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O sorriso gengival pode ocorrer pela posição dentária e à coroa clínica curta. As causas comuns incluem destruição coronária traumática, cáries, atrito incisal e localização coro- nária da gengiva, podendo levar a hipertrofi a do tecido ou um fenômeno conhecido como erupção passiva alterada5-9. Além disso, pode estar associado a outras condições, incluindo lábio superior curto, extrusão dentária e crescimento vertical excessivo da maxila6-7. O processo de erupção dentária basicamente constitui- se em duas fases. A erupção ativa ocorre quando o dente, em movimento oclusal, emerge da cripta óssea e continua a erupcionar até manter contato oclusal com o dente antago- nista. Este estágio é seguido pela segunda fase, a erupção passiva, caracterizada pelo deslocamento apical da junção dentogengival10-11, que resulta no aumento do comprimento da coroa clínica11-12. Quando grande parte da coroa anatômi- ca permanece coberta pela gengiva, denomina-se de erup- ção passiva alterada ou atrasada2. A ocorrência da erupção passiva alterada é imprevisível, mas a sua frequência no geral da população é de aproximadamente 12%6,10-11,13-14. Clinicamente, o paciente com erupção passiva alterada apresenta coroas clínicas curtas, apresentando a dimensão vertical da coroa menor do que a dimensão horizontal, com- prometendo a harmonia do sorriso2. Para diagnosticar a etiologia do sorriso gengival, como sendo a erupção passiva alterada, deve-se inicialmente anali- sar os lábios do paciente em repouso e no sorriso forçado4, verifi car se há exposição de gengiva em excesso. Se o com- primento do lábio estiver entre 20 e 24 mm destes parâme- tros e o paciente expuser a gengiva em excesso durante o sorriso a causa é sua hiperatividade. Após a análise do lábio, o próximo passo é a localização da JCE (junção cemento esmalte) utilizando uma sonda explo- radora subgengivalmente8. Se a JCE está localizada em uma posição normal no sulco gengival, provavelmente, o paciente não apresenta erupção passiva alterada. Quando a JCE não for detectada no sulco, a sondagem da crista óssea alveo- lar deve ser realizada. Normalmente, nos casos de erupção passiva alterada, é determinado que a JCE está próxima do sulco gengival. A medida pode ser utilizada para determinar a relação da JCE com a crista óssea alveolar7,15. O exame radiográfi co por meio de radiografi as peria- picais auxilia também na determinação do comprimento da coroa anatômica, pela localização da JCE e da quantidade de suporte ósseo8. Quando a causa do sorriso gengival for erupção passiva alterada, o tratamento será a cirurgia periodontal de aumento de coroa clínica. A indicação das diferentes técnicas cirúrgi- cas depende da classifi cação da erupção passiva alterada16. O sucesso do tratamento de aumento de coroa clínica depende de um diagnóstico apurado e um plano de tratamen- to cuidadoso, considerando as distâncias biológicas e a jun- ção dentogengival. Considerando-se que a maioria dos casos de sorriso gengival observados é devido à erupção passiva alterada, o presente artigo teve como objetivo discutir classi- fi cação, métodos de diagnóstico e plano de tratamento desta alteração, exemplifi cando-a através de um caso clínico. RELATO DE CASO CLÍNICO Paciente FM, 19 anos, gênero feminino, queixa-se da de- sarmonia do sorriso após tratamento ortodôntico e relatou ter vergonha de sorrir. Durante o exame inicial, realizou-se uma sequência de avaliação para obter o diagnóstico correto da etiologia do sorriso gengival, que consiste em: Análise do sorriso forçado da paciente e dos seus lábios em repouso (Figura 1). Mensuração do lábio superior em repouso: medida de 20 mm estava dentro dos parâmetros para as mulheres (de 20 a 22 mm). Avaliação da altura da coroa clínica: desarmonia do nível Figura 1 - Sorriso inicial da paciente, mostrando exposição exces- siva da gengiva. 19Revista PerioNews 2011;5(1):17-22 Periodontia da margem gengival dos dentes anteriores superiores (Figura 2). Medida da altura das coroas clínica dos dentes: incisivo central superior (8 mm de altura), Figura 3. Localização da JCE com sonda exploradora introduzida através do sulco gengival: não foi possível detectar a JCE, sugerindo a sua localização no nível da crista óssea alveolar (subgrupo B). Sondagem óssea: após a anestesia terminal infi ltrativa, introduziu-se uma sonda milimetrada até atingir a crista óssea, a medida obtida de 2,5 mm indicava quantidade de tecido gengival supraósseo (Figura 4). Medida da quantidade de mucosa ceratinizada: a JMG (jun- ção muco gengival) estava localizada apical à crista óssea (Tipo I), Tabela 1. Radiografi a periapical da área para auxiliar na localização da JCE e verifi car sua relação com a crista óssea alveolar: crista óssea proximal estava distante da JCE (sem neces- sidade de osteotomia na área interproximal). O diagnóstico clínico e radiográfi co foi de erupção pas- siva alterada Tipo IB e foi planejada a correção do sorriso gengival por meio de cirurgia periodontal com retalho de bisel interno e osteotomia (Tabela 2). Posterior a uma anamnese criteriosa, executou-se a raspagem da boca toda e orienta- ções de higiene bucal para restabelecer a saúde gengival. Após a anestesia terminal infi ltrativa de toda região anterior superior, realizou-se uma incisão em bisel interno ou inverso Figura 2 - Vista frontal intrabucal: desarmonia do nível da margem dos dentes ântero-superiores. Figura 3 - Medida da altura da coroa clínica do incisivo central su- perior direito (8 mm). Figura 4 - Medida da margem gengival até a crista óssea realizada com auxílio da sonda milimetrada. TABELA 1 - CLASSIFICAÇÃO DA ERUPÇÃO PASSIVA ALTERADA6 Tipo Descrição I JMG está localizada apical a crista óssea alveolar. II JMG está localizada no nível da JCE. Subgrupo A A distância entre a crista alveolar e a JCE corresponde a 1,5 a 2 mm, permitindo a inserção normal de fi bras gengivais no cemento. Subgrupo B A crista alveolar está no nível da JCE. TABELA 2 - PLANEJAMENTO CIRÚRGICO DA ERUPÇÃO PASSIVA ALTERADA6 Tipo Planejamento cirúrgico IA Gengivectomia, retalho de bisel interno. IB Retalho de bisel interno com osteotomia. IIA Retalho com posicionamento apical. IIB Retalho com posicionamento apical com osteotomia. 20 Revista PerioNews 2011;5(1):17-22 Gonzales MKS de Almeida ALPF com lâmina de bisturi 15c, demarcando um arco côncavo regular, mais apicalmente, próximo ao nível da JCE, sem atingir a região interproximal2,8, para não alterar a papila in- terproximal e não comprometer a estética da área (Figura 5). Removeu-se o colar de gengiva de aproximadamente 2 a 3 mm (Figura 6), eliminando-se o tecido gengival em excesso e expondo a coroa anatômica do dente. O retalho total foi rebatido com um descolador, possibi- litando a visualização da crista óssea vestibular ao nível da JCE. A osteotomia com cinzéis acompanhou a JCE, estenden- do-se aproximadamente 1 a 2 mm apicalmente para permitir espaço para as distâncias biológicas (Figura 7). Finalmente, as suturas simples foram realizadas nas re- giões interproximais, com fi o Vicryl 6.0 (Johnson & Johnson), Figura 8, e removidas após uma semana. A avaliação pós- operatória de três meses revelou um adequado aumento de coroa clínica dos dentes com a preservação da característica em arco côncavo regular da margem gengival e da papila interproximal (Figura 9). A comparação entre o sorriso inicial (Figura 1) e fi nal do paciente (Figura 10) demonstrou a harmo- nia do lábio com as estruturas dentárias e gengivais obtidas após o procedimento cirúrgico periodontal. DISCUSSÃO O planejamento cirúrgico do aumento de coroa clínica se baseia na avaliação do sorriso, comprimento anatômico da coroa, comprimento