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Contratos de Transporte Internacional José Antônio Farenzena1 RESUMO Esse artigo pretende fazer uma análise sobre os principais contratos de transporte internacional: as vantagens do desenvolvimento de contratos escritos e no que eles se fundamentam. Palavras-chave: Contratos de Transporte Internacional, Transporte Marítimo Internacional, Transporte Ferroviário Internacional, Transporte Aéreo Internacional, Transporte Rodoviário Internacional, Cone Sul. ABSTRACT This paper aims to survey international transport contracts: the advantages of developing a written contract and on which they are based. Keywords: International Transport Contract, International Maritime Transport, International Railroad Transport, International Air Cargo, International Inland Transit, Cone Sul. 1 Estudante de Tecnologia em Comércio Exterior, na FTEC Brasil. Zeca@pressa.com.br 1. Transporte Internacional de Carga Do conceito de transportar – conduzir ou levar uma carga de um lugar para outro – retiramos a informação necessária para definir exatamente o Transporte Internacional de Carga: operação de transladar produtos através do fornecimento de um serviço, do país exportador (origem) ao país importador (destino), por um determinado preço (frete). A condução de cargas pode ser realizada através de diferentes modalidades: marítima, fluvial, rodoviária, ferroviária. Atualmente, o transporte mais utilizado é derivado da combinação de uma ou mais modalidades (multimodal ou intermodal). 2. Contratos de Transporte Internacional Os contratos de transporte internacional são documentos que exprimem vontades acordadas entre um transportador2 e um usuário do serviço de transporte3. Nos documentos, o transportador fica responsável por retirar a carga em um ponto de origem e entregar num destino previamente combinado, e o usuário comprometido ao pagamento da importância devida (frete). É importante ressaltar que todos os contratos de transporte são regidos por normas nacionais e internacionais e formalizados em documentos cujo formato varia conforme a modalidade de transporte. Em um contrato básico de transporte internacional devem constar as seguintes informações: a) Lugar e data de assinatura; b) Nome e endereço do operador de transporte, do embarcador (exportador, importador e intermediário) e do consignatário (receptor da carga no destino); c) Lugar e data em que foi recebida a mercadoria pelo transportador e local a ser entregue; 2 Companhia de navegação, aerocomercial, ferroviária ou rodoviária, ou um operador de transporte multimodal); 3 Exportador, importador, intermediário. d) Descrição da carga (tipo, natureza, quantidade, volume, peso bruto e líquido, embalagem, tipo de unitização e valor declarado); e) Custos do transporte e montante dos juros por demora na entrega; f) Instruções do embarcador ao transportador a respeito da carga; g) Instruções e dados específicos de cada modalidade de transporte; h) Relação de documentos entregues ao transportador; Anexo 1. Documentos que materializam o contrato de transporte internacional e normas que o regem. 2.1 Contratos de transporte marítimo internacional A função básica do contrato de transporte marítimo internacional é servir como instrumento de vinculação jurídica de dois ou mais sujeitos com vontades convergentes, oferecendo respaldo legal e segurança. É necessário para harmonizar o meio de transporte que move o maior volume de mercadorias do comércio internacional, praticamente o único meio viável para grandes volumes geograficamente afastados. 2.1.(a) Contrato de Fretamento No contrato de fretamento o armador obriga-se a colocar à disposição do afretador os serviços do navio, mediante pagamento do frete. O instrumento contratual neste tipo de contrato é a charter party (carta de fretamento), a qual deve conter: a) O nome e a capacidade de carga da embarcação; b) O nome do capitão; c) O nome do armador e do afretador; d) O local e data combinada de carga/descarga; e) O preço do frete; f) O demurrage ou a indenização em caso de atraso; Encaixa-se aqui o Contratos de Afretamento a Casco Nu (Bareboat ou Demise Charter Party)4 e o Contrato de Afretamento por Tempo (Time Charter Party)5. 2.1.(b) Contrato de Transporte Marítimo 4 Navio é tomado em afretamento desprovido do comandante, tripulação, e demais itens inerentes necessários à navegação. 5 Utilização do navio no qual o armador disponibiliza toda a estrutura do navio, equipado em condição de navegabilidade, a disposição do afretador. A finalidade do contrato de transporte marítimo não é apenas a cessão de um espaço no navio, mas também o efetivo transporte da carga de um ponto de origem ao destino final, e o instrumento jurídico que o representa é o Conhecimento Marítimo ou Bill of Lading (B/L), o qual não deixa de ser um contrato de compra e venda de mercadorias. Anexo 2. Exemplo de Ocean Bill of Lading (Conhecimento de Embarque Marítimo) O contrato de transporte marítimo pode ser celebrado de acordo com diversos regimes contratuais: a) House to House (H/H): a mercadoria é retirada no estabelecimento do exportador e entregue no estabelecimento do importador; b) Pier to Pier (P/P): a mercadoria é retirada no porto de partida e entregue no porto de chegada; c) House to Pier (H/P): a mercadoria é retirada no estabelecimento do exportador e entregue no porto de chegada; d) Pier to House (P/H): a mercadoria é retirada no porto de partida e entregue no estabelecimento do importador. É classificado como contrato de transporte Marítimo o Contrato por Viagem (Voyage Charter Party)6 e o COA (Contract of Affreightment)7 – contrato de quantidades ou tonelagem. 2.1.(c) Responsabilidade da operação 6 O contrato é de transporte de mercadorias (O transportador fornece o espaço a bordo e o fretador utiliza), de acordo com a Convenção de Roma, de 1980, sobre Obrigações Contratuais. 7 Transportar uma quantidade de carga durante um período de tempo (normalmente grandes quantidades e por longos períodos, em embarques flexíveis. (exemplo: um COA para 400.000 toneladas, por um período de 20 meses, em embarques de 20.000 toneladas a cada 60 dias). Entende-se como Responsabilidade da Operação apenas a definição de qual parte será responsável pela estufagem e desova do container. Os termos usados para explicitar com clareza são: LCL (less than a container load): o custo e a responsabilidade são do transportador. É normalmente utilizado nas operações de ship’s convenience8. FCL (full container load): o custo e a responsabilidade são do exportador. FCL/LCL: a estufagem é feita pelo exportador, por sua conta em risco, no armazém ou no porto de embarque. Já a desova é feita pelo transportador, também por sua conta e risco, no porto de desembarque. 2.2 Contratos de transporte multimodal internacional O transporte multimodal utiliza dois ou mais modais (marítimo, aéreo, terrestre) para o transporte de cargas de um ponto de origem ao destino final, mediante a celebração de apenas um contrato e a intermediação de um único agente, denominado Operador de Transporte Modal (OTM). Todo o transporte é regido por um documento chamado Conhecimento de Transporte Modal (CTM), desde a carga até a entrega no destino. Serve como prova de que a carga está sob custódia, portanto, responde objetivamente por qualquer dano, avaria ou atraso na entrega.Anexo 3. Exemplo de Conhecimento de Transporte Modal (CTM) – Combined Transport Bill of Lading. 2.3 Contratos de transporte aéreo internacional O transporte aéreo internacional é coordenado pela International Air Transport Association (IATA), e disciplinado pela Convenção de Varsóvia, de 12 8 Modalidade de carga fracionada na qual o armador unitiza carga de vários embarcadores em um ou mais containeres por sua própria conveniência. de outubro de 1929, recepcionada no nosso ordenamento jurídico pelo Decreto nº 20.704 de 24 de novembro de 1931. Logo em seguida, datado de 28 de setembro de 1955, veio o Protocolo de Haia que modificou e fez algumas emendas na Convenção de Varsóvia. Em 28 de maio de 1999 foi assinada a Convenção para a Unificação de Certas Regras Relativas ao Transporte Aéreo Internacional, chamada Convenção de Montreal. A construção tradicional do contrato de transporte aéreo repousa em quatro princípios: a) Autonomia da vontade (liberdade de contratar e do indivíduo manifestar sua vontade sob a proteção e tutela da ordem jurídica); b) Consenso entre partes interessadas; c) Estabelecimento de uma “lei privada” entre as partes, munido de sanções em decorrência de descumprimento; d) Boa fé, lealdade e confiança na realização dos seus próprios interesses dentro das aspirações da sociedade (Art. 422 do Código Civil); A função de contrato aéreo é feita pelo Conhecimento de Embarque Aéreo (Master Air Waybill – MAWB ou House Air Waybill - HAWB). Anexo 4. Exemplo de Master Air Waybill, segundo padrões da IATA. A entrega da mercadoria determina a conclusão do contrato por parte do prestador de serviço, enquanto que o pagamento é a conclusão por parte do adquirente. As obrigações do transportador não surgem antes do recebimento das mercadorias, mas isso não impede uma formação anterior de contrato (o que gera, até mesmo, a obrigação do recebimento/envio de mercadorias). No Brasil, é regulamentado pela Lei 7.565/86 (Código Brasileiro de Aeronáutica) e pela Norma de Serviço Aéreo Internacional (NOSAI) de 24/02/1987 (ANAC). 2.4 Contratos de transporte rodoviário internacional O Transporte rodoviário internacional de cargas é contratado através de um Conhecimento Rodoviário de Transporte – CRT, que funciona como contrato de transporte rodoviário, como recibo de entrega da carga e como título de crédito. Por esses motivos PE de uso obrigatório no transporte entre os países do Cone Sul. É de emissão obrigatória, em três vias originais, sendo a primeira via negociável e destinada ao exportador. O conhecimento é obrigatoriamente datado e assinado pelo transportador ou seu representante e a mercadoria vistoriada por ocasião do embarque. Se houver alguma avaria esta deve ser notificada no documento sendo então conhecimento sujo – unclean. Na América do Sul o transporte rodoviário é regido pelo Acordo sobre Transporte Internacional Terrestre – ATIT9. Para as empresas permissionárias de transporte do Cone Sul é exigido uma licença obrigatória a qual é obtida junto às autoridades do país, chamado de “documento de idoneidade”. No Brasil a obtenção deste documento se dá através da aprovação do Departamento de Transportes Rodoviários – DTR, da Secretária de Transportes Terrestres do Ministério dos Transportes. O transporte rodoviário possui um documento, emitido pelo despachante responsável pelo desembaraço da carga, denominado MIC/DTA – Manifesto Internacional de Carga Rodoviária/Declaração de Trânsito Aduaneiro. O MIC/DTA é um formulário único que combina o Manifesto de Carga com o Trânsito Aduaneiro. Ele pode ser utilizado quando a quantidade de carga for suficiente para a lotação de um veículo, reduzindo o tempo de trânsito (transit time), sem a necessidade de vistoria de carga em fronteira, mas apenas a conferência do lacre com o qual o veículo deve efetuar todo o percurso previsto. O MIC/DTA também permite que o desembaraço aduaneiro 9 O acordo foi pactuado entre Brasil, Peru, Uruguai, Chile, Bolívia, Argentina e Paraguai e o pagamento de impostos de importação ocorram no destino final e não no local de cruzamento da fronteira. Anexo 5. Exemplo de MIC/DTA 2.5 Contratos de Transporte Ferroviário Internacional Assim como o transporte rodoviário na América do Sul, é regido pelo Acordo sobre Transporte Internacional Terrestre – ATIT. A Carta de Porte Internacional (TIF/DTA) é o documento mais importante do transporte ferroviário, sendo ele obrigatório e de uso nas zonas alfandegárias. Exerce funções de contrato de transporte, recibo de carga e título de crédito. Anexo 6. Modelo de TIF/DTA e RailRoad Bill of Lading. Anexo 1. Documentos que materializam o contrato de transporte internacional e as normas que o regem. RODOVIÁRIO FERROVIÁRI O MARÍTIMO/FLU AÉREO MULTIMODA L Carta de Porte Rodoviário CMR (1) Carta de Porte Ferroviário CIM / COTIF (4) Conheciment o de Embarque B/L (Bill of Lading) Carta de Porte Aéreo AWB (Air Way Documento de Transporte Intermodal ou Multimodal ( TIR) (2) Convênio CMR (Internacional ) … CPIC / MCI / DTAI Decisão 399 Resolução 300 (CAN) … CRT(3) Convênio CRT-C (Cone Sul) Convênio CIM / COTIF CRT-F (não está em vigência) (Cone Sul) Regras Haia Protocolo Visby Regras Hamburgo Bill) Convênios de Varsóvia e Protocolos da Haia, da Guatemal a e de Montreal FBL Regras UNCTAD- CCI FIATA … COMBIDOC Regras UNCTAD- CCI BIMCO … DTM Decisão 15/94 (MERCOSUL ) Decisão 331 (CAN) Convênio ONU 1980 (não está em vigência) (1). "Convention sur le Transport de Merchandises par Route". (2) "Transport International Routier". (3) Convênio sobre o Contrato de Transporte e a Responsabilidade do Transportador. (4) Convênio Internacional para o Transporte de Mercadorias por Ferrovia /Convênio relativo ao Transporte Internacional Ferroviário Anexo 2. Exemplo de Ocean Bill of Lading (Conhecimento de Embarque Marítimo) Anexo 3. Exemplo de Conhecimento de Transporte Modal (CTM) – Combined Transport Bill of Lading. Anexo 4. Exemplo de AWB seguindo os padrões da IATA. Anexo 5. Exemplo de MIC/DTA Primeira folha – Frente Segunda folha – Frente Verso MIC/DTA País de partida / País de partida (Verso MIC) Certifico que foram verificadas as informações constantes neste Manifesto Internacional de Carga Rodoviária / Declaração de Trânsito Aduaneiro e na documentação anexa, assim como a integridade dos elementos de segurança da unidade de transporte identificada neste documento, na saída deste país, e que foi concluída a operação de trânsito no território nacional. Certifico que fueron verificadas las informaciones que constan en este Manifesto Internacional de Carga por Carretera / Declaración de Tránsito Aduanero y en su documentación anexa, asi como la integridad de los elementos de seguridad de la unidad de transporte identificada en este documento, en la salida de este país, e que fue completada la operación de trânsito en el território nacional. Assinatura e carimbo de Alfândega de Saída Firma y sello de la Aduana de Salída Data / Fecha Paísde trânsito / País de tránsito País de destino / País de destino Anexo 6. Modelo de TIF/DTA e RailRoad Bill of Lading. Bibliografia Soares, E. “Contrato de transporte internacional de carga”. Disponível em <http://www.edilsonsoares.com.br/artigos/artigo.asp?ArticleID=468>. Acesso em 17/06/2007. Índice Fundamental de Direito. “Código Brasileiro de Aeronáutica”. Disponível em <http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/1986- 007565/007565_1986_cba_235_a_245.htm>. Acesso em 18/06/2007. Assis, O. Q.; “Contrato de transporte internacional e o Imposto de Renda retido na fonte sobre remessa ao exterior”. Disponível em <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8381>. Acesso em 18/06/2007. Miranda, M.B. Rodrigues, L.E.M.J. “Contrato de Transporte Aéreo – A aplicabilidade do código brasileiro de aeronáutica, do novo código civil e do código de defesa do consumidor”. Disponível em <http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/bartigo17.pdf>. Acesso em 19/06/2007. Salgues, O. “Contratos de Afretamento e transporte no Direito Marítimo”. Disponível em <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4022>. Acesso em 19/06/2007. Lectric Law Library. “Charter Party”. Disponível em <http://www.lectlaw.com/def/c031.htm>. Acesso em 19/06/2007.
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