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O CONTRATUALISMO - 2013.2 (3) - Copia

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O CONTRATUALISMO
ASPECTOS DOUTRINÁRIOS E AS CONCEPÇÕES DE ALGUNS DOS PRINCIPAIS PENSADORES CONTRATUALISTAS. 
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UMA PRIMEIRA ABORDAGEM...
Em termos gerais, o CONTRATUALISMO compreende todas as teorias políticas que entendem que a ORIGEM DA SOCIEDADE e o FUNDAMENTO DO PODER se configuram por meio de um CONTRATO, isto é, por meio de um ACORDO TÁCITO ou EXPRESSO firmado entre a maioria dos indivíduos.
 Este acordo firmado entre os indivíduos, tácita ou expressamente, que se encontraria na origem da sociedade ou que se configuraria como o fundamento do poder, assinalaria o fim do ESTADO DE NATUREZA e o início do ESTADO SOCIAL e POLÍTICO. 
 A idéia do contrato social se constitui como uma “ficção metodológica” empregada por teorias políticas ditas “contratualistas” cujo objetivo é justificar a obediência ao poder. 
 Tais teorias contratualistas têm sua origem nas teorias “pactualistas” da Idade Média que justificam o poder como resultado de um pacto entre o povo e o governante/príncipe.
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AINDA UMA ABORDAGEM INICIAL...
Em um sentido mais restrito, o CONTRATUALISMO pode ser entendido como uma ESCOLA que se destacou no contexto do pensamento político ocidental entre o início do século XVII e o final do século XVIII e que teve como seus maiores expoentes: Althusius (1557-1638), Hobbes (1588-1679), Spinoza (1632-1677), Pufendorf (1632-1694), Locke (1632-1704), Rousseau (1712-1778), Kant (1724-1804).
 Ao tratarmos o CONTRATUALISMO como um ESCOLA, isto não significa dizer que o entenderemos a partir de uma ORIENTAÇÃO POLÍTICA, mas sim a partir de uma mesma estrutura conceitual (de uma mesma SINTAXE) capaz de racionalizar a FORÇA e alicerçar o PODER no CONSENSO. 
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DA PASSAGEM DO ESTADO DE NATUREZA PARA O ESTADO SOCIAL E POLÍTICO.
Três seriam os possíveis níveis de explicação para a passagem do ESTADO DE NATUREZA para o ESTADO SOCIAL e POLÍTICO:
 Tal passagem seria um fato histórico, tratando-se de uma explicação problematizada pela questão antropológica da ORIGEM DO HOMEM CIVILIZADO.
De acordo com um outro nível explicativo, a ORIGEM DO ESTADO DE NATUREZA e a passagem para o ESTADO SOCIAL e POLÍTICO são tratadas como HIPÓTESES LÓGICAS cujo objetivo é destacar a IDÉIA RACIONAL e JURÍDICA DO ESTADO (colocando o fundamento da obrigação política no CONSENSO EXPRESSO ou TÁCITO a ser concedido pelos indivíduos a uma autoridade que os represente e os encarne).
O CONTRATO firmado pelos indivíduos se constituiria em um instrumento de ação política capaz de IMPOR LIMITES AOS DETENTORES DO PODER – tal explicação prescinde completamente do problema antropológico da origem do homem civilizado e do problema filosófico e jurídico do ESTADO RACIONAL. 
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ATENÇÃO PARA O CONCEITO DE DIREITO NATURAL!!! 
O DIREITO NATURAL (jus naturale) consiste em um sistema de normas de conduta intersubjetiva diferente do sistema configurado pelas normas fixadas pelo Estado.
Pela doutrina do JUSNATURALISMO, o direito natural tem validade em si, sendo anterior e superior ao direito positivo – em caso de conflito entre os dois sistemas (o do direito natural e o do direito positivo), é ele, o DIREITO NATURAL, que deve prevalecer.
O JUSNATURALISMO é, portanto, uma doutrina antitética à doutrina do POSITIVISMO JURÍDICO, segundo a qual só há um direito, ou seja, o direito estabelecido pelo ESTADO, cuja validade INDEPENDERIA DE QUALQUER REFERÊNCIA A VALORES ÉTICOS. 
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Os filósofos do contratualismo moderno defendem (diferentemente de Aristóteles) a tese segundo a qual o início da vida social é marcada pela presença de homens iguais por natureza. E em razão do indivíduo e seus interesses que se criou o Estado. Em particular, a propriedade privada.
Novo paradigma se instala na filosofia: o indivíduo como origem da experiência jurídica. 
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HOBBES: DA GUERRA DE TODOS CONTRA TODOS, DO CONTRATO E DO ABSOLUTISMO 
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Hobbes: o estado como garantia da segurança jurídico-política para ordem econômica 
AULA 6
Thomas Hobbes (1588-1679)
Defensor do absolutismo, mas numa vertente racional;
Obras importantes: Do cidadão (1642); Leviatã – ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil (1651);
Para Hobbes, a vida é o bem maior. A justiça e a injustiça resultam de convenções. O homem é por natureza egoísta: homo hominis lupus ( violência generalizada) e bellum omnium contra omnes ( a guerra de todos contra todos).
Assim, sugere um pacto social em que o Soberano coloca-se acima do bem e do mal, acima de todas as instituições, com poder absoluto. Há a servidão no Estado: “todos os homens devem renunciar aos direitos do estado natural”.
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Hobbes menciona que :
“Devemos portanto concluir que a origem de todas as grandes e duradouras sociedades não provém da boa vontade recíproca que os homens tivessem uns com os outros, mas do medo recíproco que uns tinham dos outros.”
Para Hobbes, a igualdade humana se revela na condição de medo. A paz é resultante do contrato que nasce do medo de um estado de guerra de todos contra todos. Por isso, o indivíduo transfere todo o seu poder a um homem, o soberano. Interessante que Hobbes inova quando fundamenta o poder absoluto no contrato social através do consenso e não no poder divino - pacto de submissão.
No estado de natureza de Hobbes, “todo homem tem direito a todas as coisas, incluindo os corpos dos outros” (Leviatã, Parte I, Cap. XIV, p.82)
Toda a humanidade tem “ uma inclinação geral” que ele caracteriza como “um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder, que somente cessa com a morte” (Leviatã, Parte I, Cap. XI, p.64)
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DO INDIVÍDUO HOBBESIANO
Segundo Hobbes, o homem é o INDIVÍDUO – todavia, tal indivíduo não é o INDIVÍDUO BURGUÊS, tratando-se de um indivíduo que não almeja tanto os bens materiais, mas a HONRA.
Dentre as causas da violência, de acordo com Hobbes, pode-se destacar a busca da GLÓRIA, quando os homens se batem “...por ninharias, como uma palavra, um sorriso, uma diferença de opinião, e qualquer outro sinal de desprezo, quer seja diretamente dirigido a suas pessoas, quer indiretamente a seus parentes, seus amigos, sua nação, sua profissão ou seu nome”.
 Assim, a honra é o valor atribuído a alguém em função das aparências externas – o homem hobbesiano não é o HOMO OECONOMICUS, o que significa dizer que para este “homem hobbesiano” é mais importante ter os sinais de honra, inclusive a riqueza (mais como meio, do que como fim)>
Este homem hobbesiano imagina ter poder, imagina ser respeitado ou ofendido pelos semelhantes, imagina o que o outro vai fazer – desta imaginação decorrem perigos já que o homem se põe a fantasiar o que é irreal.
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ASSIM...
 O estado de natureza é portanto uma condição de guerra pois cada um se imagina (com razão ou sem razão) poderoso, perseguido, traído.
 Para que se ponha fim a este conflito, necessário se faz que se implante uma “lei de natureza”, “estabelecida pela razão e pela qual se proíba a um homem de fazer tudo o que possa destruir sua vida ou privá-lo dos meios necessários para preservá-la, ou omitir aquilo que pense poder contribuir melhor para preservá-la”.
 Além do fundamento jurídico necessário ao fim do conflito, deve o Estado, segundo Hobbes ser dotado da espada, armado para forçar os homens ao respeito – tal Estado tem que ser pleno, absoluto, com capacidade para resolver todas as pendências e para arbitrar qualquer questão, constituindo-se na condição essencial para a existência da sociedade. 
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ESTADO DE NATUREZA EM HOBBES :
“ESTADO DE GUERRA” DE TODOS CONTRA TODOS
“...não haverá como negar que o estado natural dos homens, antes de ingressarem na vida social, não passava de guerra, e esta não ser uma guerra qualquer, mas uma guerra de todos contra todos” (HOBBES, 2002, p.33).
Para Renato Janine Ribeiro, Hobbes apresenta um absolutismo com um individualismo radical. Nesse sentido, temos que observar que o filósofo é um pensador de transição,
ao mesmo tempo que é absolutista, busca fundamento diverso do fundamento teológico. É absolutista inovador.
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LOCKE: DAS ORIGENS DO LIBERALISMO 
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O ESTADO DE NATUREZA EM LOCKE
Podemos dizer que, juntamente com Hobbes e Rousseau, Locke é um dos principais representantes do JUSNATURALISMO ou TEORIA DOS DIREITOS NATURAIS.
Em linhas gerais, o modelo jusnaturalista de Locke é semelhante ao de Hobbes, na medida em que, ambos, partem de um ESTADO DE NATUREZA que, por meio da mediação de um CONTRATO SOCIAL, chegam ao ESTADO CIVIL.
 Em oposição à doutrina aristotélica, de acordo com a qual a sociedade PRECEDE ao INDIVÍDUO, Locke afirma que a existência do INDIVÍDUO é anterior à SOCIEDADE e ao ESTADO.
 Tendo como base uma concepção individualista, os homens viviam originariamente num estágio PRÉ-SOCIAL e PRÉ-POLÍTICO no qual gozavam da mais perfeita LIBERDADE e IGUALDADE – esta é a ambiência do ESTADO DE NATUREZA lockeano.
 De acordo com Locke, o ESTADO DE NATUREZA era uma situação real e historicamente determinada, pela qual a maior parte da espécie havia passado, ainda que em épocas diferentes – alguns povos ainda se encontrariam neste ESTADO DE NATUREZA, como por exemplo as tribos norte-americanas.
 Diferentemente do ESTADO DE NATUREZA hobbesiano que se baseava na insegurança e na violência, o ESTADO DE NATUREZA lockeano se constituía em um estado de relativa paz, concórdia e harmonia
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OBSERVAÇÃO IMPORTANTE ACERCA DO ESTADO DE NATUREZA EM LOCKE
No ESTADO DE NATUREZA lockeano, que se apresentava como um estado pacífico, os homens já eram dotados de RAZÃO e desfrutavam da PROPRIEDADE que, numa primeira acepção utilizada por LOCKE, designava simultaneamente a VIDA, a LIBERDADE, e os BENS como DIREITOS NATURAIS DO SER HUMANO.
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A TEORIA DA PROPRIEDADE EM LOCKE:
Em uma segunda acepção utilizada por Locke, a noção de propriedade se apresentava de maneira mais restrita, significando especificamente a posse de BENS MÓVEIS OU IMÓVEIS – tal teoria da propriedade diferia da de Hobbes para quem a propriedade inexistia no estado de natureza, sendo instituída pelo Estado após a formação da sociedade civil, podendo este mesmo Estado suprimir a propriedade dos súditos.
Para Locke, a propriedade já existia no estado de natureza, sendo uma instituição anterior à sociedade e se constitui como um direito natural do indivíduo que não pode ser violado pelo Estado – o homem era naturalmente livre e proprietário de sua pessoa e de seu trabalho, sendo, portanto, o trabalho, segundo Locke, o fundamento originário da PROPRIEDADE.
O uso da moeda levou à concentração da riqueza e à distribuição desigual dos bens entre os homens – a concepção lockeana de que o trabalho é que “provoca a diferença de valor em tudo quanto existe”, pode ser considerada, de certa forma, como a precursora da TEORIA DO VALOR-TRABALHO, desenvolvida por Smith e Ricardo, economistas do LIBERALISMO CLÁSSICO.
O limite da propriedade era, inicialmente, fixado pela capacidade de trabalho do ser humano – com o surgimento do dinheiro e do comércio surgiu uma nova forma de aquisição da propriedade através da COMPRA.
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O CONTRATO SOCIAL EM LOCKE:
Apesar de pacífico, o estado de natureza em Locke apresenta alguns inconvenientes, como por exemplo, a violação da propriedade (em uma primeira acepção, vida liberdade e bens) que, na falta da lei positivada, do juiz imparcial e de força coercitiva podia levar ao conflito entre os indivíduos singulares.
Visando a superação destes inconvenientes, os homens se unem e estabelecem LIVREMENTE entre si o CONTRATO SOCIAL que faz a passagem do ESTADO DE NATUREZA para a SOCIEDADE POLÍTICA OU CIVIL – esta sociedade política ou civil é formada por corpo político único, dotado de LEGISLAÇÃO, de JUDICATURA e da FORÇA CONCENTRADA DA COMUNIDADE.
Em Locke, o contrato social é um PACTO DE CONSENTIMENTO, a partir do qual os homens concordam, livremente, em formar a sociedade civil para preservar e consolidar ainda mais os direitos que possuíam originariamente no estado de natureza – no ESTADO CIVIL, os DIREITOS INALIENÁVEIS do ser humano á VIDA, à LIBERDADE e aos BENS estão melhor protegidos sob o amparo da lei, do árbitro e da força política de um CORPO POLÍTICO UNITÁRIO.
O contrato social em Locke difere fundamentalmente do contrato hobbesiano – em Hobbes, os homens firmam entre si um PACTO DE SUBMISSÃO, através do qual transferem a um único homem ou a uma assembléia a força coercitiva da comunidade, trocando voluntariamente a LIBERDADE pela SEGURANÇA do Estado-Leviatã.
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A SOCIEDADE POLÍTICA OU CIVIL EM LOCKE:
Com o estabelecimento da SOCIEDADE POLÍTICA OU CIVIL (cuja distinção não é muito clara em Locke), parte-se para a escolha de uma determinada FORMA DE GOVERNO – na escolha do governo, a UNANIMIDADE do contrato originário dá lugar ao PRINCÍPIO DA MAIORIA, segundo o qual prevalece a DECISÃO MAJORITÁRIA, respeitando-se os DIREITOS DA MINORIA.
Segundo Locke, independentemente da forma adotada, “todo o governo não possui outra finalidade além da conservação da propriedade” - 
Os principais fundamentos do ESTADO CIVIL, de acordo com Locke, são os seguintes: o livre consentimento para o estabelecimento da sociedade, o livre consentimento para a formação do governo, a proteção dos direitos da propriedade pelo governo, o controle do executivo pelo legislativo e o controle do governo pela sociedade.
Com a definição da forma de governo, caberia igualmente à maioria a escolha do PODER LEGISLATIVO, que Locke denomina de PODER SUPREMO, o qual seria dotado de superioridade sobre os demais poderes (o PODER EXECUTIVO e o PODER FEDERATIVO).
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O DIREITO DE RESISTÊNCIA EM LOCKE:
No que se refere às relações entre governo e sociedade, Locke afirma que, quando o Executivo e o Legislativo violam a lei estabelecida e atentam contra a PROPRIEDADE, o governo deixa de cumprir o fim a que havia sido destinado, tornando-se ilegal e degenerando em TIRANIA – o que define a tirania é o EXERCÍCIO DO PODER PARA ALÉM DO DIREITO, VISANDO O INTERESSE PRÓPRIO E NÃO O BEM PÚBLICO OU COMUM.
A violação deliberada e sistemática da propriedade (vida, liberdade e bens) e o uso contínuo da força sem amparo legal colocam o GOVERNO em ESTADO DE GUERRA contra a SOCIEDADE e os GOVERNANTES em rebelião contra os GOVERNADOS – nestas condições o povo é investido do legítimo DIREITO DE RESISTÊNCIA à OPRESSÃO e à TIRANIA.
A DOUTRINA DA LEGITIMIDADE DA RESISTÊNCIA AO EXERCÍCIO ILEGAL DO PODER, reconhece ao povo, quando este não tem mais a quem recorrer para sua proteção, o direito de recorrer à força para a deposição do governo rebelde – tal doutrina remontava ao período das Guerras de Religião na Europa e ao ser resgatada e revalorizada por Locke no Segundo Tratado sobre o governo civil, transformou-se no “motor” das revoluções liberais que eclodiriam posteriormente na Europa e na América.
O Estado de guerra assim imposto ao povo pelo governo, configura a DISSOLUÇÃO DO ESTADO CIVIL e o retorno ao ESTADO DE NATUREZA – a inexistência de um juiz comum faz com que o impasse só pode ser decidido pela força.
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ROUSSEAU E O CONTRATO SOCIAL
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ROUSSEAU E A QUESTÃO DA LIBERDADE (I):
A princípio, Rousseau faz uma dura constatação, n’O CONTRATO SOCIAL, a respeito da condição humana: “O homem nasce livre, e por toda parte encontra-se aprisionado. O que se crê senhor dos demais, não deixa de ser mais escravo do que eles” – para Rousseau, a LIBERDADE não é uma convenção e nem uma prerrogativa legal, mas é uma CONDIÇÃO INTRÍNSECA À NATUREZA HUMANA, sendo a ESCRAVIDÃO é a plena renúncia desta natureza humana, sustentada por convenções e interesses mesquinhos.
No DISCURSO SOBRE A ORIGEM DA DESIGUALDADE, Rousseau descreve a trajetória da condição de liberdade existente no ESTADO DE NATUREZA até o surgimento da PROPRIEDADE, com todos os inconvenientes que daí surgiram.
Na passagem do estado de natureza para a “condição de servidão”, encontra-se um pacto proposto pelos poderosos
– tal pacto, segundo Rousseau, deve ter dado origem à sociedade e às leis “que deram novos entraves ao fraco e novas forças ao rico, destruíram irremediavelmente a liberdade natural, fixaram para sempre a lei da propriedade e da desigualdade, fizeram uma usurpação sagaz um direito irrevogável e, para proveito de alguns ambiciosos, sujeitaram todo o gênero humano ao trabalho, à servidão e à miséria.” (Discurso sobre a desigualdade)
Ao declarar que ignora o processo de transformação do homem, da liberdade à servidão, Rousseau se refere aos fatos reais, afirmando que tal transformação pode ser construída hipoteticamente e demonstrada por argumentos racionais.
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ROUSSEAU E A QUESTÃO DA LIBERDADE (II):
O CONTRATO SOCIAL inicia-se a partir do reconhecimento de que o homem encontra-se em toda parte “a ferros” – a partir daí, Rousseau pretende estabelecer as condições de possibilidade de um pacto legítimo, através do qual, os homens, depois de terem perdido sua liberdade natural, possam ganhar, em troca, a LIBERDADE CIVIL.
No processo de legitimação do PACTO SOCIAL, o fundamental é a condição de IGUALDADE DAS PARTES CONTRATANTES – assim, as cláusulas do contrato, “quando bem compreendidas, reduzem-se a uma só: a alienação total de cada associado, com todos os seus direitos à comunidade toda, porque, em primeiro lugar, cada um dando-se completamente, a condição é igual para todos e, sendo a condição igual para todos, ninguém se interessa por tornar onerosa para os demais (Contrato Social)
Neste pacto, ninguém sairia prejudicado porque o corpo soberano que surge após o contrato é o único a determinar a forma de distribuição da propriedade como uma de suas atribuições possíveis, já que a alienação da propriedade de cada parte contratante foi total e sem reservas – estariam assim dadas as condições para LIBERDADE CIVIL, pois o POVO SOBERANO, sendo ao mesmo tempo parte ativa e passiva (agente do processo de elaboração das leis e aquele que obedece a essas mesmas leis), tem todas as condições para se tornar um SER AUTÔNOMO, agindo por si mesmo
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OBSERVAÇÃO IMPORTANTE ACERCA DA TEMÁTICA DA LIBERDADE NO PENSAMENTO DE ROUSSEAU
Obedecer à lei que se prescreve a si mesmo, é a conjugação perfeita entre liberdade e obediência, é um ATO DE LIBERDADE – Um povo só será livre quando tiver todas as condições de elaborar suas leis em um clima de igualdade, de tal modo que a obediência a essas mesmas leis signifique, na verdade, uma submissão à deliberação de si mesmo e de cada cidadão, como parte do poder soberano, o que significa dizer, uma submissão à VONTADE GERAL e não à vontade de um indivíduo em particular ou de um grupo de indivíduos. 
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A VONTADE E A REPRESENTAÇÃO NO PENSAMENTO DE ROUSSEAU:
A submissão de cada indivíduo à vontade geral é a condição primeira de LEGITIMIDADE da vida pública ou seja, é aquela condição que marca a fundação da VIDA PÚBLICA através de um PACTO LEGÍTIMO, no qual a ALIENAÇÃO de cada um, com todos os seus direitos é total e a condição de todos é a de IGUALDADE.
A legitimação da fundação do corpo político, deve estender-se também para a “máquina política” em funcionamento – para que o corpo político funcione, não basta o ato fundador da associação, sendo necessário que essa VONTADE se realize, daí que os fins da constituição da comunidade precisam ser realizados.
Assim, qualquer forma de governo que se venha a adotar (a monarquia, a aristocracia ou a democracia) terá que se submeter ao PODER SOBERANO DO POVO – mesmo em um regime monárquico, povo pode manter-se como soberano desde que o monarca se caracterize como funcionário do povo.
Impõe-se, assim, antes de mais nada, definir o GOVERNO, o CORPO ADMINISTRATIVO DO ESTADO, como FUNCIONÁRIO DO SOBERANO, como órgão limitado pelo poder do povo (do SOBERANO), como seu funcionário e não como um corpo autônomo ou então como o próprio poder máximo, confundindo-se, neste caso, com o SOBERANO.
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OUTRAS OBSERVAÇÕES IMPORTANTES A RESPEITO DAS QUESTÕES RELACIONADAS À VONTADE E À REPRESENTAÇÃO NO PENSAMENTO DE ROUSSEAU
 No Contrato Social, Rousseau depois de reafirmar o caráter do governo como um corpo submisso à autoridade soberana do povo e depois de reconhecer sua necessidade, passou a enumerar os riscos de sua instituição e a tendência à degeneração.
 Assim, o governo tenderia sempre a ocupar o lugar do soberano e, ao invés de submeter-se ao povo, tenderia, na verdade, a subjugá-lo – segundo Rousseau, “assim como a vontade particular age sem cessar contra a vontade geral, o governo despende um esforço contínuo contra o soberano”.
 Rousseau não admite a REPRESENTAÇÃO no nível da SOBERANIA (ou seja, uma vontade não se representa) – o exercício da vontade geral através dos representantes significaria uma sobreposição de vontades, já que ninguém pode querer pelo outro e quando isto ocorre, a vontade de quem a delegou não mais existe ou não mais está sendo levada em consideração.
 No nível do governo, Rousseau admite representação – todavia, em relação aos representantes, nunca se deve descuidar, pois sua tendência é a de agirem em nome de si mesmos e não em nome daqueles que representam, devendo, para tanto, serem trocados com uma certa frequência.

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