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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DE SANTA CATARINA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL MARCELO ANDREOS FRANCÊS DIAGNÓSTICO DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E DE DEMOLIÇÃO DO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS E PROPOSTA DE REAPROVEITAMENTO São José - SC 2017 MARCELO ANDREOS FRANCÊS DIAGNÓSTICO DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E DE DEMOLIÇÃO DO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS E PROPOSTA DE REAPROVEITAMENTO Trabalho de conclusão de curso, apresentado como requisito para obtenção do título de bacharel em Engenharia Civil pelo Centro universitário Estácio de Santa Catarina Orientador: Prof. Wagner de Souza Santos Coorientadora: Profª. Sibeli Warmling São José - SC 2017 MARCELO ANDREOS FRANCÊS DIAGNÓSTICO DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E DE DEMOLIÇÃO DO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS E PROPOSTA DE REAPROVEITAMENTO Trabalho de conclusão de curso, apresentado como requisito para obtenção do título de bacharel em Engenharia Civil pelo Centro universitário Estácio de Santa Catarina. Local, São José 06 de dezembro de 2017. BANCA EXAMINADORA ________________________________________ M. Sc. Eng. Wagner de Souza Santos Centro Universitário Estácio de Santa Catarina ________________________________________ Eng. Leonardo Rodrigues Silveira Centro Universitário Estácio de Santa Catarina ________________________________________ Eng. M. Sc. Simone Perazzoli Universidade Federal de Santa Catarina Dedico este trabalho à minha esposa Viviane e ao meu filho Lorenzo, pessoas com quem amo partilhar a vida, e que me fazem enxergar como ela vale à pena. Obrigado pelo amor, paciência e por vossa enorme capacidade de fazer eu reerguer-me nos momentos difíceis. Sem vocês eu não teria conseguido. AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus pelo fôlego de vida que me proporciona a cada dia, pela força que tem me dado e pela sua eterna misericórdia, demonstrando que as dificuldades a mim impostas, servem como degraus para subida rumo ao meu sucesso. A esta instituição de ensino, seu corpo docente, coordenação e direção, que me proporcionaram a oportunidade de realizar este curso, vislumbrando um futuro com mais dignidade e confiança. Aos professores que sempre chamarei de mestres, pois me proporcionaram não apenas o conhecimento nas disciplinas, mas também o desenvolvimento do caráter e profissionalismo, dedicando-se ao máximo na transmissão do conhecimento e esforçando-se para que eu absorvesse ao máximo o conteúdo ministrado. A professora e coorientadora Sibeli pela oportunidade de participar da pesquisa científica que originou a direção deste trabalho, por sua dedicação e disponibilidade de tempo na orientação técnica, auxiliando-me nas dificuldades encontradas e norteando-me sempre que necessário no decorrer deste. Ao professor e orientador Wagner pelo suporte no pouco tempo que lhe coube, corrigindo e incentivando-me nas melhorias deste trabalho. Agradeço imensamente a minha família, pois sem ela este sonho não seria possível, em especial a minha esposa Viviane e meu filho Lorenzo, que entenderam a minha ausência e me apoiaram em diversos momentos difíceis durante a realização deste curso. Aos meus pais Osmar e Zenilda e aos meus irmãos Mario, Daniel, Davi e Pedro pelas palavras de incentivo e de força que me ajudaram a não desistir. Aos meus amigos Leandro, Valdinei, Marina, Jaqueline e Franciely, companheiros de curso, pela paciência e companheirismo na realização de trabalhos e estudos, que se tornaram uma família, irmãos na amizade que fizeram parte da minha formação e desejo que continuem fazendo parte do meu círculo de amizade e irmandade posteriormente a este curso. Por fim, a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito obrigado! "Se fracassar, ao menos que fracasse ousando grandes feitos, de modo que a sua postura não seja nunca a dessas almas frias e tímidas que não conhecem nem a vitória nem a derrota." (Theodore Roosevelt) RESUMO Este trabalho traz em sua finalidade, uma abordagem geral sobre a atual situação dos resíduos da construção civil e de demolição de Florianópolis, buscando alternativas que possibilitem um sistema de reuso desses materiais em diversas etapas da própria atividade, englobando a coleta, valorização e destinação comercial dos mesmos. No contexto do estudo, foram levantados dados da indústria da construção civil, seu crescimento e desenvolvimento atual, bem como os resíduos da construção e de demolição, definindo suas classificações, composição, uso das tecnologias existentes e suas aplicações, visando sua valorização e posterior reutilização, contribuindo assim, para redução da disposição inadequada de resíduos, causador de um grande problema ambiental, e consequentemente à saúde humana e à economia. Foram coletados dados relativos à produção destes materiais, formas de descarte, tipos de coleta e quais os tipos de equipamentos e tecnologias existentes, para a valorização dos mesmos. Como embasamento para a pesquisa, foram levantados dados junto às associações e cooperativas envolvidas no mercado de resíduos da construção e de demolição no Brasil e em Florianópolis, nos órgãos responsáveis pelos resíduos sólidos, fornecedores de equipamentos necessários para o processamento dos resíduos da construção e de demolição, fornecedores de agregados para a construção civil local, bem como em pesquisas e trabalhos anteriores correlatos à valorização dos resíduos da construção e demolição. PALAVRAS-CHAVE: Resíduos da construção e de demolição, valorização de resíduos, reciclagem de resíduos, sustentabilidade na construção civil. ABSTRACT This work had the purpose to conduct a general approach on the current situation of the construction and demolition waste in Florianópolis, searching for alternatives that allow a system of reuse of these materials in several stages of the activity itself, encompassing the collection, valorization and commercial destination of the same. In the context of the study, data was collected from the construction industry, its growth and current development, as well as construction and demolition of waste, defining its classifications, composition, use of existing technologies and their applications, aiming at their valorization and later use, thus contributing to reducing the inadequate disposal of waste, causing a major environmental problem, and consequently to human health and the economy. Data was collected on the production of these materials, forms of disposal, types of collection and what types of equipment and technologies exist for their valorization. For it, data were collected from the associations and cooperatives involved in the construction and demolition waste market in Brazil and Florianópolis, in the bodies responsiblefor solid waste, suppliers of equipment necessary for the processing of construction waste and demolition, suppliers of aggregates for local construction, as well as research and previous work related to the valuation of construction and demolition waste. KEY WORDS: Construction and demolition waste, waste recovery, waste recycling, sustainability in civil construction. LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária CBCS - Conselho Brasileiro de Construção Sustentável CBIC - Câmara Brasileira da Indústria da Construção COMCAP – Companhia Melhoramentos da Capital CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia NBR – Norma Brasileira NR – Norma Regulamentadora PAC – Programa de Aceleração do Crescimento PGRCC - Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil PIB – Produto Interno Bruto PMCMV – Plano Minha Casa Minha Vida PMF – Prefeitura Municipal de Florianópolis PMGIRS - Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos RSU - Resíduo sólido urbano SC - Santa Catarina SNSA - Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental LISTA DE FIGURAS Figura 1: Fluxograma da cadeia produtiva de materiais ............................................ 17 Figura 2: Transporte inadequado de material............................................................ 18 Figura 3: Cimento empedrado ................................................................................... 19 Figura 4: Descolamento de revestimento externo ..................................................... 20 Figura 5: Corte de parede para embutimento de tubulação elétrica .......................... 20 Figura 6 – Tipos de agregados reciclados e sua possível aplicação ......................... 27 Figura 7: Artefatos de cimento reciclados ................................................................. 29 Figura 8: Residência construída com tijolo reciclado no município de Sapucaia do Sul-RS ....................................................................................................................... 29 Figura 9: Divisórias de gesso reciclado Leroy Merlin em Ribeirão Preto - SP .......... 31 Figura 10: Pulverizador acoplado em escavadeira para a separação do concreto e do aço. ...................................................................................................................... 32 Figura 11: Tijolo Reciclado ........................................................................................ 33 Figura 12: Processo de fabricação de tijolo reciclado ............................................... 34 Figura 13: Processo de fabricação de tijolo reciclado com resíduo comum .............. 35 Figura 14: Britador de resíduos ................................................................................. 37 Figura 15: Moinho de entulho ANVI .......................................................................... 38 Figura 16: Triturador de entulhos .............................................................................. 39 Figura 17: Mapa do município de Florianópolis ......................................................... 41 Figura 18: Representação do aterro de inertes do Canto do Lamin concluído. ........ 49 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Parcela de contribuição de cada setor na cadeia da construção ............ 15 Gráfico 2: Porcentagem média dos constituintes do entulho .................................... 21 Gráfico 3: Total de RCD, volumosos e podas coletados pela COMCAP em 2012 .... 45 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Necessidades de investimentos em desenvolvimento urbano e infraestrutura econômica para os próximos cinco anos (período de 2017 a 2022) ..... 7 Tabela 2: Estimativa da Quantidade de Resíduos da Construção e Demolição gerada no Brasil. ....................................................................................................... 21 Tabela 3: Quantidade total de RCD’S coletado pelos municípios no Brasil .............. 43 Tabela 4: Coleta de RCD na Região Sul ................................................................... 43 Tabela 5: Agentes envolvidos na geração, transporte e recepção dos RCD, volumosos e podas no município de Florianópolis .................................................... 44 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1 1.1 Contextualização ............................................................................................ 1 1.2 Justificativa ..................................................................................................... 3 1.3 Objetivos ........................................................................................................ 4 1.3.1 Objetivo geral........................................................................................... 4 1.3.2 Objetivo específico .................................................................................. 4 1.4 Estrutura do trabalho ...................................................................................... 5 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 6 2.1 A construção civil como setor econômico ...................................................... 6 2.2 Resíduos da construção civil .......................................................................... 8 2.3 Reutilização de RCD’S ................................................................................. 10 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................... 15 3.1 Gestão de RCD’S na indústria da construção civil ....................................... 15 3.2 Reaproveitamento de RCD’S na indústria da construção civil ..................... 23 3.2.1 Agregados de Entulhos ......................................................................... 26 3.2.2 Concreto ................................................................................................ 28 3.2.3 Tijolo e cerâmica .................................................................................... 29 3.2.4 Gesso .................................................................................................... 30 3.2.5 Isopor ..................................................................................................... 31 3.2.6 Aço ........................................................................................................ 32 3.3 Utilização de resíduos na fabricação de blocos e pisos ecológicos ............ 33 3.3.1 Tijolos ecológicos com a utilização de resíduo comum ......................... 34 3.3.2 Tijolos ecológicos com resíduos sólidos ................................................ 35 3.4 Equipamentos para a reciclagem de RCD’S ................................................ 36 3.4.1 Britador Eco brita ................................................................................... 37 3.4.2 Moinho de reciclagem ANVI .................................................................. 37 3.4.3 Triturador de entulho TE 2 ..................................................................... 38 4 METODOLOGIA ................................................................................................. 40 4.1 Localização e descrição da área de abrangênciada pesquisa .................... 40 5 RESULTADOS ................................................................................................... 42 5.1 Diagnóstico atual dos RCD’S ....................................................................... 42 5.1.1 Situação dos RCD’S no Brasil ............................................................... 42 5.1.2 Situação atual dos RCD’S em Florianópolis .......................................... 43 5.1.3 Disposição dos RCD’S em Florianópolis: Aterro de inertes Canto do Lamim..................................................................................................................48 5.2 Proposta para reaproveitamento de RCD’S gerados no Município de Florianópolis ........................................................................................................... 49 5.3 Formas de reaproveitamento de resíduos .................................................... 50 5.4 Desafios identificados na realização desse estudo ...................................... 52 6 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 53 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 54 1 1 INTRODUÇÃO 1.1 Contextualização Estamos desde os primórdios da nossa existência, presenciando o maior projeto da história da humanidade: a urbanização do mundo. Após a Revolução Industrial, um grande número de pessoas migrou dos campos para as grandes cidades em busca de uma melhor qualidade de vida. Esta migração trouxe consequências drásticas em boa parte delas, pois não houve um planejamento adequado para o recebimento destes imigrantes. No Brasil, alguns acontecimentos influenciaram decisivamente na formação dos grandes centros urbanos. O fim da escravidão fez com que milhares de pessoas que eram escravas, migrassem para a cidade em busca de oportunidades de emprego e moradia. Ao mesmo tempo, imigrantes europeus chegaram ao Brasil para trabalhar no campo e na indústria que estava em fase inicial. Esses fatores provocaram o aumento da população nas cidades, acarretando uma demanda inesperada por habitação, transporte e demais serviços urbanos. O primeiro grande crescimento na construção civil brasileira aconteceu na década de 1940, durante o governo de Getúlio Vargas. O forte investimento estatal no desenvolvimento estrutural do país fez com que a década fosse considerada o auge da construção civil, pois o Brasil era detentor importante da tecnologia do concreto armado. As cidades passaram a crescer rapidamente, numa velocidade nunca antes registrada. Iniciou-se a construção dos grandes edifícios, as pontes quilométricas, o sistema de saneamento básico, as estradas pavimentadas e o metrô (CESAR, 1999). Na década de 1950, a construção civil passou a receber menos incentivo do Estado, ficando sob o domínio maior da iniciativa privada. Na década de 1970, durante o regime militar, tal presença estatal voltou a acontecer com mais força, e as construtoras particulares passaram a construir somente prédios de apartamentos e escritórios comerciais. Já na década de 1980 houve um retorno 2 do capital privado na construção civil e, em 1990 já começava a haver uma preocupação maior com a qualidade do produto final, passando as construtoras a qualificar mais a mão de obra de suas equipes (SANTOS, 2010). O setor da construção civil cresceu significativamente nos últimos anos, devido à necessidade de melhorias na área de infraestrutura urbana, saneamento básico, saúde entre outras. Conforme indicam os dados da cadeia produtiva da construção, o investimento em obras saltou de R$ 545,5 bilhões em 2007 para R$ 733,8 bilhões em 2014, indicando taxa de crescimento real de 4,3% ao ano. Já o produto interno bruto (PIB) da cadeia produtiva da construção alcançou recorde histórico de R$ 593,8 bilhões (valores a preços de 2016) em 2014 (~ 4,58% do PIB Nacional). Isso reflete positivamente na economia, uma vez que valores investidos nas obras se transformaram em salários, impostos e lucros das construtoras, em compras de materiais de construção e serviços, gerando efeitos positivos em toda a cadeia da construção (FIESP, 2016 apud PERAZZOLI, 2017). De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC, 2011), fatores como a estabilidade macroeconômica, mudanças no marco regulatório do mercado imobiliário, (Lei 10.931/2004), maior oferta de crédito, aumento da renda familiar, melhor previsibilidade da economia e obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), foram determinantes para o crescimento do setor. Porém, esta condição econômica favorável trouxe junto a ela o aumento de forma exagerada do consumo de matéria prima não renovável para a produção destes bens e a geração de resíduos provenientes de descartes ou demolições de construções antigas. Conforme a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA, 2012), a cadeia produtiva da construção civil consome entre 14% e 50% dos recursos naturais extraídos do planeta. No Brasil, o percentual gerado pela construção civil varia de 51% a 70%, da massa de resíduo sólido urbano (RSU). A construção civil é um dos mais importantes setores da economia, com vinculação direta e indireta em vários segmentos, sendo de suma importância para o desenvolvimento da sociedade contemporânea, principalmente na geração de empregos. 3 1.2 Justificativa A indústria da construção civil funciona como um indicador de crescimento econômico de uma região. Porém, este setor é causa diversos impactos negativos ao meio ambiente. Esse impacto pode ser de forma direta, ao utilizar grandes volumes de recursos naturais como matéria prima, além de gerar grande quantidade de resíduos devido a desperdícios; e indireta, quando a atividade consome produtos cujo processo de fabricação polui o meio ambiente, como é o caso do cimento. A cada ano são produzidos cerca de 70 milhões de toneladas resíduos provenientes de materiais da construção e demolição, sendo que deste total, 13 milhões de toneladas não são reaproveitados (Leite, 2001). Este desperdício ocorre na maioria das vezes por má gestão dos materiais, pelo armazenamento incorreto, pela má qualificação dos profissionais envolvidos, entre outros. Segundo Coutinho e Ferraz (1994), o desperdício pode representar perdas de 25% a 30% do custo total da obra. Aliado a isso, falta de projetos adequados e, principalmente, de planejamento contribui com 70% deste problema, provocando erros, falhas, serviços desfeitos e refeitos, ou seja, um constante retrabalho que por si próprio acaba gerando um grande montante de resíduos. No Brasil, estima-se que a produção anual de resíduos da construção e de demolição (RDC’S) esteja entre 220 kg/hab a 670 kg/hab, com média de 510 kg/hab (JOHN E AGOPYAN, 2000). Considerando a atual população brasileira de aproximadamente 207,7 milhões de habitantes, os valores seriam de 105.927.000 ton/ano. Em vista desse grande volume de resíduos, há a necessidade de se adotar novas políticas públicas, normas, especificações técnicas, e instrumentos econômicos direcionados à promoção da sustentabilidade da construção civil. Dentre estas, podemos citar a Resolução nº 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), de 05 de julho de 2002, que direciona responsabilidades e estabelece algumas diretrizes de gerenciamento para os setores público e privado. Além disso, em seu Art. 3º, divide o resíduo, chamado “entulho”, em quatro classes, A, B, C e D. 4 Considerando os aspectosmencionados, surge a problemática deste trabalho. Como bem sabemos, em Florianópolis não existe um local adequado para a correta destinação destes (onde na maioria das vezes, é depositado em terrenos baldios e áreas abandonadas pela prefeitura, sem nenhum controle da quantidade e do tipo de material descartado que, em sua consequência, poluem o solo e leitos de rios e lagos por estes resíduos), e nem uma usina de triagem e produção de novos materiais. Sendo assim, é necessária uma identificação precisa destes resíduos, classificando-os para se avaliar a possibilidade de reutilização na própria obra, reduzindo a quantidade de resíduos descartados de forma incorreta e os custos com a aquisição de novos materiais. 1.3 Objetivos 1.3.1 Objetivo geral Realizar um levantamento sobre os resíduos da construção civil produzidos durante as diferentes etapas da atividade construtiva no Município de Florianópolis para propor alternativas de reaproveitamento. 1.3.2 Objetivo específico • Diagnosticar a situação dos resíduos da construção civil gerados no Município de Florianópolis; • Identificar as tecnologias que possam influenciar na redução de resíduos da construção civil e de demolição, e na valorização destes; • Propor formas de reutilização de resíduos da construção civil e de demolição. 5 1.4 Estrutura do trabalho A estrutura deste trabalho é composta por sete capítulos. No capítulo um foi contextualizada a importância do tema, a justificativa que levou a este estudo, a motivação para execução deste, além dos seus objetivos. O capítulo dois é composto pela revisão bibliográfica, onde o foco principal foi o reaproveitamento dos resíduos da construção e de demolição e suas aplicações. O capítulo três apresenta a fundamentação teórica, abordando a classificação dos resíduos da construção e de demolição e as normativas relativas ao tema. O capítulo quatro apresenta a metodologia utilizada paro o levantamento dos dados necessários para realização da pesquisa. O capítulo cinco apresenta os resultados obtidos com a pesquisa por meio do levantamento bibliográfico e da pesquisa de campo. O capítulo seis apresenta as conclusões das experiências estudadas e algumas considerações finais. No capítulo sete encontram-se as referências bibliográficas. 6 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 A construção civil como setor econômico A construção civil é um setor que tem grande influência sobre a economia de uma região, o que é refletido quando visto sua participação na composição do PIB brasileiro. Além deste papel significativo no processo de crescimento da economia, a atividade da construção tem grande importância na redução do desemprego, tendo em vista seu grande potencial de gerar e absorver um elevado número de vagas no mercado de trabalho. O PIB da cadeia produtiva da construção alcançou R$ 593,8 bilhões (valores a preços de 2016) em 2014 (~ 4,58% do PIB Nacional), sendo um reflexo positivo na economia, uma vez que valores investidos nas obras se transformaram em salários, impostos e lucros das construtoras, em compras de materiais de construção e serviços, gerando efeitos positivos em toda a cadeia da construção. Porém, o Brasil vem passando por uma crise econômica desde 2014, fato este que tem provocado retração dos investimentos, recessão e altos índices de desemprego. A taxa de investimento sofreu uma redução de 20,9% do PIB em 2013, para 16,8% do PIB no primeiro semestre de 2016, indicando queda de mais de 4 pontos percentuais nessa taxa. Isso é reflexo da redução do investimento industrial decorrente da redução da rentabilidade dos setores industriais e, também, da queda dos investimentos em construção (desenvolvimento urbano e infraestrutura econômica)(FIESP, 2016 apud PERAZOLLI, 2017). Para Perazzoli (2017) apesar do atual momento de retração em que se encontra a economia, fatores como o aumento da competitividade e a elevação dos padrões de vida da população brasileira trazem uma oportunidade para esse mercado. Isso porque aumentam a demanda de investimentos no desenvolvimento urbano e na ampliação da infraestrutura econômica. Conforme observa-se na Tabela 1, para os próximos cinco anos os investimentos nessas duas áreas devem ser de 7 aproximadamente R$ 682 bilhões por ano, equivalendo a 10,6% do PIB brasileiro na média desse período. Tabela 1: Necessidades de investimentos em desenvolvimento urbano e infraestrutura econômica para os próximos cinco anos (período de 2017 a 2022) Total do Período (bilhões R$) Média Anual (bilhões R$) Fração do PIB (%) Desenvolvimento Urbano 2.325,7 387,6 6,1 - Habitação 2.166,1 361,0 5,5 - Saneamento 78,9 13,1 0,2 - Mobilidade 80,6 13,4 0,2 - Outras obras urbanas¹ 66,0 11,0 0,2 Infraestrutura Econômica 684,5 114,1 1,7 - Transportes² 408,4 68,1 1,0 - Energia Elétrica 105,5 17,6 0,3 - Bens Minerais (Petróleo e Gás)³ 124,0 20,7 0,3 - Telecomunicações 46,5 7,7 0,1 - Outras obras e serviços de construção4 1.083,3 180,5 2,8 TOTAL 4.093,5 682,2 10,6 OBS: ¹Construção e ampliação de ruas e calçadas, drenagem, cuidado com áreas de risco, etc.; ²Inclui todos os modais de transportes, as obras de arte, instalações elétricas e estações de embarque; ³Inclui oleodutos e minerodutos; 4Edificações não residenciais (hospitais, escolas, escritórios, centros comerciais, etc.), instalações industriais e de armazenamento. Fonte: Perazzoli (2017) 8 2.2 Resíduos da construção civil Apesar da importância do setor para a economia brasileira, a construção civil é responsável por originar uma quantidade significativa de resíduos dos processos de construção e demolição, que compõe em torno de 50% do peso dos resíduos sólidos urbanos coletados (Monteiro, 2001). Os resíduos sólidos urbanos - RSU são definidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) NBR 10.004 de 2004 como: “Resíduos nos estados sólido ou semissólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exija para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível”. Conforme a norma supracitada cabe a estes resíduos uma classificação envolvendo a identificação do processo ou atividade que lhes deu origem e de seus constituintes e características, ficando, portanto, classificados da seguinte forma: I. Classe I – Perigosos: resíduos que ofereçam risco à saúde ou ao meio ambiente ou que tenham como uma de suas características inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e/ou patogenicidade; II. Classe II - Não Perigosos: III. Classe II A - Não Inertes: resíduos que não se enquadram na Classe I e tão pouco na Classe II B, podendo apresentar características como: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água; IV. Classe II B - Inertes: resíduos que quando submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada ou deionizada não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água. Assim como o RSU, o RCD também tem sua definição e classificação. Marques Neto (2005), define RCD como todo rejeitode material utilizado na 9 execução de obras de construção civil, independente de esta ser uma nova edificação, reforma, reparo, restaurações, demolições ou uma obra de infraestrutura. A resolução 307 do CONAMA, a qual é responsável por regulamentar a gestão dos resíduos da construção, reforça a definição acima definindo os RCD’S como: “Resíduos provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulho de obras, caliça ou metralha” (BRASIL, 2002). Conforme a NR 10.004/04, a classificação dos resíduos da construção e demolição se enquadram na Classe II B, a qual engloba os resíduos inertes previamente definidos. Especificamente, a resolução CONAMA 307, por sua vez, define em seu artigo 3º esta classificação como sendo composta por quatro classes distintas: I. Classe A – são resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: • de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; • de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento, etc.), argamassa e concreto; • de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré- moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras; II. Classe B – são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros; III. Classe C – são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações econômicas viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso; 10 IV. Classe D – são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como: tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminantes oriundos de demolições, reformas e reparos de clinicas radiológicas, instalações industriais e outros. 2.3 Reutilização de RCD’S Dos diversos tipos de resíduos da construção e de demolição - RCD’S os materiais de origem mineral (concretos, argamassas, blocos, tijolos, telhas, solos, gesso) representam aproximadamente 90% do volume total de RCD’S. Essas características trazem grandes possibilidade de reutilização desses materiais. Nesse caso, deve ser levando em conta a viabilidade econômica em cada caso, sempre evitando sua remoção e destinação precipitadamente. O uso da fração mineral dos RCD’S é fundamental para se obter uma reciclagem massiva, sendo que esta pode ser absorvida integralmente no mercado de agregados para uso em concreto e argamassas (MATOS, 2013; ÂNGULO, 2000). Zordan (1997) abordou em sua dissertação a reciclagem da parte mineral do entulho, utilizado como agregado na confecção de concreto. Com esse material, produziu-se concreto em diferentes traços e relação água/cimento, que foram ensaiados à compressão simples, à abrasão e a permeabilidade, em idades distintas. Nesse estudo, percebeu-se que, à medida que se diminuiu o consumo do cimento, a resistência à compressão se aproximou dos valores obtidos pelo concreto de referência, enquanto que a resistência à abrasão se mostrou melhor em todos os casos onde se usou entulho como agregado. Esses resultados indicam que o entulho pode ser utilizado como agregado, na confecção de concreto não estrutural destinado a infraestrutura urbana, como por exemplo na fabricação de meio-fio e sarjetas. Mattos (2013) sustenta que o correto manejo dos resíduos dentro do canteiro facilita a identificação de materiais reutilizáveis, gerando economia por um 11 lado por dispensarem a compra de novos materiais e por outro lado por evitar sua identificação como resíduo e, assim, economizando custos com remoção. Em seu trabalho, o autor enfatiza que a decisão por reciclar resíduos em canteiro de obras somente poderá ser tomada após um exame cuidadoso de alguns aspectos da atividade (volume e fluxo estimado de geração, investimento e custos para a reciclagem, tipos de equipamentos disponíveis no mercado e especificações, alocação de espaços para a reciclagem e formação de estoque de agregados, possíveis aplicações para os agregados reciclados na obra, controle tecnológico sobre os agregados produzidos através da realização de ensaios, custo dos agregados naturais, custo da remoção dos resíduos), além de uma análise da viabilidade econômica e financeira. Nesta linha, Silva (2007) relatou os resultados obtidos com a implantação das diretrizes da resolução CONAMA nº 307 em um conjunto de obras de pequeno porte na região de Belo Horizonte - MG. Para realização deste estudo, o autor selecionou três obras novas (residencial, comercial e industrial) e uma obra de reforma. Os resultados mostram que os resíduos gerados nas obras de reformas chegam a 684 kg/m², cerca de 7 vezes superior à quantidade gerada nas obras de construções novas (97,75 kg/m²). Segundo o autor, o acondicionamento dos resíduos durante o trabalho na obra é um dos maiores problemas. Mesmo que os resíduos produzidos estejam separados de forma organizada e limpa, existe uma cultura de que eles devem ser descartados imediatamente após a geração. Isso incentiva o modelo muito comum nos construtores em atividade no Brasil de se “jogar tudo dentro da caçamba”. Isso dificulta muito, ou elimina, qualquer chance de separação posterior e promove uma contaminação completa dificultando também o reaproveitamento ou reciclagem. Porém, quando há separação correta dos RCD’S no momento da geração há uma melhoria na organização, facilitando a reciclagem e a correta disposição final. Destaca-se ainda, a possibilidade de reaproveitamento de resíduos na própria obra, o baixo custo do seu gerenciamento e o fato desta gestão destes não ter alterado o cronograma físico das obras estudadas. Um dos problemas enfrentados quando se fala em reuso de RCD’S, está no desconhecimento das propriedades destes materiais após a sua reciclagem, pois 12 necessita-se de uma capacitação da mão de obra no quesito de proporções de uso destes materiais. Para Lima (1999) a reciclagem de resíduos de construção é relativamente recente no Brasil e ainda muito distante do processo de consolidação; assim, é natural que existam lacunas de conhecimento sobre produção e aplicação do material produzido. O autor descreve que estas carências de informações trazem algumas consequências. Uma delas é que a quantidade de agregado reciclado utilizada é menor do que poderia ser, restringindo-se às aplicações mais simplificadas, pois não requerem produtos com alto grau de pureza e rígido controle de qualidade. As mais complexas, quando implementadas, consomem pequena quantidade do material e as características do reciclado produzido não estimulam usos em argamassas ou concretos em escala significativa, e assim as recicladoras não se preocupam com a produção de agregados de qualidade adequada a estes usos (baixos teores de contaminantes, controle da granulometria etc.). Aliado a isso, existe uma lacuna de informações quanto as diretrizes e considerações relativas ao uso de materiais reciclados na fabricação de novos compostos, o que acaba dificultando a aplicação desses materiais. Porém, nos últimos anos surgiram diversas pesquisas referentes ao tema. ConformeOliveira (2015) o uso de agregado reciclado na fabricação de argamassa, apresenta excelentes resultados, tendo uma resistência aos 28 dias bem próximo da resistência da argamassa com 100% de agregado natural. Em seu estudo, a autora observou que a argamassa contendo agregado reciclado apresentou resistência e aderência à tração superior àquela com agregado natural. A razão segundo ela, pode ser a maior capacidade de retenção de água do agregado reciclado. Como a argamassa com agregado reciclado retém muito mais água, permite uma maior hidratação do cimento, fortificando a ligação reboco-chapisco. No entanto, a substituição crescente do agregado natural pelo agregado reciclado fez crescer a demanda de água para se chegar à consistência desejada em todos os experimentos analisados, alcançando o aumento de 60% do uso de água quando utilizado 100% de agregado reciclado. De forma geral, o uso de agregados reciclados é viável para produção de argamassas de revestimento. No entanto, é importante ressaltar que a substituição total do agregado natural pelo reciclado, por vezes, pode modificar as resistências mecânicas da argamassa e sua trabalhabilidade. 13 Lima (1999) em sua dissertação “Proposição de diretrizes para produção e normalização de resíduo de construção reciclado e de suas aplicações em argamassas e concretos” também estudou a possibilidade de utilização de entulho para a produção de argamassas. Para realização deste estudo, o autor coletou 33 amostras, em diferentes depósitos de segregação de resíduos do município de São Carlos, SP. Estes resíduos foram separados de acordo com suas características granulométricas, em cinco categorias. Foi analisado o comportamento do agregado na confecção de argamassas, comparando-o ao uso da areia normal. O autor obteve bons resultados na resistência à compressão das argamassas nos traços com presença de cal e atribui isso à reação pozolânica dos finos reativos dos resíduos, em presença da cal e a maior velocidade de carbonatação. Embora se observe que estudos para o reaproveitamento de RCD’S tem crescido no Brasil, o setor carece de políticas voltadas aos gerenciamento desses resíduos, considerando todo o ciclo produtivo (Moraes, 2016): • Geração na fonte: com ações de incentivo à redução e reutilização; • Acondicionamento adequado: evitando que os acondicionadores (geralmente caçambas) ofereçam risco à saúde se forem utilizados inadequadamente; • Transporte: deve ser feito por profissionais cadastrados e de forma a evitar que os materiais sejam arrastados no percurso; • Destinação final: em locais devidamente autorizados pelo órgão gestor e sua reciclagem. Ainda, Moraes (2016) salienta que o desenvolvimento de tecnologias para a reciclagem dos materiais, o ganho econômico e a existência de mercado consumidor que suporte esta produção exercem grande influência na implantação de políticas eficientes. A reciclagem do ponto de vista social é apontada como uma das alternativas para geração de emprego e renda. O resultado segundo o autor é que, além da economia de matéria prima e energia na produção de novos agregados, o uso e a reciclagem de resíduos da construção e demolição proporcionam novas oportunidades de emprego para uma parcela da população que frequentemente é excluída, que passaria a se organizar em grupos e efetivamente a gerar renda, tanto na coleta, quanto em cooperativas de reciclagem, para a produção de novos materiais e componentes. 14 Freitas (2009) analisou a geração de RCD’S para o município de Batatais SP para a implementação de um gerenciamento integrado. De acordo com os resultados do autor, o município teve uma taxa de geração per capita de 1,18 kg/hab./dia, correspondente a 347,05 kg/hab./ano e 64,50 toneladas de RCD’S gerados todos os dias no município, sendo menor do que os índices pesquisados em outros municípios brasileiros. Esses valores se mostraram subestimados em razão de se ter incluído os resultados obtidos com o parâmetro das áreas licenciadas. Quando se considera para o cálculo, somente os valores obtidos pelos parâmetros do movimento de carga dos coletores (1,45 kg/habitante/dia) e disposição no aterro (1,39 kg/habitante/dia) a taxa de geração per capita se eleva para 1,42 kg/habitante/dia. Estes RCD’S, conforme o autor, são compostos por mais de 99% de resíduo Classe A, sendo em sua grande maioria concreto, areia e materiais cerâmicos, favorecendo o beneficiamento em usinas de reciclagem e demonstrando que a reciclagem dos RCD’S é uma forma de transformar um resíduo em um recurso. Para Mariano (2008) no Brasil a geração de RCD’S, em novas edificações, é de 300 kg/m², enquanto que em países desenvolvidos é de 100 kg/m². A autora estudou o gerenciamento de RCD’S com aproveitamento estrutural em uma obra com 4.000 m² em Curitiba -PR. Foi elaborado o plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC), que foi aplicado durante toda a fase de execução do empreendimento. A autora observou uma geração de resíduos inferior às médias nacionais e próximas às médias internacionais com o gerenciamento. O método adotado para o gerenciamento de resíduos foi eficiente em função do porte da obra, considerando que os resíduos tiveram baixa geração específica, sendo 34,2 kg/m². O programa implantado atingiu eficiência total em relação ao reaproveitamento de resíduos de aproximadamente 96%, sendo que o menor resultado obtido foi para a madeira, de apenas 15%. A vantagem da utilização do PGRCC refletiu-se na economia gerada pela implantação do mesmo, que foi de R$ 1,85 por metro quadrado, portanto, cabe salientar que para isto 125 m³ de resíduos deixaram de ser dispostos em aterros ou outras áreas, e 45,45 m³ de agregados naturais deixaram de ser explorados. 15 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 Gestão de RCD’S na indústria da construção civil Estima-se que cerca de 13,7% da força de trabalho ativa no país (considerando os empreendedores, trabalhadores por conta própria, empregados sem carteira e aprendizes) esteja ligada à cadeia da construção (FIESP, 2016 APUD PERAZZOLI, 2017). Fazem parte da indústria de construção civil diversos setores que vão desde a construção de edifícios até os serviços especializados. Esses setores compreendem uma gama de atividades heterogêneas em relação ao porte das empresas, à estrutura, distribuição geográfica e desempenho das atividades. O Gráfico 1 apresenta a parcela de contribuição de cada setor na cadeia da construção. Gráfico 1 – Parcela de contribuição de cada setor na cadeia da construção Fonte: Perazzoli (2017). Construtoras 51% Indústria de materiais 13% Comércio de materiais 12% Serviços 12% Máquinas e equipamentos 2% Construção informal 10% CADEIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL 16 O setor da construção civil é responsável por um elevado índice de desperdício de materiais (entre 20 a 30%). A taxa de geração per capita de RCD’S no Brasil está em torno de 500 kg/hab/ano, equivalente a 1,6 kg/hab/dia considerando um mês de 26 dias. Por exemplo, para uma edificação executada predominantemente por processos convencionais, tem-se uma massa estimada de 1.200 kg/m2 construído, dos quais 25% se convertem em perdas e, deste montante resultante, 50% tornam-se efetivamente entulho a ser removido da obra. Desta forma, estas estimativas definem uma taxa de geração de resíduos da construção na ordem de 150 quilos por metro quadrado edificado (Pinto,1999). O mesmo autor ressalta que este desperdício está diretamente relacionado ao baixo nível de industrialização das obras e das mãos deobra utilizadas, o que não permite a utilização de profissionais especializados capazes de otimizar a atividade. Atrelado a isso, a indústria da construção civil é responsável por consumir grandes montantes de matérias-primas, que está entre 20% a 50% dos recursos extraídos da natureza (Carneiro et al., 2001). O reaproveitamento aparece como uma boa alternativa para a minimização destes resíduos, tanto no quesito econômico como no ambiental, proporcionando a redução das matérias primas bases dos materiais de construção, diminuindo a quantidade de resíduos em aterros sanitários, além do volume de detritos e resíduos da construção fazendo o ciclo correto da cadeia produtiva, conforme Figura 1, contribuindo na diminuição da poluição das cidades. A remanufatura destes materiais, visando a produção de novos agregados e peças de concreto não estruturais se torna atrativa, pois apresenta valor comercial e grande potencial para reutilização no próprio empreendimento ou em empreendimentos subsequentes das construtoras, ou até para a comercialização destes materiais para terceiros, evitando gastos com desenvolvimento de outras metodologias para o reaproveitamento destes resíduos, pois no mercado existem diversas tecnologias para aplicação na valorização e reaproveitamento destes. Desta forma, elencando todo o potencial destes resíduos, seria atrativo para estas empresas a aquisição de equipamentos para esta reutilização e que, mesmo de 17 forma inconsciente, diminuiria os impactos ambientais gerados pela disposição inadequada dos RCD’S. Figura 1: Fluxograma da cadeia produtiva de materiais Fonte: Autoria própria Perdas sempre vão ocorrer em uma obra, mas devem ser mantidas em um nível aceitável, que varia de uma empresa para outra e depende do seu grau de desenvolvimento. Elas são consequência de um processo de baixa qualidade , quer seja de mão de obra ou de falhas de projetos, em que os recursos são aplicados de forma inadequada. Como exemplo, tem-se as perdas decorrentes da produção de material acima da necessidade, como o excesso de argamassa em determinado dia de trabalho, que podia ser evitada com uma melhor comunicação entre os trabalhadores. Algumas vezes, esta situação também ocorre porque o servente quer minimizar o seu trabalho, fazendo uma quantidade maior de massa, para posteriormente ter uma folga maior em seu serviço. Porém, esta situação além de poder ser prejudicial pela quantidade de argamassa produzida ser maior que a utilizada, e por muito tempo parada, necessita de uma quantidade maior de água para que a mesma mantenha-se em condições de uso, fato este que altera as 18 propriedades da mesma, trazendo possíveis danos futuros e consequentemente a geração de resíduos por necessitar refazer o serviço. Outra situação que gera resíduo em obras se refere ao transporte manuseio excessivo ou inadequado dos materiais. O transporte de areias, argamassas e brita nos carrinhos de mão (Figura 2) auxiliam neste processo de desperdício e consequentemente na geração de resíduos, muitos deles pelo fato de excederem a quantidade suportada pelo carrinho e acabando por transbordar o mesmo durante o trajeto ocorrendo estas perdas. A quebra de material delicado por falta de transporte adequado também é um exemplo corriqueiro em obras, além do transporte de tijolos ou blocos de um lado para outro, pois acabam ocorrendo pequenos acidentes como quedas, e por sua vez a quebra destes originando resíduos. Figura 2: Transporte inadequado de material Fonte: <http://www.cec.com.br/dicas-construcao-economia-na-obra> Como observa-se até aqui, diversos tipos de perdas podem ser evitadas nos canteiros de obras, e um deles é o mais corriqueiro, a quebra de blocos e tijolos por conta da falta de meio bloco ou meio tijolo. Esta situação está atrelada a falta destes materiais e outras vezes pela mão de obra desqualificada que acabam quebrando os blocos inteiros por preguiça de pedir ou buscar os meios tijolos ou meio blocos. 19 Assim como a falta de materiais, o excesso dos mesmos podem gerar resíduos, como o exemplo do cimento, que quando guardado por um tempo maior endurecem na embalagem (Figura 3), não tendo mais condições de uso e acabam descartados como resíduo. Também pode ocorrer desperdício deste pelo estocamento incorreto, como empilhamento acima do permitido, ambiente inadequado (úmido) entre outros fatores que contribuem para este desperdício. Figura 3: Cimento empedrado Fonte: <www.cimentoitambe.com.br> Outro fator contribuinte para geração de resíduos acontecem devido à fabricação de produtos que não atendem aos requisitos de qualidade especificados. Os produtos defeituosos geram retrabalho e por sua vez também geram resíduos. As falhas nos trabalhos de impermeabilização e pintura e o descolamento de azulejos são exemplos disso, conforme apresentado na Figura 4. 20 Figura 4: Descolamento de revestimento externo Fonte: <www.construfacilrj.com.br> Além de todos estes exemplos, ainda podemos citar o desperdício de madeira durante a execução das formas para caixaria e posterior desenformas das estruturas; o solo escavado durante o processo das sapatas; o desperdício de aço durante a fabricação das armaduras; recorte de paredes para embutimento da tubulação elétrica (Figura 5), hidráulica, de gás, de ar condicionado entre outros. Figura 5: Corte de parede para embutimento de tubulação elétrica Fonte: <www.htforum.com> 21 O gráfico 2 demonstra a proporção dos resíduos gerados em uma obra: Gráfico 2: Porcentagem média dos constituintes do entulho Fonte: Adaptado de Pinto, 1999 Toda a atividade na indústria da construção civil gera resíduos, e as suas proporções médias estão expostas na tabela 2. Tabela 2: Estimativa da Quantidade de Resíduos da Construção e Demolição gerada no Brasil. ETAPA MASSA/M² (KG/M²) (%) Fundação 10,30 17,73 Estrutura 8,12 13,95 Alvenaria 19,96 34,31 Reboco interno 5,47 9,40 Reboco externo 5,25 0,90 Pintura interna 0,29 0,50 Pintura externa 0,11 0,20 Revestimento cerâmico 3,83 6,58 Instalação elétrica 4,82 8,29 Instalação hidráulica 0,002 0,003 Embalagens 0,44 0,76 Total 58,17 kg/m² 100 Fonte: FINEP, apud COMCAP, 2013. 0,5 21,1 2,5 37,4 17,7 20,8 Outros Concreto Cerâmica polida Argamassa Pedras Cerâmica 22 Com tantas fontes de desperdício e geração de resíduos, fica evidenciada a necessidade de reaproveitamento destes, quer seja como material para aterramento do terreno ou na reciclagem para obtenção de novos materiais. Conforme Cabrera et al. (1997), a literatura demonstra que a reciclagem é tão antiga quanto à própria construção civil, existindo registro de cidades que depois de guerras foram reconstruídas com seus próprios escombros. É o caso de Berlim e Varsóvia após a II Guerra Mundial. Na remanufatura dos resíduos da construção civil, Monteiro (2001) destaca: redução de volume de extração de matérias primas, conservação de matérias primas não renováveis, correção dos problemas ambientais urbanos gerados pela deposição indiscriminada de resíduos da construção na malha urbana, colocação no mercado de materiais de construção de custo mais baixo e criação de novos postos de trabalho para mão-de-obra com baixa qualificação. Os resíduos da construção civil podem ser utilizados como: construção de aterro, substituição parcial ou total de matéria-prima (agregado graúdo e miúdo) em concretos, argamassas e artefatos de concretode acordo com Xavier (2001). Além destes, Monteiro (2001) acrescenta a possibilidade de utilizar esse entulho reciclado como base e sub-base de rodovias e em peças pré-moldadas. Nestes sentidos existem normas e leis para execução dos mesmos, como por exemplo a resolução CONAMA 307, de 05 de junho de 2002, que é a legislação responsável pela regulamentação dos RCD’S no Brasil, sendo estabelecidas diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, objetivando disciplinar as ações necessárias de forma a minimizar os impactos ambientais (CONAMA, 2002). No que tange às Normas Técnicas, a Associação Brasileira de Normas e Técnicas – ABNT dispõe de um pacote específico sobre os resíduos da construção civil, os quais são: • NBR 15112 – Resíduos da construção civil e resíduos volumosos – Áreas de transbordo e triagem – Diretrizes para projeto, implantação e operação; 23 • NBR 15113 – Resíduos sólidos da construção civil e resíduos inertes – Aterros – Diretrizes para projeto, implantação e operação; • NBR 15114 – Resíduos sólidos da construção civil – Áreas de reciclagem – Diretrizes para projetos, implantação e operação; • NBR 15115 – Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil – Execução de camadas de pavimentação – Procedimentos; • NBR 15116 – Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil – Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural – Requisitos. 3.2 Reaproveitamento de RCD’S na indústria da construção civil De acordo com as regulamentações Resolução Conama nº 307 e Lei Nº 12.305 (Política Nacional de Resíduos Sólidos), as empresas do setor de construção civil devem ter como objetivo principal não gerar resíduos, caso contrário, devem cuidar de sua reutilização, reciclagem e destinação final. Cada município tem a responsabilidade de estabelecer ações para que seja cumprida a legislação, inclusive, disponibilizar uma área própria para o depósito desses materiais. Conforme Brasileiro e Matos (2015) há uma crescente preocupação quanto à geração dos resíduos provenientes da indústria da construção. Conforme esses autores, o primeiro passo para o adequado gerenciamento do RCD’S está na obtenção do diagnóstico local. Os autores ressaltaram ainda que, com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, espera-se que cada estado da federação adote medidas de reciclagem de RCD, desde a implantação de usinas de britagem para a produção de agregados reciclados até a implantação de medidas que garantam a sua utilização. Os RCD’S apresentam propriedades físicas e químicas apropriadas para sua utilização como material de construção (Angulo, 2000). Para utilização destes 24 resíduos como matéria-prima em substituição aos materiais tradicionais, é necessário que esse insumo alternativo apresente padrões de desempenho compatíveis com a sua utilização. Na maioria das vezes, o material reciclado é mais barato que o material tradicional. Porém, nos casos em que o material reciclado e o natural tiverem o mesmo custo, o diferencial será a qualidade e confiabilidade do produto, bem como a utilização de instrumentos de marketing, como selos verdes, garantindo que o produto oferecido é ambientalmente correto (Carneiro et al., 2001) John (2000) afirma que a reciclagem significa redução de custos, de consumo de energia, das distâncias de transporte de matérias primas e até mesmo novas oportunidades de negócios, além de que, a cadeia produtiva que recicla reduz o volume de extração de matérias-primas, preservando recursos naturais limitados. Dessa maneira, a utilização de agregados reciclados permite produzir componentes de construção que, dependendo da sofisticação tecnológica, terão custos significativamente inferiores ao preço de componentes disponíveis no mercado. Marques Neto (2005) chama a atenção para a utilização dos resíduos dentro dos próprios canteiros de obra: assentamento de blocos cerâmicos, batentes e esquadrias; enchimento de degraus de escada e de rasgos de paredes para tubulações hidráulicas e elétricas; chumbamento de caixas elétricas e tubulações; contrapisos internos de unidades habitacionais e casas de máquinas ou áreas comuns de tráfego leve reduzindo o consumo de energia e evitando o transporte do material excedente. Porém, nesse caso, é necessária a aquisição de equipamentos para a britagem e moagem para beneficiamento, para posterior reutilização nas atividades citadas. Diversos estudos visando o reaproveitamento de RCD’S na fabricação de argamassas já foram realizados e mostraram-se viáveis para utilização o ponto de vista tecnológico e econômico. Os resultados do trabalho de Levy e Helene (1996), evidenciam vantagens econômicas na utilização da reciclagem do entulho para a produção de argamassa, tanto no consumo de cimento quanto de cal. Seus resultados também apresentaram um crescimento de resistência à compressão para um aumento do teor de materiais cerâmicos nas argamassas, e esse aumento foi mais acentuado quanto mais rico foi o traço. O mesmo aconteceu na resistência à 25 tração da argamassa, porém o aumento não foi tão acentuado para o traço mais rico, como na resistência à compressão. Para Zordan (1997) as argamassas produzidas com entulho apresentam uma redução de 10% a 15% no consumo de cimento, 100% no consumo de cal e, de 15% a 30% no consumo de areia, além de um ganho de resistência à compressão que varia de 20% a 100%, conforme o traço utilizado, em relação aos valores obtidos com argamassas convencionais. Outro exemplo ainda pode ser citado no reaproveitamento de resíduos para utilização como reforço e sub-base de pavimentação, a qual apresenta os seguintes atrativos: o material é não plástico, e por isso pode ser empregado em locais onde o lençol freático é elevado, pois não gera lama; pode ser empregado para a redução da plasticidade do solo de fundação, o que permite a construção mesmo em períodos de alguma precipitação; expansibilidade baixa ou nula, ou seja, com a saturação não ocorre a expansão das camadas compactadas; propicia a economia de jazidas naturais. Considerando que o entulho passível de ser reciclado e aproveitado na pavimentação representa cerca de 40% de todo o volume gerado, estima-se que o volume disponível seria da ordem 3.400 m³/semana. Além disso como a relação entre a massa específica aparente seco do material solto (em torno de 1.100 kg/m³) e a massa específica aparente do material compactado (em média, 1.700 kg/m³) é de 0,65, seria possível executar a cada semana cerca de 1400 metros de camada de sub-base em ruas urbanas da capital (Triches e Kryckyj, 1999). Esse fator é de extrema importância para Florianópolis, visto que o município está inserido em região de mata atlântica, e em decorrência dos processos de impactos ambientais, está cada vez mais difícil a abertura de novas jazidas; e redução dos custos de implantação. 26 3.2.1 Agregados de Entulhos Os resíduos da construção civil podem utilizados na construção de aterro, substituição parcial ou total de matéria-prima (agregado graúdo e miúdo) em concretos, argamassas e artefatos de concreto. Além disso, pode-se utilizar esse entulho reciclado como base e sub-base de rodovias e em peças pré-moldadas. Além de resíduos próprios da construção civil e demolição, existem outros materiais que podem ser utilizados na fabricação de peças e demais insumos para posterior utilização na indústria da construção, conforme pode ser observado na Figura 6. No processo de reciclagem, faz-se inicialmente a triagem dos materiais, excluindo madeira,plástico e metal que serão direcionados para outros fins. Após esta triagem, os demais resíduos devem ir para um britador, transformando estes em agregado graúdo que podem ser utilizados na pavimentação (base, sub-base ou revestimento) na forma de pedra brita ou em misturas com outros materiais e como agregado para concreto não estrutural (substituindo areia e brita), trazendo uma redução na aquisição de matéria prima e consequentemente diminuindo os custos com a aquisição destes. Porém, de acordo com Brasileiro e Matos (2015), os maiores empecilhos para reutilização de RCD’S, estão na desconfiança dos construtores e clientes quanto ao bom desempenho dos produtos gerados e também na carência de normas que assegurem a sua aceitação no mercado, devido à sua grande heterogeneidade. 27 Figura 6 – Tipos de agregados reciclados e sua possível aplicação Fonte: <www.saocarlos.sp.gov.br> 1 Areia Grossa Granulometria: até 2,4mm. Ótima opção para pequenos serviços, argamassa de assentamento e outros. 2 Pedrisco Granulometria até 9,5mm, recomendado para uso na fabricação de artefatos de cimento, bloco de vedação, piso intertravado, entre outros. 3 Pedra nº 1 Granulometria até 19mm, usada em diversas aplicações. Ex.: fabricação de concreto não estrutural e drenagens. 4 Pedregulho (rachão) Granulometria acima de 25 mm, usado em diversas aplicações. Ex.: contenção de erosões e voçorocas, drenagens, etc. 5 Bica corrida Granulometria variável, utilizado para sub-base de pavimentações, recuperação de vias rurais e serviços de tapa-buracos. 28 3.2.2 Concreto A remanufatura do concreto pode ser feita, desde que seja escolhido o uso adequado e se respeitem as limitações técnicas. As centrais de reciclagem contam com diversos maquinários, como esteiras rolantes, britadores, peneiras e classificadores de granulometria. A cartilha Desperdício Zero, elaborada pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná (Paraná, 2005), demonstra diferentes equipamentos para reciclagem do concreto fresco e o endurecido. No processamento do concreto fresco são usados lavadores que separam agregados graúdos dos miúdos e para o concreto endurecido, britadores de mandíbula ou de impacto, decompõem estes materiais. Dessa maneira, o material é separado, britado, lavado, peneirado e classificado para posterior reutilização. Em obras de portes menores, onde o volume dos resíduos não é muito grande, pequenas processadoras já auxiliariam neste tipo de produção. Devido à menor homogeneidade do material processado, é recomendado o reaproveitamento como agregado para revestimento ou argamassa de assentamento. O procedimento é simples: o material é encaminhado por dutos a uma minicentral de processamento, onde é triturado para ser normalmente utilizado como agregado. É possível também utilizar um moinho de rolo para trituração. Os agregados reciclados provenientes de concretos estruturais apresentam melhor qualidade em relação aos agregados provenientes de tijolos cerâmicos e argamassas e podem ser usadas em aterros de inertes, obras de pavimentação, agregados para argamassa e fabricação de artefatos de cimento (Figura 7). Não é recomendado o uso destes para funções estruturais. 29 Figura 7: Artefatos de cimento reciclados Fonte: www.monteirotijolos.com 3.2.3 Tijolo e cerâmica Assim como o concreto, os materiais cerâmicos também podem ser reciclados. Este tipo de material pode ser utilizado na produção de argamassa como agregado, e até mesmo na produção de tijolos ecológicos por se tratarem de um produto de reaproveitamento. Os tijolos ecológicos apresentam inúmeras vantagens como, são mais leves que os tijolos comuns, facilitam a passagem das instalações elétricas e hidráulicas (sem que haja quebra), controla a temperatura no interior da casa, diminui a poluição sonora, embutimento rápido e fácil das colunas de sustentação (PARANÁ, 2005). Além de tijolos, outros produtos podem ser resultantes do reaproveitamento da cerâmica vermelha, como por exemplo telhas, lajotas, grelhas, vasos e materiais para artesanato. A Figura 8 traz como exemplo de aplicação, o uso de tijolo reciclado para construção residencial Figura 8: Residência construída com tijolo reciclado no município de Sapucaia do Sul-RS 30 Fonte: <http://www.cimentoitambe.com.br> 3.2.4 Gesso O processo de reciclagem de gesso inicia com a separação dos resíduos que não foram utilizados ou que serão descartados nos canteiros de obras. O gesso deve ser separado dos demais materiais (madeiras, metais, papéis) e armazenado em caixas com piso concretado ou em caçambas, protegido de qualquer contato com água ou umidade. Após a seleção, faz-se o transporte para as empresas de reaproveitamento. Ali, o material é triado, homogeneizado através de processos mecânicos, para enfim, os resíduos readquirem as características químicas da gipsita, a matéria prima do gesso, e poderem ser utilizados novamente na cadeia produtiva. A reciclagem de gesso na construção civil é uma ação relativamente recente, mas compatível com as exigências de sustentabilidade das atividades econômicas e de alta viabilidade, principalmente pela indústria cimenteira. A Figura 9 destaca uma obra com gesso reciclado na cidade de Ribeirão Preto – SP. 31 Figura 9: Divisórias de gesso reciclado Leroy Merlin em Ribeirão Preto - SP Fonte: <https://fotos.habitissimo.com.br> 3.2.5 Isopor Na literatura, há diversos estudos sobre o reaproveitamento do isopor, principalmente para a produção de compósitos utilizados na fabricação de blocos e lajes substituindo boa parte da pedra brita, tornando o bloco mais leve e térmico. Helena (2009) utilizou o poliestireno expandido na produção de concreto leve e argamassa e analisou o comportamento físico e químico dos mesmos em comparação aos produtos convencionais. De acordo com esse trabalho, o fato de praticamente o isopor não absorver água, permite uma ótima qualidade do concreto produzido e um acabamento de superfície homogêneo, tornando possível o seu uso, mesmo exposto a intempéries, com várias possibilidades de uso arquitetônico. Assim, percebe-se que a inclusão do isopor na construção civil é aceitável, por proporcionar algumas propriedades satisfatórias, no concreto e na argamassa, 32 atingindo as resistências necessárias com possíveis aplicações da argamassa em blocos com funções estruturais e o concreto para aplicação em contrapiso. 3.2.6 Aço O aço é um material 100% reciclável. Inicialmente ele passa pelo processo de separação do concreto (no caso de demolição) através de britadores ou pulverizadores com mandíbulas (Figura 10) e após isso é encaminhado para reciclagem. A sucata resultante pode ser transformada infinitas vezes em um novo aço sem perda da qualidade. O metal pode ser fabricado a partir da combinação minério de ferro e carvão, aquecidos em alto-forno, ou por meio da reciclagem da sucata de aço, feita em forno elétrico. Aço novo e usado se misturam em harmonia, em ligas cada vez mais eficiente. Figura 10: Pulverizador acoplado em escavadeira para a separação do concreto e do aço. Fonte: <http://construction.blog.br> 33 O uso da sucata na fabricação de aço reduz os impactos ambientais. Na reciclagem, o consumo de energia elétrica chega a ser 80% menor. O processo de reciclagem também ajuda na preservaçãodos recursos naturais, pois evita a extração de matéria-prima, o que reduz ainda as emissões de CO2. 3.3 Utilização de resíduos na fabricação de blocos e pisos ecológicos A Eco Máquinas, indústria de equipamentos para a produção de blocos e pisos ecológicos, situada no estado do Mato Grosso do Sul, desenvolveu pesquisas e estudos com diversos tipos de resíduos, e já coleciona dezenas de testes de produção de tijolos ecológicos (Figura 11). Os técnicos da empresa fazem testes produzindo o traço correto para que essa matéria prima vire tijolos ecológicos incentivando clientes que possuem variados tipos de resíduos a produzirem blocos, tijolos e pisos ecológicos. Figura 11: Tijolo Reciclado Fonte: <www.ecomaquinas.com.br> 34 Depois de coletados os resíduos devem passar por um controle de qualidade onde serão retirados possíveis materiais a serem reaproveitados como metal, papel, plástico e outros. O que sobra pode ser facilmente triturado para a produção de blocos, tijolos, pisos ecológicos e outros. O processo de produção está ilustrado na Figura 12. Figura 12: Processo de fabricação de tijolo reciclado RESÍDUO DA CONSTRUÇÃO CIVIL ECO BRITA (TRITURADOR DE RESÍDUOS SÓLIDOS) MÁQUINA PARA TIJOLOS ECOLÓGICOS TIJOLO ECOLÓGICO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL Fonte: <www.ecomaquinas.com.br> 3.3.1 Tijolos ecológicos com a utilização de resíduo comum Após ser recolhido dos aterros sanitários, o lixo passa por um processo de higienização, em seguida os itens recicláveis são reaproveitados (metais, plásticos, entre outros), o que restou é triturado e peneirado até virar uma areia, depois é misturado com o aditivo konlix, que encapsula e inibe o desenvolvimento de bactérias como coliformes fecais, streptococcus e vários outros, resultando em um composto limpo e dentro dos padrões microbiológicos requisitados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO). A ilustração deste processo produtivo consta na Figura 13. 35 Figura 13: Processo de fabricação de tijolo reciclado com resíduo comum Processo Konlix Higienização Triturado e Peneirado Enclausuramento das Bactérias Fonte: <www.ecomaquinas.com.br> Após estes procedimentos, a areia é misturada ao solo cimento, compactada e tem-se o tijolo ecológico, sem odores, com o dobro da resistência do tijolo cerâmico convencional e dentro das normas da ABNT. 3.3.2 Tijolos ecológicos com resíduos sólidos No processo de industrialização, muitos resíduos sólidos são gerados e uma grande maioria destes não são reaproveitados ou são descartados de forma indiscriminada. Na Figura 14 são mostrados alguns exemplos de resíduos sólidos compatíveis com a produção de tijolos ecológicos. 36 Figura 14: Materiais diversos para fabricação de tijolos ecológicos BAGAÇO DE CANA DE AÇÚCAR RESÍDUO DE MINERAÇÃO PÓ DE MÁRMORE PÓ DE VIDRO CINZA VULCÂNICA GESSO SÍLICA LODO CASCA DE COCO Fonte: <www.ecomaquinas.com.br> 3.4 Equipamentos para a reciclagem de RCD’S Existem diversos equipamentos e tecnologias no mercado voltadas para a reciclagem de resíduos oriundos da construção e demolição. No entanto, a maioria ainda possui um preço muito acessível para recuperar o investimento em curto prazo, principalmente no caso de pequenas obras. Porém, para grandes obras, o investimento pode ser considerado pequeno, tendo em vista a grande economia que se terá na aquisição de novos insumos. 37 3.4.1 Britador Eco brita A Linha de Britadores Eco Brita tritura e moi grandes volumes de resíduos da construção civil com rapidez e agilidade, com uma simples regulagem em sua saída os britadores produzem vários tipos de granulométrica, gerando então areia, pedrisco, brita 0, brita 1, brita 2 e brita 3. Eles são alimentados através das esteiras que encaminham o entulho para dentro do britador, onde ocorre o processo de britagem, e em seguida vai para esteira de saída com o material já processado conforme Figura 14. Os materiais obtidos podem ser aplicados em várias etapas de uma construção/obra. Figura 14: Britador de resíduos 1 – Entrada de resíduos 2 – Saída do material triturado Fonte: <www.ecomaquinas.com.br> 3.4.2 Moinho de reciclagem ANVI Moinho para reciclagem de entulho e produção de argamassa, o ANVI 500 (Figura15) é um moinho e misturador de argamassas utilizado na execução de alvenaria, revestimentos e enchimentos de pisos. 38 Proporciona economia de mão de obra, cimento, areia, cal e despesas de descarte de entulho. As matérias primas necessárias para se obter uma nova argamassa são cimento, entulho e areia. Pode ser utilizado também para efetuar apenas a moagem do entulho. As matérias-primas utilizadas são: cimento, entulho (blocos cerâmicos e de concretos quebrados, tijolos e restos de argamassa), areia e água. A argamassa obtida é da melhor qualidade, estando pronta para ser utilizada. Figura 15: Moinho de entulho ANVI Fonte: <www.anvi.com.br> 3.4.3 Triturador de entulho TE 2 O Triturador de Entulho TE 2 (Figura 16) da CSM é ideal para tratamento adequado de entulho em obras de pequeno e médio porte. Seu uso elimina o acúmulo de resíduos e diminui a demanda por matéria-prima, já que permite a substituição de materiais convencionais pelo entulho. Tem produção aproximada de 2 m³ por hora e regulagem para três diâmetros de ruptura: 2, 5 e 7 cm. O equipamento, que possui opção para três diferentes diâmetros de ruptura do entulho, é compacto e demanda pouco espaço para operação. Constituído inteiramente em aço carbono - perfis e tubos -, o TE 2 CSM possui mandíbulas maciças em aço de alta resistência e é montado sobre rolamentos que eliminam 39 totalmente o atrito. Possui também opções de regulagem para granulometrias de 2,5, 5 e 7 centímetros. Quando o concreto é processado, o triturador o transforma em agregado reciclado para concreto magro. Caso o resíduo inclua elementos cerâmicos, o resultado da moagem pode virar insumo no preparo de concreto não estrutural. Figura 16: Triturador de entulhos Fonte: <www.portaldosequipamentos.com.br> 40 4 METODOLOGIA A pesquisa realizada tem a natureza quantitativa e qualitativa, e a análise de dados foi realizada por meio de um levantamento bibliográfico (em livros, jornais, teses, artigos e materiais disponibilizados no meio eletrônico) que buscou identificar os resíduos da construção civil e de demolição, suas características e as possibilidades de reaproveitamento. Com base nos dados obtidos, foram propostas alternativas para a reciclagem e o reaproveitamento destes, visando aplicação na indústria da construção civil. A primeira etapa da pesquisa caracterizou-se pela coleta de dados qualitativos e quantitativos referentes aos RCD’S gerados no município de Florianópolis. Além da revisão da literatura, foi realizada uma pesquisa de campo junto a alguns profissionais da área, onde em conversas informais, buscou-se informações relativas ao consumo de matérias primas e geração de resíduos, formas de gerenciamento dos resíduos, dentre outras, para conhecimento do panorama atual dos RCD’S no município. Na sequência, elaborou-se propostas para o reuso desses materiais, cujo objetivo é auxiliar as construtoras
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