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A Teologia do Culto Reformado

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A Teologia do Culto Reformado 
por 
Autor Desconhecido 
É freqüentemente suposto que as reformas litúrgicas de Lutero e Calvino são 
concordes somente na condenação dos abusos existentes no final da Igreja 
Medieval. É também admitido que as diferença nas respectivas concepções de 
Culto e no cerne essencial das suas ordens litúrgicas, refletiam os contrastes no 
temperamento deles. Isto, eu espero demonstrar, é um grave equivoco no 
entendimento tanto de Lutero como de Calvino em dois aspectos. Uma tentativa 
será feita para demonstrar que os pilares gêmeos da Reforma concordavam não 
apenas no que constituía os abusos do final da igreja medieval, mas também no 
desejo de retornar para a primitiva simplicidade do culto cristão. Espero 
demonstrar que a concordância deles sobre os abusos que deviam ser corrigidos, 
muito mais que a expressão de suas preferências subjetivas, foi devida às doutrinas 
teológicas que eles mantinham em comum. Em segundo lugar, será demonstrado 
que é uma simplificação espúria da matéria, declarar que os desacordos entre 
Lutero e Calvino são explicados como resultado, respectivamente, do 
conservadorismo de Lutero e da natureza rigidamente lógica de Calvino. Mesmo 
que esta afirmação seja alterada e venha a produzir a impressão que Calvino foi 
inteiramente verdadeiro aos seus princípios, enquanto Lutero foi conservador, isto 
ainda permanece uma concepção injusta a respeito de Lutero. Seu aparente 
conservadorismo pode ser explicado por princípios teológicos. 
Os Reformadores eram concordes com respeito aos abusos da igreja medieval, que 
deviam ser corrigidos. Em particular, eles investiram contra quatro falsas 
concepções. Sua comum “aversão peculiar” foi o ensinamento a respeito da Missa 
da Igreja medieval. Eles concordavam em condenar o ensinamento que proclama 
ser na Missa mais uma vez oferecido o sacrifício que de uma vez por todas foi feito 
no Calvário. Não parecia nada menos que blasfemo para eles que homens 
ousassem asseverar que o sacrifício feito na Cruz exigia ser repetido. Eles estavam 
igualmente seguros, em segundo lugar, que a Missa como era celebrada não era 
uma comunhão. O povo não comungava de ambos os elementos; eles eram apenas 
espectadores de um drama no qual o sacerdote era o ator principal e o coro 
cantava uma música incidental e complicada. Isso não era tudo; o serviço da Missa 
não era nem inteligível para a maior parte do povo, porque onde era audível, o era 
falada ou cantada em uma língua acadêmica [Latim*]. Os Reformadores também 
objetaram o caráter propiciatório da missa, onde missas poderiam ser oferecidas 
para aplacar a Deus pelas ofensas de alguém ou obter favores especiais de Deus, 
como por exemplo, antes de sair para uma jornada de trabalho. De fato os 
Reformadores contendiam que a Missa medieval foi considerada um officium ao 
invés de um beneficium. 
Aliada à desaprovação deles da Missa foi sua objeção pelas concepções correntes 
do sacerdócio. Porque se o sacerdócio deveria ser considerado como um 
instrumento indispensável para obter o bom favor de Deus, ele se tornava, não um 
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veículo de graça, mas um impedimento, um obstáculo para a comunhão entre 
Deus e o homem. Além do mais, os sacerdotes eram, como Lutero com desprezo 
insistia, tirânico, insaciáveis, mundanos e mercenários. 
A terceira concepção que ambos os Reformadores condenavam era a falsa visão da 
autoridade dos santos, os quais eram considerados como poderosos mediadores 
entre Deus e os homens, que poderiam ser influenciados por um indivíduo a remir 
suas penas e suplícios do purgatório, o que constituía um panteão. 
Não é surpresa que, tanto Lutero como Calvino, enfatizassem a primazia da 
pregação da Palavra de Deus, tanto para acabar com os abusos que estavam 
incrustados no sacramento da Santa Ceia, como para declarar o que era a 
verdadeira vontade de Deus nesta matéria. 
Os Reformadores não apenas concordavam em suas negações, mas eles eram uma 
só mente em muitas afirmações positivas. Ambos desejavam restaurar o puro culto 
da Igreja primitiva. Em sua Formula Missae Lutero declara que não era sua intenção 
“omnem cultum dei prorsus oblere” (não era obsoleto todo o culto que era 
prestado a Deus), mas apenas “eum qui in usu est, pessimis additamentis viciatum, 
repurgare et usum pium monstrare” (alguns usos que estão em prática, péssimas 
adições viciosas, que pelo uso pio ficam aparentes e repugnam). Ele, portanto não 
atirava ao mar toda a tradição da igreja não dividida, desde que concordava que 
“primorum patrum additiones...laudabiles fuere, quales Athanasius et Cyprianus fuiesse 
putantur” (as primeiras adições dos Pais da Igreja...foram saudáveis, as quais 
Atanásio e Cipriano foram seus artificies). De fato sua visão era retornar ao não 
corrompido Serviço da Comunhão da igreja primitiva. A intenção de Calvino era 
similar. Isto ficou feito explícito no título completo do Livro de Serviço de Genebra 
de 1542. Este título dispõe: “La forme dês prieres et chantz eclesiastiques auec la maniere 
d´administrer lês sacrements, et consacrer lê mariage; selon la coutume de L´eglise 
ancienne” (A forma das orações e cânticos eclesisásticos e ainda a maneira de 
administrar os sacramentos e celebrar o casamento; segundo o costume da Igreja 
Antiga). Era portanto, um declarado anseio de ambos os reformadores de restaurar 
o Culto da Igreja antiga. O fundamento concorde tanto nos abusos do culto 
contemporâneo e também na positiva concepção de restauração do culto da Igreja 
primitiva, longe de ser apenas coincidência, era baseado em pressuposições 
teológicas similares. As doutrinas básicas mantidas em comum pelos reformadores 
foram três: A Bíblia como a Revelação de Deus, Justificação por meio da Fé e Cristo 
apenas como único mediador entre Deus e os homens. As últimas duas doutrinas, 
obviamente, eram derivadas da primeira toda inclusiva doutrina das Escrituras. 
Uma vez que a Bíblia foi reintegrada em toda a sua autoridade, então se seguiu 
que qualquer tradição que conflitava com a Palavra de Deus, embora com a sanção 
da Igreja, tinha que ser abolida. Ainda mais, a primazia das Escrituras determinou 
um desejo pelo retorno aos princípios e práticas da comunidade primitiva de 
cristãos como vista nos Atos dos Apóstolos. Estas duas conclusões passaram de 
mão em mão. Isso porque os erros da igreja contemporânea foram vistos como 
desvios tanto da Bíblia como também da Igreja primitiva. Ainda, existiam dois 
princípios dominantes na Bíblia que a prática da Igreja contemporânea 
desconsiderava. Se os homens eram justificados por meio da fé na justiça de Cristo, 
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aceitando seu sacrifício como garantia toda suficiente para o perdão de seus 
pecados, então todas as práticas motivadas por uma crença na justificação pelas 
obras deveriam desaparecer. Tais práticas incluíam participar da Missa como uma 
boa obra como também fazer peregrinação. Ainda, a noção de que os santos têm 
um tesouro de méritos o qual está disponível como um crédito para compensar os 
débitos do pecador, também tinha que ser abolida. A mesma concepção da eficácia 
da intercessão dos santos e da mediação necessária do sacerdote, anulava a 
doutrina bíblica de Cristo como único mediador. Se santos e sacerdotes eram 
indispensáveis, seria inverídico dizer ser Cristo “o único nome dado entre os 
homens pelo qual importa que sejamos salvos”. Portanto através destas três 
doutrinas integradas no pensamento de ambos os reformadores Lutero e Calvino 
se fez necessária uma reforma litúrgica. 
Os resultados das reformas litúrgicas luteranas e calvinistas foram 
reconhecidamente diferentes. Como essas diferenças deveriamser levadas em 
consideração? É insuficiente explicar estas diferenças assumindo que Lutero era 
um conservador e cauteloso reformador enquanto que Calvino era lógico e radical. 
A diferença real entre a reforma luterana e calvinista no culto pode ser disposta 
como o seguinte: Lutero ficaria com o que não era especificamente condenado nas 
Escrituras enquanto Calvino iria ficar apenas como o que era ordenado por Deus 
nas Escrituras. Este era o seu fundamental desacordo. Isto é de vital importância na 
historia do culto Puritano, desde que os Puritanos aceitavam o critério Calvinista, 
enquanto que seus oponentes, os Anglicanos, aceitavam o critério Luterano. 
A visão de Lutero, que será demonstrada, foi na maior parte direcionada pelas 
suas considerações teológicas, mas também deve ser levado em alguma conta seu 
temperamento e suas exigências práticas que ele tinha que encarar como razões de 
seu assim chamado conservadorismo. Ele deixou isto muito claro quando não 
desejava introduzir uma “nova lex” em matéria litúrgica. Ele era averso a 
instalação de um Cristianismo Levítico. Isto, dizia ele, era contrário a liberdade do 
Cristão. Todavia, Lutero mantinha que a Palavra de Deus, se fielmente pregada, 
iria por ela mesma criar novas e adequadas formas de culto cristão. Para ele, isso 
não produziria uma liturgia obrigatória que acorrentava as consciências dos 
homens Cristãos. Até quando promulgou a Formula Missae ele negou o desejo de 
obrigar os Cristãos de aceitá-la. Foi meramente introduzida como uma alternativa 
sugerida à Missa da Igreja Romana, não como uma declaração autoritativa a qual 
se deva submeter. A variedade de ritos e cerimônias praticadas nos dias atuais 
pelas Igrejas luteranas do continente é um legado da doutrina de Lutero da 
liberdade do Cristão. Deve ainda ser lembrado que ele favoreceu a fluidez no 
fundamento que a uniformidade litúrgica pela razão de sua própria uniformidade 
iria cegar os homens para o caráter interno do culto. Tudo o que ele requeria era 
que os ritos da Igreja não deveriam conflitar com a orientação da Sagrada 
Escritura. Isto estava baseada na advertência de Paulo a considerar o irmão mais 
fraco. Para que eles não fossem desnorteados por nenhum iconoclasticismo, ele 
propunha abolir apenas o que era contrario ao ensinamento claro das Escrituras. 
Para o resto, ele iria provar de todas as coisas e reter o quer era bom. 
Esta tendência em considerar a tradição da igreja como valiosa, quando e onde ela 
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não contradizia a Escritura, foi confirmada em Lutero por sua doutrina das 
Ordens. As implicações desta doutrina foram que Deus ordenou ao mundo que o 
homem não deveria viver como um individuo isolado da sociedade, mas como um 
ser compartilhando certas relações comunitárias. Tais comunidades ordenadas por 
Deus são a Igreja e o Estado. Desde que elas dependem para a sua continuidade da 
divina sanção, os homens devem respeitá-las. Portanto, excetuando-se o que elas 
definidamente contradizem a vontade revelada de Deus, elas devem ser 
obedecidas. Tal doutrina coloca um grande prêmio sobre a tradição e deve ser tida 
como a base religiosa do conservadorismo de Lutero. Também ajuda a explicar o 
porque dos bispos tem uma parte importante em decidir quais particulares 
reformas litúrgicas são desejáveis. Teoricamente Lutero deixou a escolha de aceitar 
ou rejeitar suas reformas litúrgicas para os cristãos das igrejas locais, mas na 
prática a decisão foi deixada para a escolha do bispo. 
Um ponto a ser tratado ainda, é a atitude de Lutero para o cerimonial. Em 
contraste com o despido Culto Calvinista, a liturgia luterana é rica no uso de ações 
simbólicas e vestimentas. Nesta matéria, nós temos a clara afirmação de Lutero que 
Deus deu ao homem cinco sentidos com os quais ele o poderia adorar e seria uma 
franca ingratidão não usá-los. Sem dúvida ele iria considerar a forma de liturgia de 
Calvino como um exemplo de cultuar a Deus com apenas dois dos sentidos: ouvir 
e falar ou cantar. Ao contrário da liturgia Luterana que apela para o sentido do 
olfato nos incensos e para a visão pelo uso de vestimentas e cerimônias. Para esse 
criticismo Calvino teria legitimamente respondido que o culto é primariamente 
para a glória de Deus, e secundariamente para a edificação do homem e não para o 
prazer deles. Alguém poderia perguntar se Lutero ficaria satisfeito com essa 
resposta, desde que com o senso que tinha da grandiosa condescendência de Deus 
em Cristo, ele mantinha que Deus tinha dado ao homem auxílios as suas devoções. 
Tais auxílios eram rituais e cerimônias. Assim como Cristo, pela sua encarnação, 
santificou a humanidade, então as coisas terrenas poderiam ser sacramentais ao 
divino. Lutero não estava preparado a dispensar o “o porta olho” para a alma, 
como Bunyan iria mais tarde denominar. Como nós iremos ver mais tarde, essa 
visão era inaceitável para Calvino, desde que ele mantinha que o homem era 
essencialmente corrupto e que seu culto só era aceitável na medida que ele se 
conformava com a lei de Deus nas Escrituras. Calvino mantinha que o Decálogo 
discorrendo contra “as imagens de escultura”, tinha dispensando suficientemente 
a necessidade de cerimônias e vestimentas. 
A atitude de Lutero será vista, era capaz de ser defendida em termos teológicos. 
Mas sua atitude não era estritamente teológica, nem era sempre baseada em 
princípios. Algumas vezes ele era inconsistente com seus princípios. Lutero nem 
sempre levava suas convicções teológicas as suas conclusões lógicas. Por exemplo, 
seu apelo ao braço secular para punir os camponeses os quais se revoltaram contra 
seus senhores era contrario a sua doutrina da liberdade do cristão. Similarmente, 
em matéria litúrgicas, pode ser fartamente exposto que sua doutrina da Palavra de 
Deus não foi logicamente desenvolvida. Como atenuante deve ser lembrado, no 
entanto, que ele foi o primeiro reformador e que no tempo de Calvino a situação 
era mais estável e os homens tinham mais tempo de refletir nestes assuntos. Não 
obstante, não pode ser negado que nos últimos anos de Lutero, o reformador 
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mostrou um crescente conservadorismo. Ele desejava mais uniformidade tanto no 
uso das vestimentas eclesiásticas como nas formas de liturgia. O que previamente 
era opcional, se tornou obrigatório. 
Finalmente, não pode se ter dúvida que a opinião de Lutero foi, em certa extensão, 
moldada não em cima de um principio, mas pelos acontecimentos. O método era 
“solvitur ambulando”. Isto era definitivamente o caso na ordem pela qual suas 
reformas eram executadas. Sua pregação da Justificação pela fé exigiu para ele 
reformar o Cânon da Missa. Isto por sua vez levou os sacerdotes a serem separados 
para cada localidade e também para o costume onde cada sacerdote era permitido 
realizar uma missa a cada dia. O ataque na vida monástica fez com que muitos 
monges e freiras deixassem suas vidas solitárias, mas agora estavam 
desempregados. O completo colapso das finanças levou Lutero a buscar ajuda do 
Príncipe. Um outro efeito das reformas de Lutero era que a Igreja Romana 
recusava ordenar candidatos que eram luteranos ou que não tomassem os votos do 
celibato. Todas estas circunstâncias forçaram Lutero a fazer sua própria provisão 
para ordenar e treinar futuros ministros da Palavra. Numa extensão considerável, 
portanto, Lutero foi guiado não por seus princípios mas pelos fatos. Ao mesmo 
tempo é também verdadeiro que foi a fiel proclamação destes princípios teológicos 
que levou a estes acontecimentos. A atitude de Lutero com a reforma litúrgica foi, 
pois, majoritariamente fundamentada em bases teológicas, mas também foi 
parcialmente determinadapelas considerações de conveniências. 
As doutrinas que são logicamente aplicadas por Calvino não são distintivamente 
suas. Ele e Lutero estavam unidos concordemente na maioria delas, mas foi 
Calvino que deu a elas sua ênfase distintiva e aplicou logicamente a teoria e prática 
do culto. Para ambos Lutero e Calvino a Bíblia era a Palavra de Deus. Mas suas 
concepções da autoridade da Palavra de Deus eram diferentes. Lutero descrevia a 
Bíblia como “trostbuch” (livro consolador), o berço de Cristo; Calvino porém a 
definia como “la sainte loy et parole evangelique de Dieu” (a santa lei e promessa 
evangélica de Deus). Lutero aceitava a orientação bíblica em matérias doutrinarias 
mas recusava em considerá-la um diretório de culto. Lutero iria admitir em sua 
adoração qualquer elemento litúrgico que não fosse inconsistente com o 
ensinamento da Bíblia. Calvino só iria aceitar o que a Bíblia especificamente 
autoriza-se. Se a Bíblia era a vontade revelada de Deus, afirmava Calvino, então 
somente as ordenanças bíblicas seriam aceitáveis a Deus. Adições humanas 
deveriam por conseguinte ser de todo ab-rogadas, porque Deus fez conhecer sua 
vontade nas Escrituras. 
A raiz da objeção de Calvino às adições humanas no culto legítimo de Deus tinha 
outra base. O homem era essencialmente corrupto; ele carregava a “damnosa 
haereditas” (herança danosa) do pecado original e portanto ele não poderia cultuar 
a Deus da forma certa ainda que ele pudesse assim o querer. Ele é inteiramente 
pecaminoso e assim suas próprias idéias do que constituiria o correto culto seriam 
viciadas pela sua depravação. Estando nesta confusão, ele ainda não poderia 
afastar de seu coração o fato que Deus tinha declarado o que é o verdadeiro culto 
em sua Palavra. O homem portanto deveria aprender ali como glorificar a Deus da 
forma certa. E ainda, desde que oramos da maneira certa a Deus apenas quando o 
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Espírito Santo por nós intercede, devemos nos submeter a orientação do Espírito. 
Estas três doutrinas: da Palavra de Deus, do pecado original e queda, e da 
intercessão do Espírito Santo, são logicamente aplicadas no culto calvinista. 
Conseqüentemente o caráter bíblico e os precedentes bíblicos para a liturgia 
também, ou seja, a centralidade da Palavra, invisivelmente na pregação e 
visivelmente nos sacramentos. Isto também explica a abertura invocatória pelo 
auxilio de Deus na liturgia de Genebra, enfatizando a total falta de amparo do 
homem à parte de Deus. Conseqüentemente também a seguinte confissão de 
pecados e a invocação da ajuda do Espírito Santo antes de ler as Escrituras para 
que Elas possam ser corretamente entendidas. Todas estas três doutrinas tão 
cuidadosamente levadas a cabo na forma genebrina podem ser compreendidas em 
uma só, a total submissão da Doutrina calvinista à dependência de Deus. 
A doutrina que Calvino fez cada vez mais distintivamente sua foi a da Eleição. 
Pode ser dito que ele redescobriu o sentido da Igreja como o Novo Israel, o povo 
de Deus. Esta doutrina sem sombra de dúvida é refletida em sua teoria do culto. 
Ela produziu um profundo senso de honra e reverência perante Deus, que era 
enfatizado na liturgia pela leitura do Decálogo e pela confissão de fé que era feita 
pelos cristãos como uma unidade em Cristo. Não era menos sentida na profunda e 
espontânea gratidão que extravasava através do cântico de salmos pela 
congregação. E foi esta doutrina, como também a da Comunhão como “sigillum 
Verbi” que fazia Calvino enfatizar a unidade da Comunhão antes da Santa Ceia. A 
comunhão era portanto não um mero apêndice ao ato da pregação, era o ato para 
os fiéis onde Deus selava suas promessas aos Eleitos. A doutrina da Eleição com 
sua reflexão na natureza corporativa do culto calvinista, contrasta com o 
individualismo que caracteriza a liturgia Luterana. 
Deixar esta matéria desta forma seria uma injustiça para a memória de Lutero. 
Deve ser reconhecido que Calvino teve que acomodar suas visões em três assuntos. 
Ele fez uma distinção entre os fundamentais e os não importantes pontos na forma 
do culto. Ele não vacilava por um momento de sua convicção de que todo o culto 
deve proceder da divina inspiração, e as tradições humanas não carregavam 
nenhum peso na adoração. Por outro lado, ele mantinha que em matéria de culto 
existiam tanto doutrinas fundamentais como também auxílios superficiais que 
conduziam a paz e concórdia que deveriam ser deixados para o julgamento dos 
Cristãos como indivíduos. Ele fez apenas três concessões, cada uma delas em 
matéria de forma, não de doutrina. Ele desistiu de sua fórmula de absolvição 
quando a populança de genebra a depreciou como novidade. Ele também permitiu 
que a Santa Ceia fosse celebrada com pão não fermentado. Ele não desaprovou o 
uso de pão não fermentado no Sacramento, mas ele não gostou do método pelo 
qual esta mudança foi introduzida em Genebra, ou seja, ele desaprovou o modo 
arbitrário pelo qual o vizinho Cantão de Berna exigiu que Genebra adotasse esta 
prática. Sua terceira e maior concessão, foi a de se render ao requerimento dos 
magistrados de genebra em permitir a Ceia do Senhor ser celebrada apenas quatro 
vezes por ano. Este ponto não foi facilmente concedido e Calvino deixou registrado 
para a posteridade que sua convicção nesta matéria foi imposta pelos magistrados 
genebrinos. Estas três concessões não podem ser comparadas em seriedade ou 
amplitude com as concessões feitas por Lutero. Sendo assim, Calvino não pode ser 
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acusado de inconsistência ou conservadorismo na matéria de acomodação, porque 
ele sabia tanto a lógica de sua posição e que deveria ceder porque era minoria 
como porque os pontos em questão eram apenas de menor importância. 
É na comparação da doutrina dos sacramentos de Calvino (e particularmente da 
Ceia do Senhor) com a de Lutero, que a anterior base teológica consistente aparece 
de forma clara. Não é apenas asseverar que Calvino era meramente lógico no seu 
tratamento dos Sacramentos, visto que ele reconheceu que existe um ministério 
impenetrável nos graciosos atos de Deus para com o homem, os quais a razão pode 
raramente provar. Assim, ele era um adorador de mente acurada. No entanto, sua 
doutrina dos Sacramentos era mais consistente teologicamente que a de Lutero. 
Como Barclay demonstra, os dois Reformadores eram concordes em quatro 
principais aplicações. Ambos condenavam qualquer doutrina que negava a 
necessidade de fé viva no receptor ou que ensinava que os sacramentos conferiam 
graça ex opere operato. Ambos repudiavam a doutrina que mantinha que os 
Sacramentos deveriam ser entendidos num sentido meramente etimológico como 
distintivos ou testemunhos da profissão cristã. Em terceiro lugar, eles rejeitavam 
como inadequada a visão que os sacramentos representavam meras alegorias ou 
significativas exibições da verdade. Finalmente, ambos se opuseram a doutrina que 
expressava que a Ceia do Senhor era apenas um rito comemorativo. Para ambos os 
sacramentos eram, positivamente, “sigilla verbi”, ou seja, eles eram sinais pelos 
quais Deus confirmava ou selava suas promessas ao seu povo. A diferença radical 
entre a visão atrasada luterana e a doutrina Calvinista consistia no fato que Lutero 
mantinha que os Sacramentos tinham eficácia inerente, enquanto Calvino se refere 
ao seu poder santificador pelo acompanhamento do auxílio de Deus. Lutero 
pensava que a objetividade do sacramento apenas poderia ser mantida se a eficácia 
inerente fosse postulada. Asseverar a fé como uma pré-condição para a sua eficácia 
parecia para ele fazer os sacramentos dependerem da fé do receptor. Calvino 
estava bem ciente desta imputação mas sua doutrina daCeia do Senhor não pode 
ser acusada de subjetividade, desde que ele declara que a própria fé é um dom de 
Deus mediado pelo Espírito Santo. Lutero também achou dificuldade em manter 
uma crença numa mística união de Cristo com o crente na Santa Ceia, se alguém 
mantinha que o corpo ressurreto do Senhor era limitado. 
Para eliminar esta dificuldade, Lutero mantinha a doutrina da ubiqüidade do 
corpo de Cristo. Calvino, por outro lado, não recorreu a uma dúbia teoria 
metafísica para substanciar conclusões chegadas de equivocados fundamentos 
teológicos. Ele argumentou que o corpo ressurreto de Cristo estava no céu, mas 
isto não o impedia de que ele pudesse operar pelo poder do seu Espírito Santo. 
“Cristo, como todas as suas riquezas está lá presente a nós não menos do que 
estivesse perante nossos olhos ou tocado por nossas mãos.” 
Então, pode ser visto que a atrasada doutrina de Lutero da eficácia inerente dos 
Sacramentos se distancia de sua prévia doutrina dos sacramentos como “sigilla 
Verbi”, presente e respondido por meio da fé. Do outro lado, Calvino é consistente 
teologicamente sem conceder nada da objetividade da atrasada visão de Lutero. 
Ao mesmo tempo seu ensinamento, igualmente com o de Lutero, preserva o 
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sentido da grata adoração como a condescendência de Deus quanto também a um 
profundo senso de mistério. 
Esta primeira grande diferença entre o culto Luterano e o Calvinista, considerada 
como um todo, é que o primeiro é mais subjetivo e o ultimo é mais objetivo. Para 
Lutero a Bíblia é a Palavra de Deus na qual ele encontra a corroboração de sua 
experiência espiritual. Para Calvino a Bíblia é a declaração da vontade de Deus e 
tem nela toda autoridade. O culto luterano tende a se tornar a expressão da 
experiência que a Palavra gera. Sua atmosfera é de alguém grato pelo perdão 
misericordioso de Deus. No culto Calvinista mais proeminência é dada para a 
Bíblia como a declaração da vontade de Deus para a doutrina, conduta e governo 
da Igreja. A atmosfera característica é a de reverente temor perante a Soberana 
Vontade. O sermão no culto calvinista é um elemento objetivo de culto, porque é o 
proclamar e expor a vontade de Deus declarada em todas as partes dos Escritos 
Sagrados. Conseqüentemente, enquanto o culto luterano apela para o individual e 
expressa sua confissão na primeira pessoa do singular, o culto calvinista é 
corporativo e congregacional. Deus é concebido como declarando sua vontade aos 
Eleitos e as orações feitas são a resposta corporativa à Sua Palavra, como o são os 
salmos metrificados. 
A segunda diferença é que o culto calvinista é mais bíblico em natureza que o 
luterano. Onde no culto luterano se contem hinos os quais são paráfrases da 
experiência cristã e ensinamento cristão, os louvores de Calvino eram inteiramente 
escriturísticos. Ele apenas permitiria os Salmos. Enquanto Lutero não se opunha ao 
uso de seqüências de prosas, provadas antes que sua doutrina fosse correta, 
Calvino insistia na leitura da Palavra de Deus sem embelezamento. Outra vez, 
enquanto as orações luteranas poderiam proclamar a experiência cristã, como o 
arrependimento ou a adoração, nas formas originais de Calvino a liturgia apenas 
continham uma oração de confissão que era exclusivamente escriturística. Também 
Calvino incluiu o Decálogo como uma parte integral da liturgia de Estrasburgo. 
Uma terceira diferença entre os ritos luteranos e calvinistas é o da cosmovisão 
cúltica. Enquanto o culto luterano é composto de dois elementos, o movimento 
descendente de Deus em direção ao homem e o movimento ascendente do homem 
até Deus (estes sendo aproximadamente iguais em proporção), o culto calvinista é 
majoritativamente um movimento descendente. Se o pensamento em primeiro 
lugar na mente de Lutero era a gratidão, o pensamento dominante para Calvino é 
que no culto o homem deveria obedecer à Bíblia, pois à parte desta obediência ele 
não poderia oferecer uma aceitável adoração a Deus. A idéia fundamental do culto 
luterano era gratidão; a de Calvino era obediência. Ainda que existam elementos, 
tanto nas orações como nos louvores do culto calvinista que representem este 
movimento ascendente, o senso que prevalece é uma reverente humilhação 
perante o Deus vivo. Isto é exemplificado pela falta de uma especifica oração de 
adoração no serviço calvinista. Se os adoradores luteranos eram “laeti 
triumphantes”, os calvinistas eram “miseri et abiecti”. Esta distinção não é absoluta, 
mas aponta para uma real diferença de ênfase. 
Em quarto lugar, o culto luterano é mais rico no uso de cerimônias que o serviço 
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calvinista. Anteriormente já foi mostrado que eram teológicas e não estéticas as 
razões para a diferença. Basta dizer aqui que o culto luterano é “rico” e o calvinista 
“nu”. 
As diferenças teológicas entre Lutero e Calvino refletidas nas diferenças de ênfase 
litúrgicas, são de todas importantes porque esta base litúrgica prepara o caminho 
para as diferenças entre os Anglicanos e os Puritanos na Inglaterra. É visto que a 
posição do Clero Estabelecido na Inglaterra era a de Lutero, enquanto que as 
visões dos Puritanos eram aquelas de Calvino. A analogia não é exata em cada 
detalhe, mas num todo é muito boa. Pode ser certamente mantido no entanto, que 
as diferentes concepções da autoridade das Escrituras na mente de Lutero e na 
mente de Calvino reapareceram na controvérsia litúrgica entre os Puritanos e o 
clero Estabelecido, os Anglicanos. Eles eram os herdeiros dos Reformadores. 
 
Fonte: Revista Os Puritanos. 
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