Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Carl Rogers (1902-1987) Nascido em Illinois, em uma família numerosa que se mudou para o campo quando tinha 12 anos, o que despertou seu interesse pela agricultura científica, que se concretizou na universidade dirigindo seus primeiros estudos para as Ciências Físicas e Biológicas. Recebeu influência das idéias de John Dewey e foi introduzido na Psicologia Clínica por Leta Hollingworth obtendo experiência prática como interno do Instituto Child Guidance (Instituto de Aconselhamento da Criança) de forte tendência freudiana. Outra importante influência foi a de Otto Rank que se separara da linha ortodoxa de Freud. A sua contribuição para a teoria da personalidade representa uma síntese da fenomenologia de Snygg e Combs; da teoria holista e da organísmica de Goldstein, Maslow e Angyal; da teoria interpessoal de Sullivan e de sua própria teoria do self. Carl Rogers lançou como metodologia própria de terapia o que ele chama de "terapia centrada no cliente", onde ele acredita que o cliente tem em si as potencialidades de mudança, onde é possível com a devida acolhida terapêutica, que Rogers chama inferência empática, transformar sua personalidade e chegar a uma completa aceitação do "eu". Para tanto, utilizou a si mesmo como instrumento terapêutico, numa proposta a que ele dá o nome de espelhamento, que ocorre na medida em que o terapeuta devolve ao cliente suas próprias questões, até alcançar exatamente o que o cliente desejava exprimir naquelas afirmações, o que vai levando o cliente rumo à aceitação de suas experiências. Rogers vê a terapia como um processo, composta de vários estágios, que vão de uma fixidez até uma aceitação total do cliente. "Ao procurar captar e conceituar o processo de mudança, comecei por buscar os elementos suscetíveis de caracterizarem a própria mudança. Pensava na mudança como entidade...pouco a pouco, fui compreendendo, na medida em que me expunha à matéria bruta da mudança, que se tratava de um "contínuo"....Mas o contínuo mais significativo é o que vai da fixidez para a mobilidade... Desenvolvi progressivamente esse conceito de processo, distinguindo nele sete fases, mas insisto em que se trata de um contínuo e que todos os pontos intermediários persistem, quer se distingam três ou cinqüenta fases."(Carl Rogers - Tornar-se pessoa p.148) "Esta nova abordagem coloca um peso maior sobre o impulso individual em direção ao crescimento, à saúde e ao ajustamento. A terapia é uma questão de libertar o cliente para um crescimento e desenvolvimento normais." "Esta terapia dá muito mais ênfase ao aspecto afetivo de uma situação do que aos aspectos intelectuais." "Esta nova terapia da muito mais ênfase a situação imediata do que ao passado do indivíduo." (Rogers - 1959) Abaixo seguem os principais componentes conceptuais de sua teoria: Organismo - foco de toda a experiência. Experiência é igual a tudo que está acontecendo dentro do organismo e do que está potencialmente disponível para consciência num dado momento. Essa totalidade constitui o campo fenomenal (estrutura de referência para a pessoa, que só pode ser conhecido por ela). Como a pessoa se comporta depende desse campo fenomenal (realidade subjetiva) e não da realidade externa. Campo fenomenal é igual às experiências conscientes somadas as experiências inconscientes (não-simbolizadas). - Diferença entre experiência inconsciente de Rogers e inconscientes de Freud. O organismo pode discernir e reagir a uma experiência inconsciente (subcepção). Se a experiência não for simbolizada adequadamente, a pessoa não vai comportar-se de modo adequado. Terapia serve, também, para simbolizar essas experiências inconscientes. Como saber se a experiência foi simbolizada adequadamente? Como saber discernir a ficção da realidade? Para Rogers, o que a pessoa pensa ou experiência é a realidade para a pessoa, ou seja, é uma hipótese sobre a realidade, que deverá ser testada, quando a pessoa vai verificar a exatidão da informação recebida. Self ou autoconceito - Porção do campo fenomenal que se diferencia gradualmente. Parece ser imutável e estável, mas é uma gestalt cuja significação vivida é suscetível de mudar sensivelmente. Processo constante de mudança à medida que as situações mudam. É a visão que a pessoa tem de si, baseada em experiências passadas, estimulações presentes e expectativas futuras. Ênfase na mudança e na flexibilidade. Self ideal - Tudo aquilo que a pessoa gostaria de ser. É também estrutura móvel e variável. Distância entre self e self ideal causa desconforto, insatisfação e dificuldades neuróticas. Aceitar-se é sinal de saúde mental. Aceitação não é conformismo ou resignação, é estar mais perto da realidade. Relações entre organismo (experiência real do mesmo) e self: congruência e incongruência - Congruência é o grau de exatidão entre a experiência e a tomada de consciência. Alto grau de congruência: o que a pessoa está expressando (comunicação), experiência e tomada de consciência são todas semelhantes. Crianças pequenas exibem alta congruência. Incongruência é sentida como tensão, ansiedade, confusão interna. Incongruência entre tomada de consciência e experiência é chamada repressão (pessoa não sabe o que está fazendo). A maioria dos sintomas pode ser vista como formas de incongruência. Pode-se falar, ainda, de congruência-incongruência entre self e self ideal e entre realidade subjetiva (campo fenomenal) e realidade externa. DINÂMICA DA PERSONALIDADE - Tendência à auto-atualização - Há um impulso, em todos nós, que nos leva a uma maior congruência e a um funcionamento mais realista - impulso auto-realizador. Impulso em direção à saúde. Única meta da vida: auto-realizar-se. Essa tendência é seletiva: seleciona aquilo que é capaz de levar a pessoa construtivamente em direção à realização e completude. Essa força pode ser atrapalhada pelos obstáculos da vida como eventos passados ou crenças que aumentam a incongruência. O organismo torna-se mais diferenciado, expandido, autônomo e socializado à medida que amadurece. Essa tendência pode ser vista quando observamos um indivíduo durante um longo tempo. Rogers não pensa na idéia de motivações específicas, já que o que motiva a pessoa é essa tendência à auto-realização. Consideração positiva incondicional - Pessoa é amada, cuidada e aceita incondicionalmente, independente de seus comportamentos. Se o bebê experimenta esse amor incondicional, ele vai experimentar congruência. Patologia - Consideração positiva condicional gera incongruência entre self e a experiência. Essa incongruência gera ansiedade. O indivíduo responde com a negação e distorção, como defesa. Essa incongruência também afeta as relações interpessoais. Terapia não-diretiva ou centrada no cliente - Maior força orientadora da relação terapêutica é o cliente e não o terapeuta. Terapeuta não é médico que diagnostica ou pesquisador. O cliente é uma pessoa de autovalor incondicional, única, que porta sentimentos, comportamentos que devem ser valorizados. Terapeuta deve se colocar como pessoa autêntica, encontrando o cliente com os sentimentos que ele está experienciando a partir e no contato com o cliente. Terapeuta é capaz de soltar-se para entender o cliente. É preciso criar um clima que irá levar o cliente a uma maior liberdade para ser ele mesmo. Quando o cliente percebe que o terapeuta tem uma consideração positiva incondicional por ele e um entendimento empático de sua estrutura interna de referência, inicia-se um processo de mudança. Durante tal processo, a pessoa fica cada vez mais consciente de seus sentimentos e experiências, seu autoconceito se torna mais congruente com as experiências totais do organismo. Processo terapêutico é exemplo de relação e comunicação interpessoais. A terapia é uma situação não-ameaçadora para o cliente. Conclusão Antes de tudo é preciso que se diga que Carl Rogers, ao contrário do que dizem de Freudé um otimista, e muito embora se aproxime de Freud no tocante à influência em certos pontos da família na formação do indivíduo, Rogers, como Maslow acredita na potencialidade do ser humano, onde ao contrário de Freud, acredita ser capaz de mudar sua personalidade. Em alguns pontos, sua teoria, parece-nos paradoxal, quando afirma que é possível que o terapeuta seja capaz de alcançar a forma de sentir do seu cliente. ("(...) o terapeuta é capaz de compreender o cliente, que não existem barreiras interiores que o impeçam de sentir o que o paciente sente em cada momento da entrevista... (Rogers - 1959), ao mesmo tempo admitir a impossibilidade de conhecimento do campo fenomenal do sujeito por outra pessoa ("... Este campo é o quadro de referência individual, só podendo ser conhecido pela pessoa. Não pode jamais ser conhecido por outrem, exceto através da inferência empática, e mesmo assim jamais é perfeitamente conhecido... (Rogers-1959). Portanto esse ponto foi o que nos deixou com dúvidas de como esse processo se dá terapeuticamente, embora sua prática clínica nos demonstre que realmente há um progresso rumo à aceitação de si mesmo em seus clientes, pensamos ser utópica a idéia de uma completude, como gostaria Rogers e como diz ser impossível segundo Freud. Rogers baseia-se no presente, no sujeito de agora, o que nos permite fazer um paralelo com a Gestalt, muito embora nas várias etapas da terapia de Rogers podemos identificar também vários mecanismos freudianos. Finalizando, não podemos deixar de falar que, apesar de ter feito uma compilação de várias teorias, isso foi feito dando a elas uma nova roupagem e muito mais do que isso, sua grande contribuição foi colocá-las em prática, e poder mostrar a funcionalidade de suas teorias, numa prática clínica original e breve, já que uma das críticas mais comuns à psicanálise é de ser um processo demorado que não pressupõe transformações.
Compartilhar