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CARLA MARIA MONTEIRO DOS SANTOS JOYCE CAROLINE SILVA JÚLIA STÉFANY CAIXETA DA SILVA LORRANE APARECIDA SILVA ANDRADE MÁRCIA FERNANDA DE SOUSA REVISÃO DE LITERATURA SOBRE HIDROFOBIA PATOS DE MINAS 2018 CARLA MARIA MONTEIRO DOS SANTOS JOYCE CAROLINE SILVA JÚLIA STÉFANY CAIXETA DA SILVA LORRANE APARECIDA SILVA ANDRADE MÁRCIA FERNANDA DE SOUSA REVISÃO DE LITERATURA SOBRE HIDROFOBIA Trabalho apresentado como requisito parcial de avaliação na disciplina de Projeto Integrador do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário de Patos de Minas, sob orientação da professora Me. Cristiane Quitéria Caldeira. PATOS DE MINAS 2018 LISTA DE FIGURAS Figura 1- Microfotografia do Lyssavirus em tecido animal ..................................................... 10 LISTA DE QUADROS Quadro 1- Raiva em mamíferos silvestres no Brasil entre 2012 e 2015. ................................. 13 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 5 2 OBJETIVOS .................................................................................................................. 7 3 DESENVOLVIMENTO ................................................................................................ 8 3.1 HISTÓRICO DA DOENÇA ........................................................................................... 8 3.2 O VÍRUS DA RAIVA ..................................................................................................... 9 3.3 PESQUISAS DE LOUIS PASTEUR ............................................................................ 10 3.4 A RAIVA NO BRASIL ................................................................................................. 11 3.5 RAIVA EM BOVINOS ................................................................................................. 12 3.6 RAIVA EM CÃES ........................................................................................................ 12 3.7 RAIVA EM ANIMAIS SILVESTRES ......................................................................... 13 3.8 DIAGNÓSTICO ............................................................................................................ 14 3.9 PROFILAXIA ............................................................................................................... 14 3.10 PREVENÇÃO ............................................................................................................... 15 3.10.1 Vacina ........................................................................................................................... 15 3.11 A CURA ........................................................................................................................ 16 3.11.1 A cura no Brasil ............................................................................................................ 16 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 16 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 17 5 1 INTRODUÇÃO A raiva, conhecida também como hidrofobia, é uma doença contagiosa e infecciosa, causada por um vírus altamente fatal, que existe há mais de quatro mil anos. Ela foi uma da primeiras zoonoses (doença animal que pode ser transmitida aos seres humanos) que se tem conhecimento. Todos os mamíferos possuem células que são capazes de replicar o vírus, sendo então, os únicos capazes de transmiti-los, ou seja, estes são os vetores da raiva. “Todos os animais de sangue quente são suscetíveis ao vírus da raiva (VERONESI et al; 1996).” O vírus rábico é um RNA-vírus pertencente à ordem Mononegavirales, da família Rhabdoviridae, e do gênero Lyssavirus (BATISTA et al; 2007). O vírus da raiva tem sua morfologia em forma de uma bala de revólver e seu envoltório é composto por uma dupla membrana fosfolipídica. A raiva é muito conhecida pelos seus sintomas e pela sua gravidade, no entanto, apenas em 1804 um pesquisador francês, Louis Pasteur, realizou pesquisas a respeito da raiva e obteve descobertas importantes sobre o tema. A raiva é classificada em três tipos epidemiológicos, em virtude da sua forma de transmissão, sendo a primeira a raiva urbana, a segunda silvestre e a terceira, a raiva rural. A maior forma de infecção ao ser humano é a raiva urbana, que é transmitida pelos animais domésticos, cães e gatos, que acabam mantendo o vírus entre a população (MORI et al; 2015). É possível perceber que há também um elevado número de infecções pela raiva silvestre, transmitida principalmente por macacos e morcegos. Segundo dados da Secretaria do Estado da Saúde (2012), cerca de 13% dos totais de casos registrados de 1980 a 2012, foram por animais silvestres. “Considerando que o controle da raiva entre os animais urbanos- cães e gatos- vem sendo cada vez mais eficiente, e as medidas na área rural com os animais de interesse econômico também vêm se aprimorando, os animais silvestres e os sinantrópicos assumem um papel de extrema importância como reservatórios naturais do vírus rábico (ELKHOURY et al; 2001).” A raiva é uma doença fatal em quase todos os casos, ainda mais quando está em estado avançado. O diagnóstico dessa zoonose geralmente é realizado clinicamente, através dos sintomas e do tempo de evolução. Para a melhor precisão, são realizados exames laboratoriais. Visto que ainda não há tratamento eficaz para a raiva, a melhor forma de controle é através da vacinação anual, acompanhada de uma avaliação do médico veterinário, já que a hidrofobia pode matar em dez dias. “O controle de uma doença corresponde ao conjunto de medidas que 6 se adota, visando diminuir ou acabar com a ocorrência da mesma em uma região (MORI et.al; 2015). Ademais, é de grande importância a conscientização da população com relação à seriedade desta doença, visando o comprometimento com a vacinação anual dos animais e a busca imediata de um profissional da área, caso os mesmos apresentem os primeiros sintomas da raiva. É necessário também que se houver contato humano com a saliva de algum animal e haja a presença de sintomas da doença, deve-se procurar um médico imediatamente. Em vista disso, é de extrema importância o estudo aprofundado deste tema. 7 2 OBJETIVOS O objetivo desta revisão de literatura é estudar mais profundamente o assunto tratado, ou seja, a zoonose Raiva (Hidrofobia), seus meios de transmissão, sintomas, formas de prevenção, curiosidades, mitos e verdades. Pesquisar e analisar os índices de ocorrência da doença no Brasil, o número de óbitos no decorrer dos anos, os tipos e o histórico da doença. Além disso, estudar as espécies animais que mais transmitem a doença e informações sobre o vírus rábico. 8 3 DESENVOLVIMENTO 3.1 HISTÓRICO DA DOENÇA Micro-organismos como, bactérias, fungos, protozoários e entres outros, podem acarretar em patologias nos animais, que, consequentemente podem ser transmitidas de forma natural aos seres humanos, estas assim, são chamadas de zoonoses. Dentre muitas destas, a hidrofobia (mais conhecida popularmente como raiva). A raiva é uma das doenças mais antigas do mundo. Os primeiros relatos foram constatados no século XVIII a.C., naMesopotâmia, citada no Código de Eshnunna, como uma doença grave (BAER, 1991; OPAS, 2004), que fazia com que o dono do cachorro infectado pagasse uma indenização se eventualmente alguém viesse a óbito devido à transmissão da doença decorrente da mordida. Com o nome originado do latim, conhecida pelos gregos por Lyssa ou Lytta e sendo uma das primeiras doenças a ser registrada, na antiguidade acreditava-se que sua causa era de origem sobrenatural ao serem possuídos por entidades desconhecidas os cães e os lobos (KOTAIT et al; 2009). Na Grécia Antiga e no Egito os mitos sobre as causas desta doença, também eram alimentados sobre a falta de conhecimento da mesma. “Na Grécia Antiga era comum fazer a cauterização de ferimentos causados por animais raivosos, que se manteve até a descoberta da vacina (BABBONI e MODOLO, 2011)”. Em meio ao medo causado pela doença, em 1530, o médico italiano Girolamo Fracastoro, relatou que a raiva era transmitida através do contato entre o sangue do indivíduo sadio com a saliva do animal contaminado (FERREIRA, 2008). A partir daí, começaram então os estudos sobre a doença, onde Victor Galtier, em 1880, na primeira escola de Medicina Veterinária do mundo em Lyon, descreveu como a doença se evoluía nos cães. Após uma mordida virulenta e um período de incubação mais ou menos longo (15 a 60 dias), surgem, visíveis nas alterações do comportamento do cão, os primeiros sintomas da doença. Ele se torna triste, melancólico ou muito alegre e carinhoso. Ainda obedece e não tenta morder, mas já é perigoso, uma vez que a saliva contém o mal. (...) Depois sua agitação aumenta; se a doença assumir a forma furiosa, haverá acessos de alucinação; o animal fica parado, late, abocanha moscas inexistentes, rasga almofadas, tapetes e cortinas, arranha o chão e come terra (VALLERY-RADOT, 2008). 9 O som do latido torna-se rouco e abafado, a nota final é bastante aguda e a boca não se fecha totalmente. Tais modificações no latido constituem um sinal bem grave. Em certos casos, o cão tem tendência a fugir, abandonando a casa do dono. (...) É nessa época que o animal se torna mais perigoso. Depois surgem fenômenos de paralisia: as pernas posteriores ficam enfraquecidas e o andar incerto. O cão para na beira do caminho e ainda é perigoso nos momentos de alucinação; posteriormente a fraqueza se acentua, a respiração torna-se irregular, ele se deita e a morte ocorre quatro ou seis dias contados do início dos sintomas (VALLERY- RADOT, 2008). Uma causa da raiva descrita na antiguidade por Plínio e Ovídio era que a enfermidade era transmitida por um verme que se alojava na língua dos cães. Por isso, naquela época se cortava o freio da língua dos cães e retirava-se o pedaço onde se pensava estar o verme, esta teoria permaneceu até Pasteur. Os egípcios atribuíram a raiva à penetração de um demônio no corpo e se invocava a San Taraba para expulsá- lo. Na China (472-221 a.C.) era usado tratamento semelhante à cauterização. A Sucrutasamitá, no século I, é o primeiro texto médico sobre a raiva na Índia (THEORODIDES, 1986). Tais fatos foram importantes para se desenvolverem pesquisas mais aprofundadas a respeito da doença, principalmente, com as falhas na tentativa de curar os animais portadores do vírus. 3.2 O VÍRUS DA RAIVA A raiva é uma doença infecciosa aguda e fatal causada por um vírus. “O vírus da raiva, um Lyssavirus, que pertence à família Rhabdoviridae, possui um genoma de cadeia linear de RNA negativo. O seu virião possui uma nucleocápside helicoidal e envelope lipídico revestido exteriormente por espigões (DUARTE e DRAGO, 2005). Os viriões da família Rhabdoviridae têm a forma de bala e aproximadamente 170nm de comprimento e 70nm de largura (MURPHY et al; 1999). O envelope lipídico que os reveste apresenta uma densa camada de pequenos espigões (6 a 7nm de comprimento) compostos por glicoproteínas (HIRSH et al; 1999). Estes espigões estão, por sua vez, comprimidos numa só proteína viral de ligação: G (DIMMOCK et al; 2001). A membrana é revestida interiormente por proteína e no centro possui o RNA (material genético) do vírus. A glicoproteína G (525 aminoácidos, 65-70 KDa) é responsável pela absorção do vírus à célula hospedeira e pela fusão do envelope viral à membrana citoplasmática (BATISTA 10 et al; 2007). Essa glicoproteína promove a interação do vírus com a membrana da célula do hospedeiro. A maneira que o vírus da raiva infecta uma célula é similar ao de muitos outros vírus. E tal microorganismo ataca primeiramente o sistema nervoso central. “Quando os neurônios são infectados na medula espinhal, ocorre uma posterior disseminação neurônio a neurônio dentro dos axônios no SNC por meio do transporte axonal rápido em conexões neuroanatômicas (JACKSON, 2010).” A infecção do Sistema Nervoso leva a mudanças de comportamento no infectado. Segue abaixo uma microfotografia para mostrar a estrutura do vírus: Figura 1- Microfotografia do Lyssavirus em tecido animal Fonte: Revista Patologia Veterinária 3.3 PESQUISAS DE LOUIS PASTEUR Vários cientistas pesquisaram sobre a raiva, mas, o que mais obteve destaque em suas pesquisas foi Louis Pasteur. “Ao longo do século XIX, Louis Pasteur fez ao lado de Robert Koch a maior revolução do pensamento médico de todos os tempos. Criaram uma nova ciência- a Microbiologia, e mudaram completamente os paradigmas científicos conhecidos (BABBONI e MODOLO, 2011)”. Em razão dos estudos de Pasteur, ele percebeu que as doenças eram causadas por seres vivos microscópicos, e que doenças diferentes eram causadas por microrganismos diferentes. Depois de várias pesquisas a respeito da raiva, Pasteur infectou coelhos com o vírus, imunizou alguns e outros não. Os coelhos que foram vacinados não apresentaram a doença. Essas experiências foram realizadas também em cães. Em 1885, pela primeira vez, Louis 11 Pasteur conseguiu tratar com êxito um menino (Joseph Meister) que foi agredido por um cão raivoso (BABBONI e MODOLO, 2011). Pasteur foi um ícone muito importante para descobertas acerca da hidrofobia. “Esse foi um grande passo na ciência, conseguir tratar uma enfermidade letal e altamente frequente nessa época, como a raiva (PASTEUR, 1933)”. Louis Pasteur foi o primeiro a desenvolver vacinas contra a hidrofobia. Na década de 1950, no Chile, foi desenvolvida a vacina contra a raiva canina, utilizada por órgãos públicos brasileiros, é a vacina modificada do tipo Fuenzalida & Palácios, e aperfeiçoada nos anos seguintes, tornando-se mais segura e mais potente. A vacina é constituída de vírus inativado, 2% de tecido nervoso (INSTITUTO PASTEUR, 1999). 3.4 A RAIVA NO BRASIL Países da América Latina, como Peru, Equador, México e Brasil, ainda não conseguiram controlar a raiva urbana, na qual o cão representa a principal fonte de infecção. Com população de cerca de 540 milhões de pessoas, significa que durante um ano, 0,19% dos habitantes da América Latina foram agredidos por um animal e buscaram atendimento para prevenir a raiva (BOBBONI e MODOLO, 2011). No entanto, com a implantação do Programa Oficial Nacional para Controle da Raiva na década de 70, o número de casos de raiva humana no Brasil diminuiu muito, devido à vacinação maciça dos cães e gatos urbanos. Porém, no final da década de 80, houve um contra- ataque da raiva devido a dois fatores: ressurgimento da raiva canina na região Nordeste e Centro-Oeste (devido a não vacinação dos animais domiciliares), e aumento dos casos transmitidos por animais silvestres (MORI et al, 2015). Nos últimos anos do século 20, foram tratados entre 350.000 a 400.000 pacientes/ano, o que correspondea valores elevados quando comparados a outros países. Ao examinar os casos notificados no Brasil no decênio 1997 – 2006 observa-se que houve decréscimo significativo e continuado de casos de raiva em caninos e felinos. Até o ano de 2003, os cães eram os principais transmissores da raiva humana no país. A partir daquele ano, os casos em humanos causados por cães foram suplantados pelas infecções associadas a morcegos hematófagos (Secretaria do Estado de São Paulo, 2010). O objetivo fundamental dos programas de saúde pública é erradicar a doença, principalmente nos países em desenvolvimento, nos quais a OMS (Organização Mundial da Saúde) registra cerca de mil casos por ano. Nos países onde há medidas legais de controle rigorosas, a raiva foi abolida desde 1826, como nos países nórdicos e norte-americanos. 12 3.5 RAIVA EM BOVINOS A primeira hipótese da participação dos morcegos hematófagos (Desmodus rotundus) como transmissores da raiva foi aventada no Brasil, pela primeira vez em 1911, quando fora estudado um surto de raiva em bovinos e equinos no Vale do Itajaí, Santa Catarina. Esta hipótese foi confirmada em 1925 (HAUPT, 1925). No Brasil é notório o índice elevado de casos de raiva em bovinos, o principal transmissor da raiva dos herbívoros é o morcego hematófago da espécie Desmodus rotundus. “O vírus encontra-se na saliva do animal e obviamente é necessário que a saliva tenha contato com a ferida. Após a transmissão, o vírus desloca-se para o sistema nervoso e o curso da doença leva em média 10 dias. O período de incubação da enfermidade varia de 3 a15 semanas (SILVA et al; 2001).” Nos bovinos a forma clínica mais comum é a raiva paralítica, entretanto podem ocorrer casos de raiva furiosa. O animal afetado apresenta um hipersensibilidade a todos os fatores externos ocorre uma nítida mudança de hábito. Os sintomas evoluem para perda de consciência, afastamento do resto do rebanho, mugido rouco, aumento do volume e presença de espuma na saliva, midríase, fezes secas e escuras, andar cambaleante, ranger de dentes, tremores musculares, paralisia dos membros posteriores e evolução para os membros anteriores. A morte ocorre 4 a 8 dias após o início dos sintomas. Nunca se deve aproveitar as carnes de animais com suspeita de raiva, pois são encontrados vestígios do vírus na em alguns órgãos (LOPES, 2009). A principal medida de profilaxia da raiva é a vacinação dos animais, especialmente em áreas endêmicas. Deve ser feita em animais acima de 3 anos de idade e revacinados anualmente. 3.6 RAIVA EM CÃES A raiva nos cães é causada por um vírus filtrável e geralmente é transmitida por algum cão que já possui a doença, o vírus pode ser encontrada nas lágrimas, úbere, testículos , rins, fígado, pulmão e em grande quantidade no encéfalo, saliva e glândulas salivares dos animais domésticos ( LOBÃO, 2008). O vírus atinge o sistema nervoso central e daí por diante se espalha pelo resto do corpo. O tempo decorrido na mordida até o aparecimento dos primeiros sintomas é denominado período de incubação, que na raiva do cão varia de 8 dias até um ano, mas comumente é de 15 a 60 dias. 13 A doença se manifesta de duas maneiras: furiosa e paralítica, também chamada de muda. A primeira, o animal muda de hábitos, fica inquieto, triste, troca frequentemente de lugar, o apetite muitas vezes é conversado, mas o animal lambe os móveis, come terra e às seus próprios excrementos (LOBÃO, 2008). Nessa forma é ainda comum a mudança do timbre da voz, o animal parece ter um osso na garganta. O cão pode fugir de casa e sair pelas ruas mordendo as pessoas e outros animais. Na fase final sobrevém a paralisia no maxilar inferior (queixo) com escoamento da saliva em filamento (baba) e paralisia dos membros posteriores (cadeiras). Na forma muda ou paralítica, o cão pode apresentar somente tristeza, falta de apetite e, finalmente a paralisa e morte, deve-se ressaltar que o cão raivoso pode atender seu dono até ao final de sua vida (MORI et al; 2015). 3.7 RAIVA EM ANIMAIS SILVESTRES A raiva ocorre naturalmente em muitas espécies de canídeos e outros mamíferos. Com base em estudos epidemiológicos, considera-se que os lobos, as raposas, coiotes, chacais são os mais susceptíveis. Os morcegos (hematófagos ou não hematófagos), guaxinim e as “mangostas”, apresentam um grau menor de susceptibilidade. A sintomatologia dos canídeos silvestres é, na maioria das vezes, do tipo furiosa, semelhante à dos cães. O quadro abaixo mostra o número de casos de raiva em animais silvestres (MORI et al; 2015). Fonte: SVS/MS Quadro 1- Raiva em mamíferos silvestres no Brasil entre 2012 e 2015. 14 3.8 DIAGNÓSTICO Atualmente, o teste mais usado para o diagnóstico de raiva é a demonstração de antigenes da raiva em tecidos infectados por imunofluorescência direta. A imunofluorescência direta (usada para detectar os antigenes do vírus da raiva) consiste em fixar o espécimen (célula ou microrganismo) que contém o antigene numa lâmina de microscópio. Os anticorpos marcados com fluoresceína são depois adicionados à película e incubados. Após a incubação, a película é lavada para remover os anticorpos não ligados aos antigenes e examinada com microscópio de fluorescência para detectar uma fluorescência verde-amarela. O padrão da fluorescência revela a localização do antigene (PRESCOTT, 1999). Em alguns laboratórios, em algumas circunstâncias, no diagnóstico post-mortem pode-se usar a técnica de RT-PCR (reverse transcription-polymerase chain reaction) para testar a presença do RNA viral no cérebro do animal suspeito. Esta técnica é feita com primers que amplificam RNA genômico e sequências de mRNA. O método é 100 a 1000 vezes mais sensível do que os métodos standard e é mais fácil quando o animal está impróprio para outros testes (por exemplo, quando o animal morreu a muito tempo). Quando o indivíduo está vivo só se usa a técnica de imunofluorescência ou RTPCR, em caso de suspeita de raiva humana (MURPHY, 1999). A utilização recente de anticorpos monoclonais direcionados contra os antigenes glicoproteicos da raiva provou ser um método mais sofisticado para o diagnóstico da infecção viral por raiva e para diferenciar os vírus relacionados com raiva do grupo dos Lyssavirus. Os anticorpos monoclonais para o antigene glicoproteico da raiva podem ser usados também para confirmar a vacina da raiva em cães, gatos e raposas. Para além destas técnicas podem-se detectar os anticorpos correspondentes à nucleoproteína do vírus por fixação de complemento, reação imune enzimática (DUARTE e DRAGO, 2005). 3.9 PROFILAXIA A profilaxia sanitária da raiva urbana é praticada em todos os locais onde esta ocorre, sendo as principais medidas postas em prática a vacinação, o isolamento dos suspeitos e a sua observação por um médico veterinário. Ao lado destas medidas, outras mais restritas dizem respeito à declaração obrigatória dos casos diagnosticados, ou mesmo suspeitos, ao 15 registo obrigatório dos canídeos, ao uso de açaimo e de trela, e à captura e extermínio de cães e gatos vadios (FERREIRA, 1968). A profilaxia da raiva selvagem é feita através do uso de iscos com vacinas antirrábica (vacinação oral) que são distribuídos no habitat das espécies selvagens (HIRSH, 1999). A profilaxia da raiva bovina, muito importante na América do Sul, é feita pela vacinação em massa do gado, e quando possível complementada por medidas de combate ao morcego transmissor. Nos humanos, a vacinação profilática é indicada para grupos profissionais específicos como:médicos veterinários, cuidadores de canis, profissionais de um laboratório que manipule o vírus rábico, entre outros. 3.10 PREVENÇÃO A prevenção deve se basear na educação do público em geral para que evitem contato com animais silvestres e domésticos desconhecidos, e para que se procure ajuda médica em caso de mordedura. Devem-se conduzir campanhas de vacinação antirrábica em massa (de cães, gatos e animais de quinta), tal como proceder à captura de animais extraviados (haverford). Além de que se devem notificar as autoridades competentes quando se suspeitar que algum animal está infectado (DUARTE e DRAGO, 2005). 3.10.1 Vacina Depois dos memoráveis trabalhos de Pasteur, foi possível preparar uma vacina capaz de numa só injeção garantir a imunização dos cães contra a raiva. Era uma vacina de vírus vivo, atenuada pelo fenol, e o seu emprego generalizou-se largamente. Durante vários anos foi esta vacina a grande arma de luta contra a raiva, mas em dado momento foi julgada causadora de acidentes vacinais. E passou a ser empregada a vacina de vírus morto, que tornava o vírus incapaz de provocar doença, mas continha poder suficiente para conferir imunidade (FERREIRA, 1968). Apesar do sucesso das vacinas da raiva na proteção quer de humanos quer de animais domésticos, devemos ter sempre em mente que a estirpe do vírus selvagem pode divergir evolutivamente da estirpe da vacina, tornando esta menos eficaz. Este parece ser o caso de algumas estirpes virais na África ocidental onde foi reportada a falha de vacinas e, também, 16 o caso de uma estirpe que infecta morcegos europeus que é completamente divergente nas proteínas N e G (as mais importantes para a imunidade). Portanto, é óbvio que as estirpes selvagens do vírus da raiva devem ser monitorizadas para mudanças por mutação, e que novas vacinas devem estar sempre a ser desenvolvidas e testadas para serem compatíveis com estas alterações (DUARTE e DRAGO, 2005). 3.11 A CURA No ano de 2004 foi registrado o primeiro caso de cura da doença em paciente que não tomara a vacina, publicado nos Estados Unidos, utilizando-se um tratamento que consistia na sedação profunda (coma induzido) e uso de antivirais. Este caso, utilizando-se do tratamento que passou a ser chamado Protocolo de Milwaukee, trouxe a possibilidade de cura para uma doença até então considerada letal. Até 2008 o protocolo de Milwaukee havia sido aplicado em 16 casos, mas a técnica somente teve resultado positivo com dois pacientes — a jovem americana e num rapaz brasileiro (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). 3.11.1 A cura no Brasil Com base na experiência americana em 2008, na cidade de Recife, foi aplicado o tratamento em um jovem mordido por morcego hematófago que, curado, possibilitou a reunião dos dados e a elaboração do Protocolo de Recife pelo Ministério da Saúde. Um rapaz pernambucano de 15 anos de idade havia contraído o vírus e desenvolvido a doença; levado para a UTI do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, no Recife onde, por ausência de alguns dos remédios indicados no protocolo de Milwaukee, foi utilizada nova forma de tratamento. Após 35 dias de internação, foi declarado curado (GUIBU, 2008). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao final dessa revisão de literatura, é possível concluir que mesmo depois de séculos pesquisando a respeito da raiva, ela ainda é uma zoonose que atinge boa parte da população, principalmente em países que estão em desenvolvimento, matando milhares de animais e dezenas de pessoas todos os anos, e que ainda não houve descobertas aprofundadas de sua cura. No Brasil, um fato agravante para a dificuldade em erradicar a zoonose é a grande 17 diversidade da fauna, que acaba reservando o vírus entre os animais silvestres. Em vista disso, é necessário chamar a atenção da população para a gravidade da doença, apresentar as formas mais comuns de contágio, como prevenir e como reagir caso leve uma mordida de um animal suspeito de portar a doença. Cabe a cada cidadão procurar ajuda caso esteja com suspeita de desenvolver a hidrofobia e tratar também da saúde de seu (s) animal (is) de estimação, juntamente com um médico veterinário, visando diminuir drasticamente os casos da raiva. Vale lembrar também que não se deve consumir carnes de animais com suspeita de ter a hidrofobia, pois o vírus ainda pode ser encontrado em algumas partes do corpo deste. REFERÊNCIAS 1- VERONESI, R., FOCACCIA R. Tratado de infectologia. São Paulo: Atheneu- 249, 1996, 1803p. 2- BATISTA HBCR; FRANCO AC; ROEHE PM. Raiva: uma breve revisão. Acta Sci Vet 2007;35(2):125-44 3- MORI, A. et al., Controle da Raiva Urbana em cães para o Controle da Raiva Humana. Lavras: Editora UFLA- Universidade Federal de Lavras, 2015. 4- ELKHOURY, M. R.; SILVA JUNIOR, J.B.; OLIVEIRA, R.C.; ARAUJO, F.A.A. Raiva humana transmitida por morcegos no Brasil, 1998-2000, 2001. In: DEUS, G.T.; BECER, M.; NAVARRO, I.T. Diagnóstico da raiva em morcegos não hematófagos na cidade de campo Grande, Mato Grosso do Sul, Centro Oeste do Brasil: descrição de casos. Seminário: Ciências Agrárias. Londrina, v. 24, n. 1, p. 171-176, jan./jun. 2003. 5- BAER G. M. The natural history of rabies. Boca Raton: CRC Press, 1991. 6- KOTAIT I., CARRIERI M., e TAKAOKA N. Raiva - aspectos gerais e clínica, 2009. 7- BABBONI, S.D ; MODOLO, J.R. Raiva: Origem, Importância e Aspectos Históricos, Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, SP Brasil, p. 350, 2011. 8- FERREIRA, L. A. P., 2008; O Conceito de Contágio de Girolmo Fracastoro nas Teses Sobre Sífilis e Tuberculose. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 9- VALLERY- RADOT, R. The Hydrophobia Problem. In BiblioBazaar, LLC. The life of Pasteur, 2008. 18 10- THEORODIDES J. Historie do la rage. 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Situação Epidemiológica da vacinação contra a raiva canina e felina no Estado de São Paulo. Nota Técnica – CCD/IP de 23 de setembro de 2010 20- HAUPT H. E., Raiva epizoótica nos rebanhos de Santa Catarina transmitidas por morcegos. Bol Soc Bras Med Vet 1925;2:17-4 21- SILVA J.A., et al. Arq. Bras. Vet. Zootec, 2001. 22- LOBÃO A., 2008 publicado em ‘‘O Liberal’’- Americana/SP,Ano XXII, Nº2.598, PAGINA 6, 2010. 23- PRESCOTT, L., HARLEY, J., KLEIN, D. (1999). Microbiology, 4ª ed. WCB McGraw- Hill, USA 24- FERREIRA, A. J. (1968). Doenças infectocontagiosas dos animais domésticos, 2ª ed. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. 19 25- MINISTÉRIO DA SAÚDE,Departamento de Vigilância Epidemiológica, Secretaria de Vigilância em Saúde, Brasília-DF, Brasil (2009). «Protocolo para tratamento de raiva humana no Brasil (relatório)». Epidemiologia e Serviços de Saúde, v.18 n.4 Brasília. 26- GUIBU, F., Brasil registra caso único de cura de raiva, Folha de S. 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