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Retórica em Aristóteles

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RETÓRICA em Aristóteles
2 Noção geral de Retórica:
2.1 Questões gerais da retórica antiga (dos sofistas até Aristóteles): verdade x verossimilhança, ética x linguagem
2.2 Noção de dialética: principais problemas
2.3 As partes do discurso retórico: invenção, disposição, elocução e ação
2.4 O discurso judiciário: questões axiológicas e o tema Direito x Verdade
*
TEXTO DE APOIO
REBOUL, Olivier. Introdução à Retórica. trad. Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2004 (caps. I, II e III).
*
ARISTÓTELES repensou a Retórica, integrando-a num sistema filosófico bem diferente daquele dos sofistas.
“Ainda mais: conquanto possuíssemos a ciência mais exata, há certos homens que não seria fácil persuadir fazendo nossos discurso abeberar-se apenas nessa fonte; o discurso segundo a ciência pertence ao ensino, e é impossível empregá-lo aqui, onde as provas e os discursos (logous) devem necessariamente passar pelas noções comuns, como vimos em Tópicos, a respeito das reuniões com um auditório popular”.
*
2.1 Questões gerais da retórica antiga (dos sofistas até Aristóteles): verdade x verossimilhança, ética x linguagem
A Retórica é plural, desde os seus primórdios, foi instrumento comum de juristas, filósofos, literatos, pregadores, de todos a quantos concerne a comunicação.
Utilizada em todas as controvérsias, obriga cada uma das partes a levar em consideração as crenças e os valores do adversário; ensina o sentido, se não do relativo, pelo menos do plural, e postula que a verdade resulta do encontro de dois enunciados, o proferido e o ouvido.
*
Retórica é arte de persuadir pelo discurso. Por discurso entende-se toda produção verbal, escrita e oral, constituída por uma frase ou por uma sequência de frases que tenha começo e fim e apresente certa unidade de sentido.
A Retórica não é aplicável a todos os discursos, mas somente àqueles que visam a persuadir: pleito advocatício, alocução política, sermão, folheto, cartaz de publicidade, panfleto, fábula, petição, ensaio, tratado de filosofia, de teologia ou de ciências humanas.
Existe uma retórica espontânea, uma aptidão para persuadir pela palavra que talvez não seja inata, também existe uma retórica ensinada com o nome, por exemplo, de “técnicas de expressão e comunicação”, que serve para formar vendedores ou políticos. Não será também a arte de enganar?
*
Função persuasiva: meios racionais e meios afetivos, em retórica razão (argumentos) e sentimentos são inseparáveis. Os meios que dizem respeito à afetividade são, o etos, caráter que o orador deve assumir para chamar atenção e angariar a confiança do auditório, e por outro lado o patos, as tendências, os desejos, as emoções do auditório das quais o orador poderá tirar partido.
O persuasivo do discurso comporta dois aspectos: o argumentativo e o oratório.
*
Função hermenêutica: o discurso não é e nunca foi um acontecimento isolado. Ao contrário, opõe-se a outros discursos que o precederam ou que lhe sucederão, que podem mesmo estar implícitos (como o protesto silencioso das massas, captar o não dito).
A lei fundamental da retórica é que o orador nunca está sozinho, exprime-se sempre em função de outros discursos (concordância ou oposição).
Não se ensina mais retórica como arte de produzir discursos, mas como arte de interpretá-los.
*
Função heurística: função de descoberta. Vivemos num mundo que não condiz inteiramente com o conhecimento científico, um mundo em que a verdade raramente é evidente e a previsão segura raramente possível, mas tampouco entregue ao acaso, ao aleatório, ao caos. Não se pode dizer “verdadeiro”, mas pode-se dizer: “é mais ou menos verossímil”.
Função pedagógica: errar na formulação da questão, escrever de modo incorreto, monótono, extremado, confundir tese com argumento, expor de maneira desconexa, esconder-se atrás de clichês – é dar prova de incultura.
*
A retórica é anterior à sua história, e mesmo a qualquer história, pois é inconcebível que os homens não tenham utilizado a linguagem para persuadir. Pode-se aliás, encontrar retórica entre hindus, chineses, egípcios, sem falar dos hebreus. Mas pode-se dizer que a retórica é uma invenção grega, tanto quanto a geometria, a tragédia, a filosofia.
Os gregos inventaram a “técnica retórica”, como ensinamento distinto, independente de conteúdos, que possibilitava defender qualquer causa e qualquer tese.
*
Numa época em que não existiam advogados, era preciso dar aos litigantes um meio de defender sua causa. CÓRAX e TÍSIAS publicaram então uma “arte oratória” (tekhné rhetoriké), coletânea de preceitos práticos que continha exemplos para uso das pessoas que recorressem à justiça. Eis a 1ª definição: Retórica como “criadora de persuasão”.
Os litigantes recorriam a logógrafos, espécies de escrivães públicos, que redigiam as queixas que eles só tinham de ler diante do tribunal. Os retores ofereciam aos litigantes e aos logógrafos um instrumento de persuasão que afirmavam ser invencível, capaz de convencer qualquer pessoa de qualquer coisa. Eis a retórica a partir do verossímil (eikos). Se se conhecesse a verdade não haveria âmbito judiciário! As más causas precisam dos melhores advogados!
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GÓRGIAS: um dos fundadores do discurso epidíctico, ou seja, elogio público, cria para esse fim uma prosa eloquente, multiplicando as figuras, que a tornam “uma composição tão erudita, tão ritmada e bela quanto a poesia”. Usa metáforas, antítese, rimas... Retórica sofística baseada em petição de princípio...já parte de causas dadas (selecionadas)...
PROTÁGORAS: fundador da gramática e da erística, qualquer assunto pode ser sustentado ou refutado, arte de vencer discussão contraditória (piores sofismas):
“Pode-se ser branco e não branco ao mesmo tempo, porquanto o etíope é negro (na pele) e branco nos dentes”.
A relatividade gnoseológica (sofística) pode legitimar tanto a tolerância como a violência.
Káiros, momento oportuno, espírito de oportunidade, réplica vivaz, alma da retórica viva...
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ISÓCRATES: propôs uma retórica mais plausível e mais moral que a dos sofistas. Ensinava sempre recorrendo à reflexão do aluno e fazendo seus discípulos cooperarem na gênese de seus próprios discursos. Moraliza a retórica ao afirmar que ela só é aceitável se estiver a serviço de uma causa nobre e honesta. Ensino literário é uma escola de estilo, de pensamento e de vida. Linguagem é peculiar ao homem, a bela linguagem é valor por excelência e a retórica confundida com filosofia é rainha das ciências.
PLATÃO: rejeita a confiança que os sofistas como Isócrates atribuem à linguagem. Só lhe reconhece valor se a serviço do pensamento, único a atingir “idéias”, a verdade inteligível. Quem realmente decide não são os especialistas, mas aqueles que, graças à cultura e à arte da eloquência, são capazes de fazer-se ouvir e arbitrar (especialistas X retores).
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2.2 Noção de dialética: principais problemas;
A controvérsia acerca da retórica, dialética e filosofia, no contexto da pólis, esteve sempre relacionada com a questão da finalidade real de cada uma dessas disciplinas e na postura mantida por cada uma diante da ética. Tanto Sócrates como Platão pretenderam valorizar o lugar da filosofia e da dialética no campo dos saberes humanos em detrimento da retórica. Contra Tísias e Górgias...
Retórica como entretenimento e diversão, nem ciência, nem arte; tão somente uma habilidade (dóxa), persuadir sem conhecer (ex: retórica e culinária, retórica e remédios)
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Para Platão, a verdadeira retórica significava nada mais que a dialética, a arte de debater e argumentar, tal arte sugere, na visão socrática, saber claramente sobre o que se discutia, sobre o que se tratava no diálogo, ou seja, constituía o verdadeiro exercício do filósofo.
A dialética em Platão é a arte de saber argumentar, rebater, interrogar e responder; antes de tudo, é uma atividade social (na ágora), um encontro de almas e inteligências. Um exercício indutivo-sintético e analítico.*
Retórica, Dialética e Sofística
A retórica é a habilidade capaz de guiar a mente dos homens pela persuasão. Sua preocupação estaria na forma e não nos conteúdos. Seu exercício faz-se na administração da justiça. É uma arma na mão dos sofistas
A dialética, arte da discussão, cuida tanto da forma como do conteúdo. É busca saudável e racional pela verdade.
A sofística seria o exercício da arte de governar, a gestão da coisa pública. Necessitava tanto da Retórica como da Dialética.
*
A filosofia e a retórica são competitivas. Mas a primeira busca separar o verdadeiro do falso, enquanto a 2ª quer êxito, vencer o debate. A retórica é agonística (combativa), a filosofia não: podemos comparar isso ao esporte por competição (retórica) e ao esporte recreativo (filosofia).
A retórica tem por objetivo a persuasão, seja de que modo for. Busca eficácia, o resultado. A filosofia busca aceitação pelo entendimento e verdade.
A filosofia e a retórica são, a princípio, exercícios individuais (o filósofo contempla, o retórico discursa). A dialética é sempre uma prática em conjunto, exige participação direta de seus interlocutores. É uma prática dialógica.
*
Em Platão, a dialética (dia=dois, lética=logos) é um diálogo ou uma conversa em que os interlocutores possuem opiniões opostas (separadas em pares) sobre alguma coisa e devem discutir ou argumentar de modo a passar das opiniões contrárias à mesma idéia ou ao mesmo pensamento sobre aquilo que conversam. Devem passar de imagens contraditórias a conceitos idênticos para todos os pensantes.
Para Platão, a dialética é um modo de conhecer.
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ARISTÓTELES considera a dialética boa para as disputas oratórias da política e do teatro, para a retórica, oferecendo argumentos fortes que convençam o oponente e os ouvintes. É adequada para assuntos sobre os quais só cabe a persuasão, mas não para a filosofia e a ciência, porque nestas, interessa a demonstração ou a prova de uma verdade.
A lógica aristotélica é um instrumento que antecede o exercício do pensamento e da linguagem, oferecendo-lhe meios para realizar o discurso (conhecimento universal e necessário).
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Em Aristóteles, a retórica já não se apresenta como poder de dominar, mas como poder de defender-se. É precisamente por ser um bem (agathon) que a retórica pode ser pervertida, assim como a força, a saúde, a riqueza. Assim, é preferível saber usar a força do discurso.
Em resumo, enquanto a defesa de Górgias ou de Isócrates consistia em fazer da retórica um instrumento neutro, que só valia pelo uso, Aristóteles lhe confere um valor positivo, ainda que relativo.
Uma definição corrigida de retórica: ela não se reduz, diz ele, ao poder de persuadir, é a arte de achar os meios de persuasão que cada caso comporta. O bom advogado não é aquele que promete a vitória a qualquer custo, mas aquele que abre para a sua causa todas as probabilidades de vitória.
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A Retórica é útil:
1º) É possível contentar-se com expor simplesmente o verdadeiro e o justo, sem recorrer a artifícios oratórios? A experiência mostra que muitos veredictos de tribunais são iníquos.
2º) É preciso ser capaz de defender tão bem o contra quanto o pró, não porque sejam equivalentes, mas para refutar e objetar argumentos “fracos”.
3º) É mais desonroso ser vencido pela palavra que pela força física. A ciência mais exata é impotente para convencer certos auditórios populares não instruídos (ex: campanhas contra o Tabagismo...).
4º) O orador, podendo sustentar uma tese ou anulá-la, devia descobrir pelo pensamento, pela reflexão, em qualquer questão, o que ela encerrava de persuasivo.
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O processo judiciário pressupõe a liberdade, a responsabilidade na ação julgada e a possibilidade de um comportamento alternativo. A oposição das teses e dos advogados no tribunal põe em cena a alternativa, a negatividade imanente ao simplesmente possível. Para o que foi, mas poderia não ter sido, o gênero discursivo por excelência é a retórica judiciária (acusação e defesa).
O que Aristóteles se dispõe explicitamente a mostrar em sua Retórica é que as paixões constituem um teclado no qual o bom orador toca para convencer.
A Retórica é antes de tudo um ajuste de distância entre os indivíduos. Identidade e diferença, supostas ou reais, eis o que parece governar a estrutura aristotélica das paixões.
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QUADRO COMPARATIVO: Alvo, modalidade, campo para nós
Demonstração: saber, eu-nós, necessária, lógica, ciências exatas
Dialética: jogo-exercício, tu, provável, filosofia-ciências humanas, teologia
Retórica: convencer um público, vós, verossímil, gêneros judiciário-deliberativo-epidíctico, propaganda, publicidade,
Sofística: dominar por ciladas, eles-impessoal, falsa-aparência, ilusão, propaganda e publicidade
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2.3 As partes do discurso retórico: invenção, disposição, elocução e ação
ARISTÓTELES reabilitou a Retórica ao integrá-la numa visão sistemática do mundo, onde ela ocupa seu lugar, sem ocupar, como entre os sofistas, o lugar todo.
As quatro partes são tarefas que devem ser cumpridas pelo orador (advogado, estudante, publicitário...): compreender o assunto-tema e reunir todos os argumentos que possam servir (invenção); pô-los em ordem-plano (disposição); redigir o discurso no melhor estilo possível (elocução); exercitar-se proferindo-o (ação: voz, mímica e gestos).
*
INVENÇÃO (heurésis)
Segundo os antigos, os gêneros oratórios são três: judiciário, deliberativo (ou político) e epidíctico. O discurso judiciário tem como auditório o tribunal; o deliberativo, a Assembléia; o epidíctico, espectadores de discursos de aparato (orações fúnebres, louvores pós-guerra aos heróis...).
O discurso judiciário acusa ou defende, tendo como valor o justo; o deliberativo aconselha ou desaconselha em questões referentes à cidade (paz, guerra, impostos, orçamento, legislação), tendo como valor o útil; o epidíctico censura ou louva, tendo como valor a nobreza.
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O discurso judiciário (auditório especializado) refere-se ao esclarecimento, qualificação e julgamento de atos passados por via de entimemas;
O discurso deliberativo (auditório menos culto) refere-se ao futuro, inspirando projetos e decisões, através de exemplos;
O epidíctico recorre sobretudo à amplificação de fatos meritórios conhecidos pelo público num tempo presente.
Posteriormente a memória foi incluída como gênero (História), a pregação religiosa na era cristã também, dando abertura à expansão da teoria dos discursos. O mérito de Aristóteles foi mostrar uma classificação em função do auditório e segunda finalidades.
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Três tipos de argumentos: etos, patos (afetos) e logos (razão).
Algumas condições mínimas de credibilidade - ethos (caráter moral que o orador deve parecer ter): sensatez, sinceridade e simpatia.
O pathos é o conjunto de emoções e sentimentos que o orador deve suscitar no auditório com seu discurso (Psicologia das diversas paixões), adaptando-se aos diferentes públicos.
O logos diz respeito à argumentação propriamente dita do discurso. É o aspecto dialético da Retórica (Tópicos). O entimema (silogismo dedutivo) basea-se em premissas prováveis, o exemplo a partir de fatos do passado conclui pelos futuros, por indução.
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Dois tipos de provas: 
as provas extrínsecas (não-retóricas) são as apresentadas antes da invenção: testemunhas, confissões, leis, contratos, etc.
as provas intrínsecas são as criadas pelo orador, dependem de sua maneira própria de impor seu relatório e talento pessoal (ex:quem não tiver testemunhas dirá que testemunhas são compradas e parciais).
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TOPOI: Como encontrar argumentos? Por lugares.
1) No sentido mais antigo e simples, o lugar é um argumento-tipo (memorizado e pronto) que o orador pode colocar em determinado momento de seu discurso: alegando “infância infeliz” para atenuar (ou não); alegando para agravar... caráter preventivo da pena “em risco” diante da impunidade; comprometendo não só o réu, mas “todo o sistema Estatal”;
2) Em sentido mais técnico é umtipo de argumento, um esquema que ganha conteúdos diversos. São os “lugares-comuns”, pois se aplicam a toda espécie de argumentação: “quem pode o mais pode o menos”, “se Jesus não agradou a todos, quem dirá meros mortais”, “ele bate nos vizinhos, pois bate nos pais”, “considera-se que ninguém ignora a lei”.
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3) No sentido dos Tópicos, o lugar não é nem um argumento-tipo, nem um tipo de argumento, é uma questão típica que possibilita encontrar argumentos e contra-argumentos, para inventar premissas de uma conclusão dada.
Ex: alguém é processado por um crime. Acusação e defesa vão propor-se as mesmas perguntas, que a antiga Retórica sintetiza em quatro:
-estado de conjectura: ele matou realmente?
-estado de definição: crime premeditado, não premeditado ou homicídio involuntário?
-estado de qualidade: quais as circunstâncias que podem acusar ou escusar o réu (motivos religiosos, patriótico, clamor público)?
-estado de recusa: competência do tribunal, instrução suficiente
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DISPOSIÇÃO (taxis)
A disposição é um lugar, um plano-tipo ao qual se recorre para construir o discurso. A retórica clássica quase não fala da disposição do discurso judiciário. Os autores propuseram planos-tipos diversos que iam de 2 a 7 partes. 
O esquema clássico tem 4 partes: exórdio, narração, confirmação e peroração.
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Exórdio: parte que inicia o discurso, e sua função é essencialmente fática: tornar o auditório dócil (aberto ao aprender a questão ou tese), atento (desperto e em alerta) e benevolente (pelo ethos). É fazer-se admitir e ouvir.
Narração: é a exposição dos fatos referentes à causa, aparentemente objetiva, mas sempre orientada segundo as necessidades da acusação ou defesa. Eis o lugar do logos. Para obter eficácia deve ser clara, breve e crível.
*
Confirmação: em seguida, a parte nitidamente mais longa, o conjunto de provas, seguido por uma refutação que destrói argumentos adversários. Ainda no setor do logos, a confirmação recorre, porém, ao patos, despertando indignação ou piedade.
QUINTILIANO: contra planos-tipos.
CÍCERO: plano com ordem “homérica” (argumento forte, refutação dos contra-argumentos, retomada do argumento forte com nova forma)
PERELMAN-TyTEKA: noção relativa de força para argumentos
OLIVIER REBOUL: só há um argumento em cada discurso capaz de conquistar a decisão.
*
Digressão: tem como função distrair o auditório, mas também apiedá-lo ou indigná-lo (hoje tem sentido pejorativo).
Peroração: é o que se põe no fim do discurso. Pode ser bastante longa (amplificação, paixão, recapitulação). É o momento por excelência em que a afetividade se une à argumentação, o que constitui a alma da Retórica.
A DISPOSIÇÃO faz o auditório encaminhar-se pelas vias e pelas etapas que escolheu o orador, conduzindo o público para o objetivo que propôs.
*
ELOCUÇÃO (Léxis)
A elocução é a redação do discurso. É a parte mais próxima do orador. O salto criador está entre a obra escrita e aquilo que a prepara.
Estilo: cuidar do “bom vernáculo”, sem incorreções e preciosismos, escrever prosa digna de rivalizar com a poesia sem cair na prosa vulgar, evitar arcaísmos e neologismos, utilizar metáforas e outras figuras... conveniência (estilo nobre, ameno e simples), clareza (pôr-se ao alcance) de seu auditório concreto, vivacidade (cativar pela autenticidade).
A Retórica não se reduz às figuras (metáfora, ironia, alegoria), não é apenas composta por desvios em relação às normas!
*
AÇÃO (hypocrisis)
Ação: antes de adquirir sentido pejorativo, significava a interpretação do adivinho, depois a interpretação do ator, a ação teatral. Como o hipócrita, o ator finge sentimentos que não tem, mas sabe disso, e seu público também. O ator que finge bem é um artista; o orador que finge bem seria um mentiroso...
Numa época em que o discurso oral, graças aos meios de comunicação de massa, readquiriu importância capital, certas regras antigas permanecem, como impostação da voz, domínio da respiração, variedade do tom e dicção.
*
Declínio da Retórica?
Império Romano: Cícero, Quintiliano e Tácito...
Exercícios inúteis? Elogios, lendárias, paralelos, suasórios (fora da situação), controvérsias (com exemplos fictícios: duplo sedutor)
É verdade que a retórica perdeu os grandes debates políticos, que só recuperará nas democracias modernas, mas ganhou outros gêneros: a epístola, a descrição, o testamento, o discurso de embaixada, a consolação, o conselho ao príncipe, etc.
*
Relação entre escrito e oral: os antigos não parecem ter pensado num estilo específico do discurso oral, talvez porque a língua falada estivesse longe demais da língua escrita. Ninguém fala como livro, mas como “gente”. O discurso oral deve ser mais lento que uma leitura; deve ser redundante, para suprir a memória; exige frases mais curtas e familiares.
O problema da memória: para alguns autores latinos esta seria a QUINTA parte da Retórica. Para Cícero é uma aptidão natural e não uma técnica. Para Quintiliano, a memória não só é um dom como também algo que se aprende (processos mnemotécnicos). É dominando o discurso que se tem mais condições de improvisar. 
*
Retórica e Cristianismo
Quando as estruturas administrativas do Império desmoronaram, foi a Igreja que se tornou depositária da cultura antiga romana. A Igreja em seu papel missionário e em suas polêmicas, não podia prescindir da retórica, muito menos da língua (grega ou latina). A própria Bíblia é profundamente retórica (metáforas, alegorias, jogos de palavras, antíteses...)
Portanto, o Cristianismo nada tem a ver com o declínio da retórica. Esta desenvolveu-se por toda a literatura profana e de pregação na Idade Média.
*
A fratura grave ocorre com René Descartes: dúvida metódica, âmbito monológico, evidências semelhantes à demonstração matemática...
Em Locke a retórica é a arte da mentira...
O Positivismo rejeita a Retórica em nome da verdade científica...
O romantismo rejeita a retórica em nome da sinceridade...

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