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Dos Delitos e Das Penas - Cesare Beccaria

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DOS DELITOS E DAS PENAS 
 (Cesare Beccaria)
Aluna: Rafaela Maria Boniatti
Direito Penal I
Sobre o autor: Cesare Bonessana, marquês de Beccaria, nasceu em Milão no ano de 1738. É considerado o principal representante do iluminismo penal. Na sua formação básica, Beccaria estudou na Escola Jesuíta de Parma e, posteriormente, graduou-se em Direito pela Universidade de Pavia, em 1758. Apesar de ter desenvolvido interesse pela discussão de filosofia, literatura e das questões e problemas de seu tempo, Beccaria nunca teve uma ânsia extrema pela escrita. Muito pelo contrário, era por vezes preguiçoso e com pouca motivação. Não era incomum a atribuição de tarefas a ele para que trabalhos fossem feitos. E foi uma destas tarefas que acabou culminando no trabalho que atribui a ele, até hoje, grande reconhecimento: Dos Delitos e Das Penas.
§ I – Introdução
Segundo Beccaria, só com boas leis pode-se impedir que as vantagens da sociedade fossem desigualmente repartidas entre todos seus membros. Contudo, os homens abandonam as leis quando estas se opõem a seus interesses. Os mais poderosos encaram como um de seus direitos reprimirem pela força, os tormentos que a barbárie atribui por crimes, enquanto os mais fracos são cruelmente ignorados, sendo expostos a um sofrimento insuportável nas cadeias, com tantos métodos odiosos.
§ II – Origem das penas e do direito de punir
Toda lei deve ser estabelecida com base nos sentimentos indeléveis do coração do homem, é lá que se encontram os princípios fundamentais do direito de punir. As leis foram às condições que reuniram os homens na formação das sociedades. Cansados de viver em constante guerra entre si, sacrificaram uma parte de sua liberdade para aproveitar o restante com mais segurança. Assim formou-se a soberania na nação. Foi necessário estabelecer alguns meios para comprimir o espírito despótico da sociedade, esses meios foram as penas, que seriam aplicadas a quem infringisse a lei. As penas que vão além da necessidade de manter o depósito da salvação pública, é abuso e não justiça, é um poder de fato e não de direito.
§ III – Consequências desses princípios
O direito de criar leis penais cabe ao legislador, representante de toda a sociedade, e só as leis podem fixar as penas de cada delito. O magistrado não pode infligir a outro membro da sociedade, uma pena que não esteja prevista em lei. No momento em que o juiz é mais rigoroso do que a lei, ele é injusto. O representante da sociedade, só pode fazer leis gerais, não lhe compete julgar se alguém violou essas leis. No caso de um delito, temos a presença de duas partes: o soberano e o acusado, que nega a violação. É necessário que haja uma terceira parte para fazer a contestação, esse terceiro é o magistrado, que deve dizer se houve delito ou não.
§ IV – Da interpretação das leis
Os juízes não tem o direito de interpretar as leis penais, eles não receberam as leis como uma tradição dos antepassados, mas da sociedade viva, da atual vontade de todos. Beccaria diz que se o juiz fizer um raciocínio a mais ou por conta própria, tudo se torna incerto e obscuro e a vida dos infelizes estaria à mercê de um falso raciocínio, ou do mau humor do juiz, veríamos o magistrado fazendo rápidas interpretações das leis com ideias confusas e vagas. Ele defende a ideia de que se as leis fossem fixas e literais, executadas à letra, os cidadãos não seriam mais submetidos ao julgamento dos tiranos, saberiam exatamente a pena para uma ação reprovável, podendo assim, desviá-los do crime.
§ V – Da obscuridade das leis
Becarria afirma que o texto da lei precisa ser um livro familiar e ter uma linguagem vulgar para facilitar o entendimento e a interpretação de todos. Enquanto forem escritas em uma língua morta e ignorada pelo povo, o cidadão não poderá julgar por si só as consequências de seus atos, e assim, dependem de um pequeno número de homens intérpretes da lei.
§ VI – Da prisão
Tornou se comum para o magistério, o erro de prender cidadãos, de tirar a liberdade do inimigo por motivos fúteis, enquanto deixam livres os que eles protegem. É a lei que deve especificar os indícios que levaram um indivíduo a ser preso, e não o juiz, com suas sentenças severas. Quantos cidadãos não vemos, anteriormente acusados de crimes hediondos, hoje sendo considerados inocentes e ocupando cargos do Estado? É por que o sistema de jurisprudência atual apresenta a ideia de força e poder, em lugar da justiça. Nas palavras de Beccaria, “a prisão é antes um suplício que um meio de deter um acusado.”
§ VII – Dos indícios do delito e a forma dos julgamentos
São dois os meios de distinguir as provas de um delito. As provas perfeitas são as que mostram a impossibilidade do acusado ser inocente, uma única prova é suficiente para sua condenação. As provas imperfeitas são as que não excluem a possibilidade de o acusado ser inocente, para que seja julgado culpado, precisa-se de muitas dessas provas para valerem como uma perfeita. Se o culpado e o ofendido se encontram em situação desigual, os juízes devem ser escolhidos, metade entre os iguais do acusado e metade entre os ofendidos para contrabalançar os interesses pessoais. A lei com os melhores efeitos é a que prescreve que cada um seja julgado por seus iguais, todos os sentimentos de desigualdade devem silenciar quando se trata da liberdade de um cidadão.
§ VIII – Das testemunhas
Para determinar com exatidão quem pode ser testemunha, a legislação deve analisar o seu interesse de dizer ou não a verdade, precisa ser um homem que tem coordenação de suas ideias e tenha as mesmas sensações que os outros homens. Deve-se analisar também a relação que ele tem com o acusado.
§ IX – Das acusações secretas
Beccaria considera as acusações secretas um abuso, torna os homens falsos, fazendo com que escondam seus próprios sentimentos, vagam na incerteza, procuram escapar do que os ameaçam. O autor se pergunta: quem poderá se defender de uma calúnia quando esta é sigilosa? Há algum delito que não seja interesse de todos punirem publicamente? Becarria diz que se fosse ele ditador de novas leis em algum lugar do universo, se recusaria a autorizar as acusações secretas. Já disse Montesquieu: “As acusações públicas são conformes ao espírito do governo republicano, no qual o zelo do bem geral deve ser a primeira paixão dos cidadãos.”
§ X – Dos interrogatórios sugestivos
São proibidos por lei os interrogatórios sugestivos, ou seja, o juiz não pode permitir questões diretas ao acusado, somente indiretas. Isso foi estabelecido para evitar sugerir respostas que o salve ou faça cair em contradições, mas ao mesmo tempo se autorizou a tortura. A dor arranca do homem uma confissão, o obriga a acusar-se a si mesmo. Aquele que se recusa a responder ao interrogatório merece sofrer uma pena que deve ser fixada em lei, que essa pena seja pesada, pois o silêncio de um criminoso é uma ofensa à justiça. Porém, essa pena não deve ser usada quando o crime já foi constatado, pois a interrogação se torna inútil.
§ XI – Dos juramentos
O juramento de dizer a verdade que é exigido ao acusado quando este tem o interesse de encobri-la, é outra contradição da lei, o homem não vai contribuir para sua própria destruição. É mais um exemplo de abuso de religião, porque colocar o homem em uma situação que pode ofender a Deus? É deixar ao acusado a escolha de ser mau cristão, destruindo todos seus sentimentos religiosos. Desse modo, os juramentos pouco a pouco vão passar a ser apenas uma formalidade sem implicações.
§ XII – Da tortura
A tortura é uma barbárie que alguns governos usam para fazer com que o acusado confesse um crime. Quando o delito é certo, só deve ser punido com lei fixada em lei, sem necessidade da tortura, quando é incerto, não é hediondo atormentar um inocente? Beccaria questiona: qual o fim político dos castigos? O que pensar das torturas, esses suplícios secretos que são empregados na obscuridade das prisões e que se reservam tanto ao inocente como ao culpado? O que importaé que nenhum delito fique impune, um crime só pode ser punido pela sociedade política para impedir que outros homens cometam os mesmos erros esperando pela impunidade. É monstruoso fazer com que um homem acuse a si mesmo, fazendo com que conte a verdade por meio de tormentos. A sensibilidade de todo homem é limitada, se a dor é muito forte para poder aguentar, o acusado dirá que é culpado, para assim, cessar as torturas que já não pode mais suportar. A tortura é muitas vezes usada para condenar os mais fracos e infelizes, fazendo com que os mais fortes sejam absolvidos. Toda ação violenta faz desaparecer a diferença entre a verdade e a mentira, o inocente fica em uma posição pior que o culpado, pois o inocente, ou será condenado por algo que não fez, ou absolvido, mas depois de muito sofrer o que não mereceu. Já o culpado, será absolvido se resistir às torturas a que for exposto.
§ XIII – Da duração do processo e da prescrição
Quando o delito é constatado, é justo que seja concedido ao acusado o tempo e os meios para que se justifique, é preciso que esse tempo seja muito curto para não adiar demais o castigo. Somente a lei pode fixar o espaço de tempo que se deve aplicar para a investigação das provas do delito, e o que se deve conceder ao acusado para sua defesa. Quanto mais grave é o crime, mais rápidas devem ser as investigações, precisando às vezes, diminuir o tempo dos processos e aumentar o que se exige para a prescrição. Nos delitos menos graves, é preciso prolongar o tempo dos processos, porque a inocência do acusado é menos provável, e diminuir o tempo de prescrição. No caso de crimes que são difíceis de provar e a inocência é comprovável perante a lei, pode-se diminuir igualmente o tempo do processo e o da prescrição. 
§ XIV – Dos crimes começados, dos cúmplices e da impunidade.
É necessário aplicar um castigo a quem tenta cometer um crime, para dar-lhe motivos que o impeçam de terminá-lo. A mesma coisa deve ser aplicada aos cúmplices, se estes não forem executores imediatos. Alguns tribunais oferecem impunidade ao cúmplice que entregar seus companheiros, podendo com isso, prevenir grandes crimes. Isso mostra aos cidadãos que quem infringe as leis, não é fiel às convenções particulares. Beccaria pensa que legitimar a traição, tornado os cúmplices infiéis, serve para multiplicar homens frios e insensíveis.
§ XV – Da moderação das penas
A função das penas é impedir o culpado de ser nocivo à sociedade e desviar outras pessoas para o crime. A sociedade tem prazer em julgá-los criminosos, em ver seus tormentos, pensam que quanto mais cruéis forem os castigos, mais audacioso será o culpado para evita-los. A atrocidade das penas gera dois resultados contrários ao seu real fim, que é prevenir crimes. Em primeiro lugar, é difícil estabelecer uma proporção justa entre delitos e penas, porque nenhum suplício pode ultrapassar a sensibilidade e organização do corpo do homem. Em segundo lugar, os suplícios mais cruéis podem acarretar a impunidade. 
§ XVI – Da pena de morte
Segundo Beccaria, a pena de morte é uma guerra declarada a um cidadão pela nação, que julga a destruição desse cidadão necessária ou útil. Quem poderia ter dado ao homem o direito de matar seus semelhantes? Muitas vezes o criminoso prefere o castigo de morte em vez de passar anos de sua vida sofrendo na escravidão. Isso porque nós resistimos mais à violência de dores extremas, porém passageiras, do que as que causam um desgosto contínuo.
§ XVII – Do banimento e dos confiscos
Quem perturba a tranquilidade pública e desobedece às leis, deve ser banido da sociedade. Seria fundamental uma lei precisa que desse ao banido o direito de poder a todo instante provar sua inocência e recuperar seus direitos. Mas, deve o banido ser privado de todos seus bens? Em alguns casos, seus bens são todos confiscados, mas em certos delitos não há caso de confisco, o culpado poderá perder todos seus bens e ter rompidos os laços que o ligavam à sociedade. O uso de confiscos leva o inocente a sofrer castigos reservados aos criminosos, e podem o levar ao crime, reduzindo-o à miséria e o desespero.
§ XVIII – Da infâmia
A infâmia priva o culpado da confiança que a sociedade tinha nele. Seus efeitos não dependem totalmente das leis, ela se baseia na moral e na opinião pública. Deve ser evitado que punam com penas dolorosas alguns delitos fundados no orgulho e que fazem dos castigos uma glória. Devem ser raras as penas infamantes, porque o uso frequente do poder da opinião enfraquece a força da própria opinião.
§ XIX – Da publicidade e da presteza das penas
A presteza do julgamento é justa porque poupa o acusado da angústia da incerteza. Também é útil, pois dá a ideia de que não há crime sem castigo. Um cidadão que foi detido só pode ficar preso o tempo necessário para a instrução do processo, deve-se diminuir ao máximo esse tempo para suavizar sua aflição.
§ XX – Da inevitabilidade das penas e das graças
O que previne os crimes é a certeza do castigo. Às vezes, nos obstemos de punir um delito quando o ofendido perdoa, é um ato bondoso, mas é um ato que contraria o bem público, pois não se pode destruir a necessidade do exemplo. O direito de punir pertence somente à lei, não aos cidadãos. Quando um soberano perdoa um criminoso, é como se o crime pudesse ser esquecido, sem necessidade de consequências, nutre-se neles a esperança da impunidade.
§ XXI – Dos asilos
A melhor maneira de prevenir um crime é dando a certeza de um castigo certo e inevitável, os asilos são um abrigo contra a ação das leis, por isso, convidam mais ao crime do que as penas que o evitam. Na história, os asilos foram o motivo de grandes revoluções nos Estados. Quando um crime era cometido em um lugar, todos os outros lugares teriam o direito de punir. Um crime só deve ser punido no país onde foi cometido, porque é só aí que os homens são forçados a reparar os efeitos que o exemplo do crime pôde produzir.
§ XXII – Do uso de pôr a cabeça a prêmio
O uso de pôr a prêmio a cabeça de um cidadão invalida todas as ideias de moral e de virtude, faz homens cometerem homicídios e atingir inocentes. De um lado, as leis punem a traição, do outro, autorizam-na. O legislador se contraria, semeia a desconfiança, e, para prevenir um crime, faz nascerem muitos outros.
§ XXIII – Que as penas devem ser proporcionais aos delitos
Deve-se haver uma proporção entre os delitos e as penas. Se for estabelecido o mesmo castigo para todos os delitos, o homem não temerá mais uma pena maior ao seu crime monstruoso e as leis terão que punir os crimes que fizeram nascer. Se for estabelecido, por exemplo, pena de morte para quem mata um homem e para quem mata um animal, será destruído do coração dos homens os sentimentos morais.
§ XXIV – Das medidas dos delitos
A verdadeira medida dos delitos é o dano causado à sociedade. A gravidade do crime não depende da intenção de quem o comete, porque a intenção do acusado depende das impressões causadas pelos objetos presentes, muitas vezes, um cidadão com as melhores das intenções acaba fazendo males à sociedade, enquanto outros, presta grandes serviços com o objetivo de prejudicar. Alguns jurisconsultos medem a gravidade do crime pela dignidade da pessoa ofendida. Outros julgam o delito tanto mais grave quanto maior a ofensa à Divindade. Como Beccaria cita: Se os homens ofendem a Deus com o pecado, muitas vezes o ofendem mais ainda encarregando-se do cuidado de vingá-lo.
§ XXV – Divisão dos delitos
Alguns crimes tendem a destruir a sociedade e seus representantes, outros afetam diretamente na vida do cidadão, nos seus bens e sua honra, e outros ainda vão contra o que a lei prescreve ou proíbe. Os atos que não se classificam em nenhuma dessas classes não podem ser considerados crime, antes se deve descobrir seu interesse particular. Os cidadãos podem fazer tudo o que não é contrário às leis, sem recear outros inconvincentes além dos que podem resultar de sua ação em si mesma. Esse dogma é a justa recompensa do sacrifício que os homens fizeram se sua liberdadee de sua independência.
§ XXVI – Dos crimes de lesa-majestade
Por serem funestos à sociedade, os crimes de lesa-majestade foram colocados na classe dos grandes crimes. Toda espécie de delito é danosa à sociedade, mas nem todos os delitos tendem a destruir. É preciso julgar as ações morais e levar em conta o tempo e o lugar.
§ XXVII – Dos atentados contra a segurança dos particulares e principalmente das violências
Não se pode deixar de punir aquele que viole a lei com as penas mais graves. Nessa classe não se compreende somente os assassinatos e assaltos cometidos por homens do povo, mas também às violências exercidas pelos magistrados. Não mais existe liberdade quando as leis permitem que os grandes e ricos escapem das penas a preço de dinheiro. As penas das pessoas mais ricas devem ser as mesmas que as dos mais pobres. Antes de todas as distinções de riquezas, vem à igualdade civil.
§ XXVIII – Das injúrias
As injúrias pessoais que contrariam a honra de um homem devem ser punidas pela infâmia. Distinguimos com dificuldade os princípios de moral e muitas vezes julgamos sem conhecer, os sentimentos do coração humano. O sentimento que nos liga à honra é uma volta momentânea ao estado de natureza, um momento que nos subtrai a leis cuja proteção em alguns casos é insuficiente.
§ XXIX – Dos duelos
Para Beccaria o melhor jeito de evitar o duelo é punir o agressor. O cidadão que recusa um duelo sofre o desprezo dos seus concidadãos, é forçado a levar uma vida solitária, onde se expõe constantemente a insultos e à vergonha.
§ XXX – Do roubo
É justo que quem rouba o bem de outro, seja desprovido do seu. Um roubo cometido sem violência só deveria ser punido com uma pena pecuniária. Se o crime for por motivo miséria e desespero, as penas pecuniárias só servirão para multiplicar os roubos, tirando o pão da família inocente e dando a um rico talvez criminoso. Se o roubo é acompanhado de violência, é justo ajuntar à servidão as penas corporais. É totalmente injusto punir com as mesmas penas o roubo com violência e o roubo sem.
§ XXXI – Do contrabando
O contrabando é um delito que ofende o soberano e a nação, e é gerado pelas próprias leis, pois quanto mais se aumentam os direitos, maior é a vantagem do contrabando. O confisco das mercadorias proibidas é uma pena muito justa. Para torna-la mais eficaz, seria preciso que os direitos fossem poucos consideráveis, porque os homens só se arriscam na proporção do lucro que isso possa lhes proporcionar. A pena para o contrabando deve ser equivalente à natureza do delito.
§ XXXII – Das falências
O legislador é obrigado a dar recurso aos credores sobre a pessoa de seus devedores, quando estes abrem falência. Mas é importante não confundir o falido fraudulento com o que é de boa-fé, pois estes devem ser tratados com menos rigor, porém, não o desobrigar de sua dívida. Se a fraude do falido for muito duvidosa, é melhor optar pela sua inocência.
§ XXXIII – Dos delitos que perturbam a tranquilidade pública
A terceira espécie de delitos compreende os que perturbam o repouso e tranquilidade pública: o tumulto de pessoas que se batem na via pública, destinada ao comércio e passagem dos cidadãos; iluminar a cidade durante a noite à custa do público. São uns dos principais objetos que devem ocupar a vigilância do magistrado de polícia.
§ XXXIV – Da ociosidade
Cabe somente às leis definir a espécie de ociosidade punível. Alguns declamadores confundem pessoas ociosas e inúteis que não dão à sociedade nem trabalho nem riquezas, que não conhecem a necessidade de administrar as comodidades da vida, com a ociosidade que é fruto das riquezas adquiridas pela indústria. Essa espécie pode se tornar vantajosa, na medida em que a sociedade aumenta e o governo dá aos cidadãos mais liberdade.
§ XXXV – Do suicídio e dos imigrantes
O suicídio é um delito que não pode ser submetido a nenhuma pena, pois só poderia recair a um corpo sem vida, ou sobre inocentes. Se a pena é aplicada à família inocente, ela é odiosa e tirânica. Trata-se de um crime que Deus pune após a morte do culpado, e somente ele pode puni-lo. Para Beccaria, aquele que se mata faz menos mal à sociedade do que aquele que renuncia para sempre à sua pátria. O primeiro deixa tudo ao seu país, enquanto o outro lhe rouba sua pessoa e uma parte dos seus bens. Uma lei que tentasse tirar dos cidadãos a liberdade de abandonar seu país seria inútil, a proibição só faria aumentar nos indivíduos o desejo de abandoná-lo. A melhor maneira de fixar um homem em sua pátria é aumentar o bem-estar de cada cidadão.
§ XXXVI – De certos delitos difíceis de constatar
O adultério, a pederastia e o infanticídio são delitos bastante frequentes na sociedade, mas difíceis de provar. Sob o ponto de vista político, esses crimes só são tão frequentes porque as leis não são fixas. O melhor jeito de prevenir essa espécie de delito seria proteger com leis eficazes a fraqueza e a infelicidade contra essa espécie de tirania.
§ XXXVII – De uma espécie particular de delito
Beccaria procura demonstrar como algumas crenças religiosas podem perturbar a tranquilidade pública, a menos que somente uma seja autorizada e todas as outras proscritas. Ao se tornarem mais claras, algumas crenças podem fazer nascer do choque das opiniões à verdade, depois de ter aniquilado o erro. 
§ XXXVIII – De algumas fontes gerais de erros e de injustiças na legislação e, em primeiro lugar, das falsas ideias de utilidade.
Ocupar-se mais com inconvenientes particulares do que gerais, é ter falsa ideia de utilidade. As falsas ideias que os legisladores fizeram da utilidade são uma das fontes mais fecundas de erros e injustiças. Também podemos chamar de falsas ideias de utilidades as que separam o bem geral dos interesses particulares, sacrificando as coisas às palavras. Há uma diferença entre o estado de sociedade e o estado de natureza, o homem selvagem só faz mal a outro quando descobre uma vantagem para si, já o homem social é levado por leis viciosas, a prejudicar sem nenhum proveito. Os infelizes dão menos valor à sua existência na proporção dos males que o afligem.
§ XXXIX – Do espírito de família
O espírito de família é uma fonte de injustiças na legislação. Se a associação é feita por famílias, as leis e os costumes serão obra dos chefes dessas famílias. Nas sociedades compostas por famílias, às crianças ficam sob autoridade do chefe e são obrigadas a obedecer; os jovens ficam à discrição dos pais. Nas repúblicas de homens livres, a subordinação das famílias não é efeito da força, mas de um contrato. Os únicos laços que submetem os filhos aos pais são os sentimentos invioláveis da natureza.
§ XL – Do espírito do fisco
Houve um tempo em que os julgamentos eram nada menos do que um processo entre o fisco, que percebia o preço do crime, e o culpado, que devia pagá-lo. Fazia-se disso um negócio civil. Nesse sistema, quem se confessasse culpado se reconhecia, pela própria confissão, devedor do fisco. 
§ XLI – Dos meios de prevenir crimes
É melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los. Porém, os meios que hoje se aplicam são insuficientes ao fim a que se propõem. Proibir os cidadãos de alguns atos, não tendo nada de nocivo, não irá prevenir os crimes, ao contrário, fará com que surjam novos. O meio mais seguro, mas ao mesmo tempo mais difícil, de tornar os homens menos inclinados a praticar o mal é aperfeiçoar a educação.
Conclusão
As leis foram às condições que reuniram os homens na formação das sociedades. Beccaria defende a ideia de que as leis devem ser fixas e literais, e a pena deve ser essencialmente pública, pronta e necessária nas circunstâncias dadas, proporcionada ao delito e determinada pela lei. É necessário aplicar um castigo a quem tenta cometer um crime, para dar-lhe motivos que o impeçam de terminá-lo. A função das penas é impedir o culpado de ser nocivo à sociedade e desviar outras pessoas para o crime. A melhor maneira de prevenir um crime é dando a certeza de um castigo certo e inevitável. Deve-se haver uma proporção entre os delitose as penas. Toda espécie de delito é danosa à sociedade, mas nem todos os delitos tendem a destruir. É preciso julgar as ações morais e levar em conta o tempo e o lugar. É melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los. O meio mais seguro, mas ao mesmo tempo mais difícil, de tornar os homens menos inclinados a praticar o mal é aperfeiçoar a educação. Beccaria diz: quereis prevenir crimes? Fazei leis simples e claras; e esteja a nação inteira pronta a armar-se para defendê-las, sem que a minoria de que falamos se preocupe constantemente em destruí-las.

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