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ATO JURÍDICO PERFEITO E AS DECISÕES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

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Ato Jurídico Perfeito na visão do Supremo Tribunal Federal. 				Jordana de Moraes Sousa
TÍTULO: ATO JURÍDICO PERFEITO NA VISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
AUTORA: Jordana de Moraes Sousa[1: Acadêmica de Direito da FBUni. jordana_moraes_sousa@hotmail.com]
RESUMO: Para se compreender o debate acerca das limitações do ato jurídico perfeito, é preciso conhecer como este é tratado pela legislação e o que pensam os julgadores do STF a respeito de sua perpetuidade. Este é o objetivo do presente trabalho, com o qual se espera sintetizar a análise do ato jurídico perfeito no direito positivo, na doutrina e na jurisprudência. Para tanto, serão apresentadas as premissas básicas dos estudos relacionados a conceituação do ato jurídico perfeito (item 1); segurança jurídica (item 2); precedentes do Supremo Tribunal Federal (item 3). Nas considerações finais foi refletida a relativização da validade diante lei nova do ato jurídico perfeito segundo o STF, o que é incoerente com um ordenamento jurídico que possui objetivos de natureza igualitária e justa. 
PALAVRAS-CHAVE: ato jurídico perfeito. Segurança jurídica. STF. Irretroatividade. Relativização. 
ABSTRACT: In order to understand the debate about the limitations of the perfect juridical act, it is necessary to know how it is treated by the legislation and what the judges of the STF think about its perpetuity. This is the objective of the present work, which is expected to synthesize the analysis of the perfect legal act in positive law, in doctrine and jurisprudence. Therefore, the basic premises of the studies related to the conceptualization of the perfect legal act will be presented (item 1); legal certainty (item 2); precedentes of the Federal Supreme Court (item 3). In the final considerations was reflected the relativization of validity before new law of the perfect legal act according to the STF, which is inconsistent with a legal system that has objectives of an egalitarian and just nature. 
KEY WORDS: perfect legal act. Legal certainty. STF. Irretrocativity. Relativization.
Introdução
O interesse pela análise sobre o tema parte da importância em reconhecer os institutos basilares para o estudo do Direito tal como sua repercussão direta em matérias discutidas pelo Supremo Tribunal Federal. São objetivos do presente artigo identificar dispositivos legais que abordam o Ato Jurídico Perfeito, selecionar doutrinas sobre o princípio da segurança jurídica, apresentar jurisprudências envolvendo o ato jurídico perfeito e seus efeitos práticos, dentre outros.
Para isso far-se-á necessária a definição de ato jurídico perfeito e sua posição no ordenamento jurídico brasileiro. Conforme José Afonso da Silva (2000), um ato, quando jurídico perfeito, torna-se inatingível por lei nova, pois trata-se de direito adquirido e esgotado, e continua a ser perfeito mesmo que seja sujeito a termo ou condição.
O instituto em análise encontra-se disposto na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (art. 6º, §1º) e na Constituição Federal (art. 5º, XXXVI).
Quanto a essa última previsão, terá maior atenção nesse artigo, não por se tratar de texto constitucional, mas sim por caracterizar o princípio da segurança jurídica, que em meio a incredibilidade por parte considerável da população brasileira no Poder Judiciário, fazem-se necessários mecanismos jurídicos que garantam a efetividade dos direitos individuais e coletivos tal como a validade dos atos jurídicos já consumados. Nesse molde, o princípio constitucional da segurança jurídica estabelece a custódia dos direitos adquiridos, coisa julgada e ato jurídico perfeito, com o objetivo de que não haja supressão de direitos já consagrados na vida do indivíduo.
Em última discussão serão apontados julgados do STF que envolvam o ato jurídico perfeito, seja em prisma principal ou subsidiário.
Definição de Ato Jurídico Perfeito
O tema, que é de natureza principiológica, reflete a estabilidade de ações reguladas pelo Direito no tempo. Ato Jurídico Perfeito é encontrado em doutrinas, dispositivos legais e em decisões judiciais acompanhado na maioria das vezes pelos institutos Direito Adquirido e Coisa Julgada. De fato, são as três garantias previstas no artigo 5º, inciso XXXVI da Constituição Federal de 1988, de modo que a lei não os prejudicará, esse inciso é conhecido como Princípio da Segurança Jurídica.
Outra norma que trata ato jurídico perfeito, direito adquirido e coisa julgada é a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, que diz em seu artigo 6º que “a Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.” Tal respeito reafirma a solidez desses institutos no ordenamento jurídico.
No entanto, apesar da estabilidade reconhecida, concorda-se que o Direito não é imutável. Nas palavras do ministro Luis Roberto Barroso (2001, p. 58) não é incomum em direito a superveniência de lei que mude o tratamento jurídico dado a determinada questão. Em consequência disso faz-se necessária a definição do que vem a ser ato jurídico perfeito.
Embora andem lado a lado, ato jurídico perfeito e direito adquirido se diferenciam quanto ao momento de produzir efeitos jurídicos:
De modo esquemático, é possível retratar a exposição desenvolvida na síntese abaixo:
Expectativa de direito: o fato aquisitivo teve início, mas não se completou;
Direito adquirido: o fato aquisitivo já se completou, mas o efeito previsto na norma ainda não se produziu;
Direito consumado: o fato aquisitivo já se completou e o efeito previsto na norma já se produziu integralmente. (BARROSO, p. 63)
Quando um fato jurídico resulta de ação humana surge o chamado ato jurídico. Diferente do primeiro, este não decorre de simples acontecimento natural. O ato jurídico perfeito, pois, é ainda mais específico, já que requer consumação em acordo com a lei ora vigente. “Ato é toda atuação humana que tenha por objetivo criar, modificar ou extinguir relações ou situações jurídicas. É ato jurídico porque cria direitos e deveres, é fonte de Direito. E por fim, é perfeito por já estar consumado. (FIUZA, 2008, p. 87)[2: REALE, Miguel, Lições preliminares de direito. 27 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. P. 203 Outras vezes, o fato não é mero acontecimento natural, mas, ao contrário, algo que se prende à deliberação volitiva do homem, à qual a norma jurídica confere consequências de direito, tais como as de constituir, modificar ou extinguir uma “relação jurídica”, ou mais amplamente, uma “situação jurídica”. ]
Ainda com o fim de diferenciar direito adquirido de ato jurídico perfeito, reproduzir-se-á os parágrafos 1º e 2º do artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.  
Embora o Ato Jurídico Perfeito seja reconhecido em normas de repercussão geral, é em Direito Civil onde recebe maior atenção, haja vista andar ao lado de negócio jurídico e ato ilícito, que por conveniência não serão tratados no presente artigo. No Direito Civil “ato jurídico perfeito é conhecido como ato jurídico stricto sensu, é uma espécie de ato jurídico juntamente de negócio jurídico e ato ilícito.” (FIUZA, 2008, p. 199)
Ato jurídico stricto sensu, é, pois, o ato que ao tempo de sua ocorrência preenche todos os requisitos exigidos em lei: sujeito capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em lei. Importante elucidar que quanto à forma (ser prescrita ou não defesa em lei) não haverá alteração em sua eficácia mesmo que posteriormente haja proibição de prática do mesmo ato em lei. Assim também acontece no caso do direito adquirido, no qual a lei nova não pode prejudicá-lo só pelo fato de o titular não o ter exercido antes. (AFONSO, 2000 p. 437) Isso significaque quando o direito passa de mera expectativa, e passa a ser algo material, há incidência da segurança jurídica, a fim de que os efeitos perdurem no tempo.
Dessa forma entendemos que Ato Jurídico Perfeito é o ato já consumado nos termos da lei vigente na data de sua publicação. Ainda nas palavras de Luis Roberto Barroso, quando trata sobre a vitória do efêmero e do volátil sobre o permanente e o essencial do início do século, onde questiona sobre a crise de identidade da ideia da segurança jurídica, fala que:[3: BARROSO, Luis Roberto, A Segurança Jurídica na Era da Velocidade e do Pragmatismo Revista de Direito; Procuradoria Geral do Estado de Goiás, 21 (1-1): 55-72, jan./dez. 2001. No Comportamento, consolidou-se o gosto pela imagem, pela analise condensada, a impressão superficial. A vitória do efêmero e do volátil sobre o permanente e o essencial. P. 56]
“Outra característica desses tempos tem sido o pragmatismo interpretativo, antes ideológico que cientifico, que se nutre da paranoia do horror econômico e da hegemonia do pensamento único. Nessa variante, princípios constitucionais voltados para a segurança jurídica - como o respeito aos direitos adquiridos, os direitos de igualdade e o devido processo legal - são tratados como estorvos reacionários.” (BARROSO, 2000, p.57)
Nesse sentido, é imprescindível falar de Princípio da Segurança Jurídica, uma vez que, se é visto como estorvo reacionário pelos que acreditam nas forças inovadoras de progresso, poderia ser visto como ameaçado por aqueles que zelam por uma base jurídica firme, ainda que ultrapassada.
Princípio da Segurança Jurídica
A lei não foi feita pra acabar. Em geral só acaba com a lei revogadora. Nesse sentido a lei nova não pode desfazer a situação jurídica consumada. Isso significa a estabilidade do ato jurídico perfeito frente a alterações jurídicas que ensejam situações análogas atuais.
Nessa perspectiva aqueles que tiveram seus atos protegidos por lei no momento de consumação reconhecem que há segurança para continuidade da validade dos seus atos e direitos adquiridos apesar do decurso do tempo. “Uma importante condição da segurança jurídica está na relativa certeza de que os indivíduos têm de que as relações realizadas sob o império de uma norma devem perdurar ainda quando tal norma seja substituída.” (SILVA, 2000. p. 435)
Contudo, uma nação democrática possui polos de poder que dividem suas forças, e, por isso, possuem entrelaçadas as relações de decisões acerca de situações públicas. O poder judiciário no Brasil é “freado” pelo sistema de Pesos e Contrapesos, no qual tanto o poder legislativo como o poder executivo podem influenciar e interferir nos seus entendimentos. Nesse momento pode haver violação de princípios jurídicos a bel-prazer da vontade política, por exemplo.
A insegurança jurídica de um Estado nasce quando a população deixa de confiar no poder público e na força do poder judiciário para buscar justiça. A lei, apesar de assegurar tantos direitos, passa a ser vista como mero papel, que pode ser rasgado por conveniência do momento.
O constituinte, ao manifestar a inalterabilidade dos institutos no Art. 5º, XXXVI, CF/88 “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”, engendrou o Princípio da Segurança Jurídica no Brasil, no entanto, como diz Luís Roberto Barroso, a Constituição, embora consagrada e rígida, ainda encontra desafios quanto a sua aplicação generalizada: “é que apesar da expressiva ascensão política e cientifica dos últimos anos, o constitucionalismo brasileiro e suas instituições ainda não vivem a maturidade plena. E, como consequência, a insegurança é um trago de relevo na paisagem jurídica do País.” (BARROSO, 2001, p. 58)
Nesse momento indaga-se acerca da possiblidade de modificação da validade de ato jurídico tido outrora como perfeito, e se isso contaminaria a segurança jurídica. Ora, pelo explicado entenderemos que sim. Contudo, em matéria penal incumbe recordar a oposição entre Direito Civil e Direito Penal quanto a retroatividade das leis. Foi visto que o surgimento de uma nova lei não pode prejudicar um direito adquirido. Fala-se então do Princípio da não retroatividade das leis, isso no Direito Civil, porque no Direito Penal é permitida a retroação de lei para beneficiar o réu: XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 5º.)
Caso que gerou debates polêmicos aconteceu (e acontece até hoje) em outubro de 2017 quando o STF decidiu sobre a Retroatividade da Lei de Ficha Limpa (RE 929.670). Nesse contexto foi discutido se a Lei Complementar 135/2010 aplicava-se a condenações anteriores a 2010. Essa lei estabelece, de acordo com o § 9o do art. 14 da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação e determina outras providências, para incluir hipóteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato. Com 6 votos a 5 o STF decidiu em acordo a retroatividade da lei complementar. [4: LEI COMPLEMENTAR Nº 135, DE 4 DE JUNHO DE 2010]
 Assumindo posição de crítica aos ministros que votaram a favor da medida, Marco Aurélio e Celso de Mello ressaltaram o desrespeito ao princípio constitucional ora estudado. “Em 39 anos de judicatura, jamais me defrontei com situação tão constrangedora para o Supremo como essa.” (MARCO AURÉLIO, 2017). Também em defesa, o ministro Celso de Mello enfatizou que “a Constituição deve ser observada e os princípios da coisa julgada e do ato jurídico perfeito, respeitados. A inelegibilidade traduz gravíssima limitação a direito fundamental. O perigo da interpretação a favor da retroatividade, é que abre possibilidade para ‘desrespeito a inviolabilidade do passado’” (CELSO DE MELLO, 2017). [5: https://www.conjur.com.br/2017-out-04/ficha-limpa-aplicada-casos-anteriores-lei-decide-stf]
Desse modo, quando matérias extrajurídicas adentrarem à Corte do Supremo, os ministros possuem a oportunidade de reafirmar os princípios estabelecidos na Constituição Federal, e não o contrário, abrindo precedentes para novas interpretações acerca do ato jurídico perfeito. Nas palavras de Luís Roberto Barroso, embora o STF desempenhe relevante papel político, os métodos de julgamento devem ser jurídicos.
"O Supremo Tribunal Federal não é um tribunal comum. É o guardião da Constituição. Suas decisões transcendem aos meros cases concretes que julgam, porque vão servir de paradigma pare fazes e tribunais de todo o País. Esta e outras circunstâncias fazem do Supremo um tribunal que desempenha relevante papel político. Mas e precise bem qualificar isto: ele decide conflitos que tem implicações políticas, mas seus critérios os e métodos hão de ser jurídicos.” (BARROSO, apud A notícia que virou fato: a imprensa em questão, in Monitor pliblko ng 6/5, 1995)
Para aprofundarmos no âmbito do STF, no próximo capítulo serão refletidas algumas das decisões tomadas pelo Supremo sobre coisa julgada e ato jurídico perfeito nos últimos anos.
Precedentes do STF
O Supremo Tribunal Federal foi criado em 11 de outubro de 1890 pelo governo republicano provisório e tornou-se previsto constitucionalmente desde a primeira Constituição Federal do país, em 1891. Segundo Alexandre de Moraes, [6: MORAES, Alexandre de. Jurisdição constitucional e tribunais constitucionais; garantia suprema da constituição – 2. Ed. – São Paulo : Atlas, 2003. P. 212]
“o STF, sob a inspiração norte-americana, nasceu com o papel de intérprete máximo da Constituição republicana, e o controle difuso de constitucionalidade instalou-se de forma efetiva no Brasil, com a Lei Federal nº 221, de 1824, que concedeu competência aos juízes e tribunais para apreciarem a validade de leis e regulamentos e deixarem de aplicá-los aos casos concretos, se fossem manifestadamente inconstitucionais.” (apud MELO FRANCO, 1994, p.81) 
A Constituição Federal, apesar de analítica, requer interpretação quanto a aplicação de certos dispositivos. Essa interpretação, quando reiterada, torna-sevinculante, seja em forma de jurisprudência ou súmula. 
A primeira súmula vinculante do STF trata da proteção do ato jurídico perfeito frente lei nova: Ofende a garantia constitucional do ato jurídico perfeito a decisão que, sem ponderar as circunstâncias do caso concreto, desconsidera a validez e a eficácia de acordo constante de termo de adesão instituído pela Lei Complementar nº 110/2001. 
A referida lei, que institui contribuições sociais, autoriza créditos de complementos de atualização monetária em contas vinculadas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS e dá outras providências, deve respeitar os limites delimitados pelo ato jurídico perfeito, ou seja, a desconsideração de acordo firmado pelo empregador no tempo de contratação sem análise de caso concreto ofende o princípio da segurança jurídica. Isso decorre do fato de que, nem sempre, haverá vício de consentimento no contrato de adesão entre empregador e empregado, ocorrendo a consumação perfeita no negócio jurídico entre eles, e por isso, é inconstitucional que de forma automática esse ato jurídico seja desconsiderado só por tratar-se de termo de adesão de FGTS. [7: Lei complementar 210]
Com o passar do tempo o tribunal supremo tende a restringir seu domínio material, com o fim de tratar matérias puramente constitucionais. Nesse sentido, o STF deve transformar-se exclusivamente em Corte de constitucionalidade, dirigindo seus trabalhos para a finalidade básica de preservação de supremacia constitucional e defesa intransigente dos direitos fundamentais. (MORAES, 2003. p. 324)
Como visto, a proteção quanto ao ato jurídico perfeito encontra-se disposta no artigo 5º da Constituição Federal, sendo por isso, direito fundamental. No entanto, há julgado do STF que considera que o instituto do ato jurídico perfeito não deve ser matéria de apreciação do Tribunal, uma vez que se encontra disposto na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB). 
É pacífica a jurisprudência da Corte no sentido de que os conceitos dos institutos do direito adquirido, do ato jurídico perfeito e da coisa julgada não se encontram na Constituição Federal, senão na legislação ordinária, mais especificamente na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. (RE 657.871, relator(a): Ministro Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgado em 6 de maio de 2014. STF)
Dessa forma, entendeu-se que o ato jurídico perfeito, tal como o direito adquirido e a coisa julgada não apresentam repercussão geral. No entanto, é notório que em casos que apresentam matéria constitucional aliada a esses institutos da segurança jurídica o STF não se absteve em julgar o mérito da questão. É o caso da polêmica relativização da coisa julgada, tratada no HABEAS CORPUS 126.292, que admite a prisão antecipada, ou seja, antes do trânsito em julgado, o que difere do que diz a Constituição Federal (ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado).
Se de um lado alguns ministros entendem que, no decorrer do processo, ultrapassadas as instâncias ordinárias, a presunção de inocência vai restando mitigada, podendo a pena ser cumprida quando em sede de apelação, de outro, alguns ministros entendem que a própria Constituição Federal tratou de delimitar que o Estado, arbitrariamente, considere culpado uma pessoa que ainda é considerado inocente, eis que ainda não atingiu o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.[8: https://leopoldogomesmoreira.jusbrasil.com.br/artigos/407783196/a-relativizacao-do-principio-constitucional-da-presuncao-de-inocencia-face-a-decisao-historica-no-julgamento-do-habeas-corpus-n-126292]
Pelo exposto, podemos entender que apesar do STF declarar que direito adquirido, coisa julgada e ato jurídico perfeito fazem parte de legislação ordinária, e que no texto constitucional apenas se encontra a garantia desses institutos, são acolhidas pelo Tribunal sempre que estiverem consoantes com uma matéria eminentemente de repercussão geral.
É o caso dos Embargos de Declaração em Agravo Regimental em Recurso Extraordinário com Agravo nº 980.355, que declara a ofensa ao ato jurídico perfeito quando há aplicação retroativa do Código de Defesa do Consumidor:
Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos contratos celebrados anteriormente ao início de sua vigência, sob pena de ofensa ao ato jurídico perfeito e, por conseguinte, ao art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal. 
Desta feita, considera-se que é impossível a aplicação retroativa de lei. (BEM. DECL. NO A G. REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 980.355, Relator(a): Ministro Edson Fachin, Segunda Turma, julgado em: 11/12/2017. STF)
No mesmo sentido, o STF julgou o Agravo regimental em recurso com agravo 995.427:
A alegada violação ao art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição só entra no plano constitucional quando a eficácia inerente ao ato jurídico perfeito é violada pela aplicação de uma nova lei, o que não se vislumbra nos autos. A questão só entra no plano constitucional quando a eficácia inerente ao ato jurídico perfeito é violada pela aplicação de uma nova lei, discutindo-se matéria de direito intertemporal.
No caso em tela, é cognoscível que a proteção constitucional dada ao ato jurídico perfeito abrange essencialmente a não retroatividade de lei nova. Nisso resulta a responsabilidade do STF na defesa dos direitos e garantias fundamentais, ainda que encontre óbice nas dificuldades sociais, culturais e políticas, pois continua a ser o centro político-jurídico dos grandes acontecimentos nacionais. (MORAES, 2003).
Considerações Finais
Pelo exposto, compreende-se a naturalidade cujo o ato jurídico perfeito está presente na vida de todos, já que haverá sempre quando um ato humano estiver em acordo com a lei vigente. Nesse sentido, o instituto do ato jurídico perfeito nada mais é que uma garantia fundamental ao ser humano prevista pela Constituição Federal.
Apesar de variável conforme a necessidade normativa, o Direito estabelece poucas limitações ao ato jurídico perfeito. A exemplo tem-se a retroatividade da lei mais benéfica ao réu no direito penal e a polêmica retroatividade da Lei de Ficha Limpa, que passa a abranger os atos acometidos anteriormente a 2010. Isso se deve ao fato da ampla proteção concedida ao ato jurídico perfeito na legislação constitucional e infraconstitucional (caso do Código Civil de 2002 e Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro).
Quanto ao entendimento do STF, o ato jurídico perfeito, assim como a coisa julgada e o direito adquirido não representam repercussão geral, e, por esse motivo, de acordo com a súmula 282 “É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada.” Muito embora, porém, convoque a importância do ato jurídico perfeito em decisões diversas.
Dessa forma, finda-se este artigo com a dedução de que o ato jurídico perfeito na visão do STF não é absoluto, uma vez que há relativização quanto a pretensão específica dos possíveis indivíduos abrangidos pela desconsideração da garantia em estudo. É imprescindível ressaltar todavia, que tal relativização é sutil quando comparada às numerosas decisões proferidas pelo Supremo. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROSO, Luís Roberto, Revista de direito; Procuradoria Geral do Estado de Goiás, 21 (1-1): 55-72, jan./dez. 2001
BRASIL, Constituição Federal, 1988
BRASIL, Decreto-lei nº 4.657, de 4 de Setembro de 1942. Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro.  
BRASIL, Lei complementar nº 110, de 29 de junho de 2001. Atualização monetária de contas vinculadas ao FGTS.
BRASIL, Lei complementar nº 135, de 4 de junho de 2010. Casos de inelegibilidade. 
CONJUR, Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2017-out-04/ficha-limpa-aplicada-casos-anteriores-lei-decide-stf> . Acessado em 21 de março de 2018.
MELO FRANCO, Afonso Arinos. Curso de direito constitucional brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1960.
MORAES, Alexandre de, Jurisdição constitucional e tribunais constitucionais; garantia suprema da constituição – 2.Ed. – São Paulo : Atlas, 2003. P. 212
REALE, Miguel Reale, Lições preliminares de direito. 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
FIUZA, Cezar, Direito Civil: curso completo. 11ª. ed. Belo horizonte: Del Rey, 2008
SILVA, José Afonso da, Curso de Direito Constitucional Positivo, 18ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2000.
 
BRASIL, Supremo Tribunal Federal – Distrito Federal. Disponível em: <http://stf.jus.br/portal/jurisprudencia/pesquisarJurisprudencia.asp >. Acesso em 03 mai. 2018.

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