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GESTÃO DA QUALIDADE S o b re o a u to r Danilo Garbazza Vieira é graduado em Estatística pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Já atuou como Examinador do Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ) e possui formação como auditor interno de sistemas de qualidade ISO 9001 na Petrobras, onde trabalha como Estatístico. S u m á r io 06 Apresentação 07 Aula 1: Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 41 Aula 2:Sistema da Qualidade 89 Aula 3: Medição do desempenho e Custos da Qualidade 110 Aula 4: Ferramentas e Técnicas para Melhoria da Qualidade 143 Aula 5: Organização, Comunicação e Grupos 175 Referências bibliográficas Disciplina: Gestão da Qualidade C A D E R N O D E E S T U D O S A p re s e n ta ç ã o Qualidade não significa apenas o controle da produção, a qualidade intrínseca de bens e serviços, o uso de ferramentas e métodos de gestão, ou a assistência técnica adequada. Num sentido mais amplo, o conceito de gestão da qualidade passou a significar modelo de gerenciamento que busca a eficiência e a eficácia organizacional. Esta apostila possibilita a você, leitor, ter uma boa noção da amplitude e da importância do conceito de gestão da qualidade total como modelo de excelência para melhor gerir as organizações. A apostila está dividida em cinco aulas, começando pelos fundamentos do gerenciamento da qualidade total e, em seguida, apresentando os pilares do modelo: sistema de gestão da qualidade, ferramentas e técnicas e, por final, o trabalho em grupo. O b je ti v o s g e ra is Este caderno de estudos tem como objetivos: Apresentar os principais conceitos relacionados à qualidade. Apresentar os fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total Detalhar os pilares do modelo de Gerenciamento da Qualidade Total: o Sistema de gestão da qualidade o Ferramentas e técnicas o Trabalho em grupo Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total Danilo Garbazza A U L A 1 A p re s e n ta ç ã o Com o aumento da competitividade, as empresas estão a cada dia buscando novos diferenciais que as possibilitam vencer seus concorrentes na árdua batalha por clientes. Neste contexto, a qualidade se tornou uma arma chave. Daí surgiu a abordagem conhecida como Gerenciamento da Qualidade Total, que busca integrar toda a empresa em busca de um objetivo principal: satisfazer os clientes, buscando sempre a excelência. O b je ti v o s Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Entender o conceito de qualidade e confiabilidade. Identificar as relações entre cliente e fornecedor, tanto internos como externos à organização, e entender o conceito de processo. Diferenciar “detecção de problema” x “prevenção de problema” Entender os conceitos básico do Gerenciamento da Qualidade Total (Total Quality Management – TQM), seus fundamentos e seu objetivo. Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 7 1.1 Histórico da gestão da qualidade nas organizações A forma como a qualidade é tratada pelas organizações vem mudando (e muito) com o passar do tempo. A cada momento em que ocorriam mudanças profundas nos processos de fabricação e de prestação de serviços, novas abordagens foram desenvolvidas para garantir a satisfação das necessidades e expectativas dos clientes, ou seja, garantir a qualidade do produto ou serviço. A evolução da gestão da qualidade pode ser dividida em quatro eras. Porém, o início de uma nova fase não exclui as precedentes. São elas: Inspeção Controle Estatístico da Qualidade Garantia da Qualidade Gestão Estratégica da Qualidade – Gestão da Qualidade Total Inspeção Nos primórdios da era industrial e até meados do século XIX, quase tudo era fabricado por artesãos, que ainda praticavam os procedimentos tradicionais e históricos. As quantidades produzidas eram pequenas e havia participação do trabalhador em praticamente todas as fases do processo. A inspeção era implementada segundo critérios especificados pelo próprio artesão e sua pequena equipe de colaboradores. Era um procedimento natural e corriqueiro. A inspeção 100%, ou seja, a inspeção em todo o lote de produção, se manteve alterada durante muitos anos, apesar da necessidade e aplicação, em diversos momentos, de inspeções parciais ou por amostragem, mas sem metodologia estruturada nem procedimentos confiáveis. O controle da qualidade limitava-se à inspeção e às atividades restritas, como a contagem, a classificação pela qualidade e os reparos. A solução de problemas era vista como fora das responsabilidades do departamento de inspeção. Uma mudança nesse enfoque se fez necessária com o surgimento da produção em massa e padronização de produtos, que inviabilizavam a realização da inspeção. Controle Estatístico da Qualidade Em 1924, Walter A. Shewhart, um dos gurus da qualidade, aplicou conceitos de estatística à realidade das empresas, desenvolvendo o que Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 8 ficou conhecido como gráficos de controle. Adicionalmente, Shewhart propôs o ciclo PDCA (plan-do-check-act), que até hoje é amplamente aplicado nas organizações como guia para análise e solução de problemas. Na década de 1930 o controle da qualidade evolui bastante com o desenvolvimento do sistema de medidas, das ferramentas de controle estatístico do processo e do surgimento de normas específicas para essa área. Surgiram também técnicas de amostragem, o que permitiu a introdução da inspeção por amostragem, reduzindo desta forma a necessidade da inspeção 100%, que antes geravam elevados custos indiretos. Garantia da Qualidade Nesta etapa da evolução da gestão da qualidade os instrumentos se expandiram para muito além da estatística. Quatro elementos distintos passaram a fazer parte desta nova era: Custos da qualidade: apresentado em 1951 por Joseph M. Juran. O objetivo era propor um modelo para planejar e apurar todos os custos referentes à implementação da qualidade na organização. Controle total da qualidade (Total Quality Control – TQC): apresentado em 1961 por Armand Feigenbaum. Pregava o envolvimento de todas as áreas da empresa para garantir a qualidade do produto e serviço. Seu trabalho foi o iniciador das normas de sistema de Garantia da Qualidade a nível mundial, que mais tarde, na década de 1980, deram origem às normas internacional ISO 9000 (International Organization for Standardization). Engenharia de confiabilidade: aplicação de teorias de probabilidade e estatística com o objetivo de analisar as falhas do produto ao longo de sua vida útil, buscando melhorias nesse aspecto. Zero defeito: teve origem em 1961, com desenvolvimento feito por Philip Crosby. Sua abordagem filosófica era fazer certo na primeira vez, desta forma evitava-se o retrabalho, o retrabalho, os custos perdidos,etc. Também foi considerada a importância da iniciativa do fator humano através do treinamento, definição de objetivos e divulgação de resultados da qualidade e o reconhecimento pelo resultado. Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 9 Gestão Estratégica da Qualidade – Gestão da Qualidade Total Especialmente nas duas últimas décadas do século XX a qualidade passou efetivamente a ser percebida como uma disciplina de cunho estratégico, além do seu viés tradicionalmente técnico. Os princípios da Gestão da Qualidade Total, disseminados a partir de 1950, foram enfim assimilados pela maioria das organizações, a qualidade passou a ser discutida na agenda estratégica do negócio, e o mercado passou a valorizar quem a possuía. O foco da qualidade passou de forma definitiva para um caráter preventivo, ao invés da abordagem de inspeção e detecção de problemas. Além disso, a qualidade passou a ser responsabilidade de todos na organização, focando em cada elo cliente-fornecedor, tanto interno quanto externo. A gestão é realizada por processos, e não por departamentos de forma isolada. A tabela 1.1 apresenta um resumo das quatro eras da qualidade. Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 10 Tabela 1.1 - Características das quatro eras da qualidade Era Interesse principal Visão da qualidade Ênfase Métodos Papel dos profissionais da qualidade Responsável pela qualidade Inspeção Detecção Um problema a ser resolvido Uniformidade do produto Instrumentos de medição Inspeção, classificação, contagem, avaliação e reparo Departamento de inspeção Controle Estatístico da Qualidade Controle Um problema a ser resolvido Uniformidade do produto com menos inspeção Ferramentas e técnicas estatísticas Solução de problemas e a aplicação de métodos estatísticos Os departamentos de fabricação e engenharia (controle de qualidade) Garantia da Qualidade Coordenação Um problema a ser resolvido, mas que é enfrentado proativamente Toda cadeia de fabricação, desde o projeto até o mercado, e a contribuição de todos os grupos funcionais para impedir falhas de qualidade Programas e sistemas Planejamento, medição da qualidade e desenvolvimento de programas Todos os departamentos, com a alta administração se envolvendo superficialmente no planejamento e na execução das diretrizes da qualidade Gestão Estratégic a da Qualidade – Gestão da Qualidade Total Impacto estratégico Oportunidade de diferenciação da concorrência As necessidades de mercado e do cliente Planejamento estratégico, estabelecimento de objetivos e a mobilização da organização Estabelecimento de metas, educação e treinamento, consultoria a outros departamentos e desenvolvimento de programas Todos na empresa, com a alta administração exercendo forte liderança Esta disciplina tem como objetivo apresentar os principais conceitos, ferramentas e técnicas que são utilizadas no modelo de Gestão Estratégica da Qualidade, conhecido amplamente como Gestão da Qualidade Total (Total Quality Management – TQM). 1.2 Conceitos básicos de qualidade e cadeias da qualidade Pare por alguns segundos e pense em alguma organização. Seja qual for o tipo de organização que você tenha escolhido - seja uma fábrica, uma universidade, um hospital, uma companhia aérea, uma ONG, uma administração municipal -, você irá perceber que todas elas estão inseridas em um ambiente que possuem um aspecto em comum: a competição. A competição está sempre presente: competição por clientes, por estudantes, por pacientes, por recursos, por fundos. Quanto maior a competitividade, seja pela quantidade de competidores ou pela escassez de recursos, maior será a dificuldade para se manter em uma posição favorável no mercado. Para superar este desafio, a maioria das organizações busca desenvolver diferenciais competitivos. Nessa constante busca por um diferencial competitivo, não há dúvidas de que a qualidade se destaca como Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 11 principal arma. Diversas organizações e até mesmo setores industriais inteiros em alguns países têm usado a qualidade para vencer seus competidores. Mas afinal de contas, o que é qualidade? Ao afirmar que determinado produto (um tênis, um carro, um tablet...) ou serviço (o atendimento em um restaurante, a recepção de um hotel, a aula de um professor...) é de qualidade, o que isso significa? Qualidade é o atendimento de requisitos e satisfação das necessidades e expectativas dos clientes. Ou ainda, segundo outros autores: “qualidade é o atendimento das exigências do cliente” – Oakland. “a qualidade deve ter como objetivo as necessidades do usuário, presentes e futuras” – Deming. “conformidade com as exigências” – Crosby. Há ainda outro conceito muito importante que anda em conjunto com a qualidade: confiabilidade. Confiabilidade nada mais é do que a continuidade da qualidade ao longo do tempo, ou seja, a capacidade de o produto ou serviço continuar atendendo aos requisitos e exigências do cliente. Isso faz toda a diferença, porque a aceitação de um produto ou serviço depende de sua capacidade de funcionar satisfatoriamente por um determinado período. A preocupação e capacitação das organizações para atender de forma consistente aos requisitos e exigências do cliente permite alcançar uma boa reputação, ou ainda, nos melhores casos, uma reputação de “excelência”. Cadeias da Qualidade A capacidade de atender às exigências do cliente é vital não apenas entre duas organizações diferentes, mas também dentro de uma mesma organização. Em cada departamento, em cada escritório ou em cada gerência de uma organização existe uma série de fornecedores e clientes. A secretária é fornecedora de seu chefe. Será que ela atende às necessidades dele? Será que ela mantém a agenda dele organizada e sob controle? Ela atende com educação e presteza as pessoas? Se o trabalho está sendo executado dessa forma, podemos considerar como um serviço de qualidade. Em todas as organizações, indústrias, bancos, lojas de varejo, universidade, hospitais ou hotéis existe uma série de cadeias de qualidade de clientes e fornecedores. Essa cadeia representa as interfaces e relacionamentos existentes dentro da organização até atendimento ao cliente Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 12 final. Ou seja, a qualidade deve ser um ponto de atenção desde o recebimento dos insumos pelos fornecedores, passando pelas diversas fases do processo de produção dentro da organização, chegando até a entrega do produto ou serviço ao cliente. A quebra desta cadeia em qualquer ponto por uma pessoa ou por um equipamento que não esteja atendendo aos requisitos do cliente interno ou externo se propaga até a interface entre a organização e seus clientes externos. O núcleo da qualidade total consiste exatamente dessa ideia de clientes-fornecedores internos e externos. O contínuo exame dos requisitos e a habilidade em atendê-los conduzem a uma filosofia de “contínuos melhoramentos”. A garantia de que os requisitos sejam atendidos em cada estágio, em cada elo da cadeia cliente-fornecedor, geram enormes benefícioscomo aumento da competitividade e participação no mercado, redução de custos, melhoria da produtividade, melhor desempenho nas entregas e eliminação de perdas. Para obter qualidade através de toda uma organização, cada pessoa da cadeia deve buscar conhecer suas interfaces, ou seja, seus clientes e fornecedores, principalmente em relação aos requisitos existentes e a capacidade de atendê-los. Para isso, sugere-se que sejam feitos alguns questionamentos: Em relação aos seus clientes: Quem são meus clientes imediatos? Quais são seus verdadeiros requisitos? Como posso identificar esses requisitos? Como posso medir minha capacidade de atendê-los? Será que disponho da necessária capacidade para atendê-los? (em caso negativo, o que deve ser mudado para melhorar?) Será que estou, continuamente, atendendo aos requisitos? (em caso negativo, o que me faz falhar no cumprimento dessa obrigação, se a capacidade existe?) Como controlo as mudanças nos requisitos? Em relação aos seus fornecedores: Quem são meus fornecedores imediatos? Quais são meus verdadeiros requisitos? Como comunico esses requisitos? Meus fornecedores têm capacidade para avaliar e atender a meus requisitos? Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 13 Como lhes informo as mudanças em meus requisitos? Desta forma, três aspectos são fundamentais na cadeia: a identificação dos clientes e fornecedores imediatos, a identificação e comunicação dos requisitos e, finalmente, a capacidade de atender aos requisitos. Todo produto ou serviço tem seu desenvolvimento iniciado a partir de um projeto. A qualidade do projeto é uma medida do quanto o projeto do produto ou serviço atende aos requisitos e exigências do cliente. Vamos supor que uma pessoa solicite ao atendente de uma empreiteira a construção de uma casa. Os requisitos apresentados descreviam uma casa simples, com dois quartos, sala, cozinha, banheiro e um pequeno jardim na frente. O atendente registra os requisitos e repassa para o arquiteto. O arquiteto faz o desenho da casa, mas falha em um pequeno detalhe: projeta três quartos ao invés de dois. Podemos considerar que, neste caso, os requisitos do cliente não foram atendidos, ou seja, o desenho do arquiteto foi reprovado no quesito qualidade do projeto. Outro conceito subjacente à qualidade do projeto é a qualidade da conformidade com o projeto, ou seja, a medida em que o produto ou serviço realiza a qualidade do projeto. Trata-se da entrega do produto ou serviço conforme o projetado. Se tanto o projeto quanto a efetiva realização do produto ou serviço tem qualidade, podemos afirmar que o cliente estará satisfeito. Caso haja falha em pelo menos um destes aspectos, o cliente terá motivos para reclamar. Suponhamos que o engenheiro, devido a algum desentendimento, acabou construindo uma casa com apenas um quarto, cozinha americana, banheiro e um quintal com piscina. Isso implica que o serviço não atendeu a qualidade da conformidade com o projeto. Ou seja, o erro foi multiplicado. E mesmo se o engenheiro tivesse seguido fielmente o projeto, as exigências do cliente não teriam sido satisfeitas. Um exemplo bem conhecido que ilustra essas falhas que existem nos elos entre clientes e fornecedores (tanto internos como externos) é a história do balanço (Figura 1.2). Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 14 Figura 1.2 – História do balanço: falha na qualidade do projeto e na qualidade da conformidade com o projeto Sob essa perspectiva, podemos resumir as relações cliente- fornecedor com o seguinte esquema: Figura 1.3 – Satisfação do cliente a partir da qualidade do projeto e da qualidade da conformidade com o projeto Qualidade percebida pelo cliente Qualidade da conformidade com o projeto Qualidade do projeto Cliente Requisitos Requisitos atendidos Requisitos atendidos Cliente satisfeito Requisitos não atendidos Cliente insatisfeito Requisitos não atendidos Requisitos atendidos Cliente insatisfeito Requisitos não atendidos Cliente insatisfeito Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 15 1.3 Processos de gerenciamento e a importância do marketing Um ritual comum nas organizações é a realização de inspeções da produção, buscando-se encontrar problemas e adequar o produto para entrega ao cliente. Esse ritual está associado à tentativa de responder à questão: “Fizemos o trabalho corretamente?” O importante a se destacar é que esse processo de inspeção, na verdade, não é controle de qualidade, mas sim detecção. Desta forma, a inspeção acaba representando gastos adicionais para a organização, tanto de tempo como de recursos. A pergunta que deve ser realmente respondida, na verdade, é: “Somos capazes de fazer o trabalho corretamente?” Essa pergunta tem amplas implicações e a resposta será SIM somente se forem utilizados métodos, materiais e equipamentos adequados, habilidades, instrução e um “processo” satisfatório. Mas afinal de contas, o que é um processo? Como foram apresentadas anteriormente, as cadeias de qualidade podem ser rastreadas através dos processos usados por uma organização. Processo é a transformação - através de ações, métodos e operações - de um conjunto de inputs em outputs que satisfazem às necessidades e expectativas do cliente na forma de produtos, informação, serviços ou, de modo geral, resultados (Figura 1.4). Cada coisa que fazemos é um processo, e, portanto, em cada área ou função de uma organização existem muitos processos em andamento. Figura 1.4 – Um processo Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 16 A partir do momento que nosso processo é capaz de atender aos requisitos exigidos (responder SIM à pergunta “Somos capazes de fazer o trabalho corretamente?”), podemos partir para a próxima pergunta: “Continuamos a fazer o trabalho corretamente?”, o que implica a necessidade de monitorar o processo e os controles a ele aplicados. Se formos capazes de responder SIM às perguntas “Somos capazes de fazer o trabalho corretamente?” e “Continuamos a fazer o trabalho corretamente?”, o trabalho foi feito do modo correto. Com isso, mudamos a necessidade de fazer a pergunta da “inspeção” e substituímos uma estratégia de detecção por uma outra de prevenção. A importância do marketing Como foi descrito anteriormente nas cadeias da qualidade entre cliente e fornecedor, as organizações devem buscar uma comunicação clara e eficiente com seus clientes externos com o objetivo de captar suas necessidades, expectativas e requisitos. A excelência das comunicações entre clientes e fornecedores é a chave para a qualidade total. É a função de marketing de uma organização que deve liderar esse processo. Ela é a principal responsável pelo estabelecimento dos verdadeiros requisitos para os produtos ou serviços que a organização entrega aos clientes. Para tanto, existem várias técnicas de pesquisa de mercado que podem ser utilizadas em conjunto com a análise de dados dos feedbacks (ex.: reclamações) visando identificar os requisitos dos clientes, ou até mesmo alterações do nível de exigência ao longo do tempo. A função de marketing deve ser capaz de fornecer à empresa um relatório formal ou resumo dos requisitos para cada produto ou serviço. Isso constitui um conjunto preliminar de especificações, que pode ser usado como base no projeto do serviço ou produto. Essa comunicação interna inicial feita com atenção é fundamentalpara evitar problemas como os exemplos da casa e do balanço apresentados anteriormente. Ampliando-se o foco para além da função de marketing, podemos afirmar que para uma organização ser realmente eficaz, cada uma de suas partes deve trabalhar em conjunto, de maneira adequada. Cada setor, cada atividade, cada pessoa da organização afeta e é afetada por outros. Os erros têm a possibilidade de multiplicar-se, e a falha em atender aos requisitos em uma área cria problemas em outras, levando a mais erros, a mais problemas, e assim por diante. Desta forma, o comprometimento de Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 17 todos os membros de uma organização é um requisito fundamental para a melhoria da qualidade em toda a empresa. 1.4 Comprometimento e política para o Gerenciamento da Qualidade Total O Gerenciamento da Qualidade Total (do inglês Total Quality Management – TQM) é uma abordagem que visa melhorar a competitividade, a eficácia e a flexibilidade de toda uma organização. Para tanto, é necessária um processo de transformação abrangente, que deve ser em primeiro lugar aceito e a seguir implementado. O TQM é um método que visa libertar os funcionários da execução de tarefas que desperdiçam tempo e recursos (inspeção, por exemplo), e as técnicas usadas podem ser aplicadas em todas as áreas de qualquer organização. A implantação do TQM exige que a organização adote uma supervisão estratégica em relação à qualidade. A abordagem visa o desenvolvimento de uma mentalidade de prevenção de problemas, ao invés da detecção. O pessoal precisa ser treinado e ensinado a utilizar seu tempo e energia para estudar seus processos em equipes, procurando as causas dos problemas e corrigindo-as de uma vez para sempre, em vez de se preocupar somente com as consequências geradas. A necessidade de adotar o TQM em determinada organização pode ser detectada a partir de um diagnóstico que passa pela resposta das seguintes perguntas: 1. A organização tem como rotina o acompanhamento dos custos originados por erros, defeitos, desperdícios, reclamações de clientes, vendas perdidas, etc.? Em caso afirmativo, estes custos são mínimos ou insignificantes? 2. O padrão de gerenciamento da qualidade é adequado? São feitos esforços para assegurar que a correta consideração seja dada à qualidade na fase de projeto? 3. Os sistemas de qualidade da organização – a documentação, os procedimentos, as operações, etc. – estão em ordem? 4. O pessoal tem sido treinado na prevenção de erros e de problemas de qualidade? Eles descobrem antecipadamente e corrigem as causas potenciais de problemas ou apenas inspecionam o resultado visando detectá-los? Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 18 5. As instruções de trabalho contêm as necessárias informações sobre qualidade? Elas são mantidas atualizadas? Os empregados trabalham de acordo com as instruções? 6. O que está sendo feito para motivar e treinar os empregados para que façam o trabalho correto da primeira vez? 7. Quantos erros e defeitos foram cometidos no ano passado? E a quantidade de desperdício? Esses números são maiores ou menores que os do ano anterior? Caso as respostas a essas perguntas indicarem áreas problemáticas, a administração superior deverá rever suas atitudes no que diz respeito à qualidade. O TQM, para ser bem-sucedido na promoção da eficácia e eficiência da empresa, deve ser de fato aplicado em todas as áreas e começar no topo, com o diretor executivo ou seu equivalente. Os diretores e gerentes de alto nível devem demonstrar comprometimento e encarar a qualidade com seriedade. Já a gerência média tem o importante papel de dominar os princípios do TQM e explicá-los aos funcionários sob sua chefia. Somente desta forma o TQM vai efetivamente difundir-se por toda a organização. Para iniciar a implementação do TQM, um requisito fundamental é estabelecer uma correta política da qualidade, juntamente com adequada organização e meios para colocá-la em prática. O conteúdo dessa política deve ser divulgado para todos os funcionários. No que tange às obrigações da gerência superior para implantação do TQM, espera-se que: 1. Estabeleçam uma “organização” para a qualidade. 2. Identifiquem as necessidades dos clientes e percebidas mesmo que não tenham sido explicitadas. 3. Avaliem a capacidade da empresa em atender economicamente a essas necessidades. 4. Assegurem que os materiais e serviços comprados atendam de modo confiável aos padrões de desempenho e eficiência estabelecidos. 5. Concentrem-se na filosofia de prevenção, em vez de ater-se à filosofia de detecção. 6. Instruam e treinem para a melhoria da qualidade. 7. Revejam os sistemas de gerenciamento da qualidade para manter o progresso. Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 19 Para ilustrar como a política da qualidade é praticada nas organizações, segue um bom exemplo: Figura 1.5 – Exemplo de política da qualidade 1.5 Criação ou mudança da cultura para o Gerenciamento da Qualidade Total A cultura de uma organização pode ser definida como o conjunto de crenças difundidas sobre como conduzir as atividades, como os empregados devem comportar-se e como devem ser tratados. Como forma de difundir estes direcionadores, as organizações normalmente criam uma estrutura de visão que incluem sua filosofia de orientação, valores e crenças centrais e seu objetivo. Tais conceitos são combinados em uma missão da organização. Política da qualidade 1. A melhoria da qualidade é fundamentalmente responsabilidade da administração. 2. Com a finalidade de envolver cada elemento da empresa na melhoria da qualidade, a administração deve habilitar todos os empregados para participarem do preparo, implementação e avaliação das atividades de melhoria. 3. A melhoria da qualidade deve ser atacada e seguida de uma maneira sistemática e planejada. Isso se aplica a todos os setores da organização. 4. A melhoria da qualidade deve ser um processo contínuo. 5. A organização deve concentrar-se mais do que nunca nos seus clientes e fornecedores, tanto externos como internos. 6. O desempenho de nossos competidores deve ser conhecido por todas as unidades pertinentes. 7. Fornecedores importantes devem ser envolvidos mais de perto com nossa política da qualidade. Isso é relativo a fornecedores externos e internos de bens, recursos e serviços. 8. Atenção geral deve ser dada às atividades de instrução e treinamento, que devem ser avaliadas quanto ao aspecto de sua contribuição à política da qualidade. 9. Essa política será divulgada em todas as áreas da empresa, de modo que todos possam entendê-la. Todos os métodos e meios disponíveis serão usados para sua promoção interna e externa e para comunicação. 10. Nas reuniões da gerência, os relatórios de progresso da implementação da política devem ser um item permanente da agenda. Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 20 A filosofia de orientação impulsiona a organização e é formulada pelos líderes através de seus pensamentos e ações. Ela deve refletir a visão da organização, em vez da visão de um único líder, e evoluir com o tempo, embora as organizações devam manter os elementos centrais. Os valores e crenças centrais representam os princípios básicos da organização, o que é importante no negócio, sua conduta, sua responsabilidade social e sua resposta às mudanças no ambiente.Devem atuar como uma força diretriz, com valores claros e autênticos, focalizando os empregados, os fornecedores, os clientes, a sociedade de um modo mais amplo, a segurança, os acionistas e em geral as partes diretamente interessadas. O objetivo da organização deve ser um desenvolvimento dos valores e crenças centrais e mostrar de modo rápido e claro como a organização deve realizar o seu papel. A missão deve traduzir a abstração da filosofia em metas tangíveis, que façam avançar a organização para um desempenho ótimo. Controle A eficácia de uma organização e de seu pessoal depende do empenho com que cada departamento desempenha seu papel e se move no sentido das metas e objetivos comuns. Para garantir que todas as funções estão caminhando em direção às metas da organização são utilizados mecanismos de controle. Estes mecanismos visam aumentar a probabilidade de os resultados planejados serem obtidos, e podem ser classificados em três categorias: Tabela 1.2 – Mecanismos de controle Antes do fato Durante a operação Depois do fato Plano estratégico Observação Relatórios anuais Planos de ação Inspeção e correção Relatórios de variação Orçamentos Revisão do progresso Auditorias Descrições de trabalho Reuniões de staff Pesquisas Objetivos de desempenho individual Sistema de dados e informações internas Revisão de desempenho Planos de treinamento e desenvolvimento Programas de treinamento Avaliação do treinamento Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 21 A utilização de controles “depois do fato” faz com que os gerentes assumam uma posição reativa em vez de proativa. Este tipo de abordagem deve ser substituída por outra que proporcione maior antecipação, focalizando nos controles preventivos “antes do fato” e fazendo o devido monitoramento “durante a operação”. O TQM diz respeito exatamente a essas mudanças de atitudes, de tal modo que a cultura da organização se transforme em uma cultura de prevenção de falhas em vez do comportamento puramente reativo. Dez pontos para a gerência sênior Com o objetivo de ajudar os gerentes seniores e diretores a compreender o que precisa ser feito para comprometer-se com a qualidade e implementar a visão na organização, alguns “gurus” da qualidade definiram alguns pontos a serem adotados: 1. A organização precisa de COMPROMETIMENTO de longo prazo para melhoria contínua O compromisso com a melhoria contínua deve começar no topo da organização. O processo de melhoria da qualidade deve ser planejado, tendo como base toda a organização, isto é, deve abranger todos os setores e departamentos e incluir clientes, fornecedores e subcontratados. Não se deve ter pressa no processo de implementação do TQM pois isso pode resultar em um sucesso apenas temporário, sem mudanças reais de comportamento. 2. Adotar a filosofia de zero defeitos /erros e mudar a CULTURA para fazer certo na primeira vez Isso deve ser baseado no conhecimento perfeito das necessidades e expectativas do cliente e no trabalho em grupo desenvolvido com participação dos empregados. 3. Treinar o pessoal para compreender o relacionamento CLIENTE- FORNECEDOR Mais uma vez o compromisso com as necessidades do cliente deve começar no topo, a partir do Primeiro Executivo. Para todos e cada um dos empregados, diretores e gerentes, a orientação para o cliente deve ser uma realidade. A ideia de clientes e fornecedores internos deve ser perfeitamente compreendida e utilizada. Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 22 4. Não comprar produtos ou serviços levando-se em conta unicamente o preço – analisar o CUSTO TOTAL Exigir o melhoramento contínuo em tudo, inclusive nos fornecedores. Isso faz com que ocorram melhorias no produto, no serviço e nas taxas de defeitos. 5. Reconhecer que o melhoramento dos SISTEMAS precisa ser administrado Definir os padrões de desempenho esperados e admitir que os sistemas para consegui-los são responsabilidade da gerência. 6. Adotar métodos modernos de SUPERVISÃO e TREINAMENTO – eliminar o medo Providenciar o tipo certo de supervisão e treinamento. Buscar reconhecer esforços e realizações, tornando-os públicos. 7. Eliminar as barreiras entre departamentos pelo controle do PROCESSO – melhorar as COMUNICAÇÕES e o TRABALHO EM GRUPO As barreiras são muitas vezes criadas pelo “gerenciamento de silo”, no qual os departamentos são tratados como se fossem containers, separados uns dos outros. É necessária uma abordagem por processo e para isso é fundamental melhorar a comunicação entre os departamentos que fazem parte dele. 8. Eliminar o seguinte: Metas arbitrárias sem métodos. Todos os padrões apenas baseados em números. As barreiras ao orgulho pelo trabalho profissional. Ficção. Obter FATOS usando as FERRAMENTAS corretas. Os empregados precisam saber como pretendem realizar suas metas e qual tem sido o seu progresso. As pessoas deve ter orgulho do que fazem e não serem estimuladas a trabalharem como máquinas no modo automático. É necessário treinar o pessoal para medir e relatar desempenho em linguagem clara e estimular cada empregado a medir seu próprio desempenho. É necessário descobrir como se comportam outras organizações (benchmark referente às melhores práticas). Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 23 9. INSTRUIR e retreinar constantemente – desenvolver “ESPECIALISTAS” na empresa Instruir, treinar e estimular os verdadeiros especialistas da empresa, que são aquelas pessoas que fazem o mesmo trabalho todos os dias. 10. Desenvolver uma abordagem SISTEMÁTICA para gerenciar a implementação do TQM A implementação do TQM exige uma estratégia planejada e totalmente integrada, derivada da missão. Dessa forma ela contribuirá para que a organização realize sua visão. Em resumo, é necessário: Identificar os relacionamentos cliente-fornecedor. Controlar os processos. Mudar a cultura. Melhorar as comunicações. Demonstrar comprometimento. Estes elementos constituem a base da primeira parte do modelo de TQM – os efeitos soft do TQM (Figura 1.6). Figura 1.6 – Modelo do Gerenciamento da Qualidade Total – os efeitos soft Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 24 O núcleo de processo deve ser, ainda, rodeado por algumas necessidades de gestão, que são hard: 1. Sistemas – baseados em uma boa norma internacional (escopo da Aula II). 2. Ferramentas – para análise, correlações e predições de ações a serem executadas para o melhoramento contínuo (escopo das Aulas III e IV). 3. Grupos – os conselhos, grupos de melhoria da qualidade, círculos da qualidade, grupos de ação corretiva, etc. (escopo da Aula V). A Figura 1.7 apresenta o modelo geral do TQM destacando seus aspectos principais. Figura 1.7 – Modelo do Gerenciamento da Qualidade Total – aspectos principais 1.6 Desdobramento da Função Qualidade (QFD) Todas as empresas que atuam em mercados competitivos se deparam, de tempos e tempos, com a necessidade de atualizar seus produtos, processos e serviços. Essa busca por inovação é necessária principalmente para acompanhar as constantes evoluções de tecnologia e permite que a empresa desenvolva vantagens competitivas que possibilitam aumentar a participação no mercado. Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 25 A inovação suscita invenção e projeto de produtos e serviçosinteiramente novos, incorporando novas ideias, descobertas e tecnologias avançadas, e promove o contínuo desenvolvimento e aprimoramento dos produtos, serviços e processos existentes, visando à melhoria de seu desempenho e qualidade. Também pode ser dirigida para redução dos custos de produção ou de operações durante todo o ciclo de vida do sistema do produto ou serviço. O desenvolvimento de novas soluções para os produtos, processos e serviços de uma empresa é alcançado a partir de projetos que contam com a participação de vários grupos e áreas funcionais. Nestes projetos, é fundamental haver o comprometimento do nível mais alto da administração, pois isso ajuda a incorporar qualidade na elaboração do projeto e assegura boas relações e comunicações entre as diversas áreas envolvidas. Nestes projetos é fundamental que a satisfação do cliente seja levada em consideração e, além disso, deve-se garantir que os processos operacionais da empresa são capazes de produzir de acordo com o projeto. O projeto inclui todos os aspectos, desde a identificação do problema a ser resolvido (usualmente uma necessidade do mercado), abrangendo desde o desenvolvimento de concepções de projeto e de protótipos até a preparação de especificações detalhadas ou instruções necessárias para produzir o artefato ou fornecer o serviço. Ele consiste no processo de traduzir as necessidades identificadas no mercado em alguma forma física, inicialmente como uma ideia de solução e depois como uma configuração específica ou arranjo de materiais, recursos, equipamento e pessoal. Desdobramento da função qualidade (QFD – Quality Function Deployment) – a casa da qualidade A “casa da qualidade” é a estrutura de abordagem para o gerenciamento de projeto conhecida como desdobramento da função qualidade (QFD). Foi originada no Japão em 1972, no estaleiro da Mitsubishi, porém foi desenvolvida em diversos aspectos pela Toyota e seus fornecedores, além de muitas outras organizações. O desdobramento da função qualidade (QFD) é um método para fazer um projeto de um produto ou serviço, baseado nas exigências do cliente, e com participação de membros de todas as funções da organização. As atividades incluídas no QFD são: 1. Pesquisa de mercado. Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 26 2. Pesquisa básica. 3. Invenção. 4. Concepção. 5. Teste de protótipo. 6. Teste do produto final ou do serviço. 7. Serviço pós-venda e solução de problemas O primeiro passo para um trabalho de QFD é formar um grupo multifuncional para essa atividade. Seu objetivo é fazer o levantamento das necessidades do mercado e traduzi-las de tal forma que a unidade de operação da empresa possa atender. O grupo QFD deve responder a três questões – QUEM, QUAIS e COMO: 1ª- QUEM são os clientes? 2ª- QUAIS são as necessidades do cliente? 3ª- COMO serão atendidas as necessidades? A primeira pergunta (QUEM) pode ser resolvida a partir de uma outra pergunta: “Quem vai ter vantagem com o lançamento bem-sucedido deste produto, serviço ou processo?”. Quando os potenciais clientes tiverem sido identificados, a segunda pergunta (QUAIS) pode ser respondida através de um processo de entrevista/questionário ou tendo como base o conhecimento e a opinião dos membros do grupo QFD. A terceira pergunta (COMO) é mais difícil de ser respondida e deve ser baseada nos atributos do produto, serviço ou processo em desenvolvimento, constituindo muitas etapas de um “plano estratégico de QFD”. A chave para construção da casa da qualidade (House of Quality – HOQ) é a focalização nas exigências do cliente, de tal modo que os processos de projeto e desenvolvimento sejam conduzidos mais pelas necessidades do cliente do que pelas inovações em tecnologia. Isso assegura que mais esforço seja aplicado para obter a vital informação do cliente. A construção da casa da qualidade exige que o pessoal de marketing, a equipe do projeto (incluindo engenheiros), e o pessoal da produção/operações trabalhem em sinergia, visando captar o máximo do conhecimento de cada uma das funções. Os primeiros passos do QFD levam em consideração o produto ou serviço como um todo, já as etapas subsequentes consideram os componentes individuais. O serviço total de um hotel, por exemplo, será Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 27 considerado no primeiro nível, e os exercícios seguintes de QFD devem tratar do restaurante, apartamentos e recepção. Para cada um dos subserviços devem existir requisitos do cliente, e todos eles precisam ser compatíveis com o plano geral. A Figura 1.8 mostra os componentes essenciais do diagrama da casa da qualidade. Figura 1.8 – A casa da qualidade A construção começa com as exigências do cliente, que são determinadas através da “voz do cliente” – as atividades de marketing e pesquisa do mercado. Estes são colocados à esquerda da matriz de relacionamento central, por ordem de importância. Cada requisito do cliente deve então ser examinado em termos da avaliação do cliente; pode se perguntar a um grupo de clientes como eles percebem o desempenho do produto ou serviço da organização quando comparados aos da concorrência. Estes resultados são colocados ao lado direito da matriz central. Os requisitos dos clientes (pergunta “QUAIS”) devem agora ser convertidos em possíveis soluções (pergunta “COMO”). Estes são denominados requisitos do projeto técnico e aparecem no diagrama de cima Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 28 para baixo em termos de requisitos, classificações (ou custos) e avaliações frente à concorrência (benchmarking técnico). São a “voz do processo”. Os requisitos técnicos são colocados imediatamente acima da matriz central e podem também ser classificados em requisitos mais importantes e requisitos detalhados. Imediatamente abaixo da matriz central de relacionamento aparecem as classificações de dificuldade técnica, tempo de desenvolvimento ou custos. Estes elementos vão permitir ao grupo de QFD discutir a eficiência das várias soluções técnicas. Abaixo das classificações técnicas do diagrama estão os dados dos marcos de referência, que comparam os processos técnicos da organização com os dos seus competidores. A matriz de relacionamento central é o centro de trabalho do diagrama da casa da qualidade. Nela os requisitos dos clientes (QUAIS) são combinadas com as possíveis soluções (COMO), e cada requisito do cliente é avaliado sistematicamente, em face de cada requisito do projeto técnico. A natureza do relacionamento – fortemente positivo, positivo, neutro, negativo e fortemente negativo – é mostrada por símbolos na matriz. O grupo de QFD faz a estimativa de relacionamento, usando a experiência e o julgamento, com o propósito de identificar COMO os requisitos dos clientes (QUAIS) podem ser realizados. A partir da matriz central pode-se perceber se existe mais de uma maneira de realizar um determinado requisito do cliente; a matriz do telhado possibilita ver se os requisitos técnicos para realizar um requisito do cliente terão efeito negativo sobre um outro assunto técnico. A parte mais baixa do diagrama da casa da qualidade mostra os valores alvo das características técnicas que são expressas em termos físicos. Eles só podem ser decididos pelo grupo após a discussão de todo o conteúdo da casa. As características técnicas dos alvos podem ser usadas para gerar o diagrama da casa da qualidade do próximo nível, onde eles se transformam em requisitos do cliente (QUAIS), e o processo de QFD determina osdetalhes subsequentes do COMO eles devem ser realizados. Desse modo, o processo “desdobra” os requisitos do cliente até os estágios operacionais finais, conforme ilustrado na Figura 1.9. Este tipo de detalhamento permite dar foco a cada detalhe dos requisitos dos clientes e do projeto técnico, permitindo desenvolver um produto ou serviço que atenda da melhor maneira possível a necessidade do cliente. Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 29 Figura 1.9 – O “desdobramento” da “voz do cliente” através das tábuas da qualidade A principal vantagem do QFD é, naturalmente, o aumento da satisfação do cliente, que pode ser medida, por exemplo, em termos de redução de reclamações de garantia. Controle e gerenciamento do projeto O projeto, como qualquer outra atividade, deve ser cuidadosamente administrado. A Figura 1.10 apresenta o fluxograma dos vários estágios e atividades envolvidos no processo de projeto e desenvolvimento. Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 30 Criar um programa de planejamento de projeto e desenvolvimento Providenciar códigos e procedimentos de prática de projeto Fazer as atribuições das atividades de projeto Identificar as interfaces técnicas e organizacionais Identificar os requisitos de input do projeto Identificar os requisitos de output do projeto Estabelecer procedimentos para revisão do projeto Investigar novas técnicas – o equilíbrio entre inovação e padronização Avaliar novos materiais – sob as condições adequadas Figura 1.10 – O processo de controle do projeto Ao se elaborar a estruturação do processo de projeto dessa maneira, é possível: Controlar os vários estágios. Verificar se eles foram completados. Decidir quais funções de gerência precisam ser envolvidas e em que estágio. Estimar o nível de recursos necessários. 1.7 Especificações e normas e o projeto da qualidade no setor de serviços Especificações e normas Especificação, segundo a International Standards Organization (ISO), é o “documento que prescreve os requisitos com os quais o produto ou serviço têm de estar conforme”. Desta forma, um documento que não inclua uma relação detalhada ou descrição dos requisitos a serem atendidos pelo Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 31 produto, serviço ou processo não pode ser considerado como uma especificação. Existe uma forte correspondência entre normalização e especificação. As especificações devem ser escritas de modo a permitir uma só interpretação, para assegurar que o produto ou serviço esteja normalizado e possa ser repetido um grande número de vezes, exatamente como exigido. Os requisitos do produto ou serviço, e portanto a qualidade, devem estar inseridos na especificação do projeto. A especificação é o principal documento com respeito à obtenção e manutenção da qualidade, qualquer que seja o produto ou serviço. Sem ela, não existe base para o controle de qualidade e não podemos ter segurança de que um par de sapatos de um determinado tamanho comprado no Brasil seja do mesmo tamanho que um par comprado nos EUA, França ou no Japão. A especificação transmite os requisitos do cliente à empresa, de forma que o produto ou serviço possa ser projetado, produzido ou operado, utilizando-se equipamentos, técnicas e tecnologia convencionais ou especiais. Alguns requisitos básicos numa especificação são: Requisitos de desempenho do produto ou serviço. Parâmetro – tais como dimensões, concentração, tempo para retorno – que descrevem o produto ou serviço de modo adequado (devem ser quantificadas e incluídas as unidades de medição). Materiais a serem usados com propriedades definidas ou com referências a outras especificações. Método de produção ou operações. Requisitos de inspeção, testes e verificação. Referências a outras especificações ou documentos aplicáveis. Projeto da qualidade no setor de serviços Ao considera o projeto de serviços, é importante levar em conta as diferenças entre bens e serviços. Os serviços possuem algumas características particulares, quais sejam: Intangibilidade: Ao contrário de bens, os serviços não podem ser vistos, provados, sentidos, ouvidos ou cheirados antes de serem comprados. Para reduzir a incerteza, os compradores procuram “sinais” de qualidade de serviço. Tiram suas conclusões sobre a qualidade a partir de tudo que puderem Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 32 observar sobre o lugar, as pessoas, o equipamento, o material de comunicação e o preço. Portanto, a tarefa do prestador de serviços é tornar esses serviços tangíveis de várias maneiras. Perecibilidade: Os serviços são perecíveis e não podem ser estocados para vendas ou uso futuros. Quando a demanda é constante, o fato de os serviços serem perecíveis não causa maiores problemas; mas quando é flutuante, os problemas podem ser graves. Por exemplo, as empresas de transporte público são obrigadas a manter muito mais equipamento, devido à demanda na hora do rush, do que manteriam se a demanda fosse uniforme durante todo o dia. Simultaneidade: Os produtos físicos são fabricados, estocados, mais tarde vendidos e, por fim, consumidos. Porém, os serviços são primeiro vendidos, depois produzidos e consumidos ao mesmo tempo. Em serviços, produção e consumo são simultâneos. Serviços são inseparáveis daqueles que os fornecem, sejam pessoas ou máquinas. Se um empregado presta serviços, ele é parte do serviço. Quando ele eventualmente comete um erro, o cliente já recebe o serviço defeituoso por conta da simultaneidade. Como o cliente também está presente quando o serviço é produzido, a interação fornecedor-cliente é um aspecto especial a ser considerado. Heterogeneidade: Os serviços são altamente variáveis; sua qualidade depende de quem os proporciona e de quando, onde e como são proporcionados. As empresas de serviços podem tomar várias medidas para garantir o controle de qualidade. Podem oferecer ao empregado incentivos que enfatizem a qualidade, como prêmios do funcionário do mês ou bônus baseados no feedback do cliente. Pode verificar a satisfação do cliente regularmente por meio de um sistema de sugestões e queixas, pesquisas com a clientela e comparação com o nível do serviço em outros estabelecimentos semelhantes Quando se descobre um serviço malfeito, deve-se corrigi-lo. Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 33 Devido a essas características, os projetos da qualidade em serviços devem levar em consideração o ambiente e os sistemas utilizados. As facilidades de serviço, procedimentos e sistemas devem ser projetadas de acordo com o pensamento do cliente. Os serviços podem ainda ser classificados em cinco categorias: Fábrica de serviço. Loja de serviço. Serviço de massa. Serviço profissional. Serviço pessoal. A Tabela 2.1 apresenta alguns exemplos de tipos de serviço classificados nessas categorias. Tabela 1.3 – Categorias de serviços FÁBRICA DE SERVIÇO Firma de limpeza Firma de consertos Manutenção Serviço postal Aluguel de equipamentos Banco LOJA DE SERVIÇO Clínica Centro de lazer Lanchonete Posto de serviço SERVIÇO DE MASSA Hotel Faculdade Mudanças Agência de viagens Restaurante Serviço de ônibus Serviço ferroviário Escola SERVIÇO PROFISSIONAL Contador Consultor financeiro Veterinário Arquiteto ProcuradoresSERVIÇO PESSOAL Autoescola Salão de beleza Cabeleireiro Treinador esportivo Dentista Oculista Adicionalmente, diversos atributos de serviço têm significação especial para o projeto de suas operações: 1. Intensidade do trabalho – a relação entre os custos da mão-de- obra aplicada e o valor da instalação e do equipamento utilizado (serviços baseados em pessoal versus equipamento). Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 34 2. Contato – a proporção do tempo total necessário para prestar o serviço no qual o consumidor está presente no sistema. 3. Interação – a extensão em que o consumidor intervém ativamente no processo do serviço para mudar o seu conteúdo; inclui a participação do cliente para fornecer informações que permitem avaliar as necessidades e feedback que permite conhecer os níveis de satisfação. 4. Customização – que inclui escolha (possibilitando uma ou mais seleções em um leque de opções, que podem ser singulares ou permanentes) e adaptação (o processo interativo no qual o requisito é decidido, projetado e entregue para satisfazer a necessidade). 5. Natureza do ato de serviço – pode ser tangível, isto é, perceptível ao toque e ser possuído ou intangível. 6. Receptor de serviço – pessoa ou coisa. A Tabela 1.4 fornece uma lista de alguns serviços com seus respectivos tipos de atributos. Tabela 1.4 – Serviços e a classificação de seus atributos SERVIÇO INTENSIDADE DA MÃO-DE-OBRA CONTATO INTERAÇÃO CUSTOMIZAÇÃO NATUREZA DO ATO RECEPTOR DO SERVIÇO Agência de viagens Alta Baixo Baixa Adaptação Tangível Coisas Arquiteto Alta Baixo Alta Adaptação Intangível Coisas Autoescola Alta Alto Alta Adaptação Intangível Pessoas Banco Baixa Baixo Baixa Fixa Intangível Coisas Cabeleireiro Alta Alto Alta Adaptação Tangível Pessoas Contador Alta Baixo Alta Adaptação Intangível Coisas Dentista Alta Alto Alta Adaptação Tangível Pessoas Faculdade Alta Alto Baixa Fixa Intangível Pessoas Hotel Alta Alto Baixa Escolha Tangível Pessoas Lanchonete Baixa Alto Alta Escolha Tangível Pessoas Restaurante Alta Alto Baixa Escolha Tangível Pessoas Salão de beleza Alta Alto Alta Adaptação Tangível Pessoas Os serviços fazem parte de quase todas as organizações, ou seja, não são restringidos ao setor de serviço. Portanto, fica claro que as classes de serviço e os diferentes atributos devem ser considerados em qualquer processo de projeto de serviço. Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 35 EXERCÍCIO 1 A história da gestão da qualidade pode ser dividida em quatro eras, nas quais a importância dada à qualidade foi evoluindo e transformando de uma abordagem reativa (detecção de problemas) para uma abordagem proativa (prevenção de problemas). Quais são, em ordem cronológica de evolução, as quatro eras da gestão da qualidade? ( A ) Garantia da Qualidade, Controle Estatístico da Qualidade, Inspeção e Gestão da Qualidade Total. ( B ) Inspeção, Gestão da Qualidade Total, Garantia da Qualidade e Controle Estatístico da Qualidade. ( C ) Gestão por Processos, Desdobramento de Diretrizes, Sistemas da Qualidade e ISO 9000. ( D ) Inspeção, Controle Estatístico da Qualidade, Garantia da Qualidade e Gestão da Qualidade Total. EXERCÍCIO 2 Qual dos itens abaixo não descreve corretamente o conceito de Qualidade? ( A ) Qualidade é o atendimento das exigências do cliente. ( B ) Qualidade é focar no aumento do lucro da empresa, a qualquer custo. ( C ) Qualidade é a conformidade com as exigências. ( D ) Qualidade é o atendimento de requisitos e satisfação das necessidades e expectativas dos clientes. EXERCÍCIO 3 Todos os itens abaixo apresentam obrigações da gerência superior para se obter sucesso na implantação do TQM, exceto: (A) Identificar as necessidades dos clientes. (B) Criar diversos cargos gerenciais especificamente para trabalhar com a implantação do TQM. (C) Instruir e treinar os funcionários para a melhoria da qualidade. (D) Concentrar-se na filosofia de prevenção, ao invés da detecção. Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 36 EXERCÍCIO 4 O modelo de Gerenciamento da Qualidade Total é composto por três pilares principais, conhecidos como necessidades hard de gestão, que são: (A) Pessoas, Estatística e Auditorias (B) Sistemas, Ferramentas e Grupos (C) Sistemas, Estatística e Pessoas (D) Auditoria, ISO 9000 e Grupos EXERCÍCIO 5 O principal objetivo do método de Desdobramento da Função Qualidade é: (A) Implementar o controle de qualidade do produto final para evitar que não conformidades cheguem ao cliente final. (B) Desdobrar as responsabilidades para os funcionários implementarem o TQM na empresa. (C) Realizar auditorias para verificar as condições do sistema de produção da empresa. (D) Fazer um projeto de um produto ou serviço, baseado nas exigências do cliente, e com participação de membros de todas as funções da organização. EXERCÍCIO 6 De que forma a atividade de marketing da empresa consegue identificar quais são as necessidades dos clientes ou dos possíveis clientes? ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 37 EXERCÍCIO 7 O desdobramento da função qualidade (QFD) é um método utilizado com o objetivo de desenvolver um projeto de um produto ou serviço baseado nas exigências do cliente. Descreva abaixo quais são as principais etapas desse método e de que forma é garantido que as exigências e expectativas dos clientes sejam satisfeitas. ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 38 RESUMO Vimos até agora: Qualidade é o atendimento de requisitos e satisfação das necessidades e expectativas dos clientes. Confiabilidade é a continuidade da qualidade ao longo do tempo, ou seja, a capacidade de o produto ou serviço continuar atendendo aos requisitos e exigências do cliente. Uma série de fornecedores e clientes internos existe em todas as organizações. Estes formam as chamadas “cadeias da qualidade”. Existem dois aspectos da qualidade: Qualidade do projeto é a medida da perfeição com que o projeto do produto ou serviço é feito para atender aos requisitos combinados com o cliente. Qualidade da conformidade com o projeto é a medida em que o produto ou serviço realiza o projeto. Estratégias de detecção de problemas devem ser substituídas por estratégias de prevenção. Processo é a transformação de um elenco de inputs (materiais, mão de obra, conhecimento...) em outputs (resultados, produtos, serviços...). O marketing é responsável por estabelecer os requisitos corretos para o produto ou serviço. Todos os membros de uma organização precisam trabalhar juntos para a melhoria da qualidade. O TQMé uma abordagem abrangente que visa melhorar a competitividade, a eficácia e a flexibilidade por meio de planejamento, organização e compreensão da atividade, envolvendo cada indivíduo em cada nível da organização. Aula 1 | Fundamentos do Gerenciamento da Qualidade Total 39 O TQM assegura que a administração adote uma visão estratégica da qualidade e concentre-se na prevenção de problemas e não em sua detecção. O TQM começa no topo, onde deve ser demonstrada a existência de um comprometimento sério e obsessivo com a qualidade. A gerência média tem igualmente um papel-chave de transmitir a mensagem. O núcleo do TQM é o relacionamento cliente- fornecedor, em que os processos devem ser gerenciados. Os efeitos soft do TQM (a cultura, as comunicações e o comprometimento) constituem a base para o modelo. As necessidades hard do TQM são sistemas, ferramentas e grupos. Tais elementos fornecem uma estrutura que serve para acompanhar o progresso da organização na direção do TQM. Sistema da Qualidade Danilo Garbazza A U L A 2 A p re s e n ta ç ã o O Sistema da Qualidade constitui um dos três pilares (necessidades hard) do modelo de Gerenciamento da Qualidade Total. O objetivo do Sistema da Qualidade é viabilizar a prática da política da qualidade implementada na organização. Para implantação do Sistema da Qualidade as organizações utilizam normas de referência, como a ISO 9000. O grande desafio é o atendimento de um conjunto de requisitos, que se aplicam a todas as atividades da empresa, buscando integrá-las de forma a garantir e controlar a qualidade dos produtos fabricados ou dos serviços prestados pela empresa. O b je ti v o s Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Entender os conceitos de planejamento da qualidade Entender a importância do planejamento de compras e da abordagem Just in Time (JIT) Entender os requisitos do Sistema da Qualidade Identificar diferentes normas e modelos para avaliação do Gerenciamento da Qualidade Total Aula 2 | Sistema da Qualidade 41 2.1. Planejamento para a qualidade Um dos requisitos básicos para gerenciar de forma eficaz a qualidade, em qualquer organização, é planejar sistematicamente. O planejamento da qualidade deve ser parte de um contínuo processo de revisão que objetiva zero erro ou defeito através de uma estratégia de melhoramentos contínuos. Antes de desenvolver um adequado sistema de gerenciamento da qualidade total, é necessário fazer uma análise preliminar para assegurar-se de que existe uma estrutura de organização da qualidade, que os recursos necessários estão disponíveis e que as diversas atribuições de responsabilidade serão levadas a efeito. A Figura 2.1 apresenta um fluxograma dessa análise e as respostas às perguntas ali realizadas deverão gerar os planos de ação apropriados. Figura 2.1 – Análise preliminar para o planejamento da qualidade Aula 2 | Sistema da Qualidade 42 O plano para desenvolvimento de um sistema multifuncional de gerenciamento da qualidade total pode ter como modelo o fluxo apresentado na Figura 2.2. Figura 2.2 – Plano para um sistema da qualidade Aula 2 | Sistema da Qualidade 43 O plano da qualidade é um documento específico para cada produto, atividade ou serviço, e serve para indicar as atividades necessárias relacionadas com a qualidade. O plano deve incluir referências para: Especificações de material ou serviço comprado. Procedimentos de sistemas da qualidade. Formulações de produto ou tipos de serviço. Controles de processo. Procedimentos de amostragem e inspeção. Especificações de embalagem ou distribuição. Procedimentos pertinentes e variados. Alguns dos pontos principais do plano de qualidade estão relacionados com os inputs do processo: Fábrica/equipamento: O projeto, layout e inspeção da fábrica e do equipamento, incluindo aquecimento, iluminação, armazenagem, disposição do refugo, etc. Processos: O projeto e monitoramento de processos para reduzir a um mínimo a possibilidade de mau funcionamento e/ou falha. Local de trabalho: O estabelecimento e manutenção de locais de trabalho adequados, limpos e em ordem. Meios para facilitar o trabalho: A provisão e manutenção de adequados recursos técnicos com essa finalidade. Procedimentos: A preparação de procedimentos para todas as operações. Estes podem ser sob a forma de planos e roteiros gerais, em vez de excessivos detalhes; devem incluir, porém, deveres e responsabilidades específicas. Treinamento: A provisão de treinamento efetivo em qualidade, tecnologia, processo e operações fabris. Informação: A força vital de todos os sistemas de gerenciamento da qualidade. Todos os processos devem ser operados de acordo com as seguintes regrais: a) nenhuma coleta de dados sem registro; b) nenhum registro sem análise; c) nenhuma análise sem ação. O planejamento e desenvolvimento do sistema de qualidade devem levar em conta todas as outras funções, tais como projeto, desenvolvimento, produção ou operações, subcontratos, instalação, manutenção e assim por Aula 2 | Sistema da Qualidade 44 diante. Os aspectos do planejamento da qualidade que requerem atenção ou técnicas específicas serão apresentados nos próximos itens desta Unidade. Fluxogramas Um passo fundamental para o planejamento ou exame de qualquer processo, seja ele relativo a trabalho de escritório, indústria, manufatura ou uma atividade gerencial, é o registro das sequências de eventos, atividades, estágios e decisões, de forma que possam ser facilmente compreendidos e comunicados a todos. As descrições que definem o processo devem possibilitar a sua compreensão e fornecer a base de qualquer exame crítico necessário para o desenvolvimento de melhorias. O método mais simples de se registrar fatos é realizando sua descrição. Porém, esse tipo de abordagem não é conveniente quando se trata de processos complicados e extensos. Desta forma, para superar essa dificuldade foram desenvolvidos alguns métodos, sendo que a elaboração de fluxogramas é o mais eficaz. No preparo do fluxograma, alguns símbolos são usados como padrões, conforme apresentado na Figura 2.3: Círculo: representa o ponto de início do processo. Retângulo: representa cada etapa e contém uma descrição da operação pertinente. Losango: ponto onde o processo se subdivide em consequência de uma decisão. Paralelogramo: contém informações úteis, porém não é uma etapa do processo. Linhas com flechas: são usadas para ligar os símbolos e indicar a direção do fluxo. Oval: fim do processo. Figura 2.3 – Símbolos de fluxograma Início Fim Etapa do processo (operação) Bloco de informação Decisão Fluxo Aula 2 | Sistema da Qualidade 45 O próprio ato de elaborar o fluxograma de um processo de trabalho permite aprofundar o conhecimento a seu respeito e desenvolver maneiras de aprimorá-lo. Adicionalmente, os fluxogramas podem ainda realçar a existência de movimentação desnecessária de pessoal e materiais, conduzindo a ações de melhoria para eliminar o desperdício. Outros dois métodos utilizados para descrever processos são os gráficos de fluxo de processo e o mapofluxograma. Estes métodos utilizam cinco símbolos padronizados que, juntos, representam todosos diferentes tipos de atividades ou eventos prováveis de ser encontrados. Os símbolos fornecem uma linguagem conveniente, taquigráfica e internacional, que pode ser compreendida facilmente e economiza muito tempo e descrições, além de mostrar exatamente o que acontece ou precisa acontecer na sequência correta. Os símbolos são mostrados na Figura 2.4. Figura 2.4 – Símbolos usados em gráficos detalhados de fluxo de processo e diagrama de fluxo Os gráficos e diagramas podem ser de quatro tipos básicos: 1. Pessoal – registra o que o indivíduo realmente faz. 2. Material – registra como o material é manuseado (inclusive a papelada) ou tratado. Operação Inspeção Transporte Demora Armazenagens Indica as etapas principais em um processo. Indica uma verificação quanto à qualidade ou quantidade. Indica movimento de pessoal, de materiais, de papéis, de informação, etc. Indica uma estocagem temporária, demora ou retenção entre operações consecutivas. Indica uma armazenagem controlada, tal como arquivamento, o que não constitui uma demora. Aula 2 | Sistema da Qualidade 46 3. Equipamento – registra como o equipamento é usado. 4. Informação – registra como flui a informação, para quem ou para onde. Exemplos de gráfico de fluxo de processo e de mapofluxograma são dados respectivamente nas Figuras 2.5 e 2.6. Figura 2.5 – Exemplo de gráfico de fluxo de processo (Processo de preenchimento de formulário para autorizar investigação) Aula 2 | Sistema da Qualidade 47 Figura 2.6 – Exemplo de mapofluxograma (Processo de preenchimento de formulário para autorizar investigação) O uso de mapofluxograma como o exemplificado na Figura 2.6 permite identificar ineficiências como caminhos percorridos de forma desnecessária e problemas na organização do ambiente. Este tipo de conclusão não é possível a partir do gráfico de fluxo do processo (Figura 2.5). O gráfico, no entanto, permite registras as várias atividades e resumi- las de um modo não convenientemente possível no diagrama de fluxo. Visando a melhoria dos processos, deve-se examinar criticamente tanto o gráfico de fluxo de processo como o mapofluxograma. Isso pode ser feito empregando uma técnica de questionamento com sequência bem definida: Aula 2 | Sistema da Qualidade 48 Tabela 2.1 – Perguntas para análise crítica do gráfico de fluxo de processo e do mapofluxograma Foco Perguntas Objetivo FINALIDADE O que é realmente feito? (ou o que é realmente realizado?) Por que a atividade é, de fato, necessária? O que mais pode ou deve ser feito? ELIMINAR partes desnecessárias do trabalho LUGAR Onde está sendo feito? Por que é feito naquele local específico? Onde mais pode ou deve ser feito? COMBINAR onde for possível e/ou REORDENAR operações para resultados mais efetivos ou redução do desperdício. SEQUÊNCIA Quando é feito? Por que é feito naquele momento específico? Quando pode ou deve ser feito? PESSOAL Quem faz? Por que é feito por aquela pessoa específica? Quem mais pode ou deve fazê-lo? MÉTODO Como é feito? Por que é feito daquele modo particular? De que outros modos pode ou deve ser feito? SIMPLIFICAR as operações Os gráficos de fluxos de processo e o mapofluxograma constituem excelente documentação e são ferramentas úteis para resolver problemas e determinar o modo de relacionamento entre as diversas etapas do processo. Uma análise mais aprofundada destas ferramentas possibilita descobrir inconsistências e determinar fontes potenciais de variação e de problemas. Por essa razão, são muito úteis no melhoramento de processos quando se examina um processo existente para esclarecer áreas problemáticas. 2.2. Planejamento de compras e a gerência Just in Time (JIT) Para que as organizações executem seus processos e operações visando atender ao cliente final são necessários os inputs de diversos fornecedores de materiais e serviços. Para atender essa demanda constante e essencial de materiais e serviços, as organizações possuem a função denominada compras, cujo objetivo fundamental é obter os materiais e serviços certos, na quantidade certa, qualidade certa, fonte certa, tempo certo e custo certo. Aula 2 | Sistema da Qualidade 49 O valor das compras representa em média mais de 40% da receita das organizações, considerando diferentes tipos de indústrias. Isso significa que um pequeno percentual economizado em compras pode gerar resultados significativamente positivos sobre o lucro líquido da empresa. Da mesma forma que influencia diretamente no lucro, a função de compras também é responsável por manter a continuidade da produção da organização, através da compra de materiais e serviços no tempo e na quantidade necessária. Adicionalmente, a qualidade do produto final também sofre impacto da função de compras, já que estes são produzidos a partir dos insumos e matérias primas comprados. O sistema de compras deve ser escrito em um “manual” que: 1. Atribua responsabilidades para a função de compras e também as responsabilidades no seu âmbito interno. 2. Defina a maneira pela qual os fornecedores são selecionados, para assegurar que sejam continuamente capazes de atender aos requisitos em termos de materiais e serviços. 3. Indique a documentação de compras – ordens escritas, especificações, etc. – exigidas em qualquer atividade moderna de compras. Em relação a seus fornecedores, a organização deve estipular metas em relação aos seguintes aspectos: Consistência – baixa variabilidade. Centralização – no valor nominal. Evolução e desenvolvimento do processo para reduzir continuamente a variabilidade. Correto desempenho nas entregas. Velocidade de resposta. Uma abordagem sistemática de gestão da qualidade para executar os itens acima. Um conceito importante quando se trata do suprimento de materiais e matéria-prima é o de just-in-time (JIT). O alto custo de se manter estoques de materiais e matéria-prima foi um dos fatores que impulsionaram o avanço desta abordagem nas empresas. O just-in-time exige que os fornecedores façam entregas frequentes e em pequenas quantidades, atendendo ao prazo estabelecido. Para isso, exige-se uma rede Aula 2 | Sistema da Qualidade 50 de fornecedores eficientes, produtores de bens e serviços confiáveis quanto ao atendimento dos requisitos e com um alto nível de confiança. Política Uma das primeiras coisas a ser comunicada a qualquer fornecedor é a política da qualidade da organização compradora referente a materiais e serviços recebidos. Essa política pode incluir diretrizes como: É política dessa companhia assegurar que a qualidade de todos os materiais e serviços comprados esteja de acordo com seus requisitos. Os fornecedores selecionados deverão ter incorporado em suas operações um sistema de gestão da qualidade. Esse sistema deve ser planejado, implementado e operado seguindo modelo da série ISO 9000. Serão selecionados fornecedores que tenham incorporado os métodos do controle estatístico de processos (CEP) em suas operações. Por ocasião do recebimento de materiais e serviços, nenhum trabalho de rotina de inspeção, verificação, medição e testes será realizado nesta companhia. Os fornecedores estão examinados; seus procedimentos operacionais, sistemas e métodos de CEP serão periodicamente revisados para assegurar uma abordagem de contínuos melhoramentos.
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