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4_Direitos_e_Obrigações_dos_Estrangeiros

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4. Direitos e Obrigações dos Estrangeiros
Direito Internacional Privado
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4.1 Situação Jurídica do Estrangeiro
O tratamento que os povos concediam aos estrangeiros residentes em seu território figura entre os aspectos mais importante na determinação de seu grau de civilização e de humanitarismo.
Os povos antigos discriminavam o estrangeiro, até que, inspirados por seus próprios interesses, foram introduzindo paulatinamente alterações para permitir a participação dos alienígenas no desenvolvimento econômico das sociedades em que viviam.
As velhas sociedades européias não progrediram substancial mente nesta matéria, mantendo regras discriminatórias contra estrangeiro.
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4.1.1 Entrada do estrangeiro em território nacional 
Embora matéria de competência interna, a imigração tem importância universal. Baixaria à degradação bárbara o Estado que proibisse, em caráter absoluto, aos seus nacionais, a mudança de domicilio e a transposição das fronteiras em busca de outras plagas. 
Violaria a solidariedade internacional se proibisse, inteiramente, a entrada de estrangeiro.
O internacionalista britânico Ian Brownlie escreveu que um Estado pode decidir não admitir estrangeiros ou pode impor condições a sua entrada”, e Hans Kelsen formulou o mesmo princípio, dizendo que “segundo o direito internacional, nenhum Estado tem obrigação de admitir estrangeiros em seu território”, invocando decisão da Suprema Corte norte-americana.
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Modernamente tem se entendido que a recusa à admissão de membros da família de uma pessoa já residente no país, que acarretaria mantê-los separados, viola a Convenção Europeia dos Direitos Humanos que protege o indivíduo no seu direito a uma vida particular e a sua vida em família.
A Constituição de 1988 dispõe no artigo 52, inciso XV, que é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens, repetindo no artigo 23, inciso XV, a competência (exclusiva) da União para legislar sobre “emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiro”.
No plano internacional a Convenção de Havana de 1928 sobre a Condição dos Estrangeiros dispõe em seu artigo 12 que os Estados têm o direito de estabelecer, por meio de leis, as condições de entrada e residência dos estrangeiros em seus territórios.
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A Lei nº 6.815/1980, que rege atualmente os institutos da Admissão e Entrada do estrangeiro no território nacional, os vários tipos de visto, a transformação de um em outro, a prorrogação do prazo de estada, a condição do asilado, o registro do estrangeiro, sua saída e seu retorno ao território nacional, sua documentação para viagem, a Deportação, a Expulsão, a Extradição, os Direitos e Deveres do Estrangeiro, a Naturalização e a criação do Conselho Nacional de Imigração.
A filosofia da atual legislação brasileira sobre a entrada e permanência de estrangeiro no Brasil inspira-se no atendimento à segurança nacional, à organização institucional e nos interesses políticos, socioeconômicos e culturais do Brasil, inclusive na defesa do trabalhador nacional.
São vários os tipos de visto de entrada que podem ser concedidos ao estrangeiro, especificados na lei como sendo: de trânsito, de turista, temporário, permanente, de cortesia, oficial e diplomático.
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4.2. Espécies de visto 
4.2.1 Visto de Entrada
Em matéria de visto de entrada para estrangeiro o governo brasileiro segue política de reciprocidade, dispondo o Decreto 82.307 de 1978 que “as autorizações de vistos de entrada de estrangeiros no Brasil e as isenções e dispensas de visto para todas a categorias somente poderão ser concedidas se houver reciprocidade de tratamento para brasileiros”.
A Lei 6.815/80 faculta a dispensa de visto de turista ao nacional de país que dispense idêntico tratamento ao brasileiro, reciprocidade esta a ser estabelecida mediante acordo internacional.
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4.2.2. Trânsito
Decreto 86715/81 - O visto de trânsito poderá ser concedido ao estrangeiro que, para atingir o país de destino, tenha de entrar em território nacional. 
Para obter visto de trânsito, o estrangeiro deverá apresentar: 
I - passaporte ou documento equivalente; 
II - certificado internacional de imunização, quando necessário; e 
III - bilhete de viagem para o país de destino. 
§ 1º - Do documento de viagem deverá constar, se necessário, o visto aposto pelo representante do país de destino. 
§ 2º - Os documentos exigidos neste artigo deverão ser apresentados pelo estrangeiro aos órgãos federais competentes, no momento da entrada no território nacional. 
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4.2.3. Turista
O visto de turista poderá ser concedido ao estrangeiro que venha ao Brasil em caráter recreativo ou de visita, assim considerado aquele que não tenha finalidade imigratória, nem intuito de exercício de atividade remunerada.
Para obter o visto de turista, o estrangeiro deverá apresentar: 
I - passaporte ou documento equivalente; 
II - certificado internacional de imunização, quando necessário; e 
III - prova de meios de subsistência ou bilhete de viagem que o habilite a entrar no território nacional e dele sair. 
Admitem-se, como prova de meios de subsistência, extrato de conta bancária, carta de crédito ou outros documentos que atestem a posse de recursos financeiros, a juízo da autoridade consular. 
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4.2.4. Temporário ou provisório
O visto temporário poderá ser concedido ao estrangeiro que pretenda vir ao Brasil: 
I - em viagem cultural ou sem missão de estudos;
II - em viagem de negócios; 
III - na condição de artista ou desportista; 
IV - na condição de estudante; 
V - na condição de cientista, professor, técnico ou profissional de outra categoria, sob regime de contrato ou a serviço do Governo brasileiro; 
VI - condição de correspondente de jornal, revista, rádio, televisão ou agência noticiosa estrangeira; e 
VII - na condição de ministro de confissão religiosa ou membro de instituto de vida consagrada e de congregação ou ordem religiosa. 
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Os prazos de estada no Brasil para os titulares de visto temporário serão os seguintes: 
I - no caso de viagem cultural ou missão de estudos, até dois anos; 
II - no caso de viagem de negócios, até noventa dias; 
III - para artista ou desportista, até noventa dias; 
IV - para estudante, até um ano; 
V - para cientista, professor, técnico ou profissional de outra categoria, sob regime de contrato ou a serviço do Governo brasileiro, até dois anos; 
VI - para correspondente de jornal, revista , rádio, televisão, ou agência noticiosa estrangeira, até quatro anos; 
VIl - para ministro de confissão religiosa, membro de instituto de vida consagrada ou de congregação ou ordem religiosa, até um ano. 
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4.2.5. Permanente
O visto permanente poderá ser concedido ao estrangeiro que se pretenda fixar, definitivamente no Brasil.
Para obter visto permanente o estrangeiro deverá satisfazer as exigências de caráter especial, previstas nas normas de seleção de imigrantes, estabelecidas pelo Conselho Nacional de Imigração, e apresentar: 
I - passaporte ou documento equivalente; 
II - certificado internacional de imunização, quando necessário; 
III - atestado de saúde; 
IV - atestado de antecedentes penais ou documento equivalente, a critério da autoridade consular; 
V - prova de residência; 
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VI - certidão de nascimento ou de casamento; e 
VII - contrato de trabalho visado pela Secretaria de Imigração do Ministério do Trabalho, quando for o caso.
O visto permanente só poderá ser obtido, salvo no caso de força maior, na jurisdição consular em que o interessado tenha mantido residência pelo prazo mínimo de um ano imediatamente anterior ao pedido. 
O estrangeiro, titular do visto permanente, deverá apresentar aos órgãos federais competentes, ao entrar no território nacional, os documentos referidos nos itens
I a III, deste artigo, no parágrafo único do artigo 9º, bem como os exames complementares de saúde constantes das normas técnicas especiais estabelecidas pelo Ministério da Saúde. 
Ressalvados os interesses da segurança nacional e as condições de saúde de que trata o item V do artigo 5º, não se aplicam aos portugueses as exigências de caráter especial previstas nas normas de seleção de imigrantes, nem o disposto no artigo seguinte. 
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4.2.6. Cortesia
Poderá ser concedido estritamente a personalidades e autoridades do país onde se encontra a Repartição consular brasileira, em viagem não oficial ao Brasil, para visitas por prazo não superior a 90 (noventa) dias.
Vistos diplomáticos, oficiais e de cortesia deverão ser solicitados por meio de Nota Verbal da Chancelaria local, da Missão diplomática estrangeira ou do organismo internacional, na qual fiquem explícitos, claramente, os objetivos, o local e a duração da missão.
Caso a personalidade ou autoridade estrangeira seja de país diferente de onde se localiza a Repartição consular, uma consulta prévia será feita ao Ministério das Relações Exteriores para sua concessão.
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O visto de cortesia não poderá ser concedido para evitar o pagamento de emolumentos consulares eventualmente devidos pela concessão do visto apropriado.
O visto de cortesia poderá também ser concedido, pelo prazo máximo de um ano, ao dependente maior de 21 anos, desde que comprovada dependência ou estudo; ao companheiro cuja condição tenha sido comprovada pela Chancelaria local por nota a ser submetida à decisão do Ministério das Relações Exteriores; e ao serviçal de funcionário diplomático, administrativo ou técnico estrangeiro, designado para missão de caráter permanente no Brasil.
É vedada ao titular de visto de cortesia, incluindo o companheiro, qualquer atividade remunerada no Brasil, salvo nos casos de acordo bilateral específico e do serviçal, que exercerá suas atividades a serviço particular do titular do visto diplomático ou de cortesia.
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4.2.7. Oficial
O visto oficial poderá ser concedido a autoridades e funcionários estrangeiros e de organismos internacionais que viajem ao Brasil em missão oficial de caráter transitório ou permanente, incluídas nessa definição as missões de cunho científico-cultural e a assistência técnica praticada no âmbito de acordos que contemplem expressamente a concessão de visto oficial a técnicos, peritos e cooperantes.
A concessão de visto diplomático e de visto oficial poderá ser estendida, por reunião familiar, ao cônjuge do interessado e aos descendentes do casal, menores de 21 anos
Os vistos diplomáticos e oficiais poderão ter validade de até dois anos.
 
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4.2.8. Diplomático
O visto diplomático poderá ser concedido a autoridades e funcionários estrangeiros e de organismos internacionais que tenham status diplomático, que viajem ao Brasil em missão oficial.
Permanência para desempenhar sua atividade;
 
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4.3. Requisitos genéricos para a concessão do visto de entrada (art. 7º):
O estrangeiro, ao entrar no território nacional, seja qual for o meio de transporte utilizado, será fiscalizado pela Divisão Nacional de Vigilância Sanitária de Portos, Aeroportos e Fronteiras, do Ministério da Saúde, pelo Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça e pela Secretaria de Receita Federal do Ministério da Fazenda, no local da entrada, nos termos da legislação respectiva, devendo apresentar os documentos previstos neste Regulamento. 
No caso de entrada por via terrestre, a fiscalização far-se-á no local reservado, para esse fim, aos órgãos referidos neste artigo. 
Em se tratando de entrada por via marítima, a fiscalização será feita a bordo, no porto de desembarque. 
Quando a entrada for por via aérea, a fiscalização será feita no aeroporto do local de destino do passageiro, ou ocorrendo a transformação do voo internacional em doméstico, no lugar onde a mesma se der, a critério do Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, ouvidas a Divisão Nacional de Vigilância Sanitária de Portos, Aeroportos e Fronteiras do Ministério da Saúde e a Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda. 
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4.4. Requisitos específicos sobre visto de entrada 
Em alguns tipos de vistos, há necessidade de comprovação da situação fática alegada, como, por exemplo, a necessidade de demonstrar o interesse em continuar exercendo atividade econômica em seu país de origem.
Tais requisitos foram analisados em cada caso.
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4.5. Retorno do estrangeiro com visto provisório
Não pode continuar dentro do território o estrangeiro que:
I - não apresentar documento de viagem ou carteira de identidade, quando admitida; 
II - apresentar documente de viagem: 
a) que não seja válido para o Brasil; 
b) que esteja com o prazo de validade vencido; 
c) que esteja com rasura ou indício de falsificação; 
d) com visto consular concedido sem a observância das condições previstas na Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980
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4.6. Documentos de viagem do estrangeiro
Departamento de Polícia Federal poderá conceder passaporte para estrangeiro nas seguintes hipóteses:
I - ao apátrida e ao de nacionalidade indefinida; 
II - ao nacional de país que não tenha representação diplomática ou consular no Brasil, nem representante de outro país encarregado de protegê-lo; 
III - ao asilado ou ao refugiado, como tal admitido no Brasil; 
IV - ao cônjuge ou viúva de brasileiro que haja perdido a nacionalidade originária em virtude do casamento.
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4.7. Saída compulsória do estrangeiro
4.7.1. Deportação - Deportação é o processo de devolução de estrangeiro que aqui chega ou permanece irregularmente, para o país de sua nacionalidade ou de sua procedência. Pode voltar ao país, desde que preencha os requisitos.
4.7.2. Expulsão – neste caso, a remoção se dá por prática ocorrida após a chegada e a fixação do estrangeiro no território do país. (“persona non grata”).
4.7.3. Extradição – Francisco Rezek: "entrega, por um Estado a outro, e a pedido deste, de pessoa que em seu território deva responder a processo penal ou cumprir pena. Cuida-se de uma relação executiva, com envolvimento judiciário de ambos os lados”.
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4.10 Indenização por Expulsão 
No início do século registraram-se alguns casos de arbitragem versando reclamações de países pela expulsão sofrida por seus cidadãos em outros países.
No caso Tillet, as autoridades belgas haviam expulsado um inglês que desejara discursar numa reunião pública sobre a causa sindical. O árbitro decidiu que a Grã-Bretanha nada tinha a reclamar da Bélgica que exercera a plenitude de sua soberania ao decidir que o comportamento do alienígena merecia a expulsão. 
No caso Boffolo, um italiano foi expulso da Venezuela por ter publicado um artigo em que criticara uma decisão judicial e outro artigo em que recomendava a leitura de um jornal socialista. No caso, o árbitro decidiu que a Venezuela havia apresentado justificativa inadequada para justificar a expulsão e concedeu à Itália indenização de 2.000 bolívares”’
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Em todas estas arbitragens não se questionou o direito, a validade da expulsão, decidindo-se apenas que em certos casos, a forma pela qual se efetua a expulsão pode levar a uma obrigação de indenizar o Estado da nacionalidade do expulsando.
Não há notícia de qualquer procedimento desta natureza contra nosso país, cujo Judiciário, sempre que provocado, examinou e julgou com critério as medidas de expulsão de estrangeiros.
Em sua 65ª Conferência, realizada no Cairo, em 1992, a International Law Association, aprovou uma Declaração no sentido que os estados que, por suas políticas internas, forçam seus cidadãos a se tornarem refugiados, praticam um ato internacionalmente ilegal, que cria a obrigação de compensar o mal cometido, para que estes estados devem ser obrigados a indenizar seus nacionais forçados a deixar a pátria, da mesma forma
como são obrigados pelo direito internacional, a compensar os estrangeiros expulsos indevidamente.

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