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Análise sobre Ser e Conhecer

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 
UFU 
 
 
 
ISADORA GARCIA FONSECA SANT’ANNA 
11321PSI042 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Estudo da Fenomenologia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Uberlândia 
2014 
 
Em seu seminário de Filosofia que foi realizado no Rio de Janeiro em 1997, Olavo de 
Carvalho, um importantíssimo jornalista que realiza com frequência conferencias acerca 
de Filosofia, discursa sobre a fenomenologia e seus principais conceitos e métodos. 
Nesse trabalho serão exploradas seis ideias abordadas por ele durante seu seminário. 
 
 O que é a fenomenologia? 
A fenomenologia, método de investigação filosófico fundado por Edmund Husserl afirma 
a importância dos fenômenos da consciência e se interessa pela descrição desses 
fenômenos no sentido puramente cognitivo ao invés de ser estudado no sentido 
psicológico que deixa de fora o objeto do conhecimento, ele dizia que quando um objeto 
era estudado como um fato isolado as leis construídas a partir dele só eram validas para 
uma determinada realidade e as descobertas nesse método eram apenas “verdades 
provisórias” . A fenomenologia por outro lado se preocupa em estudar a essência das 
coisas para tentar evitar que a verdade filosófica fosse provisória. 
Esse método também tenta entender como funciona o conhecer e a aprendizagem, como 
nos humanos associamos palavras a objetos e como funciona o nível de generalização que 
permite perceber que objetos diferentes que possuem características parecidas podem ter 
o mesmo nome. Em suma, tenta entender como você associa uma essência a um valor de 
juízo. 
Por exemplo, como descrever este gato? Como é que você ao vê-lo, 
sabe que é um gato? O que se passa precisamente neste ato de 
conhecimento? O que é que está subentendido nesse reconhecimento, 
pelo qual podemos dar a um fenômeno particular o nome de uma 
essência geral? (CARVALHO, Olavo de, 1997) 
 
Outra importante diferença entre o estudo psicológico e o cognitivo é que enquanto o 
estudo cognitivo é primário porque se preocupa em estudar a essência do objeto e 
entender aquela essência, o estudo psicológico é secundário e não é fundamental na 
medida em que qualquer tipo de tentativa em se explicar um estado psicológico vem do 
pressuposto de se ter conhecimento do que se fala, conhecimento das essências sem 
entender como é que se chegou no conhecimento daquilo, porque essa é a preocupação 
da fenomenologia. 
 
Dito de outra forma, a fenomenologia se ocupa da pergunta: “o que é?”, 
quid est?, independentemente de saber se o objeto que se investiga 
“existe” ou “não existe”. (CARVALHO, Olavo de, 1997) 
 
Também é muito importante ressaltar que para a fenomenologia a descrição dos 
detalhes é a mais importante na parte da investigação em busca das essências pois cada 
um sente de maneira distinta e uma rica descrição de detalhes é valiosíssima pois tenta 
entender como cada um reage a fenômenos diferentes e como surgem as generalizações 
desses fenômenos. 
 
Colocando de outra forma, a fenomenologia se preocupa em abrir o 
intuitivo e mostrar o que há dentro dele, ou de outra forma ainda. Em 
descrever o conteúdo da intuição e não apenas se referir 
simbolicamente a ele (CARVALHO, Olavo de, 1997) 
 
Em minha opinião esse método chamado fenomenologia possui validade. A essência das 
coisas deve sim ser estudada pois mais do que entender o que é o estado psicológico de 
uma emoção, devemos saber descrever esses fenômenos em si mesmos, sem levar em 
conta as definições psicológicas desenvolvidas para explicar esses atos e desconsiderar 
qualquer noção que se baseia em um conteúdo prévio para explicar um fenômeno. Essa é 
a parte mais complicada para aqueles que utilizam o estudo cognitivo mas é também a 
mais importante pois a partir dela se entende um fenômeno de uma maneira mais precisa 
do que quando você utiliza atributos para classifica-lo e causa um nível de generalização 
que acaba classificando coisas diferentes como sendo pertencentes a mesma classe. 
 
 
O ser e o conhecer: 
A ideia mais importante abordada por Olavo de Carvalho em seu seminário é a sua 
perspectiva em relação ao ser e ao conhecer. Ele afirma que o conhecer é na realidade 
uma troca de informação entre o objeto que estamos tomando conhecimento e nós, na 
medida que esse objeto me envia uma informação e eu também envio informações ao 
objeto. 
 
 O conhecer se passa no sujeito e no objeto ao mesmo tempo; o objeto 
não é fisicamente alterado pelo ato, mas ele participa do processo. 
(CARVALHO, Olavo de, 1997) 
 
De acordo com essa perspectiva algo só é real se admite que outros seres tenham 
conhecimento de sua presença, de sua essência e é dessa possibilidade de conhecer e ser 
conhecido que determina aqueles que são ou não reais e portanto a realidade não é nem 
subjetiva nem objetiva, na verdade ela é a capacidade de se desdobrar nesses dois 
aspectos. 
Partindo desse pressuposto a ideia das coisas-em-si de Kant que afirma que existem coisas 
que não podem ser experimentadas pelos seres humanos pois não podem ser intuídas é 
absurda pois um objeto só é real se ele consegue passar uma informação a alguém. 
 
 Coisa é aquilo que tem a capacidade de ser fenômeno; se não a tem, 
não pode se mostrar de maneira alguma para ninguém, e não pode, 
portanto, transmitir nenhuma informação de si a qualquer outro ser 
(...) Quantos seres podem atender a esse requisito? Só o nada. Logo, a 
noção de coisa-em-si corresponde exatamente ao nada. 
(CARVALHO, Olavo de, 1997) 
 
Isso torna claro que para algo existir, esse algo deve conseguir transmitir uma informação 
a um outro objeto ou individuo, indicando sua existência. O que importa para a 
fenomenologia não é o objeto em si, como afirmava Kant mas o modo como esse objeto 
se apresenta. Por exemplo um caderno. Quando vejo o caderno eu o reconheço como 
sendo um caderno mas este não consegue me reconhecer. Porque faz parte da minha 
essência reconhecer um caderno e não faz parte dela, ser capaz de me fazer ser notada por 
esse objeto em especifico. 
 
O que interessa não é o “gato-em-si”, mas a presença do gato, aquilo 
que aparece e que aparece e que se faz reconhecer como gato. Essa é a 
essência do gato. Esse é o em-si do gato, que consiste em aparecer 
como gato para quem seja capaz de percebe-lo como gato. 
(CARVALHO, Olavo de, 1997) 
 
Além de afirmar que existem coisas que não podemos conhecer, Kant afirma que recebemos do 
mundo apenas informações caóticas, que nós, ordenamos nas formas de tempo e espaço o que 
quer dizer que um objeto caótico me dá uma informação e eu o coloco dentro de um tempo e de 
um lugar. Do ponto de vista da fenomenologia isto está equivocado pois o objeto se apresenta 
para nós e nós apenas recebemos a informação, nós não a ordenamos. Dentro essência do objeto 
inclui-se o tempo e o espaço no qual ele está inserido e sem esses fatores, o objeto perde sua 
essência e portanto deixa de ser. 
 
O que significa que não existe nada cujo modo de apresentação seja 
falso, ou que seja apenas uma aparência em relação a essência, porque 
o modo de apresentação é a própria essência. 
(CARVALHO, Olavo de, 1997) 
 
 
Níveis de Realidade 
Como já foi dito anteriormente todos os objetos tem a capacidade de transmitir uma 
informação, apesar de se diferirem na maneira com que isso é feito. Mas aquilo de difere 
o ser humano dos outros animais é que ele reflete ou tem a habilidade de refletir a 
informação que recebe, tendo consciência de que a recebe. Esse tipo de consciência 
apenas os humanos possuem e é isso que nos diferenciadas demais criaturas que habitam 
a Terra. 
Logo, além do conhecimento que recebemos da pedra, recebemos 
também um conhecimento a nosso respeito, que é o conhecimento de 
que recebemos o conhecimento da pedra. Este segundo momento, que 
existe apenas para os humanos, constitui a diferença humana. 
(CARVALHO, Olavo de, 1997) 
 
A partir disso Olavo de Carvalho conclui que se conseguir emitir e receber informações 
é aquilo que nos faz sermos reais, então aqueles que emitem e recebem informações em 
relação a si mesmos são mais reais do que aqueles que tem menos informação. 
 
Ora, se a verdadeira presença dos objetos consiste em emitir e receber 
informação, então aquele que acumula mais informação emitida, 
recebida e processada de si para si é mais real. Tem uma dose maior 
de realidade porque tem uma dose maior de circulação de 
informações, mais contato entre as partes e o todo, entre o centro e a 
periferia. (CARVALHO, Olavo de, 1997) 
 
Na minha opinião esse é um pensamento perigoso na medida que pode ser utilizado como 
justificativa para fins nefastos. Alguém pode chegar à conclusão de que se aqueles que 
tem mais conhecimento são mais reais dos que tem menos conhecimento, as pessoas 
“mais reais” merecem maiores benefícios e até mesmo tem mais direito do que as pessoas 
“menos reais”. Não obstante, isso poderia ser utilizado até mesmo como uma tentativa de 
provar que existe uma etnia mais real do que as outras e que eles merecessem dominar o 
mundo por ter mais direitos sobre ele. 
Se esse tipo de pensamento for lido por alguém com baixo cunho moral e sem ética pode 
se tornar uma justificativa para o preconceito, o etnocentrismo e a marginalização, assim 
como aconteceu com várias outras ideologias de cunho cientifico que em sua descoberta, 
só visavam o bem da ciência, como foi o caso do evolucionismo de Darwin que algum 
tempo depois serviu de base para a criação do Darwinismo Social. 
 
 
Conhecimento do Universo 
O Universo, por abranger tudo e todas as criaturas seria então de acordo com a 
fenomenologia o centro de toda a informação e a máxima realidade uma vez que todas as 
informações contidas nele são informações a respeito de si próprio. 
O que significa dizer que o universo tem conhecimento a respeito de si, se conhece. 
A hipótese materialista de que existem coisas de que apenas os homens tem conhecimento 
se torna absurda ao passo que o universo como centro de informações abriga todas as 
coisas e todas as essências portanto se eu faço parte dele, meu conhecimento é um 
conhecimento do universo. O que quebra com o discurso de muitos cientistas que afirmam 
estarem tentando desvendar os mistérios do universo como ele fosse misterioso para si 
próprio. 
 
Mas se só nós as conhecemos (possibilidade transcendente), ela é 
conhecida, ainda que apenas em nós. Teríamos então o conhecimento 
desta possibilidade, sem a possibilidade de realiza-lo. O universo teria 
a possibilidade e não poderia conhece-la, havendo dentro dele quem a 
conhecesse sem ter a possiblidade de realiza-la. 
(CARVALHO, Olavo de, 1997) 
 
Essa foi a fala que mais chamou minha atenção e foi também uma das mais 
interessantes porque realmente, o universo é um conjunto das coisas que nele existem, e 
portanto se eu existo, o que eu conheço necessariamente tem que ser conhecido pelo 
universo, porque eu faço parte desse conjunto. O que não necessariamente implica que 
eu tenha a possibilidade de realizar tudo aquilo que eu conheço. Mas o universo ele tem 
essa possibilidade e esse conhecimento e mesmo que tenha partes que não estejam 
realizadas ainda, seria contraditório dizer que ele não se conhece. 
 
A noção de Deus 
 
Olavo de Carvalho afirma que a existência de Deus é inegável, ela é o Universo e faz 
parte do mesmo, está em todos os aspectos e irrefutavelmente, se conhece. 
Ele também reafirma a noção de que Deus é transcendente (completamente fora dos 
limites cósmicos) mas alegando que ele também está dentro do universo 
 
Ora, é claro que ele é um aspecto do Universo que não pode se reduzir 
a nenhuma de suas partes e que é de certa forma transcendente a si 
mesmo, porque inclui toda a possibilidade ainda não realizada no 
universo físico (CARVALHO, Olavo de, 1997) 
 
Essa noção parece um pouco confusa a princípio na medida que afirma que ao mesmo 
tempo que Deus está em todas as coisas, ele também transcende a si mesmo. Mas a noção 
de um Deus que está em todas as coisas é mais do que percebível a medida em que somos 
todos parte de um conjunto e todos nós temos conhecimento. Existindo algo que tenha 
uma parte sua em todas as coisas só pode-se supor que ele saiba de todas as coisas e tenha 
conhecimento de tudo. Mas a parte transcendente de Deus se torna clara a medida que se 
pensa em todas as possibilidades ainda existentes no Universo e que ainda não foram 
realizadas. Se existe essa possibilidade obviamente deve-se existir um conhecimento para 
aquilo, que não está em ninguém mais do que no próprio Deus porque ainda não 
aconteceu o fenômeno. Se você consegue entender dessa maneira então a ideia proposta 
por Olavo se torna uma verdade. 
 
A falsa ideia do “Puro Observador” 
Muitos cientistas acreditam que o método cientifico é o único correto e que se a pesquisa 
for realizada de outra maneira ela não terá validade. O problema é que eles acreditam que 
o objeto de estudo de ser analisado pelo lado de fora, sem ter qualquer tipo de relação 
com o objeto mas eles não percebem que essa noção que eles postulam está equivocada 
pois não há uma maneira de você conhecer algo sem se relacionar porque o conhecimento 
vem justamente dessa relação entre o objeto e o sujeito. 
 
A ideia do “puro observador” é uma contradição, porque sem relação 
não há conhecimento. O conhecimento é a relação, e esta relação, 
entendida não como junção posterior de termos já dados, mas como 
reciprocidade necessária de termos coexistentes, é a estrutura mesma 
do ser, que consiste em autoconsciência e nada mais, 
independentemente de questões inócuas como a de saber se é material 
ou mental. (CARVALHO, Olavo de, 1997) 
 
 
Eu compreendo a falha existente dentro do método cientifico ao passo que ele cria 
verdades provisórias que estão passiveis de modificações ou até mesmo de total refutação 
mas penso eu que todos os métodos têm esse defeito de não serem verdades absolutas. 
Por diversos motivos que vão desde de a má índole do pesquisador de alterar os dados até 
o fato de que, quando se leva em consideração que lidamos com uma ciência social que 
estuda o ser humano, temos que saber que a maneira como as pessoas vem o mundo e 
lidam com ele diferem tanto de país em país quanto de anos em anos. Pois estamos em 
constante mudança tanto de mentalidade e a história reflete muito bem essa mentalidade. 
Por exemplo durante a baixa Idade Média, muitas pessoas eram internadas em hospícios 
porque queriam arrecadar riquezas de maneira “desenfreada”. Considerava-se aquilo 
como sendo uma doença, porque entendia-se que era algo patológico e hoje em dia, no 
capitalismo a mentalidade de arrecadar dinheiro não só não é condenável como ao 
contrário, ela é incentivada. 
Isso significa dizer que nas ciências humanas, nenhuma verdade é irrefutável e o método 
cientifico ainda é um dos mais aceitos para o estudo do homem, apesar de estar longe de 
ser perfeito. 
 
 
 
Considerações Finais 
Acho que a ideia apresentada por Olavo de Carvalho em seu seminário, é, como um todo, 
valida e aceitável. Tendo sido meu primeiro contato com a Fenomenologia não posso 
afirmar de fato que concordo plenamente com o que ela postula, mas de todas as ideias 
apresentadas porOlavo a única da que discordo é a ideia de que existem pessoas mais 
reais do que outras, por motivos já explicados anteriormente. 
As outras ideias apresentadas como a noção de Deus e do conhecimento do Universo 
foram as que mais chamaram a minha atenção e as mais interessantes ao meu ver porque 
afirmar que não existe um conhecimento no mundo que só nós podemos conhecer, que é 
um dos maiores pensamentos dos humanos e um dos mais errôneos. Nosso 
antropocentrismo não nos faz enxergar que é impossível que conheçamos algo sobre o 
Universo que ele desconheça, uma vez que eu faço parte dele e ele tem meus 
conhecimentos. 
Também, a noção de que o conhecer é uma relação entre o sujeito e o objeto é de fato 
cabível no sentido que, quando um objeto se apresenta para mim, ele tem sua essência e 
suas propriedades, e eu tenho capacidade para compreende-lo, mesmo que a priori eu não 
o entenda. 
 A respeito das outras ideias, já dei minha opinião a respeito de cada uma delas, mas em 
geral, a Fenomenologia me chamou a atenção por suas noções diferentes daquelas que 
antes eu tive contato e posso afirmar que, ainda vou procurar me informar mais a 
respeito desse método para tentar entende-lo de uma maneira melhor. 
 
Referências bibliográficas 
 
Olavo de Carvalho, Ser e conhecer. Disponível em: 
<http://www.olavodecarvalho.org/apostilas/serconhecer.htm> Acesso em 05 de julho de 2014 
Rubem Queiroz Cobra, Fenomenologia – I. Disponível em: 
<http://www.cobra.pages.nom.br/ftm-fenomeno.html> Acesso em 02 de julho de 2014 
Wikipédia, Transcendência (Filosofia). Disponível em: 
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Transcend%C3%AAncia_%28filosofia%29> Acesso em 
05 de julho de 2014

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