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1 Anderson Alves Muniz - 2018183996 Elen Rosa Alves Freitas - 2018182974 Referenciais Teórico Metodológicos do Serviço Social Trabalho apresentado a disciplina Filosofia Aplicada ao Serviço Social como exigência de APS, ministrado pela professora Vanessa Rio de Janeiro, Jun de 2018. 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................................03 1. NEOTOMISMO .................................................................................................................05 1.1. O que é o Neotomismo ................................................................................................05 1.2. O que é Tomismo .........................................................................................................05 1.3. Principais ideias e propostas do Neotomismo .............................................................06 1.4. Neotomismo no Serviço Social ...................................................................................06 1.5. Serviço Social no Brasil ..............................................................................................07 2. POSITIVISMO ...................................................................................................................09 2.1. O que é o Positivismo ..................................................................................................09 2.2. Principais ideias e proposta do Positivismo ................................................................09 2.3. Positivismo no Serviço Social .....................................................................................10 3. FUNCIONALISMO ...........................................................................................................12 3.1. O que é o Funcionalismo .............................................................................................12 3.2. Principais ideais e propostas do Funcionalismo ...........................................................12 3.3. Funcionalismo no Serviço Social ................................................................................12 4. FENOMENOLOGIA .........................................................................................................14 4.1. O que é Fenomenologia ..............................................................................................14 4.2. O que é Fenômeno ......................................................................................................14 4.3. Principais ideais e propostas do Funcionalismo .........................................................14 4.4. Fenomenologia no Serviço Social ..............................................................................15 5. MARXISMO (MATERIALISMO, HISTÓRICO, DIALÉTICO) ....................................18 5.1. Principais ideias e propostas do Marxismo ................................................................18 5.2. Materialismo Dialético ...............................................................................................19 5.3. Materialismo Histórico ...............................................................................................19 5.4. Categorias e leis da Dialética ......................................................................................21 5.5. Marxismo no Serviço Social .......................................................................................22 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................24 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................................25 3 INTRODUÇÃO Criada através da união da classe burguesa, o estado e a igreja no século XIX na Europa devido ao surgimento da Questão Social, que é a contradição encontrada entre o capital e o trabalho, nasce o Serviço Social e, posteriormente a Assistência Social, que se caracterizava por uma forma não sistemática, sem teorização e baseada em justificativas religiosas de que a sociedade havia se distanciado de Deus, com a intenção de retorno dos fiéis. Os primeiros profissionais responsáveis surgem com características caritativas, as chamadas “moças boazinhas” ou “Damas da Caridade” que eram incumbidas de distribuir ajuda material e espiritual e a realizar trabalhos sócio educativos, entre outros, que contribuíam para o controle social. Assim nasceu a profissão conhecida atualmente como Serviço Social. De acordo com Iamamoto e Carvalho (1985) o Serviço Social se gestou e se desenvolveu como profissão reconhecida na Divisão Social e Técnica do Trabalho, tendo por pano de fundo o desenvolvimento capitalista e a expansão urbana; adquirindo ao longo dos anos novas características e ganhando cada vez mais espaço. O profissional Assistente Social atua nas demandas da Questão Social manifestada em suas múltiplas expressões, que é onde encontra seu objeto de trabalho, se revelando através das desigualdades sociais e econômicas, expostas nas condições de pobreza, violência, desemprego, entre outras. Para tal atuação o Assistente Social utiliza um Referencial Teórico Metodológico. O objetivo deste trabalho é descrever os principais referenciais teórico metodológicos do Serviço Social. Quais as características, seus idealizadores e a aplicação na realidade. Mas o que são referenciais teórico metodológicos? Nas palavras de Severino (2007, p. 131): (...) os referenciais teórico-metodológicos, ou seja, os instrumentos lógico- categoriais nos quais se apoia para conduzir o trabalho investigativo e o raciocínio. Trata-se de esclarecer as várias categorias que serão utilizadas para dar conta dos fenômenos a serem abordados e explicados. Muitas vezes essas categorias integram algum paradigma teórico específico, de modo explícito. Outras vezes, trata-se de definir bem as categorias explicativas de que se precisa para analisar os fenômenos que são objeto de pesquisa. Na sua gênese o Serviço Social teve influência em sua formação profissional por cinco vertentes filosóficas: Neotomismo, Positivismo, Funcionalismo, Fenomenologia e o Marxismo. Utilizando-as esses profissionais trataram a Questão Social, mediante o teórico metodológico dessas correntes, influenciado no seu teórico operacional, no trato da Questão Social, que se expressa em nossa sociedade capitalista Buscando adequar o seu técnico operacional com a realidade vivenciada em nosso país, a profissão passou por um longo período de reconceituação, onde atualmente a profissão está 4 inserida na perspectiva do Marxismo para assim atuarem com maior efetividade no enfrentamento das Múltiplas Expressões da Questão. 5 1. NEOTOMISMO 1.1. O que é o Neotomismo Neotomismo é uma corrente filosófica que surgiu no século XIX, com objetivo de fazer renascer, atualizar e reviver o tomismo, uma filosofia teológica idealizada pelo dominicano Santo Tomás de Aquino no século XIII. A igreja percebe, no ressurgimento das ideias de Tomás de Aquino o caminho para resolver os problemas daquela época. Pois a crise que a Europa estava vivenciando, devido ao advento da industrialização e o desenvolvimento do modo de produção capitalista, que exercia uma dominação de exploração sobre os operários, levando-os a viver em condição de Pauperismo, leva a igreja a se posicionar, pois este momento era visto pela igreja como de decadênciada moral e do costume cristão. O movimento de retorno à filosofia Tomista da Idade Média, resgatada à luz de tendências intelectuais modernas, é retomada a partir de 1879, por influência do Papa Leão XIII, através da Encíclica "Aetemi Patris", em que propõe a restauração da filosofia Tomista. A Epístola leonina teve por objetivo reagir ao espírito laico provindo, sobretudo, do racionalismo iluminista e do materialismo positivista. Tais sistemas pareciam adentrar nas camadas católicas. Está encíclica gerou uma nova geração de pensadores católicos e conseguiu mais uma vez, levar a filosofia escolásticas para as catedrais universitárias. Um dos principais intérpretes do Neotomismo foi o filósofo francês Jaccques Maritain. Para o Neotomismo, toda filosofia moderna a partir de Descartes se constituiria em erros e equívocos, responsáveis pela crise do mundo moderno. Entendida como desvio metafísico e espiritual. Essa crise só poderia ser superada com retorno ao Tomismo. Na visão Neotomista é inaceitável privilegiar interesses de ideologias como, por exemplo, o neoliberalismo ou o comunismo. 1.2. O que é Tomismo O tomismo é a doutrina filosófica cristã elaborada pelo dominicano italiano Santo Tomás de Aquino. Estudioso do filósofo grego Aristóteles, Tomás de Aquino, dedicou-se ao esclarecimento das relações entre a verdade revelada e a filosofia, isto é, entre a fé e a razão. Segundo sua interpretação, tais conceitos não se chocam, nem se confundem, mas são distintos e harmônicos. Segundo Aguiar (1982) Tomás de Aquino parte da reflexão feita por Aristóteles, e a reinterpreta à luz do cenário filosófico de sua época, marcado por questões: das relações entre Deus e o mundo, fé e ciência, teologia e filosofia, conhecimento e realidade. 6 1.3. Principais ideias e propostas do Neotomismo Resgatar a filosofia Tomista à luz das tendências intelectuais e modernas, retomada do foco filosófico na metafísica. A primeira realidade a ser explicada deve ser Deus, que é a fonte de todos os seres. Após analisar a existência de Deus, analisa o ser humano, entendendo que a pessoa humana é composta de duas substâncias incompletas: alma e corpo. É da transformação destas duas substâncias em uma única substância que resulta o ser humano, distinto de qualquer outro ser. Este ser dotado de razão é capaz de escolher, de saber, de vontade. Por ser inteligente, afirma Santo Tomás de Aquino, a pessoa humana significa o que há de mais perfeito em todo universo (AGUIAR,1982, p.42). Esta perfeição se apresenta no aspecto físico e espiritual. O corpo humano é o mais perfeito, o mais funcional e o mais complexo, e a pessoa humana tem também uma perfeição espiritual que se manifesta através da racionalidade. Esta racionalidade produz o princípio da consciência em si e da liberdade, que o distingue dos outros seres. Portanto, a liberdade e a capacidade de escolha são também manifestações da inteligência do homem. Mas o homem também é dotado de vontade, o que lhe permite a escolha dos caminhos a percorrer na busca da virtude, do bem e no alcance do fim último, que é Deus. O homem também é um ser social, em decorrência da própria natureza humana. Aristóteles e Tomás de Aquino afirmam que o homem é naturalmente um animal social e para desenvolver-se necessita viver em sociedade. A sociedade é a união dos homens com o propósito de efetuar algo comum (COOK apud AGUIAR,1982, p.43). Toda forma de governo, desde que garanta os direitos e o bem-estar da comunidade é boa, e o Estado deve respeitar a igreja, assim não existe conflito entre a fé e a razão. Toda forma de autoridade deriva de Deus, respeitá-la é respeitar a Deus. (SCIACCA apud AGUIAR,1982, p.43). O objetivo é de moldar o homem, integrá-lo a sociedade, aos valores, a moral e aos costumes de uma sociedade cristã, a fim de que alcançassem a perfectibilidade. A sociedade garante a sobrevivência física do homem e atende a solicitude da alma (o fim atemporal), é também a instância na qual o homem pode completar-se e realizar-se como pessoa humana. 1.4. Neotomismo no Serviço Social O Neotomismo foi o primeiro referencial teórico metodológico utilizado pelos primeiros Assistente Sociais que através dessa perspectiva idealizaram um projeto social com o propósito de reeducação de valores morais e obediência a princípios cristãos. No entanto uma situação não resolvida implica na utilização do Neotomismo, pois os Assistente Sociais, criticam o liberalismo e sua ideia individual, o que cria uma situação de conflito, já que esta corrente 7 filosófica eleva a condição de pessoa humana. 1.5. Serviço Social no Brasil O serviço social surge relacionado com as transformações sociais, econômicas e políticas do Brasil nas décadas de 1930 e 1940. Quando Vargas assumiu o governo, deu-se início ao processo de industrialização no país, passando a mudar a forma de produção, que outrora era a agro exportação cafeeira, passando a industrial urbano. Com esse fato, o capitalismo chega ao Brasil, e junto com ele também as mazelas, que estão relacionadas a esse modo de produção, que é excludente e explorador. A profissão surge de uma demanda posta pelo capital, institucionalizando-se e legitimando-se como um dos recursos mobilizados pelo Estado e pelo empresariado, mas com um suporte de uma prática cristã ligada à Igreja Católica. Conforme afirma Yazbek (2000, p. 92): terá particular destaque na estruturação do perfil da emergente profissão no país a Igreja Católica, responsável pelo ideário, pelos conteúdos e pelo processo de formação dos primeiros assistentes sociais brasileiros. Cabe ainda assinalar, que nesse momento, a Questão Social é vista a partir de forte influência do pensamento social da igreja, que trata como questão moral, um conjunto de problemas sob a responsabilidade individual dos sujeitos que os vivenciam, embora situados dentro de relações capitalista. Trata-se de um enfoque individualista, psicologizante e moralizador da questão, que necessita para seu enfrentamento de uma pedagogia psicossocial, que encontrará no Serviço Social afetivas possibilidades de desenvolvimento. A partir de 1932 ocorre uma grande diversificação e ampliação do aparato do movimento católico laico. A intelectualidade Católica procurou a adaptação à realidade nacional do espírito das Encíclicas Sociais Rerum Novarum (Em 15 de maio de 1891, o Papa Leão XIII, publicou, apresentando ao mundo Católico os fundamentos e as diretrizes da Doutrina Social da Igreja) e Quadragésimo Ano (Foi redigido pelo Papa Pio XI, publicada no dia 15 de maio de 1931, em comemoração aos quarentas anos da Rerum Novarum). É formado em 1932 o Centro de Estudo e Ação social (CEAS) que tem como condensação da necessidade sentida pela ação social e pela ação católica, dar efetividade às iniciativas e obras promovidas pela filantropia da classe dominante sob patrocínio da Igreja. Tem por objetivo central "promover a formação" de seus membros pelo estudo da doutrina da Igreja e fundamentar sua ação nessa formação doutrinária e no conhecimento aprofundado dos problemas sociais; tornar mais eficiente a atuação das trabalhadoras sociais. 8 Em 1936 é fundada a Escola de Serviço Social de São Paulo, a primeira a existir no Brasil. Já em 1937 no Rio de Janeiro surge o Instituto de Educação Familiar e Social. Composto das Escolas de Serviço Social (Instituto Social) e Educação Familiar por iniciativa do grupo de Ação Social (GAS). Surge em 1938 a Escola Técnica de Serviço Social (Juízo de Menores). Em 1940 o curso de preparação em Trabalho Social (Escola de Enfermagem Ana Nery). E em 1944 a Escola de Serviço Social, como desdobramento Masculino do Instituto Social(PUC). Estas iniciativas se articularam a uma demanda real e potencial existente por parte do Estado, que assimilaria a formação técnica especializada e formação doutrinária do apostolado social. Sua formação se dividia em quatro aspectos: científica, técnica, moral e doutrinária. Portanto a formação profissional dos primeiros assistentes sociais brasileiros deu-se a partir da influência europeia, por meio do modelo franco-belga que, tendo como base princípios messiânicos (Tomistas) de salvar o corpo e a alma, e fundamentou-se no propósito de "servir ao outro" como afirma Silva (1995, p. 40). O assistente social, naquela época, vai trabalhar pela perspectiva caritativa, enfrentar com subjetividade, a realidade social. Exemplos dessa articulação, na prática, podem ser vistos através das atividades das assistentes sociais subindo os morros das favelas para levar as pessoas a regularizarem suas relações de casal por uma certidão de casamento ou certidão de nascimento dos filhos e a evitar relações consideradas promíscuas ou perigosas: era a ordem moral e social para harmonizar classes sociais e edificar a "boa família", o "bom operário", o "homem e a mulher sadia" (FALEIROS, 2005,p. 13). A partir dessa análise, considerando o contexto sócio econômico, político e cultural, o objetivo de intervenção da profissão se configurava a partir da moral, da higiene e da boa conduta, numa perspectiva de manter a ordem advinda das pressões da sociedade que se encontrava em situação de miserabilidade devido a diversos fatores, advindos do capitalismo. 9 2. POSITIVISMO 2.1. O que é o Positivismo O positivismo é uma corrente filosófica surgida na primeira metade do século XIX, foi fundada por Augusto Comte. Para Comte o positivismo é uma doutrina filosófica, sociológica e política. Surgiu como desenvolvimento sociológico do iluminismo, da crise social e moral do fim da Idade Média, em contraposição às ideias que nortearam a revolução francesa no século XVIII e suas raízes podem ser encontradas na Antiguidade. O positivismo parte do pressuposto de que a sociedade humana é regulada por leis naturais invariáveis, que independem da vontade e da ação humana. Para o positivismo, a filosófia baseada nos dados da experiência é a única verdadeira. O conhecimento se firma em uma verdade comprovada, sendo assim considerando o método experimental o caminho para um pensamento científico, e jamais questionado. Assim sendo, desconsiderando todas as outras formas do conhecimento humano que não possam ser comprovadas cientificamente. 2.2. Principais ideias e proposta do Positivismo A filosofia positivista defende a ideia da exaltação da observação aos fatos, porém, para ligar os fatos, existe a necessidade de uma teoria, sem a qual é impossível que os fatos sejam percebidos. Desde Bacon se repete que são reais os conhecimentos que repousam sobre os fatos observados, mas para entregar-se a observação nosso espírito precisa de uma teoria (TRIVIÑOS, 1987, p. 34). O único objetivo da ciência, na visão positivista, portanto, são os fatos que podem ser observados. Consiste em descobrir as relações entre as coisas. A busca cientifica não está a serviço das necessidades humanas para resolver problemas práticos, e sim investigar, estudar os fatos, e estabelecer relações entre eles, pela própria ciência. Para o positivismo, não interessa as causas dos fenômenos, isso não é tarefa da ciência, isso é metafísico. Um dos traços mais característicos do positivismo é sua rejeição ao conhecimento da metafísica. O positivismo proclama como função essencial da ciência sua capacidade de prever. "O verdadeiro espírito positivo consiste em ver para prever." (TRIVIÑOS, 1987, p. 35). Analisa a sociedade pelo método científico das ciências naturais, associando a natureza com vida social, ou seja, faz-se a naturalização, ou coisificação, da sociedade. A imaginação subordina-se a observação e busca apenas pelo observável e concreto. Considerar a realidade como formada por partes isoladas, de fatos anatômicos. 10 Segundo Comte, o estudo das ciências possui algo muito mais elevado que o de atender os interesses da indústria, que é o de "satisfazer a necessidade fundamental sentida por nossa inteligência, de conhecer as leis dos fenômenos", prescindindo de toda consideração prática (TRIVIÑOS, 1987, p. 35). O positivismo se caracteriza por três preocupações principais: uma filosofia da história na qual encontramos as bases de sua filosofia positiva e sua célebre "lei dos três estados", que marcariam as fases da evolução do pensar humano (teológico, metafísico e positivo); uma fundamentação e classificação das ciências (matemática, astronomia, física, química, fisiologia e sociologia) e a elaboração para estudar os fatos sociais. A sociologia que, em um primeiro momento, Comte denominou física social (TRIVIÑOS, 1987, p. 33). Para os positivistas o progresso da humanidade depende única e exclusivamente dos avanços científicos, único meio capaz de transformar a sociedade e o planeta Terra no paraíso que as gerações anteriores colocavam no mundo além-túmulo. 2.3. Positivismo no Serviço Social A presença do positivismo no serviço social pode ser percebida quando a profissão passa a dar ênfase a instrumentalização técnica, ou seja, quando se soma a preocupação do "o que" fazer a preocupação de "como" fazer, embora esta preocupação tenha feito com que o serviço social caísse muitas vezes no metodismo. O Positivismo chega no Brasil através da influência do serviço social norte-americano, trazida na década de 1940, pelos assistentes sociais brasileiros que foram estudar nos Estados Unidos. Esta influência marca o serviço social em nosso país. Inicialmente temos a importação das técnicas norte-americanas para aplicação na realidade brasileira. Não é preciso dizer que isto causou alguns problemas, pois, segundo Aguiar (1984), a fundamentação do método e das técnicas não era analisada e traduzida para a nossa realidade, era tão somente transplantada. As propostas brasileiras de trabalho foram permeadas pelo caráter conservador da teoria social positivista. Esta reorientação da profissão, que exige a qualificação e sistematização de seu espaço sócio ocupacional, tem como objetivo atender as novas configurações do desenvolvimento capitalista e, consequentemente, as requisições de um Estado que começa a implantar políticas sociais. Desse modo, a matriz positivista terá um importante papel na legitimação do serviço social brasileiro, na medida em que amplia os referenciais técnicos para a profissão. Iamamoto (1998) chama esse processo de "arranjo teórico-doutrinário", que se caracteriza pela junção do discurso humanista-cristão, vindo do Neotomismo com o suporte científico na teoria social positivista. A ação profissional tem por objetivo, orientada pela matriz positivista, eliminar os " desajustes sociais" por meio de uma 11 intervenção moralizadora de caráter individualizado e psicologizante, revelando uma ideia e imagem falsas de reforma social. O conservadorismo continua presente no universo ideológico da profissão e passa a conceber uma política técnico-burocrática a partir desse período, é como expressa Barroco (2003, p. 96). O serviço social traduz sua ação profissional por meio, de uma ética vinculada a moral conservadora e dogmática segundo a base ideológica Neotomista: os " problemas sociais" são concebidos como um conjunto de "disfunções sociais" julgados moralmente segundo uma concepção de "normalidade" dada pelo valor cristão. A tendência ao “ajustamento social", a psicologização da Questão Social, transforma as demandas por direitossociais em "patologias"; com isso o serviço social deixa de viabilizar o que eticamente é de sua responsabilidade: atender as necessidades dos usuários, realizar objetivamente os seus direitos. (BARROCO, 2003. p.94). A abordagem individualizada, com a predominância de uma ação psicologizada, ainda era a mais utilizada pelo serviço social, caracterizada pela perspectiva de responsabilização do indivíduo com o seu destino social. 12 3. FUNCIONALISMO 3.1. O que é o Funcionalismo? O Funcionalismo é uma teoria adaptada para diferentes campos de conhecimento como a filosofia, a psicologia a antropologia. Seu principal objetivo é explicar a sociedade, as ações coletivas e individuais, a partir de causalidades, ou seja, de funções. Desta forma a sociedade, ou o que se observa a partir desta teoria, é compreendida como um organismo, composto por órgãos relacionados e com funções especificas. Para o teórico cada instituição exerce uma função específica na sociedade e o seu mau funcionamento significa desregramento da própria sociedade. O Funcionalismo foi uma das primeiras teorias antropológicas do século XX, até ser superado pela analise estruturo-funcional ou estrutural funcionalismo. 3.2. Principais ideais e propostas do Funcionalismos Fundador desta teoria foi Emile Durkheim um dos fundadores também, da sociologia. Seu interesse era compreender quais são os fatores que definem uma sociedade, ou seja, o que faz com que a sociedade não seja apenas uma coleção de indivíduos. Por isso ele estudou as estruturas que compõem uma sociedade, especialmente em nível macro. Outros autores que contribuíram para a teoria Funcionalista foram Herbert Spencer, Talcott Parsons e Robert Mertom. Esses teóricos funcionalistas compreendem a sociedade como cada parte de acordo com sua função para estabilidade da sociedade como de um todo. Esta visão é por tanto sistêmica, observando quais os fatores que unem as diferentes partes que compõem a sociedade formando um grande sistema, como uma máquina e suas diferentes peças e engrenagens. Nesta visão de acordo com Durkheim o que de fato faz com que todas as partes exerçam sua função é o consenso, ele é quem garante a estabilidade social. 3.3. Funcionalismo no Serviço Social De acordo com Yazbeck (1984, p. 71), essa orientação funcionalista foi absorvida pelo Serviço Social, configurando para a profissão uma proposta de trabalho ajustadora e manipuladora, que se volta para aperfeiçoar instrumentos e técnicas para a intervenção na sociedade. Na perspectiva de Faleiros (1960) do ponto de vista funcionalista do serviço social, a integração significa ajustamento, treinamento, adaptação, submissão, e não integração politicamente construída nas relações sociais, culturais e econômico- familiares. 13 Esse método inspirava uma visão camuflada da realidade, não revelando as contradições existentes entre as classes sociais e interpelando os indivíduos como responsáveis pelos problemas sociais, tanto isoladamente como em grupo. Na análise de Carvalho e Iamamoto (1988.238): a predisposição à apreensão moralizante de categorias abstratas e subjetivas dos problemas sociais, o capitalismo visto como uma natura, as situações conflitivas e a luta de classes aparecerão como desvios. Desvios que tem seu aprofundamento na secularização da sociedade, no paganismo, no laicismo das instituições, no socialismo. A miséria, o pauperismo do proletariado urbano, aparecera como situação patológica, como uma anomia, cuja origem é encontrada na crise de formação desse mesmo proletariado. O método funcionalista de Durkheim foi utilizado por antropólogos e sociólogos que o aperfeiçoaram e complementaram, usando os conceitos de processo, estrutura e função para a compreensão da vida social. O funcionalismo transposto para o serviço social busca a integração do homem ao meio social em que vive, pois, o indivíduo não ajustado corresponde a uma disfunção no sistema social. Devido ao estreitamento das relações entre os EUA, o Serviço Social no Brasil sofreu influência do Método Funcionalista através de intercâmbios de assistentes sociais brasileiros que iam em busca de ampliação dos seus estudos. Incorporando o Funcionalismo no Brasil devido ao grande resultado da metodologia nos Estados Unidos. O modelo inserido em nosso país sustentava uma interpretação de que o desenvolvimento individual era resultado de suas capacidades e cultura, considerando uma visão de harmonia da sociedade, concentrando seus estudos somente nos comportamentos individuais, ignorando quaisquer influências externas tendo o empirismo como ferramenta predominante. 14 4. FENOMENOLOGIA 4.1. O que é Fenomenologia Fenomenologia é uma ciência que trata da descrição e classificação dos fenômenos. O principal idealizador dessa teoria é Husserl (1859-1938), que teve grande influência na filosofia contemporânea. Fenomenologia significa estudo dos fenômenos, ciência dos fenômenos. Husserl em seu trabalho, aborda a ciência da consciência e de seus fenômenos e considera que não se trata de ciência destinada a dar explicações sobre o mundo e as coisas, ou de teoria explicativa que venha a acrescentar às anteriores. A fenomenologia de Husserl germinou durante a crise do subjetivismo e do irracionalismo, no final do século XIX, e no início do século XX. A fenomenologia se propôs a ser uma meditação acerca do conhecimento, um conhecimento do conhecimento, e para tal propõe o que conhecemos como "por entre parêntesis", ou seja, dispensa a cultura, a história e refaz o saber. É uma corrente de pensamento que não está interessada em colocar a historicidade dos fenômenos. Não introduz transformações a realidade, ou seja, mantém-se conservadora, apenas estuda a realidade com o desejo de descrevê-la ou apresentá-la tal como ela é, sem mudanças. Exalta a interpretação do mundo que surge intencionalmente a nossa consciência, sem abordar conflitos de classes e nem mudanças estruturais. (TRIVIÑOS, 1987. p.47-48). 4.2. O que é Fenômeno Fenômeno deriva da palavra grega Phaenomenon que significa iluminar, mostrar-se ou parecer. Portanto tudo que se mostra ou aparece, o que se torna visível. A filosofia considera que o fenômeno é tudo que se mostra ou aparece para uma consciência. Podemos dizer então que fenômeno é tudo aquilo de que podemos ter consciência. São considerados fenômenos não só os objetos dos quais podemos ter consciência, mas também os atos da consciência. Os dados imediatos da consciência se constituem, portanto, no ponto de partida da fenomenologia. 4.3. Principais ideias e propostas da Fenomenologia A fenomenologia visa mostrar e descrever o fenômeno tais como foram vividos, tais como se apresentam, mostrando, explicando, aclarando, desvelando as estruturas da experiência vivida e deixando transparecer na descrição da experiência as estruturas universais. Portanto, a fenomenologia busca nessa descrição encontrar o núcleo fundamental do fenômeno, ou seja, a sua essência, que Husserl chama de eidética. Atingir este núcleo é o que possibilitaria encontrar um significado invariante que teria o status de universal. Isto supõe que todo fenômeno tem uma essência e não pode ser reduzido então a uma única dimensão de fato. Outra ideia 15 importante para compreender a fenomenologia de Husserl é o conceito de intencionalidade. Esta intencionalidade é da consciência que sempre está dirigida a um objeto. Isto tende a reconhecer o princípio que não existe objeto sem sujeito. O termo intencionalidade, primordialno sistema filosófico de Husserl é a característica que se apresenta a consciência de estar orientada para um objeto. Não é possível nenhum tipo de conhecimento se o entendimento não se sente atraído por algo, concretamente por um objeto (TRIVIÑOS, 198. p. 45). Para Husserl, a intencionalidade é algo "puramente descritivo, uma peculiaridade íntima de algumas vivências". Desta maneira, a intencionalidade característica da vivência, determinava que a vivência era consciência de algo (TRIVIÑOS,1 987. p. 45). O estudo das essências, e todos os problemas, segundo a fenomenologia, tornam a definir essência (a essência da percepção, a essência da consciência). Mas também a fenomenologia é uma filosofia que substitui a essência na existência, e não pensa que se possa compreender o homem e o mundo de outra forma senão a partir dos seus fatos. Suspende as afirmações para poder compreendê-las. Compreende o homem através do mundo que ele vive (TRIVIÑOS, 1987. p. 43). A fenomenologia descreve os fatos, não explica e nem analisa. Seu principal objeto é o mundo vivido, ou seja, os sujeitos de forma isolada. Considera a imersão no cotidiano e a familiaridade com as coisas tangíveis. Para Husserl o exame do conhecimento deve ter um método, sendo este o da fenomenologia, que é "a doutrina universal das ciências, em que se integra a ciência da essência do conhecimento" (TRIVIÑOS, 1987, p. 44). 4.4. Fenomenologia no Serviço Social Em meados de 1960, surge um movimento importante no desenvolvimento do Serviço Social como profissão. É a primeira crise ideológica em algumas escolas de serviço social, com aparecimento, na América Latina, da proposta de transformação da sociedade, em substituição a desenvolvimentista adotada até o momento. Nessa década, o mundo passa por grandes transformações, especialmente na América Latina, com a Revolução Cubana que, criticando as estruturas capitalistas, mostra-se ao continente como alternativa de desenvolvimento, libertando-se dos Estados Unidos. É grande o inconformismo popular com o modelo de desenvolvimento industrial urbano dominante. Essa crise não poderia deixar de atingir as Universidades e, especialmente, o Serviço Social que começa a questionar sua ação, conforme apresenta Netto (2001, p.128): trata-se de um cenário, em primeiro lugar, completamente distinto daqueles em que se moveu a profissão até meados dos anos sessenta. Sem entrar na complexa causalidade que subjazia ao Brasil, até a primeira metade da década de sessenta, não apresentava polêmicas de relevo, mostrava uma relativa homogeneidade nas suas 16 projeções interventivas, sugeria uma grande unidade nas suas propostas profissionais, sinalizava uma formal assepsia de participação político-partidária, carecia de uma elaboração teórica significativa e plasmava-se numa categoria profissional onde parecia imperar, sem disputas de vulto, uma consensual direção interventiva e cívica: Assim o serviço social começa a perceber a dimensão política de sua prática, e o modelo vigente baseado na visão funcionalista do indivíduo e com funções integradoras não é mais de interesse da realidade latino-americana que passava por transformações sociais, políticas e econômicas. O modelo importado de serviço social torna-se inoperante e tem início um processo de ruptura teórico-metodológico, prático e ideológico. "A ruptura com o serviço social tradicional se inscreve na dinâmica de rompimento das amarras imperialistas, de luta pela libertação nacional e de transformações da estrutura capitalista excludente, concentradora, exploradora" (FALEIROS,1987, p. 51). Assim, em plena vigência da Ditadura Militar, instaurada no País desde os anos de 1964, é que o Serviço Social vai passar por processo de renovação amplo que mudará de forma significativa sua base teórico-conceitual. Netto (2001, p. 151-164) apresenta três vertentes que se fizeram presentes no processo de renovação do serviço social no Brasil e instauraram o ecletismo ou pluralismo profissional: a tendência modernizadora, a reatualização do conservadorismo e a intenção de ruptura. E foi na década de 1970, no bojo do movimento de reconceituação, que ganha espaço no Serviço Social brasileiro a presença da fenomenologia. A partir da década 1970 a fenomenologia passa a exercer influência no Serviço Social brasileiro, principalmente a partir da Pontifica Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, com reflexões da Assistente Social Ana Augusta de Almeida. E em 1978, com o III Seminário de Teorização do Serviço Social brasileiro, que resultou no Documento de Sumaré, em que é explicitada pela primeira vez a presença da fenomenologia no Serviço Social brasileiro. A vertente da reatualização do conservadorismo (ou fenomenológica) buscou desenvolver procedimentos diferenciados para a ação profissional, a partir do que seus teóricos conceberam como referencial fenomenológico. Esta vertente recupera o que há de mais conservador na herança profissional, com um enfoque psicologizante das relações sociais e distante do verdadeiro legado fenomenológico de Husserl. Segundo BARROCO (2003, p. 138): A fenomenologia se apresenta como um método de ajuda psicossocial fundado na valorização do diálogo e do relacionamento; a perspectiva psicologizante da origem da profissão.[...] e o marco referencial teórico dessa metodologia é constituído por três grandes conceitos: diálogo, pessoa e transformação social. Na perspectiva do teórico metodológico da fenomenologia o Serviço Social se realiza através da intervenção social ou tratamento social. Trata-se de um 17 procedimento sistemático onde se desenvolve um processo de ajuda psicossocial, o qual é realizado através de um diálogo que deve levar mudanças, partindo das experiências da pessoa, grupo e comunidade (BRANDÃO, 2006). 18 5. MARXISMO (MATERIALISMO, HISTÓRICO, DIALÉTICO) O marxismo é uma corrente filosófica que surgiu no século XIX e fundada por Karl Marx. Um intelectual e revolucionário alemão, que atuou como economista, filosofo, historiador, teórico político e jornalista. Ao fundar a doutrina comunista moderna, Marx revolucionou o pensamento filosófico. Nessa década a Europa passava por grandes transformações, devido ao advento do capitalismo que surgiu como uma nova forma de produção econômica, política e social, e vinha se desenvolvendo, estabelecendo assim, um novo modelo de governo. Onde era determinada e estabelecida as relações sociais. Marx analisou esta sociedade, com objetivo de desvelar a sua estrutura e a sua dinâmica. O Marxismo compreende três aspectos principais: materialismo dialético, materialismo histórico e a economia política. A teoria marxista é, essencialmente, uma crítica radical das sociedades capitalistas. Mas é uma crítica que não se limita a teoria em si. O filosofo Engels teve uma grande contribuição, ao se ajuntar a Marx. Engels juntamente com Marx elaboraram o pensamento ideológico "Manifesto Comunista", Engels também foi coautor de diversas obras de Marx. Karl Marx utilizou-se de várias ideias de Hegel, fundamentais para o Marxismo, como por exemplo: o conceito de alienação e de maneira essencial, seu ponto de vista dialético da compreensão da realidade. Desenvolveu-se dentro de sua concepção materialista do mundo, ao invés de vinculá-las ao espírito absoluto hegeliano (TRIVIÑOS, 1987, p. 50). Marx substitui o idealismo hegeliano por um realismo materialista: a matéria é o princípio e a consciência, produto da matéria. São as relações de produção que formam a estrutura econômica da sociedade,base sobre a qual se ergue a superestrutura jurídica, política, religiosa, etc. 5.1. Principais ideias e propostas do Marxismo Marx e Engels vão analisar a realidade social em que viviam, e irão perceber que ela era dinâmica e contraditória. Enquanto o avanço técnico permitia o domínio crescente do ser humano sobre a natureza, gerando o processo e o enriquecimento de alguns, a classe operária era cada vez mais explorada, empobrecida e afastada dos bens materiais de que necessitava para sobreviver. Portanto, era fundamental estudar os fatores materiais (econômicos e técnicos) e a forma pela qual os bens eram produzidos, para então compreender a sociedade e explicar seu desenvolvimento. Então Marx vai desenvolver o método que permite uma interpretação materialista da história através do método dialético. 19 5.2. Materialismo Dialético É a base filosófica do marxismo que tenta buscar explicações coerentes, lógicas e racionais para os fenômenos da natureza, da sociedade e do pensamento. Baseia-se numa interpretação dialética do mundo; constitui uma concepção cientifica da realidade, enriquecida com a prática social da humanidade. Além de ter como base de seus princípios a matéria, a dialética e a prática social. O materialismo dialético também aspira ser a teoria orientada da revolução do proletariado. Este pensar filosófico tem como propósito fundamental o estudo das leis gerais que regem a natureza, a sociedade e o pensamento. Isto leva ao estudo da teoria do conhecimento e a elaboração da lógica. Através do enfoque dialético da realidade, o materialismo dialético mostra como se transforma a matéria e como se realiza a passagem das formas inferiores às superiores. O método dialético é aquele que penetra no mundo dos fenômenos através de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e das mudanças dialéticas que ocorrem na matéria e na sociedade. O pesquisador que aplica o método dialético compreende a realidade, valoriza a contradição dinâmica do fato observado e a atividade criadora do sujeito que está sempre a caminho, em formação, inacabado, aberto para novas alternativas (CORDEIRO, 1999, p. 50); as definições da dialética materialista dos clássicos dos marxismo ressaltam os aspectos que se referem ás formas do movimento universais e as conexões que se observam entre elas. Engels a define como a ciência "das leis do movimento e desenvolvimento da natureza, da sociedade humana e do pensamento". E Lênin a define como "a doutrina do desenvolvimento na sua forma mais completa, mais profunda e mais isenta da unilateralidade, a doutrina da relatividade do conhecimento humano, que nos dá um reflexo da matéria em eterno desenvolvimento" (TRIVIÑOS, 1987, p. 53). Umas das ideias mais originais do materialismo dialético foi ressaltar a importância da prática social como critério de verdade. Assim, as verdades científicas, em geral, significam graus de conhecimento, limitados pela história. Portanto o pesquisador que seguir essa linha teórica deve ter presente em seu estudo uma concepção dialética da realidade natural, social e do pensamento, a materialidade dos fenômenos e que estes são possíveis de conhecer (TRIVIÑOS, 1987, p. 73). 5.3. Materialismo Histórico É a ciência filosófica do marxismo que estuda as leis sociológicas que caracterizam a vida da sociedade, de sua evolução histórica e da prática social dos homens, no desenvolvimento da humanidade. O materialismo histórico significou uma mudança 20 fundamental na interpretação dos fenômenos sociais, pois até o nascimento do marxismo, se apoiava em concepções idealistas da sociedade humana. Marx e Engels colocaram pela primeira vez, em sua obra; "a ideologia alemã (1845-46), as bases do materialismo histórico" (TRIVIÑOS, 1987, p. 51). O materialismo histórico ressalta a força das ideias, capaz de introduzir mudanças nas bases econômicas que as originou. Por isso, destaca a ação dos partidos políticos, dos agrupamentos humanos, etc. Essa ação pode produzir transformações importantes nos fundamentos materiais dos grupos sociais. É a ciência filosófica que esclarece vários conceitos como: ser social (são relações materiais dos homens com a natureza e entre si que existem em forma objetiva, independente da consciência); consciência social (são as ideias políticas, jurídicas, filosóficas, estéticas, religiosas, etc.); meios de produção (tudo que os homens empregam para originar bens materiais, como, máquinas, ferramentas, energia, matérias químicas, etc.); forças produtivas (são os meios de produção, os homens, sua experiência de produção, seus hábitos de trabalho.); relações de produção (podem ser de cooperação, de submissão ou de um tipo de relações que signifique transição entre as formas assinaladas.); modos de produção (da comunidade primitiva, escravista, feudalista, capitalista e comunista.). De maneira muito geral, pode-se dizer que a concepção materialista apresenta três características importantes. A primeira delas é a materialidade do mundo, onde todos os fenômenos, objetos e processos que realizam a realidade são materiais. Segundo (TRIVIÑOS, 1987, p. 56): Lênin, numa de suas obras, define a matéria como " uma categoria filosófica para designar a realidade objetiva que é dada ao homem nas suas sensações, que é copiada, fotografada, refletida pelas nossas ações, existindo independentemente delas". A segunda peculiaridade ressalta a consciência, como uma propriedade da matéria. A grande propriedade da consciência é a de refletir a realidade objetiva; assim surgem as sensações, as percepções, representações, conceitos e juízos. É fundamental estabelecer que o cérebro por si só não pensa; a consciência está unida à realidade material. Esta influi sobre os órgãos dos sentidos que transmitem as mensagens aceitas pelos canais nervosos ao córtex dos grandes hemisférios cerebelosos (TRIVIÑOS, 1987, p. 62). A última é a prática social, onde a prática é toda atividade material, orientada para transformar a natureza e a vida social. A prática social se desenvolve e enriquece através da atividade prática e teórica dos diferentes indivíduos e coletividades. 21 5.4. Categorias e leis da Dialética Para o marxismo, as categorias se formaram no desenvolvimento histórico do conhecimento e na prática social. Significa que o sistema de categorias surgiu como resultado da unidade do histórico e do lógico. São entendidas como "formas de conscientização dos conceitos dos modos universais da relação do homem com o mundo, que refletem as propriedades e leis mais gerais e essências da natureza, da sociedade e do pensamento". Entende-se por lei "uma ligação necessária geral, iterativa ou estável" (TRIVIÑOS, 1987, p .54). Tanto as categorias como as leis "refletem as leis universais do ser, as ligações e os aspectos universais da realidade objetiva". A dialética materialista compõe-se de leis básicas que conduzem o desenvolvimento do mundo e do pensamento do homem na realidade concreta em que vive. As três leis básicas da dialética: a lei da unidade e dos contrários: o princípio básico desta lei é que os contrários estão inseparavelmente ligados e constituem um único processo contraditório, são interdependentes, isto é, um só existe porque o outro existe. O fato, portanto, de estarem ao mesmo tempo ligados entre si formando uma unidade e repelindo-se mutuamente resulta na luta desses contrários. Nesse sentido, o papel principal é desempenhado não pela unidade, mas pela luta dos contrários, assim, a unidade é relativa, temporária e transitória; enquanto a luta é absoluta, como é o movimento. A lei da negação da negação: o princípio básico desta lei é quecada fase superior nega ou até mesmo elimina a fase anterior. Implica a passagem de um fenômeno para uma nova fase, num processo contínuo de superação a partir da negação. A lei da transição das mudanças quantitativas em qualitativas: o princípio básico desta lei é que as mudanças quantitativas que podem parecer pequenas e imperceptíveis, inicialmente, vão se acumulando e atingem uma fase em que se tornam mudanças qualitativas. A mudança quantitativa pode ser lenta, mas quando dá o salto para uma nova qualidade é brusca e transformadora, revolucionária. Esta transformação não é possível sem o acúmulo de pequenas e sucessivas mudanças quantitativas. A teoria marxista nos oferece um caminho com bons propósitos. Seque uma linha comprometida com um projeto de transformação da realidade social, sua intervenção oferece toda uma preocupação com a análise dialética da realidade; além disso, procura buscar explicações coerentes, lógicas e racionais, sem deixar de ressaltar a prática social como critério de verdade. 22 5.5. Marxismo no Serviço Social O Movimento de Reconceituação do Serviço Social, iniciado na década de 1960, representou uma tomada de consciência crítica e política dos assistentes sociais em toda América Latina, não obstante, no Brasil as condições políticas em que ele ocorreu trouxe elementos muito diversos dos traçados em outros países. As restrições da Ditadura Militar, principalmente depois do Ato Institucional nº 5 (BARROS, 1997, p. 42), trouxeram elementos importantes nos rumos tomados pelo Serviço Social em seu processo de renovação. Esses profissionais, mediante o reconhecimento de intensas contradições ocorridas no exercício profissional, questionavam seu papel na sociedade, buscando levar a profissão a romper com a alienação ideológica a que se submetera. Suas expectativas e desejos voltavam-se para a busca da identidade profissional do Serviço Social e sua legitimação no mundo capitalista. Para isso, uma nova proposta teórico-ideológica deveria alicerçar o ensino da profissão, originando uma prática não assistencialista, mas transformadora, comprometida com as classes populares. Assim como afirma José Filho (2002, p. 57), que o Serviço Social, no decorrer das últimas décadas, evoluiu no processo de pensar a si mesmo e a sociedade, produzindo novas concepções e autorrepresentação como "técnica social", "ação social modernizante" e posteriormente "processo político transformador". Atualmente põe ênfase nas problematizações da cidadania, das políticas sociais em geral e, particularmente, na Assistência Social. A vertente do movimento de reconceituação nos anos 1980 foi a marxista, denominada de intenção de ruptura com o Serviço Social tradicional (NETTO, 2001, p. 247). Quando o modelo filosófico elaborado por Karl Marx, passou a embasar o referencial teórico-metodológico do Serviço Social, o chamado materialismo Histórico Dialético. Segundo Netto (2001, p. 148), é no marco desse movimento que o Serviço Social, abertamente, apropria-se da tradição marxista e o pensamento de raiz marxiana deixou de ser estranho no universo profissional. Fundamentadas nessa nova perspectiva, especialmente no que se refere a dimensão político-ideológica, explicitam o caráter contraditório de sua prática e vinculam sua ação profissional a transformação social. A intervenção profissional do assistente social pode ser caracterizada pelo atendimento ás demandas e necessidades sociais de seus usuários, que podem produzir resultados concretos, tanto nas dimensões materiais, quanto nas dimensões sociais, políticas e culturais da vida da população, viabilizando seu acesso as políticas sociais. (YASBEK,2009). Como profissional inserido na divisão sócio técnica do trabalho, o assistente social é demandado a desenvolver ações como gestor e executor de políticas sociais, programas, projetos, serviços, recursos e bens 23 no âmbito das organizações públicas e privadas, operando sob diversas perspectivas, como no planejamento e gestão social de serviços e políticas sociais, na prestação de serviço e na ação socioeducativa (YASBEK, 2009). 24 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O conteúdo deste trabalho é de extrema relevância para o conhecimento dos Referenciais Teórico Metodológicos do qual o Assistente social dispõe como ferramenta cientifica de trabalho. Atualmente no Brasil a metodologia utilizada é a Marxista que propõe uma análise da sociedade capitalista e, como esta, influência no desenvolvimento da vida do usuário. Lançando mão dos demais referenciais que tratam o indivíduo de forma isolada desconsiderando a influência da sociedade capitalista, considerando a mesma harmônica. É essencial conhecer os referenciais, suas histórias, aplicações e implicações na vida do indivíduo e da sociedade, para entender e intervir de forma efetiva, sempre em busca de um equilíbrio entre as classes. 25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, A. G. O Serviço Social e filosofia: das origens a Araxá. São Paulo: Cortez; Unimep, 1982. _______, A. G. A Filosofia no currículo de Serviço Social. Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo, v.15, p. 05-19, ago. 1984. BARROCO, M. L. S. Ética e Serviço Social: Fundamentos ontológicos. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2003. BARROS, E. L. Os governos militares. 5ª ed. São Paulo: Contexto, 1997. BRANDÃO, R. C. C. O Serviço Social no Brasil: a reinstrumentalização necessária. 2006. 166f. Tese (Doutorado em Serviço Social) - Faculdade de História, Direito e Serviço Social, UNESP, Franca, 2006. CORDEIRO, DARCY. Ciência, pesquisa e trabalho científico: uma abordagem metodológica. 2ª ed. Goiânia: Ed. UCG. 1999. FALEIROS, V. P. 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