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RESUMO DA OBRA DE JAIRO NICOLAU: “ REPRESENTANTES DE QUEM? ” REPRESENTAÇÃO POLÍTICA DESIGUAL Na votação do Impeachment da presidenta Dilma Rousseff na Câmara do Deputados em 2014, os representantes, em seus discursos, despertam estranheza na população brasileira que os elegeu ao destoar do esperado no legislativo com atitudes extravagantes. A repercussão foi do sentimento de não-representatividade, considerando o perfil elitista, de direita, com poucas mulheres, negros e trabalhadores que os Deputados apresentavam. A partir de então, nota-se os efeitos do modelo de financiamento de campanhas, das eleições proporcionais,da fragilidade dos partidos e da transferência de votos entre candidatos. Ademais, Jairo Nicolau afirma que as consequências nesse momento percebidas são, também, fruto da desvalorização que a população atribui às eleições proporcionais e, agora, resulta em um afastamento da sociedade brasileira e a esfera política. Assim o autor desenvolve o livro, com o objetivo de expor aos leitores que pretendem conhecer mais sucintamente o mundo eleitoral parte das pesquisas que ele realiza, sob influência de uma abordagem mais normativa. Sobre a estrutura do livro, apesar de dialogarem entre si, os capítulos podem ser lidos separadamente. No primeiro capítulo, a pergunta é: por que alguns deputados são eleitos com menos votos do que outros candidatos, que não se elegem? Para respondê-la, é necessário expor a complexidade por trás do sistema eleitoral proporcional, a qual muitos cidadãos desconhecem e, inclusive, o TSE a omite em suas campanhas. Nicolau acredita que esse descaso do eleitor com o sistema seja consequência da implementação da urna eletrônica e sistema computadorizado, que dispensa o trabalho longo e detalhado que envolvia milhares de indivíduos para a apuração dos votos, processo que levava-os a entender o funcionamento das eleições proporcionais. Para tornar o método de contagem mais didático, o autor o divide em 5 passos, realizados no âmbito dos estados - elementos que elegem os deputados federais do país. O primeiro passo consiste na desconsideração dos votos nulos e em branco, que não são válidos no processo de distribuição de cadeiras. Um adendo é feito para desmistificar uma informação errônea passada ao longo dos anos: não importa o volume de votos nulos, a eleição não é anulada. Em segundo lugar , somam-se os votos nominais aos votos de legenda do partido/coligação, visto que, antes das eleições, estes elaboram uma nominata - lista única da coligação - em que os partidos são beneficiados igualmente pelos votos, sejam eles em candidatos ou partidos específicos. Na terceira etapa, calcula-se o quociente eleitoral que os partidos/coligações precisam atingir para ocupar cadeiras e elimina-se o voto de alguns partidos. O cálculo de cláusula de barreira depende do número de eleitores que compareceram, anularam e deixaram seu voto em branco (total de votos válidos dividido pelo número de cadeiras disponíveis em uma circunscrição eleitoral) e , portanto, não se pode prevê-lo, porém, para estimá-lo, basta dividir 100% pelo número de vagas. Assim, o partido/coligação precisará atingir essa porcentagem obtida dos votos válidos para eleger um deputado. Observa-se que estados que possuem maior bancada, dispõem de um menor quociente. Ao final, os votos destinados a partidos que não conseguiram atingir a barreira, são desconsiderados e, diferentemente do senso comum, esse número de votos desperdiçados é menor que esperado, podendo atingir maiores proporções em sistemas de representação proporcional distrital, como no Reino Unido. O 4º passo equivale a distribuição das cadeiras entre os partidos que ultrapassaram a cláusula de barreira, realizada por uma fórmula de duas fases: primeiramente, ocorre a divisão dos votos do partido/coligação pelo quociente eleitoral, na qual o resultado é o número de de cadeiras por ele obtidas. E, como raramente inexistem excedentes após essa operação, as sobras - cadeiras não ocupadas - dependem da divisão do total de votos do partido pelo número de vagas por ele obtidas + 1, consequentemente, elas serão distribuídas aos partidos com maiores médias. Por final, o preenchimento das cadeiras pelos candidatos segue a regra majoritária: os mais votados dentro da lista as ocuparão. Devido a isso, o sistema brasileiro é chamado de representação proporcional de lista aberta, em que o importante para a eleição de um candidato é sua votação em relação aos outros nomes dentro de sua lista. Segundo mensuração de exemplos, apesar das críticas, o sistema vigente elege, em sua grande maioria, os representantes mais votados pela população. Ademais, sua métrica é eficiente ao garantir representação da nominata, sempre havendo algum grau de discrepância entre o número de votos dos deputados eleitos. Uma curiosidade apontada pelo autor é que, apesar do mandato dos deputados federais responderem a nível nacional, a orientação prevista por lei deve ser discutida na esfera estadual. No segundo capítulo, o tema é o uso das coligações e os efeitos distorcivos que elas podem ocasionar quanto à representação dos partidos. A partir do momento em que o eleitor não é devidamente informado sobre a composição das coligações partidárias, a confusão começa. Em 2014, especificamente, nota-se o uso generalizado das coligações no Brasil, ao mesmo tempo em que nos outros países que utilizam representação proporcional, elas raramente são usadas e, quando assim são, unem-se partidos com ideologias próximas a partir de um alinhamento nacional. As coligações, permitidas de 1946 à 1964, proibidas durante o Regime Militar, e reconstituídas com o processo de redemocratização, são uma das 3 opções que um partido dispõe em uma eleição, além de apresentar-se sozinho ou não concorrer, e produzem um efeito deformado no caso brasileiro, em que o voto dirigido a uma lista favorece igualmente partidos da aliança e da oposição ao eleito do executivo. Assim, uma regra pode ser notada: quanto maior o uso de coligações, maior a probabilidade de desvirtuamentos na representação dos partidos. Em decorrência disso, as últimas eleições gerais brasileiras apresentaram uma situação preocupante: em 6 unidades eleitorais, cada vaga na Câmara dos Deputados foi ocupada por um partido diferente, sendo que, dos 513 representante, apenas 58 elegeram-se por partidos não coligados. Desse modo, o questionamento vem à tona: por que os partidos preferem coligar-se? O autor argumenta que uma das razões possa ser a dificuldade para atingir a cláusula de barreira e, outra, a proposta que partidos com concorrentes ao executivo estadual fazem aos menores partidos, porque, entre as vantagens, estaria a somatória do horário eleitoral gratuito em favor dos candidatos a governador. As menores legendas, com isso, poderiam participar de suas nominatas para disputar cargos de deputado federal e estadual. Ademais, Nicolau concluiu que fazer o uso de coligações realmente beneficia os menores partidos. Para alcançar esse resultado, simulou-se os efeitos que a adoção de uma nova legislação eleitoral acarretaria na distribuição de cadeiras no estado do Pernambuco em 2014. Proibindo coligações, adotariam-se duas premissas: partidos são as únicas unidades de distribuição das vagas e aqueles que não atingiriam o quociente eleitoral teriam direito a participar da disposição das sobras. O número de partidos que elegeriam representantes, assim, iria de 12 para 9, mas a divergência essencial seria que os deputados seriam eleitos de forma decrescente devido a sua votação, impossibilitando a distribuição de cadeiras para partidos menos votados em relação aos