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RESPONSABILIDADE OBJETIVA NO CÓDIGO CIVIL

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Izabela Portolan - FAG
Aulas c/c Programa de Responsabilidade Civil – Sergio Cavalieri Filho.
1
RESPONSABILIDADE OBJETIVA NO CÓDIGO CIVIL
O abuso do direito como ato ilícito – o abuso de direito está previsto no CC em seu artigo 927 c/c 187. Art. 927, CC: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”; art. 186: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”; art. 187: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.
- Origem e finalidade – os direitos nos são concedidos para serem exercidos de maneira justa, social, legítima, e não para que façamos uso deles discricionariamente. Só pelo fato de ser titular de um direito uma pessoa não pode exercitá-lo de forma absoluta, sem se preocupar com os outros. O que caracteriza o abuso do direito é o seu anormal exercício, assim entendido aquele que se afasta da ética e da finalidade social ou econômica do direito. 
- Teorias sobre o abuso de direito – para a mais tradicional, ou seja, a teoria subjetiva, haverá abuso de direito quando o ato, embora amparado pela lei, for praticado deliberadamente com o interesse de prejudicar alguém. Para a teoria objetiva, o abuso do direito estará no uso anormal ou antifuncional do direito. Caracteriza-se pela existência de conflito entre a finalidade própria do direito e a sua atuação no caso concreto. O Código Civil adota, como se vê no artigo 927, a teoria objetiva. Quanto a isso, há o Enunciado nº 37 da Jornada de Direito Civil: “A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa, e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico”. 
Características da ilicitude do abuso do direito – enquanto no ato ilícito a conduta não encontra apoio em dispositivo legal e até é praticada contra dever jurídico preexistente, no abuso de direito a conduta é respaldada em lei, mas como já ressaltado, fere ostensivamente o seu espírito. A diferença entre o ato ilícito previsto no art. 186 e do art. 187, é que apenas o primeiro faz alusão ao dano. A ilicitude configuradora do abuso do direito pode ocorrer sem que o comportamento do agente cause dano a outrem. Nem por isso essa ilicitude será desprovida de sanção. O ordenamento jurídico muitas vezes admite sanções distintas da obrigação de indenizar. Ora a sanção será a nulidade do ato, ora a perda de um direito processual ou material, e assim por diante. 
O abuso do direito como princípio geral – outra conclusão que se tira do art. 187 é a de que o abuso do direito foi agora erigido a princípio geral, podendo ocorrer em todas as áreas do direito. Qualquer titular de direito subjetivo (pessoa natural ou jurídica), em qualquer área do direito (público ou privado), poderá praticar esse ato ilícito e, se causar dano, terá que indenizar. A crítica em que alega que o abuso de direito ter sido elevado a princípio geral constitui perigo para a segurança das relações jurídicas, não procede, pois o Código aumentou consideravelmente os poderes do juiz. Todos os negócios jurídicos terão, agora, que ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração (art. 113), a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato (art. 421), os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé (art. 422). 
Os limites estabelecidos pela Lei – fim econômico ou social (que são limites específicos a serem preenchidos caso a caso, tendo em conta o resultado da incidência das normas constitutivas do direito sobre a realidade concreta em que ele é exercido); a boa-fé e bons costumes (são limites gerais, que devem ser respeitados no exercício de todo e qualquer direito subjetivo).
Fim econômico – proveito material ou vantagem que o exercício do direito trará para o seu titular, ou a perda que suportará pelo seu não exercício. Não mais se concebe o exercício de um direito que não se destine a satisfazer um interesse sério e legítimo. Questão contratual: rescisão unilateral de contratos de representação comercial; recusa do estabelecimento de ensino em conceder a documentação necessária à transferência do aluno em atraso com as mensalidades escolares; abuso do direito de execução: REsp 1.245.712-MT; operação tartaruga: REsp 207.555-MG; suspensão do fornecimento de energia elétrica por R$ 0,85: REsp 811.690-RR.
Fim social – a paz, a ordem, a solidariedade e a harmonia da coletividade. Exemplos: violação do poder familiar; utilização do direito de propriedade; concorrência desleal; violação do caráter urbanístico das cidades: REsp 302.906-SP; afastamento de vereador por ato do presidente: REso 400.983-RO; abuso por parte do condômino: EREsp 622.472-RJ. A função social do Direito é consagrada no CC como cláusula geral de todos os contratos (art. 421) e também como limite do exercício de todo e qualquer direito subjetivo. Art. 421: “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”. Assim sendo, a livre concorrência é permitida para que as empresas possam melhor servir aos consumidores (menores preços, melhores produtos ou serviços, etc). A concorrência desleal é abusiva porque foge dessa finalidade social. 
Boa-fé objetiva – a boa-fé do art. 187 não é a subjetiva, mas sim a objetiva ou normativa, assim entendida a conduta adequada, correta, leal e honesta que as pessoas devem empregar em todas as relações sociais. Três são as funções da boa-fé objetiva no atual CC: função interpretativa, regra de interpretação nos negócios jurídicos (art. 113); função integrativa, fonte de deveres anexos dos contratos (art. 422); função de controle, limite ao exercício dos direitos subjetivos (art. 187). Em função de controle, a boa-fé representa a convivência social. As partes devem agir com lealdade e confiança recíprocas. Exemplos: denúncia de um contrato de seguro saúde, após anos de pagamento e quando do tratamento de doença grave: AgRg no REsp 1.253.696-SP; apropriação dos recursos em conta corrente para pagamento de empréstimo em conta diversa; abuso do direito de informar: REsp 706.769-RN; abuso de direito processual em busca de apreensão de direito intelectual – Microsoft: REso 1.114.889-DF. 
Bons costumes – concepções ético-jurídicas dominantes na sociedade. O conjunto de regras de convivência que, num dado ambiente e em certo momento, as pessoas honestas e corretas praticam. Haverá abuso neste ponto quando o agir do titular do direito contrariar a ética dominante, atentar contra os hábitos aprovados pela sociedade, aferidos por critérios objetivos e aceitos pelo homem médio. 
“Venire contra factum proprium” – são os casos em que a pessoa pretende destruir uma relação jurídica ou um negócio, invocando, por exemplo, determinada causa de nulidade, anulação, resolução ou denúncia de um contrato, depois de fazer crer à contraparte que não lançaria mão de tal direito ou depois de ter dado causa ao facto invocado como fundamento da extinção da relação ou do contrato. 
Supressio – ocorre a supressio quando determinadas relações jurídicas deixam de ser observadas com o passar do tempo e, em decorrência, surge para a outra parte a expectativa de que aquele direito/obrigação originariamente acertado não será exercido/cobrada na sua forma original. Isto é, a supressio consiste no fenômeno da supressão de determinadas relações jurídicas pelo decurso do tempo. 
Surrectio – é um fenômeno inverso ao supressio, pois decorre da ampliação do conteúdo obrigacional mediante surgimento de práticade usos e costumes locais. A atitude de uma parte faz surgir para a outra um direito não pactuado
“Tu quoque” – visa impedir que a violação a determinada norma venha, posteriormente, servir ao transgressor no desdobramento da relação jurídica. Destina-se a evitar um comportamento duplo, elencando-se como parâmetro de comparação um primeiro posicionamento tido como indevido e, na sequência, um outro conflitante com o primeiro.
Duty to mitigate the loss – o dever de mitigar o próprio prejuízo. Os contratantes devem tomar as medidas necessárias e possíveis para que o dano não seja agravado. A parte a que a perda aproveita, não pode permanecer deliberadamente inerte diante do dano. 
Responsabilidade por desempenho de atividade de risco – art. 927, parágrafo único. Enunciado nº 38: “A responsabilidade fundada no risco da atividade, como prevista na segunda parte do parágrafo único do art. 927 do novo Código Civil, configura-se quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano causar a pessoa determinada um ônus maior do que aos demais membros da coletividade”. 
- Teoria do risco criado – independentemente da culpa, e doas casos especificados em lei, haverá obrigação de reparar o dano quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
Responsabilidade dos empresários e empresas por danos causados por produtos – art. 931, CC: “Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação”, c/c art. 12, CDC: “O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - sua apresentação; II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi colocado em circulação. § 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado. § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: I - que não colocou o produto no mercado; II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro”.

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