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ACOES AFIRMATIVAS A EFETIVIDADE DAS COTAS RACIAIS

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ 
Michelle dos Santos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AÇÕES AFIRMATIVAS: A EFETIVIDADE DAS COTAS RACIAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2010 
1 
 
Michelle dos Santos 
 
 
 
 
 
 
 
 
AÇÕES AFIRMATIVAS: A EFETIVIDADE DAS COTAS RACIAIS 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao 
Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas 
da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito 
parcial para a obtenção do grau de Bacharel em 
Direito. 
Orientador: Thaís Santi Cardoso da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2010 
2 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
Michelle dos Santos 
 
 
 
 
 
 
AÇÕES AFIRMATIVAS: A EFETIVIDADE DAS COTAS RACIAIS 
 
 
 
 
Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do grau de bacharel em Direito, 
no Curso de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná. 
 
 
 
 
Curitiba, _____ de _______________ de 2010. 
 
 
 
_______________________________________ 
 
Curso de Direito 
Universidade Tuiuti do Paraná 
 
 
 
Orientador: Profº(a) Thaís Santi Cardoso da Silva 
Curso de Direito Universidade Tuiuti do Paraná 
 
 Profº 
Curso de Direito Universidade Tuiuti do Paraná 
 Profº 
Curso de Direito Universidade Tuiuti do Paraná 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos Meus Pais, Alzira Luiza e João Batista, 
pelo amor e incentivo em todas as horas. 
 
À minha família, pela compreensão e suporte 
para a concretização deste trabalho. 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Primeiramente a Deus, não há amor maior 
que este. 
À minha Orientadora Professora Thaís Santi 
Cardoso da Silva, pela dedicação e auxílio 
na elaboração deste trabalho. 
Ao Professor Odair Moreira da Costa, pelo 
incentivo e apoio que de certa forma 
enriqueceram este estudo. 
 
 
5 
 
RESUMO 
 
O presente estudo tem como objetivo mostrar a efetividade das cotas raciais no 
Brasil, como instrumento de aplicabilidade do Princípio da Igualdade, baseando-se na 
idéia da Justiça Distributiva de Aristóteles (384-322 a.C.), na Ética a Nicômaco, livro 
quinto, cujo vinculou a idéia de igualdade à idéia de justiça: “A justiça nas transações 
entre os homens é uma espécie de igualdade, e a injustiça, a desigualdade”. 
O dispositivo legal das Ações Afirmativas encontra-se no art. 5° da Constituição 
Federal, amparado pelo Principio Geral da Igualdade. Outrossim, os incisos III e IV do 
art. 3° da Constituição trata-se dos Direitos Sociais, como expressão direta desse 
Principio, onde cabe destacar que não se trata apenas da exigência da aplicação da lei 
pelos órgãos do Estado, mas sim da efetividade do Principio da Igualdade, 
caracterizado de forma genérica como direito à igualdade material ou substancial. 
Diante disto, com o ensejo de alcançar a eficácia do princípio da igualdade 
devemos “Tratar de forma igual os iguais e de forma desigual os desiguais na medida 
das suas desigualdades (Aristóteles)”. 
 
Palavras-chave: Principio da Igualdade, Ações Afirmativas, Políticas Públicas, História 
do Afro-descendente. 
 
 
 
 
 
6 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 8 
2 AÇÕES AFIRMATIVAS................................................................................... 10 
2.1 CONCEITO DE AÇÕES AFIRMATIVAS....................................................... 10 
2.2 ORIGEM E DEFINIÇÕES DAS AÇÕES AFIRMATIVAS............................... 12 
2.3 A IMPORTÂNCIA DA FONTE DO DIREITO NORTE-AMERICANO............ 14 
2.4 O PRINCÍPIO DA IGUALDADE SOB A ÓTICA DA CONSTITUICÃO 
FEDERAL............................................................................................................ 
15 
2.4.1 O Princípio Material e as Ações Afirmativas: A Discriminação Positiva..... 18 
2.5 POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS. .................................. 21 
2.5.1 Reserva de Vagas para Deficientes........................................................... 21 
2.5.2 Cotas para Mulheres no Tribunal Superior Eleitoral.................................. 22 
3 AS AÇÕES AFIRMATIVAS NO BRASIL ....................................................... 23 
3.1 AS AÇÕES AFIRMATIVAS NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL............. 23 
4 AÇÕES AFIRMATIVAS PARA AFROS-DESCENDENTES............................ 26 
4.1 PECULIARIDADES DA REALIDADE NO BRASIL........................................ 
4.2 BREVE ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DO AFRO-DESCENDENTE NO 
BRASIL: A DÍVIDA HISTÓRICA.......................................................................... 
27 
 
29 
4.2.1 O Afro-descendente no Mercado de Trabalho........................................... 34 
4.2.2 O Afro-descendente na Mídia..................................................................... 38 
4.2.3 O Afro-descendente no Ensino Superior: O Ingresso nas Universidades 
Públicas do Brasil................................................................................................ 
39 
4.3 DEBATE ACERCA DA POLÍTICA DE COTAS PARA AFRO-
DESCENDENTES............................................................................................... 
40 
4.3.1 A política de cotas para Afros-descendentes x A miscigenação no 
Brasil.................................................................................................................... 
41 
4.3.2 A política de cotas para Afros-descendentes x A segregação racial nos 
Estados Unidos 
42 
7 
 
4.3.3 A política de cotas para Afros-descendentes x A inaplicabilidade............ 
do sistema de cotas para índios 
43 
4.3.4 A política de cotas para Afros-descendentes x A imagem profissional do 
Negro................................................................................................................... 
44 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 46 
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 48 
7 ANEXOS.......................................................................................................... 49 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A presente obra tem o fito de discutir a efetividade das ações afirmativas e seus 
mecanismos, com foco na implementação de reserva de vagas no ensino público 
superior para afros-descendentes. As Universidades é um divisor de águas em uma 
sociedade racialmente dividida, onde o critério para a incorporação também é o critério 
de exclusão social, uma vez que o ensino superior detém as maiores taxas de retorno 
para o indivíduo. Portanto, na procura de mobilidade ou ascensão social, este é o nível 
que mais influência o ciclo da pobreza. 
No Brasil está presente a falta de interesse em não inserir determinado grupo 
étnico da sociedade, estes grupos são chamados de “minorias”, mas na realidade são 
as maiorias. A não inserção dessas “minorias” se dá por conseqüência de ser 
enraizada no decorrer do século um mito chamado de democracia racial, essa 
pseudodemocracia nos dá a percepção de que “todos são iguais perante a lei”, e diante 
desta falsa percepção a sociedade silencia-se mediante aos impactos, seja estes 
flagrantes nas ruas, nos bolsões de pobrezae nos presídios. E, sobretudo no tocante 
aos mecanismos e estratégias para o combater dessas desigualdades. 
A ausência de afros-descendentes na mídia, nas universidades, nos três 
poderes, não há negros juízes, médicos, engenheiros, será a Incapacidade? Falta de 
oportunidades? Uma dívida histórica que ainda não foi paga? 
A primeira parte desta obra tratará das ações afirmativas que foi implantada de 
forma pioneira nos Estados Unidos, a implementação da política de cotas raciais no 
Brasil representará, em essência, a mudança de postura do Estado, que de forma 
polêmica recolocou em pauta debates públicos no Brasil, [...] “suscitando vigorosas 
9 
 
divergências jurídicas sobre a constitucionalidade dessas políticas públicas que 
atingiram o seu ponto mais alto com o ajuizamento de mais de duzentos mandados de 
segurança individual e de duas representações de inconstitucionalidade perante o 
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, e uma ação direta de 
inconstitucionalidade (ADI) perante o Supremo Tribunal Federal, fazendo crer que o 
Princípio da Igualdade Formal proclamado pelo ideário da Revolução Francesa há mais 
de trezentos anos continua revolucionário no Brasil” (SANTOS, Emerson e LOBATO, 
Fátima, 2003). 
Neste sentido veremos a aplicabilidade do Principio da Igualdade sob a ótica 
Constitucional e de forma adversa a Princípio da Igualdade e a discriminação positiva, 
com o objetivo de dar efetividade às políticas públicas, seja elas para deficientes físicos, 
mulheres e afros-descendentes. 
Amparada pela Constituição Federal, a pesquisa realizada apresentará de 
forma técnica, jurídica e sociológica a efetividade das ações afirmativas, com ênfase na 
política das “cotas” raciais. Trataremos a história do afro-descendente no Brasil, ou 
seja, a dívida histórica da sociedade com o povo negro, o ingresso do afro-descente no 
mercado de trabalho, na mídia e de forma eminente, nas universidades públicas. 
Outrossim, coloca-se em debate a efetividade das ações afirmativas nas 
audiências públicas realizadas nos dias 3, 4 e 5 de março deste ano, e a 
constitucionalidade da política de cotas que aguarda ser julgada pelo Supremo Tribunal 
Federal. 
 
 
 
10 
 
2 AÇÕES AFIRMATIVAS 
2.1 CONCEITOS DAS AÇÕES AFIRMATIVAS 
 
As Ações Afirmativas são medidas temporárias e especiais de políticas públicas 
inserida pelo Estado, que tem por objetivo o fito de garantir a igualdade de 
oportunidades e tratamento entre as pessoas. 
As Ações afirmativas são constituídas por mecanismos de cotização de vagas 
destinadas grupos caracterizados como minorias na sociedade. Estes grupos podem 
ser étnicos ou “raciais”, classes sociais, imigrantes, deficientes físicos, mulheres entre 
outros grupos da sociedade que exige participação de reserva de cotas, a fim de serem 
tratados de forma igual. 
Segundo o entendimento da Professora Carmen Lúcia: "Não se toma a 
expressão minoria no sentido quantitativo, senão no de qualificação jurídica dos grupos 
contemplados ou aceitos com um cabedal menor de direitos, efetivamente 
assegurados, que outros, que detêm o poder" (ROCHA, 1996, p. 87, grifos do autor). 
 Cabe-nos salientar que as ações afirmativas são mecanismos de políticas 
públicas, visando à concretização do principio constitucional da igualdade material e à 
neutralização dos efeitos de qualquer forma de discriminação. Vejamos o entendimento 
de SANTOS, Emerson e LOBATO, Fátima (2003; P.27): 
 
“Atualmente, as ações afirmativas podem ser definidas como um conjunto de 
políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou voluntário, 
concebidos com vistas ao combate à discriminação racial, de gênero, por 
deficiência física e de origem nacional, bem como para corrigir ou mitigar os 
efeitos presentes da discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a 
concretização do ideal de efetiva igualdade e de acesso a bens fundamentais 
como a educação e o emprego”. 
 
11 
 
 É útil salientar que a ação afirmativa não se trata apenas de cotas raciais para 
o ingresso do candidato afro-descendente. As leis 9.100/95 e 9.504/97 1lançaram em 
torno dessas políticas públicas a necessidade premente de se reiterar de forma efetiva 
a isonomia da matéria de gênero no País. As cotas na candidatura feminina, por 
exemplo, é apenas o primeiro passo corroborado a este entendimento. É necessário 
tempo para avaliações seguras acerca de sua eficácia, mas não dúvidas de que já há 
resultados significativos no que tange a representação feminina nas instâncias de 
poder. 
 No tocante a implementação das ações afirmativas, podem ser utilizados, além 
do sistema de cotas, o método do estabelecimento de preferências, o sistema de bônus 
e os incentivos fiscais (como instrumento de motivação do setor privado). De crucial 
importância é o uso do poder fiscal, não como mecanismo de aprofundamento da 
exclusão, como é da nossa tradição, mas como instrumento de dissuasão da 
discriminação e de emulação de comportamentos (públicos e privados) voltados à 
erradicação dos efeitos da discriminação de cunho histórico (GOMES, 2001, p. 147). 
 As políticas públicas de ações afirmativas estendem-se além das cotas raciais, 
à luz do principio da Igualdade, a legislação visa proteger os direitos de pessoas 
portadoras de deficiência física. O artigo 37, VIII, prevê expressamente a reserva de 
vagas para deficientes físicos na administração pública. Neste parâmetro a permissão 
constitucional para adoção de ações afirmativas em relação aos portadores de 
deficiência física é expressa. Segundo obra de SANTOS, Emerson e LOBATO, Fátima, 
ocorre a partir daí a iniciativa do legislador ordinário em regulamentar os dispositivos 
 
1
 A lei nº 9.100/95 que estabeleceu as regras das eleições municipais de 3 de outubro de 1996 foi 
arrojada ao definir a votação eletrônica. Foram 32% dos 101.284.121 eleitores votando pelo sistema 
eletrônico. 
12 
 
constitucionais: 
 
De fato, a Lei 8.112/90 (Regime jurídico único dos servidores públicos civis da 
União) estabelece em seu art.5º, § 2º que “as pessoas portadoras de 
deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para 
provimento”. 
 
Noutras palavras, ação afirmativa não se confunde nem se limita às cotas. A 
política de ação afirmativa não exige apenas a implementação de um percentual de 
vagas a serem preenchidas por um determinado grupo da população, mas sim de 
mecanismos que estimulem as empresas a buscarem pessoas de outro gênero e de 
grupos étnicos e raciais específicos, seja para compor seus quadros, seja em 
qualificação profissional ou em promoção. 
 
2.2 ORIGEM E DEFINIÇÕES DAS AÇÕES AFIRMATIVAS 
 
As ações afirmativas tiveram sua origem nos Estados Unidos, mas não se 
restringe apenas no país no qual teve seu início e alcançou maior visibilidade, 
tampouco as pessoas negras. Na Índia, desde a primeira constituição de 1948, 
previam-se medidas especiais de promoção dos Dalits ou Intocáveis, no parlamento 
(reserva de assentos), no ensino superior e no funcionalismo publico. Na Malásia foram 
adotadas medidas de promoção a etnia majoritária (os Buniputra) sufocada pelo poder 
econômico dos chineses e indianos. Na antiga União Soviética adotou-se uma cota de 
4% de vagas para habitantes da Sibéria na Universidade de Moscou. Em Israel adotam-
se medidas especiais para acolher os Falashas, judeus de origem etíope. Na Nigéria e 
na Alemanha há ações afirmativas para as mulheres; na Colômbia, para os (as) 
13 
 
indígenas; no Canadá, para indígenas e mulheres, além de negros (a), como medidas 
existentes na África do Sul. (SILVA, Cidinha- Ações Afirmativas; Ed.2003). 
Segundo o Ministro Marco Aurélio de Mello (Ótica Constitucional – A igualdade 
e 2as Ações Afirmativas) o artigo 3º da Constituição Federal nos dá luz suficiente ao 
agasalho de uma ação afirmativa, a percepção de que o único modo de se corrigir 
desigualdades é colocar o peso da lei, com imperatividade que ela deve ter em um 
mercado desequilibrado, a favor daquele que é discriminado, que é tratado de forma 
desigual. Nesse preceito são considerados como objetivos fundamentais da nossa 
República: primeiro, construir, preste atenção a esse verbo-uma sociedade livre, justa e 
solidária: segundo, garantir o desenvolvimento nacional-novamente temos aqui o verbo 
conduzir, não a uma atitude simplesmente estática, mas a uma posição ativa; erradicar 
a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; e por 
último, no que nos interessa, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, 
raça e sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Pode-se afirmar, 
sem receio de equívoco, que se passou de uma igualização estática, meramente 
negativa, no que se proíbe a discriminação, para uma igualização eficaz, dinâmica, já 
que os verbos “construir”, “garantir”, “erradicar” e “promover” implicam-se em si 
mudança de ótica, ao denotar “ação”. Não basta não discriminar. É preciso viabilizar e 
encontrar na Carta da República, base para fazê-lo, as mesmas oportunidades. 
 
 
 
 
O Ministro Marco Aurélio Mendes de Faria MELLO na mesma ocasião reitera: “toda e qualquer lei que 
tenha por objetivo a concretude da Constituição Federal não pode ser acoimada de inconstitucional" 
14 
 
 
2.3 A IMPORTÂNCIA DAS FONTES DO DIREITO NORTE-AMERICANO 
 
Nos países onde já foram implantadas (Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, 
Índia, Alemanha, Austrália, Nova Zelândia e Malásia, entre outros), elas visam oferecer 
aos grupos discriminados e excluídos um tratamento diferenciado para compensar as 
desvantagens devidas a sua situação de vitimas do racismo e de outras formas de 
discriminação. Resultando-se dessa forma as terminologias de “equal opportunity 
policies”, ação afirmativa, ação positiva, discriminação positiva ou políticas 
compensatórias. Nos Estados Unidos, onde foram aplicadas desde a década de 60, 
elas pretendem oferecer aos afro-americanos as chances de participar da mobilidade 
social crescente. Os empregadores foram obrigados a mudar suas práticas, moldando a 
medida de contratação, formação e promoção nas empresas visando a inclusão dos 
afro-americanos; as universidades foram obrigadas a implantar políticas de cotas e 
outras medidas favoráveis a população negra; as mídias e os órgãos publicitários foram 
obrigatórios a reservar, em seus programas, determinada porcentagem para 
participação de negros. 
Qualquer proposta de mudança em beneficio dos excluídos jamais receberia 
um apoio unânime, sobretudo quando se trata de uma sociedade racista. Nesse 
sentido, a política de ação afirmativa nos Estados Unidos tem seus defensores e seus 
detratores. Foi através dela que se deve o crescimento da classe media afro-americana, 
que hoje atinge cerca de 3 % de sua população, sua representação no Congresso 
Nacional e nas Assembléias estaduais; mais estudantes nos liceus nas universidades; 
mais advogados, professores nas universidades, inclusive nas mais conceituadas, mais 
15 
 
médicos nos grandes hospitais, e profissionais de todos os setores dos Estados Unidos. 
“Apesar das criticas contra a ação afirmativa, a experiência das últimas quatro décadas 
nos países que a implantaram não deixam duvidas sobre as mudanças alcançadas”. 
(GONCALVES e SILVA, Petronilha Beatriz e SILVERIO, Valter Roberto; Ed.2003). 
 
2.4 O PRINCÍCIO DA IGUALDADE SOB A ÓTICA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
 
 As Constituições sempre versaram, com maior ou menor ênfase sobre o tema da 
isonomia. Na Carta de 1824,3 apenas se remeteria o legislador ordinário à equidade. Na 
época, convivíamos com a escravatura, e o escravo sequer não era considerado ser 
humano. Com a entrada da República e, na Constituição de 1891, previu-se, de forma 
categórica, que todos seriam iguais perante a lei. Deste modo, foram eliminados 
privilégios decorrentes do nascimento; desconheceram-se foros da nobreza, 
extinguiram-se as ordens honoríficas e todas as regalias a elas inerentes, bem como 
títulos nobiliárquicos e de conselho. Todavia, permanecemos com uma igualdade 
simplesmente formal. 
 Na Constituição de 1934, Constituição popular, dispôs também que todos seriam 
iguais perante a lei e que não haveria privilégios nem distinções por motivos de 
nascimento, sexo, raça, profissões próprias ou dos pais, classe social, riqueza crença 
religiosa ou idéias políticas. Esta carta de 1934 mostrava um discurso apenas simbólico 
caracterizado de ingenuidade, uma vez que corroborava que no território brasileiro 
inexistia a discriminação. Sob a luz da Constituição Federal de 1937, desencadeia-se a 
 
3 As Constituições sempre versaram, com maior ou menor amplitude sobre o tema da isonomia. Desde a 
Carta de 1824 até a Constituição Federal de 1988, ocorreram mudanças significativas da efetividade do 
princípio da igualdade. 
16 
 
consolidação das leis trabalhistas, mediante a qual se vedou a diferença entre no 
tocante a remuneração por prestações de serviços, com base no sexo, nacionalidade 
ou idade. Na prática como ocorre até os dias de hoje, o homem continuou a perceber 
remuneração superior à da mulher. Promulgou-se então o Código Penal de 1940 que 
entrou em vigor em 1942, este também não foi inserido de forma eficaz a discriminação, 
pois apenas tratava de crimes contra a honra e aqueles praticados contra o sentimento 
religioso. Já a Constituição de 1946, reafirmou o princípio da igualdade, inclinando-se a 
propaganda de preconceitos de raça ou classe ou raça. Introduzindo-se então de forma 
clara, mais perceptível à repressão do preconceito. Sob a proteção dessa Carta, deu-se 
a Declaração Universal dos Direitos do Homem: “todo o homem tem capacidade para 
gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta declaração, sem distinção de 
qualquer espécie, seja cor, raça, sexo, língua, opinião pública ou de outra natureza, 
origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição”. Admitindo-
se então a verdadeira situação havida no Brasil, em relação ao problema. 
 No Brasil, a primeira lei penal sobre a discriminação surgiu em 1951, com dois 
mentores: Afonso Arinos e Gilberto Freire. Só então foi reconhecida a discriminação no 
Brasil. E foi sintomática a justificativa dessa lei, a qual apontava revelações de racismo 
que vinha acontecendo em carreiras civis, como a da diplomacia, e em militares 
especialmente Marinha e a Aeronáutica. Ressaltou-se que cumpre ao Estado a adotar 
uma postura que sirva de norte, que sinalize ao cidadão comum. E como será que o 
Judiciário atuou diante desse dilema? Enquadrou a discriminação no tocante a raça ou 
cor, como uma contravenção penal e não crime, mostrando-se excessivamente 
escrupuloso construindo uma jurisprudência segundo a qual era necessária prova, pelo 
ofendido do especial motivo de agir da parte contrária: Resultado prático: 
17 
 
pouquíssimas condenações , sob o ângulo da simples contravenção ocorrem. Afonso 
Arinos insere uma crítica a Folha de São Paulo, em 8 de junho de 1980: “... a lei 
funciona, vamos dizer, à brasileira, através de uma conotação mais do tipo sociológico, 
do que a rigor jurídico...” Em 1964 o Brasil veio a subscrever a Convenção nº 111 da 
OrganizaçãoInternacional do Trabalho, que teve a virtude de definir em si, o que se 
estende como discriminação: “ Toda distinção,exclusão ou preferência , com base em 
raça, cor, sexo, religião , opinião pública, nacionalidade ou origem social, que tenha 
efeito de anular a igualdade de oportunidade ou de tratamento em emprego ou 
profissão.” Na Constituição Federal de 1967 não se inovou, permaneceu a vala da 
igualdade simplesmente formal, dispondo-se então que “todos são iguais perante a lei..” 
Previu-se no entanto, que o preconceito de raça seria punido pela lei, e nesse ponto, 
talvez, tenha-se dado um passo a mais ao empresta-se estatura maior, 
constitucionalizando –se portanto à punição do preconceito. A Constituição Federal de 
1988 evidencia o princípio da igualdade formal, não por deficiência de seu respectivo 
conteúdo, mas pela ausência de vontade pública de implementá-la, adotou-se pela 
primeira vez preâmbulo, o que é sintomático, sinalizando uma nova direção, uma 
mudança de postura, no que revela a “nós” todos, e não apenas os constituintes, uma 
vez que agiram em nosso nome: “representantes do povo brasileiro (...) instituir um 
Estado Democrático de Direito destinado a assegurar o exercício de direitos sociais e 
individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a 
justiça...”. 
 
 
 
18 
 
2.4.1 O Princípio Material e as Ações Afirmativas: A Discriminação Positiva 
A dimensão positiva do principio da Igualdade encontra sustentação em três 
espécies de regras constitucionais. A primeira, de teor rigorosamente igualitarista, de 
alta densidade semântica, atribui ao Estado o dever de abolir a marginalização e as 
desigualdades, destacando-se entre outras: 
 
Art 3°, III - erradicar a (...) marginalização e reduzir as desigualdades sociais 
(...) 
Art 23°, X combater os fatores da marginalização; 
Art 170°, VIII- redução das desigualdades (...) sociais;(...) 
 
Já uma segunda espécie de regras fixa textualmente prestações positivas 
destinadas à promoção e integração dos segmentos desfavorecidos, merecendo realce: 
 
Art 3° , IV- promover o bem de todos , sem preconceitos de origem, raça, sexo, 
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação; 
(...) 
Art 23, X- combater as causas da pobreza e os fatores da marginalização, 
promovendo a integração social dos setores desfavorecidos; 
(...) 
Art.227, II- criação de programas (...) de integração social dos adolescentes 
portadores de deficiências;(...) 
 
 
Deste modo, a Constituição de 1988 e seus desdobramentos 
infraconstitucionais passaram a prescrever uma nova modalidade de discriminação, 
discriminação justa, positiva, o que resultou em um alargamento substantivo do 
conteúdo semântico do princípio da igualdade, bem como na ampliação objetiva das 
obrigações estatais em face do tema. 
 
Reside no próprio Texto Constitucional, insistimos, o critério distintivo da 
19 
 
discriminação disciplinada pela Constituição Federal: uma contrária e a outra conforme 
o princípio da igualdade, de modo que, não sendo atentatória dos direitos e liberdades 
fundamentais, a discriminação é plenamente admitida no sistema jurídico brasileiro. 
Neste sentido Clèmerson Merlin CLÈVE em artigo publicado na Revista On-line A & C 
assevera que, é garantido o esteio constitucional às políticas de ações afirmativas, pois, 
hodiernamente, o princípio da igualdade assume uma função bem diferente daquela 
concebida nos séculos XVII e XVIII, de uma garantia negativa para uma garantia 
positiva – sempre, do Estado p/ o cidadão, vejamos: 
 
(...) “não há dúvida de que a Constituição de 1988 acolheu a transformação do 
princípio da igualdade, ou seja, a passagem de um conceito constitucional 
estático e negativo a um conceito dinâmico e positivo. Assim, o princípio 
constitucional da igualdade não representa mais um dever social negativo a um 
conceito dinâmico e positivo. Assim, o princípio constitucional da igualdade 
não representa mais um dever negativo, mas sim uma obrigação positiva, 
cuja expressão democrática mais atualizada é a ação afirmativa”. [no 
original sem grifos]4 
 
Conforme preceitua o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Benedito 
Barbosa, as ações afirmativas “consistem em políticas públicas (e também privadas) 
voltadas à concretização do Principio Constitucional da Igualdade Material e a 
neutralização dos efeitos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem 
nacional e de compleição física. Impostos ou sugeridas pelo Estado, por seus entes 
vinculados e ate mesmo por entidades puramente privadas, elas visam a combater não 
somente as manifestações flagrantes de discriminações de fundo cultural, estrutural, 
enraizada na sociedade”. (GOMES; Ed.2001) 
 
4 Revista de Direito Administrativo & Constitucional, v.3, n.11, p.29-35, jan./mar. 2003. 
20 
 
 
 
 
Neste sentido, conceitua J. J. GOMES CANOTILHO: 
 
"Ser igual perante a lei não significa apenas aplicação igual da lei. A lei, ela 
própria, deve tratar por igual todos os cidadãos. O princípio da igualdade dirige-
se ao próprio legislador, vinculando-o à criação de um direito igual para todos 
os cidadãos". 
 
Assim sendo, o direito fundamental à igualdade que nos menciona o art. 5º, 
caput, I -, calcado no princípio da igualdade, terá de ser tutelado de modo que sua 
violação, em princípio, implicará na inconstitucionalidade do dispositivo normativo. 
Não obstante, o tema comporta uma visão mais aprofundada do que se 
entende por igualdade. Discorrendo sobre a igualdade na Constituição portuguesa de 
1976 e abordando a igualdade relacional, J. J. GOMES CANOTILHO, assevera: 
 
"Exige-se uma igualdade material através da lei, devendo tratar-se por ‘igual 
o que é igual e desigualmente o que é desigual’. Diferentemente da estrutura 
lógica formal de identidade, a igualdade pressupõe diferenciações. A igualdade 
designa uma relação entre diversas pessoas e coisas". (grifos do original). 
 
 
 
21 
 
2.5 POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS 
 
No Brasil têm-se implantado diversas formas de políticas públicas, com o 
objetivo de erradicar desigualdades existentes na sociedade, são sistemas de cotas 
para deficientes, mulheres e de gênero, estendendo-se até o PROUNI, com a finalidade 
de inserir o estudante que não possui condições econômicas, a concorrer a uma bolsa 
para universidade, baseando-se no principio da promoção da igualdade. 
Consoante ao artigo 7º, inciso XX, ao cogitar da proteção do mercado quanto à 
mulher e ao direcionar a introdução de incentivos; no artigo 37, inciso III, ao versar 
sobre a reserva de vagas, portanto, a existência de quotas nos concursos públicos, 
para os deficientes; no artigo 170, ao dispor sobre as empresas de pequeno porte, 
prevendo que devem ter tratamento preferencial. 
2.5.1 Reserva de Vagas para Deficientes 
A lei nº 8.112/90 fixa a reserva de 20% das vagas, nos concursos públicos, para 
os deficientes físicos. O objetivo da lei é fomentar a oportunidade de trabalho para os 
deficientes físicos, ela trata de forma simplista um problema bastante complexo, qual 
seja a falta de qualificação dos trabalhadores no mercado e, conseqüentemente, a 
impossibilidade de cumprimento das cotas pelas empresas. O resultado é a aplicação 
de multas que variam entre R$ 1.195,13 a R$ 119.512,33. Segundo as próprias 
empresas e o Ministério do Trabalho, a dificuldade para o preenchimento das vagas 
está na qualificação dos candidatos. Dados apresentados pelo Sistema Nacional de 
Emprego (Sine) apontam que em todo o Brasil, durante o ano de 2007, foram 
disponibilizadas 36.837 vagas. Destas,apenas 7.206 (20%) foram preenchidas. No 
22 
 
Estado de São Paulo, apenas 2.122 (11%) foram preenchidas, contra as 19.104 vagas 
oferecidas.5 
 2.5.2 Cotas para Mulheres no Tribunal Superior Eleitoral 
A discriminação de gênero, fruto de uma longa tradição patriarcal que não 
conhece limites geográficos, tampouco culturais, é do conhecimento de todos os 
brasileiros. 
A Constituição 1988, art. 5°, I, não apenas aboliu essa discriminação 
chancelada pelas leis, mas também, através dos diversos dispositivos 
antidiscriminatórios já mencionados antes, permitiu que buscassem mecanismos aptos 
a promover a igualdade entre homens e mulheres. 
A Lei 9.100/95 expressamente instituiu o percentual mínimo de 20% de 
mulheres candidatas nas eleições de 1996, com o objetivo de aumentar a 
representação das mulheres nas instâncias de poder. Posteriormente, a Lei nº 9.504/97 
aumentou o percentual para 30% (ficando definido um mínimo de 25% transitoriamente 
em 1998). 
Assim para minimizar essa flagrante desigualdade existente em detrimento das 
mulheres a modalidade de ação afirmativa, hoje corporificada nas Leis Eleitoral nº 
9.100/95 e 9.504/97, no que dispõe sobre a participação da mulher, não como simples 
eleitora, o que foi conquistado na década de 30, mas como candidata. Há muito tempo 
entidades engajadas na defesa dos direitos das mulheres reclamam o cumprimento da 
cota. Embora formem a maioria do eleitorado, as mulheres ocupam menos de 10% das 
 
5
 Embora o objetivo da lei seja fomentar a oportunidade de trabalho para os deficientes físicos, ela trata 
de forma simplista um problema bastante complexo, qual seja a falta de qualificação dos trabalhadores 
no mercado e conseqüentemente, a impossibilidade de cumprimento das cotas pelas empresas. Texto 
extraído da Revista Deficiente On-line, 2010. 
23 
 
cadeiras do Congresso, percentual muito inferior ao registrado em países da Europa e 
da América do Norte ou mesmo em nações vizinhas, como Argentina, e africanas, como 
Moçambique. 
A Lei 9.100/95 e 9.504/97 tiveram a virtude de lançar o debate em torno das 
ações afirmativas e, sobretudo, de tornar evidente a necessidade premente de se 
implementar de maneira efetiva a isonomia em matéria de gênero em nosso país. 
 
3 AS AÇÕES AFIRMATIVAS NO BRASIL 
3.1 AS AÇÕES AFIRMATIVAS NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
 
A implantação das cotas a determinados grupos étnicos ou sociais às 
universidades ou cargos públicos culminou em grande repercussão nacional, o Superior 
Tribunal de Justiça enfrentou a temática das ações afirmativas em dois julgados. Dentre 
os acórdãos (REsp 1.132.436/PR), entendeu-se constitucional o ingresso, mediante 
cotas, às vagas destinadas aos estudantes de universidades; em outra decisão, fixou-
se a constitucionalidade de lei estadual, prevendo a reserva de cargos para afro-
descendentes. 
No Supremo Tribunal Federal, ainda não existe uma decisão conclusiva sobre o 
tema. Contudo, em breve, ele será analisado na Arguição de Descumprimento de 
Preceito Fundamental (ADPF) 186, proposta pelo partido Democratas, que questiona a 
criação de cotas para negros na Universidade de Brasília (UnB). Da mesma forma, o 
assunto encontra-se sub judice no Recurso Extraordinário nº 597285, que questiona a 
24 
 
reserva de vagas para estudantes do ensino público e estudantes negros adotada 
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 
Audiências públicas foram designadas e discutidas nos dias 03, 04 e 05 de 
março nela 42 debatedores favoráveis e contrários ao benefício discutiram o tema com 
o objetivo de apresentar subsídios aos ministros do Supremo que vão julgar uma ação 
do partido Democratas que contesta a política na Universidade de Brasília (UnB). 
O ministro do STF Ricardo Lewandowski, destaca a contribuição decisiva sobre 
os votos dos 11 Ministros da Suprema Corte: “Fiquei extremamente bem impressionado 
com o alto nível e a qualidade dos debates. Tanto aqueles que foram favoráveis quanto 
aqueles que falaram contra as cotas, apresentaram intervenções muito substantivas, 
que eu tenho certeza que contribuirão para que os ministros dessa Corte façam um 
juízo mais abalizado no julgamento”. 
O ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, observou a efetividade das cotas 
raciais no Brasil: “Vai oferecer uma perspectiva de futuro para uma parcela expressiva 
de nosso povo, de jovens negros que sonham com a universidade. Cabe ao Estado 
assegurar isso à população”. 
 
 
 
 
25 
 
Vejamos as decisões do STJ sobre o tema: 
 
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO 
PÚBLICO. ANULAÇÃO DO CERTAME. DESCUMPRIMENTO DE LEI 
ESTADUAL. RESERVA DE VAGAS PARA AFRO-DESCENDENTES. 
CONSTITUCIONALIDADE. IMPOSSIBILIDADE DE A AUTONOMIA 
UNIVERSITÁRIA SOBREPOR-SE À LEI. INEXISTÊNCIA DE DIREITO 
LÍQUIDO E CERTO. RECURSO DESPROVIDO. 1. A reparação ou 
compensação dos fatores de desigualdade factual com medidas de 
superioridade jurídica constitui política de ação afirmativa que se inscreve nos 
quadros da sociedade fraterna que se lê desde o preâmbulo da Constituição de 
1988. 2. A Lei Estadual que prevê a reserva de vagas para afro-descendentes 
em concurso público está de acordo com a ordem constitucional vigente. 3. As 
Universidades Públicas possuem autonomia suficiente para gerir seu pessoal, 
bem como o próprio patrimônio financeiro. O exercício dessa autonomia não 
pode, contudo, sobrepor-se ao quanto dispõem a Constituição e as Leis. 4. A 
existência de outras ilegalidades no certame justifica, in casu, a anulação do 
concurso, restando prejudicada a alegação de que as vagas reservadas a afro-
descendentes sequer foram ocupadas. Recurso desprovido. (RMS 26.089/PR, 
Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 22/04/2008, DJe 
12/05/2008) 
ADMINISTRATIVO – AÇÕES AFIRMATIVAS – POLÍTICA DE COTAS – 
AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA – ART. 53 DA LEI N. 9.394⁄96 – 
INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO INC. II DO ART. 535 DO CPC – 
PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO – MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL 
EM FACE DE DESCRIÇÃO GENÉRICA DO ART. 207 DA CF⁄88 – 
DEFINIÇÃODE POLÍTICAS PÚBLICAS DE REPARAÇÃO – 
CONVENÇÃOINTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS 
AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL – DECRETO N. 65.810⁄69 – 
PROCESSO SELETIVO DE INGRESSO – FIXAÇÃO DE CRITÉRIOS 
OBJETIVOS LEGAIS, PROPORCIONAIS E RAZOÁVEIS PARA 
CONCORRER A VAGAS RESERVADAS – IMPOSSIBILIDADE DO PODER 
JUDICIÁRIO CRIAR EXCEÇÕES SUBJETIVAS – OBSERVÂNCIA 
COMPULSÓRIA DO PRINCÍPIODA SEGURANÇA JURÍDICA. 1. A oposição 
de embargos declaratórios deve acolhida quando o pronunciamento judicial 
padecer de ambiguidade, de obscuridade, de contradição, de omissão ou de 
erro material, os quais inexistem neste caso. Não há, portanto, violação do art. 
535 do CPC. 2. Admite-se o prequestionamento implícito, configurado quando a 
tese jurídica defendida pela parte é debatida no acórdão recorrido. 3. A 
Constituição Federal veicula genericamente os contornos jurídicos de diversos 
institutos e conceitos, deixando, na maioria das vezes, o seu trato específico 
para as normas infraconstitucionais. O assento constitucional de um instituto ou 
conceito, sem detalhamentos e desdobramentos, não afasta a competência 
desta Corte quando a Lei Federal disciplina imperativos específicos. 4. Ações 
afirmativas são medidas especiais tomadas com o objetivo de assegurar 
progresso adequado de certos grupos raciais, sociais ou étnicos ou indivíduos 
que necessitem de proteção, e que possam ser necessárias e úteis para 
proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de direitos 
humanos e liberdades fundamentais, contanto que, tais medidas não 
conduzam, em consequência, à manutenção de direitos separadospara 
26 
 
diferentes gruposraciais, e não prossigam após terem sido alcançados os seus 
objetivos. 5. A possibilidade de adoção de ações afirmativas tem amparo nos 
arts. 3º e 5º, ambos da Constituição Federal⁄88 e nas normas da Convenção 
Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
Racial, integrada ao nosso ordenamento jurídico pelo Decreto n. 65.810⁄69. 6. 
A forma de implementação de ações afirmativas no seio de universidade e, no 
presente caso, as normas objetivas de acesso às vagas destinadas a tal política 
pública fazem parte da autonomia específica trazida pelo artigo 53 da Lei n. 
9.394⁄96, desde que observados os princípios da razoabilidade e da 
proporcionalidade. Portanto, somente em casos extremos a sua autonomia 
poderá ser mitigada pelo Poder Judiciário, o que não se verifica nos presentes 
autos. 7. O ingresso na instituição de ensino como discente é regulamentado 
basicamente pelas normas jurídicas internas das universidades, logo a fixação 
de cotas para indivíduos pertencentes a grupos étnicos, sociais e raciais 
afastados compulsoriamente do progresso e do desenvolvimento, na forma do 
artigo 3º da Constituição Federal⁄88 e da Convenção Internacional sobre a 
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, faz parte, ao menos – 
considerando o nosso ordenamento jurídico atual – da autonomia universitária 
para dispor doprocesso seletivo vestibular. 8. A expressão “tenham realizado o 
ensino fundamental e médio exclusivamente em escola pública no 
Brasil”, critério objetivo escolhido pela UFPR no seu edital de processo 
seletivo vestibular, não comporta exceção sob pena de inviabilização do 
sistema de cotas proposto. Recurso especial provido em parte. (RECURSO 
ESPECIAL Nº 1.132.476 – PR, Relator: Humberto Martins, Informativo STJ 
411). 
 
4 ACOES AFIRMATIVAS PARA AFRO-DESCENDENTES 
 
 As ações afirmativas para Afros-descendentes se trata de mecanismos com o 
foco na implantação de medidas para inserção do negro na sociedade, sendo uma das 
principais estratégias dos movimentos negros na luta para superação do racismo e das 
dificuldades objetivas enfrentadas pelos afros-descendentes no Brasil. 
As ações afirmativas não se restringe a educação. O senador Paulo Paim 
(PT/RS) e autor de um projeto de lei que prevê uma cota de 25% de afros-
descendentes nos programas de TV e de 40% nas publicidades. 
O tema das ações afirmativas está na ordem do dia e essa publicação dá conta 
de experiências no âmbito das mesmas, construídas com base no diagnóstico da 
situação dos alunos negros na educação, no conhecimento de estigmas que marcam 
27 
 
relação aluno negro /escola professor em prejuízo deste, ao perpetuar, pelo tratamento 
desigual, a indigência cultural e educacional a que estão expostos os segmentos 
empobrecidos da população. Desse diagnóstico resulta a formulação de procedimentos 
passíveis de serem apropriados por educadores e gestores públicos interessados no 
avanço da implantação das ações afirmativas para Afros-descendentes no 
Brasil.(Carneiro, Sueli-Geledés; Ed. 2003). 
 
4.1 PECULIARIDADES DA REALIDADE DO BRASIL 
 
As experiências feitas pelos países que convivem com o racismo poderiam 
servir de inspiração ao Brasil, respeitando as peculiaridades culturais e históricas do 
racismo a moda nacional. Estudos acadêmicos recentes, qualitativos e quantitativos, 
realizados pelas instituições respeitadíssimas como o IBGE e o IPEA, não deixam 
duvida sobre a gravidade de exclusão do negro. Fazendo um cruzamento sistemático 
entre a pertença racial e os indicadores econômicos de renda, emprego, escolaridade, 
classe social, idade, situação familiar e região ao longo de mais de 70 anos desde 
1929. (GONCALVES e SILVA, Petronilha Beatriz e SILVERIO, Valter Roberto; 
Ed.2003). 
 Ricardo Henriques chega à conclusão de que “no Brasil, a condição racial 
constitui um fator de privilegio para brancos e de exclusão e desvantagem para os não-
brancos. Algumas cifras assustam quem tem preocupação social aguçada e 
compromisso com a busca de igualdade e equidade nas sociedades humanas” 
(Henriques, Ed.2001). 
 
28 
 
- Do total dos universitários brasileiros, 97% são brancos, sobre 2% de 
negros e 1 % de descendentes orientais. 
- Sobre 22 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, 70 
% deles são negros. 
- Sobre 53 milhões de brasileiros que vivem na pobreza, 63% deles são 
negros. (Henriques, Ed.2001). 
 
 A questão fundamental exposta é como aumentar o contingente negro no 
ensino universitário e superior de modo geral, tirando-o da situação de 2% em que se 
encontra depois de 114 anos de abolição em relação ao contingente branco que, 
sozinho, representa 97 % de brasileiros universitários. E justamente na busca de 
ferramentas e de instrumentos apropriados para acelerar o processo de mudança 
desse quadro injusto em que se encontra a população negra que se coloca a proposta 
das cotas apenas como um instrumento ou caminho, entre tantos a serem 
incrementados. 
O art. 52 do Estatuto da Igualdade racial “Capítulo VII – Do sistema de cotas” 
dispõe: 
 
 
“Art. 52º. Fica estabelecida a cota mínima de vinte por cento para a população 
afro-brasileira no preenchimento das vagas relativas: 
I- aos concursos para investidura em cargos públicos na administração 
pública federal, estadual, distrital e municipal, direta e indireta; 
II- aos cursos de graduação em todas as instituições de educação superior 
do território nacional; 
III- aos contratos do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino 
Superior (FIES). 
 
Com o plano das normas infraconstitucionais, destaca-se entre outras a Lei n° 
10.678, de 23 de maio de 2003, que cria a Secretaria Especial de Políticas de 
Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da República. Dessa forma a 
Constituição de 1988 e seus desdobramentos infraconstitucionais passaram a 
prescrever uma nova modalidade de discriminação, a discriminação justa, o que 
resultou num alargamento substantivo do conteúdo semântico do principio da 
29 
 
igualdade, bem como na ampliação objetiva das obrigações estatais em face do tema. 
O que se discute não é a cota, mas sim o ingresso e a permanência dos negros 
nas universidades públicas, no mercado de trabalho e em posições jamais encontradas 
na pirâmide social. A cota é apenas um instrumento, é uma medida emergencial 
enquanto buscam-se outros caminhos. 
 
4.2 BREVE ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DO AFRO-DESCENDENTE NO BRASIL: 
A DÍVIDA HISTÓRICA 
 
O afro-descendente no Brasil traz em suas raízes um esquecido passado 
marcado por um desvinculo do homem afro-descendente de sua origem africana, uma 
condição de escravo e o estigma de ser um objeto de uso como instrumento do 
trabalho. Durante o período da escravidão povos africanos trazidos para o Brasil, 
perderam suas raízes, e conseqüentemente sua identidade. A maior forma de tirar a 
identidade do ser humano é retirando-o de si suas origens. Quando os escravos 
chegaram ao Brasil, passaram por um processo de “batismo“ imposto pela igreja 
católica, então nomes e sobrenomes africanos que faziam a ligação ao seu passado, 
foram trocados por nomes de santos, de forma clara podemos ver até os dias de hoje 
muitos nomes e sobrenomes semelhantes em nossa sociedade. O processo de 
negação da importância dos elementos da cultura africana impõe aos afros-
descendentes uma desvalorização pessoal e desenvolve mecanismos de exclusão da 
população afro-descendente por parte do grupo considerado igual. 
 No Brasil, constatamos uma expressiva presença demográfica de afros-
descendentes conforme o último senso, na população brasileira, uma porcentagem 
30 
 
significantede pessoas de origem africana. Entretanto, como o brasileiro esteve 
submetido a uma “ideologia do embranquecimento”, muitas pessoas cuja forma física 
contém traços que caracterizam o afro-descendente, negam tais características, ao 
responderem o recenseamento, de forma a não refletir, de forma veemente o perfil 
etno-racial do brasileiro, isto nos permite constatar ser o índice bem superior ao 
apresentado nas pesquisas. Cabe-nos salientar que uma das grandes ironias nacionais 
é o fato de os afros-descendentes serem discriminados como “minoria” quando na 
verdade, constituem um grupo cujo número atinge quase ou mais da metade da 
população brasileira. 
Os valores ancestrais africanos, incluídos no processo de desenvolvimento dos 
países que receberam povos vindos da África, passaram a participar de sua 
constituição sociocultural. A cultura negra nas Américas foi determinante na cosmovisão 
desenvolvida nesses países a partir de três grandes fenômenos: a vinda dos europeus, 
o genocídio das populações africanas. O imaginário coletivo desenvolvido em países 
formados por uma pluralidade de grupos étnicos, como é o caso do Brasil, é 
compartilhado evidentemente, por todos os integrantes da sociedade. O 
desenvolvimento da identidade do brasileiro está absolutamente condicionado à 
participação dos africanos na vida brasileira e sua sabedoria está presente nas 
manifestações culturais nos gestos e nas relações. “Assim, os valores africanos 
preservados ao longo da sucessão de gerações, mostram-se tacitamente ativos e 
constituintes do processo da formação da cidadania”. (Ribeiro, R.I. Alma africana no 
Brasil. Os oirubás. São Paulo, Oduduwa,1996) 
Em 1941, M. Herskovits, autor de vários trabalhos sobre a cultura afro-
americana, publicou The myth of the negro past. Declarava logo a intenção de contribuir 
31 
 
para "melhorar a situação inter-racial" nos EUA, realizando pesquisas sobre a cultura de 
origem africana nesse país. Construía, assim, livro para ajudar a compreender a história 
do negro, contrapondo-se a cinco "mitos" então vigentes. Primeiro, que os negros, 
como crianças, reagem pacificamente a "situações sociais não satisfatórias"; segundo, 
que apenas os africanos mais fracos foram capturados, tendo os mais inteligentes 
fugido com êxito; terceiro, que os escravos, como provinham de todas as regiões da 
África, falavam diversas línguas, vinham de culturas variadas e tinham sido dispersos 
pelo país, não conseguiram estabelecer um "denominador cultural" comum; quarto, que, 
embora negros da mesma origem tribal conseguissem, às vezes, manter-se juntos nos 
EUA, não conseguiam manter a sua cultura porque esta era inferior à dos seus 
senhores; quinto, que "o negro é assim um homem sem um passado". (Texto Extraído 
da Internet, Revista Fapesp, 2004) 
Neste sentido Edison Carneiro, no artigo “Nina Rodrigues”, escrito em 1956 
reitera a obra do autor de Africanos no Brasil, por esta ter proposto uma forma 
comparativa para o estudo do comportamento do negro no Brasil e na África. Edison 
Carneiro e Arthur Ramos dão continuidade a este método, sendo citado a seguir por 
Edison Carneiro: 
 
“Línguas, religiões e folclore eram elementos dessa comparação a que a 
história dava a perspectiva final. Deste modo ganhou o negro sua verdadeira 
importância em face da sociedade brasileira”.6 
 
6
 Compare o último período da citação de Edison Carneiro com esta citação de Herskovits, "E o negro 
americano, ao descobrir que tem um passado, adquire uma segurança maior de que terá um futuro”, e 
ter-se-á uma medida objetiva de quanto os propósitos político-intelectuais desses autores eram 
coincidentes, levando-se em conta, é claro, as diferenças entre a sociedade americana e a sociedade 
brasileira. 
 
32 
 
 
Trata-se, portanto de reencontrar a história do negro pela via da valorização de 
sua cultura, na África e no país de destino, fazendo-o no Brasil, ou onde quer que 
fosse, usufruindo-se de dignidade e da distinção que o passaporte dos ritos, das 
línguas, da complexidade cultural de suas origens lhe conferia. 
O Brasil, em relação às outras nações americanas, foi o último país a escravizar 
o maior número de africanos e foi o último país do mundo cristão a abolir a escravidão, 
em 1888. Apesar desses dados, entre 1900 e 1950, o Brasil cultivou, com sucesso, 
uma imagem de si mesmo como a primeira “democracia racial” do mundo, sendo a 
convivência entre brancos e negros colocada como harmoniosa e igualitária. Essa 
concepção, tornada discurso oficial, é, na verdade, um mito, hoje questionado pelos 
brasileiros. (Ricardo Franklin Ferreira-Afro-descendente: Identidade em Construção). 
Neste entendimento, a democracia racial instaura-se como um ideal político e 
social programático, coincidindo com a tendente redemocratização do país em 1945, e 
também com o fim da 2º Segunda Guerra Mundial, culminando em um desenvolvimento 
no campo educacional, cultural e até mesmo psicanalítico, como por exemplo, o Teatro 
Experimental do Negro, no Rio de Janeiro, que visa a reforçar o sentimento do orgulho 
e da distinção em ser negro, contribuindo para capacitá-lo a enfrentar seu pior inimigo 
na sociedade, o preconceito racial. O Brasil difere de outros lugares, como o Sul dos 
Estados Unidos e a África do Sul, onde a discriminação foi prescrita por lei. Por outro 
lado, atrás desta democracia encontra-se um racismo que não é explicito, o que nos dá 
uma falsa impressão de democracia racial, mas que na realidade esconde um 
preconceito enraizado desde o inicio do século XX pela sociedade, resultando em uma 
dificuldade maior em combater a discriminação racial. 
33 
 
O Ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa afirma: "Em países 
como o Brasil, onde a discriminação é velada, dissimulada, não assumida, isso tem um 
efeito devastador nas políticas anti-discriminatórias adotadas, contribuindo para a 
estigmatização daquelas poucas pessoas que ousam desafiar o status quo e que se 
vêem conseqüentemente isoladas e impotentes." (GOMES; Ed. 2001). 
Cabe-nos constatar que de outro modo, os países onde a segregação de 
brancos e negros se apresentou de forma clara, com a institucionalização da 
discriminação nos EUA e África do Sul, um grande número de pessoas foi incentivada a 
se mobilizar contra a proliferação do racismo, visando ter seus direitos civis amparados, 
levando o povo negro a lutar contra desigualdade e a desenvolver um mecanismo de 
defesa contra esta condição. 
Com o ensejo de buscar a eficácia dos direitos civis norte-americanos, em 
1988, no ano centenário da Abolição da Escravatura, foi promulgada a nova 
Constituição da República Federativa do Brasil. Nela, em decorrência das lutas pelos 
direitos civis dos negros, ficou consagrado, no Título II – Dos direitos e garantias 
fundamentais-, “Capítulo I – Dos direitos e deveres individuais e coletivos; Artigo 5º- 
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, a 
liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade, nos termos seguintes: 
 
Artigo 5º, XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e 
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos de lei. 
 
A regulamentação desse parágrafo veio em seguida pela lei nº 7716, de 5 de 
janeiro de 1989, modificada pela lei nº 008882 de 3 de junho de 1994 e novamente 
34 
 
modificada pela lei nº 9459, que acrescentou também ao Artigo 140 do Código Penal 
relativo ao crime de injúria por utilização de elementos referentes a raça, cor , etnia, 
religião ou origem”, determinandopena de “ reclusão de um a três anos e multa”. 
Os avanços mostrados nos remetem a uma eminente reconstrução da história do afro-
descendente, o próximo passo seria a implantação das ações afirmativas, cujo modelo 
poderia ser buscado nos EUA nos anos de 1960 e recentemente no governo de Nelson 
Mandela, na África do Sul. 
4.2.1 O Afro-descendente no Mercado de Trabalho 
Nos anos de 1920, as próprias organizações negras refletiam a visão de que o 
principal problema da população afro-descendente no Brasil estava nela mesma, 
consoante as condições precárias de sua educação formal, a fraqueza das 
organizações em si mesmas e a conseqüente falta de habilidade para concorrer às 
disputas no mercado de trabalho, tudo isto com a constante luta do preconceito da cor, 
que dificultava e obstruía a integração social e discriminava o negro pela cor na 
sociedade. 
São palavras de um trecho transcrito do editorial “Ironia de um congresso”, do 
Jornal Folha da Manhã (atual Folha de S. Paulo), publicado no domingo, 12 de fevereiro 
de 1930: 
“Continua o nosso reacionário: Por que motivo os negros, em grande maioria, 
moram nos cortiços? A resposta asseguro-lhe, é muito fácil: a pouca valia que 
imprimem aos seus trabalhos; a pouca ou nenhuma cultura e a acentuada 
dolência dos seus passos; a inércia e a falta de vontade e iniciativa para uma 
reação na trilha do progresso, são as causas principais que obrigam os negros 
às misérias do cortiço”.7 
 
7 O trecho transcrito faz parte do editorial "Ironia de um congresso", do jornal Folha da Manhã (atual 
Folha de S.Paulo), publicado num domingo, 12 de janeiro de 1930. Trata-se de uma crítica ao movimento 
da Mocidade Negra, uma das manifestações características da época. Para Ferreira, a imagem negativa 
do negro é uma questão histórica e cultural. "Após a abolição, os negros foram jogados para fora do 
mercado de trabalho e passaram de escravos para desempregados, ociosos, inferiores. Nossa cultura 
construiu o negro numa condição submissa". 
35 
 
 
Recentemente as estatísticas apontaram um déficit do número de negros 
inseridos no mercado de trabalho, a taxa de desemprego entre negros em São Paulo, é 
40% maior que entre brancos, desmistificando assim uma sociedade que impõe uma 
barreira parcial e desfavorável para o ingresso do afro-descendente no mercado de 
trabalho. No sentido cognitivo, o afro-descendente que almeja preencher determinada 
vaga precisa ser superior aos demais candidato, seja por escolaridade, habilidade ou 
domínio em outras línguas, podendo ainda assim correr o risco de ao ser avaliado no 
critério “perfil” ser desaprovado para o corporativo da empresa. 
Pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam 
uma precária inserção do negro no mercado de trabalho, se compararmos com os não-
negros na ocupação em diferentes postos e em salários. Vejamos a porcentagem de 
desemprego e de rendimento mensal nas tabelas a seguir: 
Tabela 1 - Taxas de desemprego total, por sexo e cor 
Regiões metropolitanas do Brasil – 2002 
Negros Não-Negros Regiões 
Metropolitanas 
Total Mulheres Homens Total Mulheres Homens 
Belo Horizonte 19,9 22,4 17,9 16,1 19,9 12,8 
Distrito 
Federal 
23,0 25,2 21,0 17,2 21,2 13,3 
Porto Alegre 22,7 24,7 20,8 14,9 17,9 12,5 
Recife 22,4 25,8 19,8 19,1 23,3 15,3 
Salvador 29,0 32,0 26,2 19,9 21,9 17,9 
São Paulo 23,9 27,4 21,0 16,7 20,1 14,0 
Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. 
PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego Elaboração: DIEESE 
36 
 
Obs.: (a) Dados com base na média do período de janeiro a junho de 2002 
(b) Negros inclui pretos e pardos. Não-negros inclui brancos e amarelos 
(Tabela extraída pela Internet, Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios 
regionais,PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego Elaboração: DIEESE) 
 
 
Tabela 2 - Distribuição das famílias por classe 
de rendimento médio mensal familiar per capita, 
segundo a cor do chefe (em %) 
Brasil - 1999 
Famílias segundo a cor 
do chefe Classes de 
Rendimento 
Branca Preta Parda 
Até ½ salário 
mínimo 
12,7 26,2 30,4 
Mais de ½ salário 
mínimo 
20,0 28,6 27,7 
Mais de 1 a 3 
salários mínimos 
37,3 31,1 27,7 
Mais 3 a 5 
salários mínimos 
11,1 4,3 4,4 
Mais de 5 
salários mínimos 
14,1 3,4 3,2 
(Tabela extraída da Internet, Fonte: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000) 
Elaboração: DIEESE 
 
Conforme demonstrado nas tabelas acima, a porcentagem de desemprego e de 
rendimentos mensais da população negra são desiguais, se comparados à população 
não-branca (brancos e amarelos). 
37 
 
Para o pesquisador do Departamento Intersindical de Estatística e de Estudos 
Socioeconômicos (Dieese) Clemente Ganz Lúcio, um dos fatores que impossibilita a 
inserção no afro-descendente no mercado de trabalho é a precariedade em qualidade 
de ensino. Vejamos o que Clemente Ganz Lúcio afirma: 
“Os avanços que podem ser conquistados dependem de vários fatores, entre 
eles, do crescimento econômico, do processo de desenvolvimento, dos ganhos 
políticos, da democracia. No caso específico dos negros, um dos fatores que 
contribuem para essa desigualdade é educação, ou seja, o acesso à educação 
de qualidade. Enquanto os negros não chegaram no mesmo ritmo ao ensino 
universitário, ao ensino técnico, aos postos de trabalho de qualidade, a 
diferenciação de renda não vai cair”. 
 
 Neste sentido, cabe destacar o entendimento de SANTOS, Emerson e 
LOBATO, Fátima: 
“Como a discriminação racial está presente na área educacional, o 
desenvolvimento educacional e a especialização dos afros-descendentes fica 
prejudicada, importando na dificuldade de sucesso na escola e ao acesso às 
posições melhor remuneradas no mercado de trabalho, gerando um círculo 
vicioso de pobreza, insucesso escolar e marginalização social”. 
 
Reitero que um dos principais motivos da dificuldade no ingresso da população 
negra no mercado de trabalho, é a situação deficitária do acesso à educação formal dos 
afro-brasileiros, que reflete um passado de colonialismo e escravidão, transmitindo-se 
até os dias de hoje seus resultados. 
 De acordo o Jornal Folha de São Paulo, no ano de 2010 ocorreu um avanço no 
aumento de emprego formal e maior acesso à educação e ao crédito, de 1998 a 2008, 
a proporção de negros e pardos com ensino superior completo passou de 2,2 para 
4,7%. O resultado chama a atenção porque o salário de um negro ainda é cerca da 
38 
 
metade do de um branco, mas a massa de renda dos negros já representa 40% do 
total. 
4.2.2 O Afro-descendente na Mídia 
 
A mídia estrutura e dita os critérios de beleza. O padrão de beleza transmitido e 
valorizado pelos meios de comunicação brasileiros é branco. No telejornalismo os 
negros ainda podem ser contados. 
Em 23 de novembro de 2002 o Jornal Nacional transmitido à cerca de 40 
milhões de pessoas, teve pela primeira vez um apresentador negro, o então repórter 
Heraldo Pereira, fato que rendeu, portanto notícias em vários veículos nos dias 
posteriores. A emissora que concentra maior número de negros, é a Rede Globo, 
mesmo assim este número não chega a dez, a pequena parcela de negro na mídia vai 
além dos telejornais, de forma clara pode-se observar também nas telenovelas e 
comerciais. 
Segundo o cineasta Joel Zito Araújo, em seu livro A negação do Brasil 
“o enfoque racial da televisão brasileira é resultado da incorporação do mito da 
democracia racial brasileira, da ideologia do branqueamento e do desejo de euro-norte-
americanizada de suas elites” (ARAÚJO, Joel Zito, 2000). Neste caminho, o Ministro da 
cultura GilbertoGil constata ”Existem mais negros na tevê dinamarquesa do que na 
brasileira”. 
(Fonte de Pesquisa –Internet “O Brasil negro”). 
O Estatuto da Igualdade Racial que entrou em vigor em 2003, com o então na 
época senador Paulo Paim, o “Capítulo VIII - Dos meios de Comunicação” do Estatuto 
trouxe dispositivos que culminou em um crescimento na presença de afros-
39 
 
descendentes na mídia. Para compreensão, apresento alguns artigos que dispõe o 
sistema de cotas neste setor: 
 
 “Art. 55º. A produção veiculada pelos órgãos de comunicação valorizará a 
herança cultural e a participação dos afro-brasileiros na história do País”. 
 
“Art. 56º. Os filmes e programas veiculados pelas emissoras de televisão 
deverão apresentar imagens de pessoas afro-brasileiras em proporção não 
inferior a vinte por cento do número total de atores e figurantes”. 
 
“Art. 57º. As peças publicitárias destinadas à veiculação nas emissoras de 
televisão e em salas cinematográficas deverão apresentar imagens de pessoas 
afro-brasileiras em proporção não inferior a vinte por cento do número total de 
atores e figurantes”. 
 
4.2.3 O Afro-descendente no Ensino Superior: O Ingresso nas Universidades Públicas 
do Brasil 
Os responsáveis pelas universidades públicas dizem que o ingresso de negros 
nas universidades pelas cotas pode levar a uma degradação da qualidade e do nível do 
ensino, porque eles não têm as mesmas aquisições culturais dos alunos brancos. Mas 
acredito que, mais do que qualquer outra instituição, as universidades têm recursos 
humanos capazes de minimizar as lacunas dos estudantes oriundos das escolas 
públicas pelas propostas de formação complementar. (Carneiro, 2002, p.23). As 
estatísticas apontam que somente 2% dos jovens negros chegam à Universidade. Entre 
os brancos, são 11%. (dados do Programa Diversidade na Universidade do ministério 
da Educação, 2002). E os afro-descendentes têm menos tempo para os estudos, na 
região metropolitana de Salvador, por exemplo, cerca de 53,6% dos jovens negros se 
dedicam apenas aos estudos. Entre os brancos, este número salta para 72,3% 
(números do INSPIR - Instituto Sindical Interamericano Pela Igualdade Racial). 
40 
 
No ensino superior a desigualdade racial de acesso a ele, recentes pesquisas 
apontam um alarmante sub-representação relativa aos afros-descendentes que ocupam 
os bancos das universidades e faculdades brasileiras. Entre seis grandes universidades 
públicas - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do 
Paraná (UFPR), Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Universidade Federal da 
Bahia (UFBA), Universidade de Brasília (Unb) e Universidade de São Paulo (USP), o 
contingente de estudantes pretos e pardos é de apenas 17,21%, proporção quase três 
vezes inferior em relação à representação desse contingente populacional no cômputo 
geral da população brasileira.8 Se este número relativo a essas poucas universidades 
mencionadas já é suficiente para caracterizar a desigualdade racial presente no ensino 
no ensino superior brasileiro, essa mesma desigualdade aumenta assustadoramente 
quando nos reportamos ao dado que, menos de 3% da população brasileira afro-
descendente consegue ingressar em um curso superior. 
 
4.3 DEBATE ACERCA DA POLÍTICA DE COTAS PARA AFROS-DESCENDENTES 
 
 Críticos da implantação do sistema de cotas raciais, afirmam que esta lei se 
mostra “racista às avessas” e demagógica. Segundo esses críticos, os estudantes que 
entrarem por das cotas não terão condições de acompanhar o nível de ensino, que ficará 
prejudicado. Dizem ainda, que o certo é todos serem julgados exclusivamente pelo 
mérito e que o deve ser feito é investir no ensino público de primeiro e de segundo 
 
8
 Dados mais detalhados sobre as cinco primeiras universidades mencionadas, ver Mascarenhas (2002). 
Quanto à USP, consultar Guimarães e Prandi (2002. Para compor essa porcentagem média, foram 
inseridos dados dos estudos referidos). 
 
41 
 
graus. Consideram que as cotas aumentaram o preconceito entre brancos e negros. 
Alguns também desconfiam da forma com que as cotas estão sendo implementadas, 
notadamente porque são apoiadas pela fundação Ford. Esses setores vêem na política 
de reserva de vagas uma tendência de diluir a luta dos explorados em seu conjunto até a 
cooptação pelo sistema. Finalmente, há os que argumentaram que, em um país 
miscigenado como o Brasil, é difícil definir quem tem direito às cotas. 
Os defensores da política de cotas rebatem essas criticas e garantem que, os 
setores que não aceitarem, que apresentem uma proposta mais eficiente para inclusão 
dos diversos grupos étnicos brasileiros que ainda estão em grande medida excluídos, 
apoiariam este novo projeto. E ainda segundo eles, as criticas em profusão derivam de 
uma incompreensão, inclusive dos setores das esquerdas, da questão racial do Brasil. 
Alem disso, consideram que a reação contra a reserva de vagas se deve também ao fato 
de que as classes média e alta, especialmente sua parcela branca, tendem a ver a 
universidade pública como um espaço garantido de antemão para si. 
4.3.1 A política de cotas para Afros-descendentes x A miscigenação no Brasil 
 Considera-se que no Brasil não se trata da implementação de cotas para 
negros, visto que é difícil caracterizar quem é negro no País, devido à miscigenação 
significativa, ficando deste modo possibilidade da fraude pelos alunos brancos, que 
alegam afrodescendência pelo processo de mestiçagem. (GONCALVES e SILVA, 
Petronilha Beatriz e SILVERIO, Valter Roberto; Ed.2003). 
A identificação é uma simples questão de autodefinição, combinando critérios 
de ascendência politicamente assumida com os critérios da classe social. Isto tem sido 
o critério utilizado até pelos pesquisadores e técnicos do IBGE, valendo-se tanto para 
brancos, negros e amarelos, sem necessidade de requerer exame da árvore 
42 
 
genealógica ou exame cientifico DNA dos autodeclarados negros. Se constatar que a 
maioria dos alunos beneficiados pela política de cotas é composta por alunos brancos 
pobres falsificados em negros, de qualquer forma os recursos investidos teriam sido 
aproveitados por um segmento da população que também necessita de políticas 
públicas diferenciadas. 
4.3.2 A política de cotas para Afros-descendentes x A segregação racial nos Estados 
Unidos 
 A políticas de cotas não corroboraram nos Estados Unidos, culminando em 
abandono dessa política nos Estados Unidos, visto que não contribuiu para o recuo da 
segregação racial entre brancos e negros, e por ter sido aproveitada apenas para aos 
membros da classe-média afro-americana, deixando intocada pobreza dos guetos. 
(GONCALVES e SILVA, Petronilha Beatriz e SILVERIO, Valter Roberto; Ed.2003). 
Os Estados Unidos têm alternativas para ingressar e permanecer nas 
universidades que aqui não temos por causa das peculiaridades do “nosso” racismo. 
Eles têm universidades federais de peso criada para eles, por exemplo a Universidade 
de Howard e universidades criadas pelas igrejas independentes negras para as 
comunidades afro-americanas, principalmente nos Estados do Sul, considerado como 
Estado mais racista dos Estados Unidos( É o caso da Universidade de Atlanta, que foi 
fundada pelos negros e para os negros).Além disso, a maioria das universidades 
públicas americanas até as mais conceituadas como a de Princeton, Harward e 
Standford continuaram a cultivar ações afirmativas em termos de metas, sem 
necessariamente recorrer às cotas ou estatísticas definidas. 
4.3.3 A política de cotas para Afros-descendentes x A inaplicabilidade do sistema de 
cotas para índios43 
 
 A cota não é destinada aos índios e as suas descendências cujos direitos 
igualdade violados durante séculos, além de serem despojados de seu imenso 
território. (GONCALVES e SILVA, Petronilha Beatriz e SILVERIO, Valter Roberto; 
Ed.2003). 
Os movimentos negros nunca foram contra a qualquer proposta que beneficiam 
as populações indígenas, mulheres, homossexuais, os portadores de deficiência, até as 
classes sociais baixas, independente da pigmentação da pele. Apenas reivindicam 
tratamento diferenciado, visto que foram e constituem ainda a grande vitima de uma 
discriminação especifica racial. 
Por outro lado, os afros-descendentes constituem um pouco mais de 70 milhões 
de brasileiro, em relação às populações indígenas estimadas em menos de quinhentos 
mil, apesar de seu notável crescimento demográfico. Visto deste ângulo, o problema do 
ingresso dos estudantes indígenas nas universidades publicas é mais fácil resolver do 
que os negros, tendo em vista que a escolaridade destes é mais baixa. (GONCALVES 
e SILVA, Petronilha Beatriz e SILVERIO, Valter Roberto; Ed.2003). 
Além do mais, a voto do Ministro Ayres Britto acerca da demarcação das terras9 
indígenas Raposa Serra do Sol, resulta-se na plena aplicabilidade das ações 
afirmativas, 10 “[...] o Ministro não deixou de afirmar o caráter fraternal ou solidário dos 
artigos 231 e 232 da Constituição de 1988, que asseguram os direitos indígenas, o que 
remete a um dos objetivos da República Federativa do Brasil, que é o de construir uma 
sociedade livre, justa e solidária, conforme o artigo 3º, inciso I da referida Constituição. 
 
9 A íntegra da Decisão do Agravo Regimental na petição nº 3.388-4, que suspendeu a liminar de 
Reintegração de Posse, em anexo. 
10 Fonte Extraída do Jus Navigandi Ed. 2008. 
 
44 
 
Para o Ministro, é como se a Constituição procurasse compensar as minorias (como os 
índios), e buscar a igualdade tanto no âmbito civil como no âmbito moral para essas 
minorias, o que reflete em ações de caráter afirmativo”. (Fonte Extraída do Jus 
Navigandi Ed. 2008). 
 4.3.4 A política de cotas para Afros-descendentes x A imagem profissional do Negro 
 A política de cotas raciais poderia prejudicar a imagem profissional dos 
funcionários, estudantes e artistas negros, porque eles seriam sempre acusados de ter 
entrado por uma porta diferente. 
 A política compensatória não faz ninguém perder seu orgulho e a dignidade de 
uma sociedade que continua em manter em condição desigual um segmento importante 
de sua população e que durante muitos anos se esconde atrás do mito da democracia 
racial. E se ocorrer discriminação aos negros, devido sua inserção no mercado de 
trabalho pelo sistema de cotas, é simplesmente deslocar o eixo da discriminação 
presente na sociedade, que existe com cotas ou sem cotas. 
Gonçalves e Silva, Petronilha e Silvério, Valter Roberto, afirma em sua obra 
Educação e Ações Afirmativas: 
 
“Mais uma coisa é certa, os negros que ingressarem nas universidades públicas 
de boa qualidade pelas cotas terão, talvez, uma oportunidade única de sua 
vida: receber e acumular um conhecimento cientifico que acompanharão no seu 
caminho da luta para sobrevivência”. 
 
Em entendimento ao debate, cabe-nos destacar que as ações afirmativas 
repercutiram de forma nacional, deste modo à implantação dessa política deve ser 
acompanhada por uma ampla discussão sobre seus principais conceitos e mecanismos, 
pois apesar de constituir-se como uma das mais importantes estratégias para combater 
45 
 
a desigualdade racial, tem-se associado seu significado diversas idéias como 
diversidade, discriminação, multiculturalismo e, sobretudo, simplificando-a como 
“políticas de cotas”, sem a observância de que esta medida se estende além das cotas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O racismo ainda é uma realidade no Brasil, dados apontam o Brasil como a 
segunda Nação com maior número de negros no mundo, atrás apenas da Nigéria, os 
afros-descendentes, constituídos por negros e por pardos, representam pelo menos 
50,6 % da população brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
(IBGE). 
Revelam ainda as estatísticas de como vive o negro no Brasil. De cada Dois mil 
crianças pobres no Brasil, 1600 são negras; 76,1 em cada mil crianças afro-brasileiras 
morrem antes de completar cinco anos, enquanto a mortalidade infantil atinge 45,7 em 
cada mil brancos. A expectativa de vida dos brancos e de 71 anos, mas a do afro-
descendente e de 65 anos. Os afros-descendentes assalariados recebem em media 
menos da metade salarial nacional dos brancos. Alem disso, 69% da população e pobre 
e a taxa de pobreza entre negros e quase 50% mais alta do que entre brancos. 
A discriminação do Brasil não é igual à de outros países, entretanto à questão 
que se coloca é a mesma enfrentada pelos americanos e indianos, a de promover o 
ingresso dos excluídos nas universidades.”Esta questão não parte do vazio, mas sim da 
constatação de que os negros não são representados, ou seja, não são visíveis nas 
universidades de boa qualidade”. (QUEIROZ, Jairo Pacheco; Ed. 2007). 
A universidade é o divisor de águas em uma sociedade racialmente dividida 
onde o critério para incorporação às classes profissionais também é o critério da 
exclusão social. Até existir uma classe média negra, com as mesmas oportunidades 
das classes majoritárias, não haverá luta a discriminação racial. E o ensino superior 
47 
 
detém as maiores taxas de retorno para o indivíduo. Portanto, na procura de mobilidade 
ou ascensão social, este é o nível que mais influência na ruptura do ciclo da pobreza. 
Diante disto, a implementação de reserva de vagas destinadas para os afros-
descendentes, recolocaram em pauta debates públicos no Brasil: a questão racial e a 
luta anti-racista. Sendo realizadas nos dias 3, 4 e 5 audiências públicas no Supremo 
Tribunal Federal, consubstanciado na constitucionalidade do sistema de reserva de 
vagas, baseando-se em critérios raciais, como forma de ação afirmativa de inclusão no 
ensino superior. Cabe-nos destacar que a política de cotas para afros-descendentes, 
aguarda o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, embora a constitucionalidade 
dessa medida resulta-se na efetividade do Principio da Igualdade Material ou 
Substancial previsto no artigo 5º da Constituição Federal. 
Se o Brasil encontrar alternativas diversas que não consiste em inserir as cotas 
como mecanismo de promoção da igualdade, visualizando dessa forma o fato de não 
se cometer desigualdades contra os brancos desfavorecidos, a medida será cabível. 
Mas se por outro lado, ocorrer apenas críticas sem a proposição de alternativas de 
curto ou em longo prazo será uma forma de fuga para a questão vital que corresponde 
para mais de 70 milhões de brasileiros de ascendência africana e para o futuro do 
Brasil. 
 
 
 
 
 
 
48 
 
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ARAÚJO, Joel Zito. A Negação do Brasil: O negro na telenovela brasileira. Filme de 
Joel Zito Araújo, em 2000. 
 
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 5ª ed. 
Coimbra: Almedina, 1991. 
 
FERREIRA, Ricardo Franklin. Afro-descendente: identidade em construção. São Paulo. 
EDUC, Rio de Janeiro. Pallas,2000. 
 
GOMES, Joaquim B. Barbosa. Ação afirmativa & princípio constitucional da igualdade: 
(O direito como instrumento de transformação social. A experiência dos EUA). Rio de 
Janeiro: Renovar, 2001. p. 20). 
 
GONCALVES e SILVA, Petronilha Beatriz e SILVERIO, Valter Roberto;

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