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Livro Texto Unidade II (3)TEORIA POLITICA

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Unidade II
Unidade II
5 O PENSAMENTO POLÍTICO CONTEMPORÂNEO E A DEMOCRACIA
Neste capítulo, vamos estudar aspectos que historicamente foram fundamentais para que pudéssemos 
alcançar o pensamento político contemporâneo e, principalmente, consolidar a ideia de democracia.
Para isso, conheceremos três pensadores políticos de grande importância: John Locke, Jean Jacques 
Rousseau e Montesquieu. Além disso, vamos conhecer as três revoluções liberais, também chamadas de 
Revoluções Burguesas, que foram as bases de muitas mudanças políticas ocorridas no mundo, inclusive 
no Brasil. São elas: a Revolução Inglesa, a Independência Norte‑Americana e, a mais famosa de todas, 
a Revolução Francesa.
Mais adiante, estudaremos um pouco sobre o pensamento de Marx e as revoluções Socialista, na 
Rússia, e Nacional e Nacional‑Socialista, na Alemanha.
Para encerrar, vamos refletir sobre a democracia liberal e a democracia contemporânea.
Comecemos por John Locke, que nasceu em Bristol, Inglaterra, em 1632 e faleceu em 1704. Estudou 
em Westminster e Oxford, ambas escolas da elite inglesa. Cursou ciências naturais e formou‑se em 
Medicina; tornou‑se médico particular e conselheiro do Lorde Shaftsbury, político liberal.
Figura 18
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Ocupou cargos políticos e viveu na França de 1674 a 1679. Teve que se exilar na Holanda em 1683 
por razões políticas, e só retornou à Inglaterra em 1689.
Escreveu sobre política, religião e economia. Suas principais obras são Cartas sobre a Intolerância, 
Ensaio sobre o Entendimento Humano, e os Dois Tratados sobre o Governo Civil. O Segundo Tratado 
é uma justificativa da necessidade da Revolução Gloriosa, e Locke utiliza a obra para fundamentar a 
legitimidade da deposição de Jaime II por Guilherme de Orange.
O século XVII, período em que Locke nasceu e viveu a maior parte de sua vida, foi marcado pela luta 
entre a Coroa e o Parlamento na Inglaterra. A Coroa era controlada pela dinastia Stuart e defensora do 
absolutismo, e o Parlamento era partidário do liberalismo.
Liberalismo, tema sobre o qual falaremos melhor mais adiante, pode ser caracterizado, sinteticamente, 
como um sistema sociopolítico e econômico que defende a liberdade do indivíduo em todos os aspectos, 
em especial, na defesa da propriedade privada, do livre mercado, da mínima intervenção do Estado na 
vida dos cidadãos e da igualdade entre eles.
Os pensadores liberais acreditavam que que todo homem nasce livre para trabalhar onde, como e 
com o que quiser. E também para escolher o governo e a religião que quiser.
Os conflitos da Inglaterra do período de Locke tinham característica de ordem econômica e também 
religiosa. O conflito de ordem econômica ocorreu entre beneficiários dos privilégios e monopólios 
mercantilistas concedidos pelos monarcas, contra aqueles que lutavam pela liberdade da atividade 
comercial e de produção.
Em 1640 teve início uma guerra sangrenta entre Carlos I e o Parlamento, que só terminou em 1649. Essa 
guerra, conhecida como Revolução Puritana, terminou com a execução de Carlos I e a implantação da república 
na Inglaterra. Porém, isso não durou muito: a monarquia foi restaurada e os Stuart retornaram ao poder.
A Restauração foi um período conturbado, que fez surgir a divisão do Parlamento inglês entre os 
Tories e os Whigs, representando os conservadores e os liberais, respectivamente. No Reinado de James 
II, a crise política chegou ao auge, a ponto de os dois partidos se unirem para depor o rei.
Guilherme de Orange, em 1668, retornou à Inglaterra à frente de um exército e tirou James II do 
trono, recebendo do Parlamento a coroa de rei.
Essa revolução, que ficou conhecida como Revolução Gloriosa, simbolizou o triunfo do liberalismo 
sobre o absolutismo. Um de seus marcos mais importantes foi a aprovação, em 1689, do Bill of Rights, 
uma declaração de direitos, que instituiu na Inglaterra uma monarquia limitada, ou seja, o rei não 
poderia mais fazer o que bem entendesse porque teria que se submeter às leis.
John Locke foi opositor dos Stuart e por isso teve de se refugiar na Holanda durante um período de 
tempo. Só retornou à Inglaterra com o triunfo da Revolução Gloriosa e a subida ao poder de Guilherme 
de Orange.
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Para Locke, assim como para Hobbes, o Homem sai do estado de natureza para a vida em sociedade 
ancorado em um contrato social, ou seja, em um acordo não escrito, mas que deve ser integralmente 
respeitado, em que todas as pessoas terão direitos e obrigações, sem privilégios de nascimento ou de 
qualquer outra natureza.
A diferença no pensamento dos dois é que, para Locke, o indivíduo existe antes do surgimento da 
sociedade e do Estado e vive em um estágio pré‑social e pré‑político, caracterizado pela mais perfeita 
liberdade e igualdade. O estado de natureza para Locke não era o espaço de conflitos e de medo de 
Hobbes; ao contrário, era uma situação de relativa paz, concórdia e harmonia.
A guerra é apenas uma possibilidade que pode ocorrer no estado de natureza, mas, como há opção, 
os homens resolvem viver em sociedade para que haja estabilidade no governo e a tranquilidade social 
seja garantida. Para eliminar o estado potencial de guerra que vigora no estado de natureza, os homens 
passam a viver em sociedade, organizam um poder central para governá‑los e escolhem juízes para 
dirimir seus eventuais conflitos.
Locke define a propriedade como um direito amplo, que inclui a vida, a liberdade e os bens. Por isso 
é que as sociedades precisam de um governo que proteja o direito de propriedade de seus cidadãos. O 
mais importante direito do estado de natureza é mantido pelo Estado, que é o direito de propriedade; 
e, o único direito retirado dos homens é o de justiça por conta própria: ele é subtraído dos indivíduos e 
fica limitado ao Estado.
Bobbio (1984) afirma que para Locke o que falta no estado de natureza para ser um estado perfeito 
é, sobretudo, a presença de um juiz imparcial, ou seja, de uma pessoa que possa julgar sobre a razão e 
o erro sem ser parte envolvida.
Ao ingressar na vida em sociedade, os indivíduos renunciam substancialmente a um único direito: o 
direito de fazer justiça por si mesmos e conservam todos os outros. Conservam, principalmente, o direito 
de propriedade, que já nasce perfeito no estado de natureza, pois não depende do reconhecimento de 
outros mas unicamente de um ato pessoal e natural, como é o caso do trabalho.
O contrato social para Locke dá ensejo à formação da sociedade civil, que ele denomina também 
de sociedade política. O objetivo principal da união de homens na sociedade civil e de sua submissão 
a governos é utilizar, de forma pacífica e segura, da propriedade, porque ela é a exteriorização da 
personalidade humana por meio do trabalho. Não custa repetir que, para Locke, o direito mais essencial 
e natural do Homem é o direito de propriedade. Para ele a propriedade vem antes do Estado e é um 
direito natural do indivíduo. Contra a propriedade o Estado não tem poder algum e deve respeitá‑la.
Nem é preciso ressaltar que essas ideias agradaram muito à burguesia, que tinha o desejo de que sua 
propriedade fosse respeitada por todos, inclusive pelo Estado.
Locke acredita que não é a sociedade que cria a propriedade privada, ela já é um direito que os 
homens possuem pelo simples fato de existirem. E esse direito deve ser respeitado, na medida em que 
cada um possui por natureza a si próprio e ao seu trabalho.
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O Homem torna‑se proprietário da terra pelo trabalho porque deve ser sempre dono daquilo em 
que trabalhou. Para ele, cada qual apropria da terra aquilo que consegue com o seu esforço e, em troca, 
torna‑se dono da terra.
Para Locke, com o surgimento do dinheiro, a proporção de terra para o uso do trabalhador se altera. 
Porque, com a utilização do dinheiro, passa a ser possível a dissociação da propriedade em relação ao 
uso pelo trabalhador; ou seja, a propriedade passa a ser medida por coisas duradouras como o ouro ou 
a prata e não mais em função de coisas perecíveis, como os produtos extraídos da terra, por exemplo. 
É isso que permite que a propriedade possa ser obtida por meio do trabalho ou pela aquisição por 
dinheiro. E é essa possibilidade de aquisição pelo dinheiro que leva à distribuição desigual da riqueza 
entre os homens.
A propriedade da terra, que era limitada pela capacidade de trabalho de cada indivíduo, transforma‑se 
em possibilidade ilimitada de propriedade com o uso do dinheiro. Isso permite a acumulação de terra 
por alguns em detrimento de outros e, em consequência, os conflitos poderão existir. Para arbitrar os 
conflitos em torno da propriedade privada e da acumulação, os homens devem necessariamente viver 
na forma do Estado, com juízes e regras fixas para o arbitramento das controvérsias.
Para Locke, a vida política após o contrato social tem por meta principal resguardar o direito natural 
que é, fundamentalmente, o direito de propriedade.
Por fim, ele afirma que o desrespeito à propriedade privada quando for praticado pelo Estado 
torna o governo tirânico e enseja o direito de resistência por parte do cidadão. Quando atenta contra 
a propriedade, o governo deixa de cumprir seu objetivo de proteger a propriedade, torna‑se ilegal e 
caracteriza a tirania.
Tanto para defender‑se de um governo tirânico quanto para libertar‑se de uma nação estrangeira, 
Locke reconhece o direito do povo à resistência pela força. Nessas situações, o povo estará lutando 
contra o estado de guerra criado pelo próprio Estado ao ferir o direito de propriedade. E o ponto mais 
alto da resistência está consubstanciado na defesa da propriedade privada individual.
Para Bobbio:
Através dos princípios de um direito natural preexistente ao Estado, de um 
Estado baseado no consenso, de subordinação do poder Executivo ao poder 
Legislativo, de um poder limitado, de direito de resistência, Locke expôs as 
diretrizes fundamentais do Estado liberal (BOBBIO, 1984, p. 41).
Locke exerceu influência para a ocorrência da revolução norte‑americana, que teve na defesa dos 
direitos naturais e do direito de resistência as razões para a ruptura com a Inglaterra, de quem era 
colônia.
Ele é considerado o fundador da doutrina política liberal e do individualismo liberal.
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Repare que as ideias de liberdade e de propriedade começam a caminhar juntas e, mais tarde, 
tornar‑se‑ão centrais no debate em torno do capitalismo e do socialismo. Além disso, a proteção da 
propriedade e a ideia de que o proprietário é quem compra e não aquele que trabalha, são pontos de 
conflito até hoje em nossa sociedade.
O que temos nesta foto?
Figura 19
A imagem é de um dos muitos acampamentos do Movimento Sem‑terra existentes em todo o país. O 
objetivo do movimento é que a seja realizada a reforma agrária no Brasil, e que a terra agricultável seja 
distribuída com mais justiça entre todos. Combatem o latifúndio improdutivo e defendem a propriedade 
da terra para quem trabalha nela.
Procure conhecer melhor os movimentos que discutem a propriedade da terra no Brasil, para que 
você possa avaliar como esse tema ainda é presente em nosso mundo, apesar de tanto tempo decorrido 
das ideias de John Locke sobre a propriedade.
Nosso outro pensador fundamental para a compreensão de Teoria Política é Jean Jacques Rousseau. 
Ele nasceu em Genebra, uma república protestante, em 1712 e faleceu em 1778 em Paris. Sua mãe 
morreu no seu parto e seu pai era um relojoeiro sem muitas posses. Rousseau teve infância pobre e seu 
pai teve que exilar‑se por motivos políticos, abandonando os filhos. Ele viveu com um tio e depois em 
abrigos e orfanatos, passando por todo tipo de necessidades.
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Figura 20
Desde cedo, Rousseau se destacou por ser autodidata, ou seja, por estudar sozinho aquilo que 
queria conhecer. Exerceu várias atividades profissionais, inclusive como compositor musical. Suas obras 
o tornaram muito admirado pelo grupo de intelectuais franceses que lideravam o movimento iluminista.
Porém, antes de ser reconhecido como um intelectual importante, ele teve problemas com a publicação 
de duas de suas obras mais importantes: Emilio e Do Contrato Social. Foram obras condenadas pelas 
autoridades de Paris e de Genebra, e isso o obrigou se refugiar‑se em um território prussiano na Suíça.
Foi bastante perseguido por suas ideias políticas religiosas e em 1765 refugiou‑se na Inglaterra, a 
convite de David Hume, quer era um importante filósofo. Voltou à França em 1767, casou‑se e teve cinco 
filhos, que precisou entregar para orfanatos, porque Rousseau era muito pobre e não podia criá‑los.
O século XVIII, no qual Rousseau nasceu e viveu, ficou conhecido como “século das luzes”, por ter sido o 
período em que ocorreu um movimento intelectual caracterizado pelo profundo otimismo sobre a capacidade 
do ser humano de se orientar pelo uso da razão, e, com isso, a humanidade conseguiria alcançar o progresso.
O avanço das ciências fez com que o iluminismo fosse um movimento que pretendia aplicar o 
raciocínio lógico a todas as áreas do conhecimento e, com isso, construir um conhecimento sólido sem 
influência de crendices ou de superstições. A razão seria o guia da evolução da humanidade e, com ela, 
o Homem chegaria ao progresso econômico, moral e social, bases para um mundo livre e de felicidade.
Os filósofos do chamado “século das luzes” defendiam que a difusão do saber era o meio mais eficaz para 
colocar fim às superstições e à ignorância. Acreditavam que o uso da razão era uma enorme contribuição para o 
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progresso do espírito humano. A propósito, a busca pela aplicação da razão era a característica marcante daquele 
momento do pensamento filosófico, e Rousseau constrói suas reflexões a partir da crítica a esse movimento.
Rousseau critica o tipo de saber que estava sendo construído: a ciência que era praticada por vaidade, 
na busca de reputação, sem considerar o verdadeiro sentido do saber. Para ele, esse tipo de ciência não 
conduziria a nenhuma melhoria para a humanidade. Ele acreditava que a verdadeira ciência estava na 
virtude, e que o papel das ciências e das artes era impedir que a corrupção fosse maior. Ele destoava 
muito dos pensadores de sua época.
Para Rousseau, o homem selvagem, não civilizado, que vivia no estado de natureza, era mais livre e feliz 
porque era capaz de garantir sua subsistência com plena independência e de satisfazer seus desejos naturais 
com maior facilidade. Ele defende a ideia de que o Homem no estado de natureza não se utiliza meios 
artificiais para sobreviver, o que é contrário ao que se vê na vida em sociedade. A maior característica do 
Homem no estado de natureza é sua liberdade e ele encontra limitação apenas na própria natureza, porque 
depende dos recursos naturais para tudo. Porém, em relação aos outros homens, ele é livre. Rousseauentende 
que o Homem na natureza tem liberdade para se aperfeiçoar, tanto quanto a tem para se conduzir por seus 
instintos e, desse modo, rebaixar‑se a ponto de se parecer com os animais. No entanto, ele também luta para 
sua conservação e se identifica com o sofrimento de outros homens.
O Homem natural de Rousseau é o bom selvagem, enquanto o Homem natural de Hobbes é o lobo 
do próprio homem.
Não é a vontade dos indivíduos, como queriam Hobbes e Locke, mas a apropriação de conhecimento 
(metalurgia e agricultura) por alguns e não por todos, que leva a sociedade a possuir a divisão do trabalho e o 
exercício do poder de alguns sobre outros. É nesse ponto que os bens da natureza passaram a ser propriedade 
de alguns. E mais, para ele, é por isso que ocorrem a escravidão e a miséria, e se instaura o conflito social.
O estado de guerra na sociedade decorre da apropriação. Quando todos eram livres para usar o que 
necessitavam para sua sobrevivência, não existiam conflitos. A apropriação dos bens por alguns homens 
e o surgimento de uma hierarquia entre os que possuíam bens e os que não os possuíam faz surgir os 
conflitos. O estado de guerra entre os homens decorre da propriedade privada e da competição para 
obtê‑la. E Rousseau formula, então, uma crítica contundente contra o Estado e o Direito, quando afirma 
que eles foram criados apenas para legitimar e garantir a permanência da desigualdade.
A obra O Contrato Social foi escrito por Rousseau depois do livro Discurso sobre a Origem e os 
Fundamentos da Desigualdade entre os Homens. Na primeira obra ele analisa a vida do homem no 
estado de natureza e a etapa seguinte, que é a vida em sociedade. Na obra O Contrato Social, ele reflete 
sobre a possibilidade de construção de outra ordem jurídica, política e social. Ele se dedica à ideia de 
transformação da sociedade existente àquela época.
Essa sociedade que Rousseau idealiza é radicalmente democrática, ou seja, ele propõe a cidadania ativa.
O elemento fundamental da teoria de Rousseau no contrato social é a vontade geral, que é a única vontade 
legítima. As vontades individuais não são legítimas. A função da sociedade é a consecução do bem comum.
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Curiosamente, Rousseau já apontava a educação como o caminho capaz para que os indivíduos 
abandonassem seus interesses individuais em favor dos interesses gerais. Ele apresenta essa ideia na obra 
Emílio, que é dedica a reflexões sobre educação. Ele também acredita que as leis deverão ser impessoais, 
gerais e universais e, terão de ter dois objetivos fundamentais: a liberdade e a igualdade. Com essas 
ideias, ele influenciou todos aqueles que mais tarde seriam os pensadores da Revolução Francesa.
Para Rousseau, o Estado é resultado de uma associação de membros que conservam sua participação 
ativa e que obedecem somente às leis que a própria sociedade criou. O governo é subordinado ao povo 
e o poder será exercido pelos membros da sociedade. A participação política do povo deve ser direta.
Ele aponta para a necessidade de assembleias permanentes que reúnam os cidadãos, para que eles 
decidam sobre as leis e os administradores públicos. Leis ruins poderão ser revogadas e administradores 
incompetentes deverão ser removidos. Para exercer a cidadania ativa os homens deverão ter boa 
educação e formação moral. Essas são ferramentas para que o povo mantenha sua liberdade e o governo 
tenha por objetivo o bem comum.
As ideias de Rousseau foram fundamentais para a Revolução Francesa e continuam sendo utilizadas 
por adeptos da democracia participativa e do republicanismo comunitário.
Durante a Revolução Francesa, em 1794, seu corpo foi levado para o Panteão de Paris, onde foi 
enterrado ao lado de seu desafeto Voltaire.
A primeira foto a seguir é do Pantheon, em Paris, França, local onde estão enterrados os corpos de 
franceses famosos, entre eles Jean Jacques Rousseau. A segunda foto mostra o túmulo de Rousseau.
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Charles Louis de Secondant, ou simplesmente, o Barão de Montesquieu, era um nobre francês 
nascido em 1689 e falecido em 1755. Estudou Direito na faculdade de Bordeaux, na França, e praticou 
a advocacia em Paris, onde também frequentou os salões da aristocracia.
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Sua vida foi dedicada a administrar a fortuna herdada de seus parentes, que possibilitaram a ele uma 
vida financeira tranquila, que lhe permitiu viajar e estudar muito. É conhecido, principalmente, por sua 
obra publicada em 1748 e denominada Do Espírito das Leis ou das relações que as leis devem ter com a 
constituição de cada governo, os costumes, o clima, a religião, o comércio etc. A obra foi tão polêmica 
que chegou a ponto de ser proibida pela tradicional universidade francesa Sorbonne. E também por 
ter obrigado Montesquieu a escrever um livro somente para defender o anterior e que se denominou 
A Defesa do Espírito das Leis. Essa obra é considerada uma das que mais influenciaram a burguesia 
francesa para impulsioná‑la para a Revolução de 1789.
Dallari afirma a respeito da obra de Montesquieu
[...] com Montesquieu, a teoria da separação de poderes já é concebida 
como um sistema em que se conjugam um Legislativo, um Executivo e um 
Judiciário, harmônicos e independentes entre si, tomando, praticamente, 
a configuração que iria aparecer na maioria das constituições. Em sua 
obra Do Espírito das Leis, aparecida em 1748, Montesquieu afirma 
a existência de funções intrinsecamente diversas e inconfundíveis, 
mesmo quando confiadas a um só órgão. Em sua opinião, o normal 
seria a existência de um órgão próprio para cada função, considerando 
indispensável que o Estado se organizasse com três poderes, pois “Tudo 
estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou 
dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes.” O ponto obscuro 
da teoria de Montesquieu é a indicação das atribuições de cada um dos 
poderes (DALLARI, 2010, p. 219).
E Bonavides ressalta:
Depois de referir a liberdade política aos governos moderados, afirma 
Montesquieu que uma experiência eterna atesta que todo homem que 
detém o poder tende a abusar do mesmo.
Vai o abuso até onde se lhe deparem limites. E para que não se possa abusar 
desse poder, faz‑se mister organizar a sociedade política de tal forma 
que o poder seja um freio ao poder, limitando o poder pelo próprio poder 
(BONAVIDES, 2006, p. 148).
A separação dos poderes proposta por Montesquieu é bastante conhecida de todos nós até 
porque, com algumas modificações determinadas pelo tempo, permanece semelhante até hoje em 
muitos países do mundo, como o Brasil, por exemplo. Ele propõe que exista um Poder Legislativo 
para elaborar leis para toda a sociedade e para serem cumpridas em especial pelos governantes; 
um Poder Executivo para representar o Estado e fazer cumprir as leis em benefício de todos; e, 
finalmente, o Poder Judiciário que dá ao governante o poder de punir os crimes ou julgar os 
conflitos de ordem civil.
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E reflete Bonavides:
Discriminados assim os poderes nessa linha teórica de separação, segundo os 
fins a que se propõem, entra Montesquieu a conceituar a liberdade política, 
definindo‑a como aquela tranquilidade de espírito, decorrente do juízo de 
segurança que cada qual faça acerca de seu estado no plano da convivência 
social.
A liberdade estarásempre presente, segundo o notável filósofo, toda vez que 
haja um governo em face do qual os cidadãos não abriguem nenhum temor 
recíproco. A liberdade política exprimirá sempre o sentimento de segurança, 
de garantia e de incerteza que o ordenamento jurídico proporcione às 
relações de indivíduo para indivíduo, sob a égide da autoridade corporativa 
(BONAVIDES, 2006, p. 149).
O tema é muito mais atual do que possa parecer à primeira vista. A Constituição da República 
Federativa Brasileira, entre muitas outras em todo o mundo, estabelece no artigo 2º, que: “São 
Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário” 
(BRASIL, 1988).
Acontece que, além de independentes e harmônicos, os poderes da União são dinâmicos, o que 
permite que, por vezes, eles entrem em conflito sobre a realização de determinadas funções, cada qual 
considerando que é sua função específica aquela que o outro considera que é dele.
Recentemente, por ocasião do julgamento do chamado “Mensalão”, entendeu o Poder Judiciário 
que os deputados condenados estavam automaticamente cassados do exercício de seu cargo eletivo, 
seja como deputados federais ou senadores. O Poder Legislativo, no entanto, entendeu que não havia 
perda automática do mandato que era fruto de escolha popular, pelo voto, e que, portanto, somente os 
deputados e senadores poderiam determinar a cassação do mandato por meio de votação em plenário, 
porque eram representantes do povo. O assunto rendeu muitas reportagens na imprensa e vasta 
discussão entre os parlamentares e o judiciário.
Essa mesma discussão acontece no Brasil todas as vezes que o Poder Executivo lança mão de uma 
medida provisória, que é uma modalidade de lei, para regular determinada matéria de interesse e 
urgência nacional. O Poder Legislativo fica contrariado com as medidas provisórias porque entende 
que está sendo usurpado em suas funções, vez que somente ele tem poder para fazer leis. O Executivo 
se defende sob a alegação de que por vezes o Poder Legislativo retarda a formulação de leis que são 
urgentes e, por isso, obriga o Executivo a legislar.
Uma rápida consulta na rede mundial de computadores permitirá verificar que o tema é atual e, 
por vezes, provoca debates contundentes no Brasil. No entanto, esses conflitos eventuais não subtraem 
do sistema de tripartição de poderes proposto por Montesquieu seu enorme valor na busca de uma 
organização racional e segura para as atividades do Estado.
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6 AS REVOLUÇÕES LIBERAIS OU REVOLUÇÕES BURGUESAS
A primeira foi a revolução ocorrida na Inglaterra entre 1640 e 1688. A Revolução Inglesa marcou 
o momento em que o poder estatal passou para as mãos de uma nova classe social, que se enxergava 
como sujeito de sua própria história. A luta foi pela construção de uma nova sociedade, tanto nos 
aspectos socioeconômicos como também nos político‑culturais.
A queda de Carlos I e a ascensão de Guilherme de Orange ocorrem porque o Estado Absolutista 
do primeiro tinha um projeto político e econômico totalmente diferente dos liberais, que apoiaram 
o segundo. Esses projetos eram inconciliáveis e, por isso, a única solução foi remover a monarquia 
absolutista de Carlos I e substituí‑la pela monarquia constitucional, que foi condição fundamental para 
o crescimento econômico da Inglaterra naquele período, crescimento com estabilidade política, porque 
o novo rei passou a governar com fundamento na legislação. Os setores liberais e burgueses impuseram 
seus valores: valorização do trabalho e da vida econômica racional sem desperdício.
A segunda importante revolução liberal é a de Independência dos Estados Unidos, que aconteceu 
entre 1775 e 1783. A partir da metade do século XVIII ocorre uma mudança nas relações entre a coroa 
inglesa e a colônia norte‑americana, e essa mudança é para pior. As relações políticas e econômicas se 
deterioram muito.
A Inglaterra estava com sérios problemas financeiros decorrentes dos gastos que havia feito e das 
dívidas que havia contraído como consequência da chamada Guerra dos Sete Anos, ocorrida entre 1756 
e 1763 contra a França. Ao mesmo tempo, a Revolução Industrial, que havia significado forte avanço, 
também implicava em novas necessidades, sobretudo pelo acúmulo de pessoas nos centros urbanos, 
locais em que se encontravam as fábricas, que atraíam milhares de trabalhadores. Era preciso atuar na 
organização das cidades para impedir conflitos e descontrole social. E tudo isso implicava em custos.
A colônia norte‑americana passou a sofrer com a aplicação de novas leis criadas pela Inglaterra 
e que, fundamentalmente, restringiam o comércio e aumentavam os impostos cobrados, o que não 
tardou para criar conflitos entre os colonizadores e os colonizados.
Em 1776, os colonos se reuniram em um congresso com o objetivo de declarar as razões que os 
levavam à independência. Durante o congresso, Thomas Jefferson redigiu a Declaração de Independência 
dos Estados Unidos da América. Evidentemente, a Inglaterra não aceitou a independência de suas 
colônias e declarou guerra.
A Guerra de Independência, que ocorreu entre 1776 e 1783, foi vencida pelos Estados Unidos 
com forte apoio da França. A liberdade foi um fator não apenas de integração dos Estados Unidos 
da América do Norte, como também essencial para a criação do novo país. Um valor essencial que os 
norte‑americanos preservam até hoje como sendo um dos objetivos de criação do país.
A influência protestante era muito forte nessa época nos Estados Unidos e enfatizava, principalmente, 
a participação dos indivíduos na vida da sociedade e a relação individual com Deus, sem que fosse 
preciso intermediários como na Igreja Católica, que possui hierarquia para a intermediação entre os 
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homens e Deus (padres, bispos, cardeais, papa). No âmbito filosófico, a grande inspiração da libertação 
norte‑americana foi Locke e a ideia de defesa da propriedade como um direito natural.
O governo criado pelos norte‑americanos após a Independência caracteriza‑se pelo limite do poder 
político interno, ou seja, fiel cumprimento dos governantes às leis em vigor; representação democrática 
de todos os cidadãos no governo, porque poderiam se candidatar a cargos eletivos; e a defesa da 
propriedade privada e dos direitos individuais e coletivos dos cidadãos.
A Constituição Norte‑Americana de 1787 adotou o sistema de república federativa, garantiu a 
propriedade privada, mas, principalmente, estabeleceu como linha mestra do país a defesa dos direitos 
individuais dos cidadãos, em especial a liberdade de manifestação do pensamento, a liberdade de ir e vir 
e a de escolha de governantes.
Isso não quer dizer que os norte‑americanos não tenham problemas sociais, políticos e 
econômicos em sua história. A Guerra de Secessão, entre 1861 e 1864, que teve a escravidão 
como ponto chave de seu surgimento; os problemas de racismo que ocuparam grande parte 
do debate político em torno do movimento dos direitos civis dos negros, na década de 1960, 
que teve em Martin Luther King um de seus principais personagens; a participação na II Guerra 
Mundial; os atentados de 11 de setembro de 2001, entre outros fatos históricos, demonstram que 
os Estados Unidos da América do Norte não possuem o mesmo padrão de cidadania e liberdade 
para todos os seus cidadãos, e nem tão pouco respeitam os demais países do mundo como 
querem ser respeitados.
Exemplo de aplicação
Pesquise sobre os principais fatos da vida de Martin Luther King e reflita um pouco sobre a segregação 
dos negros nos Estados Unidos.
A última grande Revolução Liberal foi a RevoluçãoFrancesa de 1789.
O século XVIII foi o Século do Iluminismo. Marca a transformação do pensamento da humanidade 
na busca da razão e da comprovação (experimentação); marca o uso da matemática para o estudo 
dos fenômenos, sempre na busca de uma explicação racional e lógica, que pudesse ser comprovada e 
esclarecesse os fenômenos.
O Homem toma consciência de sua situação de fruto da história e, ao mesmo tempo, as classes 
sociais dedicadas à produção começam a se aperceber de sua importância, não apenas econômica, mas 
também política e social. Quem produz com intuito econômico quer agora participar mais ativamente 
do poder político, inclusive para facilitar sempre que possível o desenvolvimento da atividade econômica 
de produção e distribuição de bens.
A Revolução Industrial havia ensinado aos homens os mecanismos necessários para a produção em 
massa, que beneficiasse a todos e permitisse o fim da escassez. Era possível a todos os homens pensar 
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em viver com conforto em uma sociedade sem miséria. Porém, para isso não bastava produzir, era 
preciso que a política permitisse a liberdade de produção e de distribuição.
Ocorre que o domínio da monarquia na França, o absolutismo dos reis, era verdadeiramente despótico, 
violento. Horrores eram praticados de forma irresponsável e os súditos submetidos a barbaridades. Não 
tardou que os cidadãos franceses passassem a nutrir por seus reis e por todos os membros da corte o 
mais profundo ódio e desprezo.
O rei era o único detentor do poder, ele era o Estado. Aliás, Luiz XIV conhecido como Rei Sol, que 
governou de 1643 a 1715, havia pronunciado essa frase que se tornou célebre como representação do 
poder absoluto dos reis de França: “O Estado sou eu!” (“L’État c’est moi”).
E o que significa ser o Estado? Ora, significa que o rei era o único detentor do poder e que, de forma 
irresponsável, podia fazer o que quisesse porque não teria que responder por seus atos, nem perante a 
corte, tampouco perante a sociedade.
Não havia nenhum limite para suas vontades, nem a lei. Aumentar impostos indiscriminadamente, 
mandar prender, matar ou tomar toda a propriedade de alguém eram práticas corriqueiras dos reis de 
França.
A Revolução Francesa começa com a Queda da Bastilha, uma prisão de triste memória pelo fato de 
manter em condições desumanas seus prisioneiros. A seguir, uma maquete da famosa Bastilha que pode 
ser encontrada no Museu Carnavalet, em Paris.
Figura 24 – Maquete da Bastilha, Museu Carnavalet, Paris
Na atualidade, no lugar em que se encontrava a Bastilha existe um prédio estatal e na praça em 
frente há uma torre, que tem na ponta uma estátua, representando a liberdade. Veja:
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Figura 25 
Outro fato que conduziu ao desejo de mudança que resultou na Revolução Francesa foi o pouco caso 
com o qual os reis governavam, tornando a França um país desorganizado, excessivamente burocrático 
e profundamente injusto. A burguesia francesa que controlava o comércio, a indústria e a atividade 
bancária desejava um governo organizado, justo, que permitisse que seus negócios se desenvolvessem 
em paz. Para isso, decidiu que era preciso participar não apenas da vida econômica, mas também da 
organização política do país.
Os grandes intelectuais que inspiraram o movimento conhecido como Revolução Francesa foram 
John Locke, Rousseau, Voltaire e Montesquieu. Condenavam o absolutismo e acreditavam que, para viver 
em sociedade, era preciso estabelecer um pacto (contrato social) para abrir mão de direitos absolutos, 
mas garantir que todos tivessem os mesmos direitos.
A Revolução Francesa, a exemplo da Independência Norte‑Americana, é marcada por uma declaração 
de direitos que começa afirmando que os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos, 
e que esses direitos são naturais e imprescritíveis (não deixam de existir com o tempo). Os principais 
valores dessa declaração de direitos são: liberdade é o direito de fazer tudo o que não prejudique os 
outros; todos têm direito à propriedade, à segurança e à resistência contra a opresssão.
Fundamentalmente, a declaração de direitos advinda da Revolução Francesa colocou a lei acima 
de tudo, porque a lei passava a ser a expressão da vontade geral. Com isso, assegurou que o Estado se 
tornasse não um fim em si mesmo, mas uma organização com o objetivo de garantir que todos os cidadãos 
pudessem usufruir livremente de seus direitos. Um dos aspectos mais interessantes da Declaração de 
Direitos dos franceses foi determinar que cabe aos cidadãos, por si ou por seus representantes, o controle 
das finanças e da administração pública (artigos 14 e 15).
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As palavras que historicamente consagraram a Revolução Francesa foram: Liberdade, Igualdade e 
Fraternidade.
No entanto, é ilusão pensarmos que a partir daquele momento todos os franceses começaram a ser 
tratados como iguais. Na ânsia do desenvolvimento econômico e do acúmulo de bens, os burgueses não 
conseguiram ser justos e, em boa medida, as classes menos favorecidas apenas trocaram de algoz: dos 
reis absolutistas para os comerciantes inescrupulosos. Na verdade, os grandes questionamentos sobre 
a desigualdade no tratamento entre detentores dos meios de produção e trabalhadores vão surgir no 
mundo logo após a Revolução Francesa.
Um novo personagem entrava em cena e seu nome e suas ideias até hoje provocam polêmica: Karl Marx.
Figura 26 
Karl Marx nasceu em Treves, na Alemanha, em 1818. Seu pai era advogado, sua mãe era judia e 
descendente de família de holandeses. Quando ele tinha seis anos, sua família se converteu ao 
cristianismo. Mais tarde, casou‑se com Jenny Von Westphalen, que era filha de um barão da Prússia. 
Sua vida pessoal teve momentos de tranquilidade financeira e outros de muitas dificuldades. Foi pai de 
cinco e em alguns períodos sobreviveu graças à caridade de amigos.
Foi expulso da Alemanha, da França e da Bélgica, sempre como resultado de suas ideias políticas e 
econômicas, e morreu na Inglaterra, em 1883.
Marx estudou Direito e, em seguida, encaminhou seus estudos para a História e a Filosofia. Também 
conviveu com o movimento operário alemão e francês e, a partir do que constatou na realidade desses 
trabalhadores, produziu textos e artigos que o tornam alvo de perseguições políticas. Isso o obrigou a se 
mudar para Londres, na Inglaterra.
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Ele conheceu o pensador inglês Friedrich Engels, que durante toda sua vida foi importante parceiro 
intelectual. Além disso, Engels ajudou Marx e sua família em momentos de maior dificuldade financeira. 
Juntos escreveram uma obra famosa, A Ideologia Alemã, na qual criticavam o pensamento do filósofo 
Feuerbach e também o idealismo, que era uma forma de pensar clássica da filosofia alemã. Juntos 
também eles refletiram sobre a apreensão coletiva dos meios de produção e, com isso, criaram o famoso 
Manifesto do Partido Comunista, escrito em 1848.
Marx escreveu muitos textos de economia e política, mas O Capital foi sua obra mais famosa. Ele 
publicou apenas o primeiro volume. Outros dois volumes foram publicados por Engels após a sua morte 
a partir das anotações de Marx.
Entre as principais ideias de Marx está o fim do subjetivismo que caracterizava o pensamento alemão 
da época. Ele substitui essa reflexão subjetiva pela concretude, ou seja, o Homem agora é pensadoa partir de suas relações de trabalho e, consequentemente, de suas relações sociais. Essa é a ideia 
fundamental, pensar o Homem a partir de sua práxis, ou seja, da atividade praticada pelo Homem na 
produção, no trabalho.
Nessa forma de pensar estão as bases do que foi chamado de materialismo histórico, que está 
fundado nas relações sociais, pois, para Marx, o Homem só pode ser compreendido nessas relações, e 
também nas históricas e produtivas em que ele vive. São as relações concretas dos homens que estão 
imersos no sistema produtivo que constroem as ideias, o sistema social, a compreensão da religião e 
também a política e o Direito.
Para Marx, o modo de produção econômica condiciona as demais relações sociais dos homens. É o 
lócus fundamental para a constituição do homem e de sua sociabilidade.
O conjunto dessas relações de produção forma a estrutura econômica da 
sociedade, a base real sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e 
política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social. 
O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, 
política e espiritual em geral. Não é a consciência do homem que determina 
o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua 
consciência (MARX apud MASCARO, 2010, p. 284).
Para Marx, o capitalismo, por meio da circulação mercantil, do trabalho, das forças produtivas e das 
relações de produção, domina tudo. Por isso, ele se dedica à reflexão sobre a exploração da força de 
trabalho e as consequências para toda a sociedade.
Marx argumenta que o capitalista reúne em seu benefício vários saberes e com isso produz e 
acumula riquezas. Parte da riqueza produzida é paga para o trabalhador e outra parte é acumulada pelo 
capitalista. A diferença entre o excedente acumulado e aquilo que é pago ao trabalhador é a mais‑valia. 
Os capitalistas compram a força de trabalho dos homens para tentar obter sempre a maior quantidade 
possível de excedente.
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Ele entende que a lógica do capital é a da exploração do trabalho assalariado, que, ao mesmo tempo, 
permite a circulação de pessoas como mercadorias.
Marx modificou o pensamento da sua época por ter ligado a política às condições materiais 
concretas, ao econômico, e por ter denunciado a exploração do capital pelo trabalho, que até então 
era considerada quase normal, ou ainda, necessária para garantir a produção. Por isso é que para 
Marx a vida em sociedade não se origina do contrato social, como haviam defendido Hobbes, Locke 
e Rousseau. A vida em sociedade é marcada pela luta de classes, que se dá nas relações de produção 
e da mais‑valia.
O Estado moderno, fruto do fim do absolutismo e da consagração de direitos individuais e coletivos 
após as revoluções liberais, havia tornado o indivíduo um cidadão, um sujeito de direitos com poder de 
escolhas políticas. No entanto, esse sujeito livre para possuir direitos é também o trabalhador, que se vê 
obrigado a vender a sua força de trabalho para os capitalistas, que é explorado pela mais‑valia e que, 
ao mesmo tempo, tem sua relação de trabalho e exploração intermediada por leis consideradas justas e 
de acordo com o Direito.
Por isso, Marx conclui que o Direito é apenas um instrumento para revestir a força de legalidade 
e, nessa medida, dar suporte para a exploração do Homem pelo Homem. Um, detentor de meios de 
produção; outro, trabalhador, dono apenas de sua força de trabalho e obrigado a se vender porque não 
tem perspectiva de ser detentor de propriedade privada, dos meios de produção.
A igualdade das leis é meramente formal, porque na prática social o que se percebe são homens 
detentores de meios de produção, que utilizam a força de trabalho de outros e a remuneram de 
forma injusta. Ele conclui que as relações jurídicas são um meio de oficializar a exploração e fazê‑la 
parecer justa. Ou seja, no capitalismo, a exploração humana é facilitada pelas leis do Estado e 
garantida por ele.
O Estado estaria, portanto, a serviço da exploração capitalista. Porém, essa exploração está dissimulada 
em leis e, por isso, o Estado aparece como um garantidor da democracia, do interesse público e do bem 
comum.
Por isso é que Marx defende uma revolução que supere as formas políticas e jurídicas do capitalismo 
e dê às classes trabalhadoras o direito de organizar a sociedade. Como o Estado é apenas uma forma 
de opressão dos capitalistas e não garante condições de igualdade para os trabalhadores, ele deve ser 
repensado e refeito, e a nova concepção de Estado deve propor que todos os membros da sociedade 
sejam, ao mesmo tempo, trabalhadores e beneficiados pelo resultado coletivo da produção.
A ruptura com o Estado burguês permitirá aos trabalhadores controlarem totalmente a produção 
material sem se submeterem a outra classe social. Quando isso acontecer, o Direito será um instrumento 
de justiça e não de garantia dos privilégios capitalistas.
A crítica de Marx é forte, não poupa ninguém e até hoje provoca inúmeras polêmicas.
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6.1 A Revolução Russa
A Rússia, antes de 1917, vivia o regime dos czares e enfrentava um momento de crise econômica 
com forte repercussão social. Embora a classe trabalhadora vivesse em enorme carência material, o 
czar Nicolau II determinou que a Rússia entrasse na I Guerra Mundial, o que aumentou as dificuldades 
financeiras de toda a população e também a insatisfação geral.
Além disso, o governo russo estava mergulhado em gestões marcadas pela incompetência 
administrativa e econômica e pela corrupção. É nessa situação que as ideias socialistas inspiradas em 
Karl Marx e em Frederich Engels ganham força e importância.
O czar abdicou em março de 1917. Em seu lugar assumiu um Ministério Provisório, com Alexander 
Kerenski como Ministro da Justiça. Ele pretendia estabelecer uma monarquia constitucional semelhante 
ao modelo inglês, mas não resistiu e, em outubro do mesmo ano, ocorreu a ascensão dos bolcheviques, 
membros de uma facção marxista ortodoxa que coexistia com os mencheviques, um pouco menos 
radicais. Eles não tiveram muito trabalho para conquistar o poder, porque o governo estava praticamente 
um caos total.
O lema que motivou os revolucionários foi bastante significativo: paz, terra e pão. Os principais 
protagonistas da Revolução Russa de 1917 foram: Vladimir Lenin e Leon Trotsky.
O novo governo chamou a si próprio de ditadura do proletariado. Passaram a pertencer ao Estado 
todos os meios de produção, tais como todas as terras, minas de minérios, usinas, máquinas, bancos, 
ferrovias, fábricas e todo e qualquer outro meio de produção. Evidentemente, a perda dos bens provocou 
uma guerra civil entre proprietários, que eram capitalistas, e os revolucionários, que pretendiam acabar 
com a divisão de classes no país. Os proprietários dos bens expropriados foram apoiados por tropas de 
governos contrários à instalação do regime socialista e, por essa razão, o conflito durou até 1920, com 
violência de ambas as partes.
Depois de um período de reorganização da economia, durante o qual ainda ocorreram a produção 
e comércio privados e pagamento de salários, o regime socialista adotou os Planos Quinquenais e 
extinguiu totalmente as formas burguesas de produção e repartição de renda. Os Planos Quinquenais 
foram, assim, estratégias e metas para a completa implantação do regime socialista. O objetivo era que 
a Rússia fosse uma economia fortemente industrial e, ao mesmo tempo, uma sociedade comunista sem 
classes.
No entanto, outro percalço teve de ser enfrentado pelos revolucionários russos: a morte de Lênin, 
em 1924. Com ela, foi deflagradauma luta violenta pelo poder entre Leon Trotsky e Josef Stálin.
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Figura 27 
Leon Trotsky nasceu em 1879 e foi assassinado em 1940, no México. Foi um importante pensador 
marxista e, nos primeiros tempos da União Soviética, organização política surgida a partir da Revolução 
Russa, exerceu função semelhante à de Ministro de Estado. Foi também organizador e comandante do 
Exército Vermelho, famoso por sua eficiência e combatividade. Era inimigo de Stálin e, em consequência, 
foi expulso do partido e teve de sair da União Soviética. Buscou apoio no México, onde seria assassinado 
por um agente da polícia de Stálin. A casa onde morreu no México hoje é um museu.
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Josef Stalin nasceu em Gori, em 1879, e faleceu em 1953, em Moscou. Foi Secretário Geral do 
Partido Comunista na Rússia e do Comitê Central. Em outras palavras, foi um grande líder político após 
a implantação do regime socialista. Sua liderança foi essencial na derrota da Alemanha nazista durante 
a II Guerra Mundial. Também foi fundamental para tornar a União Soviética uma potência econômica, 
em especial pela industrialização, pela melhoria das condições sociais do povo soviético e também pela 
expansão do território do que passou a ser chamado de União Soviética. Foi uma figura extremamente 
controvertida, criticada por muitos e reverenciada por outros tantos.
Nada que se diga sobre a Revolução Russa de 1917 e sobre o regime político e econômico implantado 
a partir dessa data, e que vai vigorar até o final da década de 1980, será pacificamente aceito. Sempre 
existirão opiniões a favor e contra, histórias de heroísmo e de covardia, de sucesso e de fracasso.
A Revolução Russa exigiu do povo o devotamento ao trabalho, respeito pela autoridade pública, 
disposição para o sacrifício pessoal no interesse da sociedade e lealdade à pátria soviética e ao regime 
socialista. Essas eram as premissas fundamentais do cidadão russo. Para garantir que isso acontecesse, 
Stalin não teve escrúpulos em torturar, matar e banir cidadãos.
Ao mesmo tempo, comprovadamente, reduziu o analfabetismo, melhorou os métodos agrícolas, 
expandiu a industrialização, planejou a economia, criou oportunidades educacionais, culturais 
e esportivas para o povo e adotou um sistema eficiente de saúde pública e de proteção aos filhos 
das mães que trabalhavam. Esses benefícios costumam ser negados pelos detratores do regime, mas 
existiram, não há dúvida. Os resultados obtidos pela União Soviética na corrida do espaço, contra os 
Estados Unidos, a economia forte que a colocou como potência durante muitos anos, os resultados das 
competições internacionais, como as Olimpíadas, e as exibições de suas orquestras e grupos de balés, 
que sempre foram aplaudidos em todo o mundo, demonstram que muitas coisas funcionaram bem 
durante o período socialista.
Porém, é preciso não perder de vista que o regime socialista foi duro, não permitiu a liberdade de 
escolha, de expressão, de ideias e de crenças. Foi também um regime que em alguns momentos obrigou 
os cidadãos russos a viverem com muito pouco, em especial porque os esforços industriais tinham por 
objetivo a produção de material bélico para defesa da União Soviética.
Para Eric Hobsbawn:
A Revolução modernizou grande parte de um país atrasado, mas, embora 
suas realizações tenham sido titânicas – principalmente a capacidade de 
derrotar a Alemanha na Segunda Guerra Mundial –, seu custo humano 
foi enorme, sua economia fechada estava fadada a se esgotar e seu 
sistema político fadado a se esfacelar. [...]. Devemos deixar que os 
diversos povos socialistas e ex‑socialistas façam sua própria avaliação 
do impacto da Revolução de Outubro em sua história. Quanto ao resto 
do mundo, apenas a conhecemos em segunda mão. [...]. Tal como a 
Revolução Francesa, a Revolução Russa continuará a dividir opiniões 
(HOBSBAWN, 1994, p. 452).
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Em outras palavras, quando se trata de história política, cada povo deve ter a primazia para julgar 
aquilo que viveu e as consequências derivadas dessa vivência.
 Saiba mais
Dois filmes inspirados na Revolução Russa devem ser vistos: Reds, de 
1981, com Warren Beatty, e Dr. Jivago, de 1965, com David Lean. Ambos 
tratam do mesmo tema com visões diferentes e são bastante interessantes 
para facilitar a compreensão desse importante momento histórico.
6.2 O Estado Nacional‑Socialista
O Estado Nacional‑Socialista aconteceu na Alemanha pós I Guerra Mundial. É também chamado 
de Führerstaat! Führung é um princípio de liderança, de condução da comunidade que, nesse caso, é 
dirigida por um Führer.
Nessa concepção de organização política, o Estado é um meio e não um fim. É um meio para garantir 
o aprimoramento da comunidade.
O nacionalismo é um componente essencial das ideologias fascista e nazista. O nazifascimo foi, 
no entender de Bobbio, a resposta totalitária de uma sociedade que não mais conseguia conciliar 
os objetivos de segurança e de desenvolvimento econômico com a manutenção das instituições 
democráticas. O nazifascismo adotou a lógica totalitária da mobilização de todos os recursos para, de 
forma hierarquizada, expandir a produção, favorecer a concentração produtiva e manter o controle de 
tudo nas mãos do Estado.
A doutrina nacional‑socialista adotada na Alemanha e com variação no fascismo italiano é contrária 
aos pressupostos da democracia liberal. A origem de todo o direito é o povo e o Estado é considerado 
uma emanação direta dele. O povo é conduzido e guiado pelo governo, e este se encontra a serviço da 
comunidade. O indivíduo não tem esfera de liberdade individual que deva ser respeitada pelo Estado, 
porque seus direitos são como membro de uma comunidade.
A Alemanha do período da II Guerra Mundial acrescentou a essa situação mais um fator: a doutrina 
nazista exigia a raça pura e, consequentemente, negava totalmente os direitos àqueles que não 
fossem arianos. Em especial, perseguia os judeus e contra eles praticou as barbaridades que todos nós 
conhecemos.
O Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido como Partido Nazista, foi 
eleito democraticamente em 1933, ou seja, por voto popular, e foi o principal responsável por constituir 
na Alemanha o III Reich, comandado pelo austríaco Adolf Hitler, que protagonizou enorme violência em 
toda a Alemanha e, mais tarde, na Europa durante a II Guerra Mundial.
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 Saiba mais
Sugerimos a leitura de O Diário de Anne Frank, livro que conta a história 
da vida de uma adolescente que teve de viver escondida junto com sua 
família durante a II Guerra Mundial. A Menina que Roubava Livros, de 
Markus Zusak, também é uma excelente indicação de leitura para você 
conhecer melhor aquele período histórico.
Também indicamos O Pianista, um filme que retrata muito bem a 
violência praticada pelo nazismo contra os judeus durante a II Guerra 
Mundial. Existem muitos outros filmes sobre esse período histórico. 
Pesquise!
6.3 O Estado do Bem‑estar Social
O final da II Guerra Mundial legou à Humanidade um continente destruído (a Europa); profundas 
marcas de dor e violência contra todos e muito em especial contra os judeus; milhões de pessoas mortas 
e outros milhões de mutilados físicos e psicológicos; a economia devastada com as consequências 
conhecidas: escassez de alimentos, de recursospara a saúde, para a educação e assistência social.
Além disso, o espectro do socialismo rondava a Europa com a divisão da Alemanha em Oriental e 
Ocidental, com a formação do bloco socialista dos países da chamada “Cortina de Ferro” e com o poder 
econômico que a União Soviética significava naquele momento histórico. O mundo precisava reagir. As 
ideias liberais não davam mais conta de organizar o Estado para um cidadão que, naquele momento, 
precisava de maior proteção.
A experiência histórica mostrou que a concepção liberal do Estado Mínimo 
era incapaz de assegurar vida digna à maioria das pessoas. Sem garantia de 
emprego, recebendo salário aviltante, viram‑se abandonadas à própria sorte 
diante da “neutra” indiferença do Estado.
É nessa moldura de insegurança e miséria das massas trabalhadoras que 
se expande o capitalismo, convertendo o trabalho em mercadoria, ao 
sabor das leis de mercado. Aos excessos do individualismo triunfante 
veio responder uma corrente de ideias, de variada gama, abrangendo 
desde a defesa do capitalismo, mediante a proposta de sua suavização, 
passando pelas ideias do socialismo utópico, do pensamento social 
católico, chegando ao materialismo histórico de Marx e Engels (AZEVEDO, 
1999, p. 123).
A Segunda Guerra Mundial não pode ser considerada, no entanto, como o único fator que levou a 
Humanidade a questionar as propostas liberais e buscar elementos que permitissem uma nova concepção 
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do papel do Estado. Antes da Segunda Guerra, a Revolução Industrial, a Primeira Guerra Mundial, a Crise 
Econômica de 1929 e as ideias da Doutrina Social da Igreja já haviam indicado que era preciso repensar 
o papel do Estado.
Que o Estado sempre intervêm na vida das pessoas não há dúvida, porque é dele o papel de legislar, 
executar políticas de ação e fiscalizar o cumprimento das leis. Não há nenhuma forma de Estado 
conhecida na história da Humanidade que não tenha praticado intervenção nos direitos civis e políticos 
de seus cidadãos. Porém, o Estado Liberal havia abdicado da intervenção no sistema econômico, de 
forma que a liberdade dos agentes econômicos era garantida para que pudessem realizar suas atividades 
da forma como entendessem mais adequadas.
Streck e Morais nos ensinam:
O projeto liberal teve como consequências: o progresso econômico; a 
valorização do indivíduo, como centro e ator fundamental do jogo político 
e econômico; técnicas de poder como poder legal, baseado no direito 
estatal [...]. Todavia, estas circunstâncias geraram, por outro lado, uma 
postura ultraindividualista, assentada em um comportamento egoísta; 
uma concepção individualista e formal da liberdade onde há o direito, e 
não o poder de ser livre; e a formação do proletariado em consequência da 
Revolução Industrial e seus consectários, tais como a urbanização, condições 
de trabalho, segurança pública, saúde etc.
Evidentemente que isso trouxe reflexos que se expressaram nos movimentos 
socialistas e em uma mudança de atitude por parte do poder público, que 
vai se expressar em ações interventivas sobre e no domínio econômico, bem 
como em práticas até então tidas como próprias da iniciativa privada, o 
que se dá, por um lado, para mitigar as consequências nefastas e, por outro 
lado, para garantir a continuidade do mercado ameaçado pelo capitalismo 
financeiro [...]
Para Dallari, há um duplo aspecto neste processo de transformação do Estado 
Liberal, quais sejam: a) melhoria das condições sociais, uma vez que o poder 
público se assume como garantidor de condições mínimas de existência 
para os indivíduos; e; b) garantia regulatória para o próprio mercado, já 
que o mesmo poder público passa a funcionar como agente financiador, 
consumidor, sócio, produtor, etc., em relação à economia. (STRECK; MORAIS, 
2006, p. 69‑70).
Como se pode perceber, a estratégia de liberdade total para os agentes econômicos estava com 
seus dias contados e o Estado, a partir das pressões das massas de trabalhadores, da Igreja e da 
necessidade de manter o mercado econômico em equilíbrio, adota nova postura de tratamento das 
questões de cunho social. Assim, surge o Estado do Bem‑estar Social, também denominado de Estado 
Assistencial, État Providence ou Welfare State, que a rigor é aquele Estado que tem o papel de 
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garantir acesso da população a um mínimo de segurança social, que significa, renda, alimentação, 
saúde, habitação, e tudo isso assegurado ao cidadão, não como uma forma de caridade, mas como 
direito político, previsto na constituição federal, lei máxima do país.
A ideia fundamental é que todo cidadão tem direito de ser protegido contra situações de curta 
duração (doenças, desemprego, maternidade), como de longa duração (velhice, doenças crônicas, 
invalidez etc.), que o impeçam de, por sua própria conta, garantir seu bem‑estar. O Estado atuará nesses 
momentos de vulnerabilidade do cidadão para ajudá‑lo a ter uma vida digna e isso será resultado da 
efetividade de um direito político, e não de um ato de caridade do Estado.
6.4 Doutrina social da Igreja
Em 1891, a encíclica Rerum Novarum (em latim, Das Coisas Novas), do papa Leão XIII, retomou o 
pensamento de Santo Tomás de Aquino no sentido da justiça social. Encíclica é um documento por meio 
do qual os papas católicos manifestam suas ideias, preocupações e apontam soluções e temas para a 
reflexão em todo o mundo cristão.
Naquele documento o papa Leão XIII apelou para os empregadores a fim de respeitarem a dignidade 
de seus trabalhadores como homens e como cristãos, e não os tratassem como instrumentos de fazer 
dinheiro. Recomendou a formação de uniões de trabalhadores, o aumento do número de pequenos 
proprietários agrários e a limitação de horas de trabalho. Leão XIII condenou o individualismo da 
sociedade liberal burguesa e defendeu a intervenção do Estado, quando exigida pelo bem comum, para 
salvaguardar os direitos da pessoa humana.
Em 15 de maio 1961, ao completar 70 anos da encíclica Rerum Novarum, o papa João XXIII escreveu 
a encíclica Mater et Magistra (Mãe e Mestra), que determinou a prioridade do trabalho sobre o capital. 
Essa encíclica é considerada o principal documento da chamada Doutrina Social da Igreja, porque 
tráz profunda reflexão sobre os problemas contemporâneos àquela época e aponta caminhos para a 
mitigação desses problemas.
A propriedade privada dos bens de consumo e dos meios de produção era não apenas um instrumento 
indispensável à liberdade da pessoa humana, mas também uma garantia dos direitos sociais.
Na encíclica Mater et Magistra, o papa João XXIII afirma:
17. Bem conheceis, veneráveis irmãos, os princípios basilares expostos pelo imortal 
Pontífice, com tanta clareza como autoridade, segundo os quais deve ser reconstruído 
o setor econômico e social da comunidade humana.
18. Dizem respeito, primeiramente, ao trabalho que deve ser considerado, em teoria e na 
prática, não mercadoria, mas um modo de expressão direta da pessoa humana. Para 
a grande maioria dos homens, o trabalho é a única fonte dos meios de subsistência. 
Por isso, a sua remuneração não pode deixar‑se à mercê do jogo automático das leis 
do mercado; pelo contrário, deve ser estabelecida segundo as normas da justiça e 
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da equidade, que, em caso contrário, ficariam profundamente lesadas, ainda mesmo 
que o contrato de trabalho fosse livremente ajustado por ambas as partes.
19. A propriedade privada, mesmo dos bens produtivos, é um direito natural queo 
Estado não pode suprimir. Consigo, intrinsecamente, comporta uma função social, 
mas é igualmente um direito, que se exerce em proveito próprio e para bem dos 
outros.
20. O Estado, cuja razão de ser é a realização do bem comum na ordem temporal, não 
pode manter‑se ausente do mundo econômico; deve intervir com o fim de promover 
a produção de uma abundância suficiente de bens materiais, “cujo uso é necessário 
para o exercício da virtude”; e também para proteger os direitos de todos os cidadãos, 
sobretudo dos mais fracos, como são os operários, as mulheres e as crianças. De igual 
modo, é dever seu indeclinável contribuir ativamente para melhorar as condições de 
vida dos operários.
21. Compete ainda ao Estado velar para que as relações de trabalho sejam reguladas 
segundo a justiça e a equidade, e para que nos ambientes de trabalho não seja 
lesada, nem no corpo nem na alma, a dignidade de pessoa humana. A este propósito, 
a encíclica leonina aponta as linhas que vieram a inspirar a legislação social dos 
estados contemporâneos: linhas, como já observava Pio XI na encíclica Quadragesimo 
Anno, que eficazmente contribuíram para o aparecimento e a evolução de um novo 
e nobilíssimo ramo do direito, o “direito do trabalho”.
22. E aos trabalhadores, afirma ainda a encíclica, reconhece‑se o direito natural de 
constituírem associações, ou só de operários, ou mistas de operários e patrões; 
como também o direito de darem às mesmas a estrutura orgânica que julgarem 
mais conveniente para assegurarem a obtenção dos seus legítimos interesses 
econômico‑profissionais, e o direito de agirem, no interior delas, de modo autônomo 
e por própria iniciativa, para a consecução dos mesmos interesses.
23. Operários e empresários devem regular as relações mútuas, inspirando‑se no princípio 
da solidariedade humana e da fraternidade cristã; uma vez que, tanto a concorrência 
de tipo liberal, como a luta de classes no sentido marxista, são contrárias à natureza 
e à concepção cristã da vida.
24. Eis, veneráveis irmãos, os princípios fundamentais em que deve basear‑se, para ser 
sã, a ordem econômica e social.
[...]
73. Enquanto as economias dos vários países se desenvolvem rapidamente, com ritmo 
ainda mais intenso neste último após guerra, julgamos oportuno lembrar um princípio 
fundamental. O progresso social deve acompanhar e igualar o desenvolvimento 
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econômico, de modo que todas as categorias sociais tenham parte nos produtos 
obtidos em maior quantidade. É preciso, pois, vigiar com atenção e trabalhar 
eficazmente para que os desequilíbrios econômicos e sociais não cresçam, antes, 
quanto possível, se vão atenuando.
74. “A própria economia nacional – nota sabiamente o nosso predecessor Pio XII – assim 
como é fruto da atividade de homens que trabalham unidos na comunidade política, 
assim não tende senão a assegurar, sem interrupção, as condições materiais em 
que poderá desenvolver‑se plenamente a vida individual dos cidadãos. Onde isto 
se conseguir, e de modo duradouro um povo será, de verdade, economicamente 
rico, porque o bem‑estar geral, e, por conseguinte, o direito pessoal de todos ao uso 
dos bens terrenos encontra‑se deste modo realizado conforme o plano estabelecido 
pelo Criador. Daí segue‑se que a riqueza econômica de um povo não depende só da 
abundância global dos bens, mas também, e mais ainda, da real e eficaz distribuição 
deles segundo a justiça, para tornar possível a melhoria do estado pessoal dos 
membros da sociedade: é este o fim verdadeiro da economia nacional.
75. Não podemos deixar de aludir ao fato de que hoje, em muitas economias, as médias e 
grandes empresas conseguem com frequência aumentar rápida e consideravelmente 
a capacidade produtiva por meio do autofinanciamento. Nestes casos, cremos poder 
afirmar que aos trabalhadores se deve reconhecer um título de crédito nas empresas 
em que trabalham, especialmente se ainda lhes toca uma retribuição não superior 
ao salário mínimo.
76. A este propósito convém recordar o princípio exposto pelo nosso predecessor Pio 
XI na encíclica Quadragesimo Anno: “É completamente falso atribuir só ao capital, 
ou só ao trabalho, aquilo que se obtém com a ação conjunta de um e de outro, e é 
também de todo injusto que um deles, negando a eficácia do contributo do outro, se 
arrogue somente a si tudo o que se realiza”.
77. A essa exigência de justiça pode satisfazer‑se de diversas maneiras que a experiência 
sugere. Uma delas, e das mais desejáveis, consiste em fazer que os trabalhadores 
possam chegar a participar na propriedade das empresas, da forma e no grau mais 
convenientes. Pois, nos nossos dias, mais ainda que nos tempos do nosso predecessor, 
“é necessário procurar com todo o empenho que, para o futuro, os capitais ganhos, 
não se acumulem nas mãos dos ricos senão na justa medida, e se distribuam com 
certa abundância entre os operários”.
78. Devemos ainda recordar que o equilíbrio entre a remuneração do trabalho e o 
rendimento deve conseguir‑se em harmonia com as exigências do bem comum, 
tanto da comunidade nacional como de toda a família humana.
Fonte: João XXIII (1961).
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Antes de ser um documento religioso católico, a encíclica Mater et Magistra é um documento 
político e social da maior importância, que repercute no tratamento da propriedade privada, das relações 
de trabalho, no questionamento sobre o papel do Estado, e tudo em benefício de todos os homens, 
mulheres e crianças do planeta Terra, independente de suas opções religiosas.
Lida com atenção e cuidado, a encíclica Mater et Magistra detecta problemas e situações de injustiça 
social e econômica que ainda hoje persistem entre nós. E toca em questões problemáticas, como a 
função social da propriedade que foram contempladas na Constituição Federal Brasileira e, ainda hoje 
como sabemos, não se encontram satisfatoriamente solucionadas.
A distribuição da renda, por exemplo, tem sido tratada no Brasil de forma ainda polêmica com 
programas sociais como o Bolsa Família. Se hoje já dispomos de pesquisas acadêmicas e de mercado que 
sinalizam que o programa é efetivamente positivo para muitas famílias e regiões do país, por outro lado, 
há um temor de que o acesso à renda sem programas de capacitação profissional, de empreendedorismo 
e de educação continuada para o trabalho transforme uma parte da população brasileira em cidadãos 
de “segunda classe”. Têm acesso a uma renda mínima que lhes permita ao menos alimentação, ainda que 
nem sempre adequada, mas não têm acesso a formas de se tornarem independentes da ajuda estatal, ou 
seja, de se autodeterminarem de forma plena como é o ideal do exercício da cidadania.
Assim, independente das opções religiosas de cada um de nós, a leitura dos textos das encíclicas nos 
auxilia a compreender com maior profundidade a extensão dos problemas sociais e, consequentemente, 
da complexidade das soluções que precisam ser encontradas para minimizá‑los.
O fato é que o Estado liberal que vigorara até a II Guerra Mundial é questionado por forças 
políticas, religiosas, por grupos sociais de trabalhadores e até por forças econômicas, para as quais 
as instabilidades sociais e políticas são sempre uma ameaça. Assim, havia indícios suficientes para 
constatar que o Estado precisava modificar seu papel na economia e no social, de forma a garantir 
que a população tivesse condições de vida mais dignas e, com isso, menor clamor contra o próprio 
Estado e as forças produtivas.
Streck e Morais resumem:
O desenvolvimento do État Providence ou Estado de Bem‑estar pode ser 
creditado a duas razões:
Uma de ordempolítica, através da luta pelos direitos individuais (Terceira 
Geração), pelos direitos políticos e, finalmente, pelos direitos sociais, e
Outra de natureza econômica, em razão da transformação da sociedade 
agrária em industrial, pois “o desenvolvimento industrial parece a única 
constante capaz de ocasionar o surgimento do problema da segurança 
social [...]”
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O cerne da diferença, além da crescente atitude interventiva estatal, se coloca 
exatamente neste aspecto de direito próprio do cidadão a ter garantido 
o seu bem‑estar social pela ação positiva do Estado como afiançador da 
qualidade de vida do povo.
Com Paulo Bonavides, pode‑se entender que o Estado Contemporâneo, ao 
estilo do Estado do Bem‑estar, adota com preponderância a ideia social na 
sua constituição com, como diz, a expectativa de que este princípio generoso 
e humano de justiça (deva) se compadeça(cer) da tese não menos nobre e 
verídica da independência da personalidade.
Na tentativa de realizar este equilíbrio, estabelece‑se, segundo Bobbio, um novo 
contrato social, que nomina de socialismo liberal, no qual, partindo‑se da mesma 
concepção individualista da sociedade e adotando os mesmos instrumentos 
liberais, se incluem princípios de justiça distributiva, onde o governo das leis 
– em contraposição ao governo dos homens – busque a implementação da 
democracia em caráter igualitário (STRECK; MORAIS, 2006, p. 79‑80).
E Soares resume:
O paradigma do Estado do bem‑estar social foi adotado, após a Segunda 
Guerra, pela maioria dos Estados desenvolvidos, impulsionada pelas 
políticas econômicas keynesianas e pelo regime fordista de acumulação, e 
também como resultado do compromisso entre classes sociais, em termos 
de cidadania social acoplada ao crescimento econômico.
A cidadania social representou a conquista de significativos direitos sociais no 
domínio das relações de trabalho, da segurança social, da saúde, da educação 
e da habitação por parte das classes trabalhadoras dos Estados desenvolvidos 
ou centrais, que, no entanto, foram menos intensas nos Estados periféricos 
ou semiperiféricos (SOUSA SANTOS, 1996, p. 210 apud SOARES, 2008, p. 206).
O Estado teve de assumir as funções de agente conformador da realidade 
social em face do advento de uma sociedade de massas marcada por 
conflitos sociais.
O aparelho estatal desempenhou, ainda, função social integradora, ao 
pretender reduzir as desigualdades sociais e propiciar certas condições 
materiais para emancipação do indivíduo (BENDA, 1996, p. 553 apud 
SOARES, 2008, p. 206).
Dotado de tais funções, o Estado social de direito faz‑se Estado administrador, 
ao permitir o predomínio da Administração sobre a política ou da técnica 
sobre a ideologia.
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Sua utopia era compatibilizar, dentro do mesmo sistema, o capitalismo, como 
forma de produção, e as ideias socialistas, com o fetiche da consecução do 
bem‑estar social (SOARES, 2008, p. 206).
 Observação
John Maynard Keynes: economista britânico (1883‑1946).
Henry Ford: empresário fundador da indústria automobilística que leva 
o seu nome (1863‑1947).
Como podemos perceber, os objetivos do Estado do Bem‑estar eram elogiáveis, na medida em que 
pretendiam garantir melhor qualidade de vida para a população trabalhadora; mas, ao mesmo tempo, 
eram esforços do Estado no sentido de aliviar as pressões dos trabalhadores e impedir o avanço do 
regime comunista.
De todos os modos, não há como negar o avanço do ponto de vista social nos países que adotaram 
plenamente, ou o mais plenamente possível, as características de Estado do Bem‑estar. Em aspectos 
como acesso à saúde, educação e segurança pública, são até hoje países muito mais desenvolvidos, 
como é o caso da Alemanha, por exemplo.
Mas, e o Brasil? Tivemos Estado do Bem‑estar Social em nosso país?
Os estudiosos são firmes em apontar, em sua grande maioria, que não construímos um modelo de 
estado social que garantisse aos cidadãos acesso a seus direitos sociais fundamentais, como saúde, 
educação, moradia, segurança e seguridade social. Durante a chamada Primeira República, não tínhamos 
sequer direitos para os trabalhadores; com a tomada do poder por Getúlio Vargas tivemos mudanças 
importantes, inclusive uma lei de proteção aos trabalhadores, mas não chegamos a construir outras 
melhorias que nos aproximassem de um Estado de Bem‑estar.
Com o fim do período Vargas, vivemos no Brasil momentos de maior participação democrática, com 
melhoria de serviços, em especial nos centros urbanos que cresciam com o avanço da industrialização, 
mas, no geral, ainda estávamos carentes de efetividade de direitos sociais. O final do período democrático 
é marcado exatamente pela promessa de João Goulart de realizar as famosas reformas de base, que 
incluíam a reforma agrária e maiores direitos sociais para todos os brasileiros. A consequência todos 
conhecemos: João Goulart teve que se exilar no Uruguai e os militares tomaram o poder para nos fazer 
vivenciar 21 anos de ditadura.
Importante reflexão pode ser realizada sobre o Estado brasileiro pós‑ditadura militar e a perspectiva 
de construção de um Estado do Bem‑estar. De fato, a Constituição Federal de 1988 é pródiga em 
direitos individuais e coletivos, principalmente sociais, para todos os brasileiros e os estrangeiros 
residentes no país.
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A saúde, por exemplo, é garantida na Constituição Federal de 1988 como direito de todos 
e dever do Estado, direito esse que será viabilizado mediante políticas sociais e econômicas 
que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário 
às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Em outras palavras, a saúde 
pública é um direito de quem trabalha, de quem não trabalha, de quem nunca trabalhou, 
de todos independentemente de contribuírem ou não para o custeio das políticas sociais e 
econômicas de saúde.
É uma ideia de enorme valor, mas podemos perguntar: na prática, após vinte e cinco anos da entrada 
em vigor da Constituição Federal, a saúde pública no Brasil alcançou seus objetivos de atender com 
qualidade e eficiência a toda a população brasileira?
Figura 29 
Na foto anterior podemos ver uma das manifestações ocorridas no Brasil, em junho de 2013. Elas 
ocorreram em praticamente todas as grandes cidades do país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo 
Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Recife, entre outras. Os motivos que levaram às pessoas comuns às 
ruas para protestar foram os mais variados: qualidade da saúde, do transporte coletivo, da segurança 
pública e críticas à realização da Copa do Mundo no Brasil.
Em São Paulo, o movimento ganhou muita força a partir do anúncio pelo governo do aumento 
da passagem de ônibus, em 20 centavos. Porém, a qualidade do transporte público é tão baixa em 
São Paulo que mesmo uma quantia aparentemente pequena revoltou as pessoas, que foram às 
ruas em grandes manifestações, que no início eram pacíficas e, mais tarde, com a participação dos 
chamados Black Blocs, – grupos de mascarados que promovem destruição durante as manifestações 
–, tornaram‑se violentas e, recentemente, tiveram como resultado a morte de um cinegrafista no 
Rio de Janeiro.
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O surgimento de grupos violentos infiltrados nas manifestações populares não tira delas o 
aspecto

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