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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA ROSANA MEIRE CAZADEI REZENDE AS CORRENTES PEDAGÓGICAS E A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA CAMBIRA, PARANÁ 2013 FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA TURMA - PDE/2013 Título: AS CORRENTES PEDAGÓGICAS E A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA Autor Rosana Meire Cazadei Rezende Escola de Atuação C. E. Rosa Delúcia Calsavara. E.F.M Município da escola Cambira Núcleo Regional Educação Apucarana Orientador Professor Msc. Edmilson Lenardão Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina Disciplina/Área Pedagogia Formato do Material Didático Artigo Parcial Relação Interdisciplinar Público Alvo Pedagogos e Professores do Ensino Fundamental e Ensino Médio Apresentação: Este trabalho visa propor momentos de estudo, leitura e reflexão acerca das correntes pedagógicas direcionada para pedagogia Histórico Crítica, sendo ser esta a corrente que norteia os documentos construídos no coletivo da escola e que constam no Projeto Político Pedagógico do Colégio Estadual Rosa Delúcia Calsavara Ensino Fundamental e Médio. Palavras-chave Função Social da Escola; concepções pedagógicas; pedagogia histórico-crítica; projeto político pedagógico 1 CORRENTES PEDAGÓGICAS E A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA RESUMO Ao longo da sua trajetória, a escola vem sendo descaracterizada enquanto instituição educacional assumindo tarefas alheias a sua função por estar atrelada a projetos pedagógicos que trazem em sua essência a ideologia neoliberal que serve e perpetua a elite capitalista na medida em que há falta de clareza, foco, reflexão e embasamento teórico de seus profissionais. Como consequência, a escola passa a reproduzir o sistema capitalista, sendo necessária a adoção de uma nova postura frente a esse domínio. Para tanto, a Pedagogia Histórico-crítica apresenta uma concepção transformadora que combate essa hegemonia, questionando a multifuncionalidade da escola atualmente, retomando e reconhecendo a essência da função social da escola, ou seja, o papel real da educação escolar. Neste sentido, este artigo motiva-se em discutir teoricamente a escola enquanto lugar por excelência para promover a educação formal. É preciso que os profissionais da educação ampliem o conhecimento sobre as diferentes correntes pedagógicas, pautadas em reflexões da concepção histórico-crítica norteando o trabalho educativo e operacionalizadas no Projeto Político Pedagógico. A linha de trabalho pedagógico a ser adotada deve estar clara a todos os envolvidos no processo educacional, para que se consiga ter unidade nas ações metodológicas e avaliativas que são desenvolvidas no interior da escola. Para tanto adotou-se como metodologia uma pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo baseado nas obras de Duarte (1993), Evangelista & Shiroma (2007) Libâneo (1985), Saviani (1983,1985,1991,1995,1997,1998,2007,2008). Encerra-se a discussão, buscando refletir sobre a educação na contemporaneidade e a corrente pedagógica Histórico-crítica como sendo a concepção capaz de favorecer uma educação democrática. Palavras-chaves: Função social da escola; concepções pedagógicas; pedagogia histórico-crítica; projeto político pedagógico 2 INTRODUÇÃO Este artigo faz parte do Plano de trabalho do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná e está articulado ao Projeto de Intervenção Pedagógica a ser implementado no Colégio Estadual Rosa Delúcia Calsavara – Ensino Fundamental e Médio do Município de Cambira. Caracteriza-se por uma produção inicial que será utilizada como base para as reflexões sobre os diferentes papéis assumidos pela instituição escolar e, por conseguinte motivação de proposição de ações que levem a escola a adotar e inserir em seu Projeto Político Pedagógico a finalidade da educação, bem como buscar uma unidade em torno da corrente pedagógica Histórico- crítica, por meio da organização do trabalho pedagógico, que será direcionada pela equipe pedagógica. Apresenta-se aqui as diferentes correntes pedagógicas para maior embasamento teórico, porém busca-se uma unidade e, portanto utiliza-se aqui, a Pedagogia Histórico-Crítica como norteadora de todo trabalho. É importante levar os profissionais da escola a refletirem sobre o que é planejado na perspectiva da Pedagogia Histórico-Crítica e o que está sendo posto em prática, executado em sala de aula. A educação em cada momento histórico teve um papel a cumprir, devendo ser entendida em sua relação com a prática social que envolve professor e alunos. Aquilo que é vivido e aceito pela sociedade reflete-se no interior da escola. A escola é o espaço onde ocorrem os embates ideológicos, onde podemos continuar reproduzindo o ideário capitalista ou nos contrapor priorizando uma prática pedagógica que sirva para romper com as desigualdades sociais, onde se priorize a educação de qualidade pautada em conteúdos científicos, artísticos e filosóficos. Embora, a escola seja o lugar adequado para refletir as dimensões ideológicas e políticas da educação, muitas vezes os profissionais que nela atuam acabam reproduzindo o sistema capitalista vigente em sua prática docente por falta de reflexão, clareza e foco do que se espera da educação. Isto tem como consequência uma prática fragilizada, em que a fundamentação 3 teórica fica relegada a segundo plano. É necessário entender a teoria para situar a prática, pois um é consequência do outro. Quando o professor não possui clareza suficiente dos objetivos a serem alcançados com a prática docente, podem incorrer em modismos, sem objetivos coerentes, e o resultado é “neutralizar os efeitos da escola no processo de democratização” (SAVIANI, 1991, p. 23). Refletindo acerca da prática dos professores em seu cotidiano profissional, surgem algumas questões pertinentes às Tendências Pedagógicas: qual o conhecimento dos professores sobre esse tema? Esse conhecimento norteia sua prática pedagógica? Sua formação inicial abordou esse tema, refletindo em sua prática docente? Quais fatores o levaram a escolher determinada Tendência Pedagógica? Conscientes da indefinição referente a adoção das Tendências Pedagógicas, bem como da importância que elas tem para uma prática docente que realmente garanta o cumprimento da função social da escola, observamos a necessidade de trazer essa discussão para a escola, definindo o papel que devemos exercer na formação do indivíduo. Nesse sentido, podemos afirmar que as instituições escolares, tem como função “o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens” (SAVIANI, 1991, p. 14). A proposta de estudo para alcançar os objetivos aqui determinados requer um estudo bibliográfico, pautado em autores que abordam o tema em questão. Entre eles, a opção nesse Projeto, baseou-se, especialmente, nas obras de Duarte (1993), Evangelista & Shiroma (2007) Libâneo (1985), Saviani (1983,1985,1991,1995,1997,1998,2007,2008), visando refletir acerca da reprodução do capitalismo brasileiro presente nas escolas atualmente e a possibilidade de adoção da Pedagogia Histórico-crítica,que defende a educação como instrumento de transformação das relações sociais, através da socialização do conhecimento científico. O trabalho vai ser organizado, seguindo as seguintes etapas: 1º) a função social da escola; 2º) breve histórico das principais concepções pedagógicas no Brasil; c) a proposta de adoção da Pedagogia Histórico-Crítica, como forma de favorecer uma educação democrática; d) Reformulação do 4 Projeto Político Pedagógico. 1. FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA Ao longo de sua história, a escola passou por grandes transformações, acompanhando as mudanças que ocorrem na sociedade. Muitas vezes, como acontece no momento atual, o sistema educacional apresenta dificuldades em se adequar, o que resulta em uma disparidade, pois a sociedade caminha de forma acelerada e as instituições escolares ainda estão em passos lentos. Apesar dessa discrepância no que se refere ao ritmo das transformações, a função social da escola não pode, e nem deve, desviar-se de seu foco principal, ou seja, transmitir ao aluno o saber sistematizado, o conhecimento cientifico acumulado ao longo dos tempos e que instrumentalizem os alunos para atuar na sociedade em que vivem, de forma consciente e concreta. A educação deve ser [...] o ato de produzir direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto de homens” (Saviani, 1991, p 21). Dessa forma, é imprescindível a formação de educador, sua capacitação para que possa desenvolver um trabalho que possibilite a aquisição desse saber sistematizado, bem como a relação desse conhecimento com a realidade vivida pelos alunos. É fato que a experiência do professor, seu cotidiano escolar, são fundamentais e contribuem de forma efetiva para um trabalho que apresente resultados positivos. Mas, muito além da prática, tão importante para o trabalho concreto da sala de aula, é fundamental ao professor o embasamento teórico, que direcione e legitime sua posição, sua prática, propiciando, dessa forma, uma realidade educacional focada em objetivos necessários para a formação dos alunos. O sistema educacional, nessa nova realidade da Gestão Democrática, possibilitou às escolas, a construção de um documento que reflete a escola como um todo: sua história, sua realidade atual e as perspectivas a curto, médio e longo prazo. O Projeto Político Pedagógico é um 5 documento democrático, abrangente e flexível que pode, e deve, ser estudado e modificado sempre que for necessário. O PPP deve direcionar o trabalho de todos os agentes do processo educacional, para que ocorra uma unidade dos trabalhos. Dentre as informações contidas no PPP, está o Currículo Escolar que para Saviani (1991, p.23) “é o conjunto das atividades nucleares desenvolvidas pela escola”, ou seja, diferenciando o essencial do que é secundário. É fundamental, determinar quais os conteúdos são essenciais, proporcionando uma harmonia entre os conteúdos, para que tenha significado para os alunos e não temas recortados, sem sequência e sem objetivos concretos. Além disso, deve-se respeitar a diversidade de culturas representadas nas escolas, não priorizando algumas em detrimento de outras, mas considerando todas como importantes e que contribuem para a construção da humanidade. Segundo Duarte (1998, p. 86) [...] O trabalho educativo alcança sua finalidade quando cada indivíduo singular apropria-se da humanidade produzida histórica e coletivamente, quando o indivíduo apropria-se dos elementos culturais necessários à sua formação como ser humano, necessária à sua humanização. Para o autor, todo indivíduo tem direito de acesso ao saber sistematizado e que, esse conhecimento, resultado de acertos, erros, da construção de valores morais, das tradições é que vão propiciar a preservação da espécie humana, sua continuidade e transformações necessárias para seu aprimoramento. Apesar da clareza com relação à função social da escola, nas últimas décadas tem-se observado uma descaracterização dessa função, resultante das transformações sociais, de novas linhas de pensamento e mesmo de diferentes políticas educacionais, que mudam sempre que muda um governo, impossibilitando uma continuidade de trabalhos e a necessidade de adaptação constante às novas regras impostas a cada quatro ou oito anos. Toda essa imprecisão, resulta em uma multifuncionalidade dentro do espaço escolar, que assume o papel da família, da sociedade, das políticas públicas e deixa, para um segundo plano, sua função primeira que é proporcionar a apropriação do saber sistematizado pelos alunos. 6 Sendo assim, observa-se a necessidade de retomar a discussão em torno desse tema, priorizando o trabalho educacional em sua essência, favorecendo a retomada da função social da escola, ou seja, a aquisição, pelos alunos, do saber sistematizado. Isso só será possível, quando os agentes educacionais estabelecerem a unidade necessária, dentro da realidade escolar, visando um objetivo comum. Para Saviani (1991, p. 103), a escola é [...] uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber elaborado, e não do saber espontâneo, do saber sistematizado e não do saber fragmentado, da cultura erudita e não da cultura popular”. Cientes dos problemas e da necessidade de mudanças em nossa realidade educacional, visto que presenciamos muitas reclamações acerca do tema educação, em que todos pedem novos direcionamentos e novas propostas, devemos fazer alguns questionamentos, relacionados aos agentes do processo educacional: Todos participaram da construção do PPP de sua escola? Todos sabem o teor desse documento? O PPP está de acordo com a realidade vivenciada? Sempre é retomada a discussão do grupo acerca do documento e feitas as mudanças necessárias? Todos desenvolvem seus trabalhos de acordo com o que está determinado no PPP, já que ele é resultado das decisões comuns da comunidade escolar? A solução de alguns problemas está fora de nosso alcance, no entanto, outros dependem de nossas atitudes e de nossa participação concreta. De acordo com Evangelista & Shiroma (2007, p. 539) [...] o desafio é sermos capazes de criar a capacidade coletiva de nossa constituição como sujeitos históricos, capazes de apropriar-nos da dimensão pública da escola e do conhecimento como direito social, capazes de lutarmos pela socialização dos bens culturais e materiais. Partindo da constatação do quanto é importante o saber sistematizado e a apropriação deste conhecimento pelas novas gerações, Saviani (1991, p.30) afirma que [...] a especificidade dos estudos pedagógicos (ciência da educação), que, diferentemente das ciências da natureza (preocupadas com a identificação dos fenômenos naturais) e das ciências humanas (preocupadas com a identificação dos fenômenos culturais), preocupa-se com a identificação dos elementos naturais necessários à constituição da humanidade em cada ser humano e à descoberta das formas adequadas para se atingir esse objetivo. Observamos, dessa forma, o quanto deve ser valorizado o estudo pedagógico para o direcionamento das ações dentro do espaço escolar, 7 caracterizando o trabalho realizado. É fundamental que o professor, o pedagogo, o gestor, conheçam as diferentes teorias da educação e escolham aquela que melhor se adeque à sua realidade. Não é possível mais, pois já foi constatado que os resultados não foram positivos, que cada profissional da educação trabalhe como se fosse um elemento isolado e não parte de um conjunto, com objetivos comuns, mantendo a unidade necessária para o sucesso do processode aprendizagem dos alunos. É importante ressaltar que essa é uma tarefa árdua, que requer muito estudo, muito embasamento teórico, muitos debates, troca de informações e experiências, visto que a escolha final vai ser compartilhada por todos, como deve ser em um processo democrático. Nesse sentido, o papel do professor pedagogo deve ser o de direcionar os estudos, instrumentalizando os professores e possibilitando a eles a prática, de acordo com a Pedagogia Histórico-Crítica, garantindo a sequência e a unidade no processo educacional. 2. AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS As Tendências Pedagógicas são teorias que visam direcionar o trabalho educacional, orientando o professor, através de metodologias que tem por objetivo concretizar o processo de ensino e aprendizagem. Dentre as Tendências Pedagógicas encontramos propostas diferenciadas e também as que apresentam semelhanças, mas com outra denominação, de acordo com o autor. Libâneo (1985), apresentou a seguinte classificação: Pedagogias Liberais, sendo subdivididas em: Tradicional, Renovada Progressista, Renovada Não Diretiva e Tecnicista e Pedagogias Progressistas que se subdividem em: Libertadora, Libertária e Crítico-Social dos Conteúdos. Saviani(1985), propôs a classificação das Tendências em: Teorias Não-Críticas: Pedagogia Tradicional, Pedagogia Nova e Pedagogia Tecnicista e as teorias Crítico-Reprodutivistas: Teoria do Sistema de Ensino como Violência Simbólica, Teoria da Escola como Aparelho Ideológico de Estado (AIE) e Teoria da Escola Dualista; Teoria Crítica: Tendência Histórico-Crítica. Analisando os autores, as divisões e subdivisões apresentadas por 8 eles, o embasamento teórico desse Projeto melhor se adequa à classificação apresentada por Saviani, visto que, propicia um direcionamento do trabalho a ser desenvolvido de acordo com a realidade da escola. 2.1. TEORIAS NÃO-CRÍTICAS 2.1.1. Pedagogia Tradicional Sua organização inspirou-se no princípio de que a educação é um direito de todos e dever do Estado. Era necessário atender aos interesses da nova classe que se consolidava no poder: a burguesia. Neste momento da história, a intenção era a de incentivar uma sociedade democrática, livre para contrapor ao “Antigo Regime”, mas para alcançar esta sociedade era necessário vencer a ignorância já que o marginalizado é o indivíduo que não é esclarecido. Neste momento [...] A escola surge como um antídoto à ignorância, [...] Seu papel é difundir a instrução, transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade e sistematizados logicamente. [...] A escola se organiza como uma agência, [...] O mestre-escola será o artífice dessa grande obra (SAVIANI, 1983, p.5). A pedagogia Tradicional, baseia-se na metodologia educacional proposta por Herbart (1776-1841), em que as aulas são expositivas, centradas no professor, sendo este o único detentor do conhecimento científico. Os alunos aprendem pela assimilação do conhecimento, e são vistos como um receptor passivo, resultante de uma disciplina rígida. 2.1.2. Pedagogia Nova De acordo com Saviani (1985) nesta teoria, a marginalidade deixa de ser vista sob o ângulo da ignorância, da falta de conhecimento, e toma um novo enfoque, agora o marginalizado é o rejeitado. A educação surge como instrumento de correção da marginalidade, na tentativa de integrar o indivíduo à sociedade. O foco deixa de ser a questão pedagógica do intelecto e passa a ser de sentimento. O aluno é o centro do processo e começa a exercer um papel 9 ativo, participativo, a iniciativa de aprendizagem parte dos alunos e não do professor. O professor neste contexto age como orientador, propicia momentos de desafios a partir do interesse dos alunos que são organizados em pequenos grupos. Neste sentido, o método de ensino está baseado em Dewey (1859- 1952), no aprender a aprender ou aprender fazendo, propiciando atividades coletivas em que as relações interpessoais dos alunos sejam priorizadas e as ações pedagógicas partindo do concreto para o abstrato. Saviani (1983, p.8) diz que [...] cada professor teria de trabalhar com pequenos grupos de alunos, sem o que a relação interpessoal, essência da atividade educativa, ficaria dificultada; e num ambiente estimulante, portanto, dotado de materiais didáticos ricos, biblioteca de classe etc. A escola deixa de ser um local sombrio e passa a ser alegre, disciplinado para movimentado, silencioso para barulhento e opaco para colorido, mas segundo SAVIANI (1983, p.9) a “Escola Nova” aprimorou a qualidade do ensino destinado às elites. 2.1.2. Pedagogia Tecnicista Neste momento a Pedagogia destina-se a formação de um aluno racional, eficiente e produtivo e o processo educacional passa a ser objetivo e operacional. Nesta Pedagogia o marginalizado deixa de ser o rejeitado e passa a ser o indivíduo incompetente, ineficiente e improdutivo. De acordo com Saviani (1983, p.12) [...] A educação estará contribuindo para superar o problema da marginalidade na medida em que formar indivíduos eficientes, portanto capazes de darem sua parcela de contribuição para o aumento da produtividade da sociedade. Assim, estará ela cumprindo sua função de equalização social. Na pedagogia tecnicista, a educação perdeu sua finalidade a partir do momento em que se torna um subsistema que veicula o conteúdo específico, e a escola passa a ser vista como uma instituição tem como base a aquisição de habilidades, o que contribuiu para o caos do ensino já que gera descontinuidade, heterogeneidade e fragmentação dificultando o trabalho alinn Realce 10 pedagógico. Os aspectos metodológicos desta pedagogia fica evidente já que dão ênfase aos meios, aos recursos audiovisuais, instrução programada de módulos instrucionais. Desta forma tanto aluno quanto professor ficam relegados as técnicas, ao saber fazer, a eficiência, portanto Saviani (1983, p. 12) diz que [...] o professor e o aluno ocupam posição secundária, relegados que são à condição de executores de um processo cuja concepção, planejamento, coordenação e controle ficam a cargo de especialistas supostamente habilitados, neutros, objetivos, imparciais. As teorias e pedagogias não críticas nos apontam que a marginalidade está diretamente ligada a questão social já que o conhecimento produzido historicamente é fundamental para contraposição ao que vem sendo apontado. Cabe a educação propiciar as mudanças necessárias para correção deste caminho. Saviani (1985, p.19) argumenta que [...] A marginalidade é vista como um problema social e a educação, que dispõe de autonomia em relação à sociedade, estaria, por essa razão, capacitada a intervir (...) promovendo a equalização social. Essas teorias consideram, pois, apenas a ação da educação sobre a sociedade. Porque desconhecem as determinações sociais do fenômeno educativo eu as denominei de “teorias não-críticas”. Foram analisadas até aqui as concepções pedagógicas difundidas pelas teorias não-críticas assim como foram explicitados os conteúdos, a forma de organização e funcionamento da escola. Este grupo de teorias entende a educação como instrumento de superação da marginalidade. 2.2. TEORIAS CRÍTICO-REPRODUTIVISTAS . 2.2.1. Teoria do Sistema de Ensino Enquanto Violência Simbólica A ideia principal que dá embasamento a esta teoria é a violência simbólica. Como diz Saviani (1985, p. 22): “Sobre a base da força material e sob sua determinação erige-se um sistema de relações de força simbólica cujo papel é reforçar, por dissimulação, as relaçõesde força material”. É evidente que a violência material é exercida através da dominação econômica que é exercida pela classe dominante sobre a classe dominada, que sofre a violência 11 simbólica, dissimulada pela cultura da dominação. Esta dominação se manifesta de várias formas ou seja, pelos veículos comunicação; religião, atividades artísticas e literárias; moda; propaganda e educação familiar e pela ação pedagógica, a qual acentua a desigualdade. Fica claro que as classes dominadas não possuem a força material que é o capital econômico, e muito menos a força simbólica que é o capital cultural. Desta forma este tipo de teoria só reforça a marginalidade, ao invés de superá-la. 2.2.2. Teoria da Escola Enquanto Aparelho Ideológico do Estado (AIE) Nesta teoria no plano do Estado segue duas linhas distintas em Aparelhos Repressivos do Estado e os Aparelhos Ideológicos do Estado(AIE). O primeiro citado funciona pela força, violência e o segundo citado pela ideologia. O primeiro lista: o Governo, a Administração, o Exército, a Polícia, os Tribunais, as Prisões que funcionam pela violência. Dentre os Aparelhos Ideológicos do Estado, compreende-se: o AIE religioso, escolar, familiar, jurídico, político, sindical, da informação e cultural, que funcionam massivamente pela ideologia. A escola nesta teoria transfere os saberes da ideologia dominante a todos os alunos de todas as classes, durante anos, constituindo-se no instrumento mais completo de reprodução das relações de produção do tipo capitalista e é no contexto dessas relações que se nota o fenômeno da marginalização que deseja perpetuar os interesses da elite capitalista. 2.2.3. Teoria da Escola Dualista Esta teoria nos dá conta de que a escola está dividida em duas grandes redes que correspondem a divisão da sociedade capitalista em duas classes: burguesia e o proletariado. E o espaço escolar reforça essa dualidade quando contribui para a formação da força de trabalho e enfatiza a ideologia burguesa. Saviani (1985, p. 31) salienta que:” Mais do que isso: todas as práticas escolares, ainda que contenham elementos que implicam um saber objetivo (...) são práticas de inculcação ideológica”. Sendo assim, o espaço que deveria ser de transformação, passa a ser de manutenção da ideologia 12 dominante. [...] qualifica o trabalho intelectual e desqualifica o trabalho manual, sujeitando o proletariado à ideologia burguesa sob um disfarce pequeno burguês. Assim pode-se concluir que a escola é ao mesmo tempo um fator de marginalização relativamente à cultura burguesa assim como em relação à cultura proletária (SAVIANI, 1985, p. 32). Ou seja, quando prioriza o trabalho intelectual em detrimento do trabalho manual, a escola assume a função de reprodutora e não de transformadora da ordem vigente, descaracterizando sua função social. 2.3. PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA Na década de 1970 há a necessidade premente de se articular uma proposta pedagógica cujo compromisso maior seja a transformação da sociedade e não sua manutenção. Dessa forma surge A Pedagogia Histórico- Crítica num movimento pedagógico como resposta as pedagogias não-críticas (Tradicional, Escola nova e Tecnicista) e as pedagogias crítico-reprodutivista (Escola como Aparelho Ideológico do Estado, Teoria da Reprodução e a Escola Dualista). Assim, o objetivo desta tendência é resgatar a crítica e a dialética no processo de ação-reflexão sobre a práxis social. As teorias progressistas, buscam uma pedagogia que tenha por finalidade atender os interesses dos que estão sendo dominados pelo sistema capitalista e não mais dos dominantes. Evidencia-se aqui a “pedagogia crítico- social dos conteúdos”, apresentado por José Carlos Libâneo em seu livro: Democratização da Escola Pública, publicado em 1990. Saviani (2008, p. 419), nos diz que [...] Libâneo entende que, na pedagogia crítico-social dos conteúdos, o papel primordial da escola é difundir conteúdos vivos, concretos, indissociáveis das realidades sociais, sendo esse o “melhor serviço que se presta aos interesses populares” (idem, p. 39). E os conteúdos do ensino não são outros senão os conteúdos culturais universais que vieram a se constituir em patrimônio comum da humanidade, sendo permanentemente reavaliados à luz das realidades sociais nas quais vivem os alunos. A Pedagogia Histórico-Crítica aparece logo em seguida, empenhada em colocar a educação escolar a serviço da transformação social de forma crítica sem ser reprodutivista. Tem seu fundamento no materialismo histórico e nos fundamentos psicológicos da Teoria Histórica Cultural de Vygotsky. Conforme esclarecimento de Saviani (1996, p. 102) a expressão “Pedagogia 13 Histórico-Crítica” [...] é o empenho em compreender a questão educacional a partir do desenvolvimento histórico objetivo. Portanto, a concepção pressuposta nesta visão da pedagogia histórico-crítica é o materialismo histórico, ou seja, a compreensão da história a partir do desenvolvimento material, da determinação das condições materiais da existência humana. No Brasil, esta corrente pedagógica firma-se fundamentalmente, a partir de 1979. Tal teoria responde aos três grandes passos do método dialético da construção do conhecimento: prática-teoria-prática. O que define de forma objetiva a expressão da Pedagogia Histórico Crítica é a articulação de uma proposta pedagógica que se empenha, não apenas para manter a sociedade como está posta, mas para transformá-la a partir da compreensão dos condicionantes sociais. A Pedagogia Histórico-Crítica se empenha na defesa da finalidade da escola a qual está ligada diretamente a questão do conhecimento produzido historicamente que são indispensáveis à compreensão da prática social e de sua interação. É preciso resgatar a função da escola e reorganizar o trabalho educativo. [...] situar a especificidade da educação como referida aos conhecimentos, ideias, conceitos, valores, atitudes, hábitos, símbolos sob o aspecto de elementos necessários a formação da humanidade em cada indivíduo singular, na forma de uma segunda natureza, que se produz, deliberada e intencionalmente, através das relações pedagógicas historicamente determinadas que se travam entre os homens (SAVIANI, 1996, p. 28). A educação mesmo sendo elemento condicionado pela sociedade, não deixa de exercer influência sobre o elemento condicionante, quando é capaz de cumprir sua especificidade e sua função social que é de socializar o saber elaborado entre as camadas populares. Esta teoria evidencia um método específico de trabalho, determinado por cinco passos que são essenciais para o desenvolvimento do aluno. A relação entre professor e aluno deve ser de agentes ativos no processo de aquisição de conhecimento, onde o professor seja incentive e estimule os alunos em suas atividades ; favoreça o diálogo dos alunos entre si e com o professor, mas sem perder de vista a relação com a cultura acumulada historicamente; levar em conta os interesses dos alunos, os variados ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, mas sem 14 perder de vista a sistematização dos conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos. A aprendizagem nesta teoria é resultante da interação entre aluno, conhecimento e elementos culturais. Dessa forma Saviani (1983, p. 63) diz que: “Esse método realiza a vinculação entre educação e sociedade, que os professores e alunos são tomados como agentes sociais”. Saviani (1983), propõe um método organizado em cinco passos:prática social, problematização, instrumentalização, catarse, prática social. A Prática social é o ponto de partida, o início, comum tanto ao professor quanto aos educandos já que assumem posições diferentes em relação ao conhecimento. Assim, inicia o movimento dialético que vai da síncrese (visão caótica, fragmentada do todo) à síntese (conhecimento mais elaborado, científico) pela mediação da teoria. O segundo momento é o da problematização, isto é, a etapa onde professor levanta junto com os alunos os problemas enfrentados na sociedade, sobre determinado tema, objeto de estudo da unidade planejada pelo professor. Na instrumentalização, o conhecimento científico deve ser elaborado conjuntamente entre professor e aluno, entretanto, vale ressaltar que o aluno parte de uma visão sincrética, não idêntica à do professor que já possui uma visão de síntese, e, portanto, media o conhecimento. A catarse, por sua vez, revela-se na síntese final elaborada pelo aluno, que, partindo de sua realidade (conhecimento sincrético), por meio da mediação do professor, tem um salto qualitativo na aprendizagem, chegando a uma visão mais elaborada, de síntese. A catarse revela‐se na elaboração e expressão final da síntese em que o aluno foi capaz de chegar. Em sua nova prática social, o aluno alterou qualitativamente seu conhecimento pela mediação, em movimento dialético contínuo “[...] a prática social referida no ponto de partida (primeiro passo) e no ponto de chegada (quinto passo) é e não é a mesma (SAVIANI, 2005, p. 72)”, o ponto de chegada volta a ser o ponto de partida constantemente. CONSIDERAÇÕES FINAIS 15 A escola tem sido palco das mais diversas atribuições, sendo descaracterizada e desviando-se de sua especificidade primeira: a socialização dos saberes produzidos historicamente pelos homens. Isto ocorre a partir do momento que ela assume o papel de reprodutora ideológica e que reforça a massificação e opressão do proletariado logo, não se constitui em espaço de transformação das relações sociais em favor das camadas populares. A falta de reflexão, foco e embasamento teórico dos profissionais das instituições escolares, acabam reproduzindo o sistema hegemônico já que a escola não acha tempo para discutir seus problemas e acabam cedendo a rotina num ecletismo de atividades sem sustentação teórica. A falta de clareza em relação as concepções pedagógicas é um desafio já que a teoria é fundamental em todo processo pedagógico. Cabe a escola se contrapor acerca desta condição de reproduzir e perpetuar a sociedade já que podemos coletivamente ser um espaço onde a reflexão seja condição para transformar a sociedade a qual fazemos parte dentro da perspectiva da Pedagogia Histórico- Crítica, como sendo esta capaz de colocar a educação a serviço da transformação social por meio da socialização dos conteúdos. É necessário que a instituição escolar identifique seus problemas e organize seu trabalho pedagógico de forma coletiva a partir da reflexão filosófica. O trabalho deve não deve-se pautar apenas no campo das ideias, do discurso e do pragmatismo, deve ir além no campo dialético de “ação- problema-reflexão-ação” (SAVIANI, 2007, p. 26-27); articulando teoria e prática já que um depende do outro. Para que as mudanças aconteçam, é preciso refletir sobre as múltiplas funções atribuídas à escola na contemporaneidade e buscar a sua função social precípua, lutando para que ela se cumpra no interior das instituições escolares. Para compreendermos a educação, temos que compreender a sociedade a qual fazemos parte, já que a sociedade exerce determinação sobre a escola e esta, mutuamente, interfere sobre a sociedade e colabora para sua transformação. A escola, mesmo que condicionada pela sociedade, à medida que 16 cumpre sua função social, pode influenciar seu condicionante. Partindo dessa premissa, procura-se reconstituir a educação a partir de uma nova proposta educacional que surge como contra-hegemônica: a Pedagogia Histórico- Crítica, empenhada em colocar a educação a serviço da transformação das relações de produção, ou seja, reduzir o abismo existente entre a classe dominante e a classe dominada. É necessário articular a teoria e a prática dentro da concepção pedagógica Histórico-Crítica na tentativa de reorganizar e encaminhar o trabalho pedagógico, através de embasamento teórico que dê sustentação na realização e reformulação dos documentos que foram construídos no coletivo que constam no PPP ( Projeto Político Pedagógico) de tal maneira que a escola possa assegurar e assumir definitivamente sua função social que é: transmitir de forma sistematizada e organizada o saber (cultura) historicamente acumulado pela humanidade às novas gerações para sua continuidade e preservação. 17 REFERÊNCIAS DUARTE, Newton. Concepções afirmativas e negativas sobre o ato de ensinar. Cad. CEDES, Campinas, v. 19, n. 44, abr., 1998. EVANGELISTA, Olinda; SHIROMA, Eneida Oto. Professor: protagonista e obstáculo da reforma. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.33, n.3, p. 531-541, set./dez. 2007. LIBÂNEO, José Carlos. 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A resistência ativa contra a nova lei de diretrizes e bases da educação nacional. Revista Princípios, São Paulo: Editora Anita Garibaldi, 1997, p. 66- 72. ______ . A Filosofia na Formação do Educador. In: ______. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 17. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2007. Cap. 1, p. 11-29. _______. História das ideias pedagógicas no Brasil. 2.ed. – Campinas, SP: Autores Associados, 2008a – (Coleção memória da educação). _______. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 10.ed. – Campinas, SP: Autores Associados, 2008b – (Coleção educação contemporânea).
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