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Serviço Social e Questão Social unid II

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Serviço Social e QueStão Social
Unidade II
5 A Questão sociAl contemporâneA e os DesAfios pArA o serviço 
sociAl
Ao analisar a identidade do Serviço Social, Martinelli (2007) orienta que esta foi atribuída pelo 
capitalismo, pelos ideais burgueses. Para a autora, a formação da identidade iniciou‑se por meio 
do movimento dos profissionais de Serviço Social, para expressar as práticas sociais repressoras e 
controladoras que visavam a garantir a consolidação do sistema capitalista.
O Serviço Social, conforme alguns pesquisadores – dentre eles Almeida, Barbosa e Cardoso (1998) –, 
transforma‑se continuamente, porque sua existência é atrelada ao processo de transformação da sociedade, 
que, igualmente, vive transformações históricas nos âmbitos social, econômico, político, cultural e ambiental.
Com tantas modificações, a profissão adotou alguns instrumentais importantes para o universo do 
trabalho. Um deles é a pesquisa, uma das ferramentas mais eficientes e concretas de estudo, servindo 
como fonte de leitura compreensiva da sociedade e das questões que a envolvem (BULLA, 2003).
 saiba mais
Leia:
HELLER. A. Estrutura da vida cotidiana. In: ______. O cotidiano e a 
história. São Paulo: Paz e Terra, 1970. p. 17‑41.
A intervenção do assistente social, no contexto do sistema de acumulação financeirizada do capital, 
exige que o profissional mantenha, como instrumentalidade importante para sua atuação, o conhecimento 
e a pesquisa, a fim de proceder a análises contextuais críticas, éticas e propositivas, além de ser capaz de 
realizar ações de efeito para o enfrentamento da Questão Social em suas múltiplas expressões.
Ao focar a Questão Social, expressa, nessa estrutura de Estado neoliberal e de mundialização do 
capital, que as análises da área também devem contemplar a totalidade dos desafios apresentados para 
sua operatividade.
Para Iamamoto (2000a), no trabalho com a Questão Social é necessário:
[...] captar as múltiplas formas de pressão social, de inversão e de reinversão 
da vida, construídas no cotidiano, pois é no presente que estão sendo 
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recriadas as novas formas de viver, que apontam um futuro que está sendo 
germinado (IAMAMOTO, 2000a, p. 28).
As novas configurações de espaço profissional exigem do assistente social um direcionamento 
ético‑político, com competências para a construção de espaços que assegurem direitos, democracia 
participativa e fortalecimento do potencial para as lutas sociais reivindicativas e direcionadas para as 
conquistas de uma sociedade mais justa e democrática.
Para a pesquisadora Telles (1996, p. 85):
[...] a questão social é a aporia das sociedades modernas que põe em foco 
a disjunção, sempre renovada, entre a lógica do mercado e a dinâmica 
societária, entre a exigência ética dos direitos e os imperativos de eficácia 
da economia, entre a ordem legal que promete igualdade e a realidade das 
desigualdades e exclusões tramada na dinâmica das relações de poder e 
dominação.
A autora trata da Questão Social como uma categoria, que traz em si as contradições do modo capitalista 
de produção, o qual, por sua vez, funda‑se na produção e na apropriação da riqueza gerada socialmente. 
Os trabalhadores que produzem a riqueza não compartilham, com os capitalistas, de sua apropriação.
Ao analisarmos a Questão Social, é preciso saber que é uma forma de estudo sobre a sociedade, 
porque não há consenso sobre as suas fontes constituintes.
De qualquer forma, o estudo sobre a Questão Social é uma análise da perspectiva mais ampla em 
que a maioria da população se encontra, geralmente caracterizada pelos trabalhadores que vendem 
sua força de trabalho e não têm acesso, por quaisquer meios, às condições fundamentais para sua 
sobrevivência (TELLES, 1996).
Portanto, estudar a Questão Social é ressaltar as diferenças, entre trabalhadores e capitalistas, no 
acesso a direitos e nas condições de vida, destacar os processos de estruturação das desigualdades 
sociais e pesquisar mecanismos para a superação das manifestações dessas desigualdades, partindo do 
entendimento de como são produzidas, na sociedade e na subjetividade dos homens.
Algumas da expressões da Questão Social na cena contemporânea são caracterizadas, dentre outras 
manifestações, por:
• violência estrutural;
• formação de uma sociedade voltada exclusivamente para o consumo;
• analfabetismo;
• desemprego;
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• desregulamentação do trabalho;
• flexibilização das relações trabalhistas;
• favelização;
• fome;
• analfabetismo político.
O surgimento e o agravo da Questão Social estão relacionados com o desenvolvimento da ordem 
capitalista, na contradição capital versus trabalho e, portanto, na exploração de uma classe pela outra. 
Assim, a existência da Questão Social revela a situação estrutural de violência, exploração e desigualdade 
em que o mundo se encontra.
As manifestações ou expressões da Questão Social na forma de discriminação contra índios e negros, 
na questão de gênero, na fome, na miséria e na falta de emprego são consequências da violência estrutural.
Por isso, antes de cometer uma forma de violência, o sujeito já foi violentado, quando não teve 
acesso a direitos fundamentais à sobrevivência, como educação, saúde e trabalho.
A miséria, o desemprego, a falta de rendimentos, a falta de informação e o não acesso à educação 
aparecem, mais frequentemente, como causas da violência. A insegurança diária pela qual passam os 
indivíduos impede a projeção de expectativas de vida, mesmo em curto prazo, e também pode ser fonte 
de violência. As novas formas de “trabalho”, como as atividades ilícitas, são apresentadas também como 
motivadoras de outras violências (AMORIM, SILVA e TRINDADE, 2006).
É possível afirmar, então, que a violência estrutural é a maior de todas as violências, uma vez que 
precede as demais. Não estamos afirmando que é a causadora das outras violências, por exemplo, da 
violência doméstica, da urbana, da autoafligida ou da cometida por gangues, pois isso seria desconsiderar 
fatores individuais, de cunho genético ou psicológico.
A intenção, obviamente, não é essa, mas, sim, apontar a violência estrutural como intensificadora 
das demais, reafirmando mais uma vez que, nestas, o violentador é, antes de tudo, vítima da uma 
violência maior, mais profunda, estrutural.
Estudos sobre violência urbana afirmam que a violência interpessoal está profundamente arraigada 
na enorme desigualdade que existe entre as classes dominantes e quase todo o resto da população. Os 
jovens, muitas vezes agentes da violência urbana, encontram‑se em condições péssimas de moradia, 
alimentação, educação e higiene – expressões da Questão Social.
Esses não são elementos causadores da violência urbana, mas tornam as pessoas vulneráveis à 
violência. Destarte, a violência estrutural, existente no cerne da sociedade capitalista, não somente 
mantém relação com a Questão Social e suas expressões, mas também é responsável pela sua existência.
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O agravamento da Questão Social e o adensamento da violência estrutural são legitimados na 
sociedade e, muitas vezes, tornam‑se naturalizados e camuflados, para que sejam aceitos pela população.
O Estado tem papel fundamental nesse processo de legitimação da violência estrutural e de 
pseudoenfrentamento da Questão Social,uma vez que está a serviço do capital (AMORIM, SILVA e 
TRINDADE, 2006).
Ao falarmos de violência, remetemo‑nos ao Estado, uma vez que este tem o papel de criar respostas 
de enfrentamento das situações de violência, visando à melhoria da qualidade de vida da população. 
Pelo menos é assim na teoria. Na realidade, o Estado coloca‑se cada vez mais a favor do capital, criando 
políticas sociais que perpetuam a Questão Social e a violência estrutural, por meio de programas e 
serviços fragmentados e mantedores da ordem vigente.
A origem do Estado está relacionada à necessidade de dominar os antagonismos entre as classes 
e, dessa forma, este se coloca a serviço da classe mais poderosa economicamente. Por meio do Estado, 
essa classe, além de ser economicamente dominante, passa a ser politicamente dominante, com maior 
possibilidade de oprimir e explorar a classe dominada.
Por isso, falar de violência é falar de Estado, pois este tem o monopólio dos instrumentos de violência 
legítima, como forma de manter ou restaurar a ordem e a paz da sociedade. Exemplos de instrumentos 
do Estado são a polícia, o exército e os presídios.
Com efeito, é próprio de nossa época conceder a todos os outros grupos, ou indivíduos, o direito de 
apelar para a violência somente na medida tolerada pelo Estado: este passa a ser, então, a única fonte 
do “direito” à violência (AMORIM, SILVA e TRINDADE, 2006).
A própria violência do Estado está a serviço do capital e, dessa forma, contribui para o desenvolvimento 
da violência estrutural. Pesquisadores afirmam que, ainda hoje, não há um Estado de direito para a população 
que facilite o acesso aos direitos garantidos por lei. Essa situação é reforçada pela ausência de serviços públicos 
e pela falta de enfrentamento das expressões da Questão Social (AMORIM, SILVA e TRINDADE, 2006).
Está explícito que a violência legítima do Estado é cada vez mais usada para defender os interesses 
das classes dominantes. Essa postura estatal tem impacto sobre as variadas formas de violência, 
principalmente na reprodução da violência estrutural.
Nesse sentido, de modo geral, o Estado é o principal responsável pelo problema da violência. Exigimos 
dele mais eficácia, lisura e intervenção, no que se refere às funções administrativas, políticas e jurídicas 
definidas em lei.
A autora Telles (1996) faz as seguintes considerações sobre as influências do Estado nas reconfigurações 
da violência:
Essa manifestações, por sua vez, produzem a necessidade de reconfigurações 
do trabalho, através da criação de “novas profissões”, catadores de papel; 
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limpadores de vidro em semáforos; “avião” – vendedores de drogas; 
minhoqueiros – vendedores de minhocas para pescadores; jovens faroleiros 
– entregam propagandas nos semáforos; crianças provedoras da casa – 
cuidando de carros ou pedindo esmolas, as crianças mantêm uma irrisória 
renda familiar; pessoas que “alugam” bebês para pedir esmolas; sacoleiros 
– vivem da venda de mercadorias contrabandeadas; vendedores ambulantes 
de frutas etc., que se originam das desigualdades produzidas pelo capital 
(TELLES, 1996, p. 190).
Segundo Telles (1996), a cidadania não é garantida, em virtude da grande desmobilização do povo 
provocada pela opressão do Estado e pelas formas de configuração urbana. Estas promovem as situações 
de violência e fazem as pessoas recorrerem a serviços religiosos e de autoajuda, vinculados a proposições 
de ideologia marcadas pela oferta mágica de salvação garantida.
Quando concebemos a cidadania em novas dimensões, entretanto, imaginamos que os cidadãos 
sejam sujeitos ativos, identificados com seu grupo social, cientes dos valores democráticos e capazes de 
aprender com a convivência e a organização social, resistindo às formas de opressão e combatendo as 
conformações conservadoras dos lugares numa dada classe social.
Participação significa acolhimento dos ideais plurais da sociedade, com profundas melhorias nas 
formas democráticas, a fim de promover debates e gerar decisões baseadas em consensos. Esse modelo 
prevê que as representações sejam pautadas por uma expressão de poderes legitimados, como fruto da 
autonomia dos grupos sociais e de suas formas de organização política e social.
O Estado, nesse caso, vê‑se impelido a diminuir as esferas burocráticas de acesso a bens, serviços 
e recursos, bem como a aceitar a participação desses representantes da sociedade organizada no 
planejamento e na tomada de decisões referentes à comunidade, valorizando os princípios da autonomia 
democrática.
Não raro, os profissionais de Serviço Social, num movimento alienado e 
alienante, não conseguem, em sua operacionalidade, atuar no enfrentamento 
da Questão Social, simplesmente porque não conseguem percebê‑la, e 
atuam, mesmo que bem‑intencionados, com algumas de suas expressões: o 
desemprego, o analfabetismo, a fome, a favela, a falta de leitos em hospitais, 
a violência, a inadimplência etc. (TELLES, 1996, p. 202).
Conforme analisado anteriormente, o processo de mundialização do capital altera de forma substancial 
as relações trabalhistas e econômicas, e até mesmo o modo como a sociedade se organiza, política, 
cultural e socialmente. Assim, os territórios ocupados pela populações também são reconfigurados, de 
tal forma que as cidades e os espaços urbanos passam a expressar o agravamento da Questão Social, 
com destaque para a precarização do trabalho e a explosão do desemprego (TELLES, 1996).
Esses mesmos espaços, adensados e com precariedade de planejamento urbano, apresentam 
deterioração das áreas coletivas e, sob a influência neoliberal, transferem do Estado para a sociedade 
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civil organizada (representada pelo terceiro setor) e para empreendedores privados suas responsabilidade 
pela prestação de serviços públicos (TELLES, 1996).
Sem acesso democrático a essas instâncias públicas de desenvolvimento social, expressas em 
serviços sociais, de saúde, de educação e de infraestrutura urbana, alguns segmentos da população, 
mais desiguais perante o sistema capitalista, são submetidos ao estabelecimento de novas formas de 
segregação e violência urbana pelos novos circuitos de pobreza e riqueza, que redefinem os tradicionais 
modelos de centro e periferia (TELLES, 1996).
Análise semelhante é a de Raichelis (2006), citando entrevista concedida por Caldeira (2005): “Os 
conflitos urbanos hoje tomaram o lugar das antigas lutas trabalhistas ocorridas nas fábricas, e o espaço 
da cidade passou a ser o foco [...] da organização política [...]” (RAICHELIS, 2006, p. 33).
Atualmente, tais conflitos se expressam em manifestações contra o sistema e mobilizações em 
defesa dos direitos dos cidadãos, bem como nos momentos de combate contra as formas de opressão. 
“O que eram a fábrica e as condições de trabalho industrial, que davam o simbolismo para as revoltas, 
hoje é a cidade e as condições de vida nela” (CALDEIRA, 2005 apud RAICHELIS, 2006, p. 33).
A realidade social brasileira – que tradicionalmente é excludente, concentradora de riqueza, injusta 
em sua essência, principalmente com o modelo adotado pelas políticas neoliberais de ajuste estrutural 
– tem apresentado dados extremamente perversos quantos às classes mais “vulneráveis” (TELLES, 1996).
É em grande parte sobre esses segmentos sociais que se concentra o foco da ação repressiva de 
controle e vigilância. Mesmo considerando que o controle social não se restringe aos pobres, é sobre eles 
que recai o foco dos seus instrumentos de atuação, tendendo a naturalizar essa condição.
Os “mais desfavorecidos” são a clientela do chamado eficientismo penalde emergência, que 
contrapõe‑se frontalmente ao Direito Penal mínimo, ao Direito Penal descrito na Constituição brasileira 
de 1988 – o qual se baseia na proteção integral dos direitos fundamentais – cujo desafio é a pacificação 
dos conflitos e a justiça social.
O eficientismo penal é um elemento integrante da crise social e política do mundo contemporâneo, 
em uma realidade de frustração das promessas da modernidade, possuindo as seguintes características 
(TELLES, 1996):
• é uma forma de fundamentalismo penal no combate à criminalidade;
• expressa‑se no Direito Penal máximo;
• despolitiza e descontextualiza os conflitos e problemas sociais, tratando‑os de forma técnica.
Ao despolitizar os conflitos, considerando‑os apenas sob a ótica criminal, os níveis de impunidade e 
de imunidade de certos grupos sociais acabam por aumentar; ao expandir a abrangência da penalização 
de condutas, o eficientismo torna o sistema penal mais seletivo.
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Verificamos, na prática, um crescimento da ação repressiva do controle penal atuando sobre as áreas 
populares e os grupos sociais “vulneráveis”. É dessa maneira que a hegemonia neoliberal, ao desmontar 
as políticas de um Estado de bem‑estar social, impôs, em seu lugar, uma nova estrutura de retrocesso do 
setor social do Estado, em favor do seu braço penal.
Esse é o papel que desempenha a rede de difusão de valores, ideias e modelos neoconservadores na 
formação de uma opinião pública e de um ambiente favorável à interiorização do sentimento punitivo.
Tais políticas, implantadas pelo modelo de controle social da ordem neoliberal, tendem a naturalizar a 
desigualdade; e, ao “fazê‑la parecer normal”, o tratamento desigual e excludente é legitimado, e as vozes 
de confronto a esse pensamento não são ouvidas, rendendo‑se à naturalização que o sistema impõe.
Entendemos por paradigma o conjunto de pressupostos que, aceitos sem crítica durante determinado 
período histórico, funcionam como fundamentos das concepções vigentes sobre o homem, a vida social, 
o ser e o conhecimento (TELLES, 1996).
Os assistentes sociais, ao se inserirem nos espaços de gestão, execução e monitoramento – por 
exemplo, o da política habitacional –, enfrentam outros dilemas, com a concepção de direito à moradia, 
que vem ao encontro do compromisso ético‑político profissional, fundamentado nos princípios de 
justiça social, equidade, democracia e cidadania.
Dentre os fatores que geram demandas para os profissionais de Serviço Social na esfera pública, 
podemos elencar (TELLES, 1996):
• a crise habitacional, evidenciada na falta e na precariedade de moradias e nas condições irregulares 
de titulação;
• urbanização;
• regularização fundiária;
• situações emergenciais de alagamentos, incêndios, deslizamentos;
• remoções em situações de risco físico e social, bem como as de interesse do poder público e os 
assentamentos de famílias inscritas nos municípios.
Os fatores apresentados revertem‑se em trabalhos de desenvolvimento social, como programas de 
assentamento, regularização fundiária e remoções. Os usuários do Serviço Social na área de habitação não 
têm acesso a uma moradia regular, ou seja, constituem uma parcela significativa da classe trabalhadora, 
com renda familiar de até cinco salários mínimos, que paga aluguel e mora em áreas de ocupação 
irregular e grupos organizados (TELLES, 1996).
Nesse cenário, o assistente social, por meio das dimensões ético‑política, teórico‑metodológica e 
técnico‑operativa do fazer profissional, tem o desafio de contribuir, no espaço institucionalizado:
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• com a defesa da direção social da política de desenvolvimento urbano e de habitação;
• com a construção da esfera pública para aparecimento e visibilidade dos interesses;
• com a emancipação dos sujeitos sociais, por meio da qualificação para a defesa dos direitos 
sociais, civis, políticos, culturais e humanitários.
A construção da esfera pública requer novas modalidades de relação entre o Estado e a sociedade 
civil que vão além da forma estatal – em que o público se associa ao Estado, enquanto o privado se 
associa ao mercado –, com base no reconhecimento do direito de todos a participar da vida pública, 
como espaço essencialmente político de aparecimento e visibilidade, em que tudo o que vem a público 
pode ser visto e ouvido por todos.
Para o desenvolvimento de suas atividades, os assistentes sociais utilizam‑se de meios teóricos – 
sociais e urbanos –, legais e institucionais, tomando parte no planejamento da política de habitação, na 
elaboração de diagnósticos, pesquisas e projetos de intervenção etc.
É relevante que o assistente social, ao atuar profissionalmente, não apenas incentive a sociedade 
civil a tomar parte nos conselhos e contribua para tal, mas também participe dessas reuniões. Isso é 
fundamental, visto que os conselhos são importantes canais para a participação coletiva e a criação de 
novas relações políticas entre governos e cidadãos.
Espaços estão sendo construídos pela ação coletiva de inúmeros sujeitos sociais, especialmente no 
âmbito dos municípios. Para a totalização do fazer profissional, o assistente social também deve propor 
outras estratégias não institucionalizadas de participação e busca de formação de alianças com demais 
segmentos da sociedade civil organizada (TELLES, 1996).
Uma possibilidade é formar grupos organizados que lutem por cidades mais justas e igualitárias, para 
a construção de outras formas de participação e gestão da coisa pública que, distintas dos conselhos, 
configurem‑se como espaços não institucionalizados, menos formalizados e ritualizados e, por isso, mais 
permeáveis à participação popular. Ao serem fortalecidos, esses grupos podem servir de instrumentos 
dinamizadores e ativadores dos conselhos, com vistas a garantir mais representatividade e legitimidade 
social a estes.
No Brasil, o modelo de gestão pública foi baseado numa forma de tomada de decisões centralizada, 
competindo as execuções ao âmbito federal, que, por sua vez, também definia, até a década de 
1970, os processos seguintes nas áreas estaduais e municipais. Isso interferia substantivamente na 
autonomia de planejamento e gestão em todo o território nacional. Com a mobilização popular na 
luta por democracia e atendimento dos direitos sociais, ocorreu a transição para um contexto de 
gestão democrática que valorizava a participação e o controle populares em todas as esferas de 
poder, planejando e definindo a gestão das políticas públicas e as demais formas de organização 
dos estados e municípios, reduzindo significativamente as forças centralizadoras das instâncias 
federais (RAICHELIS, 2006).
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Ainda segundo Raichelis (2006), a partir dessas mudanças de teor democrático, a participação 
dos cidadãos passa a ser uma referência na qualidade da gestão pública e ganha visibilidade social, 
com o reconhecimento de sua capacidade para romper e enfrentar as tensões geradas pelas forças da 
desigualdade.
No decorrer dessas transformações, “os conflitos urbanos, em suas diferentes manifestações no 
espaço público e privado, ganham expressões diversas na vida dos diferentes grupos sociais” (RAICHELIS, 
2006, p. 33). As pessoas se encorajam para manifestar‑se diante das situações excludentes a que estão 
submetidas. Especialmente, influenciadas pelos novos debates mundiais acerca da desvalorização dos 
instrumentos de defesa dos direitos humanos, rebelam‑se eprovocam efeitos desestruturadores nas 
suas relações com a cidade. Fica evidente, a partir dessas formas de mobilização e crítica social, a 
realidade da concentração territorial e da existência das camadas empobrecidas, que são destituídas de 
participação como atores sociais e políticos na cidade.
A respeito desse assunto, Raichelis (2006) descreve a visão de Caldeira (2000) da seguinte forma:
a segregação – tanto espacial quanto social – é uma característica 
importante das cidades, pois as regras que organizam o espaço urbano 
são apoiadas basicamente em padrões de diferenciação social e de 
separação. Trata‑se de regras que variam cultural e historicamente, 
revelam os princípios que estruturam a vida pública em cada sociedade e 
indicam como os grupos sociais se inter‑relacionam no espaço da cidade 
(RAICHELIS, 2006, p. 34).
As áreas urbanas reduzem a capacidade de mobilização das pessoas, criando hiatos entre as classes, 
estigmas e preconceitos, bem como submetendo os jovens a situações em que a falta de perspectiva de 
futuro é flagrante e limita a projeção de sonhos. Esses jovens são atraídos para formas mais imediatas 
de realização e concretude de seus desejos, expressas pela expansão da criminalidade e da violência nos 
meios urbanos.
Os espaços urbanos mais densamente ocupados são os de periferia, que apresentam pouca 
infraestrutura urbana e distância do acesso à oferta de serviços públicos de educação, saúde, cultura, 
habitação, política etc., o que ocasiona a manifestação de formas de sobrevivência marginal, com 
estratégias econômicas improvisadas, voltadas para a informalidade e até mesmo para a ilegalidade e 
o crime.
Nesse sentido, as políticas realizadas pela gestão pública para apresentar mecanismos de 
enfrentamento da Questão Social precisam considerar as “transformações que se processam 
hoje na esfera familiar, nos novos arranjos familiares que desconfiguram os tradicionais papéis 
de homens e mulheres e instalam novas e conflitivas dinâmicas geracionais e de gênero” 
(RAICHELIS, 2006, p. 34).
Considere, por exemplo, os dados sobre a violência doméstica publicados no Observatório de Gênero 
da Secretaria de Política para as Mulheres do Brasil:
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Tipo de crime – %
14,7
3,2
9,961,3
7,8
6
1,1
1,7
Ameaça
Calúnia
Difamação
Estupro
Injúria
Lesão corporal grave
Dano emocional / Diminuição 
da autoestima
Figura 2 – Classificação da violência doméstica de acordo com o tipo de crime
Relação com o agressor %
Co
m
pa
nh
ei
ro
/ 
cô
nj
ug
e
Ex
‑m
ar
id
o/
 
Ex
‑n
am
or
ad
o
Fi
lh
o(
a)
/ 
Irm
ã(
o)
N
am
or
ad
a
N
am
or
ad
o
Pa
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Ou
tr
os
Co
m
pa
nh
ei
ra
15,3
53,0
13,8
2,7 0,6 1,6 0,7
7,8
Figura 3 – Classificação dos relacionamentos em que houve violência doméstica quanto ao tipo de relação com o agressor
Tempo de relação %
Até 6 
meses
3,2 2,9
11,4 9,3
7,3 7,8
20,1
38,0
Entre 6 
meses e 
1 ano
Entre 1 
ano e 2 
anos
Entre 2 
anos e 
3 anos
Entre 3 
anos e 
4 anos
Entre 4 
anos e 
5 anos
Entre 5 
anos e 
10 anos
10 anos 
ou mais
Figura 4 – Classificação dos relacionamentos em que houve violência doméstica quanto ao tempo de relação
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Serviço Social e QueStão Social
Tempo que ocorre a violência %
39,8
Desde o início 
da relação
Há 2 anos 
ou mais
Há 1 ano Há 6 meses Há menos 
de 1 mês
28,9
13,0
9,6 8,8
Figura 5 – Gráfico demonstrativo de quanto tempo ocorre a violência doméstica nas famílias pesquisadas
Risco %
48,450
40
30
20
10
49,8
1,8
Espancamento Estupro Morte
Figura 6 – Classificação da violência doméstica quanto ao risco
Dependência finenceira da vítima com o agressor %
40,2%
59,8%
Não
Sim
Figura 7 – Classificação das vítimas de violência doméstica 
quanto à dependência financeira do agressor
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Relação dos filhos com a violência %
Não presenciam nem 
sofrem violência
Presenciam a violência
Sofrem violência
16% 16%
68%
Figura 8 – Gráfico demonstrativo da relação dos filhos com a violência doméstica
Agride sob efeito de entorpecentes %
44%
40%
16%
Nem sempre
Nunca
Sempre
Figura 9 – Gráfico demonstrativo da ocorrência de 
agressão sob efeito de entorpecentes
Quem ligou relatando a violência %
86,9 %
Vítima
Vizinho(a)
Parentes
Mãe
Amigo(a)
Filho(a)
Conhecido(a)
Sogro(a)
Cunhado(a)
Outro
Figura 10 – Classificação dos denunciantes da violência doméstica
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Serviço Social e QueStão Social
Tipo de violência %
2%2%
13%
26% 57%
Física
Psicológica
Moral
Sexual
Patrimonial
Figura 11 – Classificação quanto ao tipo de violência
Uma publicação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2010a), que traz a 
avaliação dos Objetivos de Desenvolvimento para o Milênio (ODM), aponta diversos avanços a respeito 
das políticas sociais que vêm sendo implementadas no Brasil, exaltando o Programa Bolsa Família, que 
tem sido adotado como uma política de transferência de renda.
A seguir, alguns dados permitem uma breve análise sobre a realidade da política brasileira em anos 
recentes:
PNUD Regional apresenta relatório ao governo brasileiro
[...]
O documento do PNUD aponta diversos avanços a respeito das políticas sociais que vêm 
sendo implementadas no Brasil e é particularmente elogioso à política de transferência 
de renda do Programa Bolsa Família, que atende 12,6 milhões de famílias brasileiras com 
repasse previsto de R$ 13,1 bilhões em 2010. O texto destaca os serviços universais de 
saúde, por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), e os avanços na área educacional, 
que teve um impacto direto na redução da desigualdade.
No entanto, técnicos dos órgãos do governo levantaram questionamentos e limitações 
do Relatório, em especial em relação à comparabilidade internacional dos dados e sobre o 
novo índice proposto, o IDH‑D.
A comparação internacional de indicadores sociais, como o Índice de Gini (que mede 
a desigualdade social), deve ser utilizada com cuidado, segundo Jorge Abrahão, diretor de 
Estudos Sociais do Ipea, uma vez que cada país calcula a renda de uma forma. Além disso, 
o relatório usou anos diferentes (1995 a 2005) para comparar os indicadores, como se 
partissem do mesmo ano. Um terceiro questionamento é de que os dados apresentados 
estão desatualizados e não consideram a evolução temporal, e a América Latina, em especial 
o Brasil, avançou muito a partir dos anos 2000.
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Os dados de desigualdade de renda do Brasil no relatório são de 2005, portanto 
desconsidera o avanço do país na redução da desigualdade que ocorreu até 2008 (dado 
mais atualizado). No período de 2005 a 2008, a queda de desigualdade no país foi de quase 
4% [...].
Indicadores importantes que apresentam a evolução do Brasil podem ser melhor 
utilizados, dentre eles: 1) o crescimento da renda média diária, que saltou de R$ 7,3, em 
1995, para R$ 12,1, em 2005 (65% de aumento); 2) o ritmo de queda da desigualdade da 
renda no Brasil ter se acelerado nos últimos anos: passou de 2%entre 1995 e 2002 para 
mais de 7% entre 2002 e 2008; 3) o número de pessoas que saíram da pobreza (20,3 milhões 
entre 2002 e 2008), contingente superior à soma da população total do Chile e do Uruguai; 
e 4) no mesmo período, o número de extremamente pobres diminuir 14,9 milhões, número 
superior à população total do Equador.
Com relação ao novo IDH‑D utilizado pelo PNUD, especialistas do Ipea concluíram que 
não pode ser comparável com o IDH tradicional, pois é composto por outros indicadores. 
Na saúde, por exemplo, a expectativa de vida, sempre utilizada no IDH tradicional, foi 
substituída por acesso a água potável e disponibilidade de banheiro no domicílio. Para os 
especialistas, nem todos os indicadores utilizados são os mais adequados para mensurar a 
desigualdade.
Mas a maior limitação levantada foi o fato de que o índice reflete uma fotografia de 
um ponto do tempo, referente a um momento passado. Assim, não é possível verificar 
a trajetória da evolução de cada país – o que só poderá ocorrer nas próximas edições 
– e tendo, nesse momento, pouca utilidade prática em termos de aprimoramento de 
políticas.
Os índices alcançados pelo Brasil, sobretudo a partir da década de 2000, mostram 
um novo país. Foram gerados 13,2 milhões de empregos formais, entre 2003 e junho de 
2010, e a classe média aumentou de 43% da população em 2003 para 53% em 2009. 
Essa mobilidade social associada ao crescimento econômico não tinha sido verificada nas 
décadas passadas.
Fonte: Brasil, 02 ago. 2012.
 lembrete
Conflitos urbanos substituem as lutas trabalhistas ocorridas nas 
fábricas. A cidade torna‑se palco da organização política em manifestações 
contra o sistema, bem como em mobilizações pelos direitos do cidadãos e 
no combate à opressão (RAICHELIS, 2006).
Raichelis (2006) destaca uma pesquisa empírica realizada por Caldeira (2000, p. 211) na cidade de 
São Paulo, entre 1988 e 1998, para conhecer
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a forma pela qual o crime, o medo à violência e o desrespeito aos direitos 
de cidadania têm se combinado com as transformações urbanas para 
produzir um novo padrão de segregação espacial nas duas últimas décadas 
(RAICHELIS, 2006, p. 34).
Segundo Raichelis (2006), a pesquisa de Caldeira (2000) caracteriza o espaço urbano da seguinte 
forma:
• do final do século XIX até os anos 1940, era uma cidade concentrada 
em que os diferentes grupos sociais se comprimiam numa área urbana 
pequena e estavam segregados por tipos de moradia;
• dos anos 1940 aos anos 1980, dominou o desenvolvimento da 
cidade a segunda forma urbana, a centro‑periferia: os diferentes 
grupos estão separados por grandes distâncias; as classes média e 
alta concentram‑se nos bairros centrais com boa infraestrutura, e os 
pobres vivem nas precárias e distantes periferias;
• desde os anos 1980, e convivendo com o padrão centro‑periferia, 
uma terceira forma urbana vem se configurando e mudando 
consideravelmente a cidade e sua região metropolitana (CALDEIRA, 
2000 apud RAICHELIS, 2006, p. 34).
A concentração nos centros urbanos e suas transformações mais recentes vem gerando espaços cada 
vez mais próximos uns dos outros, nos quais as pessoas se organizam nos mais diferentes grupos sociais. 
No entanto, essa aproximação não é produtiva, na medida em que o contato não significa qualidade nas 
trocas entre as pessoas nem aumento das relações sociais organizadas em defesa de melhores condições 
de vida da coletividade.
Observamos, nos centros urbanos, cautela em relação à segurança, com a colocação de muros altos 
e grades para proteger seus habitantes. As pessoas com condições mais elevadas na pirâmide social 
evitam circular pelas áreas coletivas e fazer uso de serviços comunitários, com receio dos riscos da 
exposição a situações de violência e da precarização dos serviços públicos, especialmente de segurança 
(RAICHELIS, 2006).
Essa situação, denominada por Raichelis (2006) de isolamento social urbano, é justificada pelo medo 
de crimes violentos. A distância social e a extrema desigualdade que afetam as classes populares moradoras 
da periferia levam os indivíduos de estratos mais elevados a isolarem‑se com demarcações de segurança em 
torno de suas habitações e a desvalorizar os espaços públicos, “abandonando a esfera pública tradicional 
das ruas para os pobres, os ‘marginalizados’ e os ‘sem‑teto’, modificando profundamente o panorama da 
cidade e as relações públicas entre as classes sociais no território” (RAICHELIS, 2006, p. 35).
Essa apartação social transforma radicalmente os meios de comunicação entre as classes, o acesso 
à informação por parte daquelas com menor poder aquisitivo e as regras de convivência e de interação 
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social, diferenciando as oportunidades e a oferta de equipamentos e bens públicos, “transformando 
as concepções de público e os parâmetros de convivência pública, que contradizem os ‘ideais de 
heterogeneidade, acessibilidade e igualdade que ajudaram a organizar tanto o espaço público moderno 
quanto as modernas democracias’” (CALDEIRA, 2000, p. 12 apud RAICHELIS, 2006, p. 35).
Essas mudanças não são específicas da realidade brasileira: impactam o mundo globalizado, porque 
a financeirização do capital promove as desigualdades sociais com o mesmo padrão e originam um 
novo tipo de organização do espaço urbano. Muitas dessas sociedades, de acordo com a descrição 
do trabalho de Caldeira (2000) realizada por Raichelis (2006, p. 35), “protagonizam movimentos de 
democratização política, de queda de regimes racistas e de intensos fluxos imigratórios, [o que] revela a 
complexidade das relações entre formas urbanas e processos políticos”, como estratégia de defesa e de 
busca de melhores condições de vida, bem como de luta pelos interesses políticos, sociais e econômicos 
das sociedades.
2,0
3,0
1,0
3,5
1,5
Bi
lh
õe
s d
e 
re
ai
s
Assistência social – valores nominais
Assistência social – valores corrigidos pelo IPCA‑IBGE até 31.08.09
Fonte: Siafi
Notas:
2,5
1,5
2,4
1,9
2,2
2,6 2,7
2,8
2,7
2,72,6
2,3
2,2
1,8
1,4
1,6
0,9
3,2
0,5
2002 20062004 20082003 20072005 2009* 2010**
*Lei + crédito: 31 de agosto de 2009.
**Ploa 2010.
Figura 12 – Evolução financeira dos recursos da União para serviços, programas e projetos de assistência social
A figura anterior apresenta a evolução percentual dos recursos da assistência social em relação ao 
orçamento total e à Seguridade Social da União, entendida como o somatório das despesas nas funções 
08 (Assistência Social), 09 (Previdência Social) e 10 (Saúde) (BRASIL, 2009).
A Questão Social e suas expressões refletem a prioridade do capital sobre o trabalho e sobre a 
qualidade da vida social. Torna‑se um desafio, para o Serviço Social, desenvolver conhecimentos capazes 
de deslindar as complexidades desses processos históricos sem submeter‑se igualmente aos mesmos 
processos de crítica e de transformação.
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 observação
As exigências profissionais na cena contemporânea requerem, do 
assistente social, vínculos com um projeto societário.
O enfrentamento da Questão Social possibilita observar que suas expressões são objeto 
de resistências por parte dos segmentos mais desiguais nas sociedades do capital. Os 
trabalhadores, em suas lutas históricas, reivindicam direitos econômicos, sociais, políticos 
e culturais, evidenciando que as expressões da Questão Social privam tais indivíduosdesse 
contexto de desenvolvimento.
Segundo Telles (1996):
Importa ressaltar que a Questão Social é uma categoria explicativa da 
totalidade social, da forma como os homens vivenciam a contradição 
capital‑trabalho. Ela desvenda as desigualdades sociais, políticas, econômicas, 
culturais, bem como coloca a luta pelos direitos da maioria da população, 
ou, como os homens resistem à subalternização, à exclusão e à dominação 
política e econômica (TELLES, 1996, p. 85).
Para Faleiros (1999), a Questão Social, com suas múltiplas expressões das desigualdades, não pode 
ser objeto de uma única profissão. Em sua forma de analisar, o autor considera que a concepção é 
ampla e envolve muitas possibilidades de ser estudada e percebida, segundo o foco histórico‑social e 
cultural que a aprecia. Ainda segundo o autor, na abordagem conceitual e no enfrentamento da Questão 
Social, existe um risco, para os profissionais de Serviço Social, de minimizá‑la a uma leitura pautada 
pelos referenciais históricos das suas origens conservadoras, que focavam as expressões isoladamente, 
fragmentando as proposições de políticas públicas que só faziam acentuar os processos de desigualdade 
social e feriam as estruturas ético‑políticas de defesa da cidadania que imprimem mais significado 
social à profissão.
A partir da década de 1980, com a conjuntura do capitalismo globalizado, da revolução tecnológica, 
das propostas neoliberais e das mudanças no mundo do trabalho, a Questão Social se mundializa, e 
aumentam as exigências éticas, técnicas e políticas para que os profissionais se posicionem em favor dos 
direitos de cidadania, justiça e democracia. Parte dos trabalhadores sociais não ultrapassa os caminhos 
burocráticos e rotineiros, estreitando as possibilidades de contribuir mais plenamente na redução das 
desigualdades sociais.
Dentre os compromissos contemporâneos do Serviço Social, constantes de seu Código de Ética 
Profissional, figuram a igualdade, a justiça social para todos e a solidariedade, ultrapassando os 
limites do voluntarismo e na perspectiva de uma sociedade fortalecida por redes e articulações para o 
desenvolvimento local.
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Nesse modelo, a sociedade indaga os rumos e dilemas da realidade e toma partido destes, bem como 
projeta a política pública necessária para suas dimensões. O assistente social, em contexto democrático, 
integra os movimentos na luta por condições mais iguais e equânimes, numa perspectiva plural, pública 
e com controle popular.
Um olhar mais detido sobre os rumos contemporâneos para o Serviço Social indica exigências para 
que a formação contemple os movimentos investigativos da pesquisa, criando oportunidades a fim 
de que os futuros assistentes sociais desenvolvam competências em suas intervenções, para melhores 
análises da realidade e proposições mais combativas da Questão Social.
O projeto ético‑político atual da profissão apresenta potencialidades para que o assistente social 
caminhe com maior fluidez em suas competências cotidianas, mas as necessidades de transformação da 
categoria não se reduzem a esse projeto.
Alguns estudiosos das dimensões investigativas de pesquisa na área social e da categoria trabalho, 
contextualizado, ética e politicamente, fazem sugestões diversas de alguns caminhos fundamentais a 
serem percorridos.
Dentre esses caminhos, importa analisar que são considerados espaços sócio‑ocupacionais da 
profissão aqueles ocupados pela sociedade, em que se expressem necessidades sociais e nos quais, 
historicamente, a profissão realize, sob a ótica das políticas públicas do Estado, o enfrentamento da 
Questão Social.
As transformações político‑institucionais e a ampliação de canais de 
representatividade dos setores organizados para atuarem junto aos órgãos 
públicos, enquanto conquista dos movimentos organizados da sociedade 
civil, mostram a potencialidade de construção de sujeitos sociais identificados 
por objetivos comuns na transformação da gestão da coisa pública, 
associada à construção de uma nova institucionalidade. Quando se fala de 
“participação dos cidadãos”, deve‑se enfatizar que se trata de uma forma 
de intervenção na vida pública com uma motivação social concreta que se 
exerce de forma direta, baseada num certo nível de institucionalização das 
relações Estado/sociedade. A formulação mais recorrente está estruturada 
em torno do aprofundamento do processo democrático e do seu impacto 
na ampliação da capacidade de influência sobre os diversos processos 
decisórios em todos os níveis da atividade social e das instituições sociais. 
Nesse sentido, a participação social se caracteriza como um importante 
instrumento de fortalecimento da sociedade civil, notadamente dos setores 
mais excluídos, na medida em que a superação das carências acumuladas 
depende basicamente da interação entre agentes públicos e privados, no 
marco de arranjos socioinstitucionais estratégicos (JACOBI, 1990, p. 233).
Na perspectiva neoliberal, contudo, essa participação da sociedade tem sido marcada por um espaço 
político de transferência de responsabilidades, como assinala Montaño (2007).
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O conceito de terceiro setor foi construído por intelectuais orgânicos do sistema do capital, 
encontrando‑se vinculado aos interesses da alta burguesia. A denominação foi cunhada a partir de 
um recorte da área social em três esferas: o Estado como primeiro setor, o mercado como segundo 
setor e a sociedade civil como terceiro setor. Montaño (2007) entende que essa divisão é claramente 
neopositivista, estruturalista e liberal, isolando os setores e separando o político, o econômico e o 
social.
Com essa separação, o terceiro setor tornou‑se funcional para a superação da dicotomia de inspiração 
liberal entre Estado e mercado, ou então entre o público e o privado, pois ambos não conseguiram 
responder às demandas sociais.
No ideário da terceira via, portanto, a alternativa seria a interação de Estado e mercado, “atividade 
pública desenvolvida pelo setor privado” (MONTAÑO, 2007, p. 31), o que criaria uma nova esfera: o 
público não estatal, de caráter comunitarista.
Ainda não existe um consenso a respeito da composição do terceiro setor, pois este abrange desde 
ONGs até fundações, creches comunitárias e atividades sociais em qualquer âmbito, reunindo atividades 
formais e informais.
Montaño (2007) considera que:
O termo terceiro setor não reúne um mínimo consenso sobre sua origem 
nem sobre sua composição ou suas características. Trata‑se da parceria 
entre Estado e sociedade civil; possui uma função claramente ideológica 
vinculada aos postulados neoliberais: acobertar seus objetivos reais e buscar 
a aceitação da população. Estes movimentos se desenvolveriam a partir da 
reinstrumentalização: do Estado via reformas na sua administração, das 
relações de produção com o esvaziamento da legislação trabalhista e da 
sociedade civil com a desarticulação das lutas sociais e na docificação dos 
sujeitos (MONTAÑO, 2007, p. 45)
As parcerias firmadas entre Estado e sociedade civil têm como principal objetivo a supressão dos 
direitos sociais trazidos pela luta dos trabalhadores historicamente.
O caminho a ser seguido para alcançar esse objetivo sem gerar um processo de convulsão social 
seria, primeiro, a terceirização e a desregulamentação dos direitos trabalhistas, com a flexibilização 
dos contratos de trabalho. Concomitantemente a esse processo de perdas, é desenvolvida a ideia de 
uma suposta nova cidadania, acrescida pelos direitos do consumidor, escamoteando o surgimento da 
exploração, da miséria e do desemprego.
A divisão feitapelos teóricos do capital entre primeiro setor (Estado), segundo setor (mercado) 
e terceiro setor (sociedade civil) possui uma debilidade, pois não leva em consideração o processo 
histórico. A sociedade civil produz as instituições, o Estado, o mercado etc.; com isso, o que foi chamado 
de terceiro setor seria, na realidade, primeiro setor (MONTAÑO, 2007).
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Para legitimar a perda dos direitos sociais e ao mesmo tempo acobertar essa meta, são realizadas 
parcerias com o terceiro setor. Nesse processo, é criada a imagem da passagem compensatória para a 
população, legitimando a ideia/explicação da passagem natural das ações estatais para a esfera privada.
Essa passagem natural é sustentada pelos argumentos do estímulo à responsabilidade social 
das empresas, com o aumento da filantropia, a multiplicação de instituições de caridade e ONGs e 
a intensificação da solidariedade individual, em que o capital utiliza valores altruístas para tornar a 
sociedade civil dócil, desmobilizada e desestruturada.
A proposta da terceira via e as ações do terceiro setor apresentam uma contradição no seu projeto 
político. Se por um lado estimulam a solidariedade humana e a construção de uma cultura cívica, por 
outro, ao retirar a autonomia dos países e o seu direito de escolha, cria uma situação de subserviência 
a outros países‑membros dos organismos internacionais que pensam as políticas para o nosso planeta.
Portanto, ao mesmo tempo, temos movimentos de criação de demandas excluídas, carentes de 
políticas sociais, e a promoção da desresponsabilização do Estado, que, além de responsabilizar essa 
mesma sociedade civil carente, precariza os serviços oferecidos a ela (MONTAÑO, 2007).
As profundas alterações no papel do Estado e na relação entre este e a sociedade civil têm 
provocado a inquietação e suscitado o interesse e a investigação de diversos estudiosos, dentre eles, os 
latino‑americanos.
Nesse contexto, constituem importantes objetos de investigação temas como:
• a recente valorização e o alargamento da esfera pública;
• o chamamento da sociedade civil à participação;
• o surgimento e a ampliação impetuosa e avassaladora do terceiro setor na América Latina, em 
especial no Brasil.
Essas temáticas são inerentes às estratégias para a superação da crise estrutural do capital e 
inscrevem‑se nos marcos da reforma do Estado. Dentre as alternativas para alcançar esse objetivo, 
encontram‑se correntes político‑econômicas e ideológicas, como o neoliberalismo e a terceira via, cujo 
conteúdo teórico‑prático tem orientado a redefinição do papel do Estado, imprimindo mudanças no seu 
padrão de organização e gestão, provocando, ao mesmo tempo, profundas alterações no conceito e na 
prática da sociedade civil (MONTAÑO, 2007).
O projeto político da terceira via representa uma perspectiva de modernização política, que procura 
orientar o ajustamento dos cidadãos, da sociedade civil e do Estado na justa medida das demandas e 
necessidades do reordenamento do capitalismo.
Sob os auspícios da “terceira via” amplia‑se uma esfera pública não estatal e 
definem‑se os limites de atuação da sociedade civil, por meio da filantropia 
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e do voluntariado, e em ações de ajuda mútua. A ideia dominante para os 
teóricos e adeptos da “terceira via” gira em torno do “desaparecimento do 
trabalho” e do “fim da sociedade de classes”, configurando‑se um “novo Estado 
democrático, ou o Estado sem inimigos”. Assim, institui‑se a nova “sociedade 
civil ativa”, com o forte apelo à cultura cívica, com a participação das pessoas 
“em questões situadas fora da vida particular”, compreendidas como uma 
obrigação moral para com a comunidade e o país (MONTAÑO, 2007, p. 72).
Além dos mecanismos de participação já descritos, o trabalho assalariado para dirigentes e alguns 
prestadores de serviços do terceiro setor é parte das estratégias para a implementação de políticas 
públicas sociais de responsabilidade do Estado, porém desenvolvidas pelo terceiro setor.
Conforme avalia a própria Associação Brasileira de Organizações Não 
Governamentais – Abong, terceiro setor é um termo que apresenta “baixa 
precisão conceitual”, refere‑se à constituição de um setor da sociedade, fora 
do espectro governamental e fora do espectro do mercado [...]. É composto 
por um conjunto de organizações e iniciativas privadas, mas com funções de 
interesse público (MONTAÑO, 2007, p. 85).
No entanto, está implícita nessa ideia a noção de que o terceiro setor pode – e deve – substituir o 
Estado no enfrentamento de questões sociais. Por isso, terceiro setor não é um termo neutro.
Acopladas a esse processo e na busca de sua legitimação, encontram‑se a reconfiguração e a 
valorização de diversos conceitos mencionados anteriormente, caros aos sujeitos sociais organizados em 
torno da luta pela democratização do Estado e da sociedade civil, e, melhor dizendo, da efetividade e da 
qualificação do debate político, para o aperfeiçoamento dos mecanismos democráticos de participação 
política e social popular, na repartição do poder (MONTAÑO, 2007).
Para Montaño (2007), não há clareza sobre os papéis desempenhados pelas ONGs nem precisão a 
respeito da denominação adequada para referir‑se ao chamado terceiro setor, supostamente, constituído 
por ONGs e outros serviços da iniciativa privada e da sociedade civil inclinada para o exercício da 
responsabilidade social sem fins lucrativos.
O autor sinaliza que as ONGs são formadas por fundações, associações etc., e assim se denomina o 
terceiro setor.
A forma conhecida por terceiro setor que é composta pelas ONGs, segundo MONTAÑO, (2007), é 
assim chamada por estas e pelos defensores do terceiro setor, dentro e fora dos meios acadêmicos. 
Defende o autor que esse fato deve ser objeto de investigação pelos intelectuais comprometidos com 
uma análise crítica, a fim de alcançarmos melhor entendimento e clareza a respeito de quem faz parte 
do terceiro setor, além de verificar se essa denominação de fato corresponde ao que é atribuído a ela.
Segundo o autor, o que sabemos ao certo é que, em virtude de uma lacuna da atuação do Estado, a 
sociedade civil e os segmentos que pressionam o poder público por respostas em forma de serviços e políticas 
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públicas reconhecem a estruturação de um grupo privado que assume, por meio de corresponsabilização 
com o Estado e também por iniciativa própria, a prestação de serviços essenciais à população. Com toda 
a crítica cabível quanto aos objetivos, à qualidade e à inclinação seletiva e ideológico‑política que pode 
permear essa prestação de serviço público, o terceiro setor desvela a incompetência e a ineficiência do 
Estado na sua função precípua de criar e aplicar uma política pública que, de fato, tenha direção social e 
seja efetiva para o desenvolvimento social e a diminuição das desigualdades. É comum, na literatura sobre 
o tema, classificar essas iniciativas de “sem fins lucrativos” (MONTAÑO, 2007).
Nesta linha de raciocínio, permanece sem questionamento o fato de as 
fundações empresariais, que financiam direta ou indiretamente algumas 
ONGs, fazerem uma atuação “direta” em uma determinada “comunidade”, 
geralmente no mesmo espaço geográfico onde estão instaladas suas 
fábricas; e não se envergonharem de pagarem baixos salários para os seus 
funcionários ou até mesmo de demiti‑los. O chamado “terceiro setor”, de 
fato, ocupa, dentro da lógica de reestruturação do capital, um lugar a serviço 
da políticadominante. Sob este ângulo, o “terceiro setor” perde o glamour 
(MONTAÑO, 2007, p. 103).
O que pode ser analisado com a presença do “terceiro setor” é que a sua existência cumpre um 
propósito de implementação das políticas neoliberais, em sintonia com o processo de reestruturação 
do capital pós‑1970, ou seja, flexibilização das relações de trabalho e afastamento do Estado das 
responsabilidades sociais e da regulação social entre capital e trabalho. No entanto, o Estado se mantém 
com hegemonia na função reguladora de apoio aos interesses e às necessidades de flexibilização 
impostos pelo capital financeiro (MONTAÑO, 2007).
Ao se consolidar um “terceiro setor” que, aparentemente, pode parecer um espaço de participação 
social; na verdade ocorre uma fragilização e um processo intenso de desmobilização das forças 
organizadas e reivindicativas da sociedade, porque esses serviços são prestados com base na lógica 
neoliberal, representada pela responsabilidade do Estado, que terceiriza seus compromissos, promovendo 
a fragmentação das políticas sociais e, por conseguinte, das lutas dos movimentos sociais.
Nesse sentido, a Reforma do Estado, no caso do governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), levada 
a cabo por Bresser Pereira, eleva o terceiro setor a um patamar de corresponsabilização pelas questões 
públicas junto ao Estado, propiciando a desresponsabilização deste com o eufemismo de publicização 
(MONTAÑO, 2007).
Nas palavras de Montaño (2007), o que está por trás da chamada publicização é,
por um lado, a diminuição dos custos da atividade social – não pela maior 
eficiência destas entidades, mas pela verdadeira precarização, focalização e 
localização destes serviços, pela perda das suas dimensões de universalidade, 
de não contratualidade e de direito do cidadão – desonerando o capital. [...] 
É neste terreno que se inserem as “organizações sociais”, o “voluntariado”, 
enfim, o “terceiro setor”, como fenômeno promovido pelos (e/ou funcional 
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aos planos dos) governos neoliberais, orientados para a América Latina no 
Consenso de Washington (MONTAÑO, 2007, p. 118).
Para Montaño (2007), essas ONGs mudaram de lugar nos anos 1990: passaram a ocupar, 
paulatinamente, o lugar dos movimentos sociais, sem que a população desenvolvesse uma crítica e 
soubesse contrapor‑se à estruturação crescente desses serviços. Antes, pelo contrário, a população 
recorre habitualmente às ONGs, porque são as únicas alternativas que encontra para o enfrentamento 
dos desafios impostos pela Questão Social. Assim, vai se deslocando o foco de suas lutas e da coesão 
popular em torno de reivindicações por direitos sociais.
A formação profissional deve ser capaz de responder, com eficácia e competência, às demandas 
tradicionais e às demandas emergentes na sociedade brasileira (AMORIM, 2009).
A partir de 2000, a conjuntura provoca debates acirrados em torno da Questão Social e do papel a 
ser cumprido pelas políticas sociais, o que motiva, nos espaços universitários, uma crescente ampliação 
dos cursos de graduação e novas modalidades de ensino, à luz dos avanços na tecnologia virtual, com 
destaque para o ensino de graduação a distância.
6 serviço sociAl e DesAfios contemporâneos De pesQuisA
A busca de conhecimento para aprofundar os saberes profissionais e superar as fragilidades de 
formação das origens conservadoras conduz a categoria a embrenhar‑se nas áreas das Ciências Sociais 
e a empreender pesquisas. Esse movimento se assemelha a outros processos de transformação que, 
historicamente, envolvem variadas áreas do saber, na tentativa de encontrar respostas aos desafios de 
conhecimento do ser social e melhores estratégias para intervir nos processos de desigualdade.
O caráter investigativo da pesquisa científica sofre influências do movimento da Pós‑Modernidade, 
estimulando a percepção dos sujeitos de pesquisa, da subjetividade e das formas possíveis de mensurar 
os processos qualitativos da vida social. Sem mencionar que a realidade social e a Questão Social 
constituem eixo desafiador para a sociedade pós‑moderna.
Para muitos teóricos, filósofos e sociólogos, a época atual é marcada por 
fenômenos que representam um divisor de águas com a modernidade. 
Chamada de Pós‑Modernidade e estudada como tal, é caracterizada por 
mudanças significativas provocadas e vividas pelo homem. Dentre as 
mais evidentes, e que desencadearam muitas outras, podemos apontar a 
globalização, unificadora das sociedades do planeta, um novo modo de 
cultura e as novas condições que põem em perigo a continuidade da espécie 
humana. A Pós‑Modernidade surgiu com a desconstrução de princípios, 
conceitos e sistemas construídos na modernidade, desfazendo todas as 
amarras da rigidez que foi imposta ao homem moderno. Com isso, os três 
valores supremos, o Fim, representado por Deus, a Unidade, simbolizada 
pelo conhecimento científico, e a Verdade, como os conceitos universais 
e eternos, já estudados por Nietzsche no fim do século XIX, entraram em 
decadência acelerada na Pós‑Modernidade.
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Por conta disso, para a maioria dos autores, a Pós‑Modernidade é traçada 
como a época das incertezas, das fragmentações, da troca de valores, 
do vazio, do niilismo, da deserção, do imediatismo, da efemeridade, do 
hedonismo, da substituição da Ética pela Estética, do narcisismo, da apatia, 
do consumo de sensações e do fim dos grandes discursos (MINAYO, 1994).
A perspectiva que passa a nortear os processos investigativos de pesquisa leva em consideração os 
movimentos sócio‑históricos que resultaram em conquistas da humanidade, e o eixo ético que vigora nos 
procedimentos das investigações sociais é considerado também uma conquista, no campo dos Direitos 
Humanos, contra as inúmeras situações de desrespeito e violação dos direitos daqueles envolvidos em 
pesquisas em outros momentos históricos.
As atividades e iniciativas de pesquisa embasam‑se em novas formas bioéticas de relações 
investigativas com os seres humanos, para evitar que se repitam atrocidades como as promovidas 
em nome de uma ciência experimental moderna e que culminaram, por exemplo, nos campos de 
concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (MINAYO, 1994).
Na atualidade, por meio de tratados e declarações internacionais de direitos 
humanos acordados no Pós‑Guerra, os representantes das instâncias 
normativas de pesquisas científicas legitimam a necessidade de criação de 
parâmetros éticos universais relativos ao uso da pesquisa e das experiências 
científicas. O primeiro documento internacional nesta direção – o Código de 
Nuremberg – introduz importantes recomendações éticas para a pesquisa 
com seres humanos, dentre elas a importância de garantir o consentimento 
voluntário do sujeito da pesquisa e seu esclarecimento sobre o processo 
a que será submetido A década de 1960 é mundialmente conhecida por 
impulsionar a crítica social e política, é responsável pelo desenvolvimento 
tecnológico e pelas mudanças socioculturais que atingem a família, os 
valores e os costumes tradicionais em geral, desencadeadoras de lutas por 
direitos civis e políticos, como as dos movimentos de mulheres e negros 
(MINAYO, 1994, p. 209).
Segundo a autora, existem instituições apoiadoras e reguladoras das pesquisas sociais e com 
seres humanos que surgem com o objetivo de respaldar e fiscalizar os acordos estabelecidos 
internacionalmente; por exemplo, o primeiro Comitê de Bioética, criado em Seattle em 1962, que 
analisa denúncias de experimentos médicos antiéticos e também divulga avanços tecnológicos 
da Medicina – como a criação da hemodiálise –, alémde tratar de conflitos sociais gerados pela 
existência de demanda maior do que a capacidade de atendimento, sempre com a preocupação de 
prevenir situações de risco para as populações (MINAYO, 1994).
Nessas novas propostas de investigação social, são firmados acordos para que os processos 
sejam cada vez menos utilitaristas e vinculados a uma ideologia que naturaliza a desigualdade 
social e racial, o que culmina na justificativa de condutas antiéticas e criminosas em nome do 
avanço da ciência.
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Trata‑se de situar um movimento multidisciplinar que se aproxime de vertentes mais progressistas 
e articule o conhecimento, a ética e a política, criando um campo de alternativas críticas para pensar a 
relação entre ética, pesquisa e Serviço Social.
Nessa dimensão teórica, a Ética se distingue do saber científico pela sua 
natureza filosófica, que lhe fornece um caráter crítico, dotado de juízos 
de valor e nos convida a indagar sobre o que é bom, justo, legítimo em 
relação às ações humanas. No movimento de pesquisa, indaga‑se sobre 
a necessidade de explicitação dos valores e princípios que orientam as 
normas e deliberações sobre a pesquisa nos diferentes campos da ciência 
numa perspectiva de análise histórica, que revelem de que forma os valores 
e princípios adquirem significados diferentes, que variam de acordo com 
a direção social, ética e política objetivadas através da ação prática dos 
homens, em cada contexto histórico (MINAYO, 1994, p. 235).
A pesquisa social volta‑se para a sociedade e seus interesses, traduzidos em produtos históricos de 
determinadas circunstâncias sociais, procurando viabilizar respostas mediadoras e resolutivas quanto à 
Questão Social, bem como iniciativas vanguardistas para o desenvolvimento humano e social.
Como os valores podem ter diferentes significados e direções políticas, dependendo da forma como 
são apreendidos teoricamente e de acordo com sua função na vida social, no intuito de objetivar uma 
conquista humana e, ao mesmo tempo, ser sua própria negação, as pesquisas precisam considerar a 
subjetividade dos sujeitos envolvidos, quer na dimensão da trama pesquisada, quer na fomentação de 
novos saberes e conhecimento.
Uma forma de esclarecer melhor a importância dada ao conhecimento sobre essa subjetividade é a 
busca de entendimento de suas objetivações concretas, passíveis de análise.
Segundo Netto (1992):
A teleologia (que tradicionalmente significa propósito, finalidade ou função 
de alguma coisa natural e que também expressa os sentidos dados para 
as ações humanas) dos homens, dependendo de seus interesses de classe, 
de sua ideologia, de seu projeto de sociedade, também está orientada para 
finalidades opostas, embora se refiram a um mesmo valor, como é o caso da 
liberdade (NETTO, 1992, p.114).
Ao refletirmos e ao realizarmos uma ação, usamos valores e princípios que expressam nossas relações 
cotidianas e as escolhas significativas desse contexto sócio‑histórico do qual fazemos parte. A ética se 
traduz nesse movimento reflexivo sobre tais ações humanas, que espelham a filosofia de vida e da 
existência que lhes dá sentido.
Trata‑se de um saber interessado e comprometido, para adquirirmos determinado aspecto de um 
conhecimento, o que requer do pesquisador uma postura ética, que também refletirá o modo como 
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procedeu ao processo investigativo, sua intencionalidade e se objetiva um produto que dimensiona as 
expectativas desejadas com essa ação (MINAYO, 1994).
Portanto, pesquisar em Serviço Social pautado pela ética supõe verificar se o profissional 
saberá criar mediações e escolhas, a partir de valores éticos, considerando que as condições 
históricas e sociais são determinantes. Dito de outra forma, saberão os profissionais contextualizar 
suas escolhas e práticas, atuando como mediadores entre o projeto ético‑político profissional 
e os valores e a ética das objetivações de pesquisa e de seus sujeitos sociais historicamente 
determinados?
Segundo Minayo (1994):
Como ação prática, a ética é a objetivação concreta dos valores, 
princípios, escolhas, deliberações e posicionamentos produzidos pela 
ação consciente dos homens diante de situações de afirmação/negação 
da vida, dos direitos e valores. Conceber a ética como uma ação 
crítica de um sujeito histórico que reflete teoricamente, faz escolhas 
conscientes, se responsabiliza, se compromete socialmente por elas e 
age praticamente para objetivá‑las é conceber a ética como componente 
da práxis (MINAYO, 1994, p. 58).
O Serviço Social, historicamente, é reconhecido pelo potencial de atuação interdisciplinar, possuindo 
qualificações para, com suas competências, desenvolver investigações, produzindo conhecimentos sobre 
suas áreas de trabalho.
Com o objetivo de desenvolver pesquisa, a categoria necessita conhecer as dimensões 
sociais, econômicas e políticas que afetam direta e indiretamente os sujeitos pesquisados. 
Precisa saber como se dá o processo de participação das comunidades e o exercício cidadão, 
na criação das políticas públicas e no controle da gestão e da execução dos serviços essenciais, 
para eliminar as desigualdades sociais e criar mecanismos de desenvolvimento das capacidades 
humanas.
É fundamental conhecer a realidade social em que será realizada a atuação, sua historicidade, seus 
mecanismos de opressão e autonomia e as formas de organização social, levando em conta referências 
locais e também as dimensões da globalização e da financeirização do capital, que certamente afetam 
as estruturas de distribuição de renda e o agravamento da Questão Social. Também é importante 
saber que, em gestão democrática e de caráter neoliberal, a cidadania e a participação podem ser 
reguladas em termos ideológicos, políticos e jurídicos, para favorecer um grupo dominante; portanto, 
a informação e o fortalecimento das interações sociais, das redes, das articulações e do respeito às 
diferenças e à pluralidade das ideias são decisivos para dar corpo à organização de representações 
resistentes e combativas.
Os profissionais de Serviço Social devem buscar conhecimentos que lhes permitam favorecer o 
próprio engajamento tanto em um projeto ético‑político quanto em um projeto societário, que também 
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lhes permitam desvelar a instrumentalidade burocrática, política e de gestão do Estado e da sociedade, 
bem como as contradições existentes nos embates entre essas esferas.
É preciso desenvolver a gestão participativa nas políticas públicas, que podem ser afetadas quando 
existem limitações ao exercício da cidadania ou quando esta se processa com base em referências 
legalistas e controladas em favor de uma determinada força dominante.
Contraditoriamente, na fase da ditadura no Brasil, o Serviço Social provocou transformações em seu 
escopo formacional e interventivo, por influência da Reconceituação ocorrida na América Latina e que 
estimulou a ruptura com as posições tradicionais e conservadoras.
 lembrete
A teleologia, dependendo dos interesses de classe, da ideologia e do projeto 
de sociedade, está orientada para finalidades opostas, embora referentes ao 
mesmo valor, como é o caso da liberdade (NETTO, 1992, p. 114).
Nesse mesmo movimento, a crítica profissional induz à busca de novos conhecimentos e 
proporciona, a uma parcela da categoria profissional, elementos motivadores para os processos de 
pesquisa, possibilitando considerável interação intelectual crítica cominvestigadores de outras áreas 
(MARTINELLI, 2007).
7 pArâmetros Ético‑polÍticos pArA o serviço sociAl
Não era comum, na prática cotidiana, o envolvimento dos profissionais com outros processos que 
não a mera ação burocrática, imediatista e rotineira. A superação de suas origens conservadoras moveu 
os assistentes sociais para a pesquisa e os cursos de formação especializada, pós‑graduação, mestrado 
e doutorado, o que foi relevante para a qualificação dos futuros profissionais e a busca de maior 
competência.
Segundo Martinelli (2007), quanto aos normativos nas áreas de pesquisa, o Serviço Social pauta‑se 
pelos resultados de consensos dos órgãos reguladores dos Comitês Internacionais de Ética e Pesquisa. 
A Resolução nº 196/96 coloca aspectos importantes quanto à defesa dos direitos humanos dos sujeitos 
envolvidos em pesquisas, como:
[...] a elaboração do termo de consentimento livre e esclarecido; no 
caso de crianças e adolescentes, opta‑se pelo termo de assentimento; o 
cuidado em relação aos riscos da pesquisa; as formas de recrutamento 
dos sujeitos; o ressarcimento dos gastos pessoais e indenização de 
danos decorrentes de participação dos sujeitos; o estabelecimento 
de critérios éticos para a quebra de sigilo; a avaliação da relevância 
social da pesquisa e da confiabilidade sobre a origem das informações 
(MARTINELLI, 2007, p. 21).
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 observação
Os processos de pesquisa com seres humanos dependem de 
procedimentos éticos inovadores associados aos direitos humanos.
Ainda no que concerne à pesquisa, os pressupostos norteadores das decisões do Serviço Social 
encontram‑se no Código de Ética Profissional (CFESS, 1993), que indica como valores e princípios 
fundamentais:
[...] a liberdade, valor ético central, as demandas políticas a ela inerentes – 
autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; a defesa 
intransigente dos direitos humanos e a recusa do arbítrio e do autoritarismo; 
a defesa e o aprofundamento da democracia; o posicionamento em favor da 
equidade e da justiça social (CFESS, 1993, p. 1).
É importante ressaltar que, no caso do Serviço Social, como as intervenções são processadas na 
realidade social, quando os sujeitos estão vivendo suas vidas cotidianas, expostos concretamente a 
um universo de vulnerabilidades, as competências formativas e éticas da profissão devem assegurar, 
ao assistente social, parâmetros seguros e viáveis de respeito ético ao cidadão e às suas manifestas 
vontades, com disponibilização de críticas e conhecimentos que possam, efetivamente, ser apropriados 
por esses mesmos sujeitos, para realizarem suas escolhas e agirem como bem lhes aprouver.
Para o Serviço Social, na atualidade, o fomento à participação popular nas instâncias que podem 
gerar recursos, serviços e políticas públicas capazes de mudar os processos de desigualdade é crucial 
nos debates para compor competências profissionais e definir parâmetros para a formação. É necessário 
conhecer o ser social e saber como é analisado, em suas condições sociais, econômicas e culturais.
O cidadão livre na sociedade de consumo é definido, segundo o senso comum social e endossado pelos 
poderosos que lucram com o sistema, pela capacidade aquisitiva que apresenta, e não pelo significado 
dos direitos humanos e da soberania individual. É o consumo que legitima o seu poder reivindicatório. 
Seu status de cidadão é definido pelo consumo.
Entendemos que os sujeitos de pesquisas do Serviço Social são culturalmente ignorados e destituídos 
das possibilidades de realização plena da sua crítica cidadã, portanto é necessário destacar que, nesses 
procedimentos, tanto quanto nas intervenções, o assistente social pesquisador deverá cuidar da 
transparência e da democratização efetiva de seus procedimentos numa fase investigativa.
Uma análise mais detida da conformação desses sujeitos na sociedade do capital mundializado 
impõe algumas considerações fundamentais.
A análise do autor Jacobi (1990) explica a importância das articulações e dos movimentos populares 
diante dos processos de exercício da participação e da cidadania:
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Os anos 1980 trazem uma complexidade crescente das interações dos 
movimentos com os órgãos públicos e uma importância maior das assessorias 
especializadas e das articulações interinstitucionais. A crescente politização 
da esfera privada possibilita a construção de novos padrões de valores, 
configurando frequentemente uma vinculação ideológica e política entre a 
necessidade e seus condicionantes estruturais. O processo de envolvimento 
dos moradores e a cada vez mais frequente resposta do Poder Público em 
face das demandas, somada à participação dos profissionais e articuladores 
sociais ou assessores, possibilita a acumulação de conhecimento em torno 
das questões reivindicadas, vinculando‑as às pautas institucionalizadas da 
sociedade e criando condições para a formulação de demandas junto aos 
órgãos públicos. Concretamente, no caso de pesquisas sociais, o contexto 
marcado por aprofundamentos das desigualdades sociais, em que se 
evidenciam disparidades de ordem econômica, política e cultural que 
torna os sujeitos expostos a situações de vulnerabilidade ou de violação 
de direitos, os procedimentos e críticas das investigações sociais devem 
considerar determinados riscos, como [...] a falta de informação, a falta de 
acesso a políticas básicas de saúde, educação, trabalho, habitação, a cultura 
conservadora que legitima a relação de subalternidade e de poder entre o 
saber popular e o científico, entre outros (JACOBI, 1990, p. 189).
Assim, percebemos que a efetividade profissional não está apenas relacionada ao êxito da intervenção 
em políticas e programas sociais, mas também depende da instrumentalização do assistente social 
para o compromisso com a proteção e a vigilância dos direitos de cidadania, valorizando as dimensões 
intelectuais e investigativas de seu processo de trabalho.
A categoria, historicamente, foi deixando posições tradicionais e conservadoras, e, mesmo com 
embates e contradições, foi construindo movimentos éticos e políticos que conduziram à formulação 
do Código de Ética e de um projeto profissional.
Os momentos históricos da fase de Reconceituação marcam intensamente algumas das 
transformações profissionais. É importante ressaltar que espaços historicamente caracterizados como de 
lutas sociais correm o risco de ser despolitizados, esvaziados de seu conteúdo político, seja pela ofensiva 
neoliberal, seja pela herança de uma relação entre Estado e sociedade civil marcada pelo clientelismo, 
pelo patrimonialismo e pela burocracia presentes na política brasileira.
Para refletir sobre a relação entre o Serviço Social e a tradição marxista, é necessário proceder a uma 
incursão no processo de formação profissional recente. Desse modo, podemos afirmar que, até meados 
da década de 1960, o modelo tradicional de atuação no Serviço Social não apresenta grandes polêmicas 
quanto às elaborações teórico‑metodológicas.
Nesse período, são evidenciadas preocupações com as teorizações no Serviço Social. Ao analisarmos 
o período da autocracia burguesa e sua relação com o Serviço Social, perceberemos que, nos anos 
1970, consolidam‑se, na categoria, dois processos de grande envergadura.
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Inicialmente, ocorre o movimento de Reconceituação, na América Latina, que aposta na revisão crítica 
radical do tradicionalismo profissional e propõe uma nova construção de

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