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1 LESÕES POR AGENTES MICROBIANOS INFECÇÕES BACTERIANAS SÍFILIS (LUES) A sífilis é uma infecção que pode ser transmitida sexualmente ou pelo contato entre secreções humanas, visto que ambientes secos inviabilizam os microrganismos. Desse modo, a porta de entrada pode ser microfissuras, ranhuras e pequenas esfoliações; a transmissão pode ocorrer de modo vertical, quando a mãe contaminada passa a infecção para o feto. O microrganismo causador é o Treponema pallidum e a prevalência é maior em jovens. Há períodos de exacerbação e remissão, isso significa que durante a progressão da doença é difícil caracterizá-la como sendo a mesma, pois em cada fase os sinais são diferentes. A fase primária ocorre de 3 a 90 dias após a inoculação, o local infectado apresenta uma lesão única assintomática, na forma de pápula ou nódulo ulcerado, endurecido e indolor. Na boca, há uma úlcera de base clara e indolor altamente contaminante. A disseminação do microrganismo pela cadeia linfática ocorre assim que o mesmo penetra no hospedeiro. O paciente apresenta linfadenopatia regional bilateral e cicatrização espontânea no período de 3 a 8 semanas, mesmo que não tenha sido tratado. A fase secundária ocorre de 4 a 10 semanas após contato inicial, pode aparecer antes da resolução da fase primária e as características de ambas são diferentes, de modo que o paciente não percebe que é a mesma doença. As lesões deixam de ser locais e são disseminadas, e se não forem tratadas pode haver períodos de remissão e recidivas ao longo dos anos ou evoluir diretamente para o estágio terciário. O paciente parece ter uma reação alérgica, a infecção se torna sistêmica e inespecífica com os sinais de febre, dor de garganta, mal estar, cefaleia, mialgia e perda de peso; ele também apresenta linfadenopatia regional e indolor, porém, pode ser dolorosa. As lesões podem ser máculo-papulares, ou seja, tem alteração de cor com elevação discreta, são difusas e ocorrem na palma das mãos e sola dos pés. Na boca, aparecem roséolas sifilíticas e placas mucosas brancas com áreas de ulcerações; essas placas são formadas porque o epitélio contaminado sofre exocitose, forma um edema interepitelial (espongiose), causa necrose do epitélio e por fim, formam úlceras. Essa fase é altamente contaminante; no exame histopatológico encontra-se infiltrado inflamatório crônico com muitos plasmócitos ao redor dos vasos sanguíneos e linfáticos. Pode-se realizar a técnica imuno-histoquímica ou impregnação por prata para visualizar as bactérias. Quando a infecção está na forma latente, não apresenta manifestações clínicas e pode ser transmitida verticalmente entre as fases primária e secundária ou após a secundária apenas; os 2 microrganismos continuam circulantes e as reações sorológicas são positivas; ela pode durar meses ou anos, pode se intercalar com a sífilis secundária ou, após a fase de latência evoluir para uma sífilis terciária. A infecção nesse estágio não é transmissível pelo contato e há possibilidades de contaminação vertical. A latência pode durar de 1 a 30 anos. A fase terciária é irreversível, ocorre em 30% dos pacientes não tratados, compromete o sistema cardiovascular e SNC e pode levar a óbito. A goma sifilítica é uma inflamação crônica granulomatosa que gera um tecido nodular aumentado, duro à palpação e ulcerado; pode estar em mucosas, pele, ossos, órgãos internos, tecidos moles, comum em língua e palato. Quando ocorre no palato, causa destruição do tecido ósseo devido à comunicação bucosinusal; quando ocorre na língua, causa macroglossia (língua nodular, grande e endurecida = glossite intersticial) ou atrofia de papilas (glossite luética). O exame histopatológico mostra inflamação granulomatosa com células gigantes multinucleadas, macrófagos epitelioides, linfócitos e área de necrose caseosa. O diagnóstico pode ser obtido por meio do esfregaço, onde se utiliza a microscopia de campo escuro em que é observado apenas o formato do microrganismo; imuno-histoquímica (no esfregaço ou na biópsia incisional); teste de anticorpos (imunofluorescência) e testes sorológicos: VDRL e TRP = exames de triagem (pouco sensível e inespecífico) e CMIA (mais específico). O tratamento é realizado com antibióticos (penicilina/doxiciclina) de acordo com o estágio da doença e estado imunológico do paciente; porém, não é da competência do dentista estabelecer o protocolo terapêutico. O microrganismo permanece alojado no SNC e linfonodos, aonde o antibiótico não chega, limitando assim o tratamento. A presença de lesões de sífilis predispõe a contaminação por HIV – pois a forma de contato é a mesma e essas lesões criam soluções de continuidade com a pele. SÍFILIS CONGÊNITA Pode ser detectada e tratada até o 4º mês de gestação sem consequências para o bebê, no entanto, após esse período pode haver aborto, bebê natimorto ou desenvolvimento da doença após o nascimento. Nas primeiras semanas de vida, os sinais são retardo no crescimento, febre, icterícia, anemia, hepatoesplenomegalia e erupções cutâneas. Se não for tratada, pode haver alterações em outros tecidos, como danos ao tecido ósseo e cérebro, olhos, orelhas e má formação dos dentes. A criança pode desenvolver a Tríade de Hutchinson: dentes de Hutchinson (molar em amora e incisivos em barril/chave de fenda com hipoplasia do esmalte), cegueira e surdez; as alterações craniofaciais são bossa frontal proeminente, nariz em sela, maxila atrésica e palato ogival. O tratamento da gestante é realizado com penicilina IV e prevenção. 3 TUBERCULOSE A transmissão da tuberculose ocorre pelo ar, através de gotículas respiratórias do indivíduo contaminado e com a doença ativa. O microrganismo causador é o Mycobacterium tuberculosis. A infecção é diferente da doença ativa, pois na infecção o indivíduo teve contato, mas não desenvolveu a doença, pois são imunocompetentes; a doença ativa se desenvolve no indivíduo imunocomprometido, e ocorre mais em países pobres. O tipo primário da tuberculose ocorre quando há o primeiro contato com o microrganismo, que se aloja no pulmão por meio da aspiração; o curso subclínico não causa grandes prejuízos. No pulmão, há um processo de inflamação crônica inespecífica discreta e reparação por fibrose e calcificação; os microrganismos são inativados ali mesmo e o local se torna um foco inativo de infecção. As calcificações são comuns nos pulmões de pacientes idosos, podendo ser tuberculose inativa ou outras impurezas. O tipo secundário ocorre quando o foco inativo se torna ativo, geralmente devido a um quadro de imunossupressão (AIDS, idade avançada, desnutrição, diabetes, doenças debilitantes). É raro em jovens e adultos jovens, cerca de 5 a 10% dos casos inativos progridem para essa fase e a partir do pulmão e via linfática a disseminação se torna sistêmica. Os sintomas são febre, mal-estar, anorexia, perda de peso e sudorese noturna. A evolução começa com tosse, hemoptose (escarro sanguinolento), dor torácica e consumação (grande debilidade). Através do escarro ou via hematogênica pode haver lesões bucais. As manifestações bucais ocorrem quando já existe lesão pulmonar, e são: úlceras crônicas ou pontos amarelados, áreas nodulares e lesões crônicas granulomatosas com contorno irregular (áreas de destruição e proliferação tecidual) na língua, palato e lábio, podendo ser dolorido ou não. O exame histopatológico mostra um típico quadro de granuloma bem organizado, com inflamação crônica granulomatosa e necrose caseosa central, células gigantes multinucleadas tipo Langerhans, histiócitos epitelioides e infiltrado inflamatório mononuclear. Através da coloração Ziehl-Neelsen, que é um álcool-ácido resistente,pode-se visualizar bacilos raros. O diagnóstico é realizado por meio do teste tuberculíneo cutâneo (sobrenadante de cultura de bactérias filtrado e esterilizado seguido de injeção intradérmica e acompanhamento da reação do indivíduo): positivo para doença ativa; falso positivo com BCG; falso negativo em idoso e imunossuprimido, pois o hospedeiro não reage com o material inoculado. O exame histopatológico permite a visualização de poucos bacilos. Pode-se realizar um meio de cultura com a secreção ou tecido infectado (4 a 6 semanas) e PCR. O tratamento adotado inclui muitos medicamentos por longo período, o que dificulta a adesão do paciente. 4 INFECÇÕES FÚNGICAS CANDIDÍASE (CANDIDOSE) O microrganismo causador é a Candida albicans, que faz parte da microbiota residente do hospedeiro. A doença só é causada quando há desequilíbrio da microbiota ou um estado de imunossupressão, favorecendo a proliferação do fungo. O tratamento é feito com nistatina Os fatores predisponentes locais são umidade, maceração da pele ou mucosa, como ocorre em pacientes que utilização prótese total sem removê-la para limpeza. Os fatores predisponentes gerais são endocrinopatias (diabetes), desnutrição, estado debilitante ou fármacos. A candidíase apresenta algumas formas clínicas: pseudomembranosa, eritematosa e hiperplásica crônica. A forma pseudomembranosa ocorre devido à utilização de antibióticos de amplo espectro ou por tempo prolongado e imunossupressão; clinicamente é observada uma placa branca ou branca- amarelada, é removida por fricção, também conhecida como sapinho. Ela se desenvolve na mucosa subjacente à placa eritematosa ou hemorrágica. Os sintomas são desconforto, ardência, queimação e gosto desagradável. Quando a infecção desce para a região de orofaringe em paciente jovem, este pode ser o primeiro sinal clínico da AIDS. A forma eritematosa, ou candidíase atrófica aguda é causada pelo uso de antibióticos de amplo espectro, é “atrófica” porque o epitélio fica vermelho e fino e “aguda” porque o processo tem inicio rápido e é acompanhado de ardência. Não há pseudomembrana recobrindo a lesão, os sintomas são ardência, queimação e desconforto. A língua fica avermelhada e atrofia das papilas filiformes. A glossite romboidal mediana é uma elevação romba no terço médio da língua, avermelhada, despapilada e assintomática. Nessa lesão são isolados alguns fungos Candida. A proporção entre pacientes infantis, adultos e idosos é diferente, pois não aparece em crianças, podendo ser uma lesão adquirida. Pode ser chamada de “lesão beijada”, condição em que a língua repousa no palato e nota-se uma área eritematosa, que desaparece com o tratamento com antifúngico; ela pode sumir ou se manter com aparência de cicatriz. A queilite é comum quando há redução da dimensão vertical, pois a comissura fica úmida e macerada, predispondo à infecção e proliferação de Staphylococcus aureus; a região apresenta descamação, fissuras e eritema. A estomatite por dentadura, ou candidíase atrófica crônica, ocorre na área encoberta pela base posterior da prótese total. É uma área eritematosa, podendo haver petéquias e assintomático. 5 Ocorre devido às condições em que se encontra a prótese: mal adaptada, uso contínuo, má- higienização, má-confecção ou reação alérgica ao material. A forma hiperplásica crônica é uma placa branca não removível a fricção. O diagnóstico diferencial inclui hiperceratose traumática e leucoplasia (potencialmente maligna). Caso o paciente já tenha alguma dessas alterações, a candidíase pode ser uma lesão secundária, pois tem afinidade por queratina. O diagnóstico é feito pela retirada do possível trauma e raspagem. Se o laudo da raspagem for positivo para Candida, ainda pode ser uma leucoplasia com candidíase associada ou candidíase hiperplásica. A prova terapêutica é feita pelo bochecho com nistatina: se for candidíase a lesão some, se for leucoplasia associada à candidíase o fungo morre, mas a lesão permanece. Pode- se realizar também a citologia esfoliativa com a coloração PAS. PARACOCCIDIOIDOMICOSE Também pode ser conhecido como Blastomicose sul-americana. O microrganismo causador é o Paracoccidioide brasilienses; é comum em países sul-americanos e no Brasil tem maior incidência em SP, RJ, MG e PR. O indivíduo apresenta uma micose profunda que adentra os tecidos, ocorre mais em homens (proporção 25:1); nas mulheres, a presença do estrógeno impede a conversão da forma não patogênica do fungo na forma patogênica. O perfil do indivíduo acometido é homem de 29 a 40 anos, agricultor, de baixo nível socioeconômico e imunodeprimido. A patogênese da infecção se dá pela aspiração do fungo, instalação no pulmão, conversão para forma patogênica e disseminação via linfática e hematogênica. O indivíduo pode ter uma ou mais lesões bucais, sendo elas erosivas ou ulceradas com superfície granulosa salpicada por pontos hemorrágicos, com aspecto MORIFORME. A sintomatologia inclui dor, sialorreia e macroqueilia. O exame histopatológico mostra células gigantes multinucleadas do tipo Langerhans com fungos dentro, com aspecto “orelha de Mickey” ou “leme de navio”, quando estão em proliferação. O diagnóstico pode ser feito por biópsia ou citologia esfoliativa, para evidenciação do fungo. A citologia esfoliativa pode ser útil porque como a lesão é ulcerada, o fungo pode estar na superfície, porém, há mais possibilidades de dar resultado falso negativo. O tratamento para a paracoccidioidomicose leve e moderada é feito com sulfonamida e itraconazol, por alguns meses. Para casos graves, é indicado a anfotericina B (IV). 6 INFECÇÕES VIRAIS PAPILOMA O papiloma é uma infecção causada pelo microrganismo Papiloma vírus HPV6 e 11, que tem baixo grau de virulência e infectuosidade. As lesões são únicas, autolimitadas e assintomáticas; podem ocorrer em qualquer local da boca. Ocorre em indivíduos de 30 a 50 anos, porém, pode acometer crianças. A lesão é pediculada de superfície papilomatosa com projeções digitiformes, geralmente brancas devido à presença de muita queratina. O vírus infecta as células do epitélio, estimula a proliferação epitelial em extensão (levando a projeções superficiais) e espessura (acantose), e faz com que as células fiquem retidas por mais tempo, logo, não há descamação e é gerada uma hiperceratose. O tratamento é excisão cirúrgica, crioterapia ou eletrocirurgia. VERRUGA VULGAR Causada pelo microrganismo Papiloma vírus HPV2, 4, 6 e 40, que são um pouco mais virulentos e infectuosos. As lesões são múltiplas, contagiosas e autolimitadas. É mais comum em crianças, na região das mãos e isso facilita o surgimento de lesões em lábio e língua, pois a criança leva as mãos até a boca. As lesões são de base séssil com projeções arredondadas, superfície verrucosa e projeções mais discretas. No exame histopatológico observam-se projeções para o meio externo e tecido conjuntivo; coilócitos (células com halo claro perinuclear – indica inclusão viral) presente também no papiloma. O tratamento é a excisão cirúrgica, crioterapia, eletrocirurgia e remissão espontânea. CONDILOMA ACUMINADO Causado pelo microrganismo Papiloma vírus HPV2, 6, 11, 53, 54, 16 e 18, que apresentam alto grau de malignidade. Comum em pacientes com DST, o período de incubação dura cerca de 1 a 3 meses. Ocorre auto-inoculação e não é autolimitante. As lesões são múltiplas e podem ser grandes, podendo abranger a mucosa inteira, contorno irregular, coloração semelhante à mucosa (menos branca porque possui menos queratina). É comum em adolescentes e adultos jovens sexualmente ativos; os locais mais comuns são genitália, regiãoperianal, boca (lábio, palato mole, freio lingual) e laringe. No exame histopatológico observa-se uma hiperplasia do epitélio em forma de “platô” – em comprimento e espessura. O tratamento é excisão cirúrgica, podofilina (para tentar descamar o epitélio) e laser (destrói a célula, mas libera a partícula viral para o ambiente).
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