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GOVERNOS MILITARES DA AMÉRICA LATINA
Introdução
Nesta aula, iremos analisar a consolidação dos golpes militares efetuados na América Latina e a estruturação desses governos que se constituíram. Compreenderemos ainda a política de alianças estabelecidas entre os países da região de forma a resguardarem seus interesses e conheceremos a rede de espionagem montada para monitorar as ações consideradas subversivas.
A inserção do continente americano na Guerra Fria 
A América Latina viveu, entre as décadas de 1960 e 1980, uma série de golpes militares que instauraram na região um clima de terror e incertezas quanto ao seu futuro político. 
Dentro da lógica da Guerra Fria, havia a necessidade de combater o comunismo em todos os lugares e, claro que não podemos deixar de considerar que a ascensão da Revolução Cubana em plena América reforçou ainda mais esse quadro.
O crescimento das ideias comunistas era uma realidade em várias regiões do mundo e isso se deveu principalmente ao fortalecimento da União Soviética no pós-Segunda Guerra Mundial. Já durante os anos 1950, marcadamente, tivemos um forte crescimento do capitalismo naquilo que Hobsbawn chamou de “Os anos dourados”.
Esse crescimento evidenciou uma grande necessidade de ampliar as exportações para todas as regiões possíveis e, nesse sentido, a América Latina era considerada importante na rota de consolidação do capitalismo durante o período da Guerra Fria. Prestar auxílio logístico e estratégico para as ditaduras militares que se instauraram na região permitiu um estreitamento de laços maior entre os norte-americanos e seus parceiros, na luta contra o comunismo e garantiu uma grande exportação de capitais na forma de empréstimos a juros que formaram uma bolha financeira na região.
Após a instauração dos golpes militares...
Produtos de processos políticos muito específicos em cada país e ligado ao contexto de crescimento do trabalhismo e de anseios democráticos, na região, cada regime visualizou a melhor forma de se manter no poder e diminuir qualquer influência desses setores.
Notadamente, percebemos um forte processo de caça aos ativistas políticos que pudessem representar ameaça ao regime, ainda que fosse de cunho teórico. Clique aqui para ler um caso chileno.
Caso do Chile de Pinochet
Houve uma forte detenção de ativistas políticos que foram para campos de concentração ou mesmo assassinados, cabendo aqui destacar que ele, diferente de outros ditadores latino-americanos, permaneceu no poder até o fim da ditadura, consolidando a noção de “ditadura de um homem só”. 
Marcadamente, um dos mais fortes traços desse regime foi a perseguição aos seus opositores e para consolidar isso, foi criada, no Chile, a DINA, que segundo Priscila Antunes: 
“Embora já atuasse em fins de 1973, a Dirección de Inteligencia Nacional/DINA foi inicialmente implementada sem qualquer norma jurídica que respaldasse sua atuação. O Departamento de Inteligência seria oficialmente transformado em DINA, em janeiro de 1974, sendo que sua constituição formal se produziria apenas em 11 de junho daquele ano. O Decreto 521 responsabilizava a DINA por colaborar com o governo chileno de forma imediata e permanente, por proporcionar de forma sistemática e devidamente processada, toda informação requerida, no sentido de adequar suas resoluções no campo da segurança e do desenvolvimento nacional, e por adotar as medidas necessárias ao resguardo da “segurança nacional” e ao desenvolvimento do país. Dessa forma a DINA, organismo técnico-profissional dependente direto da Junta de Gobierno,tornou-se responsável por coletar e reunir informações provenientes “de los diferentes campos de acción” para auxiliar na produção de toda inteligência requerida para a formulação de políticas destinadas a proteger a segurança do país. Na prática, esse órgão dependeu diretamente do General Augusto Pinochet, pois de acordo com o General Gustavo Leigh, um dos principais articuladores do golpe militar, “nadie de la Junta podía meterse en la DINA”. A DINA seria conduzida por Manuel Contreras desde sua criação não oficial em 1973, até sua extinção em 1977. Esse cargo permitiria ao então Coronel Contreras solicitar informes e documentos a quaisquer serviços públicos ou empresas e sociedades em que o Estado possuísse representação ou participação.” 
A DINA foi a responsável pela repressão no Chile e por caçar opositores ao regime até no exterior, como o caso do assassinato de Orlando Letelier, diplomata chileno que estava nos Estados Unidos e que fazia forte oposição ao governo de Pinochet, foi alvo de um atentado. 
O carro onde estava explodiu em uma rua de Washington, matando ele e sua amiga que estavam no veículo, Ronnie Moffit. Seu marido, Michael Moffit, conseguiu sobreviver ao atentado. 
A ação chilena dentro de território norte-americano acabou por minar um pouco o apoio dado pelos Estados Unidos ao Chile, que passa a contestar a violação aos Direitos Humanos ocorrida no país durante o governo de Pinochet. Os norte-americanos tiveram forte presença na manutenção da ditadura chilena. 
De acordo com Osvaldo Coggiola:
“O governo dos Estados Unidos, como ele próprio teve de reconhecer posteriormente, foi o grande articulador do golpe chileno, ao qual forneceu apoio logístico, político, financeiro e militar. A conspiração pinochetista foi orquestrada na própria embaixada norte-americana, que pouco se importou com a segurança dos próprios cidadãos norte-americanos apanhados pela fúria homicida dos militares chilenos (o que inspirou um celebrado filme norte-americano, Missing, interpretado por Jack Lemmon, que daria repercussão mundial à questão dos desaparecidos políticos)”. (2001, p.52) 
Osvaldo Coggiola destaca ainda que o apoio dos norte-americanos não se limitou ao golpe. A política econômica estabelecida por Pinochet foi acompanhada e encorajada pelos norte-americanos, amparada na ideia do livre mercado e da abertura para o capital internacional com consequente redução de entraves para a importação, o que fez com que muitas companhias da região amargassem dificuldades financeiras e passassem a questionar o apoio dado ao golpe.
Considerações do caso Pinochet
Há quem considere o caso do Chile como a primeira experiência neoliberal da região da América Latina.
Por conta dessa experiência neoliberal e abertura ao capital estrangeiro, houve reduzida diminuição nos postos de trabalho e a repressão ao movimento trabalhista acabou por minimizar as contestações ao regime. Houve aumento significativo da pobreza, gerando um intenso retrocesso no país.
Na Argentina
Na Argentina, também tivemos um intenso processo de perseguições que marcaram a ditadura estabelecida naquele país. Com a tomada do poder por uma junta militar que depôs a Presidente Isabelita Perón, tivemos a consolidação das ditaduras no Cone Sul e em grande parte do restante da região.
A partir do momento em que os militares assumiram o poder, foi organizada uma intensa perseguição a todos que fossem considerados inimigos do regime.
Isabelita Perón, primeira mulher a governar a Argentina
Posteriormente, no rol de queda das ditaduras militares na América Latina, o país dá início ao seu processo de redemocratização. 
 
Apesar de a Argentina ter ficado pouco tempo sob domínio de governos militares, sua história não se tornou muito diferente de outros países da região, com repressões, crescimento de dívidas, violações aos Direitos Humanos  e busca pela eliminação de opositores.
O governo foi exercido por Jorge Rafael Videla (foto), que ficou na presidência do país entre os anos de 1976 e 1981, sendo substituído por outro general devido ao desgaste de seu governo.
Aumento da dívida externa
Como ocorreu em outros países, a economia argentina passou por crises e teve um forte aumento da corrupção, elevada a níveis muito altos e que acabou por aumentar significativamente a dívida externa do país.
O peso dos sindicatos foi fortemente reduzido com a ocorrência de várias intervenções. Assim como no Chile, houveuma forte abertura da economia para o capital internacional e também eliminação de tarifas; houve queda na produção industrial e o endividamento do país se tornou maior ainda, apesar de vários planos dos militares para tentar equilibrar a vida econômica do país.
Madres de Plaza de Mayo
O desaparecimento tornou-se uma questão interna argentina muito forte, marcando a fase da ditadura militar neste país e tornando-a, ao lado da chilena, uma expressão da violência que marcou a América Latina nos anos 1970. De acordo com Osvaldo Coggiola:
“Entre 1976 e 1983 funcionaram na Argentina 362 campos de concentração e extermínio. Por aí passaram mais de 30 mil pessoas dentre os quais militantes políticos, ativistas sociais, opositores ou simples testemunhas incômodas dos tantos sequestros que diariamente se produziam. A maioria delas nunca mais apareceu. Seus filhos, no melhor dos casos, foram criados por tios ou avôs. Outros foram “apropriados” pelos mesmos assassinos de seus pais e ainda permanecem sequestrados, como uma espécie de butim de guerra. A maioria dos que se encontram nessa situação ainda hoje ignora o passado, nem sabe quem foram seus pais verdadeiros”.
Para reclamar os desaparecidos na Argentina, várias entidades foram criadas, sendo a mais famosa delas as Madres de Plaza de Mayo, surgida em 1977, sendo seguida pelas Madres de Plaza de Mayo – Linea Fundadora, uma dissidência da primeira.
As mães se reuniam na praça todas as quintas-feiras dando voltas portando fotos de seus filhos desaparecidos, utilizando um lenço branco na cabeça, que na verdade era uma fralda de seus filhos.
Assim, elas buscavam formas de dialogar com o governo para obter qualquer informação sobre seus filhos. O mais curioso desse movimento é o fato de que as mães transformaram sua dor em ações concretas.
A entidade existe até os dias de hoje e transformou-se em um movimento de luta contra a ditadura na Argentina e uma forma de pressionar os governos posteriores a buscarem informações sobre os desaparecidos e, também, culpar os responsáveis pelos assassinatos e desaparecimentos.
Brasil
No Brasil, a ditadura se instaurou a partir de 1964 e se autodenominou Revolução de 1964.
Implementou-se um golpe arquitetado pelos militares contra o então presidente João Goulart, que era considerado herdeiro do trabalhismo de Getúlio Vargas e buscava implantar no país reformas de base que ameaçavam o poder da elite brasileira.
Por sua importância e demografia, o golpe perpetrado no Brasil pode ser considerado como o mais importante da América do Sul.
Ditadura
A ditadura no Brasil foi uma das mais longas da região, durando 21 anos e contando largamente com apoio norte-americano para a sua consolidação, que buscava ver resguardados seus investimentos financeiros na região. 
O combate ao comunismo foi o principal motivador do golpe, contando com o apoio de grande parte da classe média brasileira, que posteriormente iria ver as reais intenções dos militares ao permanecerem no poder por longos anos.
Os setores mais reacionários do país estiveram ao lado dos militares, inclusive o golpe contou com apoio da Igreja Católica.
Implantação dos Atos Institucionais
Após o início da ditadura, o país viu sua estrutura política ser alterada pela implantação de Atos Institucionais que passaram a reger a vida política do país:
Estabelecendo a censura
Suspendendo as garantias constitucionais e as eleições indiretas para presidente da república
Criando o bipartidarismo
Formaram-se, no Brasil, vários grupos de resistência à ditadura tais como o MR-8 e a Guerrilha do Araguaia (foto). Diferentes formas de protesto se consolidaram no país apesar de toda a repressão.
O AI-5 marcou definitivamente a repressão no país, principalmente contra o movimento estudantil e acabou por gerar uma década de intensa violência, os anos 1970.
O que foi o AI-5
O AI-5 (Ato Institucional número 5) foi  o quinto decreto emitido pelo governo militar brasileiro (1964-1985). É considerado o mais duro golpe na democracia e deu poderes quase absolutos ao regime militar. Redigido pelo ministro da Justiça Luís Antônio da Gama e Silva,  o AI-5 entrou em vigor em 13 de dezembro de 1968, durante o governo do então presidente  Artur da Costa e Silva.
O AI-5 foi um represália ao discurso do deputado Márcio Moreira Alves, que pediu ao povo brasileiro que boicotasse as festividades de 7 de setembro de 1968, protestando assim contra o governo militar. A Câmara dos Deputados negou a licença para que o deputado fosse processado por este ato.
Determinações mais importantes do Ato Institucional Número 5:
- Concedia poder ao Presidente da República para dar recesso a Câmara dos Deputados, Assembléias Legislativas (estaduais) e Câmara de vereadores (Municipais). No período de recesso, o poder executivo federal assumiria as funções destes poderes legislativos;
- Concedia poder ao Presidente da República para intervir nos estados e municípios, sem respeitar as limitações constitucionais;
- Concedia poder ao Presidente da República para suspender os direitos políticos, pelo período de 10 anos, de qualquer cidadão brasileiro;
- Concedia poder ao Presidente da República para cassar mandatos de deputados federais, estaduais e vereadores;
- Proibia manifestações populares de caráter político;
- Suspendia o direito de habeas corpus (em casos de crime político, crimes contra ordem econômica, segurança nacional e economia popular).
- Impunha a censura prévia para jornais, revistas, livros, peças de teatro e músicas.
Fim do AI-5
No ano de 1978, no governo Ernesto Geisel, o AI-5 foi extinto e o habeas corpus restaurado. 
Operação Condor
Para se consolidar na América do Sul, as ditaduras militares estabeleceram uma rede de comunicações que lhes garantia obter informações e prender vítimas do esquema de repressão conjunta organizada entre as ditaduras do Cone Sul. 
 Houve uma unificação das Forças Armadas de diferentes países estabelecendo um pacto para coordenar forças e operações repressivas e eliminar àqueles considerados inimigos do governo.
A operação incluía sequestro, roubo, assassinato, tortura e desaparecimento de pessoas, contando com o apoio dos norte-americanos, sendo o mais significativo o dado por Henry Kissinger.
Osvaldo Coggiola analisa a Operação Condor e afirma que:
“A ação criminosa dos exércitos e das polícias do Cone Sul incluíram, à rotina atroz das desaparições, as torturas, os “voos da morte” (nos quais os prisioneiros políticos eram jogados sobre o Rio da Prata ou sobre oceano, de grandes alturas e ainda vivos) e os roubos de propriedades dos sequestrados. As operações de extermínio atingiam a todos, inclusive oficiais de prestígio como o general uruguaio Ramón Trabal, em Paris, em 1974; o General Juan José Torres, ex-presidente da Bolívia, em Buenos Aires, em 1976 e o general chileno Julio Prats e sua esposa em Buenos Aires, em 1974.” (2001, p. 69)
Justificativa militar
Para justificar a aliança, afirmavam que era contra a subversão e o comunismo, mas na verdade desejavam minar toda e qualquer forma de resistência ao regime em todos os países que compunham a Operação Condor.
E que, quando vieram a público documentos e informações sobre a rede de espionagem, foi fortemente demonstrado o grau de cooperação entre os países do Cone Sul.
A América Latina viveu um de seus períodos mais críticos e marcados pela violência, dentro de um contexto de Guerra Fria e de fragilidade das instituições democráticas, conseguindo se recuperar dos efeitos das ditaduras no governo anos depois.

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