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LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA Aula 2 – Noções de Estado Professora Eveline Lima SOCIEDADE (Fonte: DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado) A sociedade resulta de uma necessidade natural do homem de viver em agrupamento, sendo necessários três elementos para que um agrupamento humano possa ser reconhecido como sociedade: a) Finalidade ou valor social: busca do bem comum, o que viabiliza a criação de condições que permitam a cada homem e cada grupo social a consecução de seus fins particulares. b) Manifestações de conjunto ordenadas (ordem social e jurídica): ação harmônica conjunta e ordenada (organizada) dos membros da sociedade, visando ao bem comum. c) Poder social: o poder é um fenômeno social (não pode ser explicado considerando fatores meramente individuais) e bilateral (há sempre a correlação de duas ou mais vontades, havendo uma que predomina; o poder, para existir, necessita da existência de vontades submetidas. CLASSIFICAÇÃO DA SOCIEDADE a) Sociedade de fins particulares: finalidade definida, voluntariamente escolhida por seus membros. Suas atividades visam, direta e imediatamente, àquele objetivo que inspirou sua criação por um ato consciente e voluntário. b) Sociedade de fins gerais: objetivo indefinido e genérico de criar as condições necessárias para que os indivíduos e as demais sociedades que nela se integram atinjam seus fins particulares. A participação nestas sociedades quase sempre independe de um ato de vontade. Comumente denominadas sociedades políticas, pois não se prendem a um objetivo determinado e não se restringem a setores limitados da atividade humana, buscando, em lugar disso, integrar todas as atividades sociais que ocorrem no seu âmbito. Ex.: família (fenômeno universal que atinge um círculo restrito de pessoas); as antigas tribos e clãs. Sociedade política de maior importância, por sua capacidade de influir e por sua amplitude. Esta é a primeira noção de Estado: uma sociedade política. A denominação Estado (do latim status, estar firme) significa situação permanente de convivência, ligada à sociedade política. � A expressão aparece pela primeira vez em “O Príncipe” de MAQUIAVEL, escrito em 1513. � Italianos: utilizavam a denominação ‘Estado’ sempre ligada ao nome de uma cidade independente. � Séculos XVI e XVII: a expressão foi admitida em escritos franceses, ingleses e alemães. � Espanha (até o século XVIII): aplicava-se a denominação de estados a grandes propriedades rurais de domínio particular, cujos proprietários tinham poder jurisdicional. ESTADO 1ª) O Estado, assim como a sociedade, sempre existiu, pois desde que o homem vive sobre a Terra acha-se integrado numa organização social, dotada de poder e com autoridade para determinar o comportamento de todo o grupo. 2ª) A sociedade humana existiu sem o Estado durante um certo período. Depois, por motivos diversos, o Estado foi constituído para atender às necessidades ou às conveniências dos grupos sociais. Segundo esses autores, que representam ampla maioria, o Estado foi formado em épocas diferentes em cada lugar, de acordo com as condições concretas destes lugares. 3ª) Somente se considera Estado a sociedade política dotada de certas características muito bem definidas. KARL SCHMIDT justifica que o conceito de Estado não é um conceito geral válido para todos os tempos, mas um conceito histórico concreto, que surge quando nasce a ideia e a prática da soberania, o que só ocorreu no século XVII. TEORIAS SOBRE A ORIGEM (ÉPOCA DE SURGIMENTO) DO ESTADO 1) Estado Antigo, Oriental ou Teocrático � Formas de Estado mais recuadas no tempo, que apenas começavam a definir-se entre as antigas civilizações do Oriente propriamente dito ou do Mediterrâneo. � Família, religião, Estado e organização econômica formavam um conjunto confuso, sem diferenciação aparente, portanto, não se distingue o pensamento político da religião, da moral, da filosofia ou das doutrinas econômicas. �Marcas fundamentais: natureza unitária (não há divisão interior de território ou funções) e religiosidade (a autoridade dos governantes e as normas de comportamento individual e coletivo são expressões da vontade de um poder divino, o que o caracteriza como Estado Teocrático). EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO 2) Estado Grego � Apesar das diferenças profundas entre os costumes adotados em Atenas e Esparta, dois dos principais Estados gregos, a concepção de ambos como sociedade política era bem semelhante. � A característica fundamental é a cidade-Estado, ou seja, a polis (sociedade política de maior expressão). � Posição peculiar do indivíduo: uma elite compõe a classe política, com intensa participação nas decisões do Estado, a respeito dos assuntos de caráter público. 3) Estado Romano � Base familiar da organização. � Assim como no Estado Grego, durante muitos séculos, o povo participava diretamente do governo, mas a noção de povo era muito restrita, compreendendo apenas uma faixa estreita da população. � Governantes supremos: magistrados (principais magistraturas foram reservadas durante muito tempo às famílias patrícias – cidadãos que representavam a nobreza da República Romana). 4. Estado Medieval � Um dos períodos mais instáveis e heterogêneos, o que torna difícil sua caracterização. � Principais elementos da sociedade política medieval: cristianismo, invasões dos bárbaros e feudalismo (supervalorização da posse da terra). � A conjugação destes fatores resulta na caracterização do Estado Medieval: � Poder superior, exercido pelo Imperador, com uma infinita pluralidade de poderes menores, sem hierarquia definida � Incontável multiplicidade de ordens jurídicas, como a imperial e eclesiástica, o que causava instabilidade política, econômica e social, gerando necessidade de ordem e autoridade, que germinaria a criação do Estado Moderno. 5. Estado Moderno � As deficiências da sociedade política medieval determinaram as características fundamentais do Estado Moderno. � O sistema feudal (estrutura econômica e social de pequenos produtores individuais, constituída de unidades familiares voltadas para a produção de subsistência), ampliou o número de proprietários – latifundiários e adquirentes de áreas menores. � Os senhores feudais já não toleravam as exigências de monarcas que impunham tributação indiscriminada e mantinham um estado de guerra, causadores de prejuízo à vida econômica e social, o que despertou a consciência para a busca da unidade, que se concretizaria com a afirmação de um poder soberano, reconhecido como o supremo, dentro de uma precisa delimitação territorial. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO 1. SOBERANIA � Característica fundamental do Estado � A noção de soberania está ligada à concepção de poder. � Conceito: poder de organizar-se juridicamente e impor, dentro de seu território, a universalidade de suas decisões nos limites dos fins éticos de convivência. � É una, indivisível, inalienável e imprescritível. 2. TERRITÓRIO: � Não existe Estado sem território. � O território delimita a ação soberana do Estado. � Espaço ao qual se circunscreve a validade da ordem jurídica estatal (mar, solo, subsolo e espaço aéreo). Em relação à terra firme, os Estados limítrofes estabelecem a delimitação. 3. POVO � Conjunto de indivíduos que se unem para constituir o Estado, estabelecendo com este um vínculo jurídico de caráter permanente, participando da formação da vontade do Estado e do exercício do poder soberano. � É o elemento pessoal que dá condições ao Estado para formar e externar uma vontade. � Povo (vínculo jurídico) ≠ População (expressão numérica, demográfica do conjunto de pessoas que vivem no território de um Estado ou nele estão temporariamente). 4. FINALIDADE: bem comum do povo situado em seu território. 5. ORGANIZAÇÃO JURÍDICA: submissão às leis que compõemo ordenamento jurídico pátrio. NAÇÃO: “comunidade natural”, agrupamento de indivíduos ligados por laços comuns (mesma língua, mesmas tradições, mesma história e mesma religião). Exemplo típico de Nação: povo israelita. Antes da criação do Estado de Israel, o povo israelita espalhava-se pelo mundo todo, mas nunca deixou de constituir uma Nação, pois sempre manteve coesas as suas instituições, tradições, sua história e seu idioma. NAÇÃO ≠ PÁTRIA ??? PÁTRIA: “designação afetiva” de Nação, “comunidade afetiva”. Indica a terra natal ou adotiva de um ser humano, que se sente ligado por vínculos afetivos, culturais, valores e história. CONCEITO DE ESTADO É a organização político-jurídica de uma sociedade para realizar o bem público/comum, com governo próprio e território determinado. � Entidade abstrata: distinto dos governantes. � Dotado de continuidade jurídica: os governantes podem morrer, mas o Estado não morre. � O Estado é a Nação organizada, jurídica e politicamente. Não é a Nação que promove a cobrança de tributos, por exemplo, mas o Estado. ESTADO E DIREITO PERSONALIDADE JURÍDICA DO ESTADO: a concepção do Estado como pessoa jurídica representa um avanço no sentido da disciplina jurídica do interesse coletivo. A noção da personalidade jurídica do Estado promove a conciliação do político com o jurídico. 1ª ACEPÇÃO: personalidade jurídica do Estado concebida como ficção jurídica. Embora dotados de personalidade jurídica própria, que não se confunde com a de seus componentes, as pessoas jurídicas são sujeitos artificiais, criados pela lei. E entre estas pessoas jurídicas se acha o Estado, cuja personalidade é produto da mesma ficção. HANS KELSEN: concebeu um direito puro, onde a norma é a única realidade jurídica � nessa perspectiva não há como sustentar a ideia de uma pessoa jurídica real � logo, em sua teoria, o Estado é dotado de personalidade jurídica, mas é um sujeito artificial, entendendo Kelsen que o Estado é a personificação da ordem jurídica. 2ª ACEPÇÃO: existência real do Estado-pessoa jurídica. O Estado é um organismo moral, existente por si e não como simples criação conceitual. (Otto von Gierke – jurista alemão) O Estado-pessoa jurídica é um organismo, e através de órgãos próprios atua sua vontade. Esta se forma e se externa por meio das pessoas físicas que agem como órgãos do Estado. (Gerber – jurista alemão) JELLINEK (filósofo do direito e juiz alemão): “Se o Estado é uma unidade coletiva, uma associação, esta unidade não é uma ficção, mas uma forma necessária de síntese de nossa consciência que, como todos os fatos desta, forma a base de nossas instituições, então tais unidades coletivas não são menos capazes de adquirir subjetividade jurídica que os indivíduos humanos”. OBSERVAÇÕES CONCLUSIVAS As pessoas físicas, quando agem como órgãos do Estado, externam uma vontade que só pode ser imputada a este e que não se confunde com as vontades individuais. A existência dessa vontade estatal, que é pressuposto da capacidade jurídica do Estado, é necessária para o tratamento jurídico dos interesses coletivos, evitando-se a ação arbitrária em nome do Estado ou dos próprios interesses coletivos. Com efeito, só pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas, podem ser titulares de direitos e deveres jurídicos, e assim, para que o Estado tenha direitos e obrigações, deve ser reconhecido como pessoa jurídica.
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