Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FUNDAMENTOS DE LEGISLAÇÃO Professora Me. Monica Cameron Lavor Francischini GRADUAÇÃO Unicesumar Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção Operacional de Ensino Kátia Coelho Direção de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Direção de Operações Chrystiano Mincoff Direção de Mercado Hilton Pereira Direção de Polos Próprios James Prestes Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida Direção de Relacionamento Alessandra Baron Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Coordenador de Conteúdo Paulo Pardo Design Educacional Fernando Henrique Mendes Rossana Costa Giani Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Editoração Jaime de Marchi Junior Humberto Garcia da Silva Revisão Textual Jaquelina Kutsunugi Keren Pardini Maria Fernanda Canova Vasconcelos Nayara Valenciano Ilustração Robson Yuiti Saito C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; FRANCISCHINI, Monica Cameron Lavor. Fundamentos de Legislação. Monica Cameron Lavor Francischini. Reimpressão Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 164 p. “Graduação - EaD”. 1. Direito. 2. Direito positivo. 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-8084-542-6 CDD - 22 ed. 340 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e so- lução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos- sos farão grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhe- cimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi- tário Cesumar busca a integração do ensino-pes- quisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consci- ência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al- meja ser reconhecido como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con- solidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrati- va; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relaciona- mento permanente com os egressos, incentivan- do a educação continuada. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quan- do investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequente- mente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa- zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa- tível com os desafios que surgem no mundo contem- porâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó- gica e encontram-se integrados à proposta pedagó- gica, contribuindo no processo educacional, comple- mentando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inse- ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproxi- mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi- bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pes- soal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cres- cimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda- gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi- bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en- quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus- sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. Diretoria Operacional de Ensino Diretoria de Planejamento de Ensino Professora Me. Monica Cameron Lavor Francischini Mestre em Ciências Jurídicas com ênfase nos Direitos da Personalidade pelo Centro Universitário de Maringá (UniCesumar/PR). Especialista em Direito Público e em Educação a Distância, ambas pelo Centro Universitário de Maringá (UniCesumar/PR). Graduada pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (UniFMU/SP). Docente no ensino presencial e a distância do Centro Universitário de Maringá (UniCesumar/PR). A U TO R A SEJA BEM VINDO(A)! Este é o livro de FUNDAMENTOS DE LEGISLAÇÃO que foi desenvolvido especialmente para você de forma a instruí-lo sobre o universo jurídico existente e ligado ao mundo dos negócios. Nosso livro está dividido em CINCO unidades e antes de entrarmos nas unidades em si, quero exemplificar a importância do direito, afinal este livro tem o objetivo de fornecer as bases necessárias que servirão de alicerce para o exercício da sua futura profissão. Apesar de não percebemos, o Direito faz parte do cotidiano, como quando ligamos a torneira para escovar os dentes pela manhã, estamos utilizando um objeto de um con- trato de prestação de serviços fornecido pela companhia hidráulica, ou então quando ligamos o abajur antes de dormir para estudar para a prova do dia seguinte, estamos utilizando um objeto de um contrato de prestação de serviços fornecido pela compa- nhia de energia elétrica. Até a leitura deste livro faz parte do Direito, afinal ele foi elaborado e entregue a você, acadêmico(a), em consequência de um contrato de prestação de serviços que você assi- nou com a instituição de ensino. Por isso, conhecer o funcionamento do Direito é essencial para as tomadas de decisão na vida pessoal e profissional. E repito: este é o objetivo deste livro! O primeiro questionamento que devemos nos fazer quando estudamos qualquer ramo do Direito é: Qual o seu conceito e finalidade? O que é direito e por que ele existe? As respostas a estas perguntas estarão na primeira unidade deste livro, assim como os principais conceitos jurídicos necessários para você entender a legislação tributária. A nossa segunda unidade complementará a primeira e tratará dos conceitos e institutos básicos do ramodo Direito Tributário. Na unidade III estudaremos o conceito de tributo, sua classificação e as espécies que existem hoje no ordenamento jurídico. Já a unidade IV ensinará sobre a relação jurídica dentro do campo tributário, onde o Es- tado age com soberania em suas ações, afinal ele está representando o interesse público e coletivo. E, por fim, nossa quinta e última unidade nos levará ao mundo jurídico das obrigações e dos créditos tributários. Com todo este conteúdo, eu acredito que você, acadêmico(a), terá uma ótima base jurí- dica para fundamentar suas decisões. Vamos em frente! APRESENTAÇÃO FUNDAMENTOS DE LEGISLAÇÃO 9 SUMÁRIO 9 UNIDADE I INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 15 Introdução 15 A Origem e Finalidade do Direito 16 Conceito de Direito 17 Direito e Estado: O Estado Moderno 21 Direito Natural e Direito Positivo 21 O Ordenamento Jurídico 25 Decreto Regulamentar, Instruções Ministeriais, Circulares, Portarias e Ordens de Serviço 27 Direito Objetivo e Direito Subjetivo 27 Divisão do Direito 30 Fontes do Direito 30 Lei 37 Costume (usos) 38 Doutrina 39 Jurisprudência 40 Considerações Finais SUMÁRIO 11 UNIDADE II NOÇÕES BÁSICAS DE DIREITO TRIBUTÁRIO 45 Introdução 45 Conceito de Direito Tributário 47 Estado de Direito 53 Principais Princípios Constitucionais 60 Principais Princípios do Direito Tributário 64 Fontes do Direito Tributário 68 Considerações Finais UNIDADE III DEFINIÇÃO DE TRIBUTO 73 Introdução 73 Conceito de Tributo 77 Classificação dos Tributos 79 Espécies Tributárias 79 Impostos 87 Taxas 89 Contribuições de Melhoria 90 Demais Contribuições 94 Empréstimos Compulsórios 98 Considerações Finais SUMÁRIO 11 UNIDADE IV RELAÇÃO JURÍDICO-TRIBUTÁRIA 103 Introdução 103 Relação Jurídica e Sujeitos do Direito 104 Fato Gerador 106 Regra-Matriz de Incidência Tributária 120 Aspecto Quantitativo 124 Considerações Finais UNIDADE V OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA E CRÉDITO TRIBUTÁRIO 129 Introdução 129 Obrigação Tributária 131 Do Crédito Tributário 135 Das Formas de Suspensão do Crédito Tributário 140 Das Formas de Extinção do Crédito Tributário 147 Das Formas de Exclusão do Crédito Tributário 149 Diferenças entre Imunidade, Isenção e não Incidência 151 Isenção e Alíquota “0” (zero) 152 Simples Nacional 158 Considerações Finais 161 Conclusão 163 Referências U N ID A D E I Professora Me. Monica Cameron Lavor Francischini INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Objetivos de Aprendizagem ■ Apresentar conceitos de Direito e suas peculiaridades. ■ Definir Estado de Direito. ■ Diferenciar Direito Natural e Direito Positivo. ■ Estudar o ordenamento jurídico brasileiro. ■ Diferenciar Direito Objetivo de Subjetivo. ■ Estudar os ramos do Direito Positivo. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ As origens e o conceito de Direito ■ Direito e Estado ■ Direito Natural e Positivo ■ Hierarquia das leis ■ Ordenamento Jurídico Brasileiro ■ Principais aspectos das normas jurídicas ■ Direito Objetivo e Subjetivo ■ Ramos do Direito Positivo: Direito Público e Privado ■ Fontes do Direito INTRODUÇÃO Olá aluno(a)! Seja bem-vindo(a) ao estudo do Direito! Nesta unidade iremos trabalhar as bases necessárias para que você possa enten- der a legislação tributária que será apresentada nas unidades seguintes. O Direito faz parte das nossas vidas, regula a sociedade desde o nascimento das pessoas até a sua morte, diariamente nos envolvemos em relações jurídicas, por isso, é necessário conhecer o seu funcionamento para tomada de decisões. Nesta unidade nós iremos tratar de alguns conceitos e aspectos históricos do Direito em geral, analisando pontos imprescindíveis e peculiaridades, tais como vigência e irretroatividade da lei. Estudaremos institutos conhecidos dos operadores do Direito, que fazem com que tenham uma linguagem própria no seu cotidiano. É claro que você, acadêmico(a), não precisa entender toda esta linguagem jurídica, mas conhecer os conceitos básicos e o funcionamento da legislação é primordial no seu desempenho profissional. A ORIGEM E FINALIDADE DO DIREITO Podemos afirmar que o Direito nasceu junto com o agrupamento humano, a partir do momento que o homem começa a viver em sociedade, as normas de condutas passam a existir, pois é impossível imaginar alguém vivendo em socie- dade sem a existência de normas para regulamentarem as relações. Existem pessoas que defendem que o direito é uma criação divina, que o Direito foi criado pela figura de um Deus: “A origem divina está ligada à figura de um Deus, de um ser superior a tudo e a todos, que formula as leis e as entrega a seu povo, os hebreus chefiados por Moisés ou os Faraós do Egito que eram a própria pessoa de Deus” (MORAES, 2009, p. 24). No mesmo sentido Carletti (1986, v. III, p. 373) ensina que: Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 As Ordálias (Juízo de Deus) são um exemplo da crença do povo em um julgamento divino, senão vejamos: “A Ordália é para a mentalidade pri- mitiva, para a qual o direito é todo fundido com a religião, o juízo por excelência, na qual a mesma divindade, invocada diretamente pelo im- putado ou por meio do sacerdote, emite a sua sentença por meio de uma prova que, se é favorável ao acusado, manifesta a sua inocência, se ao invés lhe é desfavorável, afirma inapelavelmente a sua culpabilidade. Na ordália, portanto, o elemento sagrado (quer místico-mágico, como junto às populações primitivas, quer divino como nos juízos de Deus da Idade Média), está em primeiro plano; ela funciona como agente destruidor se o imputado é culpado, enquanto exalta sua inocência e a força, se ele pode sustentar a prova sem dano. A ordália, especialmente durante a Idade Média que oferece muitíssimos exemplos, é geralmente e quase exclusivamente interpretada como uma forma de juízo divino [...]. A primeira teoria, ou seja, que o Direito tem sua origem na sociedade é a mais aceita, como afirmavam os antigos romanos: ubi societas, ibi jus (onde houver sociedade, aí estará o Direito). Como o direito é uma norma de conduta, que regulamenta a sociedade e que traz com ela uma sanção, sua finalidade é estabelecer a ordem em sociedade. Por isso, se voltarmos no passado em qualquer momento da história, na mais primitiva sociedade, encontraremos vestígios do Direito, pois é impossível ima- ginarmos a sociedade sem normas de condutas. As “leis” não eram como são hoje, que seguem toda uma tramitação, elaboradas por um Poder Legislativo, muitas vezes encontraremos a “lei do mais forte”, todavia, não podemos descar- tá-la, pois esta pode ser considerada o embrião do Direito atual. Dessa forma, podemos resumir a origem e finalidade do Direito em: o Direito nasce com a vida em sociedade e sua finalidade é manter a paz social. Vamos refletir mais sobre isso. CONCEITO DE DIREITO Todos nós temos uma noção do significado do termo Direito, e esse pode ser utilizado de diversas maneiras: “eu tenho o direito de viajar”, “meu patrão não Direito e Estado: O Estado Moderno Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro de 19 98 . 17 me pagou direito”, “o professor não tinha o direito de cobrar essa questão na prova”. Para nós, direito é norma de conduta que rege a sociedade e tem sanção. Do conceito apresentado, vamos acrescentar “traz uma sanção”, pois, se a norma não tiver sanção, a sociedade não poderá ser punida por desrespeitá-la. O direito é um conjunto de normas, pois são inúmeras as leis existentes, e estas normas são gerais e positivas, sendo emanadas por um poder soberano. Entende-se por Poder Soberano o Estado, por meio do Poder Legislativo, que tem a competência para formular as leis que disciplinam a vida social, estabelece os direitos e deveres de cada um, e, por fim, traz uma sanção, a norma precisa de uma sanção (pena), caso contrário, a sociedade não vai cumpri-la, tendo em vista que a ausência de sanção na norma transforma esta em uma lei morta, sem eficácia, pois não existe punição para quem não cumpri-la. Assim, de forma simples, podemos elaborar o seguinte conceito: Direito é o conjunto de regras obrigatórias dirigidas à sociedade e que estabelece uma pena para quem não cumpri-las. DIREITO E ESTADO: O ESTADO MODERNO É difícil precisar o momento exato do surgimento do Estado. Basicamente, existem três teorias acerca da sua formação. Para a primeira teoria o Estado sempre existiu, desde o momento que o homem se reuniu e passou a viver em comunidade; já a segunda teoria, define que no início não havia Estado, mas as necessidades de regular a convivência entre as pessoas o fez surgir, e o terceiro grupo que define que o Estado é uma socie- dade política dotada de certas características bem definidas, que se fundam na soberania e passa a existir a partir do século XVII (DALLARI, 1998). INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 Evolutivamente, pode-se falar na história do Estado passando pelas seguin- tes fases: Estado Antigo, Estado Grego, Estado Romano, Estado Medieval e Estado Moderno. O Estado Antigo tinha como fundamento a religião, sendo o poder dos governantes explicados pela ordem divina, por escolha dos deuses. Já o Estado Grego caracterizou-se pela presença das cidades-estados, que era a sociedade política de maior expressão, neste Estado a divisão de classes era visível e ape- nas uma pequena parte participava das decisões do Estado. O Estado Romano tinha uma base familiar forte e demarcada, sendo que apenas uma pequena parcela, considerados os patrícios tinham direito de par- ticipar do governo, neste período diversos códigos foram criados, por exemplo, a codificação de Justiniano, conhecido como Corpus Juris Civilis. No período de transição para o Estado Medieval as demais pessoas foram conquistando direitos, quando no ano de 313, com o Edito de Milão, Constantino assegurou a liberdade religiosa, quebrando assim a superioridade dos romanos cristãos. O Estado Medieval foi marcado por alguns fatores, entre eles o cristianismo, as invasões bárbaras e o feudalismo. O cristianismo fortalece o poder da Igreja que com o passar do tempo faz entrar em choque os poderes do Imperador e do Papa. Com esse esfacelamento inicia-se uma série de invasões com base religiosa pela busca de territórios feita pelos povos vizinhos dos romanos, os chamados bárbaros. Assim, para se proteger as pessoas passariam a viver em feudos, é a sociedade feudal, onde cada feudo tinha suas próprias regras, sendo que a cen- tralização era feita basicamente pela Igreja que se utilizava da Bíblia para exercer coerção e justificar seu poder, foi o auge do chamado Direito Eclesiástico. No século XII tem-se um dos fatos mais marcantes para as mudanças que viriam a seguir, é o renascimento do comércio, a formação dos burgos, chegando a Revolução Industrial e finalmente a Revolução Francesa, com seus princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, que podem ser vistos como estopim da eclosão do Estado Moderno, que se define como laico, ou seja, não se vincula a uma religião, seu poder era fundado na vontade da coletividade que delega a seus representantes as prerrogativas para exercício do poder, que é definido e limi- tado por uma Constituição que passa a ser a base do ordenamento do Estado. Direito e Estado: O Estado Moderno Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 Ou seja, por essa pequena incursão histórica, chega-se ao conceito que hoje define o Estado Moderno como um ente que possui organização própria, estru- tura administrativa e aparato jurídico, que se funda em uma Constituição, que é o mecanismo legal que garante e legitima sua própria criação. Assim, define- -se Estado como “a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em um determinado território” (DALLARI, 1998). Complementando este pensamento, o Estado é a nação política e juridica- mente organizada, dotada de soberania, dentro de um território, sob um governo, para a realização do bem comum do povo, sendo formado pelos seguintes prin- cipais elementos: O povo é o conjunto de cidadãos, o componente humano, o elemento pessoal do Estado, é para ele e por meio dele que o Estado se forma, pode ser definido como: o conjunto dos indivíduos que através de um momento jurídico, se unem para constituir o Estado, estabelecendo com este um vínculo de caráter permanente, participando da formação da vontade do Estado e do exercício do poder soberano (DALLARI, 1998, p.132). O território é o espaço físico e geográfico, ou seja, a base geográfica do poder, sendo constituído pela “terra firme, com as águas aí compreendidas, o mar territorial, o subsolo e a plataforma continental, bem como o espaço aéreo” (BONAVIDES, 1999). O governo é a organização necessária para o exercício do poder político, ou seja, aquele que tem capacidade de impor aos outros determinados tipos de comportamento. Já a soberania ou poder soberano é o poder de organizar-se juridicamente e fazer valer dentro de seu território a universalidade de suas decisões nos limites dos fins éticos de convivência. É o poder do Estado de efetivar sua ordem, sem se subordinar a qualquer outra ordem, representa a independência do Estado em relação a outros estados e, também, representa o poder normativo do estado perante seu povo dentro do seu território. Esta soberania apresenta-se de duas formas: a interna e a externa. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 A soberania interna significa imperium que o Estado tem sobre o terri- tório e a população, bem como a superioridade do poder político frente aos demais poderes sociais, que lhe ficam sujeitos, de forma mediata ou imediata. A soberania externa é a manifestação independente do poder Estado perante outros Estados (BONAVIDES, 1999, p. 166). Mas qual a finalidade da existência do Estado? O Estado exerce esse poder com a finalidade principal da realização do bem comum, atendendo as necessidades públicas, por meio da prestação de serviços e construção de obras públicas que assegurem a estrutura básica para que a sociedade civil atinja seus objetivos. Alguns destes objetivos estão previstos no artigo 6 da Constituição Federal (lei máxima do nosso país, e que será também estudada) e estipula como fun- ções do Estado oferecer à sociedade: segurança, alimentação, educação, saúde e previdência social. Assim, diante de todo exposto, vê-se que Direito e Estado são indissociáveis, é um ciclo posto que o Estado cria o Direito que, por sua vez, o legitima e regula. Diante disto e do que foi analisado anteriormente, constata-se queo Direito sem- pre existiu para regular a vida humana em coletividade, ele pode ser expressado de diversas formas, como a moral, a religião, os costumes. Mas após a institui- ção do Estado como poder central detentor da soberania de instituir as leis e regras para aquele povo e território, o Direito passa a ser visto dentro da separa- ção entre Direito Natural e Direito Positivo. Vejamos, a seguir, estas concepções. A citada soberania do Estado é una e indivisível, porém, existe a separação de poderes para melhor consecução dos fins almejados e para manutenção da liberdade, que não consegue se efetivar quando todos os poderes en- contram-se nas mãos de apenas uma pessoa. Esta separação propugnada por Montesquieu no século XVIII divide o po- der do Estado em Executivo, Legislativo e Judiciário, sendo o Legislativo o responsável por fazer as leis, o Executivo por executá-las e administrar a or- ganização, e o Judiciário, a quem incumbe a aplicação do direito, dirimindo litígios e controvérsias que lhe são trazidos para apreciação. Direito Natural e Direito Positivo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 DIREITO NATURAL E DIREITO POSITIVO Dentro da doutrina jurídica é comum a definição da dicotomia entre Direito Natural e Direito Positivo. O Direito Natural, ou Jusnaturalismo, não é aceito por todos os doutrina- dores, para os que o aceitam e o definem, ele é o conjunto de regras universais, inerentes ao homem que não é imposto pelo Estado ao indivíduo, tem base na Lei Divina. Ele se impõe a todos por sua própria força principiológica, ele é cons- tituído pelas regras da própria natureza, por exemplo, o direito de viver. O seu mais famoso expositor é Santo Agostinho (354-430 d.C), que define que a Lei divina sempre existiu e é anterior a lei dos homens, é imutável, não se corrompe e se aplica a todos. Para alguns doutrinadores o Direito Natural é visto como a base dos direi- tos fundamentais hoje fixados na Constituição, como direito a vida, a liberdade de ir e vir, a liberdade religiosa, a liberdade de expressão, dentre outros. Já o Direito Positivo é o direito posto pelo Estado, são as regras que estão em vigor em um determinado país, regras que foram feitas pelo poder público, são as leis, códigos, tratados internacionais, decretos e regulamentos. Basicamente, o “Direito positivo é o direito que depende da vontade humana, enquanto o Direito Natural é o que independe de ato de vontade, por refletir exigências sociais da natureza humana, comuns a todos os homens” (FUHRER, 2007, p. 62). O ORDENAMENTO JURÍDICO Antes de adentrarmos ao conceito de ordenamento e definição de seus elemen- tos, parece importante conceituar de forma sucinta o que vem a ser uma norma. Neste sentido, Diniz define que: a norma jurídica é uma norma de conduta, no sentido de que seu es- copo direto ou indireto é dirigir o comportamento dos particulares, INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 das comunidades, dos governantes e funcionários no seio do Estado e do mesmo Estado na ordem internacional. Ela prescreve como se deve conduzir a conduta de cada um (DINIZ, 1998, p. 24). As normas são o conteúdo da lei, que é a forma com que a norma se expressa, as normas prescrevem como deve o homem se compor- tar, por isso são denominadas por Hans Kelsen (estudioso do Direito) como “dever ser”. As normas jurídicas devem expressar um imperativo ou uma autorização, um imperativo de fazer ou não fazer ou uma auto- rização de agir: imperativa porque prescreve as condutas devidas e os comportamentos proibidos, e, por outro lado é autorizantes, uma vez que permite ao lesado pela sua violação exigir seu cumprimento, a reparação do dano causado ou ainda a reposição das coisas ao estado anterior (DINIZ, 1998, p. 26). Ou seja, as normas expressam uma obrigação, uma proibição ou uma permissão. No Brasil o Ordenamento Jurídico é imenso e composto pela Constituição Federal (CF), por milhares de leis, códigos, decretos etc. Basicamente, os elementos do ordenamento jurídico nacional são os seguintes: Quanto mais complexa e evoluída a sociedade mais normas existem para regulá-la. Estas normas, dentro do Direito Positivo são expressas como leis. Sendo que o conjunto destas leis impostas pelo Estado aos seus indivíduos, forma o seu ordenamento jurídico. O Ordenamento Jurídico Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 Constituição Federal É a lei fundamental do Estado. A Constituição ocupa o ápice do ordenamento jurídico devendo ser observada, acatada e respeitada por todas as outras normas existentes, formando um sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras que regula a forma de Estado, a forma de governo, o estabelecimento de seus órgãos e os limites de sua ação, ou seja, é o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado. Emendas Constitucionais São diplomas legais com capacidade de modificar a Constituição Federal (exceto as cláusulas pétreas), por meio de um procedimento específico. Este procedimento específico diz respeito a sua elaboração, ou seja, as emen- das constitucionais somente podem ser propostas ao Congresso Nacional por um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; pelo Presidente da República; ou por mais da metade das Assembleias Legislativas das Unidades da Federação, pela manifestação da maioria relativa de seus membros. Ainda, tal proposta será discutida e votada, em dois turnos, em cada casa do Congresso Nacional, devendo ser aprovada mediante o quorum de 3/5 dos votos de seus membros, inexistindo sanção ou veto presidencial. No artigo 60, § 4 da nossa Constituição Federal, estão elencadas as cláusu- las pétreas. A palavra pétrea vem de pedra, significando “duro como pedra”. Trasladando a etimologia da palavra para o campo constitucional, cláusula pétrea é aquela imodificável, irreformável, insuscetível de mudança formal. Tais cláusulas consignam o núcleo irreformável da Constituição. Assim, a forma federativa de Estado, o voto direto, secreto, universal e peri- ódico, a separação dos poderes, os direitos e garantias individuais (como o artigo 5, XXXII), não podem sofrer alterações tendentes a aboli-las (nem por emendas constitucionais), porquanto são imodificáveis. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 Lei Complementar São diplomas legais com a função de complementar dispositivos constitucio- nais. As leis complementares devem ser aprovadas por maioria absoluta do Congresso Nacional. Lei Ordinária São diplomas normativos aprovados pelos parlamentos (Congresso Nacional, Assembleia Legislativa, Câmara Distrital e Câmara de Vereadores) com a função de inovar a ordem jurídica, ou seja, criar ou extinguir direitos e obrigações. As Leis Ordinárias devem ser aprovadas por maioria simples do Congresso Nacional. Lei Delegada É de competência do Presidente da República, este solicita ao Congresso Nacional uma delegação para elaborar aquela determinada lei. Esta “autorização” é feita por meio de Resolução. Medida Provisória É também de competência do Presidente da República, e somente pode ser edi- tada quando a matéria for de extrema relevância e urgência, tendo 60 (sessenta) dias para ser convertida em lei, sob pena de perder sua validade/vigência. Decreto LegislativoIntroduzem no sistema os tratados, acordos e convenções internacionais, sendo ato privativo do Congresso Nacional. A aprovação por maioria simples exige apenas metade mais um dos votos dos parlamentares presentes no dia da votação, enquanto que a maioria absoluta exige metade mais um dos votos de todos os parlamentares daquela casa. Decreto Regulamentar, Instruções Ministeriais, Circulares, Portarias e Ordens de Serviço Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 Resoluções Diplomas legais privativos do Congresso Nacional que são aprovados exclusiva- mente pelo Senado Federal com a mesma força da lei ordinária, como aquelas que estabelecem alíquotas mínimas de ICMS. DECRETO REGULAMENTAR, INSTRUÇÕES MINISTERIAIS, CIRCULARES, PORTARIAS E ORDENS DE SERVIÇO São normas jurídicas editadas pelo Chefe do Poder Executivo (Presidente da República, Governador ou Prefeito) com o objetivo de interpretar e detalhar a aplicação prática da lei. Estes diplomas legais não podem inovar a ordem jurí- dica, ou seja, criar direitos ou obrigações não previstas em lei. Admite-se, no entanto, a instituição de obrigações instrumentais, viabilizadoras daquelas já previstas em lei, por parte de normas infralegais. Ainda, as normas complementares são orientações dadas pelas autoridades administrativas a seus subordinados (portarias, instruções normativas, ordens de serviço, circulares, pareceres, atos declaratórios etc.). Também são normas complementares dos convênios celebrados pelos entes estatais entre si. Por fim, as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de âmbito administrativo, a que a lei atribua eficácia normativa, também se enquadram no gênero em questão. Assim, podemos dizer que de forma simplificada estes são os elementos do nosso ordenamento jurídico. Diante de tantas leis é necessário que se tenha esta- belecido uma forma para que estas não se contradigam ou se excluam. Ou seja, dentro do ordenamento jurídico deve existir uma hierarquia entre as leis, partindo da lei base que é a Constituição Federal e a ela devem se adequar todas as demais. Esta hierarquia do ordenamento jurídico tem a forma de uma pirâmide ela- borada por um jurista austríaco chamado Hans Kelsen: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 Figura 01: Pirâmide de Kelsen. Hans Kelsen e o Positivismo Normativista Fonte: http://notasdeaula.org/dir1/ied_08-05-08.html Ainda neste aspecto, as leis também podem ser classificadas de acordo com seu campo de atuação. Conforme já mencionado, a mais importante lei dentro do território nacio- nal é a Constituição Federal, portanto, nenhuma outra norma pode contrariá-la. Na sequência, temos as leis federais, que têm abrangência nacional, ou seja, são válidas dentro do território brasileiro, tanto na cidade de Uruguaiana no Rio Grande do Sul, quanto na cidade de Palmas em Tocantins, por exemplo, o Código Brasileiro de Trânsito. Um nível abaixo estão as leis estaduais, que têm eficácia dentro do espaço geográfico de cada um dos Estados brasileiros (por isso, a alíquota do IPVA, por exemplo, é diferente de um Estado para outro). E, por último, a lei municipal, que só é válida dentro do Município e dos seus Distritos (por isso, ocorre da alíquota do IPTU ser menor em uma cidade do que em outra). Podemos representar a hierar- quia das leis, conforme o gráfico ao lado: CONSTITUIÇÃO FEDERAL Leis Federais Leis Estaduais Leis Municipais Direito Objetivo e Direito Subjetivo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO O direito objetivo é a lei. É a norma estabelecida à sociedade, podemos citar como exemplos: o Código Civil, o Código Penal, o Código de Defesa do Consumidor e a Constituição Federal. Por sua vez, o Direito Subjetivo é a faculdade de agir, é a vontade do indiví- duo de agir, de buscar no Direito Objetivo o seu próprio direito. Por exemplo, o empresário que aceita um cheque pré-datado de um cliente e deposita o cheque antes do prazo pactuado, causando a inscrição indevida do nome do cliente no SCPC. Dessa forma, a lei (Código Civil) prevê a possibilidade de o cliente mover uma ação de indenização por danos morais. Nesse caso, o Código Civil é o direito objetivo, para que isso ocorra é necessário que o cliente mova a ação indeniza- tória em face do empresário. Assim procedendo, aquele estará fazendo uso do direito subjetivo. O Direito Subjetivo, segundo Segundo Fwrer (2007, p. 33) é: a faculdade ou prerrogativa de o individuo invocar a lei na defesa de seu interesse. Assim, ao direito subjetivo de uma pessoa corresponde sempre o dever de outra, que se não o cumprir, poderá ser compelida a observá-lo através de medidas judiciais. DIVISÃO DO DIREITO O Direito é único, todavia, para uma melhor compreensão, ele pode ser dividido em dois grandes grupos, ou seja, o Direito Público e o Direito Privado. Esta divi- são vem desde a época do Imperador Justiniano (527-565). DIREITO PÚBLICO É o ramo do direito que trata das coisas do Estado. Que tem o Estado como sujeito principal da relação jurídica e representante dos interesses coletivos. Para Max INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 e Edis (2002, p. 34), “o Direito Público disciplina os interesses gerais da cole- tividade, e se caracteriza pela imperatividade de suas normas, que não podem nunca ser afastadas por convenção dos particulares”. Ainda, o Direito Público se divide em Nacional e Internacional, sendo o primeiro o conjunto de normas vigentes dentro de um país, por exemplo, no Brasil, na Argentina, no Chile etc.; por sua vez o Direito Internacional são as leis que regem a relação entre países ou entre os particulares (pessoas físicas ou pessoas jurídicas) em países diversos. Os ramos do direito público nacional, em regra geral, podem ser classifi- cados da seguinte forma: ■ Direito Constitucional: trata da organização do Estado e estabelece os direitos e garantias fundamentais da pessoa. ■ Direito Administrativo: constitui as normas jurídicas e princípios que regem os interesses do Estado. ■ Direito Penal: é o conjunto de normas jurídicas que definem as condu- tas criminosas e fixa as punições para quem praticá-las. ■ Direito Tributário: é o conjunto de leis que determinam a forma de como o Estado deve arrecadar tributos dos contribuintes. Este será nosso objeto de estudo. Divisão do Direito Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 Direito Processual Civil e Direito Processual Penal: fixam a forma pela qual o Poder Judiciário deve dar andamento nos processos, por exemplo, estabelece os prazos que as partes têm para se manifestar, fixa o fórum competente para julgar o processo, indica os tipos de recursos que podem ser utilizados, entre outros. O Direito Internacional Público rege as normas que regulam a relação entre os países, por exemplo, na construção do Canal da Mancha (Inglaterra- França), se tivesse ocorrido alguma divergência entre eles, não seria aplicada nem a legislação inglesa e nem a francesa, mas as normas de Direito Público Internacional. DIREITO PRIVADO É o ramo do direito que trata das relações entre os privados (pessoasfísicas e jurídicas), tal como a produção e aplicação das normas jurídicas, mas sem dei- xar de ter como diretrizes máximas primeiro a Constituição Federal e depois as demais normas criadas pelo Estado. O núcleo dessas relações é sempre o inte- resse individual ou, no máximo, o de uma pequena parcela da sociedade. Por seu turno, o Direito Privado também é dividido em Nacional e Internacional, sendo o Direito Privado Nacional aquele que regula a atividade dos particulares entre si em território brasileiro, e o Internacional Privado aquele que regula a relação entre os particulares que tenham relação em mais de um país, cabendo ao juiz decidir qual a lei a ser aplicada. São considerados ramos do direito privado Nacional: Direito Civil: é o ramo do direito privado que estuda a relação entre as pes- soas (casamento, separação, divórcio, adoção, obrigações, responsabilidade civil, inventário etc.), a relação entre as pessoas e seus bens (propriedade, posse, usu- capião, enfiteuse, desapropriação etc.) e a relação entre pessoas, bens e pessoas (compra e venda, empréstimo, locação, arrendamento etc.). Direito Comercial (ou Empresarial): regula a atividade dos comerciantes/ empresários, seus atos e contratos (títulos de créditos, falências, recuperação judicial, as sociedades etc.). INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 FONTES DO DIREITO Fonte significa nascente de água ou origem, ou seja, de onde alguma coisa nasce ou se origina e no direito se classificam em: FONTES MATERIAIS São aquelas de onde se originam, é a sociedade em constante mudança e evolu- ção, onde os fatos sociais produzem as normas. Representam o conglomerado de fatores ou fenômenos sociais que compreendem elementos políticos, eco- nômicos, morais e religiosos, que extraídos da realidade social influenciam o legislador ao criar as normas, quanto à sua substância, determinando o surgi- mento do direito, exteriorizado na norma jurídica. FONTES FORMAIS São as formas como se exteriorizam, ou seja, aquelas diversas maneiras pelas quais se manifesta o direito, são os meios por meio dos quais o direito aparece nos diversos sistemas jurídicos, sendo por intermédio das leis, jurisprudências, doutrina, costumes, analogia, equidade e princípios gerais do direito. Vamos estudar as fontes formais mais detalhadamente. LEI A lei é a principal fonte de direito que o juiz tem para dirimir os conflitos exis- tentes. Como já exposto, a lei é norma de conduta que rege a sociedade, que nasce do Poder Legislativo e tem força coercitiva, por exemplo: a Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002, conhecida como Código Civil brasileiro. Lei Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 Para que uma lei exista são necessários 04 (quatro) elementos: a) dispositivo que é o conteúdo da lei, ou seja, o texto da lei; b) sanção que é a concordân- cia do Presidente da República, com o dispositivo, em caso contrário, quando o Presidente da República não concorda, ocorre o veto (que pode ser derru- bado pelo Congresso Nacional); c) promulgação após a sanção e o Presidente da República determina que a lei seja cumprida; d) publicação é a forma que o Estado encontrou para dar conhecimento a todos de que a lei existe. VIGÊNCIA DA LEI O fato de a lei existir não significa que a mesma esteja em vigência, ou seja, que somos obrigados a cumpri-la, pois o fato de a lei ter sido publicada no Diário Oficial é para dar conhecimento de sua existência. O Decreto-Lei nº. 4.657, de 04 de setembro de 1942, também conhecido como LICC – Lei de Introdução ao Código Civil é o que determina a vigência de uma lei no país, apesar do nome (Lei de Introdução ao Código Civil) essa é uma lei de introdução a todas as leis existentes, pois é uma norma que regula- menta as demais normas. O Brasil optou pela publicação da lei no Diário Oficial para que as pessoas tenham conhecimento que uma lei existe e para que a mesma possa entrar em vigência. A sociedade brasileira só está obrigada a cumprir a lei após a mesma estar em vigor. No Brasil existem 03 (três) regras sobre a entrada de uma lei em vigência: a. De acordo com o art. 1.º da LICC, uma lei passa a ter vigência após qua- renta e cinco dias de sua publicação oficial, salvo disposição em contrário, dessa forma, se no próprio corpo da lei, não constar nada em contrário, a lei deve passar a ser cumprida após aquele prazo estabelecido. b. A lei também pode entrar em vigência no ato de sua publicação, isso ocorre quando a própria lei vem estabelecendo que “esta lei entra em vigor na data de sua publicação”, isso significa que se a lei foi publicada hoje, a partir desta data todos devem cumpri-la. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 c. A lei determina um período maior ou menor para sua entrada em vigên- cia, esse prazo vai depender da complexidade da norma, da mesma forma, no próprio corpo da lei vem estabelecido: “Essa lei entra em vigência 10 dias após sua publicação”, ou, “Essa lei entra em vigência 90 dias após sua publicação”. Como exemplo, podemos citar o atual Código Civil que entrou em vigência 365 dias após sua publicação. Esse período, compreendido entre a publicação da lei e sua entrada em vigência, é denominado vacatio legis, ou seja, vacância da lei. Esse período é necessário e utilizado para que as pessoas tenham conhecimento que determinada lei existe. Da mesma forma, o art. 1.º, §§ 3.º e 4.º, estabelecem que, se antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto para correções, o prazo para que a lei entre em vigência começará a correr novamente. Todavia, se a lei a ser corrigida já estiver em vigor, considera-se lei nova. A partir do momento que uma lei é publicada no Diário Oficial, ninguém pode alegar que não a conhece, subentende-se que todos tiveram conhecimento que a lei existe. Como exemplo: João mata Pedro e, em sua defesa, alega que matou Pedro, pois não sabia que matar uma pessoa era crime. Tal alegação não será considerada, uma vez que o Código Penal prescreve o homicídio como crime. Todavia, a regra não é absoluta, existem exceções, por exemplo, o art. 65, inciso II, do Código Penal: “Art. 65. São circunstâncias que sempre atenuam a pena [...] II – o desconhecimento da lei”. OBRIGATORIEDADE DA LEI Uma lei tem vigência até que outra lei a modifique ou a revogue, com exceção das leis temporárias, que têm um prazo de validade estabelecido no próprio texto. Dessa forma, uma lei não pode ser revogada (perder seu efeito) pelo desuso, ou seja, pelo fato de uma determina lei ou dispositivo de lei não ser mais utilizado, não significa que a mesma foi revogada. Lei Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 O Código Civil de 1916, Lei nº. 3.071, de 1.º de janeiro de 1916, teve vigên- cia até 10 de janeiro de 2003 e constava em seu art. 178, § 1.º que: Art. 178. Prescreve: [...] §. 1.º Em 10 (dez) dias, contados do casamento, a ação do marido para anular o matrimônio contraído com a mulher já deflorada. Assim sendo, até o dia 10 de janeiro de 2003, um dia antes de o Código Civil atual entrar em vigência, o marido poderia pedir a anulabilidade do casamento, caso sua esposa não fosse virgem. Esse artigo da lei há muito tempo tinha caído no desuso, ou seja, ninguém mais utilizava, todavia, a lei ainda estava em vigência,a lei não tinha sido revogada, qualquer pessoa que casasse e a mulher não fosse mais virgem poderia solicitar judicialmente a anulação do casamento. Revogar uma lei significa tornar nula, é tirar a sua eficácia, é dizer que a lei não existe e por isso não preciso mais obedecê-la. O art. 2. º da LICC estabelece que a revogação ocorra: Art. 2.º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. § 1.º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o decla- re, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. § 2.º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. O direito brasileiro não adotou o efeito repristinatório, ou seja, se a lei revoga- dora for revogada, a lei revogada não volta a ter vigência, salvo disposição em Não podemos esquecer que uma lei só revoga lei que for hierarquicamente igual ou superior. Por exemplo, uma lei municipal nunca vai revogar uma lei estadual, mas uma lei municipal pode revogar outra lei municipal (do mesmo município). Por sua vez, a lei federal pode revogar lei estadual e lei municipal. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 contrário. Para que isso ocorra, é necessário que venha expresso na lei que revo- gou a lei revogadora. A revogação pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação). Ocorre ab-rogação, quando a lei nova revoga toda lei anterior, como ocorreu com o Código Civil de 1916, que foi revogado pelo Código Civil de 2002. Por sua vez, derrogação é a revogação parcial de uma lei, como aconteceu com a Parte Primeira do Código Comercial que foi revogada pelo atual Código Civil. IRRETROATIVIDADE DA LEI Retroagir significa voltar no tempo. As leis são elaboradas para regular fatos no futuro, não para alcançar fatos que já aconteceram. Por exemplo, hoje entra em vigência uma lei que estabelece que seja proibido sair de casa (toque de reco- lher) após as 24h, sob pena de uma multa. Quem saiu de casa ontem depois das 24h não será obrigado a pagar a multa, porque a lei é feita para alcançar fatos futuros, e não fatos passados. Conforme o dispositivo da Constituição Federal, art. 5.º, XXXVI, “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. No mesmo sentido, o art. 6.º, §§§ 1.º, 2.º e 3.º da Lei de Introdução ao Código Civil estabelece que: Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vi- gente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbí- trio de outrem. § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. O Direito Adquirido é o que já foi incorporado ao patrimônio moral ou material de uma pessoa qualquer, desde que ela tenha satisfeito todas as condições legais Lei Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 para a sua obtenção, mesmo que ainda não tenha exigido o seu cumprimento pela parte que lhe tem um “dever subjetivo”. Por exemplo: cumprido o tempo de recolhimento previdenciário mínimo estipulado pela lei e completando 65 anos, o homem pode pedir aposentadoria. Este é um direito adquirido, mas a lei diz que ele “pode” e não que “deve”, sendo assim, por opção própria e por conveni- ência, esse cidadão pode continuar trabalhando mais alguns meses, ou anos, e somente depois exercer o seu direito. Se nesse tempo a lei mudar, ele terá a sua aposentadoria garantida. O ato jurídico perfeito “é aquele já praticado e que surtiu os consequentes efeitos. Um contrato elaborado sob lei que o autorize não pode ser invalidado porque lei posterior considere esse contrato ilegal” (VENOSA, 2008, p. 109). Outro exemplo seria o do trabalhador que já tendo atendido às exigências legais para a sua aposentadoria e, tendo solicitado à Previdência Social, teve atendido o seu pedido, iniciasse o recebimento da mesma. As mudanças na lei que surgi- rem, após a devida concordância da Previdência Social, não podem fazer com que o mesmo retorne ao trabalho, salvo no caso em que houve eventual ilici- tude no processo. A coisa julgada ou, transitada em julgado, é o processo ao qual não cabem mais recursos em nenhuma instância jurídica. É a decisão jurídica a qual não tem mais provimento de reforma, de alteração, sendo que o único a ser reali- zado pelas partes é o cumprimento dessa decisão. Mas temos que apresentar uma ressalva ao Direito Público Internacional que, por meio de diversos trata- dos que o Brasil e outros países têm com os órgãos internacionais e supranacionais, como a Corte Internacional, permite que em casos envolvendo os direitos humanos, os cidadãos possam recorrer a essa Corte. No entanto, o cumprimento da sentença dessa Corte tem apenas efeitos morais, ou seja, o Governo Brasileiro poderá deixar de cumprir essa decisão. Mas quais seriam as con- sequências? Estariam situadas muito mais no campo das sanções comerciais e revogação de tratados por outros países. Em resumo. Ato jurídico per- feito é o ato já acabado, aquele que já INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 cumpriu todas as exigências estabelecidas pela lei vigente à época do ato. Direito adquirido é aquele que já faz parte do patrimônio da pessoa, do qual esta pode dispor a qualquer momento. E coisa julgada é uma decisão judicial que não mais cabe recurso, uma vez que a questão já foi decidida. Assim sendo, a nova lei deve respeitar o ato jurídico perfeito, o direito adqui- rido e a coisa julgada. Todavia, existe exceção para a irretroatividade da lei, desde que exista disposição expressa da lei, isso é possível, como ocorre no Direito Penal, a lei pode retroagir, desde que seja para beneficiar o réu. Por exemplo, o indiví- duo foi condenado à prisão pela prática de um crime que previa pena de 10 (dez) anos, com a publicação de uma nova lei, fica estabelecido que aquela conduta pre- veja, agora, pena de 03 (três) anos, o indivíduo terá que cumprir apenas 03 (três) anos. Se por acaso, ele já cumpriu mais do que os 03 (três) anos, deve ser solto. EFICÁCIA NO ESPAÇO A legislação brasileira estabelece o princípio da territorialidade no que se refere à eficácia da lei no espaço, isso significa dizer que, dentro do território brasi- leiro, as relações são disciplinadas pela lei pátria, conforme o dispositivo do art. 7.º da Lei de Introdução ao Código Civil: “Art. 7.º A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família”. Dessa forma, tanto os brasileiros, quanto os estrangeiros residentes (ou não) no país, devem respeitar as leis brasileiras. INTEGRAÇÃO DAS LEIS Existem casos em que o juiz encontrará situações que não estão previstas em lei, e, mesmo assim, deverá decidir o caso, não podendo deixar de julgar por não existirem leis a respeito do assunto. Ocorrendo tal situação, a Lei de Introdução ao Código Civil determina que o juiz deva utilizar a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito, conforme o dispositivo do art. 4: “Quando a lei for Costume (USOS) Re pr oduç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os prin- cípios gerais de direito”. a) Analogia: ocorre quando o juiz utiliza de uma norma pré-existente, para aplicar essa mesma norma em uma situação não prevista em lei. Por exemplo, não existe nenhuma lei que regula a união homoafetiva, mas tal relação existe, quando um casal homoafetivo rompe o relacio- namento, quem fica com os bens adquiridos durante o período da rela- ção, se não existe lei tratando desta relação? O juiz deverá aplicar a analogia com base no art. 981 do Código Civil, que trata da sociedade de fato, por exemplo. b) Costume: como veremos mais detalhadamente adiante, costume é uma prática reiterada da sociedade, em que todos a cumprem acre- ditando que aquilo seja obrigatório, exemplo clássico é a fila de um banco. Assim, se ocorrer uma situação não prevista em lei, o juiz pode buscar auxílio nos costumes da região. Os princípios gerais do direito: por fim, se não existir lei que prevê o fato real, não sendo possível o uso da analogia ou do costume, deve o juiz se socorrer nos princípios gerais do direito, ou seja, “são estes constituídos de regras que se encontram na consciência dos povos e são universal- mente aceitas, mesmo não escritas” (GONÇALVES, 2003, p. 163). COSTUME (USOS) É uma prática reiterada da sociedade, por não ser lei, não nasce do Poder Legislativo, mas sim da sociedade. As pessoas cumprem acreditando que aquilo seja obrigatório. Gagliano e Pamplona Filho (2007, p. 15) ensinam que: “Trata-se de uma fonte do direito, com objetividade evidentemente menor, uma vez que sua formulação exige um procedimento difuso, que não se reduz a um procedi- mento formal, como se verifica na elaboração das leis”. Podemos citar a fila como um costume da sociedade, que não foi estabelecido por lei, mas todos respeitam. Outro exemplo é a figura do cheque pré-da- tado, todos sabem que cheque é “ordem de pagamento à vista”, contudo, se o INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 comerciante aceitar receber um cheque pré-datado ele não poderá depositar o cheque antes, sob pena de pagar uma indenização por danos morais, conforme a Súmula do STJ n. 370, que determina: “caracteriza dano moral a apresentação antecipada do cheque pré-datado”. No começo, foi muito utilizado, mas hoje é considerada uma fonte secundária frente à lei, todavia, não é ignorada, tanto que pode ser utilizado em alguns casos: a) Quando a lei autorizar: o art. 113 do Código Civil brasileiro estabelece que: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”. Nesses casos, pode ser utilizado o costume, pois a própria lei autoriza. b) Quando não existir lei: o art. 4 da Lei de Introdução ao Código Civil ordena que “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”, em casos que não existe lei tratando do caso, o juiz deve utilizar o costume para decidir. c) Contra a lei: o costume não deve ser utilizado para fundamentar uma decisão judicial, se este estiver em contradição com a lei, porém, existem pessoas que defendem o uso do costume mesmo que seja contrária a lei. Como já vimos, a lei só é revogada por outra lei de igual ou superior hierarquia, dessa forma, o costume não revoga a lei. Se existir uma lei sobre determinado assunto e um costume contrário à legislação, o juiz deverá seguir a lei e não os costumes. DOUTRINA É um parecer de alguém detentor de um notório conhecimento a respeito de algum assunto. Também, pode ser considerada a interpretação da lei pelos estu- diosos do direito. Podemos citar como exemplo: um livro. No mesmo sentido, Venosa (2008, p. 164) lembra que a “doutrina é o traba- lho dos juristas, dos estudiosos do Direito dentro dos campos técnico, científico e filosófico”. Jurisprudência Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 39 JURISPRUDÊNCIA É a interpretação dos juízes e tribunais a respeito de algum assunto, ou seja, são as decisões judiciais repetidas sobre determinado assunto e para as quais não cabem mais recursos. A jurisprudência, normalmente, vai mudando ao longo do tempo. Por exemplo, há alguns anos o empregado que fosse despedido, ou que tivesse pedido dispensa do trabalho, tinha 02 (dois) anos para cobrar os últimos 05 (cinco) anos do contrato de trabalho, uma vez que a Constituição Federal determina que: Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] XXIX - Ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho. Independentemente do dia que o funcionário movesse a reclamação trabalhista, dentro do prazo de 02 (dois) anos da rescisão do contrato de trabalho, ele tinha direito de cobrar os últimos 05 (cinco) anos. O dispositivo da Constituição Federal não mudou, todavia, agora, cada dia que passa da rescisão do contrato de traba- lho é descontado, para que o trabalhador possa mover a reclamação trabalhista. Se o trabalhador rescindiu o contrato no dia 12/03/2010 e moveu reclama- ção trabalhista no dia 12/03/2011, só poderá reclamar o direito dos últimos 04 (quatro) anos, antigamente ele poderia reclamar os direitos do período integral estabelecido na Constituição Federal, ou seja, 05 (cinco) anos, agora não. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E40 Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. CONSIDERAÇÕES FINAIS Depois de estudada esta primeira unidade, podemos afirmar que o Direito existe desde que o homem vive em sociedade, sendo impossível a vida em sociedade sem normas de condutas para estabelecer direitos e deveres para cada indivíduo. Por este motivo que esta unidade é de fundamental importância para que você se familiarize com os conceitos jurídicos necessários para o posterior entendimento das demais leis relativas ao Direito Tributário. Além do mais, entender o direito não é importante apenas para a sua vida profissional, mas também é essencial para a vida pessoal, para saber como agir frente a situações em que se tenha um direito ferido ou na eminência de um dever jurídico. Em suma, agora, passado o estudo dessa unidade, você será capaz de enten- der como funciona o Estado em que vive, como foi a sua evolução histórica, como se originou e evoluiu o direito, como as leis são emanadas e qual o sen- tido de se ter tantas leis no nosso ordenamento. 41 1. O Direito pode ser dividido em Direito Objetivo e Direito Subjetivo, em que eles se diferem? Explique. 2. O que é o Direito, tomando como referência a existência de uma Constitui- ção Federal, que é a norma máxima de um país? 3. Quais as fontes de direito? 4. Explique jurisprudência. MATERIAL COMPLEMENTAR INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Compêndio de Introdução à Ciência do Direito Maria Helena Diniz Editora: Saraiva, 2012 Sinopse: Este livro oferece um panorama da ciência jurídica, introduzindo o leitor à teoria geral do direito, à fi losofi a do direito, à sociologia jurídica e a lógica jurídica. Cuida, ainda, do conceito denorma jurídica e da aplicação do Direito. Traz ao fi nal dos capítulos os já consagrados quadros sinóticos que facilitam o estudo da matéria. Filosofi a do Direito Eduardo C. B. Bittar e Guilherme A. de Almeida Editora: Atlas, 2012 Sinopse: A Filosofi a do Direito visa a refl etir sobre o Direito para além de sua simples operacionalização. Para isto, alguns conceitos, categorias, autores e ideias precisam ser conhecidos. Por isso, uma visão segundo a qual o Direito não é visto como algo isolado, mas de fato integrado a uma série de outros aspectos da vida social. Pensar o Direito, neste sentido, signifi ca preparar-se para compreender o Direito a partir de seus fundamentos, podendo-se desta forma contribuir, direta ou indiretamente, para a formação de novas gerações de juristas e para a crítica dos conhecimentos adquiridos por eles. A experiência dos autores como professores de Direito aliada à necessidade de uma obra como fator de catalisação do processo de refl exão sistemática e metódica da Filosofi a do Direito determinaram a elaboração deste livro, cujo objetivo é proporcionar ao estudioso e ao estudante motivos de inspiração para sua refl exão pessoal sobre o Direito. U N ID A D E II Professora Me. Monica Cameron Lavor Francischini NOÇÕES BÁSICAS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Objetivos de Aprendizagem ■ Estudar o conceito de Direito Tributário. ■ Apresentar o objeto de estudo deste ramo do direito. ■ Analisar o conceito de Estado. ■ Apresentar os principais princípios constitucionais. ■ Estudar as fontes do Direito Tributário. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Direito Tributário ■ Estado de Direito ■ Princípios Constitucionais ■ Fontes do Direito Tributário INTRODUÇÃO Olá aluno(a)! Nesta segunda unidade, iniciaremos nosso estudo sobre a legis- lação tributária. Conforme estudamos na unidade anterior, o Estado de direito tem algu- mas funções a cumprir e para tanto precisa arrecadar recursos. Uma destas formas de arrecadação é por meio da apropriação de parte do patrimônio dos contribuintes, que podem ser pessoas físicas ou jurídicas. Esta forma de apropriação é que estudaremos nesta unidade. O Direito Tributário é um ramo do direito diretamente ligado ao nosso cotidiano pessoal e profissional, afinal quem nunca teve que pagar IPVA, IPTU ou IR? Para entender melhor este universo jurídico, é necessário conhecer e ana- lisar alguns pontos fundamentais deste ramo do direito. Vamos em frente! CONCEITO DE DIREITO TRIBUTÁRIO Vimos na unidade anterior que o direito é dividido em ramos e que, para ser considerado um ramo autônomo do Direito, é necessário ter uma legislação e princípios próprios. O Direito Tributário se encaixa neste conceito, mas por que isso acontece? O Estado necessita, em sua atividade financeira, captar recursos ma- teriais para manter sua estrutura, disponibilizando ao cidadão-con- tribuinte os serviços que lhe compete, como autêntico provedor das necessidades coletivas. A cobrança de tributos se mostra como a principal fonte das receitas públicas, voltadas ao atingimento dos objetivos fundamentais, in- sertos no art. 3º da Constituição Federal, tais como a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a garantia do desenvolvimento nacional, a erradicação da pobreza e da marginalização, tendente à redução das desigualdades sociais e regionais, bem como a promo- ção do bem-estar da coletividade. Daí haver a necessidade de uma Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 45 NOÇÕES BÁSICAS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E46 positivação de regras que possam certificar tão relevante desiderato de percepção de recursos – o que se dá por meio da ciência jurídica intitu- lada Direito Tributário, também denominado Direito Fiscal. A expressão “Direito Fiscal”, chegando a nós por influências francesa (Droit Fiscal) e inglesa (Fiscal Law), foi substituída, com o tempo, pelas denominações domésticas “Direito Financeiro” e, mais especificamen- te, “Direito Tributário” está consagrada na Emenda Constitucional n. 18/65 e, após, no próprio Código Tributário Nacional. A bem da verda- de, na trilha de Hugo de Brito Machado, parece-nos que o qualificativo “Fiscal” demarca algo amplo, abrangendo toda a problemática afeta ao Erário, e não apenas as questões adstritas ao tributo em si, o que faz pender sua tradução mais para “Direito Financeiro” do que para “Di- reito Tributário”. Ademais, a expressão atrela-se tão somente a um dos sujeitos da relação – o Fisco – o que denota o seu caráter reducionista. Se Tributário é o Direito que nos orienta, em primeiro lugar, nesta obra, urge trazermos a lume um conceito de Direito, para, em seguida, di- mensionarmos a extensão do qualificativo “Tributário”. O renomado jurista Hely Lopes Meirelles lança mão de coerente defini- ção: “O Direito, objetivamente considerado, é o conjunto de regras de conduta coativamente impostas pelo Estado. Na clássica conceituação de Ihering, é o complexo das condições existenciais da sociedade, asse- guradas pelo Poder Público. Em última análise, o Direito se traduz em princípios de conduta social, tendentes a realizar Justiça”. Conquanto louvável a definição em epígrafe, nota-se que a doutrina tem se dedicado com afinco à obtenção do conceito ideal para o Direito Tributário. Entre inúmeras tentativas definitórias disponíveis na seara dogmática, muda-se algum aspecto ali, outro acolá, porém mantêm-se presentes os elementos estruturais da definição nessa ramificação do Direito. Tal linearidade conceitual pode ser ratificada nas escorreitas definições, adiante reproduzidas, que primam pelo preciso delineamento do obje- to do Direito Tributário e de suas características principais: Para Rubens Gomes de Sousa, o Direito Tributário é “[...] o ramo do direito público que rege as relações jurídicas entre o Estado e os parti- culares, decorrentes da atividade financeira do Estado no que se refere à obtenção de receitas que correspondam ao conceito de tributos”. Nos dizeres de Paulo de Barros Carvalho, “o Direito Tributário é o ramo didaticamente autônomo do Direito, integrado pelo conjunto de proposições jurídico normativas, que correspondam, direta ou indire- Estado de Direito Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 47 tamente, à instituição, arrecadação e fiscalização de tributos”. Segundo o entendimento de Hugo de Brito Machado, o Direito Tri- butário é o “ramo do direito que se ocupa das relações entre fisco e as pessoas sujeitas a imposições tributárias de qualquer espécie, limitan- do o poder de tributar e protegendo o cidadão contra os abusos desse poder”. À luz do que preleciona Luciano Amaro, o Direito Tributário “é a dis- ciplina jurídica dos tributos, com o que se abrange todo o conjunto de princípios e normas reguladores da criação, fiscalização e arrecadação das prestações de natureza tributária”. Diante de tão pontuais definições, estamos que é possível extrair des- se plano conceitual que o Direito Tributário é ramificação autônoma da Ciência Jurídica, atrelada ao direito público, concentrando o plexo de relações jurídicas que imantam o elo “Estado versus contribuinte”, na atividade financeira do Estado, quanto à instituição, fiscalização e arre- cadação de tributos. Vale dizer que “o Direito Tributário é o conjunto de normas queregula o comportamento das pessoas de levar dinheiro aos cofres públicos”. Com efeito, o Direito Tributário é a representação positivada da ciência jurídica que abarca o conjunto de normas e princípios jurídicos, regu- ladores das relações intersubjetivas na obrigação tributária, cujos ele- mentos são as partes, a prestação e o vínculo jurídico (RODRIGUES, 2010, p. 15/17). ESTADO DE DIREITO Estudamos na unidade anterior, o conceito e a origem do Estado. Complementando nosso estudo, Martins (2003, p. 32) define que Estado “é a sociedade política e juridicamente organizada, dotada de soberania, dentro de um território, sob um governo, para a realização do bem comum do povo”. Dentro deste conceito, podemos extrair os seguintes elementos: ■ Povo – conjunto de cidadãos, componente humano. NOÇÕES BÁSICAS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E48 ■ Território – espaço físico e geográfico. ■ Governo – organização necessária para o exercício do poder político, ou seja, aquele que tem capacidade de impor aos outros determinados tipos de comportamento. ■ Soberania – poder de organizar-se juri- dicamente e fazer valer dentro de seu território a universalidade de suas decisões nos limites dos fins éticos de convivência. Assim, o Estado exerce esse poder com a finalidade prin- cipal da realização do bem comum, atendendo as necessidades públicas (algo que se busca satisfazer), por meio da prestação de serviços e construção de obras públicas que assegurem a estrutura básica para que a sociedade civil atinja seus objetivos. Mas quais são estes objetivos? Ou seja, quais são as funções do Estado? Como vimos, o Estado deve sempre fazer cumprir a Constituição Federal e as demais normas existentes. Um dos dispositivos da nossa lei máxima elenca os direitos da sociedade que devem ser cumpridos pelo Estado. São eles: paz; segurança; educação; saúde; previdência; alimentação; obras sociais e públicas, dentre outras. Todo e qualquer dinheiro que ingressa nos cofres públicos, a qualquer título, será denominado “entrada” ou “ingresso”. Por outro lado, nem todo ingresso (ou receita) será uma receita pública. De fato, enquanto o ingresso é marcado pela noção de provisoriedade, a receita pública atrela-se ao contexto de definitividade. Vale dizer, como regra, que os valores, a título de ingresso, entram nos cofres públicos com destinação predeterminada de saída, não configurando receita nova, o que não acontece com a receita pública. São exemplos de entradas ou ingressos provisórios: a) A caução ou a fiança (garantias de adimplemento da obrigação prin- cipal): como exemplo, cite-se a garantia ofertada pelo vencedor em dada licitação pública. Tal garantia ingressará nos cofres do Estado com previsão de saída, podendo, todavia, transformar-se em receita pública, se houver descumprimento contratual. b) O depósito prévio: como exemplo, cite-se o depósito recursal, como Estado de Direito Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 49 condição à protocolização do recurso na órbita administrativa federal. c) O empréstimo compulsório: conquanto revista-se de natureza tribu- tária, o empréstimo compulsório é gravame restituível, devendo sua lei instituidora prever o prazo e as condições de sua restituição aos con- tribuintes. Tornar-se-á, todavia, uma receita pública, caso não ocorra a restituição. d) O empréstimo público: tendo natureza contratual, é entrada provisó- ria para o Estado que, tomando uma quantia como empréstimo, deverá prever sua saída, a título de pagamento ao mutuante. Desse modo, na trilha de Aliomar Baleeiro, a receita pública é “a entra- da que, integrando-se no patrimônio público sem quaisquer reservas, condições ou correspondência no passivo, vem acrescer o seu vulto, como elemento novo e positivo”. Em outras palavras, a receita pública traduz-se no ingresso definitivo de bens e valores aos cofres públicos, ou seja, sem condição preestabe- lecida de saída. Quanto ao objeto da “invasão patrimonial”, a que se fez menção, calha trazer à baila o plano classificatório das receitas públicas, que podem ser: a) Receitas extraordinárias: com entrada ocorrida em hipótese de anor- malidade ou excepcionalidade, a receita extraordinária, longe de ser um ingresso permanente nos cofres estatais, possui caráter temporário, irregular e contingente. Assim, traduz-se em uma receita aprovada e ar- recadada no curso do exercício do orçamento. Exemplos: a arrecadação de um imposto extraordinário de guerra (art. 154, II, CF) ou, mesmo, de um empréstimo compulsório para calamidade pública ou para guerra externa (art. 148, I, CF). b) Receitas ordinárias: com entrada ocorrida com regularidade e pe- riodicidade, a receita ordinária é haurida dentro do contexto de pre- visibilidade orçamentária e no desenvolvimento normal da atividade estatal. As receitas ordinárias podem ser subdivididas, essencialmente, em receitas derivadas e receitas originárias. Quanto às receitas derivadas, o Estado, de modo vinculado (art. 5°, II, CF), e valendo-se do seu poder de império, na execução de atividades que lhe são típicas, fará “derivar” para seus cofres uma parcela do patri- mônio das pessoas sujeitas à sua jurisdição. Tais entradas intitulam-se “receitas derivadas” ou “de economia pública”, indicativas de receitas ordinárias obtidas à luz de imposição coativa e de manifestação sobe- rana do Estado, no uso típico de sua autoridade ou de seu constrangi- NOÇÕES BÁSICAS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E50 mento, direcionados à invasão patrimonial dos particulares. A esse propósito, Ruy Barbosa Nogueira assevera que “o direito de tri- butar do Estado decorre do seu poder de império pelo qual pode fazer ‘derivar’ para seus cofres uma parcela do patrimônio das pessoas sujei- tas à sua jurisdição e que são chamadas receitas derivadas ou tributos”. As receitas derivadas agrupam, pois, os rendimentos do setor público que procedem do setor privado da economia, por meio de prestações pecuniárias compulsórias – quase sempre, na forma de tributos –, devi- das por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado que desenvolvam atividades econômicas. [...] Por fim, destaque-se que, nas receitas derivadas, a fonte é a lei, e tais entradas referem-se a prestações tributárias ou não tributárias. Exemplos de receitas derivadas: I. Os tributos (impostos, taxas, contribuições de melhoria, emprésti- mos compulsórios e as contribuições): No que tange ao confronto das receitas derivadas e os tributos, pode-se afirmar: a) Quanto aos impostos, “o ingresso de recursos oriundos de impostos se caracteriza como uma receita derivada e compulsória”. b) Quanto às taxas, “a venda de serviços de natureza econômica por parte do Estado, tal como o fornecimento de água, é uma receita de- rivada”. c) Quanto às contribuições, “as receitas de contribuições sociais enqua- dram-se igualmente como receita derivada”. d) Quanto às demais contribuições (v.g., a CIDE-Combustível), não destoam do conceito de receita derivada. II. As multas pecuniárias (administrativas e penais): No estudo das receitas públicas, as multas, conquanto dessemelhantes dos tributos, aproximam-se destes quando se mostram como nítidas receitas derivadas. III. As reparações de guerra: As reparações de guerra, ainda que reservadas ao plano teórico, em nosso pacífico Estado, devem ser consideradas receitas derivadas. Estado de Direito Re pr od uç ão p ro ib id a. A
Compartilhar