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Texto 01 - Teoria clássica do comércio internacional

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MERCANTILISMO
INTRODUÇÃO
As trocas à longa distância bem como os centros de intercâmbio comercial, na Europa existiram desde épocas anteriores ao período em que se inicia o verdadeiro movimento de expansão européia, através dos Oceanos Indico e Atlântico, em direção ao hemisfério Sul. Pode-se apresentar, como exemplos, Hamwic (Southampton - Grã Bretanha), onde foram encontrados vestígios do século VIII de ferro, bronze, mós, vidros e cerâmicas, bem como de moedas com origens em França, Escandinávia e Alemanha, ou Antuérpia, que no século XV já era um importante centro distribuidor de pedras preciosas, que eram ali polidas e cujas origens situavam-se nas mais variadas partes do mundo. Eram zircões, rubis e safiras, que vinham do Ceilão; lapis lazuli , do Afeganistão; da Boêmia , granadas; da Tchecoslováquia, opalas; da Península do Sinai e da Pérsia, turquezas, e assim por diante. 
É, no entanto, apenas a partir da descoberta e exploração das minas de ouro e prata do Novo Mundo, aliados à integração da Índia e de áreas do Sudoeste Asiático às economias européias, que se pode falar da emergência de uma economia internacional pré-moderna, integrada pela prática de preços mundiais, interdependentes e relacionados entre si, através do ouro. É o ouro, que do conjunto das mercadorias então existentes, presta-se com maior perfeição aos papéis de medida de valor, padrão de preços, meio de circulação, de acumulação e de equivalente, universalmente aceito. A moeda de ouro acaba por transformar todas as outras moedas existentes então, em meras figuras de representação do seu valor. E, neste contexto, o papel do ouro é desempenhado com tanta perfeição que a partir da utilização regular deste metal ele passa a comandar todos os objetivos econômicos e, é tão grande o seu esplendor que os mercantilistas, por exemplo, na sua generalidade, pensam no ouro como o objetivo último das atividades econômicas das Nações, considerando-o, desta forma, a única fonte de riqueza. 
A expansão européia iniciada no século XVI, mesmo que tenha sido objetivada pela procura de novos espaços para produção de alimentos, como afirmam alguns historiadores, foi animada pelo desejo de enriquecimento aliado à curiosidade e espírito de aventura dos homens da época, e, simultaneamente, inspirada na propagação da fé cristã. Este movimento, objetivamente, abriu uma nova era para as sociedades humanas, em que pese à dúvida sobre a maior ou menor consciência deste feito, permitindo a intensificação do intercâmbio de produtos e possibilitando outras formas de relações econômicas entre os povos. E, neste aspecto, com certeza Portugal protagonista da modernidade, foi um dos pioneiros desta nova era.
Discute-se a maior ou menor racionalidade da decisão de expansão Atlântica por parte dos portugueses, mas é inegável que motivos econômicos - acumulação - e motivos religiosos - cristianização - estiveram sempre lado a lado, como duas faces de uma mesma moeda. Estes dois elementos presentes no ato colonizador, podem ser pensados como uma necessidade histórica e parte da estratégia de consolidação do Estado Nacional Português. Nesta perspectiva, torna-se impensável a ação do Estado sem a Igreja e vice-versa. 
MERCANTILISMO 
O Mercantilismo é uma doutrina de pensamento econômico que prevaleceu na Europa durante os séculos XVI, XVII e XVIII e que estabelecia que o Estado devesse exercer um controle férreo sobre a indústria e o comércio para aumentar o poder da nação em lograr que as exportações superassem o valor das importações. O mercantilismo não era na realidade uma doutrina formal e consistente, senão um conjunto de firmes crenças, entre as quais cabe destacar a idéia de que era preferível exportar a terceiros a importar bens ou comerciar dentro do próprio país; a convicção de que a riqueza de uma nação dependia, sobretudo, da acumulação de ouro e prata; e o suposto de que a intervenção pública na economia era justificada e estava voltado lograr os objetivos anteriores. Os princípios mercantilistas sobre política econômica se desenvolveram com a aparição das modernas nações – Estado as quais requeriam burocratas para administrá-las e comerciantes para financiá-las, constituindo estes dois grupos sua base social. Tinha-se tentado suprimir as barreiras internas ao comércio estabelecidas na idade média, que permitiam cobrar tributo aos bens com a imposição de tarifas em cada cidade ou cada rio que se atravessava. Fomentou-se o crescimento das indústrias porque estas permitiam aos governos obter receitas mediante a cobrança de impostos que por sua vez permitiam custear os gastos militares. Da mesma forma a exploração das colônias era um método considerado legítimo para obterem-se metais preciosos e matérias primas para suas indústrias.
O mercantilismo teve grande êxito ao estimular o crescimento da indústria, mas também provocou fortes reações contra seus postulados. A utilização das colônias como provedoras de recursos e sua exclusão dos circuitos comerciais deram lugar, entre outras razões, a acontecimentos como a guerra da independência americana, porque os colonos pretendiam obter com liberdade seu próprio bem-estar econômico. Ao mesmo tempo, as indústrias europeias que se haviam desenvolvido com o sistema mercantilista cresceram o suficiente para poder funcionar sem a proteção do Estado. Pouco a pouco se foi desenvolvendo a doutrina do livrecambismo. Os economistas afirmavam que a regulamentação governamental somente se podia justificar se estava dirigida a assegurar o livre mercado, já que a riqueza nacional era a soma de todas as riquezas individuais e o bem-estar de todos se podiam alcançar com mais facilidade se os indivíduos pudessem buscar seu próprio beneficio sem limitações. Esta nova concepção se refletia, sobretudo no livro "A riqueza das nações" (1776) de Adam Smith.
O sistema de livrecambismo, que prevaleceu durante o século XIX, começou a perder força em princípios do século XX, ao substituírem-se os elementos filosóficos do mercantilismo o que originou o neomercantilismo. Voltou-se a impor restrições às importações, por razões políticas e estratégicas e se fomentou a autarquia econômica como sistema contraposto à interdependência comercial dos países. Esta tendência voltou a cambiar de direção mais tarde, mas foi associada com o nacionalismo e a competição estratégica entre os países que provocaram, entre outras causas, a I Guerra Mundial, demostrando desta forma que o mercantilismo tinha uma forte base política.
AS IDEIAS MERCANTILISTAS
O pensamento mercantilista pode ser sintetizado através das nove regras de Von Hornick: 
Que cada polegada do chão de um país seja utilizada para a agricultura, a mineração ou as manufaturas. 
Que todas as matérias-primas que se encontrem num país sejam utilizadas nas manufaturas nacionais, porque os bens acabados têm um valor maior que as matérias-primas 
Que seja fomentada uma população grande e trabalhadora. 
Que sejam proibidas todas as exportações de ouro e prata e que todo o dinheiro nacional seja mantido em circulação. 
Que seja obstaculizado tanto quanto for possível todas as importações de bens estrangeiros 
Que onde sejam indispensáveis determinadas importações devam ser obtidas em troca de outros bens nacionais, e não de ouro e prata. 
Que na medida que for possível, as importações sejam limitadas às matérias-primas que possam acabar-se no país. 
Que sejam procuradas constantemente as oportunidades para vender o excedente de manufaturas de um país aos estrangeiros, na medida necessária, em troca de ouro e prata. 
Que não seja permitida nenhuma importação se os bens que se importam existissem suficiente e adequadamente no país. 
Época: XVI- XVIII
Países
Grã- Bretanha
Holanda
França
Portugal
Espanha
Obs.: Uma colônia não pode ser mercantilista, ela vai sofrer o mercantilismo.
Conceito: É uma política econômica adotada pelos Estados modernos com dupla finalidade:
Fortalecer o Estado – Nação ( o Estado ter mais terras, maisdinheiro, mais negócios, mais poder, mais influência);
Enriquecer a burguesia nacional.
Práticas
Exclusivo Comercial
A colônia comercializava exclusivamente com a Metrópole (Monopólio);
O Estado formou a economia privilegiando a burguesia;
O exclusivo comercial na colônia do Brasil foi quebrado pelo tráfico negreiro e pela pirataria;
A colônia do Brasil fornecia ao reino luso produtos tropicais e minérios, e fornecia as colônias portuguesas na África fumo, farinha, mandioca e rapadura, Portugal fornecia ao Brasil e as colônias africanas produtos manufaturados ( como azeite, sal, tecidos, vinho) e as colônias africanas forneciam ao Brasil a mão-de-obra escrava. 
Sistema Colonial
Metrópole ↔ Colônia, Portugal tinha déficit com a Inglaterra e descontava no Brasil, explorando ao máximo a colônia;
Colônia complementa a economia da metrópole
Metalismo
Metalismo é a prática dos países mercantilistas em reter e conseguir a maior quantidade de ouro e metais preciosos possíveis para o seu Estado;
Espanha: → séc. XVI – século do ouro.
Portugal: → séc. XVIII – século do ouro.
Estímulo ao crescimento demográfico
Mercado: é o fator econômico, tem mais consumidor, terá mais produtores, venderá mais, a mão-de-obra será mais barata, ganhar-se-á mais dinheiro;
Estratégico: quanto maior a população maior a vantagem nas guerras, tinha maior exército ( especialidades: Batalha terrestre: França e Batalha Naval: Inglaterra)
Igreja e Estado eram unidos, e a Igreja pregava a monogamia e a reprodução contínua, isso influenciava no inconsciente popular e ajudava no crescimento demográfico.
Guerras contra os Estados mais ricos
Industrialismo
Produz, por exemplo, têxteis para se evitar a importação desse produto e assim exportar mais do que importar para não ficar em déficit e reter a maior quantidade de ouro possível no país (metalismo).
Busca da Balança Comercial Favorável
Déficit X Superávit;
Para se mantiver a balança comercial favorável o Estado Mercantilista deve exportar mais do que importar (superávit) e não importar mais do que exportar (déficit).
TIPOS DE MERCANTILISMO
Apesar de nunca ter-se constituído num conjunto doutrinário perfeito e coerente, o mercantilismo apresentou uma série de características comuns, assentadas na noção de superávit da balança comercial, de monopólio, de protecionismo e de sistema colonial. Evidentemente, a prática mercantilista variou de país para país, de acordo com as condições locais, que deram origens a variados tipos de mercantilismo. O elemento estratégico dessa variação foi a posse ou não de colônias, e o tipo especifico dessas colônias: se eram colônias fornecedoras de metais preciosos ou especiarias ou simples colônias de povoamento.
A forma clássica de mercantilismo, o bulionismo (metalismo), foi praticado pelos espanhóis. Senhores que eram de colônias produtoras de metais preciosos na América, os espanhóis podiam importar todos os alimentos e artigos manufaturados que desejassem dos países estrangeiros, porque sua balança comercial sempre seria favorável, na medida cm que tinhas as minas produtoras de metais. Tal procedimento foi, em longo prazo, desastroso para a economia da Espanha, pois desestimulou a produção agrícola e industrial. O país explorou suas colônias, mas não se beneficiou dessa exploração, e transferiu as vantagens para outros paises, que se organizaram para extrair os metais da Espanha através do comércio.
A economia francesa ajustou-se, de certa forma, á economia espanhola, desenvolvendo suas manufaturas de luxo para acender o mercado sofisticado existente na Espanha, e expandido suas companhias de comércio e a construção naval. A política industrialista francesa passou a ser identificado como Colbert, o ministro que mais a estimulou; daí o colbertismo ser sinônimo de mercantilismo industrial.
Na Inglaterra, país sem um grande império colonial e sem capacidade de competição com a indústria francesa de luxo - de antiga tradição -, desenvolveu-se o mercantilismo comercial. Este consistia no desenvolvimento da idéia de comprar mais barato e vender mais caro, de ganhar no frete, de estimular a indústria de construção naval e, principalmente, de formar grandes companhias de comércio, privilegiadas pelo Estado, tais como a famosa Companhia Inglesa das Índias Orientais, os Mercadores Aventureiros, a Companhia da Moscóvia, a Companhia do Levante e outras mais. Após a Revolução Inglesa do século XVII, as práticas monopolistas internas foram destruídas, mas foram reforçadas no plano externo através dos Atos de Navegação.
Nas Províncias Unidas - Holanda - desenvolveu-se um tipo diferente de mercantilismo comercial e industrial. Os holandeses ampliaram a indústria naval, assumiram quase por completo o tráfico marítimo internacional no século XVI, formaram poderosas companhias de comércio e construíram um grande centro financeiro em Amsterdã. As numerosas refinarias de açúcar de Antuérpia deram à Holanda o monopólio de distribuição do açúcar no norte da Europa. As companhias de navegação, apoiada pelo Estado - com qual praticamente se confundiam - e pelo Banco de Amsterdã - criado para financiá-las -, garantiam a forca operacional necessária para dominar os mercados orientais de especiarias. A Companhia das Índias Orientais, criada cm 1602, teve tal êxito que logo se multiplicaram em toda a Europa exemplos similares, principalmente na Inglaterra.
Na Alemanha, á falta de um Estado unificado para conduzir a política econômica, as ligas das cidades mercantis organizaram-se com o objetivo de proteger seu comércio marítimo, agindo como intermediárias, sobretudo no comércio de cereais da Europa Oriental para o Ocidente. Era o chamado mercantilismo cameralista alemão.
Entre todos os países que aplicaram essa política, Portugal foi aquele que o fez com maior sensibilidade prática. No século XVI, com o descobrimento do caminho marítimo para as Índias, pós em prática o mercantilismo comercial, comprando as especiarias no Oriente e revendendo-as em Lisboa. Com o aumento da concorrência nas Índias e o declínio da lucratividade concentrou sua atenção no Brasil, onde foi pioneiro no mercantilismo de economia. O Estado é que definia quem poderia ser o dono de uma manufatura, onde, como e o quê ela produzia. Quase não existia a livre concorrência. O burguês interessado em abrir um negócio comprava do Estado a autorização para isso. Em compensação, este burguês possuiria o monopólio daquele tipo de negócio, pois o Estado não venderia o mesmo direito a outro burguês. Bom para investidor, que se livrava dos concorrentes, bom para o Estado, que aumentava a riqueza ao vender direitos de monopólio.
O controle que o estado exercia sobre a produção, criando regulamentos e limites aos negócios da burguesia, tinha origem nas leis criadas pelas autoridades das leis medievais. Esse controle visava a assegurar a qualidade e os preços dos produtos, protegendo os ofícios urbanos. O ideal mercantilista era estender esse controle sob a economia da nação inteira. Assim, por exemplo, era o Estado que determinava o tipo de tecido a serem produzidos, suas cores e padrões, o preço e a quantidade. Naquela época, isso ajudou a desenvolver as manufaturas. Mais tarde, no século XVIII, a burguesia precisava se livrar das amarras mercantilistas.
Os mercantilistas davam grande importância ás manufaturas de luxo, pois acreditavam que esses produtos, de preço mais alto, proporcionariam mais riqueza. E bom não esquecer que o mercado consumidor da época praticamente se limitava aos nobres e burgueses, consumidores de tecidos finos, especiarias orientais, perfumes exóticos, vinhos porcelanas, jóias escarradeiras de ouro.
Outro caminho para o Estado ter o que exportava era através da expansão marítima e colonial. Quando, a partir do século XV, os europeus começaram as grandes navegações, contornando a África e chegando ao Oriente, buscavam produtos que poderiam ser vendidos na Europa, gerando grandes lucros. A colonização da América tambémestava ligada a esse objetivo mercantilista de exportar o máximo possível: a colônia deveria oferecer á metrópole (isto é, ao país europeu colonizador) produtos que seriam vendidos para outras nações. Para negociar com a colônia, os mercadores se uniam e formavam as companhias de comércio, que pagavam ao rei o direito ao monopólio de comércio colonial.
O mercantilismo encarava a agricultura como uma espécie de prima pobre. É claro que a autossuficiência na produção de alimentos evitaria importações e revoltas populares, e que as produções de matérias-primas vegetais melhoraria a balança comercial. Mas havia um problema que tirava o sono do rei: a imprevisibilidade da natureza. Ou seja, o Estado não era capaz de conceder os monopólios sobre as geadas nem em regulamentar a produção e chuvas ou atirar São Pedro numa masmorra imunda debaixo de pontapés no traseiro. Por causa disso, a agricultura não recebia tanta atenção do Estado como a colonização, o comércio e as manufaturas.
Outro objetivo mercantilista era o de aumentar a população. Acreditava-se que, quanto maior fosse a população de um país, mais gente estaria trabalhando nas manufaturas, além de servir ao exército e á marinha. Por isso mesmo, houve uma época em que até se proibiu a ida de muita gente ás colônias. Restava um problema: como estimular o crescimento demográfico, isto é, como aumentar a população? Não dava para proibir os casais de assistir á televisão. Afinal de contas, ela ainda não tinha sido inventada...
Para aumentar a população, o Estado promulgava leis para os pobres, isto é, cobrava impostos e criava casas de assistência aos mendigos e órfãos. O objetivo era impedir que morressem de fome e frio. Bonito, não? Sentimentos generosos e desinteressados não parecem? Será mesmo? Acontece que havia um detalhezinho: a vagabundagem era severamente punida. Quem se recusasse a ficar nessas casas de assistência poderia ser até enforcado. Esses mendigos e órfãos nas casas de assistência eram obrigados a aprender uma profissão e a trabalhar nas manufaturas, dando um duro infernal e ganhando um salário diabolicamente pequeno. Muitos burgueses, proprietários de manufaturas, consideravam-se piedosos cristãos por explorar criancinhas no trabalho. “Assim, diziam esses santos patrões, elas não teriam tempo para pecar”. Claro, o tempo todo estava ocupado em trabalhar feito condenadas!
Todo nascimento é bonito porque não nos comover com esse bonito nascimento do capitalismo, não é mesmo? No berço, o sofrimento dos pobres; no batismo, o sangue do trabalhador.
O objetivo do mercantilismo era o fortalecimento do Estado. Para isso, o Estado intervinha na economia. Veja bem, o Estado absolutista era ativo e passivo, ou seja, como disse o historiador Heckscher, era sujeito (intervinha na economia) e objeto (era beneficiado com a intervenção).
MERCANTILISMO SEGUNDO LEO HUBERMAN (HISTÓRIA DA RIQUEZA DOS HOMENS)
CAPÍTULO XI
OURO, GRANDEZA E GLÓRIA.
O QUE É que faz rico um país? O leitor tem alguma sugestão? Faça uma lista desses elementos e veja se correspondem ao que pensavam os homens inteligentes dos séculos XVII e XVIII. Estavam eles muito interessados no assunto porque pensar em termos de um Estado nacional, de todo um país ao invés de uma cidade, apresentava novos problemas. Era preciso considerar não o que seria melhor para a cidade de Southampton ou a cidade de Lyons ou a cidade de Amsterdã, mas o que seria melhor para a Inglaterra, a França ou a Holanda. Queriam transferir para o plano nacional os princípios que havia tornado as cidades ricas e importantes. Tendo organizado o Estado político, voltaram suas atenções para o Estado econômico. As coisas que escreveram e as leis que defenderam tinham todo um conteúdo nacional. Os governos aprovaram leis que, no seu entender, trariam riqueza e poder a toda a nação. Na busca de tal objetivo, mantinham o olho em todos os aspectos da vida diária 'e deliberadamente modificavam, moldavam e regulavam todas as atividades de seus súbitos. As teorias expressas e as leis baixadas foram classificadas pelos historiadores definidamente como "sistema mercantil". Na verdade, porém, não constituíam um sistema. O mercantilismo não era um sistema em nosso sentido da palavra, mas antes um número de teorias econômicas aplicadas pelo Estado num momento ou outro, num esforço para conseguir riqueza e poder. Os estadistas se ocupavam do problema não porque lhes agradasse pensar nele, mas porque seus governos estavam sempre extremamente interessados na questão - sempre quebrados e precisando de dinheiro. O que torna rico um país não era, portanto, uma pergunta ociosa. Era coisa real. E tinha de ser respondida.
A Espanha foi, no século XVI, talvez o mais rico e poderoso pais do mundo. Quando os homens inteligentes de outros países perguntavam a razão disso, julgavam encontrar a respostas nos tesouros que ela recebia das colônias. Ouro e prata. Quanto mais tivesse, tanto mais rico o país seria - o que se aplicava às nações e também às pessoas. O que fazia as rodas do comercio e indústria girarem mais depressa? Ouro e prata. O que permitia ao monarca contratar um exército para combater os inimigos de seu país? Ouro e prata. O que comprava a madeira necessária para fazer navios, ou o cereal para as bocas famintas, ou a lã que vestia o povo? Ouro e prata. O que tornava um país bastante forte para conquistar um país inimigo - que eram os "nervos da guerra"? Ouro e prata. A posse de ouro e prata, portanto, o total de barras que possuísse um país, era o índice de sua riqueza e poder.
“A maioria dos autores da época se apega à ideia de que um país rico, tal corno um homem rico, deve ser um país com muito dinheiro; e juntar ouro e prata num país deve ser a mais rápida forma de enriquecê-lo”.
Já em 1757 Joseph Harris, no An Essay Upon Monrey and Com, escrevia: "Ouro e prata, por muitas razões, são os metais mais adequados para acumular riqueza; são duráveis, podem ser transformados de qualquer modo sem prejuízo, e de grande valor em proporção ao volume. Sendo o dinheiro do mundo, representam a forma de troca mais imediata para todas as coisas, e a que mais rápida e seguramente se aceita em pagamento de todos os serviços." 
Já que os governos acreditavam nessa teoria de que quanto mais ouro e prata houvesse num país, tanto mais rico este seria o passo seguinte era óbvio. Baixaram-se leis proibindo a saída desses metais do país. Um governo após outro tomou essa medida, e as "Leis contra a exportação de ouro e prata" tornaram-se comuns. Eis uma delas, na Inglaterra: "Ordena-se pela autoridade do Parlamento, que ninguém leve, ou faça levar, para fora deste Reino ou Gales ou qualquer parte do mesmo, qualquer forma de dinheiro da moeda deste Reino, ou de dinheiro, e moedas de outros remos, terras ou senhorias, nem bandejas, vasilhas, barras ou jóias de ouro guarnecidas ou não, ou de prata, sem a licença do Rei." As notícias enviadas pelos agentes dos Fuggers ao banco central da Casa podem ser comparadas às da Associated Press, hoje. Em todos os pontos importantes eram colocados correspondentes que transmitiam notícias sobre os grandes acontecimentos tão logo deles tomavam conhecimento. Eis algumas amostras do noticiário dos Fuggers:
Veneza, 13 de dezembro de 1596. O Rei da Espanha ordenou severamente que nenhum ouro ou prata seja exportado do reino, ou usado com objetivos de comércio.
Roma, 29 de janeiro de 1600. “O camarista papal mandou avaliar novamente todas as moedas de prata, locais e estrangeiras, decretando que no futuro ninguém poderá levar para fora daqui mais de cinco coroas.”
Tais medidas podiam conservar no país o ouro e a prata já existentes nele. E países que dispunham de minas dentro de suas fronteiras, ou que, como a Espanha, tinham sorte de possuir colônias com ricas minas de ouro e prata, podiam aumentar constantemente suas reservas de metais. Mas como se haviam os países que não dispunham de nenhum desses recursos? Como poderiam enriquecer - supondo, como faziam alguns mercantilistas,que o dinheiro significava riqueza?
Para tais países, os mercantilistas ofereciam uma solução feliz. Uma "balança de comércio favorável" era a sua resposta. Que se entendia por "balança de comércio favorável"?
Num trabalho de 1549, intitulado Policies ia Reduce this Realm of England unto a Prosperou: Wealth and Estate encontramos a resposta: A única maneira de fazer com que muito Ouro seja trazido de outros remos para o tesouro real é conseguir que grande quantidade de nossos produtos seja levada anualmente além dos mares e menor quantidade de seus produtos seja para cá transportada... Se isso puder ser feito, não será impossível nem improvável mandar para além-mar anualmente, cm mercadorias, o valor de um milhão e cem mil libras, e receber de volta, em todos os tipos de mercadorias, apenas o valor de seiscentas mil libras. Não se segue necessariamente que receberíamos então as outras quinhentas mil libras, seja em ouro ou em moeda inglesa?
Os países poderiam aumentar sua reserva de ouro dedicando-se ao comercio exterior - diziam os mercantilistas - tendo sempre a cautela de vender aos outros mais do que deles compravam. A diferença no valor de suas exportações, em relação às importações, teria de ser paga em metal.
A Companhia Inglesa das Índias Orientais tinha em seus estatutos uma cláusula que lhe dava o direito de exportar ouro. Quando no século XVII muitos panfletários atacaram-na por enviar riquezas para fora da Inglaterra, Thomas Mun, um dos diretores, defendeu a Companhia num livro famoso, intitulado England: Treasure by Foreign Trade. O título indica a essência da defesa. "Mun" argumentava que embora a Companhia realmente enviasse ouro e prata ao Oriente para a aquisição de mercadorias, essas mercadorias eram reexportadas da Inglaterra para outros países, ou nelas trabalhadas e mais tarde revendidas além-mar. Em ambos os casos, mais dinheiro voltava à Inglaterra, o que justificava a exportação dos metais preciosos. Argumentava ainda que o modo realmente importante de aumentar a riqueza do Estado era vender aos países estrangeiros mais do que deles se comprava, mantendo uma balança de comércio favorável. "O recurso comum, portanto, para aumentar nossa riqueza e tesouro é pelo comércio exterior, no qual devemos observar esta regra: vender mais aos estrangeiros, anualmente, do que consumimos de seus artigos porque a parte de nosso estoque que não nos for devolvida em mercadorias deverá necessariamente ser paga em dinheiro... Qualquer medida que tomemos para obter a entrada de dinheiro neste Reino, este só permanecera conosco se ganharmos na balança de comercio.
O negócio, portanto, era exportar mercadorias de valor, e importar apenas o que fosse necessário, recebendo o saldo em dinheiro sonante. Isso significa estimular a indústria por todos os meios possíveis, porque seus produtos valiam mais que os da agricultura, e, portanto obteriam mais dinheiro nos mercados estrangeiros. E o que era também importante, ter indústria produzindo as coisas de que o povo necessitava significava não ser necessário comprá-las do estrangeiro. Era um passo na direção da balança de comércio favorável, bem como no sentido de tornar o país autossuficiente, independente de outros países.
Os países começaram, portanto, a se ocupar do importante problema de qual a melhor forma de ajudar as velhas indústrias a prosperarem e estimular a organização de novas. Na Baviera de Maximiliano I, em 1616, foi nomeada uma comissão especial para examinar a questão: “Resolve-se que pessoas especiais sejam nomeadas, que em dias fixos da semana se reunirão para diligentemente discutir e deliberar”... Os meios pelos quais mais comércio e ofício serão exercidos no país, e como poderão continuar existindo com utilidade. 
Quais os meios imaginados por essa comissão, e outras semelhantes em vários países, para fomentar a indústria? Foram muitos.
Houve, por exemplo, os prêmios dados pelo governo pelos produtos manufaturados para exportação. Se o leitor fosse fabricante de facas e recebesse de seu governo uma soma de dinheiro para cada dúzia de facas exportada, naturalmente tentará fabricar um número sempre maior desse artigo. E os fabricantes de chapéus, mantas, munições, linho etc., provavelmente pensariam da mesma forma. Os prêmios governamentais sobre a produção destinavam-se a estimular a manufatura.
O mesmo ocorre com a tarifa protetora. Essa tarifa, cuja finalidade foi proteger as indústrias nascentes e ainda na "infância", é um recurso tão antigo como os mercantilistas, provavelmente mais velho ainda. Eis aqui um pedido de ajuda de uma indústria nascente, feito na Inglaterra muito antes de nascer o criador dessas tarifas na América, Alexander Hamilton:
Creio ter, Senhor, demonstrado que a manufatura do linho... Está apenas em sua infância na Grã-Bretanha e Irlanda, e, portanto é impossível para nosso povo vender tão barato... Métodos novos e melhores. Na França, Colbert organizou institutos de educação técnica, mantidos pelo Estado, bem como fábricas administradas também pelo Estado. Na Baviera, em fins do século XVI, as fábricas estatais de tecidos empregavam dois mil operários. Tais fábricas deviam servir de modelos, inspiração, laboratório. Era nessas empresas em grande escala, não sujeitas a restrições das corporações, que se podiam realizar livremente experiências e progresso, difíceis para o artesão isolado.
Mas embora difícil, não era impossível. E o Estado estava sempre pronto a estimular a indústria, subsidiando-a diretamente ou de qualquer um dos modos já mencionados. As indústrias têxteis francesas, quando Colbert estava no governo, receberam cerca de oito milhões de libras de subsídios, de um tipo ou de outro. A um grupo que pretendia fundar uma fábrica para manufatura de seda e tecido de ouro e prata, na França' do século XVII, o governo concedeu muitos privilégios de valor, bem como ajuda direta em dinheiro: Um dos principais meios de atingir essa finalidade [o bem-estar comum de nossos súditos] é o estabelecimento de artes e manufaturas, com a esperança de que proporcionem enriquecimento e progresso a este reino, para que não tenhamos mais de procurar nossos vizinhos como se fossemos mendigos buscando aquilo que não temos, e também porque é um meio Fácil e bom de limparmos nosso reino dos vícios da ociosidade, e a única forma pela qual deixaremos de ter de mandar para fora do reino o ouro e a prata para enriquecer nossos vizinhos [Faz uma relação de nomes, estipulando o prazo de 12 anos].., durante o dito tempo ninguém mais, na mencionada cidade de Paris, pode ter ou montar as ditas fábricas a menos que seja com sua permissão e consentimento e a fim de ajudá-los no grande investimento necessário a esse estabelecimento, concedemos aos ditos industriais... A soma de 180.000 libras, que lhes será atribuída sem qualquer demora, soma essa que conservarão por 12 anos sem pagamento de juros, e no fim desse tempo serão chamados a nos devolver apenas 150.000 libras, e as 30.000 restantes lhes serão dadas como prêmio em consideração das enormes despesas que compreendemos serem necessárias e que terão de fazer, por seu risco, a fim de montar o dito estabelecimento.
Esse edito apresenta outra vantagem ressaltada pelos mercantilistas em seus argumentos a favor do fomento da indústria. Assinalam continuamente que o crescimento da indústria não só representava um aumento nas exportações, que por sua vez ajudava uma balança de comércio favorável, mas também provocava aumento de emprego. T. Manley, escrevendo em 1677, dizia que "uma libra de lã, manufaturada e exportada, é mais interessante para nós, porque emprega nossa gente, do que dez libras exportadas em bruto por duas vezes o preço atual”. "Três Num período em que os mendigos e desempregados constituíam problema e custavam boas somas na assistência social, tal argumento tinha valor considerável. Para o rei, que se preocupava com o bem de seu povo, para os pensadores mercantilistas, que acima de tudo estavam interessados em consolidar o podere a riqueza nacionais, a necessidade de manter em boa forma os homens do país -	a carne de canhão - era evidente. Portanto, a indústria que lhes desse emprego devia ser estimulada. Dedicou-se também grande atenção à produção de cereais, para assegurar alimento ao povo, para que estivesse forte - quando chegasse a guerra. Era evidente a todos que um abastecimento adequado de alimentos tinha a maior importância no caso de uma guerra, e por isso a Inglaterra concedia prêmios para estimular a produção de cereais. Uma nação autossuficiente em alimentos durante uma guerra, e dispondo de combatentes fortes e bem alimentados, era um dos principais objetivos das várias leis sobre cereais baixadas nos diferentes países.
Combatentes. Tempos de guerra. Quem pensasse nesses termos naturalmente se preocuparia com o numero e a qualidade dos navios, necessários tanto para defender a pátria como para atacar um país inimigo. E assim como julgavam que o fomento da indústria era vital para uma balança de comércio favorável, os mercantilistas também consideravam essencial à construção de uma marinha mercante, pelo mesmo motivo. Os governos davam ênfase, na proporção de seu interesse pelo comércio exterior, à importância de recursos marítimos adequados para transportar seus produtos industriais a outros países. Voltavam sua atenção, portanto, para o estímulo à navegação com o mesmo zelo demonstrado no fomento da indústria. Os construtores de navios recebiam prêmios governamentais; os produtos necessários à indústria naval, alcatrão, piche, madeiras fortes etc., eram buscados e com isso, ditar o preço, grande número de irlandeses se empobreceu. Dessa forma, a política mercantilista teve seu papel na luta dos irlandeses pela independência do domínio britânico, tal como ocorreu na América.
Certos produtos americanos, como tabaco, arroz, anil, mastros, terebintina, alcatrão, piche, pele de castor, ferro em bruto (a lista aumentava com o tempo), tinham de ser enviados apenas para a Inglaterra. Os ingleses desejavam tais coisas para si, para suas indústrias. E quando não podiam consumi-las, reexportavam-nas - com lucro.
Tabaco da Virgínia para mercadores ingleses -+ para fabricantes de rapé franceses, ao invés de tabaco da Virgínia diretamente -+ para fabricantes franceses de rapé.
A chave para compreender o atrito surgido entre a metrópole e as colônias está no fato de que enquanto a metrópole julgava que as colônias existiam para ela, estas julgavam que existiam para si mesmas. Sir Francis Bernard, 'governador real de Massachusetts, deixou bem clara a noção da relação entre metrópole e colônias: "Os dois grandes objetivos da Grã-Bretanha em relação ao comércio americano devem ser: 1) obrigar seus súditos americanos a comprar apenas na Grã-Bretanha todas as manufaturas e mercadorias europeias que ela lhes puder fornecer; 2) regular o comércio exterior dos americanos de tal forma que os lucros dele oriundo: se centralizem finalmente na Grã-Bretanha, ou sejam aplicados à melhoria de seu próprio império.”
Eis uma afirmação clara de que as colônias existiam apenas para ajudar a metrópole em sua luta pela riqueza e pelo poderio nacional. Isso ocorria não só na Inglaterra, mas na França, na Espanha, em toda metrópole da era mercantilista. Ë importante lembrar isso.
Ë também importante lembrar que "riqueza nacional" e "poderio nacional" são frases ocas. Uma coincidência interessante serem as medidas sugeridas por muitos autores como as melhores para tornar "nosso país" rico, também as mais indicadas para torná-los, e à sua classe, ricos. Isso não significa que auferissem lucros diretos. Nada disso. Era natural, apenas, que identificassem seus interesses com os de todo o país. Em nenhuma época, talvez, foi mais evidente a ligação entre o interesse econômico e a política nacional.
O leitor se lembrará das dores de cabeça que os reis tiveram para levantar dinheiro. Não havendo um sistema de impostos amplo e bem desenvolvido, não podiam nunca ter certeza de conseguir o dinheiro de que precisavam, no momento justo. O tesouro não podia contar com o afluxo permanente de dinheiro. Era por isso que o rei arrendava sua receita a coletora de impostos que lhe pagavam adiantadamente (e arrancavam todo o centavo que podiam dos, pobres contribuintes). Era por isso que o rei vendia postos aos mais ricos e concedia monopólio por altas somas. Era por isso que, por menos que quisesse, era obrigado a vender terras da Coroa. Era por isso que se via obrigado a pedir empréstimos aos banqueiros e mercadores. Era por estar sempre em dificuldades monetárias que os governos davam tamanha importância ao amontoamento de metais preciosos. E como acreditavam também que o tesouro podia ser obtido pelo comércio, era natural considerarem os interesses do Estado e da classe de mercadores ou comerciantes como idênticos. Foi assim que o Estado tomou como sua tarefa principal o apoio e estímulo ao comércio e a tudo que se relacionasse com ele.
Foi pelo comércio que o Estado se tornou grande, e conseguiu sua cota na expansão dos negócios e territórios. O mercantilismo era o regime dos mercadores.
Os mercantilistas acreditavam que, no comércio, o prejuízo de um país era lucro de outro - isto é, um país só podia aumentar seu comercio a expensas de outro. Não consideravam o comércio como algo que proporciona benefício mútuo - uma troca vantajosa - mas como uma quantidade fixa, da qual todos procuravam tirar a maior parte. O autor que, no século XVIII, escreveu The Dictionary of Trade and Commerce assim se expressou sobre o assunto: "Parece haver apenas uma limitada quantidade de comércio na Europa. Suponhamos que no comércio da indústria de lã a Inglaterra seja o canal exportador e fornecedor no 'valor de 15 milhões; se, em qualquer ano, ela fornecer 20 milhões, isso se fará a expensas e diminuição das vendas dos outros." 
E Colbert escreveu a M. Pomponne, embaixador francês em Haia, em 1670: "Como o comercio e a manufatura não podem diminuir na Holanda sem passar às mãos de algum outro pais, não há nada mais importante e necessário para o bem geral do Estado que, ao mesmo tempo em que vemos crescer nosso comércio e indústria dentro do nosso reino, vejamos também sua diminuição real e efetiva nos Estados da Holanda." Vemos que a crença de que "não há nada mais importante e necessário para o bem geral do Estado" do que a redução do comércio e indústria de um Estado rival só poderia levar a uma coisa: guerra. O fruto da política mercantilista é a guerra. A luta pelos mercados, pelas colônias - tudo isso mergulhou as nações rivais numa guerra após outra. Algumas foram travadas abertamente como guerras comerciais. O objetivo de outras foi disfarçado com nomes pomposos, como acontece freqüentemente ainda hoje. Mas dizia o Arcebispo de Canterbury em 1690, que "em todas as lutas e disputas que nos últimos anos ocorreram nesta parte do Mundo, julgo que, embora alegassem objetivos altos e espirituais, o fim e o objetivo verdadeiro era o Ouro, a Grandeza e a Glória secular".
Tomemos a última frase do Arcebispo - Ouro, Grandeza e Glória - como um resumo preciso do que buscavam os mercantilistas.
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