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artigosArtigo Princípio da prestação de contas na Administração Pública 2010 1912011114900

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ALEXANDRA CRISTINA GIACOMET PEZZI 
 
 
A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O PRINCÍPIO DA PRESTAÇÃO DE CONTAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Alegre 
2010 
 
A prestação de contas é o instrumento que permite acompanhar e 
fiscalizar os atos e despesas realizados pelos gestores públicos. 
Ela promove a transparência dos atos administrativos que, como 
sabido, deveriam sempre se pautar pela legalidade, pela impessoalidade, pela 
moralidade, pela eficiência e pela publicidade. O artigo 37, caput, da Constituição 
Federal é expresso nesse sentido. 
Na Constituição Italiana, é de uma beleza quase poética a redação do 
artigo 54: 
54. Tutti i cittadini hanno il dovere di essere fedeli alla Repubblica 
e di osservarne la Costituzione e le leggi. 
I cittadini cui sono affidate funzioni pubbliche hanno il dovere di 
adempierle con disciplina ed onore, prestando giuramento nei casi 
stabiliti dalla legge. 
 
O artigo 97, daquela Constituição estabelece ainda que: 
 
97. I pubblici uffici sono organizzati secondo disposizioni di legge, 
in modo che siano assicurati il buon andamento e l’imparzialità 
dell’amministrazione. 
 
Tais valores constitucionais devem ser concretizados no 
gerenciamento da receita pública, cuja fonte principal é a arrecadação tributária. 
Nesse sentido, a aplicação do montante recolhido a título de impostos 
e de outros tributos deve ser direcionada ao atendimento do interesse público, na 
forma do oferecimento à população de prestações da mais variada ordem: saúde, 
educação, moradia, segurança, etc, integrantes do chamado mínimo existencial.1 
Como se trata de receita pública, nasce, em decorrência, para os 
gestores desses recursos a obrigação de prestar contas na forma da Constituição2 
e da lei, sendo esse o objeto do presente estudo. 
 
1
 Um esboço do conjunto de necessidades básicas integrantes do chamado mínimo existencial foi 
traçado por Ricardo Lobo Torres: “Os direitos à alimentação, saúde e educação, embora não sejam 
originariamente fundamentais, adquirem o status daqueles no que concerne à parcela mínima sem a qual 
o homem não sobrevive. (TORRES, Ricardo Lobo. Os direitos humanos e a tributação – imunidades e 
isonomia. Rio de Janeiro: Renovar, 1995, p. 133). Sobre o mínimo no âmbito da tributação tivemos 
ocasião de discorrer em nosso Dignidade da pessoa humana, mínimo existencial e limites à 
tributação no Estado democrático de Direito, publicado em 2008 pela Editora Juruá e reimpresso em 
2009. 
2
 Conforme o artigo 70, parágrafo único, da Constituição, “Prestará contas qualquer pessoa física ou 
jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e 
valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de 
natureza pecuniária.” 
Quer se trate do presidente da república, dos governadores de 
Estado, dos prefeitos municipais ou dos demais administradores de segundo 
escalão3, existe o dever de prestar contas, pois em jogo a res pubblica. 
Na verdade, 
 
Prestar contas é dever constitucional de qualquer administrador 
público. Como administrador do erário tenho em mente que, além 
de um dever constitucional, prestar contas é um dever moral e 
cívico. 
A palavra administrador traz em si o conceito oposto de 
proprietário, pois indica aquele que gere interesses alheios. A 
honrosa função de administrar bens e recursos públicos traz ínsita 
a idéia de zelo e conservação. Daí correto inferir que os poderes 
normais de um administrador são simplesmente de conservar e 
utilizar os bens e recursos confiados à sua gestão, buscando 
sempre um fim único: o bem comum da coletividade administrada.4 
 
A prestação de contas confere efetividade à forma republicana que, 
segundo alguns autores, constitui uma limitação material implícita a qualquer 
tentativa de reforma constitucional. Consoante Guilherme Peña de Moraes, 
 
[...] duas matérias são também alcançadas pelas limitações 
implícitas, sem prejuízo da imodificabilidade da titularidade do 
poder constituinte, originário e derivado, e do procedimento de 
reforma constitucional, uma limitação material implícita 
corresponde à enumeração das cláusulas pétreas expressas, 
posto que não há a possibilidade de supressão de nenhuma 
limitação material explícita, com o escopo de impedir a aplicação 
da teoria da dupla reforma no ordenamento normativo brasileiro, à 
luz do art. 60, § 4º, da CRFB; outra limitação material implícita 
consiste na forma e sistema de governo, visto que não há a 
possibilidade de substituição da república pela monarquia, bem 
como presidencialismo pelo parlamentarismo, respectivamente, 
após o resultado do plebiscito de 21 de abril de 1993, ao teor dos 
arts. 1º, caput, e 76 da CRFB, bem como art. 2º do ADCT.5 
 
 
3
 A esse respeito vale lembrar o disposto no item XIV do Anexo ao Decreto nº 1171, de 22 de junho de 
1994, que instituiu o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal: 
“XIV - São deveres fundamentais do servidor público: 
[...] 
c) ser probo, reto, leal e justo, demonstrando toda a integridade do seu caráter, escolhendo sempre, 
quando estiver diante de duas opções, a melhor e a mais vantajosa para o bem comum; 
d) jamais retardar qualquer prestação de contas, condição essencial da gestão dos bens, direitos e 
serviços da coletividade a seu cargo”. 
4
 APRESENTAÇÃO DA PRESTAÇÃO DE CONTAS DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE 
RORAIMA. Disponível em: www.tce.rr.gov.br. Acesso em: dezembro 2010. 
5
 MORAES, Guilherme Peña de. Direito Constitucional. Teoria da Constituição. 3. ed. Rio de Janeiro: 
Lumen Juris, 2006, p. 35-36. 
A análise das prestações de contas a que são submetidos os 
administradores públicos é realizada pelos Tribunais de Contas e pelo Poder 
Legislativo, no exercício do controle externo, que para isso contam com o suporte 
dos sistemas de controle interno implantados em cada Poder, órgão, instituição, etc. 
Vale transcrever a esse respeito o disposto nos artigos 71, caput e 
incisos I, II, IV, V, VIII, IX, X e XI, e 74, da Constituição Federal: 
 
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será 
exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual 
compete: 
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da 
República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em 
sessenta dias a contar de seu recebimento; 
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por 
dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e 
indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e 
mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que 
derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que 
resulte prejuízo ao erário público; 
[...] 
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do 
Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e 
auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, 
operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos 
Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades 
referidas no inciso II; 
V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de 
cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta, 
nos termos do tratado constitutivo; 
[...] 
VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa 
ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que 
estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano 
causado ao erário; 
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as 
providências necessárias ao exato cumprimento da lei, se 
verificada ilegalidade; 
X - sustar,se não atendido, a execução do ato impugnado, 
comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado 
Federal; 
XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou 
abusos apurados. 
Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, 
de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade 
de: 
I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, 
a execução dos programas de governo e dos orçamentos da 
União; 
II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à 
eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e 
patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem 
como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito 
privado; 
III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, 
bem como dos direitos e haveres da União; 
IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão 
institucional. 
 
Como deflui dos dispositivos mencionados, as contas do presidente da 
república são “apreciadas”, ao passo em que as apresentadas àquele Tribunal 
pelos administradores e demais responsáveis por “dinheiros”, bens e valores 
públicos são “julgadas”. 
Além de fundamentos constitucionais e doutrinários, cumpre ainda 
mencionar precedentes jurisprudenciais sobre o tema, começando pelo Supremo 
Tribunal Federal: 
MS 25092 / DF - DISTRITO FEDERAL 
MANDADO DE SEGURANÇA 
Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO 
Julgamento: 10/11/2005 Órgão Julgador: Tribunal Pleno 
IMPTE.(S) : ANTONIO JOSÉ DE FARIAS SIMÕES 
ADV.(A/S) : ARLINDO CAMILO DA CUNHA FILHO E 
OUTRO (A/S) 
ADV.(A/S) : LYCURGO LEITE NETO 
IMPDO.(A/S) : TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO 
EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. TRIBUNAL DE 
CONTAS. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA: FISCALIZAÇÃO 
PELO TRIBUNAL DE CONTAS. ADVOGADO EMPREGADO DA 
EMPRESA QUE DEIXA DE APRESENTAR APELAÇÃO EM 
QUESTÃO RUMOROSA. I. - Ao Tribunal de Contas da União 
compete julgar as contas dos administradores e demais 
responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da 
administração direta e indireta, incluídas as fundações e 
sociedades instituídas e mantidas pelo poder público federal, e as 
contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra 
irregularidade de que resulte prejuízo ao erário (CF, art. 71, II; Lei 
8.443, de 1992, art. 1º, I). II. - As empresas públicas e as 
sociedades de economia mista, integrantes da administração 
indireta, estão sujeitas à fiscalização do Tribunal de Contas, não 
obstante os seus servidores estarem sujeitos ao regime celetista. 
III. - Numa ação promovida contra a CHESF, o responsável pelo 
seu acompanhamento em juízo deixa de apelar. O argumento de 
que a não-interposição do recurso ocorreu em virtude de não ter 
havido adequada comunicação da publicação da sentença constitui 
matéria de fato dependente de dilação probatória, o que não é 
possível no processo do mandado de segurança, que pressupõe 
fatos incontroversos. IV. - Mandado de segurança indeferido. 
Decisão 
Preliminarmente, por unanimidade, o Tribunal resolveu a questão 
de ordem formulada pelo Ministro Marco Aurélio, Relator do MS nº 
25.181, e decidiu que o Consultor Jurídico do Tribunal de Contas 
da União pode, em nome deste, sustentar oralmente as razões do 
Tribunal, quando esteja em causa controvérsia acerca da 
competência do Órgão. No mérito, o Tribunal indeferiu o mandado 
de segurança. Votou o Presidente. Decisão unânime. Falaram, 
pelo impetrado, o Dr. Odilon Cavallari de Oliveira, Consultor 
Jurídico do TCU e, pelo Ministério Público Federal, o Dr. Antônio 
Fernando Barros e Silva de Souza, Procurador-Geral da República. 
Ausentes, justificadamente, a Senhora Ministra Ellen Gracie e, 
neste julgamento, o Senhor Ministro Nelson Jobim (Presidente). 
Presidiu o julgamento o Senhor Ministro Sepúlveda Pertence (art. 
37, inc. I do RISTF). Plenário, 10.11.2005. 
 
Outras relevantes decisões foram proferidas pelos Ministros do 
Superior Tribunal de Justiça: 
 
AgRg no Ag 1286719 / RS 
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO 
2010/0046274-4 
Relator(a) 
Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES (1141) 
Órgão Julgador 
T2 - SEGUNDA TURMA 
Data do Julgamento 
21/09/2010 
Data da Publicação/Fonte 
DJe 08/10/2010 
Ementa 
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. TÍTULO 
EXECUTIVO FORMADO NO TCE EM RAZÃO DE 
IRREGULARIDADES NA PRESTAÇÃO DE CONTAS DE 
PREFEITO. PESSOA JURÍDICA QUE MANTÉM A CORTE DE 
CONTAS. 
1. De fato, entendia-se que a legitimidade para executar título 
executivo do Tribunal de Contas que condena Prefeito ao 
pagamento de multa em razão de irregularidades de prestação de 
contas era do Município. 
2. No entanto, a questão foi revista por esta Turma e passou-se a 
considerar que as multas deverão ser revertidas ao Estado ao qual 
a Corte está vinculada, mesmo se aplicadas contra gestor 
municipal. 
3. Dessarte, a legitimidade para ajuizar a ação de cobrança relativa 
ao crédito originado de multa aplicada a gestor municipal por 
Tribunal de Contas é do ente público que mantém a referida Corte 
- in casu, o Estado do Rio Grande do Sul -, que atuará por 
intermédio de sua Procuradoria. 
4. Agravo regimental provido. 
Acórdão 
Vistos, relatados e discutidos esses autos em que são partes as 
acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do 
Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das 
notas taquigráficas, o seguinte resultado de julgamento: 
 "A Turma, por unanimidade, deu provimento ao agravo regimental, 
nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)." Os Srs. 
Ministros Castro Meira, Humberto Martins (Presidente) e Herman 
Benjamin votaram com o Sr. Ministro Relator. 
 
 
REsp 723494 / MG 
RECURSO ESPECIAL 
2005/0019337-2 
Relator(a) 
Ministro HERMAN BENJAMIN (1132) 
Órgão Julgador 
T2 - SEGUNDA TURMA 
Data do Julgamento 
01/09/2009 
Data da Publicação/Fonte 
DJe 08/09/2009 
Ementa 
ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE. 
MAJORAÇÃO ILEGAL DA REMUNERAÇÃO E POSTERIOR 
TRANSFORMAÇÃO EM AJUDA DE CUSTO SEM PRESTAÇÃO 
DE CONTAS. DANO AO ERÁRIO. OBRIGAÇÃO DE RESSARCIR 
O COMBALIDO COFRE MUNICIPAL. RESTABELECIMENTO DAS 
SANÇÕES COMINADAS NA SENTENÇA. 
1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério 
Público do Estado de Minas Gerais contra prefeito, vice-prefeito e 
vereadores do Município de Baependi/MG, eleitos para a 
legislatura de 1997/2000, imputando-lhes improbidade pelas 
seguintes condutas: 
a) edição das Leis 2.047/1998 e 2.048/1999, fixando seus 
subsídios para a mesma legislatura – em contrariedade aos arts. 
29, V, e 37, XI, da Constituição –, sobretudo porque baseados em 
dispositivo da EC 19/98 não regulamentado; e b) edição, num 
segundo momento, da Lei 2.064/1999, que suspendeu as leis 
antes mencionadas e transformou em ajuda de custo os valores 
majorados às suas remunerações, independentemente de 
comprovação de despesas, com vigência até a regulamentação 
pendente. 
2. O Juízo de 1º grau julgou procedente o pedido e declarou a 
inconstitucionalidade incidental e a nulidade das lei municipais, 
condenando os réus a devolverem os valores indevidamente 
recebidos, além de cominar as sanções previstas na Lei 
8.429/1992. 
3. A Corte de origem deu parcial provimento às Apelações dos 
réus para excluir a) a condenação ao ressarcimento e b) a 
cominação de sanções. 
4. A despeito de ter reconhecido que as leis municipais em 
referência foram editadas em contrariedade à orientação do 
Tribunal de Contas do Estado e aos princípios da impessoalidade e 
da moralidade, o acórdão recorrido afastou integral e amplamente 
todas as conseqüências da improbidade por não ter vislumbrado 
má-fé e expressividade nos valores envolvidos. 
5. O entendimento de que inexistiu má-fé é irrelevante in casu, pois 
a configuração dos atos de improbidadepor dano ao Erário e o 
dever de ressarcimento decorrem de conduta dolosa ou culposa, 
de acordo com os arts. 5º e 10 da Lei 8.429/1992. Precedentes do 
STJ. 
6. A edição de leis que implementaram o aumento indevido nas 
próprias remunerações, posteriormente camuflado em ajuda de 
custo desvinculada de prestação de contas, enquadra a conduta 
dos responsáveis – tenham agido com dolo ou culpa – no art. 10 
da Lei 8.429/1992, que censura os atos de improbidade por dano 
ao Erário, sujeitando-os às sanções previstas no art. 12, II, da 
mesma lei. 
7. No próprio acórdão consta que havia manifestações do Tribunal 
de Contas e do STF em sentido contrário à conduta por eles 
adotadas. 
8. A ausência de exorbitância das quantias pagas não afasta a 
configuração da improbidade nem torna legítima sua incorporação 
ao patrimônio dos recorridos. Módicos ou não, os valores 
indevidamente recebidos devem ser devolvidos aos cofres 
públicos. Precedente do STJ. 
9. Cabe lembrar que o valor da majoração excedeu os insuficientes 
recursos existentes, à época, para ações sociais básicas. 
10. A condenação imposta pelo juízo de 1º grau foi afastada à 
míngua de fundamento jurídico válido, devendo ser restabelecida a 
sentença em parte, apenas com readequação da multa civil, por ter 
sido aplicada além do limite previsto no art. 12, II, da supracitada 
lei. 
11. Diante do quadro fático delineado pela instância ordinária 
(transformação do inconstitucional aumento em ajuda de custo 
desvinculada de prestação de contas, em montante que 
ultrapassou a remuneração dos vereadores e quase alcançou a do 
então prefeito, em contraste com o insuficiente orçamento 
existente à época para a realização de ações sociais), é razoável 
fixar a multa em duas vezes o valor do dano. 
12. O ressarcimento ao Erário do valor da majoração 
indevidamente auferida pelos recorridos impõe-se como dívida 
decorrente do prejuízo causado, independentemente das sanções 
propriamente ditas. 
13. Recurso Especial parcialmente provido. 
Acórdão 
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima 
indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior 
Tribunal de Justiça: "A Turma, por unanimidade, deu parcial 
provimento ao recurso, nos termos do voto do(a) Sr(a). 
Ministro(a)-Relator(a)." Os Srs. Ministros Mauro Campbell 
Marques, Eliana Calmon, Castro Meira e Humberto Martins 
votaram com o Sr. Ministro Relator. 
 
 
CC 88899 / MG 
CONFLITO DE COMPETENCIA 
2007/0191751-1 
Relator(a) 
Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA (1128) 
Órgão Julgador 
S3 - TERCEIRA SEÇÃO 
Data do Julgamento 
13/05/2009 
Data da Publicação/Fonte 
DJe 04/06/2009 
Ementa 
PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE 
RESPONSABILIDADE. MALVERSAÇÃO DE VERBAS DO 
FUNDEB. PREFEITO MUNICIPAL. NÃO-COMPLEMENTAÇÃO 
DO FUNDO PELA UNIÃO. NOVA SISTEMÁTICA TRAZIDA PELA 
LEI 11.494/07. PRESTAÇÃO DE CONTAS AO TRIBUNAL DE 
CONTAS DO ESTADO. AUSÊNCIA DE INTERESSE DA UNIÃO. 
INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 208/STJ. COMPETÊNCIA DA 
JUSTIÇA ESTADUAL. 
1. O FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da 
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação 
atende a uma política nacional de educação, sendo regulamentado 
pela Lei 11.494/07, que revogou a Lei 9.424/96 do antigo FUNDEF 
– Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino 
Fundamental e de Valorização do Magistério. 
2. Compete aos Tribunais de Contas da União fiscalizar o 
cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição, que trata do 
sistema de ensino no país, na hipótese de haver complementação 
da União na composição do fundo, conforme dispõe o art. 26, 
inciso III, da Lei 11.494/07. 
3. Não ocorrendo a complementação do Fundo com recursos da 
União, inexiste o seu interesse direto na gestão desses recursos, 
sendo inaplicável a Súmula 208/STJ. 
4. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de 
Direito da Comarca de Porteirinha/MG, ora suscitado. 
Acórdão 
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima 
indicadas, acordam os Ministros da TERCEIRA SEÇÃO do 
Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do conflito 
e declarar competente o Suscitado, Juízo de Direito de Porteirinha 
- MG, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Votaram com o 
Relator a Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura e os Srs. 
Ministros Jorge Mussi, Og Fernandes, Celso Limongi 
(Desembargador convocado do TJ/SP) e Laurita Vaz. 
Ausentes, justificadamente, o Sr. Ministro Felix Fischer e, 
ocasionalmente, os Srs. Ministros Nilson Naves e Napoleão Nunes 
Maia Filho. 
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Paulo Gallotti. 
 
No âmbito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, tem-
se: 
 Agravo de instrumento nº 70034367771 
 RELATOR: Nelson Antônio Monteiro Pacheco 
EMENTA: DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. AGRAVO 
DE INSTRUMENTO. PREFEITO MUNICIPAL DE URUGUAIANA 
NO PERÍODO DE 2001-4. PARECER DESFAVORÁVEL DO TCE 
NO TOCANTE À PRESTAÇÃO DE CONTAS. 
Manutenção pela Câmara Municipal de Vereadores com a rejeição 
da prestação de contas oferecida pelo agravante. Inexistência de 
qualquer ilegalidade ou vício formal no processo administrativo 
perante o Tribunal de Contas do Estado, ou mesmo na fase do 
processo político. Ausência de verossimilhança do direito alegado, 
a impedir a concessão da tutela antecipada. Inelegibilidade 
decorrente da LC-nº 64/90. AGRAVO DE INSTRUMENTO 
IMPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70034367771, Terceira 
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Nelson Antônio 
Monteiro Pacheco, Julgado em 28/10/2010) 
 
TIPO DE 
PROCESSO:
Apelação 
Cível 
NÚMERO: 
 70031053929 
RELATOR: Matilde Chabar Maia 
 
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. PRESTAÇÃO DE CONTAS. 
PREFEITA MUNICIPAL. MUNICÍPIO DE BOA VISTA DO 
CADEADO. AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO. - Ilegitimidade 
passiva do Município declarada de ofício. A Câmara Municipal 
possui legitimidade ad processum quando em defesa de suas 
prerrogativas institucionais, caso dos autos. Precedentes. - O 
controle externo das contas municipais realizado pela Câmara de 
Vereadores com o auxílio do Tribunal de Contas (art. 31 da 
Constituição Federal) não pode ser exercido de modo abusivo e 
arbitrário, devendo assegurar, ainda que se trate de procedimento 
político-administrativo, as garantias do due process of law. -
Rejeição das contas que se apresenta abusiva na casuística. 
Desconstituição dos Decretos Legislativos nºs 12/2005, 13/2005, 
14/2005 e 19/2007. - No caso dos autos a prova da omissão 
quanto à obediência do devido processo legal é o que basta para o 
acolhimento do pedido. A existência de ato ímprobo deve ser 
provada na ação civil pública ajuizada para tal fim, sendo 
desnecessária a realização de prova pericial neste feito. DE 
OFÍCIO, DECLARARAM A ILEGITIMIDADE PASSIVA DO 
MUNICÍPIO E, NO MÉRITO, NEGARAM PROVIMENTO À 
APELAÇÃO. (Apelação Cível Nº 70031053929, Terceira Câmara 
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Matilde Chabar Maia, 
Julgado em 22/04/2010) 
 
 
CONCLUSÃO 
 
O princípio da prestação de contas é um vetor para a Administração 
Pública, em todas as suas esferas organizacionais. 
É o meio jurídico e também político-social de controle do emprego do 
dinheiro público. 
Em um Estado republicano, deveria ser mais do que natural “que cada 
governo eleito divulgasse suas metas concretas por setor e, periodicamente, 
prestasse contas do que foi feito, do que não pôde ser feito e das razões para tanto, 
sobretudo em um sistema, como o brasileiro, que admite a reeleição dos Chefes do 
Executivo”.6 
 
 
 
 
 
 
6
 BARCELLOS, Ana Paula de. Constitucionalização das políticas públicas em matéria de direitos 
fundamentais: o controle político-sociale o controle jurídico no espaço democrático. In: SARLET, Ingo 
Wolfgang; TIMM, Luciano Benetti (org.). Direitos fundamentais. Orçamento e “reserva do possível”. 
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, p. 135.

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