Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direito Civil Responsabilidade Civil 1. Ato Ilícito Ato Ilícito está previsto no art. 186 CC. Podemos conceituá-lo como sendo o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando, conseqüentemente, direito subjetivo individual. Praticado um ato ilícito e causando danos (patrimonial ou moral) a outrem, cria-se o dever de reparar estes prejuízos. Por isso o Ato Ilícito é considerado também como uma ―Fonte de Obrigaçãoǁ (art. 927 CC), pois praticado um Ato Ilícito a lei obriga a reparação dos danos. O Ato Ilícito é considerado como um Fato Jurídico (em sentido amplo). Podemos classificar o Ato Ilícito em: Civil, Penal ou Administrativo. a) Penal – violação de um dever tipificado como crime, pressupondo um prejuízo causado à sociedade; desrespeitado, compromete-se a ordem social (norma de ordem pública); a sanção é pessoal, ou seja é a pessoa do infrator imputável que irá responder pela conduta (não se transmite a responsabilidade a terceiros). b) Administrativo – violação de um dever que se tem para com a Administração; a sanção também é pessoal. c) Civil – violação de um dever obrigação contratual ou legal, pressupondo um dano a terceiro; a sanção é patrimonial, ou seja, atinge o patrimônio do lesante (como regra). 2. Responsabilidade Civil A responsabilidade civil surge em face do descumprimento obrigacional, pela desobediência de uma regra estabelecida em um contrato, ou por deixar, determinada pessoa, de observar um preceito normativo que regula a vida. Nota-se então as duas espécies de responsabilidade civil: www.eduqc.com 1 1 - contratual e extracontratual : está situada no âmbito da inexecução obrigacional. Como se sabe, as cláusulas contratuais devem ser respeitadas, sob pena de responsabilidade daquele que as descumprir. O contrato traz em seu conteúdo uma obrigação assumida, podendo o seu descumprimento gerar perdas e danos. Os principais fundamentos jurídicos dessa modalidade de responsabilidade civil estão dispostos no art. 389 do Código Civil, quando a obrigação assumida for positiva. E no art. 390 do Código Civil, quando se tem uma obrigação negativa. 2 – Já a responsabilidade civil extracontratual (ou aquiliana): relaciona-se ao desrespeito ao direito alheio e às normas que regram a conduta, representando qualquer inobservância de um preceito legal. A conseqüência da infração ao dever contratual e/ou ao dever legal (extracontratual) é a mesma → obrigação de ressarcir o prejuízo causado. A diferença está no ônus da prova. Quando não se cumpre uma cláusula do contrato há uma presunção (relativa) de que a culpa é de quem não cumpriu com o contrato. Em tese o lesado só precisa provar que o contrato não foi cumprido. É a outra parte quem deve provar sua inocência (caso fortuito, força maior). Se não houver esta prova, ele terá que indenizar. No entanto se a responsabilidade é extracontratual, como regra, não existe esta presunção de culpa, sendo que é a vítima quem deve provar a culpa do transgressor. 3. Teorias da Responsabilidade Civil a) Teoria da Responsabilidade Subjetiva Segundo esta teoria, haverá responsabilidade por indenização somente se houver culpa do agente. Como veremos, foi a regra acolhida pelo Direito Civil brasileiro, que adotou a Teoria da Culpa. A Teoria da Culpa se refere a culpa em sentido amplo, que abrange o dolo e a culpa em sentido estrito. Assim Culpa (em sentido amplo) é o gênero. E as espécies são Dolo e Culpa (em sentido estrito). Assim, quando alguém fala em culpa em sentido amplo, está se referindo ao dolo e à culpa propriamente dita. Portanto, pela Teoria da Responsabilidade Subjetiva, haverá indenização toda vez que o agente tenha praticado o ato danoso porque o conhecia e o quis (dolo direto) ou assumiu o risco do resultado (dolo eventual). Mas também quando o agente, embora não o www.eduqc.com 1 conhecesse e não o quisesse, tenha agido por negligência ou imprudência ou violado norma que podia ou devia conhecer e acatar (culpa em sentido estrito). Prevalece a teoria da previsibilidade. Se o ato era previsível (para a pessoa diligente, prudente e conhecedora da norma), então haverá culpa para o agente. Classificação da Culpabilidade (em sentido amplo – ou lato sensu) A principal classificação acerca da culpabilidade é: • Culpa Contratual: resulta da violação de um dever inerente a um contrato. Este descumprimento contratual gera responsabilidade de indenizar as perdas e danos (art. 389 CC). • Culpa Extracontratual ou Aquiliana : resulta da violação de um dever fundado em princípios gerais do direito, como o respeito às pessoas e aos bens alheios; deriva de infração ao dever de conduta imposto pela lei (dever legal) b) Teoria da Responsabilidade Objetiva Por esta teoria não é necessário verificar a existência de culpa do agente. Fundada na Teoria do Risco, a responsabilidade objetiva independe da culpa; esta não é discutida. Verifica-se somente a existência de uma conduta, do dano e a relação de causalidade entre eles, decorrendo daí a obrigação de indenizar. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos (concessionárias e permissionárias) têm responsabilidade civil, ou seja, respondem pelos danos causados pela atividade administrativa, independentemente de culpa de seus funcionários, inclusive no que se refere à culpa anônima ou do serviço (isto está previsto no art. 37, § 6o da Constituição Federal). Trata-se de responsabilidade de ressarcimento de danos, do tipo objetiva, isto é, não é necessário provar se houve culpa do funcionário. Basta provar que houve a conduta da administração e a lesão ao direito de um particular (sem que tenha havido culpa exclusiva deste particular). Há que se provar a conduta positiva (ação) ou negativa (omissão), a lesão e o nexo causal. Provadas estas situações, deve- se indenizar. Elementos da Teoria Objetiva • existência de uma conduta positiva (ação) ou negativa (omissão); • dano patrimonial ou moral (extrapatrimonial); • nexo causal (relação de causalidade) entre a conduta e o dano. www.eduqc.com 1 c) Teoria adotada pelo Código Civil Nosso Código Civil adotou, como regra, a Teoria da Responsabilidade Subjetiva , prevendo em seu artigo 186: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. No entanto, apesar desta regra, devemos tomar muito cuidado porque há diversas exceções, conforme veremos logo adiante. Isto é, há casos em que o próprio Código Civil (que adotou a teoria da responsabilidade subjetiva) admite a aplicação da responsabilidade objetiva. E há algumas leis especiais que também reconhecem outras hipóteses de Responsabilidade Objetiva no Direito Civil. 4. Elementos Indispensáveis 1 – CONDUTA (é o fato lesivo): a conduta pode ser causada por uma ação (conduta positiva) ou por uma omissão (conduta negativa). Além disso, pode servoluntária (dolo) ou causada por uma negligência ou imprudência (que são modalidades da culpa). Na responsabilidade subjetiva, a conduta compreende: a) Dolo : violação intencional (ação ou omissão), voluntária (observem que o Código Civil utiliza essa última palavra), do dever jurídico; o agente quer o resultado (dolo direto) ou assume o risco de produzi-lo (dolo eventual). b) Culpa : não há deliberação, intenção de violar o dever jurídico, mas este acaba sendo violado por ter ocorrido uma: • Imprudência : é a prática de um fato considerado perigoso • Negligência: é a transgressão ao preceito que exige atenção; é a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado; é a falta de uma cautela ordinária que se exige em face de uma situação • Imperícia: é a ignorância, falta de experiência ou inabilidade com relação às regras para a prática de determinado ato; é a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. Embora a expressão ―imperícia não esteja prevista expressamente no art. 186 CC, ela também é uma modalidade da culpa. www.eduqc.com 1 2 – DANO (eventus damni) : para que haja pagamento de uma indenização, além da prova de culpa ou dolo na conduta (seja ela positiva ou negativa), é necessário comprovar também a ocorrência de um dano patrimonial ou extrapatrimonial (que é o dano moral). Se não houve dano não haverá responsabilidade. a) Dano Patrimonial (material): é o que atinge os bens da pessoa. Compreende (art. 402 CC): b) Danos Emergentes (também chamados de danos positivos) – é a efetiva diminuição do patrimônio da vítima; são os prejuízos efetivamente suportados, o que a vítima realmente perdeu com a conduta do agente. c) Lucros Cessante (também chamados de lucros frustrados ou danos negativos) – é aquilo que a vítima razoavelmente deixou de ganhar em razão da conduta do agente (ausência de acréscimo patrimonial). d) Dano Moral (ou extrapatrimonial): é o que ofende, não o patrimônio da pessoa, mas sim os direitos da personalidade. Não implica em alteração de patrimônio, resumindo-se em uma perturbação injustamente feita as condições de ânimo do lesado. 3 – NEXO DE CAUSALIDADE : Trata-se da relação ou vinculação de causa-efeito entre a conduta (ação ou omissão) e os danos. Não há responsabilidade civil sem a relação de causalidade entre o dano e a conduta ilícita do agente. Se houve dano, mas sua causa não está relacionada com o comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade, não havendo a obrigação de indenizar. E também não haverá esse nexo se o evento se deu por culpa exclusiva da vítima. 5. Responsabilidade Objetiva no Código Civil Conforme dissemos acima, embora o Código Civil tenha adotado, como regra, a teoria subjetiva para a responsabilização, possui diversos dispositivos em que a responsabilidade é do tipo objetiva. www.eduqc.com 1 Assim, haverá obrigação de reparar o dano (independentemente de culpa) nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 6. Obrigação de Indenizar O autor de um ato ilícito terá a responsabilidade pelo prejuízo que causou, devendo indenizá-lo. Como já vimos, assim determina o art. 927, caput CC: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. A obrigação de indenizar decorre da inobservância do dever geral de não causar danos a outrem. Os bens dos responsáveis pela ofensa ou violação do direito de outrem, ficarão sujeitos à reparação do dano patrimonial ou moral causado. Trata-se de uma norma de ordem pública. Se a ofensa tiver mais de um autor todos responderão solidariamente pela reparação (art. 942 CC). Acrescente-se que o dever de reparar o dano é transmissível aos herdeiros, conforme veremos. 7. Abuso de Direito O Código Civil atual adotou, em seu artigo 187, a Teoria do Abuso de Direito como Ato Ilícito. Trata-se do exercício irregular de um direito. Ampliou-se a noção de Ato Ilícito, para se considerar como objeto da responsabilidade civil também aquele ato praticado com abuso de direito, em que a pessoa, ao exercer um direito, excede determinadas limitações legais, lesando outrem. Por isso, traz como conseqüência, o dever de indenizar. 8. Responsabilidade Solidária e Subsidiária Na responsabilidade solidária passiva temos um credor de um lado e por lado uma pluralidade de devedores. E o credor pode exigir a obrigação por inteiro de qualquer um dos coobrigados. É como se todos os devedores fossem apenas um. Segundo o Código Civil (art. 235) a solidariedade não se presume. Ela decorre da lei ou da vontade das partes (contrato). Assim pode o credor, a sua escolha, acionar todos ou apenas o devedor que possui melhores condições para honrar o compromisso. www.eduqc.com 1 Já na responsabilidade subsidiária existe uma relação principal entre credor e devedor. O credor deve acionar o devedor para o cumprimento da obrigação. Caso este assim não proceda, o credor poderá acionar o terceiro, que é o responsável subsidiário, o mero garantidor a obrigação. 9. Responsabilidade por Atos de Terceiros Há casos em que uma pessoa pode responder por danos provocados ou causados por outra pessoa. Nesta hipótese o ato é praticado por uma pessoa, mas será outra pessoa quem irá indenizar. O art. 932 CC arrola diversas hipóteses de responsabilidade civil por atos praticados por terceiros (responsabilidade indireta). As pessoas apontadas no art. 932, CC, ainda que não haja culpa de sua parte (portanto, responsabilidade objetiva) responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos (art. 933, CC). E aquela pessoa que ressarciu o dano causado por outrem pode reaver o que pagou, por meio de uma ação regressiva contra quem realmente praticou o ilícito, salvo se o causador do dano for seu descendente, absolutamente ou relativamente incapaz (art. 934 CC). 10. Exclusão de Ilicitude Podem ocorrer casos em que uma pessoa pratica uma conduta. Esta conduta causou uma lesão a terceiros. E mesmo assim ela não praticou ato ilícito (e, por conta disso, não será responsabilizado). Isto porque a própria norma jurídica, em casos especiais, retira a qualificação de ilícito. 1 – Legítima Defesa: uso moderado de meios necessários para repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu (legítima defesa própria) ou de outrem (legítima defesa de terceiros). Faltando apenas um destes elementos, deixa de existir a legítima defesa. www.eduqc.com 1 2 – Exercício Regular de um Direito Reconhecido : se alguém no uso normal de um direito lesar outrem não terá qualquer responsabilidade por eventuais danos, pois se trata de um procedimento realizado em conformidade com o estabelecido no sistema jurídico. 3 – Estado de Necessidade: deterioração ou destruição de coisa alheia, ou a lesão àpessoa, a fim de remover perigo iminente, quando as circunstâncias a tornarem absolutamente necessária e não se exceder os limites do indispensável para a remoção do perigo. Trata-se de uma situação em que a pessoa entende que uma coisa sua pode sofrer um dano; para removê-lo ou evitá-lo, sacrifica a coisa alheia. 4 – Ausência de Nexo de Causalidade: não há responsabilidade se não houver uma relação de causa e efeito entre o dano e a conduta (ação ou omissão) do agente. 5 – Culpa Exclusiva da Vítima: também não haverá responsabilidade se o evento ocorreu por culpa exclusiva da vítima. Se a culpa da vítima foi concorrente (ou seja, tanto o agente como a vítima tiveram culpa) a indenização será cabível, mas ela será reduzida proporcionalmente. Portanto, havendo culpa concorrente, haverá responsabilidade e indenização, porém de uma forma reduzida. 6 – Caso Fortuito ou Força Maior : Ambos estão ligados a uma imprevisibilidade e inevitabilidade do evento, além da ausência de culpa pelo ocorrido. 11. Efeitos Civis da Decisão Proferida no Juízo Criminal Prevê nosso Código que a responsabilidade civil é independente da criminal (art. 935 CC). Como vimos uma pessoa que comete um ato ilícito pode sofrer dois processos (um civil para reparação do dano e outro penal, se a conduta for típica). Às vezes até três processos (acrescente-se o administrativo). E a regra é que as decisões tomadas em um processo não vinculam as dos outros. Porém, como veremos, esta não é uma regra absoluta. Assim, havendo responsabilidade criminal, poderá haver repercussão na esfera civil: a) Sentença penal condenatória (apreciou o fato e a sua autoria) – vincula → condena-se também no cível. Discute-se apenas o valor da indenização. b) Sentença penal absolutória (negatória do fato e/ou autoria, legítima defesa, exercício regular de um direito, etc.) – vincula → absolve-se também no cível. www.eduqc.com 1 c) Sentença penal absolutória por falta de provas (non liquet) – não vincula → o juiz cível pode condenar ou absolver, dependendo do que foi apurado no processo civil. 12. Transmissibilidade Em caso de responsabilidade civil, vindo a falecer o responsável pela indenização (o lesante), seus direitos e obrigações passam a seus herdeiros. Estes, dentro das forças da herança, deverão reparar o dano (patrimonial e/ou moral) ao ofendido (art. 943 CC).Desta forma os sucessores não respondem com seu patrimônio pessoal, mas sim apenas com o que receberam com o produto da partilha do acervo do de cujus. 13. Prazo O atual Código estabelece prazo prescricional de 03 (três) anos para a propositura da ação de reparação de danos (art. 206, §3º, inciso V do CC). Esse é um dos principais prazos prescricionais. 14. Indenização (arts. 944 a 954 CC) Indenização significa reparar o dano causado à vítima. A indenização pode ocorrer com a restauração da mesma ao estado anterior à ocorrência do ato ilícito (reparação específica) ou pelo pagamento em dinheiro do equivalente. Ela será medida pela extensão do prejuízo causado; deve ser proporcional ao dano causado. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa do lesante e o dano sofrido pelo lesado, poderá o Juiz promover a redução eqüitativa do montante indenizatório. Se a vítima concorreu (cuidado para não confundir quando a vítima age com culpa exclusiva), culposamente, para a ocorrência do evento danoso, a indenização será fixada levando-se em conta a gravidade de sua culpa em relação à do lesante. Assim, neste caso também haverá uma redução proporcional na indenização. www.eduqc.com 1
Compartilhar