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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS 
 PUC-GOIÁS
TRABALHO DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
GOIÂNIA – GO
2014
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS – PUC/GO
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
Trabalho apresentado à disciplina Epistemologia e Pesquisa em Educação no Programa de Doutorado em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Goiás na linha de pesquisa de Educação, Sociedade e Cultura. Sob a orientação do Professor Dr. José Ternes.
GOIÂNIA – GO
2014
AS CONTRIBUIÇÕES DE GASTON BACHELARD PARA A FORMAÇÃO DO ESPIRITO CIENTIFICO MODERNO
	¹OLIVEIRA, Daniele Lopes.
RESUMO: O trabalho fundamenta-se no estudo da obra de Gaston Bachelard e suas contribuições na formação do espírito cientifico moderno. E na sua contraposição ao caráter positivista da ciência, como o único e real caminho para o conhecimento. 
Palavras-chave: ciências, epistemologia e pensamento. 
ABSTRACT: The work is based on the study of the work of Gaston Bachelard and his contributions to the formation of the modern scientific spirit. And in their opposition to the positivist character of science as the only real path to knowledge. 
. 
Keywords: science, epistemology and thought.
INTRODUÇÃO
No final do século XIX as ciências de forma geral foram influenciadas pelo positivismo, o que fortaleceu a forma de pensar a ciência à partir da razão. Grandes descobertas foram realizadas neste período, e são inegáveis as contribuições feitas pela nova racionalidade. No entanto houve um abalo grande causado pelas novas teorias cientificas que discordavam do caráter objetivo e incontestável da razão, percebendo que a crença na verdade absoluta da razão era um dogmatismo cientificista. Gaston Bachelard (1972) epistemologo francês,  filósofo e poeta  estudou sucessivamente as ciências e a filosofia. Seu pensamento está focado principalmente em questões referentes à filosofia da ciência. Suas primeiras teses foram publicadas em 1928 (Ensaios sobre o conhecimento aproximado e Estudo sobre a evolução de um problema de Física: a propagação térmica dos sólidos). 
______________________________________________________________
¹ Graduada em Direito pela PUC/GO. Mestre em Ecologia e Produção Sustentável pela PUC/GO. Cursa o Doutorado em Educação na PUC/GO.
AS CONTRIBUIÇÕES DE GASTON BACHELARD PARA A FORMAÇÃO DO ESPIRITO CIENTIFICO MODERNO
Bachelard (1975) elaborou uma concepção científica inteiramente nova, ao atrelar o progresso científico a retificações de erros. De acordo com ele, o saber contemporâneo é descontínuo, faz-se através de rupturas com a tradição e saltos de uma concepção para outra sem que haja ligação entre elas; está, por isso, sujeito a constantes mutações; seu modo de funcionamento vai se estabelecendo de acordo com seu desenrolar. Não se trata, assim, de um saber acumulado, e sim de um saber sempre novo. 
Para ele, o positivismo é uma forma ultrapassada de fazer ciência, considerando-a algo ideal, longe da prática, da concretude, da materialidade existente na ciência contemporânea, que está em constante evolução, aberta a qualquer tipo de experiência desde que os métodos utilizados sejam adequados. 
A obra bachelardiana pode ser dividida de forma didática, em duas: a obra diurna e a obra noturna, como o próprio autor expressa no seguinte trecho da obra Poética do Devaneio (BACHELARD, 1988, p. 52): 
Demasiadamente tarde, conheci a boa consciência, no trabalho alternado das imagens e dos conceitos, duas boas consciências, que seria a do pleno dia e a que aceita o lado noturno da alma.
De acordo dom Japiassú (1976) levando-se em conta tal perspectiva, os analistas de Bachelard passaram a dividir sua obra relativa à epistemologia e história das ciências como diurna e a sua outra faceta, que o remete ao estudo no âmbito da imaginação poética, dos devaneios, dos sonhos, deu-se o adjetivo de obra noturna. Dentre as obras diurnas destacam-se: O novo espírito científico (1934); A formação do espírito científico (1938); A filosofia do não (1940); O racionalismo aplicado (1949) e O Materialismo Racional (1952). 
Dentre as obras noturnas destacam-se: A psicanálise do fogo (1938); A água e os Sonhos (1942); O ar e os sonhos (1943); A terra e os devaneios da vontade (1948); A poética do espaço (1957). 
Pretende-se discutir a obra diurna de Gaston Bachelard (1988), analisando o potencial metodológico implícito na sua epistemologia e filosofia das ciências, resumida na noção de "construção do objeto científico" e/ou "construção da alma científica (espírito científico)". 
A obra bachelardiana encontra-se no contexto da revolução científica promovida no início do século XX (1905) pela Teoria da Relatividade, formulada por Albert Einstein. Todo seu trabalho acadêmico objetivou o estudo do significado epistemológico desta ciência então nascente, procurando dar a esta ciência uma filosofia compatível com a sua novidade. E é partindo deste objetivo que Bachelard (1988) formula suas principais proposições para a filosofia das ciências: a historicidade da epistemologia e a relatividade do objeto. Em resumo, a nova ciência relativista rompe com as ciências anteriores em termos epistemológicos e a sua metodologia já não pode ser empirista, pois seu objeto encontra-se em relação, e não é mais absoluto. Nas palavras de Bachelard (1972): 
Várias vezes, nos diferentes trabalhos consagrados ao espírito científico, nós tentamos chamar a atenção dos filósofos para o caráter decididamente específico do pensamento e do trabalho da ciência moderna. Pareceu-nos cada vez mais evidente, no decorrer dos nossos estudos, que o espírito científico contemporâneo não podia ser colocado em continuidade com o simples bom senso. O "novo espírito científico", portanto, encontra-se em descontinuidade, em ruptura, com o senso comum, o que significa uma distinção, nesta nova ciência, entre o universo em que se localizam as opiniões, os preconceitos, enfim, o senso comum e o universo das ciências, algo imperceptível nas ciências anteriores, baseadas em boa medida nos limites do empirismo, em que a ciência representava uma continuidade, em termos epistemológicos, com o senso comum. 
A "ruptura epistemológica" entre a ciência contemporânea e o senso comum é uma das marcas da teoria bachelardiana. Do mesmo modo, segundo Bachelard (1988), dá-se no âmbito da história das ciências. Para ele o conhecimento ao longo da história não pode ser avaliado em termos de acúmulos, mas de rupturas, de retificações, num processo dialético em que o conhecimento científico é construído através da constante análise dos erros anteriores. 
Nas suas palavras (Bachelard, 1996):
O espírito científico é essencialmente uma retificação do saber, um alargamento dos quadros do conhecimento. Julga o seu passado condenando-o. A sua estrutura é a consciência dos seus erros históricos. Cientificamente, pensa-se o verdadeiro como retificação histórica de um longo erro, pensa-se a experiência como retificação da ilusão comum e primeira. 
Um dos maiores embates de Bachelard (1988) foi justamente com aqueles que defendiam o continuísmo, ou seja, que defendiam a idéia de que entre a ciência e o senso comum não existe mais que uma diferença de profundidade, portanto, continuidade epistemológica. 
Um defensor desta ideia era o filósofo francês Émile Meyerson (1859-1933), para quem a física relativista "é conforme aos cânones eternos do intelecto humano, que constitui não somente a ciência, mas, antes dela, o mundo do senso comum” citado em sua obra por Japiassú (1976).
 Eis resumido neste trecho as proposições contra as quais lutou Bachelard (1977): “a perenidade das ideias científicas e a continuidade destas com o senso comum”. 
Para Bachelard (1976), a filosofia das ciências deve progredir conforme os avanços das ciências, realizando constantementerevisões e ajustes em suas concepções. "Todo conhecimento é polêmico. Antes de constituir-se, deve destruir as construções passadas e abrir lugar a novas construções. É este movimento dialético que constitui a tarefa da nova epistemologia".
A superação do empirismo, para Bachelard (1977), se dá através do racionalismo. A postura epistemológica do novo cientista não se satisfaz com aproximações empiristas sobre os objetos, ao contrário, proclama-se no "novo espírito científico" o primado da realização sobre a realidade. As experiências já não são feitas no vazio teórico, mas são, ao invés disso, a realização teórica por excelência. 
O cientista aproxima-se do objeto, na nova ciência, não mais por métodos baseados nos sentidos, na experiência comum, mas aproxima-se através da teoria. Isso significa que o método científico já não é direto, imediato, mas indireto, mediado pela razão. O vetor epistemológico, segundo Bachelard (1975), segue o percurso do "racional para o real", o que é contrário à epistemologia até então predominante na história das ciências. Uma das distinções mais importantes, pois, entre as ciências anteriores ao século XX é a superação do empirismo pelo racionalismo. 
Segundo Bachelard (1972):
Entre o conhecimento comum e o conhecimento científico a ruptura nos parece tão nítida que estes dois tipos de conhecimento não poderiam ter a mesma filosofia. O empirismo é a filosofia que convém ao conhecimento comum. O empirismo encontra aí sua raiz, suas provas, seu desenvolvimento. Ao contrário, o conhecimento científico é solidário com o racionalismo e, quer se queira ou não, o racionalismo está ligado à ciência, o racionalismo reclama fins científicos. Pela atividade científica, o racionalismo conhece uma atividade dialética que prescreve uma extensão constante dos métodos. 
O racionalismo bachelardiano tem um sentido muito próprio que é a preocupação constante com a aplicação. O "racionalismo aplicado", que é uma marca fundamental do "novo espírito científico", atua na dialética entre a experiência e a teoria, o que significa a dupla determinação do espírito sobre o objeto e deste sobre a experiência do cientista. "Impõe-se hoje situar-se no centro em que o espírito cognoscente é determinado pelo objeto preciso do seu conhecimento e onde, em contrapartida, ele determina com mais rigor sua experiência" (BACHELARD, 1972). 
Um outro ponto importante para a compreensão do que chamamos "metodologia bachelardiana", é a sua noção de "obstáculos epistemológicos", tratado, sobretudo, na obra "A formação do espírito científico", de 1938. Bachelard (1975) propõe uma psicanálise do conhecimento, em que o seu progresso é analisado através de suas condições internas, psicológicas. Na sua avaliação histórica da ciência, o filósofo francês se vale do que chama de "via psicológica normal do pensamento científico", ou seja, uma análise que perfaz o caminho "da imagem para a forma geométrica e, depois, da forma geométrica para a forma abstrata".
A própria concepção de espírito científico nos remete ao universo psicanalítico. Quanto aos "obstáculos epistemológicos", afirma Bachelard (1988), é através deles que se analisam as condições psicológicas do progresso científico. 
Nas suas palavras:
É aí que mostraremos causas de estagnação e até de regressão, detectaremos causas da inércia às quais daremos o nome de obstáculos epistemológicos (...) o ato de conhecer dá-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos, superando o que, no próprio espírito, é obstáculo à espiritualização. A noção de obstáculo epistemológico é de fundamental importância para o desenvolvimento do conhecimento no âmbito das pesquisas. É na superação destes obstáculos que reside o sucesso de uma pesquisa científica. Porém, condição essencial para a superação dos obstáculos é a consciência por parte dos cientistas de que eles existem e que, se não neutralizados, podem comprometer o processo da pesquisa, desde seus fundamentos até os seus resultados (BACHELARD, 1977).
Dentre tantos exemplos citados por Bachelard (1975) na obra “A formação do Espírito Científico ele discorre sobre: o obstáculo da realidade e o obstáculo do senso comum, da opinião”. 
Para analisar estes obstáculos, pode-se utilizar o sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), que construiu na sua obra "A profissão de sociólogo" (1977), uma metodologia para a Sociologia baseada nos princípios da "construção do objeto científico", de Bachelard (1972). 
O primeiro obstáculo, a realidade, está inserido na crítica já citada anteriormente a respeito do empirismo. O pesquisador, ao olhar seu objeto de estudo, especialmente quando este faz parte do universo social, como é o caso da educação, pode incorrer no perigo de se deixar levar pelo que lhe é visível, dando a este um estatuto de verdade que ele não tem. Para Bachelard (1975), "diante do mistério do real, a alma não pode, por decreto, tornar-se ingênua. É impossível anular, de um só golpe, todos os conhecimentos habituais. Diante do real, aquilo que cremos saber com clareza ofusca o que deveríamos saber".
 A proposta de Bourdieu (2003) é que, para tornar-se objeto científico, a realidade a ser estudada deve passar pelo crivo de uma teoria rigorosamente construída. A realidade nada responde por si mesma. Somente o faz através de questões levantadas teoricamente. Estas observações ganham razão de ser quando nos deparamos muitas vezes com pesquisas da área educacional que se resumem ao relato narrativo de uma determinada situação, geralmente denominado "estudo de caso", sem que este tenha qualquer relação com uma questão geral, teórica. 
Estas pesquisas, geralmente, constituem-se de um apanhado teórico somado mecanicamente à descrição de uma situação e, por fim, uma consideração final que tenta sintetizar o estudo. Tal método, segundo pensamos, é falho e não consegue revelar o que se pode chamar das "múltiplas relações" inerentes à realidade, contentando-se em descrever tal situação que, por isso, perde muito do seu valor acadêmico, nada acrescentando ao conhecimento acumulado. 
O segundo obstáculo epistemológico, o senso comum, semelhante ao primeiro, relaciona-se especificamente com a dificuldade com a qual se depara o cientista social em separar o seu conhecimento comum, suas opiniões, seus preconceitos, as avaliações relacionadas à sua posição social e econômica, etc., do conhecimento teórico, científico, que deve estar comprometido com a busca da verdade, baseada em leis gerais, em conceitos e não em preconceitos. 
Muitas pesquisas travestem-se de científicas para legitimarem determinados preconceitos, dando a eles credibilidade. Não que se pretenda preconizar a neutralidade científica, como queria o sociólogo alemão Max Weber (1982). A utilização consciente de um método de pesquisa, como a "construção do objeto científico", leva o cientista a chegar mais próximo possível da verdade do seu objeto, sem com isso entender o esgotamento do seu estudo, dada a característica dialéticada sociedade e do conhecimento. 
A realidade social, e a educacional mais especificamente, é objeto de avaliação por todos aqueles que vivem na sociedade, o que torna a tarefa do cientista social ainda mais difícil, pois deve construir seu conhecimento apesar e contra o senso comum; apesar e contra a realidade. 
O objeto desta nova ciência não é dado pela natureza, é algo constituído pelo sujeito. Se, no positivismo, o sujeito era um mero receptáculo das verdades científicas, o sujeito da ciência contemporânea é quem constrói o objeto científico pela junção que faz entre razão e técnica. Tanto o objeto científico é construído pelo sujeito como este também é construído pelo objeto: o sujeito se faz fazendo; se constrói construindo. Bachelard (1996) não crê em princípios absolutos da razão; para ele, a razão é móvel e está sempre aberta à aquisição de novos conhecimentos. Prova disso é o surgimento de novas teorias científicas, como a Física quântica, as Geometrias não-euclidianas ea Teoria da Relatividade, que são retificações feitas a partir das teorias anteriores e responsáveis por verdadeiras revoluções no campo das ciências. 
Apesar dessa nova concepção bachelardiana, a Filosofia das Ciências apresenta alguns problemas, pois cientistas e filósofos têm formas distintas de se relacionar com o conhecimento. Os cientistas consideram a Filosofia das Ciências um conjunto de fatos científicos; os filósofos, por sua vez, buscam a unidade do pensamento por desvalorizar a pluralidade dos fatos e a multiplicidade dos saberes. Ou seja, enquanto o primeiro grupo entende a ciência como algo meramente factual, para o segundo o objetivo dela é alcançar o pensamento puro.
 Tais concepções, na visão de Bachelard (1996), não dão conta do real significado da Filosofia das Ciências da contemporaneidade. Ao invés dessa separação, deveria ocorrer uma síntese entre esses opostos, em que o empirismo da ciência e o racionalismo da filosofia andassem lado a lado e o a priori e o a posteriori se alternassem de acordo com a necessidade, sem que fosse preciso optar por apenas um deles. Se somente um aspecto do conhecimento for levado em consideração, ocorre estagnação no processo científico, na medida em que a Filosofia das Ciências fica servindo para o estudo de fatos ou para o estudo do geral, tornando-se uma mera historiografia da ciência ou então uma metafísifica distante da realidade. É devido à alternância desses dois modos de apreensão que as teorias transformam-se. Tal constante transformação  talvez dificulte uma definição precisa de Filosofia das Ciências. 
Apesar dessa dificuldade, Bachelard (1996) ressalta determinadas características que esse saber contemporâneo deve apresentar: ser uma construção feita a partir da junção entre razão e técnica; não pretender ser, como a ciência de outrora, uma representação da realidade; criar uma linguagem própria da ciência a fim de que esta se afaste da linguagem natural e que se possa assim alcançar um grau cada vez maior de objetividade; apresentar um caráter social feito por uma racionalidade coletiva, pois, de acordo com o epistemólogo, é da diversidade dos espíritos científicos que se chega à verdade. A nova epistemologia deve captar o dinamismo presente no conhecimento científico, coisa de que os sistemas filosóficos fechados não conseguem dar conta. A despeito disso, pode-se utilizar elementos filosóficos retirados dos sistemas a fim de tornar mais claros determinados aspectos da atividade científica. Outra tarefa da epistemologia é não deixar que a atividade científica se contamine por valores particulares denominados “obstáculos epistemológicos” por Bachelard (1996) que venham a surgir, pois estes representam um atraso ao desenvolvimento da ciência. 
De acordo com Bachelard (1996) a atividade científica pode e deve partir de várias correntes filosóficas, e não ficar presa a uma somente. Ele acredita em uma Filosofia das Ciências polifilosófica, cujo conhecimento é analisado a partir de várias filosofias, uma vez que elas fizeram parte de seu processo evolutivo. Uma só filosofia é incapaz de explicar tudo.
 Se antes cada nova teoria representava um andar a mais no edifício científico, após Bachelard (1996) cada nova teoria destrói esse tal edifício e uma outra construção inteiramente nova é erguida. Além disso, a história das ciências instaurada por Bachelard é recorrente, é uma história cujos fatos passados são analisados a partir da ciência atual, em que o presente serve de ponto de partida para desvendar as dificuldades do passado e entender como se desenrolou o processo da ciência até os dias de hoje. Cabe à História das Ciências não descrever pura e simplesmente os fatos e sim posicionar-se diante deles, apontando os fundamentos e a validade das descobertas, separando os erros dos acertos, o estéril do fértil. Para tanto, há que se ter postura normativa diante da História das Ciências e não ser um mero espectador dos fatos. Tal julgamento deve estar ligado a valores verdadeiros, valores de racionalidade que se opõem aos falsos valores. Daí Bachelard fazer diferenciação entre história perecida que seria aquela da pré-ciência, que se baseia em teorias sem valor científico e história sancionada aquela baseada em dados científicos. 
Para que se possa descrever a atividade científica do passado através da lente do conhecimento atual, é preciso que a História das Ciências esteja baseada na epistemologia, uma vez que ela indicará quais são os valores verdadeiramente científicos. Por outro lado, a epistemologia deve também lançar mão da História das Ciências para que, através dos dados históricos obtidos, possa distinguir aquilo que serviu como fundamento para a ciência atual daquilo que não serviu. Dessa forma, epistemologia e História das Ciências devem se utilizar mutuamente.
Foucault (1995) apresentou o deslocamento da verdade para o exterior da representação. Sua existência é precária, porque vem sustentada, não mais em bases racionais, absolutamente seguras, mas em obscuras forças. O pensamento adquire uma densidade própria, uma materialidade. “Tornar geométrico a representação, representar e ordenar em serie as ocorrências decisivas de uma experiência, isto é o espírito cientifico”. “Chega-se à quantidade figurada, a meio caminho entre o concreto e o abstrato, não é mais simples descrição geométrica”. “O matematismo não é mais apenas descritivo, mas formador”. O saber moderno se apresenta como essencial novidade. O que significa novas exigências, “pensar o fenômeno”, “construir o fenômeno”. Para a ciência moderna nada é gratuito, tudo é construído”, o que ele chama de real cientifico. “É o que deveria ter pensado”. 
Bachelard (1975) explicita um produto da razão, resultado de um exercício, de uma pratica. Uma razão, produtora comprometida com o tempo a partir de sua história. Somente a historia cientifica coloca essa exigência ao historiador. Fazer o inventario, fazer o balanço das verdades. “A ciência é o lugar especifico, próprio da verdade”, se distanciando das outras formas de saber que não tem o compromisso com o real, com a verdade do discurso. O idealismo cientifico é um racionalismo técnico, artefato da razão. 
Para Bachelard (1977) a ciência moderna é racionalista, mas não autoriza a pensar de qualquer jeito e a qualquer custo. Ela impõe a pensar dentro de determinadas regras. Se instaurando à medida que inventa um contexto determinado de pensamento. Os fatos por sim mesmo não geram a ciência, mas, um certo modo de fazer e de pensar, de construir estritamente cientifico, chamado de racionalismo regional. A epistemologia somente considera legitima as regiões justificadas pelo pensamento. Isso não significa dogmatismo, pois as fronteiras epistemológicas são sempre provisórias, circunstancial. Um estado definitivo, em ciência, significaria a sua liquidação. Assim, mesmo o erro assume novas formas, ele faz parte da história da produção da verdade. Assume uma positividade. A ciência se mostra sempre em progresso, não há possibilidade de decadência ou retrocesso. 
Canguilhem (1975) afirma que o historiador das ciências deve situar-se “na perspectiva das ideias”. Não como um colecionador de dados, mas fruto de esforço criativo e da construção, a ciência não pode condescender com um passado superado. O epistemólogo tem por objeto a ciência atual, a ciência em ato.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O autor afirma que a verdade cientifica é construída a partir das exigências internas definidas pela cidade cientifica. 
A epistemologia não valoriza a linearidade, mas as rupturas, as diferenças, os erros, as novidades. O novo, o moderno é determinado pelo aperfeiçoamento teórico. 
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
BACHELARD, G. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Tradução Esteia dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contaponto, 1996. 316 p. 
BACHELARD, G. O novo espírito cientifico. São Paulo: Abril, 1975.
BACHELARD, G. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
BACHELARD, G.. Oracionalismo aplicado. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.
BACHELARD, Gaston. Conhecimento comum e conhecimento científico. In: Tempo Brasileiro São Paulo, n. 28, p. 47-56, jan-mar 1972.
BOURDIEU, Pierre. Cultural Reproduction and Social Reproduction. In: J. Karabel, & A. H. Halsey (Eds.), Power and Ideology in Education. New York: Oxford University Press. 1977 p. 487-511.
BOURDIEU, Pierre. Questões de Sociologia, Lisboa: Fim de Século, 2003.
FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, Hubert L. e RABINOW, Paul. Michel Foucault, uma trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995, p. 231-249. 
CANGUILHEM, G. L’objet de I’ histoire dês sciences. TERNES, J. (Trad.) In: Études d’histoire et de philosophie dês sciences. Paris: Vrin, 1975. 
JAPIASSÚ, Hilton. Para ler Bachelard. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976. 
WEBER, Max. A Ética Protestante e o "Espírito" Do Capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.

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