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10ª AULA – AÇÕES CAMBIAIS Professora: Luciana Castro Quando o devedor não honra o pagamento de um título de crédito (cheque, nota promissória, duplicata e etc.) o credor-portador do título terá o direito subjetivo de promover a cobrança judicial da dívida. Nesse caso, a tutela do juiz obrigará o devedor ao pagamento, sob pena de constrição de seu patrimônio.1 Entre as modalidades de ações cambiais temos a execução de título extrajudicial (art. 784 CPC) e a ação de enriquecimento sem causa (ou locupletamento). Ambas têm caráter cambial, ou seja, a defesa do devedor é restrita, sobretudo quando há circulação do título, o que elimina a possibilidade de oposição de exceções pessoais pelo devedor no que se refere à circunstancia da obrigação original. No entanto, na ação de locupletamento, o título, embora não perca o caráter cambial, deixa de ser titulo executivo extrajudicial. Além das ações cambiais, o credor de título de crédito prescrito ou que não preencha completamente os requisitos legais poderá se valer da ação monitória, prevista nos artigos 700 e seguintes do CPC. Por fim, o credor ainda tem a possibilidade de ajuizar a ação fundada na relação causal – originária do título (ação de cobrança), na qual o título de crédito serve apenas como mero início de prova. O Credor só utilizará essa modalidade de ação se o título de crédito estiver prescrito e não for viável a ação monitória, pois seu rito é lento e é ampla a possibilidade de discussão da causa debendi. Meio normal de se buscar a satisfação do crédito AÇÃO CAMBIAL onde se exerce o direito literal e autônomo incorporado no título de crédito NECESSÁRIO TÍTULO NÃO PAGO FACULTATIVO APENAS UM MEIO DE PROVA2 NO VENCIMENTO ESPECIAL AÇÃO DE EXECUÇÃO TIPOS AÇÃO DIRETA - ajuizada contra o aceitante e seus avalistas, isto é, contra os devedores principais, e por isso não depende de protesto. AÇÃO DE REGRESSO - ajuizada contra os devedores indiretos (sacador, endossantes), a qual depende de um protesto tempestivo. OBJETIVO exigir em juízo o valor contido no título de crédito (SATISFAÇÃO DO CRÉDITO) RITO PROCESSUAL ação de execução3 os títulos de crédito são títulos executivos extrajudiciais art. 784, I, CPC 1 Os títulos de créditos típicos possuem uma presunção de certeza tão grande que a lei não exige que o crédito seja primeiramente reconhecido pelo judiciário. Eles são títulos executivos. 2 Formalmente o protesto do título não é um meio de cobrança, mas todos sabem que tem sido eficiente para compelir o devedor a regularizar o débito, sobretudo em virtude da publicidade que se dá à inadimplência, ampliada atualmente pelos órgãos de proteção ao crédito, como SERASA e SPC. O ato cambiário de protesto comprova ainda a recusa do aceite (duplicata e letra de cambio) e viabiliza a cobrança contra os coobrigados e seus avalistas. 3 A execução poder ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível, consubstanciada em título executivo. Entende-se por obrigação certa, quando a sua existência é indiscutível (o que se deve); líquida, quando de valor conhecido (quanto se deve); e exigível quando possa ser exigida(vencida). PROTESTO O Pluralidade de títulos quando for relativo ao mesmo negócio Súmula 27, STJ a invalidade de um não contagia os demais Legitimidade ATIVA - Qualquer ação cambial deve ser ajuizada pelo credor da obrigação, pois é ele quem tem direito ao recebimento de um crédito. PASSIVA - A ação poderá ser ajuizada contra todos os que se obrigaram no título, pois são devedores solidários. Foro competente - art. 781,CPC foro de domicílio do executado, de eleição constante no título, de situação dos bens a ela sujeitos. Havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios - foro de qualquer um deles. Domicílio incerto ou desconhecido - foro do domicílio do exequente, ou onde o devedor for encontrado. Por fim, o mesmo dispositivo dispõe que a execução poderá ser proposta no foro do lugar em que se praticou o ato ou em que ocorreu o fato que deu origem ao título. Objeto a quantia que se quer receber o pagamento da importância constante do título + correção monetária e juros de mora + honorários advocatícios Documentação - O autor deve apresentar os documentos essenciais ao exercício de seu direito o título executivo (art. 798, I, a) a planilha do débito o protesto Exibição de título4 - obrigatório - para que o título de crédito original não possa circular. 4 Ao buscar o recebimento de seu crédito, o autor da ação deve demonstrar que pode exercer seu direito, de modo que o título apresentado deve ser sempre o original. Execução contra coobrigado codevedor ou avalista somente apresenta força executiva se acompanhado de instrumento de protesto CASO CONTRÁRIO Ação de conhecimento Sem natureza cambial Procedimento: A ação cambial será instruída pelo rito da execução por quantia certa (art. 824 e seguintes). OBS5 OBS6 Termo inicial O prazo começa a correr - do vencimento contra os devedores principais; - do protesto contra os devedores indiretos; - do pagamento para o exercício do direito de regresso. Suspensão O prazo prescricional não se inicia ou não corre durante certo período de tempo. Para e recomeça de onde parou7. É o caso, por exemplo: - dos filhos contra os pais, enquanto durar o poder familiar (18 anos); - enquanto estiver pendente uma ação de evicção (perda de um bem pelo adquirente, em consequência de reivindicação feita pelo verdadeiro dono); - contra os incapazes a que se refere o art. 3º do Código Civil (menores de 16 anos); - ausentes do país em caso de serviço público da união, dos estados ou dos municípios, ou contra os que se acharem servindo nas forças armadas, em tempo de guerra. 5 Apenas excepcionalmente, será admissível citação por edital, com nomeação de um curador especial para o executado. 6 Além disso, no prazo de 15 dias (contados da juntada do mandado de citação), poderá requerer o pagamento parcelado do débito em 06 prestações mensais. 7 Como “a prescrição há de concernir a um tempo útil para o exercício da ação”, nem todo o prazo poderá ser computado. Em certos casos, a legislação impede o curso do prazo prescricional, isto é, o prazo para e volta a correr após o fim da causa suspensiva. Recebida a petição inicial, o juiz verificará sua adequação às exigências legais. Encontrando algum problema, determinará que o exequente emende à petição inicial. Estando tudo em ordem, o juiz proferirá uma decisão, fixando os honorários em 10% sobre o valor da execução (art. 827) e ordenará a citação do devedor para pagar em três dias (art. 829). Após a decisão, será expedido o mandado de citação, que deverá ser cumprido por oficial de justiça. Caso o devedor efetue o pagamento dentro do prazo de 03 dias, só será obrigado a pagar 50% dos honorários advocatícios. Não havendo pagamento, o oficial deverá proceder à penhora de tantos bens quanto bastem para satisfazer o crédito. Inclusive, o credor pode indicar os bens a serempenhorados na própria inicial. Não havendo questionamentos sobre a penhora, ou superados os questionamentos, passa-se à fase de expropriação. Haverá a transferência coativa do domínio do bem penhorado. Com a aquisição do bem penhorado, com o produto da sua venda, ou com o resultado dos frutos e rendimentos, será efetuado o pagamento do credor. Interrupção O prazo até então transcorrido é totalmente ignorado, reiniciando-se do zero. (Art. 202, CC)8 Exemplo: protesto cambial e protesto judicial. OBS: A interrupção feita em face de um dos devedores atinge os demais, de acordo com o Código Civil, mas a LUG prevê que a interrupção em face de um dos devedores solidários só atinge aquele devedor, e não qualquer outro. Prazo prescricional art. 70, LUG - A ação cambial terá prazos diversificados de acordo com o título exequendo. No que diz respeito à letra de câmbio e à nota promissória, os prazos de prescrição são: 1) De endossantes contra endossantes ou contra sacador - 6 meses do dia em que o endossante pagou a letra 2) Do portador contra endossante e sacador - 1 ano protesto, ou vencimento da letra “sem despesas” cláusula lançada pelo sacador eximindo o portador do dever de protestá-lo 3) Todos contra o aceitante ou obrigado principal 3 anos contados do vencimento EMBARGOS À EXECUÇÃO9 - Ação autônoma. Ação de conhecimento incidental à execução. DEFESA DO EXECUTADO EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE10 - Trata-se de defesa endoprocessual, ou seja, no próprio processo de execução. Pode ser apresentada a qualquer momento. AÇÕES AUTÔNOMAS11 - Em tais ações, poderá haver o pedido de anulação do título; o pedido de declaração de inexistência da obrigação; ou mesmo o pedido de revisão do valor cobrado. NÃO É CABÍVEL, NAS AÇÕES CAMBIAIS, CHAMAMENTO AO PROCESSO, NEM DENUNCIAÇÃO DA LIDE - Chamamento ao processo: é admissível o chamamento dos demais devedores solidários quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum. Todavia, em um título de crédito, não temos uma dívida comum entre os vários devedores solidários, mas obrigações autônomas de cada um deles; - denunciação da lide: objetivo é formar um título executivo para o direito de regresso e, nesse caso, o título já existe. 8 Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; II - por protesto, nas condições do inciso antecedente; III - por protesto cambial; IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores; V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. 9 No prazo de 15 dias (contados da juntada do mandado), o executado poderá se opor à execução por meio dos Embargos à execução, que representam uma ação de conhecimento com o objetivo final de extinguir a execução ou reduzir o seu valor. O executado se defende atacando a execução, alegando que ela não preenche os requisitos necessários; que o crédito não existe; ou que deve menos do que está sendo cobrado. 10 Podem ser levantadas matérias que o juiz poderia conhecer de ofício, como pressupostos processuais da execução e condições da ação; ilegitimidade das partes, iliquidez do título; títulos cuja executabilidade é suspensa ou extinta etc. 11 Além dos embargos e da exceção de pré-executividade, é certo que o executado pode lançar mão de ações autônomas prévia ou posteriormente ao ajuizamento da execução. Todavia, ainda que ajuizada previamente, tal ação não tem o condão de impedir o ajuizamento e o prosseguimento da execução. AÇÃO DE LOCUPLETAMENTO OU ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA Professora: Luciana Castro Admissível para buscar o recebimento do crédito quando já tiver perdido o prazo do protesto ou o prazo prescricional. Ação prevista no art. 48 do Decreto n.º 2.044/1908. Pressupostos: Por ser uma ação secundária, seu cabimento depende do preenchimento de certos pressupostos: - impossibilidade de ajuizamento da ação cambial; - enriquecimento sem causa do devedor; - empobrecimento do credor; - nexo de causalidade entre o empobrecimento de um e o enriquecimento do outro. OBS: Enquanto for possível falar em ação cambial, não há que se cogitar ação de locupletamento. Legitimidade ATIVA - aquele que teve prejuízo pelo não pagamento do título. Credor. PASSIVA - sacador (quem emite a letra de câmbio) ou aceitante da letra de câmbio. Foro competente: Domicílio do réu (art. 46, CPC). Causa de pedir e prova Fundamento jurídico da pretensão na ação de locupletamento: enriquecimento ilícito do devedor. Fundamento de fato é o não pagamento do título, não havendo, portanto, qualquer necessidade de narrar o negócio jurídico subjacente. A prova do não pagamento deve ser feita pelo autor, mediante a simples apresentação do próprio título. Rito Definidas as partes e a causa de pedir, resta estabelecer o pedido da ação, que será, em última análise, o ressarcimento do prejuízo causado pelo enriquecimento sem causa do devedor.12 -Para alguns, a ação de enriquecimento é cambiária, por fundar-se no título de crédito. Natureza -Mas para a doutrina majoritária, é extracambiária eis que o título seria apenas um meio de prova e não a base da própria ação. Ademais, o objeto pretendido não é a soma cambiária, mas a indenização pelo enriquecimento ilícito. Prescrição - Prazo definido pelo Código Civil: 03 anos, para ação de ressarcimento de enriquecimento sem causa.13 12 A princípio, a ação poderá ser ajuizada pelo procedimento comum, mas poderá escolher o procedimento do juizado especial se o valor não ultrapassar 40 salários mínimos. 13 Prazo prescricional só se inicia a partir do momento em que for possível ajuizar tal ação. Isso porque, por se tratar de ação subsidiária, o prazo prescricional só se iniciará quando estiver prescrita a ação cambial, ou quando for perdido o prazo do protesto. AÇÃO DE COBRANÇA Professora: Luciana Castro Ação autônoma que tem por base o negócio jurídico que deu origem ao próprio título ou que permitiu sua circulação. Tem por base, portanto, o descumprimento desse negócio jurídico. O que se persegue é o cumprimento de uma obrigação decorrente de uma relação jurídica bilateral, da qual o título de crédito prescrito constitui começo de prova escrita. Pressupostos - subsistência da relação jurídica que deu origem ao título; - não pagamento do título; - devolução do título ao devedor. Objeto - será o objeto do negócio jurídico cobrado, isto é, o valor combinado entre as partes, que geralmente, é o valor do próprio título. Prescrição - O prazo prescricional é aquele próprio do negócio subjacente14. Assim, vejamos - serviço prestado por professores – 05 anos; - compra e venda – 10 anos; - hospedagem – 01 ano. AÇÃO MONITÓRIA15 Ação autônoma ajuizada com o intuito de receber o valor do título de crédito. Nesse caso, não há título executivo, mas há prova escrita, e uma boa probabilidade de o direito de crédito existir. Objetivo: tentar acelerar a autorização para executar, diante da afirmação pelo credor, que com base em prova escrita, tem o direito de exigir do devedor capaz: - o pagamento da quantia em dinheiro; - a entrega de coisa fungível ou infungível; - o adimplemento deobrigação de fazer ou não fazer. A base da existência da ação é, portanto, uma prova escrita. Petição inicial deve atender aos requisitos do art. 319, CPC, instruída com a prova escrita do crédito. Competência - Foro do domicílio do réu (art. 46, CPC). Em sendo incerto ou desconhecido, onde for encontrado, ou no domicílio do autor. Objeto - valor da dívida corrigida - juros de mora. 14 O prazo prescricional irá se iniciar a partir do momento em que é possível exigir o cumprimento da obrigação subjacente, ou seja, a partir do vencimento do negócio jurídico que deu origem ao título. 15 A ação monitória representa, a nosso ver, um procedimento especial que poderia ser usado tanto para a ação de locupletamento, como para a ação causal. No entanto, julgados do STJ têm reconhecida a ação monitória como uma ação autônoma, na tentativa de receber o valor do título de crédito. Dentro desta interpretação, seria uma ação diferente, cujo cabimento seria considerado à parte dos outros processos para tentar receber o valor estampado no título. Rito16 – Petição inicial com base no art. 319, CPC -A petição inicial deverá descrever a importância devida, instruindo-a com memória de cálculo, ou, conforme o caso o valor atual da coisa reclamada; ou o conteúdo patrimonial em discussão ou o proveito econômico perseguido. -Havendo dúvidas quanto à idoneidade da prova documental, o juiz deverá conceder ao autor do feito a oportunidade de emendar a petição inicial, convertendo o procedimento em procedimento comum. -Havendo a prova escrita idônea, art. 701, CPC: o juiz proferirá decisão que “deferirá a expedição de mandado de pagamento, de entrega de coisa ou par a execução da obrigação de fazer ou não fazer, concedendo ao réu prazo de 15 dias para o cumprimento e o pagamento de honorários advocatícios. -Proferida a decisão, será expedido mandado de citação do réu para pagar ou apresentar embargos à monitória, no prazo de 15 dias. -Não havendo pagamento, nem apresentação dos embargos, constitui-se de pleno direito a decisão judicial em título executivo judicial, passando-se aos atos satisfativos pelo cumprimento da sentença. OBS: Decisão judicial que determinou expedição do mandado está sujeita a ação rescisória. Prazo prescricional - 05 anos (art. 206, §5º, I), contados do primeiro dia útil seguinte ao vencimento do título, sem eficácia executiva -> Súmula 504, STJ.17 Súmula 299: É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito. Súmula 503: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula. Súmula 531, STJ: Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula. ESPÉCIE DE AÇÃO PRAZO FUNDAMENTO Execução Prazo prescricional de cada título Título de crédito Locupletamento Cheque: 2 anos após a prescrição; Demais títulos: 3 anos Título de crédito Monitória 5 anos, após um dia da emissão ou do vencimento do título Título de crédito Cobrança Prazo previsto em lei para a relação originária típica (artigos 206 e 205 do CC ou legislação especial). A causa originária 16 Para o STJ, no rito da ação monitória, há uma técnica de inversão do contraditório, o que dispensaria o autor de narrar a causa debendi do título. Se o réu quiser, ele é quem deverá trazer a causa debendi para a discussão. Não se afastaria a discussão da causa debendi, mas tal discussão dependeria da intervenção do réu na ação. Tal orientação é seguida em alguns julgados do TJDF e do TJMG. No âmbito da STJ, a questão restou pacificada em sede de recurso repetitivo, afirmandose que “em ação monitória fundada em cheque prescrito, ajuizada em face do emitente, é dispensável menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula”. A questão hoje está sumulada pelo STJ no verbete 531: “Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.” 17 “O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título.” Esta orientação tem caráter vinculativo por advir de recurso especial repetitivo.
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