocados pelo aquecimento da peça é a utilização de fluidos refrigerantes para resfriamento da peça, do cavaco e da ferramenta durante a usinagem. ( ) Em operações que exijam grandes remoções de material, é recomendada a execução de operações de desbaste e acabamento para reduzir os riscos de ocorrer desvios de forma nas peças usinadas. ( ) As alterações subsuperficiais somente vão ocorrer quando a temperatura extrapolar o patamar de transformação de fases do material da peça. 3. Indique (V) para verdadeiro e (F) para falso sobre as funções dos fluidos de corte: ( ) Colaboram na limpeza da máquina. ( ) Facilitam a remoção do cavaco da área de corte da ferramenta. ( ) Realizam a lubrificação da ferramenta. ( ) Produzem a contaminação da peça. ( ) Produzem a oxidação do cavaco. 4. Explique o que é um fluido emulsionável. Indique quais são as proporções de óleo e água mais comuns nesse tipo de fluido de corte. 22 5. Por que os óleos integrais têm melhores propriedades anticorrosivas quando comparados com emulsões e soluções? 6. Explique o que significa a sigla MQL e quais são as limitações de sua aplicação. 7. Indique se as seguintes considerações sobre a aplicação dos fluidos de corte são verdadeiras (V) ou falsas (F): ( ) O sistema de aplicação de fluidos por jorro consiste em um reservatório de fluido com uma bomba hidráulica, uma tubulação que transporta o fluido até a região de corte, válvulas para controle de fluxo e calhas para captação do fluido utilizado e redirecionamento para o reservatório. ( ) O sistema de aplicação de fluidos pelo método de pulverização com mínima quantidade de lubrificante (MQL) consiste em uma unidade misturadora e pressurizadora, e um bico de restrição que vai direcionar o jato do fluido. ( ) O método MQL consome mais óleo de corte que o método de lubrificação por jorro, porque naquele método o fluido não é reaproveitado. ( ) A principal dificuldade de aplicação dos fluidos de corte é a manutenção simultânea das capacidades de lubrificação e refrigeração da peça, porque isso exige a atenção redobrada do operador da máquina. 23 REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14646:2001: Tolerâncias geométricas - Requisitos de máximo e requisitos de mínimo material. Rio de Janeiro: ABNT, 2001ª. _____. NBR 6409:1997: Tolerâncias geométricas: Tolerâncias de forma, orientação, posição e batimento: Generalidades, símbolos, definições e indicações em desenho. Rio de Janeiro: ABNT, 1997. BLASER. Disponível em: <http://www.blaser.com/>. Acesso em: 27 nov. 2017. CIMM. Tipos de fluido de corte. Disponível em: <http://www.cimm.com.br/portal/material_didatico/4830-tipos-de-fluido-de- corte#.VpRQa_krKUl > Acesso em: 24 jan. 2018. MACHADO, A. R. et al. Teoria da usinagem dos materiais. São Paulo: Blucher, 2009. SANDVIK COROMANT. Knowledge. Disponível em: <http://www.sandvik.coromant.com/en-gb/knowledge/pages/default.aspx>. Acesso em: 24 jan. 2018. 24 RESPOSTAS 1. B. 2. V, F, V, V, F, V, V, F. 3. V, V, V, F, F. 4. É uma mistura de óleo e água. 5. Porque não tem água em sua composição. 6. Mínima Quantidade de Lubrificante, ruído e expulsão violenta do cavaco. 7. V, V, F, F.
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