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Monografia_vitor_ufpr_A Matemática produzida e a Mat utilizada pelos Camponeses

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ - UFPR 
 
 
 
 
VITOR DE MORAES 
 
 
 
 
 
 
 
EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL POPULAR, NA 
PERSPECTIVA DA ETNOMATEMÁTICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2007 
VITOR DE MORAES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL POPULAR, NA 
PERSPECTIVA DA ETNOMATEMÁTICA 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao curso de Pós-
Graduação em Educação do Campo, da 
Universidade Federal do Paraná (UFPR), como 
requisito à obtenção do título de Especialista. 
 
Orientadora: Profa Ms. Deise Leandra Fontana 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2007 
 
EPÍGRAFE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ação cultural, ou está a serviço da 
dominação consciente ou inconscientemente 
por parte de seus agentes, ou está a serviço 
da libertação dos homens. Ambas, 
dialeticamente antagônicas se processam, 
como afirmamos, na e sobre a estrutura 
social, que constituem na dialeticidade 
permanência - mudança. Ter a consciência 
critica de que é preciso ser o proprietário de 
seu trabalho e que “este constitui uma parte 
da pessoa humana” e que a “pessoa 
humana não pode ser vendida nem vender-
se” é dar um passo para mais além das 
soluções paliativas e enganosas. É 
inscrever-se numa ação da verdadeira 
transformação da realidade para, 
humanizando-a, humanizar os homens. 
(Paulo Freire em: Pedagogia do Oprimido). 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
A minha Filha Evelyn Kris, meu filho Vitor de Moraes Filho e a minha esposa 
Francieli. 
Dedico ao meu pai (in memoriam), minha mãe, minha família e todos meus 
amigos (as). 
Aos militantes dos Movimentos Sociais Camponeses e a todos os Educadores 
e Educadoras do povo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A meu pai Salvador de Moraes (in memoriam), exemplo de pai e de homem, 
meu eterno agradecimento. 
 
A minha mãe, exemplo de mulher, humildade, mensuração da luta e 
resistência da mulher camponesa e trabalhadora. 
 
A minha companheira Franciele Regina da Silva, que sempre incentivou e 
colaborou para que eu atingisse meus objetivos. 
 
A minha filha Evelyn Cris e meu filho Vitor M Filho, que souberam repartir o 
tempo que a vocês doaria, para realizar esta pesquisa. 
 
Aos camponeses e camponesas da comunidade Península do Cavernoso 
(Ilha), do município de Candói – PR, que contribuíram com depoimentos riquíssimos 
de suas vivências e lutas. A todos obrigado e o desejo de muitas conquistas. 
 
Aos militantes dos Movimentos Sociais, especialmente do Movimento dos 
Sem Terras (MST), que com suas lutas, conquistaram o programa para formação de 
educadores da reforma agrária (PRONERA). Recursos que garantiram a efetivação 
deste curso. Ao MPA, MMC e MAB, pela resistência e luta permanente, também 
meus sinceros agradecimentos. 
 
A todos os Educadores, Professes Progressistas da Universidade Federal do 
Paraná (UFPR). Que trabalharam e efetivaram, este curso de Pós-Graduação em 
Educação do Campo. 
 
A coordenadora da Pós-Graduação, Educadora Sônia e a coordenadora da 
turma Educadora Natacha, pelo empenho e comprometimento. 
 
A coordenação de gestão Edson, Joaquim, Solange, Vitor, Inês e Ivone. 
Exercício de construção coletiva. 
 
A todos os amigos (as) que estiveram juntos fazendo o curso de Pós-
Graduação em Educação do Campo, ficam as eternas lembranças e expectativas da 
concretização dos sonhos, de uma sociedade mais justa, conquistada na luta 
coletiva de todos os trabalhadores (as) deste país. 
 
A minha orientadora Deise Leandra Fontana, pela paciência, estímulo à 
pesquisa, vivência e aprendizagem, meu sincero obrigado. 
 
A meus amigos e amigas militantes, companheiros e companheiras de luta 
que compreenderam a divisão da minha vida social. O tempo dedicado às aulas e a 
pouca dedicação às lutas sociais neste período. 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
RESUMO.................................................................................................................... 8 
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10 
 
CAPÍTULO I - TRABALHO E CONTEXTUALIZAÇÃO DA FORMAÇÃO DO 
CAMPESINATO, NUMA ABORDAGEM A PARTIR DOS CAMPONESES. ........... 15 
1.1 UMA BREVE DESCRIÇÃO SOBRE O TRABALHO .......................................... 15 
1.2 AGRICULTURA CAMPONESA E SUA RESISTÊNCIA HISTÓRICA ................. 18 
1.3 A FORMAÇÃO DO CAMPO BRASILEIRO ........................................................ 24 
 
CAPÍTULO II - SUJEITOS E FORMAÇÃO DA COMUNIDADE PENÍNSULA DO 
CAVERNOSO (ILHA) .............................................................................................. 29 
2.1 DISCORENDO SOBRE O TRABALHO FAMILIAR ............................................ 32 
2.2 DISCORENDO SOBRE A CULTURA LOCAL .................................................... 33 
 
CAPÍTULO III – UMA BREVE DESCRIÇÃO SOBRE A EDUCAÇÃO BRASILEIRA
 ................................................................................................................................. 34 
3.1 EDUCAÇÃO CAMPONESA ............................................................................... 36 
3.2 LUTA E AFIRMAÇÃO LEGAL ............................................................................ 39 
3.3 EDUCAÇÃO DO CAMPO, EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E ETNOMATEMÁTICA43 
 
CAPÍTULO IV - A PESQUISA E SIGNIFICAÇÕES ................................................. 57 
4.1 METODOLOGIA ................................................................................................. 57 
4.2 CAMINHOS DA PESQUISA EMPÍRICA............................................................. 58 
4.2.1 PARTICIPANTES DA PESQUISA .................................................................... 60 
4.2.2 A COLETA DOS DADOS ................................................................................. 60 
4.2.3 SIGNIFICAÇÕES DOS DADOS DA PESQUISA .............................................. 60 
4.2.4 RESULTADO DAS ENTREVISTAS BUSCANDO A INTERPRETAÇÃO E 
SIGNIFICADOS ......................................................................................................... 62 
4.2.5 BUSCANDO INTERPRETAÇÕES E SIGNIFICADOS DA QUESTÃO 1 ......... 64 
4.2.6 BUSCANDO INTERPRETAÇÕES E SIGNIFICADOS DA QUESTÃO 2 .......... 65 
4.2.7 BUSCANDO INTERPRETAÇÕES E SIGNIFICADOS DA QUESTÃO 3 .......... 66 
4.2.8 BUSCANDO INTERPRETAÇÕES E SIGNIFICADOS DA QUESTÃO 4 ......... 67 
4.2.9 BUSCANDO INTERPRETAÇÕES E SIGNIFICADOS DA QUESTÃO 5 ......... 70 
4.2.10 BUSCANDO INTERPRETAÇÕES E SIGNIFICADOS DA QUESTÃO 6 ....... 73 
4.2.11 BUSCANDO INTERPRETAÇÕES E SIGNIFICADOS DA QUESTÃO 7 ........ 76 
4.2.12 BUSCANDO INTERPRETAÇÕES E SIGNIFICADOS DA QUESTÃO 8 ....... 78 
4.2.13 BUSCANDO INTERPRETAÇÕES E SIGNIFICADOS DA QUESTÃO 9 ....... 80 
2.3 DESCRIÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS.............................................................. 81 
2.3.1 DESCRIÇÃO DO ENTREVISTADO (QUESTIONÁRIO S1) .............................. 81 
2.3.2 DESCRIÇÃO DO ENTREVISTADO (QUESTIONÁRIO S2) .............................. 85 
2.3.3 DESCRIÇÃO DO ENTREVISTADO (QUESTIONÁRIO S3) .............................. 88 
2.3.4 DESCRIÇÃO DO ENTREVISTADO (QUESTIONÁRIO S4) .............................. 90 
2.3.5 DESCRIÇÃO DO ENTREVISTADO (QUESTIONÁRIO S5) .............................. 92 
2.3.6 DESCRIÇÃO DO ENTREVISTADO (QUESTIONÁRIO S6) .............................. 95 
2.3.7 DESCRIÇÃO DO ENTREVISTADO (QUESTIONÁRIO S7) .............................. 97 
2.3.8 DESCRIÇÃO DO ENTREVISTADO (QUESTIONÁRIO S8) ............................100 
2.3.9 DESCRIÇÃO DO ENTREVISTADO (QUESTIONÁRIO S9) ............................ 102 
2.4 RECORTES DE ALGUNS DEPOIMENTOS DOS CAMPONESES (AS) E, A 
BUSCA DE SIGNIFICAÇÕES COM RELAÇÃO A ETNOMATEMÁTICA E A LUTA 
PELA VIDA .............................................................................................................. 104 
2.5 DESCRIÇÃO GERAL E CONSIDERAÇÕES .................................................... 111 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 113 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
As reflexões deste trabalho têm como finalidade apresentar e descrever os saberes 
e os fazeres dos camponeses da comunidade da Península do Cavernoso (Ilha), do 
município de Candói – PR, sua forma de viver e relacionar-se com os demais 
sujeitos da comunidade e a natureza, bem como o trabalho familiar e as 
possibilidades de desenvolvimento. A Educação Matemática e a Etnomatemática, 
irão estabelecer um diálogo com a Educação do Campo, sua afirmação do ponto de 
vista da luta e da legislação. A Metodologia da Pesquisa será de caráter qualitativo, 
em função da natureza dessa pesquisa, com apresentação e descrição da 
Matemática produzida pelos sujeitos da comunidade. Registrando algumas das 
concepções de mundo, de vida, dos sujeitos, dos traços culturais próprios e saberes 
nunca antes descrito, dados que configuram à realidade da comunidade Península 
do Cavernoso (Ilha). Os resultados obtidos surgirão no conteúdo da percepção e no 
transcorrer da descrição dos fenômenos do contexto social concreto dos sujeitos da 
comunidade. Abstrair-se-á a matemática utilizada e a matemática produzida pelos 
camponeses da comunidade, bem como as habilidades, as formas de matematizar 
próprio dos camponeses (as), e a relação intrínseca que a matemática possui com o 
desenvolvimento pleno da comunidade, a reflexão crítica em relação ao modelo de 
educação-político-econômica da sociedade proposta pelos grupos dominante, não 
condizente com a realidade e o desenvolvimento sustentável da comunidade e do 
Planeta. Refletir como interferir para efetivar a qualidade, a dignificação na plenitude 
da vida dos camponeses (as). 
 
 
Palavras-chaves: Educação; camponeses (as); Etnomatemática. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMEN 
 
 
 Las reflexiones de este trabajo tienen como propósito de presentar y de describir 
para saberlos y para hacerlos de los campesinos de la comunidad de la península 
de la cavernosa (isla), de la ciudad de Candói - banda, su forma de vivir y de 
relacionarse con el demasiado a ciudadanos de la comunidad y de la naturaleza, así 
como el trabajo familiar y las posibilidades de desarrollo. La educación matemática y 
el Etnomatemática, irán a establecer un diálogo con la educación del campo, su 
afirmación del punto de vista de la lucha y la legislación. La metodología de la 
investigación estará de carácter cualitativo, en función de la naturaleza de esta 
investigación, con la presentación y la descripción de las matemáticas producidas 
para los ciudadanos de la comunidad. Colocando algunos de los conceptos del 
mundo, de la vida, de los ciudadanos, de los rastros culturales apropiados y nunca 
saber antes de descrito, dado que configuran a la realidad de la península de la 
comunidad de la cavernosa (isla). Los resultados conseguidos aparecerán en el 
contenido de la opinión y del transcorrer de la descripción de los fenómenos del 
concreto social del contexto de los ciudadanos de la comunidad. Utilizó y las 
matemáticas producidas para los campesinos de la comunidad serán losted en el 
pensamiento matemático, así como las capacidades, las formas de apropiado 
matematizar de los campesinos (as), y la relación intrínseca que los possesss de las 
matemáticas con el desarrollo completo de la comunidad, la reflexión crítica en lo 
referente al modelo de educación-político-económico de la oferta de la sociedad 
para los grupos dominantes, no el condizente con la realidad y el desarrollo 
sostenible de la comunidad y del planeta. Para reflejar en cuanto a intervenga para 
lograr la calidad, el dignificação en la plenitud de la vida de los campesinos (as). 
 
 
Palabra-llaves: Educación; campesinos (as); Etnomatemática 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
A referida pesquisa pretende descrever e fazer uma reflexão sobre a 
comunidade da Península do Cavernoso (Ilha)1, nas suas relações 
socioeconômicas, culturais, educativas, políticas e a Matemática2 utilizada nas 
relações cotidianas, provável de explicar o contexto local, na possibilidade de intervir 
como documento de análise na construção de projetos de desenvolvimento local, 
humanizador e emancipador na comunidade, na perspectiva da Etnomatemática3. A 
comunidade é mais conhecida na região por Ilha, apenas 200 metros do território 
não são banhados por água, desde o inicio da década de 80 onde formou-se o lago 
da Usina Hidrelétrica Salto Santiago4, construída no mesmo período, ocorrendo o 
encontro do rio Iguaçu com o rio Cavernoso. 
Com isso tem-se a intenção de pesquisar os saberes e as práticas dos 
camponeses da comunidade, a matemática produzida pelos sujeitos nas relações 
cotidianas, sua aplicação, os sonhos e desalentos dos camponeses que ali residem, 
bem como o desejo de uma sociedade transformada. 
A comunidade Península do Cavernoso (Ilha), Candói - PR está localizada a 
55 km da sede do município. É constituída atualmente, por 120 famílias 
reassentadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) na 
década de 80. Encontrar-se dividida, em 79 lotes de terra, variando de 12 até 20 
 
1 Anexo 1 - Vista aérea da comunidade de Península do Cavernoso. 
2 A Matemática (do grego máthēma (μάθημα): ciência, conhecimento, aprendizagem; mathēmatikós (μαθηματικός): apreciador do conhecimento) é o estudo 
de padrões de quantidade, estrutura, mudanças e espaço. 
 
3 A Etnomatemática surgiu na década de 70, com base em críticas sociais acerca do ensino tradicional da matemática, como a análise das práticas 
matemáticas em seus diferentes contextos culturais. Pode ser entendida como um programa interdisciplinar que engloba as ciências da cognição,da 
epistemologia, da história, da sociologia e da difusão. 
Tomando o campo da matemática como exemplo, numa perspectiva Etnomatemática, o ensino deste ganha contornos e estratégias específicas, peculiares 
ao campo perceptual dos sujeitos aos quais se dirige. A matemática vivenciada pelos meninos em situação de rua, a geometria na cultura indígena, são 
completamente distintas entre si em função do contexto cultural e social na qual estão inseridas. 
 
4 A Usina Hidrelétrica de Salto Santiago (UHSS) está localizada no estado do Paraná,, no município de Saudade do Iguaçu (a 110 km de Candói), no Rio 
Iguaçu tem uma capacidade instalada de 1.420 MW. 
 
 
hectares cada um. Um lote foi deixado para a sede do assentamento completando 
os 80 lotes. As primeiras 54 famílias chegaram nestas terras no dia 04 de outubro de 
1984, vindas do norte do Paraná, atingidos pela construção da Usina Hidrelétrica de 
Itaipu5, onde as sua terras foram invadidas pelas águas, na formação do lago e, 
também expulsos de suas terras pela criação do Parque Nacional de Ilha Grande6. 
Além das famílias reassentadas foram assentadas na comunidade, 07 (sete) famílias 
pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Candói, 07 (sete) pela ComissãoPastoral da Terra (CPT), 06 (seis) pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma 
Agrária (INCRA) e 05 (cinco) filhos de ilhéus7 que casaram, logo que chegaram. 
Sendo esta a primeira formação da comunidade. 
Quando chegaram os ilhéus na comunidade, encontraram apenas uma família 
que também foi assentada e, seus doze filhos que posteriormente seis desses, 
casaram com filhos (as) dos reassentados e assentados. 
Após o impacto da construção da Usina Hidrelétrica da Itaipu e Parque 
Nacional de Ilha Grande, 2.100 famílias ficaram desabrigadas durante dois anos, 
mas continuaram lutando por seu direito ás terras que lhes foram tiradas. Fundaram 
a Associação dos Atingidos pelo Parque Nacional de Ilha Grande (APIG), com a 
participação do senhor Antonio Tavares Mártir8, que era assentado na comunidade 
da Ilha. Depois da chegada das famílias na comunidade, as primeiras atividades 
 
5 A Usina Hidrelétrica de Itaipu Binacional é uma usina hidrelétrica binacional construída pelo Brasil e pelo Paraguai no rio Paraná, no trecho de fronteira 
entre os dois países, 14 quilômetros ao norte da Ponte da Amizade. A área do projeto se estende desde Foz do Iguaçu, no Brasil, e Ciudad del Este, no 
Paraguai, ao sul, até Guaíra (Brasil) e Salto del Guairá (Paraguai), ao norte. A potência instalada da Usina é de 14.000 MW (megawatts), com 20 unidades 
geradoras de 700 MW cada. 
 
6 O Parque Nacional de Ilha Grande está localizada no Rio Paraná entre os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul. Possui 78.875 hectares e foi fundado 
em 30 de setembro de 1997. A área hoje ocupada pelo parque possui sítios arquológicos de alta relevâncea para o estudo do local. Sabe-se que o local 
outrora fora habitado por índios Guaranis e Xetás. 
7 Ilhéu, adj. Que diz respeito a uma ilha; s.m. o natural de uma ilha. 
8 Antonio Tavares Pereira, camponês, casado, pai de três meninas e dois meninos. Expulso de sua terra na Ilha Grande, Rio Paraná, pela construção da 
Hidrelétrica de Itaipu. Assentado da Reforma Agrária na Ilha do Cavernoso, no município de Candói, primeiro assentamento da região. Ajudou a organizar e 
fundar a APIG (Associação dos Ilhéus atingidos pelo Parque Nacional da Ilha Grande Rio Paraná), também o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) 
e militante do MST. Por sua fidelidade, militante sempre disposto a contribuir na defesa da vida, participando em lutas e mobilizações em favor da melhoria 
da qualidade de vida dos camponeses e camponesas. Foi assassinado pela Polícia Militar do Estado do Paraná. (OLIVEIRA, 2001, p. 58), no dia 02 de maio 
do ano de 2000, na BR 277, km 108, próximo a Curitiba, quando se dirigia com demais militantes dos assentamentos e acampamentos para negociação e 
reivindicação junto ao INCRA e ao setor do Ministério de Desenvolvimento Agrário. Em pauta “A Reivindicação de recursos para o desenvolvimento dos 
assentamentos da região e da negociação das áreas para futuros assentamentos”. Depois do ocorrido, no ano seguinte foi criada a Brigada Antonio Tavares 
no Município de Candói, com o objetivo A luta pela terra e a busca do desenvolvimento dos assentamentos e qualidade de vida dos camponeses e 
camponesas assentados. (Informe: No Km 108 da BR 277 existe um monumento em homenagem ao camponês Antonio Tavares Pereira, como símbolo de 
resistência das lutas sociais no Brasil e América Latina). 
 
 
agrícolas foram: feijão, milho, arroz, frutas, principalmente banana para o sustento 
familiar. Ampliaram suas produções e atualmente desenvolvem a pecuária leiteira 
familiar, plantação de laranja e agricultura de subsistência. 
Alguns aspectos importantes a serem considerados na pesquisa são as 
peculiaridades da comunidade, explicando suas necessidades, expectativas, seus 
saberes, sua mística, memória dos mártires da luta pela terra, num tratamento 
dialético rompendo com a alienação da consciência ingênua de um mundo 
idealizado, para um mundo real em um processo humanizador, mostrando a 
matemática construída nas relações sociais. 
O capítulo I trata sobre o Trabalho, agricultura camponesa e sua resistência 
histórica, formação do campo brasileiro, a partir do local, do território material e 
imaterial, fazendo uma reflexão histórica e cultural, sem deixar de lado o aspecto da 
tecnologia, do qual a matemática está intrinsecamente ligada, bem como as 
contradições dos paradigmas do progresso, do capitalismo agrário e da questão 
agrária, as injustiças sociais e desequilíbrios tanto sociais quanto ambientais, 
refletindo a resistência histórica e cultural dos camponeses e sua relação dialética, 
vida e natureza. 
O capítulo II da referida pesquisa descreve os sujeitos, camponeses da 
comunidade da Península do Cavernoso (Ilha), seus saberes, sua forma de viver e 
relacionar-se com os demais sujeitos da comunidade e a natureza, bem como o 
trabalho familiar, as possibilidades de desenvolvimento. Localiza a comunidade e 
descreve os aspectos culturais de produção, política, formas de lazer, o êxodo dos 
jovens para a cidade, contextualizando qualitativamente a comunidade pesquisada. 
 O capítulo III apresenta a Educação Brasileira, educação Matemática e a 
Etnomatemática, além de dialogar com a Educação do Campo, educação 
camponesa e sua afirmação do ponto de vista da luta pela sua existência e da 
legislação, numa concepção de educação vivenciada, construída pelos próprios 
sujeitos historicamente excluídos, de seus direitos sociais e teorizando sobre as 
produções de conhecimentos matemáticos dos povos distintos. 
No capítulo IV relata a Metodologia da Pesquisa que será qualitativa, 
apresentando os resultados da pesquisa, expondo a matemática produzida pelos 
sujeitos da comunidade, descrevendo a concepção de mundo, da vida, dos sujeitos, 
traços culturais próprios e saberes nunca antes descritos, dados estes com base 
fenomenológica configurando a realidade dos sujeitos da comunidade Península do 
Cavernoso (Ilha). Os resultados obtidos aparecem no conteúdo da percepção e no 
transcorrer da descrição dos fenômenos do contexto social concreto dos sujeitos da 
comunidade. 
A referida pesquisa faz uma reflexão entre Trabalho e desenvolvimento local 
na perspectiva da Etnomatemática, configura intervir na politização, humanização e 
emancipação dos sujeitos coletivos da comunidade. 
O presente trabalho de pesquisa tem como justificativa apresentar os 
conhecimentos camponeses, suas culturas, produzidas nas relações cotidianas, do 
ponto de vista etnomatemático, possibilitando uma reflexão crítica, relacionando 
conhecimento, cultura e matemática com os aspectos socioeconômicos e políticos 
da comunidade. Contribuindo na construção de um projeto que explique a dinâmica 
dos sujeitos, suas relações sociais, dialogando com os sujeitos que ali vivem 
transformando a natureza e a si mesmos. Além de apresentar os conhecimentos e 
práticas matemáticas, produzidos e utilizados no contexto local, bem como suas 
lutas históricas de libertação. 
Considerando a omissão histórica da produção científica dos conhecimentos 
produzidos pelos camponeses, sempre prevalecendo à sistematização dos 
conhecimentos dos vencedores (elite dominante), esta perspectiva garante a 
importância desta pesquisa. Os camponeses sempre foram obrigados a lutar pela 
vida, pela sobrevivência, este trabalho de pesquisa, possibilita a comunidade e 
outras escolas do campo, ter ciência que os camponeses produzem conhecimentos 
matemáticos (Etnomatemática) possibilitando assim, a percepção dos saberes 
utilizados nas suas especificidades, contribuindo na elaboração de propostas 
curriculares voltadas a realidades dos sujeitos. 
A intenção desta pesquisa é descrever e reconhecer a realidade dos sujeitosda comunidade da Península do Cavernoso (Ilha), no que diz respeito aos 
conhecimentos matemáticos produzidos e utilizados pela comunidade. Descrever a 
Matemática utilizada e produzida no contexto das relações sociais e do trabalho 
local. Verificar a necessidade dos conhecimentos locais (Etnomatemática) no 
desenvolvimento integral da comunidade. Analisar e mostrar a importância da 
Etnomatemática na construção de projetos coletivos de povos culturalmente 
distintos, como é o caso da comunidade da Península do Cavernoso (Ilha). 
Divulgar que a Etnomatemática possui estreita relação com o trabalho, 
especificamente o trabalho familiar e as relações sociais da comunidade. Sendo 
mecanismo de politização, emancipação, humanização e desenvolvimento integral 
da comunidade Península do Cavernoso. 
Sendo momento propício para observar e descrever as relações de trabalho 
desenvolvidas na comunidade da Ilha que contribuem ao desenvolvimento integral 
da comunidade. Os camponeses da comunidade da Ilha têm matemática própria 
utilizada nas suas relações cotidianas, proporcionando expor que existe na 
comunidade, uma matemática culturalmente distinta. Verificando os saberes e 
conhecimentos matemáticos (Etnomatemática), produzidos e utilizados pelos 
camponeses da comunidade nas suas relações cotidianas. 
Mostrar-se-á através de pesquisa qualitativa, com a coleta de dados através 
de questionários e entrevistas abertas, que a comunidade Península do Cavernoso 
(Ilha), possui relações econômicas, cultural, políticas específicas, bem como uma 
luta histórica local, com perspectivas de construção cultural de conhecimentos 
matemáticos específicos da comunidade. 
Analisar-se-á os fatores que colaboram para que os moradores da 
comunidade acreditem num projeto de desenvolvimento local humano e 
emancipador considerando e reconhecendo seus saberes. 
Os procedimentos e método utilizado na parte empírica da investigação será 
a observação direta e participativa, questionários que abordam questões referentes 
às práticas dos camponeses, entrevistas para conhecer e reconhecer a prática 
Etnomatemática. A abordagem será qualitativa, num profundo envolvimento com os 
sujeitos investigados. A referência teórica baseia-se na Etnomatemática, Educação 
do Campo e trabalho. 
Segundo TRIVIÑOS: 
 
A pesquisa qualitativa não tem hipóteses que verificar 
empiricamente, como ocorreria no positivismo. Isto significa a 
presença de uma teoria, toda uma concepção delimitada a priori. Os 
significados, as interpretações surgem da percepção do fenômeno 
visto num contexto (TRIVIÑOS, 1987, p.129). 
 
Implicando que, somente na descrição da pesquisa aparecerão os resultados 
daquele contexto investigado. 
 
 
 
CAPÍTULO I - TRABALHO E CONTEXTUALIZAÇÃO DA FORMAÇÃO DO 
CAMPESINATO, NUMA ABORDAGEM A PARTIR DOS CAMPONESES. 
 
Este capítulo descreve sobre trabalho, a agricultura camponesa e sua 
resistência histórica, formação do campo brasileiro, fazendo uma reflexão histórica e 
cultural, sem deixar de lado o aspecto do progresso, do qual a matemática está 
intrinsecamente ligada, bem como as contradições dos paradigmas do progresso 
versus as injustiças sociais e desequilíbrios marcantes, tanto sociais quanto 
ambientais, refletindo a resistência histórica e cultural dos camponeses e sua 
relação dialética, vida e natureza. 
 
1.1 UMA BREVE DESCRIÇÃO SOBRE O TRABALHO 
A discussão aqui proposta não é sobre a antologia do trabalho em Marx, 
mas como o homem vem produzindo sua vida na relação com a natureza pelo 
trabalho que o liberta e possibilita a produção da vida, porém, contraditóriamente no 
mundo capitalista mundalizado, o trabalho que o aprisiona, escraviza e subordina o 
homem, a mulher, os jovens a uma relação servil, depende do modo de produção 
capitalista. Existe um desvirtuamento na sociedade capitalista do que é o trabalho 
livre, que as pessoas são culpadas quando estão sem um trabalho na sociedade e, 
ou realizando uma atividade de ócio / lazer. 
A história nos mostra as diversas épocas, fases e povos, que de acordo com 
o seu modo de viver, modificavam a natureza e a si mesmos. Há 2.500 anos, os 
gregos, ao adotar a máxima de Aristóteles9 “Pensar requer ócio”, apresentavam uma 
postura bastante diversa. Contudo, para sustentar a elite grega, se desobrigava do 
trabalho, havia os escravos, e como essa situação provocava vergonha, os gregos 
criaram argumentos que justificavam a necessidade da escravatura. 
Na Idade Média, que vai do século V ao século XV, predominou o regime de 
servidão; pode-se dizer que nesse período um meio-termo entre o trabalho escravo 
e o trabalho livre, não há evidência de grande atenção ao trabalho ou de 
 
9 Aristóteles (384–322 a.C.), filósofo grego nascido em Estagira, um dos maiores pensadores de todos os tempos e considerado o criador do pensamento 
lógico. Prestou contribuições em diversas área do conhecimento humano, destacando-se: ética, política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, 
retórica, zoologia, biologia, história natural. É considerado por muitos o filósofo que mais influenciou o pensamento ocidental. 
 
preocupação com o produtivismo. A camada dirigente, a nobreza e o clero levavam 
uma vida de costumes requintados, muitos evitavam qualquer atividade ligada a 
trabalho. Havia também um contraste entre a visão do catolicismo, que considerava 
o trabalho uma penitência para o pecado e uma oportunidade para a redenção 
divina, e a do protestantismo (surgido no século XVI), que o tratava não só como 
meio de obter riqueza, mas também como forma de servir a Deus, mantendo a 
distância ao ócio e à luxúria. 
Com o surgimento do capitalismo, contatou-se uma grande mudança com 
relação às posturas medievais. Passou a imperar o, então, produtivismo. Torna-se 
revoltante para a elite burguesa a indolência e o ócio. Recorre-se, quando 
necessário, ao uso da força, obrigando as pessoas a trabalhar. Surgem, por toda à 
parte, filósofos e economistas exaltando o trabalho como a única fonte de riqueza. 
Novas idéias propagaram como a opção pelo trabalho assalariado, a liberação do 
homem ao jugo da servidão. No entanto, a multidão de pessoas pobres que 
habitavam as cidades era atribuída ao crescimento desordenado da população, 
quanto à incapacidade do homem comum de obter sua subsistência, aproveitando 
as oportunidades oferecidas pelo novo modelo econômico. O capitalismo se 
estendeu pelo mundo todo através das colônias de exploração, principalmente na 
África e na Ásia. 
No século XX, a preocupação com desempenho humano no trabalho se 
exacerba e assume ares científicos. Difundem-se as idéias os experimentos do 
taylorismo. Cronômetrar o tempo de trabalho, subdividir as tarefas, diferenciar na 
hierarquia os que pensam dos que executam, torna-se aplicação correta, desde a 
mais recôndita fábrica do interior do Brasil ou da Índia, até as indústrias de países 
avançados como a Alemanha. No final da década de 20, aparece a escola de 
Relações Humanas, sustentada por teorias oriundas da psicologia e da sociologia de 
grupo, que deram novos impulsos ao conhecimento da conduta humana. Desde 
então, surgiram sempre novas técnicas e métodos que procuravam despertar no 
trabalhador o gosto pelo trabalho, para que produzisse mais e faltasse menos. 
Outro grande acontecimento desse século foi o advento do Nazismo e do 
Fascismo, com marcante intervenção do Estado na economia e grande preocupação 
com o trabalho. Esses dois regimes chamados muitas vezes de nazi-fascismo, em 
virtude de suas semelhanças foram implantados na Europa entre a Primeira e 
Segunda Guerra Mundial. Embora não abrindo mão dapropaganda ideológica, 
também usaram da força para dominar a classe trabalhadora, com o Estado 
assumindo as rédeas da economia e, conseqüentemente, intervindo nos sindicatos e 
no dia-a-dia do trabalhador. Embora o Estado se colocasse acima das classes, 
representava os interesses de uma elite empresarial. Sua preocupação era conter a 
luta de classes e impor a harmonia entre patrões e empregados. Conforme CARMO, 
 
Causaram impactos também as revoluções socialistas, cujos regimes 
se autodenominavam “ditadura do proletariado”. Visando a construir 
uma grande nação igualitária, onde surge um novo homem, os 
socialistas tiveram pelo trabalho uma verdadeira obsessão. A 
necessidade de produzir mais levou a implantação de uma disciplina 
rígida. A onipresença do símbolo da foice e do martelo 
representando o trabalho do camponês e operário foi uma evidencia 
dessa preocupação com a “religião do trabalho”. A burocracia da 
produção, concentrada nas mãos do Estado, que se erigiu em um 
único patrão, não conseguiu satisfazer o crescente desejo de 
liberdade econômica e política por parte dos trabalhadores. 
(CARMO, 2005, p.8) 
 
Essa passagem mostra as contradições que forma o imaginário da população 
sobre o trabalho. Os intelectuais de direita questionam as lutas sociais pela 
emancipação da classe trabalhadora, questionam a possibilidade de outros modos 
de produção, como se o capitalismo fosse a única possibilidade possível para a 
humanidade. 
Portanto, é notória a dicotomia do trabalho no que se refere às praticas 
sociais de cada povo em épocas distintas. O trabalho está presente nas relações 
cotidianas, por um lado um sistema que detém o poder e o capital, de outro o 
trabalhador submetido numa relação desumana obrigado a se escravizar para obter 
um mínimo de condições de sobrevivência. Com um modelo que apenas 
instrumentalista o trabalhador para o trabalho, com instrumentos necessários, a 
executar tarefas e atividades mecânicas, utilizando a escola, seus currículos e 
profissionais a executar tal prática. 
 Os desafios para a construção do desenvolvimento com justiça social e 
solidário exigem a desconstrução histórica de modelos egoístas como o modelo 
capitalista, hegemônico que globaliza a pobreza e a desigualdade social. O desafio é 
construir oportunidades e vida digna, num fazer junto com os sujeitos, não repetindo 
coisas para eles e sim com eles. A comunidade da Península do Cavernoso (Ilha), 
quando estimulada a refletir, elaborar e propor ações que possam responder as suas 
necessidades e a construção de uma sociedade de novo tipo, com realização 
prática, corresponde de acordo com o grau de interação entre necessidades e 
intervenção política. Esta concepção também tem o pressuposto no sujeito, com sua 
história de vida, seus acúmulos potencial e saberes. Porém, a cultura globalizada da 
dependência gera nos sujeitos a introspecção de ser sujeito de recepção, de 
programas, créditos, doações, por votos. E favores, dificultando a politização e luta 
para a transformação da realidade. 
 A idéia passada pelas escolas, igrejas e a mídia (meios de comunicação de 
massa) que mantêm e reproduzem o sistema capitalista, individualista e injusto 
dificultam os sujeitos na organização coletiva, cooperativa e solidária. Os caminhos 
para a construção de uma sociedade de novo tipo, podem ter várias concepções, 
porém o ser humano deve ser o foco central, com um conjunto de elementos que 
levem a luta coletiva com o outro, e esta ação transformadora por si só é educativa e 
emancipadora, conduz os povos oprimidos a sua libertação. Percebemos que neste 
processo emancipador, a comunidade passa a construir sua organicidade e definir 
as formas de enfrentar as dificuldades em relação ao sistema e ao ser humano em 
construção. 
 
1.2 AGRICULTURA CAMPONESA E SUA RESISTÊNCIA HISTÓRICA 
A agricultura camponesa, embora as contradições históricas, se manteve 
como propulsora da vida, apesar dos sistemas e das diferentes conjunturas, 
materiais, imateriais, econômico, social e política, mesmo com a concentração da 
riqueza e do poder por determinados grupos em diferentes períodos históricos. Pela 
razão de sempre, em relação com a natureza produzir vida. No entanto, o modelo 
destruidor do capitalismo agrário tem afrontado de forma irracional a natureza e o 
homem, conseqüentemente destruindo toda a base material possível de manter a 
vida no planeta. Portanto, novamente a busca de possibilidades de mudar e 
construir a base material na manutenção da vida, virá pela afirmação da relação 
camponesa de novo tipo, com a natureza. 
Compreendemos ao analisar historicamente a luta dos camponeses, que 
existiram determinados formas distintas de organização camponesa independente 
do urbano. Existe uma nova literatura a partir de 1948, segundo GUZMÁN10 e 
MOLINA11, “que mostra uma nova forma do campesinato. Mostra a sociedade 
camponesa como uma forma de organização social independente do urbano, 
conservando sua identidade e apego a terra” (2005, p. 55). 
Na América Latina, a tomada do continente pelos europeus determinou o fim 
de uma relação harmônica com a natureza dos povos que aqui habitavam, 
introduzindo sua cultura. As famílias e comunidades produziam somente alimentos, 
não depredavam a natureza nem o solo, sempre trocavam de terreno para plantio de 
tempos em tempos para o solo não perder a fertilidade. 
Gusmán e Molina apresentam Robert Redfield12, com estudos do 
campesinato, nesta época de comunidades mexicanas, verificando as mudanças 
das inter-relações existentes com a sociedade urbana industrial propiciando na 
opinião de Redfield, a compreensão de que: “os camponeses são segmentos de 
classe de uma sociedade maior vinculada ao mercado, mesmo quando a maior parte 
de sua produção vai para o auto consumo da unidade familiar” (GUZMÁN; MOLINA, 
2005, p.55-56). 
Outro autor relevante na época é Boguslaw Galeski, que adquiri o legado de 
Lênin, reelabora o conceito de estrutura social e o aplica ao campesinato, marcando 
o aparecimento teórico da estrutura social rural. 
Porém, “o grande impulsionador dos novos estilos camponeses é Teodor 
Chanin”, (GUZMÁN; MOLINA, 2005, p.22) que em seus trabalhos sobre Chayanov13, 
 
10 Eduardo Sevilla Guzmán é agrônomo, doutor em sociologia, professor catedrático e diretor do Instituto de Sociologia y Estudios Campesinos da 
Universidade de Córdoba (ISEC), Espanha. Desde 1985 o ISEC, sob inspiração e direção do professor Sevilla, promove estudos que se realizam no 
contexto de diversos programas de pesquisa para a Comissão das Comunidades Européias, para a Comissão Interministerial de Ciência e Tecnologia 
da Espanha e para a Junta da Andaluzia em diversas modalidades. Em 1991, Eduardo Sevilla à frente do ISEC organizou o Programa de Doutorado em 
"Agroecologia, Sociologia e Desenvolvimento Rural Sustentável", no qual passam a atuar grupos de pesquisadores da América Latina e Europa. 
Paralelamente ao trabalho acadêmico, Eduardo Sevilla Guzmán vem desenvolvendo ao longo desses anos, na Espanha, uma interação com a militância 
camponesa em prol da luta pela terra e da melhoria das condições do cultivo e distribuição da produção agrícola, do ponto de vista sócio-ambiental, 
junto a sindicatos rurais da região da Andaluzia. Destaca-se, nesse caso, a atuação de Sevilla e do ISEC em assentamentos de reforma agrária, nos 
quais vêm sendo implementadas abordagens metodológicas com base em pesquisa-ação-participativa, visando delinear perspectivas de interação da 
academia com os movimentos sociais no campo. Dessa forma, a concepção agroecológica de Eduardo Sevilla Guzmán parte de uma conotação 
sociológica, para além de uma dimensãoestritamente agronômica, fazendo dele um pesquisador interdisciplinar. 
 
11 Manuel Gonzalez Molina Navarro, diretor geral de Agricultura Ecológica da Junta de Andalucía (Espanha); Centro de Investigaciones Etnológicas "Ángel 
Ganivet" de Granada, Facultad de Filosofia Y Letras, Granada. 
 
12 Robert Redfield (Chicago, 1897 - 1958) Antropólogo americano. Fez doutorado em 1928, realizou trabalhos de campo no México, especializou-se nos 
processos de mudança cultural dos artigos de incorporação que ocorrem no folc das sociedades quando fazem o contato com inimigo com urbanos. Entre 
seus trabalhos, cabe destacar: La pequeña comunidad: puntos de vista respecto al estudio de un conjunto humano (1955) e La sociedad campesina y la 
cultura: aproximación antropológica a la civilización (1956). 
 
13 Alexander Chayanov (Александр Васильевич Чаянов) (03 de outubro de 1888 - 1937), soviético, notável economista agrário, sociólogo rural. 
Lênin e Kautsky14, rompe com a perspectiva unilinear do Marxismo Ortodoxo 
Agrário, gerando o marco teórico do Narodnismo Marxista recuperando a 
multilinearidade para o desenvolvimento dos países periféricos. 
Surge com Teodor Chanin e Hamza Alavi15, estudos dos camponeses 
articulados a sociologia do subdesenvolvimento. 
Joan Martinez Alier16 introduz a dimensão agroecologia na sua análise dos 
movimentos sociais em países pobres, construindo assim o marco teórico da “A 
ecologia dos pobres”, sendo formulado propostas e métodos de desenvolvimento 
rural. 
Michel Redelift17 (GUZMÁN; MOLINA, 2005, p. 59) analisa a reforma agrária 
mexicana e equatoriana e seu aspecto do populismo agrário. Aparece também, o 
termo ecodesenvolvimento. Numa perspectiva de transformação das sociedades 
rurais, em contraposição ao desenvolvimento convencional dos organismos 
internacionais. 
Entretanto, esta estratégia de valorização dos recursos naturais implica a 
apropriação capitalista da natureza, sua introdução no processo produtivo de mais 
valia e sua circulação como mercadoria no mercado. 
 
 
14 Karl Kautsky (16 de outubro de 1854 – 17 de outubro de 1938), principal teórico da democracia social. Transformou-se numa figura significativa na 
história Marxista como o editor do quarto volume da crítica econômica de Karl Marx, Das Kapital. Propagador principal do Marxism Orthodox após a morte 
de Friedrich Engels. 
 
15 Hamza Alavi, professor, é um dos poucos estudiosos no Ocidente que têm escrito de forma extensiva no Paquistão. Based on years of research and 
scholarship, his work reflects a progressive outlook of developments in Pakistan, its society, and its history. Com base em anos de pesquisa e estudo, o seu 
trabalho reflete um progressivo perspectivas de evolução no Paquistão, a sua sociedade, e sua história. Spanning over a period of three decades, his 
writings deal with social, political, economic, and historical issues. Ao longo de três décadas, seus escritos relatam sobre temas: sociais, políticos, 
econômicos e questões históricas. These issues include, among others, social structures of the Pakistani society, ethnicity, problems of developing societies, 
history of dictatorship in Pakistan and almost parallel development of its reliance on the US. Estas questões são, entre outras, as estruturas sociais da 
sociedade paquistanesa, etnia, problemas de desenvolvimento de sociedades, a história da ditadura no Paquistão e quase paralelo desenvolvimento da sua 
dependência em relação os E.U.A. 
 
16 Joan Martinez Alier é professor da Economía e Historia Económica de la Universidad Autónoma de Barcelona (Universidade da Economia e a História 
Econômica da Universidade Independente de Barcelona), era previamente companheiro da pesquisa do St. Faculdade de Anthony de Oxford. Autor dos 
estudos de assuntos agrarios em Andalusia, em Cuba e na escala da montanha de Peru, membro fundador da Sociedad Internacional de Economía 
Ecológica y de la Asociación Europea de Economía Ambiental (Sociedade o Internacional da Economia Ecological e da Associação Européia da Economia 
Ambiental). 
 
17 Robert Redfield, Boguslaw Galeski, Teodor Chanin, Chayanov, Lênin e Kautsky, Hamza Alavi, Friedmann, Angel Palerm, Michel Redelift. São exemplos 
de teóricos que conseguiram sistematizar a luta histórica dos camponeses (as) ao longo da história a partir de correntes de pensamento que mostram a 
realidade concreta, histórica da luta pela existência humana dos camponeses, as contradições, bem como a prática consciente em busca de condições de 
vida mais digna. 
 
Existe uma ampla literatura sobre a renovação teórica na década de 80 
(BUTTEL18, 1979); (GUZMÁN, 1995), analisando o problema do desenvolvimento do 
capitalismo na agricultura. O maior dilema, o fato de a agricultura familiar estar 
condenada a desaparecer ante a mercantilização incontida ou, ao contrário, possuir 
mecanismos de resistência para manter sua natureza socioeconômica. 
 É a obra de maior destaque nesta questão, analisa as transformações e 
internalização dos sistemas agroalimentares na agricultura, reflete sobre o marco 
teórico da modernização agrária. Durante a década de 1970, analisou o 
desenvolvimento desigual estabelecido pelo modelo de acumulação do capital na 
estrutura, centro-periférico do sistema capitalista mundial. Janvry estabelece o 
contexto macroteórico, da economia e sociologia Leninista, que seria completada 
pelo enfoque microteórico de sua teoria da descamponeização, que analisa as 
formas de extração do campesinato, a partir de um modelo a-histórico do mais puro 
funcionalismo marxista. A internacionalização de amplos setores do capital social a 
metanacionalização, estabelece o divórcio entre estados e nação. As corporações 
multinacionais e transnacionais repartiriam seus lucros e para seus bancos, poucos 
recursos ficam nos países periféricos, baixos níveis de emprego, sendo que a 
tecnologia e custos de produção são a chave. Tudo isto, converge para o 
neoliberalismo que diz que o campesinato vai se salvar pelo agronegócio e dentro 
dele. 
Para Teodor Chanin, que destaca três conceitos teóricos de Chayanov: “as 
cooperativas rurais, os ótimos diferenciais e a cooperação vertical” (GUZMÁN; 
MOLINA, 2005, p. 66). Afirma que dessa forma, o cooperativismo como democracia 
de base, como ação coletiva para manter o próprio trabalho familiar. Afirmando o 
cooperativismo coletivo no campesinato, como um dos elementos principais de 
organização coletiva e luta dos camponeses. Como forma de organizar a produção e 
garantir a comercialização. Os ótimos diferenciais referem-se à combinação de 
estruturas econômicas e sociais, como forma de exploração agrária, introduzindo 
 
18 Frederick H. Buttel, foi professor na Universidade de Cornell (1978-1992) e, era professor do Departamento de Sociologia Rural e do Instituto de Estudos 
Ambientais da Universidade de Wisconsin nos Estados Unidos. Foi também presidente da Associação de Sociologia Rural entre 1990 e 1991 e da 
Associação de Agricultura, Alimentação e Valores Humanos entre 1998 e 1999. Era co-editor da revista Society and Natural Resources. Frederick Buttel era 
um dos principais autores de reconhecimento internacional da subdisciplina de sociologia ambiental desde a sua constituição nos anos 1970. Faleceu aos 56 
anos (14 de janeiro de 2005). Foi presidente do GT 24 da Associação Internacional de Sociologia (ISA), e sua atuação à frente da coordenação entre 1998 e 
2002 contribui significativamente para a sua legitimidade e maturidade. Será sempre lembrado como um dos mais importantes referenciaisem sociologia 
ambiental, em sociologia rural e na sociologia da ciência e tecnologia. 
 
peculiaridades através de processos tecnológicos, com potencial endógeno, ou seja, 
com potencial da própria natureza e conhecimento local que possibilita a soberania 
alimentar, econômica e a sustentabilidade do ambiente natural. 
O terceiro elemento teórico é cooperação vertical, consiste na combinação de 
unidades de produção de diferentes tamanhos para diferentes tipos de agricultura. O 
fato é que em sistemas agrários de pequenas explorações o capital comercial 
penetra, transforma concentrando verticalmente e seletivamente. Isto para Chayanov 
pode ser evitado por organizações camponesas e políticas públicas de Estado. 
“O conceito para forma de produção de Friedmann, é a combinação das 
formas históricas de reprodução da agricultura com a formação social na qual se 
insere” (GUZMÁN; MOLINA, 2005, p. 67). Portanto, a condição técnica e social 
peculiar específica dos camponeses, contraditoriamente a mercantilização da 
agricultura a efetivação da relação social de gênero e geração permitirá a 
continuidade do campesinato. O autor afirma que, a forma de produção simples 
pode constituir uma forma de manejo dos recursos naturais estável, coexistindo com 
as formas camponesa e capitalista, o que é uma contradição teórica no sentido de 
compreender o modelo de agricultura capitalista utilizando todas as formas de 
tecnologias e agrotóxicos, para a produção em larga escala, sem pensar não futuro 
da existência do planeta. Já o campesinato se faz existir quando sem interferência 
do modelo de agricultura capitalista de forma mais harmônica com a natureza. 
Angel Palerm19 (GUZMÁN; MOLINA, 2005, p. 74) mostra a evolução teórica 
dos estudos camponeses chegando ao “conceito de agroecologia ou ecologia dos 
pobres”. Uma epistemologia precursora da agroecologia atual, que possui formas de 
produção própria, produz energia da matéria prima, que inclui seu próprio trabalho 
familiar e a reprodução do campo. “O futuro da organização da produção agrícola 
parece depender de uma nova tecnologia centrada no manejo inteligente do solo e 
da matéria viva por meio do trabalho humano, utilizando pouco capital, pouca terra e 
 
19 Angel Palerm (Ibiza, 1917- México, 1980), antropólogo mexicano de origem espanhola. Exilado no México após a guerra civil espanhola, era filiado ao 
Partido Comunista, cujas as diretrizes orientadoras terminariam estar de encontro pelas razões políticas e acadêmicos. Seus trabalhos são relacionados ao 
evolucionismo multilinear dos Stewards e do Childe e com o estado de Wittfogel. Fez trabalhos do campo em países diversos e foi professor na Universidad 
de México e secretário da Unión Panamericana. Entre seus trabalhos é possível enfatizar: Estudios sobre ecología humana (1957), Historia de la etnología 
(1974-1977) y Antropología y marxismo (1980). 
 
pouca energia inanimada. Este é o sistema camponês” (GUZMÁN; MOLINA, 2005, 
p. 67). 
Busca-se o termo mais correto: camponês, agricultor familiar ou pequeno 
produtor de mercadorias, entre tantas outras propostas conceituais. 
Para o autor, a questão camponesa na perspectiva da agroecologia é mais 
que uma categoria histórica ou de sujeito social, consiste em uma forma de manejar 
os recursos naturais vinculadas aos agroecossistemas locais e específicos de cada 
zona, utilizando um conhecimento sobre tal entorno de cada momento histórico 
apropriado, tal tecnologia gera graus de campesinato. O modo de uso da natureza e, 
a relação com ela coexistiu com diversos sistemas sociais os quais possuíam 
diferentes graus de complexidade. O campesinato pode ser visto, identificado como 
forma integrada a, um modo específico a, um modo de uso dos recursos naturais. É 
um grupo social em torno do qual, organiza a produção material para a sua 
existência e a produção de um modo de vida familiar e em grupo. A relação histórica, 
homem e natureza têm como objetivo essencial à satisfação das necessidades 
materiais. Por isso, tem valor de uso histórico, valor cultural mediante o consumo de 
uma quantidade determinada de energia, materiais e o emprego de um saber e 
instrumentos de produção adequados, como afirma: 
 
Victor Manuel Toledo20 operacionalizou a categoria camponesa nos 
seguintes conceitos: a) energia utilizada; b)escala ou tamanho do 
âmbito espacial e produtivo de seu manejo; c) autosuficência; d) 
natureza da força de trabalho; e) diversidade; f) produtividade 
ecologica-energética e do trabalho; h) natureza do conhecimento e, 
por último; i) cosmovisão. (GUZMÁN; MOLINA, 2005, p. 83) 
 
A pesquisa insere o uso industrial que utiliza base energética fóssil ou energia 
atômica e, aplica fertilizantes químicos e novas variedades de plantas geneticamente 
modificados, em contraposição ao modelo camponês de uso e manejo dos recursos 
naturais na perspectiva agroecológica. 
O trabalho na conjuntura atual do campesinato materializa-se na produção de 
alimentos, na luta popular para garantirem direitos, fazendo enfrentamento ao 
agronegócio com poder popular. Pratica a produção de alimentos saudáveis com 
 
20 Víctor Manuel Toledo, prestigiado investigador do Instituto de Ecología de la Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), diretor da revista 
Etnoecológica, autor de infinitos textos publicados no México e no exterior. 
 
respeito à natureza, com técnicas e tecnologias viáveis, sem agrotóxicos, visando 
sempre a auto sustentação da família e da nação. Faz-se necessário à construção 
de um poder imaterial de sustentabilidade técnica e ideológica, ao projeto de 
desenvolvimento do campo, pensado pelos intelectuais do campo que tenham um 
compromisso com a luta contra hegemônica, do modelo de produção capitalista, no 
sentido de desenvolver um projeto de desenvolvimento sustentável para o planeta e 
economicamente viável para a materialização e a existência digna dos seres 
humanos. Para materializar o território camponês é necessário a organicidade para 
lutar pelo trabalho, pela terra e pela justiça social. 
1.3 A FORMAÇÃO DO CAMPO BRASILEIRO 
Na sociedade primitiva, o homem vivia em harmonia em intrínseca relação 
com a natureza e dela tirava sua base material para a manutenção da vida, através 
da coleta de alimentos, da caça e da pesca. Estas foram as primeiras atividades 
básicas, que durante toda a história de luta da humanidade se sustentou. 
Especificamente no Brasil, há comprovação da existência de povos que aqui 
habitaram a mais de 12.000 mil anos, e a evolução proporcionou ao homem a retirar 
da natureza o sustento da vida. Todavia, por volta do ano de 1.500 houve a invasão 
dos portugueses ao Brasil, onde utilizaram este território geográfico para retirar 
recursos da terra. Para que os recursos fossem retirados da terra, utilizou-se a mão 
de obra escrava dos povos indígenas, que ao resistirem e não se adaptando a 
exploração portuguesa permaneceram sendo escravos por muito tempo. Os 
portugueses trouxeram os Padres Jesuítas para instrumentalizar os povos indígenas 
para o trabalho escravo, não conseguiram na prática apesar de terem catequizado 
milhares de índios, ou seja, introduzindo a cultura religiosa européia no País e no 
povo que aqui habitava. Após o fracasso da coroa portuguesa e da elite amiga do rei 
na tentativa de escravizar os povos indígenas, deu-se início a exportação de 
escravos da África para a agricultura latifundiária, aqui implantada pela divisão de 
terras realizada pela coroa portuguesa como capitanias hereditárias, sendo poucos 
os que receberam a concessão e uso das terras do território brasileiro. Ao produzir acana-de-açúcar em vastas áreas de terra, era necessária mão-de-obra escrava, 
permanecendo esta prática no Brasil por mais de trezentos anos. 
A composição do povo brasileiro se dividiu em: Povos indígenas, que 
buscavam resistir em suas tribos, buscando as regiões mais longínquas das já 
habitadas pelos Portugueses, que era o outro grupo social formado; e os escravos 
trazidos do continente africano, formando assim composição social do Brasil. 
A convivência entre esses povos mesmo em condição de extrema 
desigualdade de direitos e acessos fez surgir um novo grupo social, permanecendo 
esta nova classe fora do contexto anterior. Ora, não eram brancos da elite e da 
coroa, não eram negros e não eram indígenas, porém, o surgimento da composição 
de um novo grupo social, a dos brasileiros camponeses excluídos de riquezas e 
terras, que ao buscar espaço fugiam para regiões de serra, montanhas, vales, longe 
da possibilidade de trabalharem como escravos nas fazendas. Ao habitarem esta 
nova terra produziam alimento para a família, surgindo a produção de alimentos da 
agricultura camponesa no Brasil, porém o que predominava era ainda a monocultura 
latifundiária com mão-de-obra escrava para exportação. Para reforçar a 
desigualdade social Dom Pedro promulga a Lei das Terras em 1850, onde consta 
que a terra deveria ser comprada. Esta Lei afirmou a agricultura latifundiária, porque 
quem tinha condições de comprar as terras, era quem dispunha de condições 
materiais, e por isto os camponeses pobres, escravos continuaram excluídos e os 
milhares que pertenciam aos povos indígenas foram dizimados para a inserção dos 
donos que compraram da coroa o que pertencia aos povos indígenas. Mais uma vez 
a realidade do mais forte se impõe e invade vergonhosamente o território que a eles 
não pertenciam. No mesmo período a crise da exportação, a fuga constante de 
escravos que cada vez mais se organizavam e criavam estratégias e enfrentamento 
aos seus exploradores, a falta de consumidores para compor um mercado interno, já 
que a maioria da população era de escravos, é instituída a Lei Áurea que liberta os 
escravos. Libertação esta que surgiu na Lei, porém na prática as terras já tinham 
dono pela lei de terras e não tinham para onde ir. Retornando assim ainda para 
trabalhar nas fazendas, contudo agora sem as correntes, ofertando-se “livremente” 
aos senhores. Os escravos conseguiram se organizaram em grupos denominados 
de quilombos, formando em áreas demográfica mais distantes e íngremes, não 
invadida pelos portugueses, comunidades quilombolas. 
Para ocupar o espaço deixado pelos negros, introduzindo o mercado de 
consumidores os portugueses incentivaram e promoveram a introdução no país de 
povos oriundos da Alemanha, Itália, e outros países europeus que tivessem as 
características físicas de trabalhadores e, além disso, fiéis e corteses para estarem à 
disposição do trabalho nas fazendas. 
Na agricultura, em nome da modernidade, os Estados Unidos da América 
(EUA), introduziu na América Latina os materiais tóxicos e mecânicos advindos da 
chamada Revolução Verde que nada mais era do que, utilizar o pó da china, agente 
laranja entre outros como defensivos agrícolas, podendo utilizá-los como inseticida, 
herbicida, fungicida, etc. Os materiais tóxicos e mecânicos diminuíram o contato do 
homem com a natureza e facilitaram os seus trabalhos na agricultura. Os tanques de 
guerra foram transformados em tratores e, introduzidos como indispensável na 
relação agricultura e produção. No entanto, poucos conseguiram adquirir os tratores, 
aliás, só os latifundiários, os camponeses tiveram que usar manualmente os 
venenos para passar na terra. E isto causou a morte de muitos, desde o inicio da 
Revolução Verde até os dias de hoje, milhões de camponeses adquirem doenças 
provocadas pela utilização do veneno na agricultura, sem comentar da morte dos 
rios e da natureza em geral. Para implantar o projeto do capital internacional, 
governos utilizaram programas como a Empresa Brasileira de Pesquisas 
Agronômicas (EMBRAPA) e currículos que formam técnicos e agrônomos para 
apenas receitarem o uso do veneno para matar vegetais, fungos e insetos. Também 
a utilização de crédito em bancos incentiva os agricultores a trocarem sua tecnologia 
própria, pela tecnologia da Revolução Verde de origem capitalista a serviço do 
capital internacional das multinacionais. 
No campo da luta por direitos, os camponeses tiveram como primeira das 
organizações, promovidas em 1945, com a experiência das Ligas camponesas, 
organização realizada por militantes sociais do Partido Comunista Brasileiro, com 
atividades na organização dos Sindicatos Rurais, mas, não duraram muito. Em 1955, 
tornaram-se uma das maiores organizações de Camponeses no Brasil. As lutas, 
durante dez anos como afirma Stédile, mobilizaram os camponeses gerando lutas e 
esperanças, propiciando um pouco de alento principalmente aos camponeses do 
Nordeste brasileiro. Este movimento exigia já naquele período os direitos de aceso a 
terra, a produção e qualidade de vida. Por lutar contra os dominantes que oprimiam 
o povo, politizando-o muito rápido. Sendo por seu poder de conscientização 
destruída pelo golpe militar de 1964. Como afirma Stédile (2002), centenas de 
liderança foram presas, torturadas, mortas. As ligas foram, de fato, assassinadas: 
 
Elevar o nível de consciência das massas deve ser a nossa maior 
preocupação. Dando-lhes consciência, aprimora-se a sua 
organização, fortalece sua unidade. Quanto mais cresce a 
consciência política dos camponeses e operários, mais resistente 
será a luta. Foi o despertar da consciência política do camponês, que 
lhe deu forças para enfrentar o seu inimigo de tantos séculos, o 
latifúndio; para lançar no Congresso de Belo Horizonte, a sua palavra 
de ordem: “Reforma Agrária radical na lei ou na Marra”, para se 
impor na ordem do dia, da política brasileira. (STEDILE, 2002, p.179) 
 
Entretanto, seguindo na compreensão do Campo brasileiro chegamos hoje ao 
que podemos chamar de Campo do agronegócio e campo da agricultura 
camponesa, que mostra em contraposição dos modelos de agricultura e de 
desenvolvimento para o país e para as pessoas. O campo dos camponeses onde se 
realiza o objeto dessa pesquisa é o campo da Policultura, o uso múltiplo dos 
recursos naturais, possui uma paisagem heterogênea e complexa. A produção é 
para a soberania alimentar da família, vendendo para o mercado o excedente, já 
dentro de sua cultura mais ou menos planejado, cultivo e criação nativa da cultura 
local no que se refere à produção e produção cultural. Relação de harmonia, do 
homem com a natureza e sua diversidade, a tecnologia utilizada está apoiada nos 
saberes locais com base no uso da produtividade biológica primária da natureza, 
orgânico e agroecológica. O trabalho familiar gera emprego e autonomia para as 
famílias camponesas. As riquezas são mais distribuídas e por isso promovem o 
desenvolvimento local. Produzem alimento para o campo e para a população 
urbana, logo produz vida. O camponês se identifica pela sua luta e resistência, 
sempre na contra mão do desenvolvimento do modelo do agronegócio implantado 
como único no mundo. Porque para os camponeses sobram as terras mais 
distantes, de relevo acidentado e de solo fraco, cabendo ao mesmo a este melhorá-
lo com suas técnicas e saberes próprios. O campo, do camponês, tem uma 
diversidade cultural muito grande, onde produz festas, músicas, danças, histórias, 
poesias e realidades de vida. 
Por outro lado, à política capitalista de desenvolvimento chamada de 
agronegócio, ano a ano vai concentrando mais terras e riquezas expulsando o 
camponês. Sendo este desprovido das tecnologiasmais avançadas, e desprovidos 
de políticas agrícolas que lhes dêem suporte, com a ideologia dos currículos 
escolares e dos meios de comunicação em massa, que pregam como espaço de 
bem estar o da cidade, acaba sendo derrotado em seu imaginário e sonho 
camponês e conseqüentemente seduzido ao êxodo rural, indo parar nas cidades. No 
agronegócio o que se vê são monoculturas para as exportações chamadas de 
Commodities, pelo mercado do modelo capitalista. Ocorre a transformação e 
destruição do solo pelo uso de agrotóxicos em larga escala, sem preocupação com a 
natureza, a alta tecnologia elimina as possibilidades de trabalho e emprego, 
concentra os lucros e promovem ainda mais as desigualdades sociais, a miséria, a 
exclusão ao expulsar os camponeses para as favelas urbanas. 
O poder do agronegócio está construído a partir das ações resultantes das 
políticas públicas que regulam as práticas do mercado em todo o mundo, controlado 
pelos organismos internacionais, que são controlados pelos grandes bancos e o 
império Estadunidense. A pouca mão-de-obra que a agricultura capitalista ainda 
oferece, explora o trabalhador com longas jornadas de trabalho e salários indignos. 
O agricultor camponês tem a possibilidade de arrendar terrenos para plantar, 
quando não é de interesse do latifundiário, mas o pagamento da renda acaba tirando 
qualquer possibilidade do camponês conquistar recursos. 
A outra grande questão é o atravessador, compra os produtos dos 
camponeses e repassa as grandes empresas exportadoras, ficando com a maior 
parte do lucro e mais uma vez o camponês acaba ficando sem o lucro de seu 
trabalho familiar. 
O campo em construção dos (as) camponeses (as) não se adapta ao 
produtivismo de uma única cultura, com exclusividade para o mercado e com uso de 
insumos externos. Este território está marcado pela redução das desigualdades 
sociais e uma qualidade de vida. O Território é um dos elementos fundamentais da 
luta e resistência dos camponeses, a ocupação das terras amplia às possibilidades 
de luta contra o modo capitalista de produção como afirma Mançano, para superar 
as ideologias e as estratégias do agronegócio. 
A luta dos camponeses (as) faz nascer à ação por uma educação vinculada 
as matrizes culturais pedagógicas do campo, que promovam a dignificação do 
homem do campo resguardando seus saberes, valores, culturas e enfrentamentos 
ao modelo dominante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO II - SUJEITOS E FORMAÇÃO DA COMUNIDADE PENÍNSULA DO 
CAVERNOSO (ILHA) 
Buscamos agora, depois da chuva, 
Uma réstia de sol para saudar-te. 
Tens o coração consagrado 
Ao gênero fecundo dos rios 
E o medo não alcança tua alma 
Tão acostumada de infinitos. 
 
Buscamos o miolo do barro 
Tua carne atrofiada pela sombra 
Que diminui a palavra céu 
Na boca das crianças. Teus pés ágeis conservam 
A virgindade no azul onde tudo é leve. 
 
Buscamos tua força, Antônio, 
Crescendo na força de teus companheiros: 
Retido no olhar de nossos meninos 
Dura o rio enfurecido de teus braços 
- punho hasteado em comunhão. 
 
Aonde vais, Antônio, 
Com tua fronte acesa ardendo 
Um poema incandescente de esperança? 
 
Aonde vais Antônio, senhor da única vertente 
Que não haverá de secar nesta pátria proibida? 
 
Agora descansa teu corpo em nossas mãos 
E prospera como a chuva 
Fecundando as engrenagens da nova história.21 
 
 
 
 O capítulo II faz referência e descreve os sujeitos, camponeses da 
comunidade da Península do Cavernoso (Ilha), seus saberes, sua forma de viver e 
relacionar-se com os demais sujeitos da comunidade e a natureza, bem como o 
 
21 OLIVEIRA, Jelson. Raízes: Memorial dos Mártires da Terra. Edições Loyola: São Paulo, 2001, pg. 58. 
 
trabalho familiar e as possibilidades de desenvolvimento social. Localiza a 
comunidade e descreve os aspectos culturais de produção, político, formas de lazer, 
o êxodo dos jovens para a cidade, enfim de forma qualitativa, contextualizará a 
comunidade pesquisada. A comunidade da Ilha conta hoje, com uma população de 
120 famílias e perfazendo um total de 600 pessoas que vivem na comunidade. As 
atividades de produção para a comercialização são o milho, laranja, banana, feijão. 
Já para a subsistência das famílias é produzido o leite, aves, porco, milho, arroz, 
feijão, diversos tipos de frutas e verduras além do café, cultura trazida do norte e 
adaptada ao clima da comunidade. As formas de cultivo são na totalidade, empíricas 
agroecológicas ou orgânicas com poucas inserções de agrotóxicos em lavouras de 
algumas famílias. Ocorre nas colheitas o mutirão, reunindo várias famílias para 
trabalhar coletivamente reposto posteriormente em outro mutirão para os vizinhos, 
algumas vezes é feito à troca de dias de serviços prestados as famílias vizinhas, já 
algumas pessoas trabalham “por dia”, de forma informal, ou seja, sem vínculos 
empregatícios, recebendo depois da venda do produto colhido. A principal atividade 
agrícola é a produção de laranja, produzindo aproximadamente 1.800 toneladas/ano, 
em média um hectare por família. O milho é um produto agrícola produzido por todas 
as famílias, utilizada para comercialização, quando sobra, sendo utilizada uma parte 
para o consumo dos animais e da família como a canjica, a quirera, o milho verde e 
o fubá. A banana é cultivada por todas as famílias para consumo próprio, utilizado 
para venda, contribuindo no orçamento familiar do camponês. Muitas vezes a 
banana, a jaca é oferecida para os visitantes da cidade e de outras comunidades 
como forma de agradecer e ser simpáticos aos visitantes. 
O fato de a comunidade ser uma Península banhada por dois rios, trás pela 
sua beleza natural muitas visitantes, porém não se tem uma prática de agregar valor 
a renda dos camponeses utilizando o turismo. Isto ainda não faz parte do imaginário 
dos camponeses e governantes. O histórico da comunidade, as suas lutas, 
desafios, e a forma de enfrentar as dificuldades, os elementos de organização 
coletiva, de articulação e solidariedade, auto-sustentação, valores, cultura, 
identidade do povo da comunidade, partindo das práticas existentes, mostra a luta 
por emancipação e a libertação dos sujeitos coletivos da comunidade, ocorre desde 
que haja articulação coletiva. 
 Faz-se necessário compreender que o campo além do espaço geográfico e 
de produção material contempla seus sujeitos. De acordo com os autores, “existem 
sujeitos históricos que vivem, se relacionam, com diferentes identidades, e um modo 
de vida” (CALDART; ARROYO; MOLINA, 2004, p.150), são essas pessoas que 
compõe o campo, com diferentes idades, de gênero, que se articulam e se 
organizam. A Educação se faz no diálogo, vinculada às lutas sociais. 
É necessária uma proposta que leve em conta a totalidade dos sujeitos, para 
isso é indispensável à compreensão dos fenômenos da realidade, as habilidades 
naturais e estratégias para ações de modificação da realidade, que vise o 
desenvolvimento humano e a emancipação dos sujeitos. 
Entretanto, o campo está vivo apesar das contradições. Os movimentos 
sociais como o Movimento dos Trabalhadores Sem terra (MST), o Movimento dos 
Pequenos Agricultores (MPA), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), 
entre outros estão sendo a esperança coletiva da luta pela sobrevivência, pela 
existência da vida humana no Planeta e pelo espaço territorial do campesinato 
brasileiro. Os sujeitos desta comunidade oriundos dos massacres material, cultural, 
memorial e de vida, quando da retirada de suas terras para a Construção do lago da 
Usina de Itaipu e a construção do Parque Nacional, foi também o fim de suas terras, 
suascasas, seus convívios, seus cemitérios que vinham de geração para geração. 
Foi o extermínio de milhões de animais. Sujeitos que ainda lutam na justiça por 
receber a indenização de suas terras, outros camponeses da comunidade são 
oriundos de anos de luta por um pedaço de terra e, só conseguiram neste 
reassentamento com consignação de algumas famílias. Outro fenômeno é a 
chegada de outras famílias para ocupar o lote daquelas que vão embora para os 
centros urbanos, em busca de uma vida melhor. As famílias que chegam, sempre 
são de camponeses também desprovidos de material, de condições financeiras para 
comprar lotes em outro lugar. Apesar de ser bela na sua essência (circundada, pelo 
rio Cavernoso e rio Iguaçu) a comunidade da Península do Cavernoso (Ilha) é 
distante da sede do município e para ter acesso a ela, são 30 km de estrada de chão 
até a rodovia mais próxima. Isto não impediu que apesar das condições em que o 
povo foi colocado, em fator de desigualdade pelas dificuldades de acesso, a 
continuar a lutar por direitos de uma vida melhor e por justiça social não só em seu 
ambiente, mas em todo o território e no entendimento de querer que a comunidade 
se desenvolva cada vez mais, produtivamente, qualitativamente como sujeitos de um 
processo histórico construído e reconstruído com luta, trabalho e organicidade. 
 
2.1 DISCORENDO SOBRE O TRABALHO FAMILIAR 
Segundo Knijnik, a análise da Etnomatemática e a relação com o trabalho 
familiar, descreve os jovens, participando nas atividades da comunidade e da 
organização para a luta pela terra, escola e direitos, tendo efeitos na vida do 
reassentamento. Outro passo é a participação das mulheres, que, antes ausentes 
das discussões coletivas dos grupos, passaram a integrá-las. Uma segunda 
repercussão, diz respeito à qualificação do planejamento da produção do 
reassentamento. Ao mesmo tempo em que ocorre o aprendizado de novas 
ferramentas matemáticas, favorece para um momento mais qualificado, sobre os 
aspectos financeiros das atividades do reassentamento. A incorporação no trabalho, 
do uso de calculadoras e processos mais sofisticados de planejamento, antes 
desconhecida pelos jovens. Tal abordagem educativa possibilita, também, que 
novas decisões sobre a produção sejam tomadas, integrando os jovens no mundo 
laboral de suas famílias. Este interesse é valorizado pelos adultos, que estão cientes 
da importância da nova geração participar mais ativamente no processo produtivo. 
Tal participação está diretamente relacionada com a Educação, que se realiza na 
escola de assentamento, em particular, na dimensão de sua Educação Matemática. 
Compreende-se também ao estudar os contextos locais, que os jovens 
influenciados pelo sistema saem do campo, pelo fetiche de uma vida urbana melhor. 
E os poucos que continuam, estão moldados pela cultura da escola, da massificação 
pela mídia e de sociedade capitalista, não conseguem mais compreender a sua 
realidade concreta a partir da luta, de resistência, enfrentamentos, elementos para a 
melhoria da qualidade de vida no próprio campo. Os jovens não acreditam que 
exista espaço no campo, e possibilidades de desenvolvimento no seu território 
camponês. Esta ideologia dominante não neutra está a serviço da limpeza do 
campo, para introduzir de forma definitiva o modelo de agricultura capitalista: terras 
maquináveis para a monocultura; as terras mais íngremes e de solo mais 
acidentados para o pasto (criação de gado). Esta ideologia tira do jovem camponês 
a possibilidade de realizar o trabalho familiar, pois ele está formado ou para ir para 
cidade ou para trabalhar com máquinas, excluindo de seu imaginário probabilidades 
de continuar a cultura camponesa, que é garantir a soberania alimentação da família 
e dos povos com a produção de alimentos e de cultura. Uma vez que o jovem vê sua 
cultura estereotipada e ridicularizada pelos meios de comunicação que faz com que 
o jovem perca sua identidade. No mesmo espaço, contraditório a estas idéias, 
encontra-se jovens que reafirmam a confiança na possibilidade do campo como 
espaço de vida, de produção, de educação , de cultura, de lazer, proporcionando a 
esperança, que entusiasma o pesquisador a continuar o trabalho, no sentido de dar 
significado aos conhecimentos a cultura e a vida dos camponeses (as). 
 
2.2 DISCORENDO SOBRE A CULTURA LOCAL 
Quando nos remetemos à cultura local, esta é específica, possui aspectos 
próprios, porém oriunda das relações da sociedade globalizada e liberal, com a 
propagação da cultura dominante através dos meios de comunicação em massa à 
predominância de uma cultura geral, que sugere a cultura local menos importante ou 
sem valor. 
Segundo Gelsa Knijnik: 
 
O primeiro alicerce que apresento para meu argumento diz respeito 
ao entendimento que estou dando à cultura, caracterizando-a como 
algo que as pessoas, os grupos sociais produzem, que não está de 
uma vez por todas fixo, determinado, fechado nos seus significados. 
Cultura aqui não é entendida como algo consolidado, um produto 
acabado, homogêneo. Este modo de conceituar cultura implica em 
entendê-la como um terreno conflituado, tenso, em permanente 
disputa pela imposição de significados (KNIJNIK, 1996, p. 80). 
 
Quando Knijnik refere-se à cultura entende como algo sempre a ser 
construído e de fato, é isto mesmo, no entanto, o que mais prevalece é o massacre 
cultural dos grupos dominantes para garantir seu espaço, e a propagação de 
“verdades absolutas”, por exemplo, mudança de hábitos alimentares, de vestuário e 
de relações familiares e em grupo, porque normalmente a cultura passada pelo 
modelo dominante nunca ingênua, busca sobrepor-se e garantir as individualidades, 
para assegurar a não organização dos povos. Tendo a cultura dominante interesse 
em manter seu modelo, que contribui na exploração do trabalho humano, e da venda 
de seus produtos que sobrevivem à cultura e o poder das classes dominantes. 
Sendo que “(...) a resposta que o homem dá a um desafio não muda só a realidade 
com a qual se confronta – a resposta muda o próprio homem, cada vez um pouco 
mais, e sempre de modo diferente” (FREIRE, 1980, p. 37). 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO III – UMA BREVE DESCRIÇÃO SOBRE A EDUCAÇÃO BRASILEIRA 
 
A Educação no Brasil sempre esteve a serviço do grupo dominante, que 
sempre controlou o país. Primeiramente, esteve a serviço do Império Português, 
transformando o Brasil em colônia, baseada na exploração da natureza dos povos 
indígenas que aqui viviam e posteriormente, da exploração da terra e dos povos 
africanos que aqui eram comercializados como escravos. Nunca contemplaram uma 
educação que estivesse a serviço de todos os que aqui habitavam. Quase sempre 
ausente e por vezes, tentativas de instrumentalizar os indígenas e em seguida os 
negros para o exercício do trabalho escravo. Quando houve no mundo a abolição 
dos escravos, o tráfico negreiro passou a não dar lucro, culminando então com a 
retirada dos escravos das propriedades das fazendas. Em seguida, a pobreza do 
mundo europeu aliado à necessidade de alimentos, trouxe para o Brasil inúmeros 
trabalhadores europeus, que inicialmente trabalhavam nas fazendas e depois, 
acabavam vivendo em territórios ou faxinais de terras que não eram apropriadas 
para os fazendeiros. 
Este contado com os europeus e descendentes de escravos, índios, 
constituiu-se o Povo brasileiro e esta mestiçagem acabou por compor também os 
camponeses (as). Que ao precisar sobreviver procuram territórios íngremes, 
distantes dos fazendeiros para garantir sua terra e produção de alimentos. Portanto, 
a educação sempre esteve relegada à elite que enviava seus filhos para

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