Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIDADE 4 – Ligações Químicas e Estrutura Molecular 4.1. Introdução Quando pensamos na ligação química entre átomos, formando moléculas, precisamos pensar também em como será o arranjo espacial desses átomos. Isso é muito fácil quando temos moléculas diatômicas, como H2, N2, HCl, etc., poie pensar nessas moléculas no espaço é simplesmente pensar em dois núcleos atômicos unidos por forças atrativas. Mas quando temos moléculas com três átomos ou mais, como esses átomos se arranjam no espaço? 4.2 Geometrias Moleculares Comuns Moléculas lineares Nesta geometria, todos os átomos presentes na molécula estão dispostos em uma linha reta, com ângulo de ligação de 180º Moléculas Trigonais planas (triangulares) Na geometria trigonal plana, três átomos estão localizados nos vértices de um triângulo, e ligados a um quarto átomo central. Os ângulos de ligação são de 120º Moléculas tetraédricas Quatro átomos estão localizados nos vértices de um tetraedro, ligados a um quinto átomo, no centro. Os ângulos de ligação são de 109,5º Moléculas bipiramidais triangulares Duas pirâmides triangulares compartilham a mesma base. O átomo central está localizado no centro da figura, e liga-se a cinco átomos que ocupam os vértices. As ligações horizontais são chamadas equatoriais e tem ângulo de ligação de 120º, enquanto as ligações verticais (axiais) possuem ângulo de ligação de 90º com a s equatoriais. Moléculas octaédricas Figura com oito lados. Duas pirâmides quadradas compartilham a mesma base. O átomo central liga-se a seis átomos localizados nos vértices do octaedro. Todos os ângulos de ligação são de 90º. 4.3. Teoria da repulsão dos Pares de Elétrons da Camada de valência (VSPER) Já vimos as principais geometrias moleculares possíveis para as moléculas. Mas como prever que geometria cada composto adotará? Uma maneira simples de prever a geometria molecular é dada pelo método VSPER, que considera o número de pares de elétrons de valência em torno de cada átomo. A teoria é baseada na noção de que os pares de elétrons da camada de valência possuem carga negativa, e repelem-se entre si, estando dispostos o mais distante possível uns dos outros, para minimizar a energia. Esse número de pares é obtido a partir da estrutura de Lewis. Os elétrons distribuem-se ao redor do núcleo aos pares. Os pares de elétrons de mesma energia (de valência) repelem-se uns aos outros. Devido à repulsão entre os pares de elétrons, eles arranjam-se ao redor do núcleo na maior distância possível entre si. Pares de elétrons não ligados possuem força de repulsão maior que pares ligados. 1. Geometria molecular em função do número de pares de elétrons Domínios eletrônicos D.E. ligantes D.E. não ligantes Geometria Ângulo das ligações Exemplo Imagem 2 2 0 linear 180° CO2 3 3 0 trigonal plana 120° BF3 3 2 1 angular 120° (119°) SO2 4 4 0 tetraédrica 109.5° CH4 4 3 1 piramidal 109.5° (107.5°) NH3 4 2 2 angular 109.5° (104.5°) H2O 5 5 0 bipiramidal trigonal 90°, 120° PCl5 5 4 1 gangorra 180°, 120° (173.1°, 101.6°) SF4 5 3 2 forma de T 90°, 180° (87.5°, < 180°) ClF3 5 2 3 linear 180° XeF2 Domínios eletrônicos D.E. ligantes D.E. não ligantes Geometria Ângulo das ligações Exemplo Imagem 6 6 0 octaédrica 90° SF6 6 5 1 piramidal quadrada 90° (84.8°) BrF5 6 4 2 quadrada plana 90° XeF4 7 7 0 bipiramidal pentagonal 90°, 72° IF7 Fonte: Wikipedia – a Enciclopédia Livre. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Geometria_molecular. Acessado: 24/05/2012. 4.5. Teorias de Ligação Tão importante quanto conhecer a geometria molecular, é saber como os átomos mantém-se unidos, ou seja, como ocorrem as ligações químicas. Existem, fundamentalmente, duas teorias de ligação covalente, que evoluíram paralelamente, e se complementam em muitos aspectos. São elas, a Teoria da Ligação de Valência, e a Teoria dos Orbitais Moleculares. Ambas baseiam-se na Mecânica Quântica, com os elétrons distribuídos em orbitais. A teoria da ligação de valência considera os átomos individuais, cada um com seus próprios orbitais e elétrons, agrupando-se para formarem as ligações covalentes da molécula. Essas ligações se formam pela sobreposição dos orbitais atômicos. A geometria molecular está baseada na forma dos orbitais atômicos que participam das ligações. Já a teoria dos Orbitais Moleculares não dá importância a como a molécula é formada, e à geometria final, apenas vê a molécula como um núcleo positivo envolvido por elétrons. Os orbitais atômicos geram orbitais moleculares. Sempre que dois orbitais atômicos interagem, geram dois orbitais moleculares, um ligante e outro antiligante. Para explicar as ligações químicas usamos uma das teorias, ou ambas, se necessário. A teoria da ligação de valência em uma concepção básica é mais facilmente compreendida, e será brevemente abordada. As ligações são formadas pela sobreposição frontal (no mesmo eixo) ou paralela dos orbitais. Se a aproximação for frontal, teremos a formação de ligações sigma (σ), enquanto a aproximação lateral produz ligações do tipo pi (π) Figura 19.1 A sobreposição de dois orbitais 1s em H2 (ligação σ) Figura 19.2 A sobreposição de orbitais 1s e 2px no HF (ligação σ) Figura 19.3 A sobreposição de dois orbitais 2px no F2 (ligação σ). Figura 19.4 A formação de uma ligação π 4.4. ORBITAIS HÍBRIDOS O carbono forma um número incontável de compostos cujos átomos ligam-se covalentemente a quatro outros átomos. O mais simples desses compostos é o metano, CH4. Como a teoria VB pode descrever as ligações no metano? Quais orbitais são usados por um átomo de carbono para formação da ligação com quatro átomos de hidrogênio? A configuração eletrônica de C em seu estado fundamental é: O carbono, como visto no diagrama, parece ser capaz de formar somente duas ligações covalentes normais, contribuindo com dois de seus elétrons desemparelhados para o compartilhamento. Desta forma, o átomo de carbono formará duas ligações com, por exemplo, dois átomos de hidrogênio. A molécula resultante CH2, metileno, tem sido, na verdade, detectada, mas é tão reativa que tem vida curta. Em outras palavras, CH4 é uma molécula muito mais estável; como o carbono formar quatro ligações? De acordo com a estrutura de Lewis para o metano: O átomo de carbono usa todos os seus quatro elétrons de valência para formar as ligações. Agora, a teoria VSEPR prediz que, para uma repulsão eletrônica mínima, a molécula de metano deverá ser tetraédrica. Deverá ter em cada ligação H—C—H ângulo de 109,50°, chamado ângulo tetraédrico. Experimentos verificaram que tal ângulo de fato é formado na molécula de metano. Como podemos considerar para o metano quatro ligações e uma estrutura tetraédrica? Suponha que um dos elétrons 2s do carbono seja promovido (energia maior) para o orbital 2p vazio: Agora o átomo de carbono parece estar pronto para formar quatro ligações σ pela sobreposição de seus orbitais 2s e 2p com os orbitais 1s dos quatro átomos H. A dificuldade aqui é que, se a ligação ocorresse dessa maneira, a molécula de CH4 não seria tetraédrica. Molécula tetraédrica do metano. Na molécula de metano tetraédrica, todas as quatro ligações C–H são equivalentes em todas as propriedades. (Todos os comprimentos das ligações são iguais, todos os ângulos de ligação são os mesmos etc.). Como é possível considerar que orbitais s e p são geometricamente equivalentes? Deve ser pelo fato de que os orbitais 2s e 2p de um átomo isolado do carbono em seu estado fundamental não são os orbitais usados na ligação. De acordo com a mecânica quântica, quando um átomo de carbono forma quatro ligações equivalentes, os orbitais de carbono da camada de valência no seu estado fundamental não são usados diretamente na ligação, mas é formado um novo conjunto de orbitais equivalentes,um conjunto com a geometria correta para o elétron emparelhado na camada de valência em um vértice do tetraedro. Isso pode parecer como um passe de mágica e, para se compreender esta substituição, consideraremos primeiro dois casos simples, a ligação do berílio no BeH2 e do boro no BH3. Retomaremos ao "problema do metano" brevemente. ORBITAIS HÍBRIDOS sp O berílio (Z = 4) forma com o hidrogênio um composto que a altas temperaturas existe como moléculas discretas BeH2. Sua estrutura de Lewis mostra menos que um octeto na camada de valência do Be: E, como predito pela teoria VSEPR, a molécula é linear. Como um átomo de berílio usa os elétrons e os orbitais da camada de valência para formar uma molécula linear BeH2? A configuração eletrônica do berílio no estado fundamental é: Quando o Be forma duas ligações, seus orbitais 2s e um dos 2p são substituídos por dois orbitais novos chamados orbitais híbridos, que são usados para a ligação. Talvez algumas ilustrações sejam úteis. No lado esquerdo da Figura abaixo são mostradas superfícies de orbitais 2s e 2p. Diz-se que esses orbitais devem se misturar ou hibridizar, para formar dois novos orbitais híbridos. Isto acontece de duas maneiras, primeiro pela adição de orbitais s e p (desenho à direita e no alto) e segundo, pela sua estruturação. Neste processo os orbitais s e px são substituídos por dois orbitais híbridos sp, idênticos em forma e altamente direcionais, sendo compostos de um lóbulo maior e, 180° afastado, um lóbulo muito menor. Os dois orbitais híbridos são equivalentes em todos os aspectos, exceto pela orientação: eles têm seus lóbulos maiores direta e exatamente em sentidos opostos. Figura: A formação de orbitais híbridos sp. Nesta hibridização, dois orbitais nos estados fundamentais não-equivalentes (um é um s e o outro um p) são substituídos por um par de orbitais híbridos equivalentes. Como relacionar a teoria VSEPR, que prediz a linearidade do BeH2, com a explicação anterior? O uso de orbitais híbridos pelo átomo de Be no BeH2 proporciona o mecanismo para o estabelecimento dos pares de elétrons de valência, deforma a minimizar a repulsão entre eles. A molécula de BeH2. ORBITAIS HÍBRIDOS sp2 Outras combinações de orbitais podem produzir conjuntos de orbitais híbridos que proporcionam a geometria necessária para o mínimo de repulsão entre pares. Considere, por exemplo, a molécula de BH3. O boro (Z = 5) usa seus orbitais 2s e dois orbitais 2p para formar um conjunto de três orbitais híbridos equivalentes sp2: A formação de orbitais híbridos sp2. Cada um dos três híbridos sp2 tem aproximadamente a mesma forma de um orbital híbrido sp, mas os três são orientados a 120°, como é mostrado na Figura acima. Se cada um dos híbridos sp2 de um átomo de boro se sobrepõe a um orbital 1s de um átomo de hidrogênio, uma molécula de BH3 (hidreto de boro ou borano) é formada: BH3: estrutura provável. Essa molécula, vista na Figura, deverá ter uma estrutura trigonal plana, consistente com a predição da teoria VSEPR e com a hibridização sp2. ORBITAIS HÍBRIDOS sp3 Finalmente, retomamos ao problema da ligação tetraédrica no metano (CH4). Nesta molécula o átomo de carbono usa o orbital 2s e todos os três orbitais 2p para formar um conjunto de quatro equivalentes orbitais híbridos sp3: Orbitais sp3 são muito semelhantes aos orbitais sp e sp2 em sua forma, mas seus lóbulos maiores estão direcionados para os vértices de um tetraedro regular. Esses orbitais aparecem individualmente à direita na Figura abaixo, onde são mostrados circunscritos por um cubo para tomar a inter-relação geométrica clara. A formação de orbitais híbridos sp3. A sobreposição de orbitais 1s dos quatro átomos de hidrogênio com um orbital sp3 do átomo de carbono proporciona a forma tetraédrica requeri da para o mínimo de repulsão eletrônica no CH4, o que é consistente não só com a predição feita pela teoria VSEPR, mas também com evidências experimentais. A MOLÉCULA DE AMÔNIA Existem muitas moléculas pequenas nas quais a ligação é melhor descrita em termos de orbitais híbridos sp3, incluindo algumas que não são de forma tetraédrica. Na amônia: A mistura de orbitais 2s e três orbitais 2p de um átomo de nitrogênio (Z =7) para formar híbridos sp3 ocorre essencialmente como no caso de C no CH4: A molécula de NH3. Em (a) a orientação é semelhante à do CH4; em (b) os três átomos H formam a base de uma pirâmide trigonal. Nesse caso, entretanto, como o átomo de nitrogênio tem um elétron a mais que o átomo de C, somente três dos orbitais híbridos sp3 são accessíveis para formar ligações com os átomos H. O quarto contém um par isolado, como mostrado na estrutura de Lewis. Conseqüentemente, o NH3 tem uma forma geométrica semelhante à do CH4, exceto pela perda de um átomo de H. Em outras palavras, é uma pirâmide trigonal, cuja base é definida pelos três átomos de H, que estão de acordo com a teoria VSEPR e também com a observação experimental Na amônia, os ângulos das ligações H—N—H são de 107,3°, um pouco menores que o ângulo tetraédrico de 109,5°. Isto é um resultado da repulsão entre o par eletrônico isolado e os três pares compartilhados. A nuvem eletrônica do par isolado é mais difusa, expandida lateralmente em espaço maior do que o par compartilhado, implicando repulsões par isolado – par compartilhado maiores que as repulsões par compartilhado – par compartilhado, para qualquer ângulo. A repulsão entre o par de elétrons isolado e três pares de ligações no NH3 empurram os pares de ligação lentamente, e os átomos H ajustam suas posições para uma melhor sobreposição. (Ver Figura abaixo.) Repulsão par isolado – par compartilhado no NH3. A MOLÉCULA DE ÁGUA A ligação na água: Também usa orbitais híbridos sp3. Os quatro orbitais da camada de valência do átomo de oxigênio hibridizam, e os quatro orbitais híbridos resultantes sp3 são ocupados por dois pares de elétrons isolados e dois pares compartilhados. A estrutura da molécula da água é consequentemente curva, ou angular. Em H2O, há um fechamento ainda maior do ângulo tetraédrico, 109,5°, que o de NH3, por causa da existência de dois pares isolados; o ângulo medido em H2O é somente 104,5°. A molécula de água.
Compartilhar