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Teoria_Geral_do_Crime_-_1a_Parte

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Direito Penal
Parte Geral�� PAGE \* MERGEFORMAT �170���
IV. Teoria geral do crime
introdução
Segundo a doutrina, o termo “infração penal” é utilizado genericamente, englobando os “crimes” e as “contravenções”. Crime é sinônimo de delito. O Código Penal usa as expressões “infração”, “crime” e “contravenção”, sendo que a primeira é gênero, abrangendo as duas últimas, que são espécies.
O Código de Processo Penal algumas vezes utiliza o termo “infração”, em sentido genérico, abrangendo os crimes (ou delitos) e as contravenções (exemplos: artigos 4º, 70, 72 etc.) e outras vezes usa o termo “delitos” como sinônimo de “infração” (exemplos: artigos 301 e 302). 
Crime e Contravenção
Como visto, crime e contravenção são espécies do gênero infração. Não há, contudo, diferença ontológica entre crime (ou delito) e contravenção. O mesmo fato pode ser definido como crime ou contravenção, a critério do legislador. O fato que hoje é definido como contravenção pode no futuro vir a ser definido como crime. O critério legal usado para distinguir crime e contravenção é o de analisar a pena: se a pena for de prisão simples ou multa (ou ambas, alternativa ou cumulativamente) trata-se de contravenção; se a pena for de detenção ou reclusão trata-se de crime.
	Infração penal (classificação bipartida ou dicotômica)
	Crime (ou delito)
	Contravenção penal
Conceito de Crime
Há três sistemas de conceituação do crime: material, formal e analítico.
Material (substancial): refere-se ao conteúdo do ilícito penal, com análise da conduta danosa e sua consequência social. Nesse sentido, crime é a conduta humana que causa lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado;
Formal (formal-sintético): refere-se à contradição do fato com a norma penal. Nesse sentido, crime é a conduta humana proibida pela lei penal. 
Analítico (dogmático ou formal-analítico): enfoca os elementos ou requisitos do crime, segundo conceitos teóricos extraídos da lei penal. Nesse sentido o crime é concebido como conduta típica, ilícita (antijurídica) e culpável (conceito tripartido), ou apenas conduta típica e ilícita (conceito bipartido).
O aspecto material do conceito de crime busca estabelecer o porquê de determinado fato ser considerado criminoso e outro não. Sob esse enfoque, crime pode ser definido como todo fato humano que, propositada ou descuidadamente, lesa ou expõe a perigo bens jurídicos considerados fundamentais para a existência da coletividade e da paz social. Materialmente, tem-se o crime sob o ângulo da sua natureza danosa e suas consequências lesivas. O conceito material do crime é de relevância jurídica, uma vez que coloca em destaque o seu conteúdo teleológico ( Estudo especulativo da causa, da essência, alcance ou fim das normas legais), a razão determinante de constituir uma conduta humana infração penal e sujeita a uma sançäo. É certo que sem descrição legal nenhum fato pode ser considerado crime. Todavia, é importante estabelecer o critério que leva o legislador a definir somente alguns fatos como criminosos. É preciso dar um norte ao legislador, pois, de forma contrária, ficaria ao seu livre alvedrio( arbítrio, vontade sem constragimento externo) a criação de normas penais incriminadoras, sem esquema de orientação, o que, fatalmente, viria lesar o jus libertatis dos cidadãos. Portanto, nesse sentido material (ou substancial), conforme a lição de Manzini, delito é a ação ou omissão, imputável a uma pessoa, lesiva ou perigosa a interesse penalmente protegido, constituída de determinados elementos e eventualmente integrada por certas condições, ou acompanhada de determinadas circunstâncias previstas em lei. Como se nota, sob o ponto de vista material, o conceito de crime visa aos bens protegidos pela lei penal. Desta forma, nada mais é que a violação de um bem penalmente protegido.
Sob o aspecto formal, conceitua-se o crime sob o ponto de vista da lei. Crime é toda conduta que viola uma lei penal.
Sob o aspecto analítico, busca-se estabelecer os elementos estruturais do crime. A finalidade deste enfoque é propiciar a correta e mais justa decisão sobre a infração penal e seu autor, fazendo com que o julgador ou intérprete desenvolva o seu raciocínio em etapas. Sob esse ângulo, crime é todo fato típico, ilícito e culpável (parte da doutrina entende este último elemento – a culpabilidade – não é elemento do crime, mas constitui mero pressuposto da pena). Esses elementos serão estudados exaustivamente.
Dos três sistemas, o analítico é o que predomina, pois é aquele que apreende os elementos dogmáticos da conduta considerada como crime por uma norma penal.
	Conceito de crime
	Aspecto material
	Aspecto formal
	Aspecto analítico
Análise do Crime sob o Aspecto ANALÍTICO
O crime é um fato. Um fato a que se agregam características. Para fins didáticos, o crime é dividido em requisitos ou elementos: fato típico, ilicitude (ou antijuridicidade) e culpabilidade. Para a maioria da doutrina brasileira e estrangeira, crime é fato típico, ilícito (ou antijurídico) e culpável (teoria tripartida).
Alguns doutrinadores, entretanto, entendem que crime é fato típico e antijurídico, e que a culpabilidade é mero pressuposto da pena (teoria bipartida). Nesse sentido: Ariel Dotti, Damásio E. de Jesus, Julio Fabbrini Mirabete, dentre outros. 
Logo, cumpre observar que, a depender da teoria adotada, diferentes serão os requisitos de existência do crime.
Será aqui adotada a teoria tripartida: o crime é fato típico, antijurídico e culpável.
Para que haja crime, é preciso um fato típico, que ocorre com uma conduta humana positiva ou negativa (ação ou omissão). Nem todo comportamento do homem, porém, constitui delito. Em face do princípio da reserva legal, somente aqueles comportamentos previstos na lei penal é que podem configurar o delito. Imaginemos a seguinte situação: A esfaqueia B, causando-lhe a morte. O artigo 121, caput, do Código Penal, assim define o crime de homicídio simples: “matar alguém”. Assim, a conduta de A corresponde ao fato que a lei penal descreve como crime. Ocorreu nesse exemplo a subsunção (Segundo a doutrina de Knt, considerar um indivíduo como compreendido numa espécie, um fato como sendo a aplicação de uma lei, uma ideia como dependente de uma ideia geral) do fato a uma norma penal incriminadora, ou seja, ocorreu o fato típico, primeiro requisito do crime. 
Crime é fato típico e antijurídico. Para que exista crime, além de ser típico o fato deve ser contrário ao direito: deve ser antijurídico (ou ilícito). Um fato pode ser típico e lícito, quando, por exemplo, o agente age em legítima defesa. Se A mata B em legítima defesa comete um fato típico (matar alguém), mas lícito, pois a legítima defesa é uma das causas de exclusão da antijuridicidade. Logo, excluída a ilicitude, não há crime.
Quando alguém pratica um fato típico e ilícito, deve ser analisada a culpabilidade, ou seja, para que o infrator seja punido, este deve ser culpável. Assim, para que o agente seja punido é necessário que sobre ele incida um juízo de reprovação social. Destarte, um sujeito pode praticar um fato típico e ilícito, mas não ser culpável, como ocorre com o menor de 18 anos.
	
Conceito analítico
	Teoria bipartida: crime é fato típico e ilícito
	
	Teoria tripartida: crime é fato típico, ilícito e culpável (majoritária)
 
Fato Típico
Fato típico é a conduta (positiva ou negativa) que provoca um resultado (em regra) que se amolda perfeitamente aos elementos constantes do modelo previsto na lei penal.
O fato típico é composto dos seguintes elementos:
conduta dolosa ou culposa; 
resultado (nos crimes materiais);
nexo de causalidade entre a conduta e o resultado (nos crimes materiais);
tipicidade (enquadramento do fato a uma norma penal, com lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico – tipicidade formal e material, respectivamente).
No exemplo citado no item anterior, “A esfaqueou B”, logo: A praticou a conduta esfaquear (conduta); B morreu (resultado); B morreu em consequência das lesões produzidas pelas facadas (nexo causal);todo esse acontecimento se enquadra no artigo 121 do Código Penal (tipicidade). 
Adotando-se a teoria da imputação objetiva, ela se insere como um elemento a ser verificado no nexo causal (embora alguns entendam, como Capez, que se trate de elemento autônomo do fato típico, devendo ser analisada logo após o nexo causal).
Sobre a conduta, duas teorias procuram explicá-la: a clássica (ou causalista) e a finalista. Em face da complexidade do assunto, serão estudadas mais profundamente a diferença entre estas duas teorias quando for estudado especificamente a conduta. Não obstante isso, é bom desde logo destacar a característica essencial de cada uma dessas teorias:
Teoria clássica (ou causalista): para esta teoria, crime é fato típico, antijurídico e culpável. Segundo seus adeptos, o dolo e a culpa estão na culpabilidade, razão pela qual, ausente o dolo ou a culpa, ausente está o crime. Assume, portanto, concepção obrigatoriamente tripartida a respeito do conceito formal de crime;
Teoria finalista (finalismo penal): os adeptos desta teoria também conceituam crime como fato típico, antijurídico e culpável. Todavia, para os finalistas, o dolo e a culpa estão na conduta do agente, e esta (a conduta) integra o fato típico. Assim, o dolo e culpa, no finalismo, são retirados da culpabilidade e inseridos no fato típico (especificamente no primeiro elemento do fato típico, que é a conduta). A doutrina, de forma praticamente pacífica, entende que o Código Penal brasileiro, com a reforma de sua parte geral ocorrida em 1984, adotou a teoria finalista da conduta. É a teoria que prevalece ainda hoje entre nós.
Note-se que a grande diferença entre as duas teorias reside no fato de que para a teoria clássica (causalista) o dolo e a culpa estão na culpabilidade, enquanto os finalistas consideram a conduta como sendo dolosa ou culposa, ou seja, tais elementos integram a conduta.
	
Elementos do fato típico
	Conduta
	
	Resultado
	
	Nexo causal
	
	Tipicidade
ILICITUDE (OU Antijuridicidade)
É a relação de contrariedade entre o fato e o ordenamento jurídico.
Como leciona Damásio E. de Jesus, “a conduta descrita em norma penal incriminadora será ilícita ou antijurídica quando não for expressamente declarada lícita. Assim, o conceito de ilicitude de um fato típico é encontrado por exclusão: é antijurídico quando não declarado lícito por causas de exclusão da antijuridicidade (CP, art. 23, ou normas permissivas encontradas em sua parte especial ou em leis especiais)”�. 
	
Ilicitude (ou antijuridicidade)
	Relação de contrariedade entre o fato e o ordenamento jurídico (o fato é praticado sem que haja qualquer justificativa legal que o ampare)
Culpabilidade
É a reprovação da ordem jurídica, em face de estar ligado o homem a um fato típico e antijurídico.
É reprovação social que recai sobre o sujeito, consistente na possibilidade de se reprovar alguém por ter praticado uma conduta proibida compreendo o caráter ilícito de sua ação, quando lhe era exigível agir de outra forma, conformando sua conduta àquela esperada pelo direito.
São elementos que compõem a culpabilidade:
Imputabilidade;
Potencial consciência da ilicitude;
Exigibilidade de conduta diversa.
	
Culpabilidade
	Imputabilidade
	
	Potencial consciência da ilicitude
	
	Exigibilidade de conduta diversa
Quadro geral do conceito analítico de crime
	Crime (conceito tripartido)
	Fato típico
	Ilícito (ou antijurídico)
	Culpável
	Conduta
Resultado
Nexo causal
Tipicidade (formal e material)
	Conceito por exclusão: é ilícita a conduta que não se enquadra em causa excludente da ilicitude (art. 23, CP)
	Imputabilidade
Potencial consciência da ilicitude
Exigibilidade de conduta diversa
PUNIBILIDADE
A punibilidade não é requisito do crime, mas sua consequência jurídica.
Nada mais é que a possibilidade jurídica de se aplicar a sanção penal.
Se alguém praticar um fato típico, ilícito e culpável, praticou um crime. Por isso, o agente deverá ser punido, exceto se existir uma causa de extinção da punibilidade.
As causas de extinção da punibilidade, exceto a anistia e a abolitio criminis, não afetam os requisitos do crime, mas somente excluem a possibilidade de aplicação da sanção.
REQUISITOS, ELEMENTARES E CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME
Requisitos do crime são: o fato típico, a antijuridicidade e a culpabilidade. Faltando um deles, não há figura delituosa. O fato típico, a ilicitude e a culpabilidade são requisitos de todo e qualquer crime, por isso são chamados requisitos genéricos.
Elementares são as várias formas em que os requisitos genéricos se manifestam, por isso também chamadas de requisitos específicos.
Circunstâncias são determinados dados agregados à figura típica fundamental. Em regra, têm a função de aumentar ou diminuir as consequências jurídicas do crime, ou seja, aumentar ou diminuir a pena. 
Qual a diferença entre elementar e circunstância? É preciso estabelecer qual a consequência da sua “retirada” do contexto do fato. Se excluído do contexto, subsistir(existir, ser, persistir, perdurar, permenecer no interior subsitem ainda velhos costumes. Viver, sobreviver, manter-se.) um comportamento lícito, trata-se de elementar. Se excluído do contexto, influir na pena, mas subsistindo o crime, trata-se de circunstância. Circunstância vem de “circum stare”, que significa estar ao redor. A falta de uma circunstância, portanto, não faz com que desapareça o crime. Já a ausência de uma elementar pode produzir dois efeitos:
atipicidade absoluta: ocorre quando, excluída a elementar, o sujeito não responde por infração alguma;
atipicidade relativa: ocorre quando, excluída a elementar, não subsiste o crime do qual se cuida, havendo a desclassificação para outro delito.
Exemplo: No crime de infanticídio, o elemento temporal durante ou logo após o parto é elementar ou circunstância? É elementar, pois a sua exclusão gera a desclassificação para o crime de homicídio (gera, neste caso, atipicidade relativa).
CRIME E ILÍCITO CIVIL
Não há diferença ontológica entre ilícito penal e ilícito civil. A diferença é legal e extrínseca, ou seja, somente em face da natureza da sanção é que podemos determinar se nos encontramos diante de um ou outro, pois o crime é sancionado com a pena e o ilícito civil gera sanções civis (em regra, a reparação do dano). O legislador, no momento da produção da norma, a depender da gravidade de um fato, estabelece se ele será ilícito penal ou civil, ou ambos.
CRIME E ILÍCITO ADMINISTRATIVO
Aqui cabem as mesmas considerações feitas no item anterior. Não há diferença ontológica entre ilícito penal e administrativo. A diferença reside na gravidade da violação ao ordenamento jurídico. Essa diferença fica evidente quando analisamos a espécie de sanção: se for pena, trata-se de crime.
SUJEITO ATIVO DO CRIME
Sujeito ativo é quem pratica a conduta descrita na norma penal incriminadora. É a pessoa física que, tendo 18 anos ou mais na data do fato, pratica a conduta delitiva ou participa no crime. 
A lei usa de algumas terminologias para se referir ao sujeito ativo. Genericamente, pode ser usada a expressão “agente”. No inquérito policial é chamado de “suspeito”, “investigado” ou “indiciado”. Oferecida a denúncia, é chamado de “denunciado”. Recebida a denúncia e iniciado o processo, é chamado de “réu”, “acusado” ou “processado”. Se já sofreu sentença, condenatória ou absolutória, é “sentenciado”. Se transitada em julgado a sentença penal absolutória, é “absolvido”. Se transitada em julgado a sentença penal condenatória, é “condenado”. Se capturado ou entregando-se para cumprir pena, é “preso”, “recluso”, “detento” ou “reeducando”.
Sob o ponto de vista sociológico, é “criminoso” ou “delinquente”.
Pessoa na faixa etária entre 12 e menor de 18 anos (segundo o art. 2º do ECA – Lei 8.069/90, é o adolescente), se realizar conduta descrita como crime, terá praticado ato infracional e responde pela conduta, podendo ser submetido às chamadas medida sócio-educativas. Já o menor de 12 anos que realizar conduta descrita como crime, somentepode receber medidas de proteção (art. 105 do ECA). 
 
	Idade
	Consequências pela prática de conduta descrita como infração penal
	Menor de 12 anos = criança
	Medidas de proteção (art. 105, ECA)
	12 anos completos e menor de 18 = adolescente
	Medidas sócio-educativas (art. 112, ECA)
	18 anos completos = maior
	Legislação Penal (CP e leis penais especiais)
responsabilidade Penal das Pessoas Jurídicas
Há algumas teorias que tentam explicar esse assunto. Duas prevalecem: 
Teoria da ficção (Savigny): a pessoa jurídica não tem consciência e vontade própria. É uma ficção legal. Assim, não tem capacidade penal e não pode cometer crime, sendo responsáveis os seus dirigentes.
Teoria da realidade ou organicista (Gierke): vê na pessoa jurídica um ser real, um verdadeiro organismo, tendo vontade própria. Assim, pode ela delinquir.
Com a Constituição Federal de 1988, inovou-se no sentido de reconhecer a responsabilidade penal da pessoa jurídica, em duas hipóteses:
O art. 173, § 5º, prevê a possibilidade de responsabilização penal da pessoa jurídica nos crimes contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular (tal dispositivo, de eficácia limitada, ainda não foi objeto de norma infraconstitucional);
O art. 225, § 3º, prevê a possibilidade de responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes contra o meio ambiente. O dispositivo foi objeto de regulamentação, pela chamada Lei dos Crimes Ambientais – Lei 9.605/98:
Art. 3º, Lei 9.605/98 – As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.
Impende ressaltar que, conquanto boa parte da doutrina penal pátria não aceite a responsabilidade penal da pessoa jurídica, o STF e o STJ – há um bom tempo – admitem que a pessoa jurídica responda por crimes ambientais, desde que preenchidos dois requisitos (cumulativos) previstos no art. 3º da Lei 9.605/98:
A infração penal deve ter sido cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado;
A infração penal seja cometida no interesse ou benefício da pessoa jurídica.
Discussão ainda não pacificada diz respeito à possibilidade da pessoa jurídica figurar como RÉ na ação penal, sem que com ela responda também ao processo pelo menos uma pessoa física. 
No STJ prevalece a tese de que deve, junto com a pessoa jurídica, responda ao menos uma pessoa física, responsável pela conduta, adotando-se a teoria da dupla imputação (RHC 24.239, j. 10.06.2010). No STF existe posicionamento no sentido de que a pessoa jurídica pode figurar como RÉ, mesmo sem a presença de pessoa física na pólo passivo da ação penal. 
SUJEITO PASSIVO DO CRIME
Sujeito passivo é o titular do interesse, cuja ofensa constitui a essência do crime. Por isso, é preciso indagar qual o interesse tutelado pela lei penal incriminadora.
Espécies de sujeito passivo:
Sujeito passivo geral, constante ou formal: é o titular do mandamento proibitivo não observado pelo sujeito ativo – é o Estado.
Sujeito passivo eventual, particular, acidental ou material: é aquele que sofre a lesão do bem jurídico, do qual é titular – pode ser o homem, o Estado, a pessoa jurídica ou a coletividade.
Crimes vagos: são os crimes em que os sujeitos passivos são coletividades destituídas de personalidade jurídica, como a família, o público ou a sociedade.
Sujeito Passivo e Prejudicado pelo Crime
Geralmente, confundem-se na mesma pessoa, mas não necessariamente, como no crime de moeda falsa em que o sujeito passivo é o Estado e o prejudicado é a pessoa a quem se entregou a moeda.
Prejudicado é, pois, qualquer pessoa a quem o crime haja causado um prejuízo, patrimonial ou não, tendo por consequência direito ao ressarcimento, enquanto sujeito passivo é o titular do interesse jurídico violado, que também tem esse direito (salvo exceções). 
Incapaz, Pessoa Jurídica, Morto, Feto, Animais e Coisas Inanimadas
Todo homem vivo pode ser sujeito passivo de crime.
Dessa forma, é inegável que o incapaz, titular de direitos, possa ser sujeito passivo de delito, tais como no infanticídio (recém-nascido), homicídio (demente), abandono intelectual (menor em idade escolar) etc. 
Quanto à pessoa jurídica, esta pode ser sujeito passivo do delito, desde que a descrição típica não pressuponha uma pessoa física. Assim, pode ser vítima de furto, dano, difamação etc. Dúvida surge quanto à possibilidade da pessoa jurídica ser sujeito passivo dos crimes contra a honra. Como não possui honra subjetiva, não pode ser vítima de injúria, podendo ser sujeito passivo da difamação por possuir honra objetiva (reputação, boa fama etc.). Quanto ao crime de calúnia, entende-se que a pessoa jurídica em regra não pode ser vítima (porque não pode cometer crimes em geral), salvo quando lhe imputarem falsamente a prática de um crime ambiental (Lei 9.605/98).
O morto não pode ser sujeito passivo de delito, pois não é titular de direito, podendo ser objeto material do delito. O artigo 138, § 2º, do Código Penal, dispõe ser punível a calúnia contra os mortos, pois a ofensa à memória dos mortos reflete nas pessoas de seus parentes, que são os sujeitos passivos desse crime. O homem pode ser sujeito passivo mesmo antes de nascer, pois o feto tem direito à vida (arts. 124, 125 e 126, do Código Penal, que tipificam várias formas de aborto).
Os animais e coisas inanimadas não podem ser sujeitos passivos de delito, podendo ser objetos materiais (exemplo: crime de maus tratos a animais, art. 32 da Lei 9.605/98). Neste caso, os sujeitos passivos serão seus proprietários, e em certos casos a coletividade.
A PESSOA PODE SER, AO MESMO TEMPO, SUJEITO ATIVO E PASSIVO DO DELITO EM FACE DE SUA PRÓPRIA CONDUTA?
Resposta: Não. O homem não pode cometer crime contra si mesmo. 
A contravenção do artigo 62 da Lei das Contravenções Penais (embriaguez) dispõe: “Apresentar-se publicamente em estado de embriaguez, de modo que cause escândalo ou ponha em perigo a segurança própria ou alheia”. Esse dispositivo é exceção à regra? Não, essa regra não tem exceção. No caso da contravenção de embriaguez, o sujeito passivo é o Estado, pois ela se encontra no capítulo das infrações “relativas à Polícia de Costumes”.
Aplica-se, aqui, dentre outros, o princípio da alteridade, segundo o qual a conduta humana só deve ser tida como criminosa quando violar direitos ou interesses de terceiros. Por essa razão, tentativa de suicídio é fato atípico, pois o que o art. 122 do CP criminaliza é a conduta do terceiro que auxilia (moral ou materialmente) a pessoa a se suicidar (ex: induzindo-a ou emprestando a arma para o suicídio).
As condutas ofensivas contra a própria pessoa, quando definidas como crimes, ofendem interesses jurídicos de outros. Assim, no crime de autolesão para fins de receber seguro (art. 171, § 2º, V, CP), sujeito passivo é a seguradora lesada.
Aspecto interessante oferece o crime de rixa (art. 137, CP), em que os rixosos são, a um tempo, sujeitos passivos e ativos. Não se trata de exceção à regra, pois ele é sujeito ativo em relação a sua própria conduta e sujeito passivo em relação à conduta dos outros.
No auto-aborto (art. 124, CP), a gestante é o sujeito ativo; o feto, o passivo. Ela não é sujeito passivo porque, como visto, não se pune a autolesão.
OBJETO DO CRIME
É aquilo contra o que se dirige ou recai a conduta humana.
Pode ser:
Objeto jurídico: é o bem ou interesse tutelado pela norma penal;
Objeto material: é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta do sujeito ativo.
Às vezes, o sujeito passivo coincide com o objeto material, como ocorre no homicídio.
A ausência ou a impropriedade absoluta do objeto material faz surgir a figura do crime impossível ou quase-crime (art. 17, CP).
Pode haver crime sem objeto?Pode haver crime sem objeto material, como no caso do falso testemunho. Mas não há crime sem objeto jurídico, pois o crime sempre tutela um interesse socialmente relevante (como a vida, a integridade física, a liberdade, a honra, o patrimônio etc.) 
TÍTULO DO DELITO (nomen juris)
É a denominação jurídica do crime, ou seja, o “nome” do delito.
Pode ser:
Genérico: quando a incriminação se refere a um gênero de fatos. Exemplo: crimes contra a vida.
Específico: é o nomen juris da espécie delitiva, ou seja, é o “nome” específico do crime. Exemplo: homicídio, auxílio em suicídio, infanticídio, aborto etc.
CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES
A doutrina apresenta uma infinidade de classificações. Sem a intenção de exaurir o tema, é possível afirmar que, das várias classificações, destacam-se: 
Crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa (exemplo: homicídio, furto, estelionato etc.);
Crime próprio: exige qualidade pessoal para o sujeito ativo (exemplo: infanticídio);
Crime de mão-própria: só pode ser cometido pelo sujeito em pessoa (exemplo: crime de falso testemunho, incesto e prevaricação), não admitindo coautoria, apenas participação;
Crime funcional: é aquele cometido pelo funcionário público. Poder ser próprio (a condição de funcionário público é essencial, pois sem ela o fato é atípico – ex: prevaricação, art. 319, CP) ou impróprio (a ausência da condição de funcionário gera apenas a desclassificação para outro delito – ex: peculato, art. 312, CP); 
Crime de dano: só se consuma com a efetiva lesão do bem jurídico (exemplo: homicídio);
Crime de perigo: se consuma com a mera possibilidade de dano (exemplo: perigo de contágio venéreo, rixa, incêndio etc.); o perigo pode ser abstrato� (ou presumido, pois a lei presume o perigo – ex: tráfico de drogas) ou concreto (exige-se a demonstração, no caso concreto, do perigo – ex: crime de incêndio, art. 250, CP), individual (atinge apenas uma ou algumas pessoas determinadas – ex: crime de perigo de contágio venéreo – art. 130, CP) ou comum (atinge uma gama indeterminada de pessoas – ex: crime de epidemia, art. 267, CP);
Crime material: o tipo menciona conduta e resultado naturalístico, cuja ocorrência é necessária para sua consumação (exemplo: homicídio, infanticídio, furto etc.);
Crime formal (ou de consumação antecipada): o tipo menciona conduta e resultado naturalístico, cuja ocorrência não é necessária para sua consumação (exemplo: calúnia, rapto, extorsão mediante sequestro etc.);
Crime de mera conduta�: o tipo só menciona a conduta (exemplo: violação de domicílio, desobediência etc.);
Crime de tendência interna transcendente: é uma espécie de delito formal que, segundo Francisco de Assis Toledo, pode ser de resultado cortado (o resultado naturalístico depende de comportamento de terceiros alheios à execução do crime – ex: extorsão mediante sequestro, em que terceiro paga o resgate) ou atrofiado de dois atos (o resultado naturalístico depende de novo comportamento do agente – ex: falsificação de moedas e posterior uso da notas falsas);
Crime instantâneo: se consuma num dado momento (exemplo: homicídio);
Crime permanente: a consumação, por vontade do agente, se prolonga no tempo (exemplo: sequestro);
Crime instantâneo de efeitos permanentes: as consequências se prolongam no tempo, independentemente da vontade do agente (exemplo: homicídio);
Crime a prazo: aquele em que a consumação depende de um determinado lapso de tempo (exemplo: artigo 148, § 1.º, inciso III);
Crime comissivo: praticado mediante ação (exemplo: lesão corporal). Nestes crimes, a norma penal é proibitiva (proíbe a prática da conduta descrita);
Crime omissivo: praticado mediante omissão (exemplo: omissão de socorro – art. 135, CP). Nestes crimes, a norma penal é preceptiva ou mandamental (ao invés de exigir a abstenção da conduta, exige que se faça algo).
Crime omissivo próprio ou puro: a omissão é descrita no próprio tipo legal (exemplo: omissão de socorro); essa modalidade não admite a tentativa;
Crime omissivo impróprio (ou comissivo por omissão): é aquele no qual o tipo descreve uma ação, mas a inércia do agente que tem o dever jurídico de evitar o resultado, permite a ocorrência do resultado naturalístico (exemplo: salva-vidas que assiste inerte o afogamento de uma criança); essa modalidade admite a tentativa;
Crime de conduta mista: é um crime que reúne as duas espécies de comportamento (ação e omissão). O próprio tipo penal traz os dois comportamentos (uma ação seguida de uma omissão). Ex: art. 169, parágrafo único, II, CP (apropriação indébita de coisa achada);
Crime unissubjetivo: que pode ser praticado por uma só pessoa (ex: homicídio);
Crime plurissubjetivo: o tipo exige a presença de dois ou mais agentes. Pode ser conduta paralela (com o mesmo objetivo – ex: quadrilha, art. 288), divergente (ações dirigidas umas contra as outras – ex: rixa, art. 137) e convergentes (ações que se encontram para o mesmo fim – ex: bigamia, art. 235);
Crime simples: é o que se enquadra num único tipo legal (exemplo: homicídio);
Crime complexo: pode ser em sentido estrito (ou complexo puro), que é a fusão de dois ou mais crimes (ex: latrocínio, extorsão mediante sequestro) ou em sentido amplo (ou complexo impuro), que é a fusão de um crime com circunstâncias não tipificadas (ex: crime de constrangimento ilegal – art. 146, que é a fusão do crime de ameaça com outras circunstâncias não definidas em lei). 
Crime monoofensivo: atinge apenas um bem jurídico (exemplo: homicídio);
Crime pluriofensivo: atinge mais de um bem jurídico (exemplo: latrocínio, que lesa a vida e o patrimônio);
Crime de forma livre: admite vários meios de execução (exemplo: homicídio, lesão corporal, furto etc.);
Crime de forma vinculada: o tipo especifica os meios pelos quais o crime pode ser praticado (exemplo: curandeirismo, artigo 284);
Crime principal: tem existência autônoma (exemplo: estupro);
Crime acessório: pressupõe a existência de outro crime (exemplo: receptação, favorecimento pessoal etc.);
Crime unissubsistente: a conduta exterioriza-se com um só ato executório, consumando-se: (exemplo: crimes cometidos verbalmente, tais como injúria, desacato, etc);
Crime plurissubsistente: a conduta exterioriza-se em dois ou mais atos executórios (exemplo: crimes cometidos por escrito, como a injúria e outros, como o homicídio, lesão corporal etc.);
Crime habitual: é aquele que depende da prática de várias e reiteradas condutas� para configurar a infração penal (ex: curandeirismo – art. 284, CP);
Crime consumado: ocorre quando se reúnem todos os elementos da figura típica (art. 14, I, CP);
Crime tentado: ocorre quando, iniciado a execução, esta não se consuma por circunstâncias alheias á vontade do agente (art. 14, II, CP);
Crime exaurido: ocorre quando, após a consumação, ocorrem outras consequências mais lesivas ao bem jurídico (ex: recebimento da vantagem na extorsão mediante sequestro, crime que se consuma com a mero cerceamento da liberdade da vítima);
Crime de ação única: o tipo prevê apenas uma forma de conduta, ou seja, um só verbo (ex: “matar” alguém – art. 121);
Crime de ação múltipla (ou de condutas variadas): o tipo prevê várias formas de conduta (vários verbos). Podem ser de ação múltipla alternativa (a prática de várias verbos, no mesmo contexto fático, configura crime único – ex: tráfico ilícito de drogas – art. 33 da Lei 11.343/06 – e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido – art. 14 da Lei 10.826/03) ou cumulativa (se o agente pratica mais de um verbo previsto no tipo terá cometido mais de um delito – ex: abandono material, art. 244 do CP). 
Crime independente: não está ligado a nenhum outro;
Crime conexo: está interligado com outra infração. A conexão pode ser: a) teleológica: quando praticado para assegurar a execução de outro crime; b) conseqüencial: praticado para assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime; c) ocasional: praticado em virtude da oportunidade surgida pela prática de outro crime;
Crime a distância (ou crime de espaço máximo): conduta e resultadoocorrem em países diferentes (vide art. 6º do CP);
Crime plurilocal (ou crime de espaço mínimo): conduta e resultado ocorrem em comarcas diferentes, dentro do mesmo país (vide art. 70 do Código de Processo Penal);
Crime em trânsito: quando parte da conduta ocorre num país, sem lesar ou pôr em perigo bem jurídico de seus cidadãos (exemplo: carta de um argentino, na qual ofende um japonês, passa pelo correio brasileiro, antes de ser enviada ao Japão);
Crime político: é aquele que causa, ou visa causar, dano à segurança do Estado e às suas instituições (vide Lei de Segurança Nacional – Lei 7.170/83). Pode ser próprio (tutela apenas os interesses do Estado) ou impróprio (além de tutelar os interesses do Estado, protege também bens jurídicos individuais);
Crime militar: é aquele que ofende algum interesse das corporações militares. Pode ser próprio (previsto apenas no Código Penal Militar - ex: deserção) ou impróprio (a mesma figura típica é prevista no CPM e no CP ou outra lei penal especial - ex: furto). 
FATO TÍPICO
	Crime (conceito analítico tripartido)
	Fato típico
	Ilícito (ou antijurídico)
	Culpável
	Conduta
Resultado
Nexo causal
Tipicidade (formal e material)
	Conceito por exclusão: é ilícita a conduta que não se enquadra em causa excludente da ilicitude (art. 23, CP)
	Imputabilidade
Potencial consciência da ilicitude
Exigibilidade de conduta diversa
Para a integração do fato típico concorre, primeiramente, uma conduta (ação ou omissão), uma vez que, consistindo na violação de um preceito legal, supõe um comportamento humano.
A ação humana, porém, não é suficiente para compor o primeiro requisito do crime. É necessario um resultado, que é o efeito do comportamento (nos crimes materiais).
Todavia, entre a conduta e o resultado se exige uma relação de causalidade. A desfere facadas em B que, transportado para um hospital, vem a falecer. Surge, desta maneira, outro elemento do fato típico: a relação de causalidade ou nexo causal.
Por último, para que um fato seja típico, é necessário que os elementos acima expostos estejam descritos como crime. A mata B com tiros de revólver. Há a conduta (desfechar tiros), o resultado (morte), e o nexo causal entre eles (a vítima faleceu em consequência dos ferimentos produzidos pelos tiros). Esses elementos estão descritos pela lei como crime de homicídio (CP, art. 121). Assim, o fato penalmente relevante é o correspondente a um dos modelos abstratos definidos pelas normas incriminadoras. Aparece, assim, o último elemento do fato típico, que é a tipicidade, ou seja, a adequação da conduta real na definição legal do crime.
São, portanto, componentes do fato típico:
a conduta (dolosa ou culposa);
o resultado (nos crimes materiais);
o nexo de causalidade entre a conduta e o resultado (nos crimes materiais);
a tipicidade (formal e material).
Faltando um dos elementos do fato típico a conduta passa a constituir um indiferente penal. É um fato atípico. Ex.: relação sexual validamente consentida, entre pessoas maiores e capazes, é fato atípico, pois o Código Penal exige o dissenso (a recusa) da vítima para que ocorra o crime de estupro (art. 213, CP). Assim, sem esse enquadramento do fato concreto a uma norma penal, não se vislumbra a tipicidade.
Conduta: 1º ELEMENTO DO FATO TÍPICO
	Crime (conceito tripartido)
	Fato típico
	Ilícito (ou antijurídico)
	Culpável
	Conduta
Resultado
Nexo causal
Tipicidade (formal e material)
	Conceito por exclusão: é ilícita a conduta que não se enquadra em causa excludente da ilicitude (art. 23, CP)
	Imputabilidade
Potencial consciência da ilicitude
Exigibilidade de conduta diversa
Conduta é toda ação ou omissão humana, consciente e voluntária, voltada a uma finalidade. O mero pensamento, sem ação, é irrelevante para o Direito Penal, ou seja, uma pessoa não pode ser punida somente por pensar em praticar um crime (cogitationis poenam nemo patitur). Se alguém, por exemplo, pensa em matar outrem, somente será punido se exteriorizar seu pensamento praticando a ação ou a omissão delitiva.
A ação é um comportamento positivo, é um fazer. A omissão é uma abstenção de movimento, é um não fazer. A conduta é, portanto, a exteriorização de um pensamento, por meio de uma ação ou uma omissão.
A conduta não se confunde com o ato, sendo este momento daquela. Pode existir conduta que se compõe de um único ato (crimes unissubsistentes). Mas também pode existir conduta composta de diversos atos (crimes plurissubsistentes). O ato é a parcela da conduta.
Somente a pessoa física pode praticar fato típico, visto que este pressupõe vontade e somente os seres humanos possuem vontade. Quanto à pessoa jurídica, embora haja divergência na doutrina, a jurisprudência (notadamente do STF e do STJ) sustenta que poderá praticar o fato típico por meio da pessoa física qua a representa. Lembre-se que em relação aos crimes ambientais há expressa previsão na Lei 9.605/98 (arts. 3º e 21 a 24), acerca da responsabilidade penal da pessoa jurídica por tais crimes.
Hipóteses de inexistência de conduta
Se a vontade constitui elemento da conduta, é evidente que esta não ocorre quando o ato é involuntário.
De acordo com Jolivet, o ato voluntário:
Deve ser espontâneo, isto é, proceder de uma tendência própria e interior à vontade; se não, é coagido e forçado;
O fim deve ser conhecido como tal; se não, o ato não é voluntário, mas natural ou instintivo, pois procede de um princípio interior cego, como é o caso da atividade vegetativa ou animal.
O caso fortuito e a força maior, por decorrerem de eventos imprevisíveis e inevitáveis, não imputáveis ao suposto agente, se constituem em situações que eliminam a vontade, inexistindo a conduta e, por consequência, o fato típico. Embora exista uma grande diversidade de posicionamentos acerca do conceito desses institutos, prevalece da doutrina o entendimento segundo o qual caso fortuito é o evento imprevisível decorrente de ato humano, sendo a força maior o evento inevitável decorrente da natureza. Embora tenha havido, na passado, divergência sobre a natureza jurídico-penal do caso fortuito e da força maior (alguns autores entendiam que se tratavam de excludentes da culpabilidade), hoje é pacífico que excluem a própria conduta, uma vez que são acontecimentos que fogem do domínio da vontade humana e, se não há vontade, não há dolo nem culpa. Como dolo e culpa integram a conduta, esta não se configura juridicamente sob o ponto de vista jurídico. Grispigni ensinava que a verificação do caso fortuito e da força maior significa, sem possibilidade de dúvida, que um resultado não pode juridicamente ser relacionado com uma conduta humana que dele seja suposta causa, pois no tocante a essa conduta o evento se apresenta imprevisível. Nesse sentido, a lição de Damásio E. de Jesus: “Entendemos que o casus não exclui o nexo de causalidade. É errada a afirmação de que o caso fortuito e a força maior rompem a relação causal. Esta existe ou não existe, sendo impossível ser extinta depois de sua ocorrência. Se estou dirigindo um veículo quando há rotura da barra-de-direção, havendo atropelamento e morte de um terceiro, existiu o nexo causal: se eu não estivesse dirigindo não ocorreria a morte da vítima. A solução, segundo nossa posição, é a seguinte: o dolo e a culpa, de acordo com o finalismo, constituem elementos do tipo, integrando a conduta: esta só é típica quando dolosa ou culposa. Ora, no casus não há dolo nem culpa. Logo, não havendo conduta dolosa ou culposa, não há conduta típica. Em consequência, quando interferem a força maior e o caso fortuito, não há crime por ausência de conduta dolosa ou culposa (primeiro elemento do fato típico)”.
Também não ocorre conduta tipicamente relevante no ato-reflexo, que é uma reação automática de ação ou de inibição que ocorre imediatamente após a excitação de um nervo sensitivo. Assim, se alguém, por causa de um reflexo rotuliano, danificar um objeto, não cometerá crime de dano, pois não há o primeiro elemento do fato típico (conduta). É que, neste caso, o movimento corporal nãose realiza sob o influxo anímico (não há vontade).
Quanto à coação irresistível, é preciso distinguir. Se se trata de coação física (vis absoluta), em que o sujeito pratica o movimento em consequência de força corporal exercida sobre ele, não há conduta (ex.: forçar fisicamente alguém a assinar um documento falso. Nesse caso, o autor do falso é o coator). Se se cuida, porém, de coação moral (vis compulsiva), a conduta existe, mas não há culpabilidade (ex.: forçar alguém a assinar um documento falso mediante grave ameaça). Neste último caso, existe a conduta, sendo pois uma ação juridicamente relevante, mas não há de se falar em culpabilidade, aplicando-se a regra do art. 22, 1ª parte, CP (coação moral irresistível, que é causa de exclusão da culpabilidade). Em tal situação, existe vontade (embora viciada), sendo esta suficiente para constituir a ação, mas não para gerar juízo de reprovação sobre o agente, pois não há culpabilidade em sua conduta (não lhe era exigível agir de modo diverso)�.
Como exemplos clássicos, citados pela doutrina, de ausência de conduta, podem ser lembrados ainda os casos de movimentos praticados durante o sonho ou sonambulismo, sob sugestão ou hipnose e em estado de inconsciência�.
ATENÇÃO! O mesmo não ocorre com os “atos instintivos”, formas de reação espontânea motivada por uma necessidade interna. Como ensina Maggiore, o ato instintivo se distingue do reflexo, pois este é puramente fisiológico e se dirige a um só órgão. O instintivo, pelo contrário, pode ser acompanhado de um elemento psíquico, como o sentimento, requerendo a participação de vários órgãos. Inclui também os “atos automáticos”, resultantes de prolongada repetição dos mesmos movimentos. Nestes casos (atos instintivos ou automáticos) o ato pode ser controlado pela atenção, o que basta para que seja considerado conduta tipicamente relevante. Mezger, estudando o assunto, diz que é preciso distinguir o ato reflexo do atuar impulsivo, que tem sua origem num processo anímico. São as "ações em curto-circuito", que se realizam sem colaboração e iludindo a personalidade, total ou parcialmente. Havendo um querer, ainda que primitivo, participando do processo genético do movimento corpóreo, não se exclui de antemão a conduta.
Para lembrar:
Não haverá conduta sem vontade;
o caso fortuito ou força maior eliminam a vontade, inexistindo a conduta e, por consequência, o fato típico; 
os atos-reflexos (causados por excitação de um nervo sensitivo) não caracterizam a conduta, pois não há vontade; 
a conduta praticada mediante coação física (vis absoluta) elimina a vontade; no entanto, a conduta praticada mediante coação moral (vis compulsiva), ainda que seja irresistível, não exclui a vontade, apesar de neste caso não haver culpabilidade;
também não há conduta nos casos de movimentos praticados durante o sonho ou sonambulismo, sob sugestão ou hipnose e em estado de inconsciência;
nos atos instintivos e nos atos automáticos (“ações em curto-circuito”) não se pode falar em ausência de conduta, pois nesses casos há, ainda que diminuído, processo anímico gerador da vontade.
Teorias da conduta
	Vários são as teorias que procuraram definir, sob o ponto de vista jurídico-penal, o conceito de conduta. Dentre elas, destacam-se:
a) Teoria clássica, naturalista, mecanicista ou causal (Von Liszt e Beling)
Conceitua a conduta como um comportamento humano voluntário no mundo exterior, consistente num fazer ou não fazer, sendo estranha a qualquer valoração sobre a finalidade da conduta.
Remonta ao início do século passado.
Beling, grande expoente da teoria, dizia: ação é um comportamento corporal (fase objetiva da ação), produzido pelo domínio sobre o corpo (liberdade de energia muscular, fase subjetiva da ação), isto é, comportamento corporal voluntário consistente num fazer (ação positiva), ou seja, um movimento corporal, como levantar a mão etc., ou num não fazer (omissão), isto é, distensão dos músculos (a expressão "ação" é aqui empregada como sinônimo de "conduta").
Franz von Liszt ensinava que se deveria partir da noção simples do ato, abstraindo-se sua significação jurídica.
Nesta teoria a conduta é concebida como um simples comportamento, sem apreciação sobre a sua ilicitude ou reprovabilidade. É denominada naturalista ou naturalística porque incorpora as leis da natureza no Direito Penal. Nos termos dessa teoria, a conduta é um puro fator de causalidade. Daí também chamar-se causal. Para ela a conduta é o efeito da vontade e a causa do resultado. Tudo gira em torno do nexo de causalidade: vontade, conduta e resultado. A vontade é causa do comportamento e este, por sua vez, é causa do resultado. Tudo isso se analisa sob o prisma naturalístico, de acordo com as leis da natureza, sem qualquer apreciação normativa ou finalística.
Entre nós, a teoria mecanicista era adotada por José Frederico Marques�, que afirmava: ação ou omissão se situam no plano naturalístico do comportamento humano, isto é, no mundo exterior por serem um "trecho da realidade" que o Direito submete, ulteriormente, a juízo de valor, no campo normativo. Em outra passagem, assinalava: A ação em sentido lato é "acromática", como o diz Jiménez de Asúa, por isso que é focalizada sem qualquer conteúdo finalístico ou normativo. Não se examina, assim, se a conduta do agente, no plano da tipicidade, está ligada intencionalmente ao resultado, tampouco a sua causa finalis em qualquer dos aspectos que possa oferecer.
Manifestação externa da vontade, a conduta humana era vista como um acontecer que tem por impulso causal um processo interno – pouco importando qual seja o conteúdo ou o alcance da vontade que gerou a conduta. Era também a posição de Aníbal Bruno, que sustentava "um conceito puro da ação, isento de todo juízo de valor, de toda referência a elemento próprio de qualquer dos outros componentes conceituais do crime"; a ação tomada como pura realização da vontade no mundo exterior.
A teoria foi objeto de muitas críticas, a partir da década de 30 do século passado.
Para Hans Welzel, seu principal crítico, no moderno Direito Penal o centro de interesse não é o efeito jurídico produzido pelo resultado, mas sim a natureza do comportamento reprovável e a finalidade do agente. Diante disso, cai por terra a teoria naturalista da ação, uma vez que se importa somente com o aspecto causal da questão, encontrando enormes dificuldades para mal explicar o delito omissivo. Se, de acordo com os princípios mecanicistas, do nada, nada pode ser produzido, não se compreende como a omissão possa sofrer a incidência da relação de causalidade. Como diz Maurach, a conduta omissiva não pode gerar nenhuma causalidade.
Além disso, a teoria naturalista se fundamenta nas leis das ciências naturais. Ora, o Direito Penal existe para reger e proibir condutas no meio social – é, portanto, uma ciência social, não uma ciência natural. Diante disso, os seus postulados não devem sofrer a incidência reitora exclusivamente dos princípios das ciências naturais (notadamente o método empírico). Como o delito é um fenômeno jurídico e social, as normas que o regem devem ter por fundamentos princípios jurídicos e sociológicos, baseados nos postulados das ciência sociais, que tem como objeto de estudo a convivência social.
É errôneo distinguir a conduta em duas partes, como fez a teoria causal: processo causal exterior e conteúdo subjetivo da vontade. A conduta era vista como o efeito da vontade, sem considerar o conteúdo da vontade, ou seja, a finalidade do comportamento. Enquanto a ação pertence ao fato típico, abarcando apenas a vontade (simples voluntariedade), o conteúdo da vontade pertence à culpabilidade. Era a opinião de José Frederico Marques: "A voluntariedade da conduta ativa não se confunde com a projeção da vontade sobre o resultado. O querer intencional de produzir o resultado é matéria pertinente à culpabilidade, e não à ação. Não se confunde, assim, a voluntariedade da ação com o juízo sobre a culpabilidade do fato punível e ilícito. No primeiro caso, verifica-se a existência da vontadecomo suporte psíquico do ato; na segunda hipótese, formula-se um juízo de vontade".
Como já afirmado, essa doutrina recebeu severa crítica de Welzel, que afirmava: o conteúdo da vontade, que antecipa mentalmente as consequências possíveis de uma conduta e que dirige, de acordo com o plano do autor, o suceder externo, foi convertido pelos naturalistas em simples reflexo causal externo da vontade do sujeito.
Além disso, a teoria mecanicista peca na doutrina da tentativa. Ela afirma que o conteúdo da vontade não pertence à conduta (ação), sendo que esta é apenas causa do resultado. Ora, para que se diga que existe tentativa de determinado crime é preciso dizer que houve uma conduta tendente à produção de certo resultado (que o sujeito desejou produzir certo evento), não alcançado por circunstâncias alheias à sua vontade. Então, na conduta da tentativa existe o conteúdo da vontade. E, se a conduta é a produtora do resultado, como afirmar-se isso na tentativa, que não tem resultado? Como diz Welzel, como se poderia definir a tentativa de homicídio, a não ser como uma ação com a qual o autor quer matar a um homem? Se o conteúdo da vontade (finalidade) é parte integrante e necessária para definir a tentativa, também deve ser assim quando o resultado é produzido.
Por esses motivos, embora tenha representando um grande avanço no seu tempo (início do século passado), a teoria causal da conduta mostrou-se falha.
Para lembrar:
Essa teoria sustentada por Franz Von Liszt, sob influência da filosofia positivista dominante em fins do século XIX e início do século XX;
Suas idéias pretendiam incorporar as leis da natureza no Direito Penal (daí o nome naturalista). Para essa teoria, a ação é considerada um puro fator de causalidade (daí o nome causal), uma simples produção do resultado, mediante o emprego de forças físicas. A conduta é simples exteriorização de movimento ou abstenção de comportamento, desprovida de qualquer finalidade, sendo desnecessário para caracterização do crime saber se houve dolo ou culpa, sendo necessário somente indagar quem foi o causador material;
Exemplo: um sujeito conduz seu veículo com prudência na via pública e, sem que possa prever, um suicida se joga na frente do veículo e, atingido por este, vem a falecer. Para a teoria naturalista, o motorista, que não quis matar nem agiu com culpa, cometeu homicídio, ficando a análise do dolo e da culpa para um momento posterior, quando da aferição da culpabilidade. Hans Welzel criticou essa teoria, pois para ele não se pode considerar apenas o aspecto material do delito, devendo-se também atentar-se para a natureza do comportamento reprovável;
Para Welzel, a teoria naturalista só se preocupa com o aspecto causal, o que gera dificuldades para explicar o delito omissivo (uma vez que o delito de omissão não pode originar nenhuma causalidade). A teoria causal também não conseguiu explicar a doutrina da tentativa. 
b) Teoria finalista ou finalismo penal (Hans Welzel)
A teoria finalista da ação, que tem em Welzel o seu criador e precursor, com fundamento nas ideias filosóficas de Honigswald e Nikolai Hartmann, constituiu-se na reação lógica contra os errôneos postulados da teoria causal da ação, produzindo efeitos na estrutura do tipo, da ilicitude e da culpabilidade. Efeitos até hoje verificados no Direito Penal.
A doutrina penal, mesmo antes de Welzel, havia percebido que a adoção da teoria causal da ação levava à perplexidade. Diante dela, não havia diferença entre a ação de uma lesão dolosa e de uma lesão culposa, uma vez que o resultado nos dois crimes é idêntico (ofensa à integridade corporal ou à saúde da vítima). O desvalor do resultado não constitui elemento diversificador. A diferença está na ação: é o desvalor da ação que faz com que um homicídio doloso seja apenado mais severamente do que um homicídio culposo, embora o resultado morte seja elementar dos dois delitos.
Assim, a doutrina notou que os crimes não se diferenciam somente pelo desvalor do resultado, mas – principalmente – pelo desvalor do comportamento típico. Com base nesses pensamentos iniciais, Welzel, socorrendo-se de ideias filosóficas, criou a teoria finalista da ação.
De acordo com Hartmann, a ação está constituída pela direção do "suceder real", pelo desejado pelo agente, por interposição de componentes determinantes. A ação é uma atividade finalística humana. Partindo disso, Welzel afirma que a ação humana é o exercício da atividade finalista. É, portanto, um acontecimento finalista e não somente causal. A atividade finalista da ação se baseia em que o homem, consciente dos efeitos causais do acontecimento, pode prever as consequências de sua conduta, propondo, dessa forma, objetivos de distinta índole. Conhecendo a teoria da causa e efeito, tem condições de dirigir sua atividade no sentido de produzir determinados efeitos. A causalidade, pelo contrário, não se encontra ordenada dessa maneira. A causalidade é cega, enquanto a finalidade é vidente.
No homicídio, por exemplo, há uma série de condutas humanas tendentes à produção do resultado morte da vítima: compra da arma, escolha do local, emboscada, pontaria e disparo. Por isso, a vontade finalista pertence à conduta, quer dizer, aquilo que os mecanicistas chamam de conteúdo da vontade, que corresponde à vontade tendente à produção de determinado fim, pertence a conduta, primeiro elemento do fato típico (e não à culpabilidade, como sustentavam os causalistas).
A vontade abrange:
o objetivo que o agente pretende alcançar;
os meios empregados; e
as consequências secundárias.
A vontade finalista da ação se estende a esses elementos, ou sejam, aos resultados propostos pela vontade. Em relação ao não-proposto pela vontade, rege o princípio causal. A enfermeira, ensina Welzel, que sem pensar em nada aplica uma dose de morfina demasiado forte, de efeito mortal, realiza uma injeção finalista de cura, mas não uma ação finalista de homicídio. O sujeito que, na penumbra, atira num homem, supondo tratar-se de um tronco de árvore, realiza um tiro finalista de exercício, mas não uma conduta finalista de homicídio. Nos dois casos, o agente deve responder por homicídio culposo, pois não há a vontade finalista de matar (no primeiro caso há ação finalista da injeção para cura e, no segundo, exercício de tiro).
A doutrina finalista da ação não se preocupa apenas com o conteúdo da vontade, o dolo, que consiste na vontade de concretizar as características objetivas do tipo penal, mas também com a culpa. O Direito não deseja apenas que o homem não realize condutas dolosas, mas, também, que imprima em todas as suas atividades uma direção finalista capaz de impedir que produzam resultados lesivos. As ações que, produzindo um resultado, são devidas à inobservância do mínimo de direção finalista no sentido de impedir a produção de tal consequência, ingressam no rol dos delitos culposos.
Em determinado momento da evolução dogmática do Direito Penal, a doutrina entendia que o tipo só continha elementos exclusivamente objetivos. Essa ideia vingou até que foram descobertos os chamados elementos normativos e subjetivos do tipo. Aqui é importante fazer um parêntese: entre o causalismo e o finalismo houve o desenvolvimento da chamada teoria neoclássica (ou neokantista), tendo Frank e Mezger como seus grandes expoente, e que embora estivesse sedimentada em bases causalistas trouxe duas relevantes inovações que merecem elevada consideração: a) o neokantismo passou a admitir os chamados elementos normativos e subjetivos do tipo (recuperando a teoria dos valores de Kant); e b) inseriu a exigibilidade da conduta diversa como terceiro elemento da culpabilidade. Pois bem. Partindo desse ponto, Welzel entendeu que o dolo e a culpa pertenciam à ação e ao tipo. Se nos tipos com elementos subjetivos o dolo pertencia à conduta, por que nos outros crimes pertenceria à culpabilidade? Diante disso, a doutrina finalista passou a incluir o dolo e culpa na ação (conduta) e, por consequência, no tipo penal.
O seguinte exemplo é bastante ilustrativo do que sustentaa teoria finalista: se alguém vê um homem, empregando uma arma de fogo, atirar em outro, matando-o, pela simples apreciação objetiva não pode dizer qual o tipo penal realizado: pode tratar-se de homicídio doloso, se quis a morte ou assumiu o risco de produzi-la; pode tratar-se de erro de tipo invencível, se pelas circunstâncias foi levado a crer que era o vulto um animal bravio; pode ser um homicídio culposo; ou um erro de fato provocado por terceiro; ou contravenção de disparo de arma de fogo. Como diz Maurach, só depois de saber – e isso mediante um exame das circunstâncias do caso concreto, a revelarem a intenção do agente – que quis matar a vítima, será possível afirmar que houve um tipo de homicídio doloso. Assim, somente após a análise da finalidade do agente é que se pode afirmar que houve determinado tipo penal. Em face disso, a vontade final, isto é, o dolo, faz parte do tipo, funcionando como elemento subjetivo do tipo.
Em consequência, o dolo é retirado da culpabilidade, não constituindo espécie (teoria psicológica) ou elemento da culpabilidade (teoria psicológico-normativa), mas elemento subjetivo do tipo, integrando a conduta, primeiro elemento do fato típico.
Como observa a doutrina, por estar a finalidade (dolo) na ação, a teoria causal (que pregava estar o dolo na culpabilidade) resta fulminada.
Da mesma forma a culpa. Conforme o magistério de Welzel, a inobservância do cuidado objetivo pertenece(permanece) ao tipo dos delitos culposos. Assim, no crime culposo, a conduta descrita no tipo (ex: "se o homicídio é culposo") está integrada pela inobservância do dever de diligência na vida social. Quem pode realizar uma conduta adequadamente, com cautela e prudência, deve assim executá-la. Aquele que não pode realizar a conduta de forma cuidadosa, deve abster-se de realizar o comportamento. O comportamento do agente deve ser comparado com aquele que era adequado e esperado do homo medius (homem de prudência normal), para verificar-se se ele é típico no sentido de um crime culposo: toda ação que não corresponder ao comportamento adequado uma tipicamente culposa.
Para lembrar:
O conceito finalista da ação, que começou a ser elaborado no final da década de 20 por Hans Welzel, constitui uma reação à teoria causal;
Contestando a teoria causal, Welzel e outros doutrinadores do seu tempo questionavam: por que o homicídio culposo tem pena inferior à do homicídio doloso? Acreditava-se não ser possível que tal diferenciação dependesse do resultado, que é sempre o mesmo: a morte. Concluíram, então, que a diferença de tratamento legal não depende da causa do resultado, mas sim da forma como foi praticada a ação;
Nessa linha de pensamento, pode-se imaginar a seguinte hipótese: um homem, vestido de roupa branca, toca fisicamente o órgão genital de uma moça despida. Observando esse acontecimento, objetivamente, é possível saber se o homem praticou uma conduta delitiva? Não, pois, conforme sua vontade, pode ter praticado um exame médico ou uma ação criminosa punível. Nesse caso, observando somente o resultado, é impossível saber se houve crime ou mero exame clínico, sendo imprescindível descobrir qual era a vontade do agente;
Esta foi a conclusão a que chegou o finalismo: a finalidade é elemento inseparável da conduta, ou seja, não existe conduta típica sem vontade e finalidade. Para a teoria finalista, a vontade gera a conduta;
Nosso ordenamento legal filiou-se à teoria finalista. O Código Penal, em seu artigo 18, reconhece que o crime deve ser doloso ou culposo. No caso, portanto, de o sujeito vir a matar alguém, sem dolo ou culpa, como no exemplo do motorista que atropela o suicida, citado anteriormente, embora tenha se produzido o resultado morte, não se pode falar em crime;
Segundo a doutrina, embora o finalismo ainda seja a base do Direito Penal brasileiro, ele passou a sofrer influência de teorias penais contemporâneas, como a teoria do funcionalismo penal, a teoria da imputação objetiva e concepções penais que vislumbram nos princípios constitucionais o alicerce para toda a nova dogmática penal (tais teorias serão abordadas em outros tópicos); 
Observe-se que o finalismo retirou o dolo e a culpa da culpabilidade, inserindo-os no fato típico (conduta dolosa ou culposa). Assim, sem dolo e culpa não há fato típico. O finalismo realizou uma “reengenharia” na estrutura analítica do crime, na qual manteve os seus elementos do crime (fato típico, ilícito e culpável), mas deslocando o dolo e a culpa da culpabilidade para o fato típico (especificamente para o primeiro elemento do fato típico, a conduta). 
c) Teoria social
Essa teoria compreendeu – assim como o finalismo – que um conceito tão importante, como o da ação, produtor de relevantes efeitos na estrutura do delito, não podia atender exclusivamente a princípios fundamentados nas leis da natureza. Diante disso, reconheceu a necessidade de situar o problema numa relação valorativa com o mundo social. O conceito de ação, tratando-se de um comportamento praticado no meio social, deve ser valorado por padrões sociais. Assim, ação é a realização de um resultado socialmente relevante, questionado pelos requisitos do Direito e não pelas leis da natureza.
Diante disso, nota-se que para a teoria social a ação é, antes de tudo, a causação de um resultado (embora adjetivado este de “socialmente relevante”). O conteúdo da vontade, em que se perquire qual a finalidade visada pelo agente, assim como na teoria causal, não pertence à ação, mas à culpabilidade.
A teoria social da ação é criticável.
Em primeiro lugar, ela não deixa de ser causal, merecendo os mesmos reparos que feitos à teoria mecanicista: não resolve satisfatoriamente o problema da tentativa e do crime omissivo. Por outro lado, se ação é a causação de um resultado socialmente relevante, como se define a ação nos crimes de mera conduta (em que não há resultado)?
Como se vê, essa teoria, como a teoria causal, dá muita importância ao desvalor do resultado, esquecendo-se do desvalor da conduta. Se a ação é a causação de um resultado socialmente relevante, então não há diferença entre uma conduta de homicídio doloso e um comportamento de homicídio culposo, uma vez que o resultado é idêntico nos dois casos. A diferença será feita, não na ação ou no fato típico, mas no terreno da culpabilidade. Por esses motivos, dentre outros, é que essa teoria foi repudiada pela doutrina penal, não obstante sustentada por importantes juristas pátrios e estrangeiros, como Hans-Heinrich Jescheck.
Para lembrar:
Para essa teoria, somente haverá crime se a conduta do agente for socialmente inadequada. o Direito Penal só deve cuidar daquelas condutas voluntárias que produzam resultados típicos de relevância social;
Critica-se essa teoria pelo imenso subjetivismo que poderia gerar, com riscos graves à segurança jurídica, em face da extensão muito ampla do conceito de “relevância social”. Ao julgador não é dado legislar, mas somente aplicar as leis postas. O critério para eleger determinada conduta como socialmente relevante ou irrelevante, de acordo com a nocividade social do comportamento, deve ficar a cargo do legislador, detentor de mandato popular, e não do juiz, que deve julgar com base nas regras jurídicas vigentes e aprovadas pelo parlamento;
Como se nota, a teoria social da ação pretendeu ir além da teoria finalista, mas, na verdade, ao privilegiar o resultado (“socialmente relevante”), perdeu em conteúdo e caracterizou um retorno à teoria naturalista, hoje tão criticada. Preferível, portanto, a orientação finalista, que, aliás, foi a adotada pelo Código Penal brasileiro na reforma de sua parte geral, ocorrida em 1984. 
SÍNTESE DAS TEORIAS DA CONDUTA
	Teoria clássica
	Teoria finalista
	Teoria social
	Conduta é a exteriorização de um movimento ou abstenção de comportamento, desprovida de finalidade
	Conduta é uma ação ou omissão humana, providade de finalidade
	Conduta é a ação ou omissão humana socialmente relevante
	Dolo e culpa estão na culpabilidade
	Dolo e culpa estão na conduta
	Dolo e culpaestão na culpabilidade
Conduta comissiva
A ação é a que se manifesta por intermédio de um movimento corpóreo tendente a uma finalidade. A maioria dos núcleos dos tipos se consubstancia em modos positivos de agir, como matar, apropriar-se, destruir, danificar etc. Quando o crime é cometido por essa forma positiva de agir diz-se que foi praticado mediante comissão. Quando, não obstante o verbo indicar um modo positivo, o crime pode ser praticado mediante omissão, fala-se em crime comissivo por omissão (ex: a mãe mata o filho pequeno mediante privação de alimentos).
Alguns autores sustentam que a comissão não é somente movimento corpóreo, mas também a inércia, a atividade. Seria uma forma estática de prática de crimes comissivos, que não se identificaria com a omissão. Dão como exemplo a invasão de domicílio, na modalidade de permanecer. A maior parte da doutrina, porém, entende a comissão como um movimento corpóreo, um movimento muscular. Assim, diz Grispigni que a ação em sentido estrito se concretiza em uma fazer, um movimento corpóreo externo. Para a maioria da doutrina, portanto, no exemplo da invasão de domicílio, há um crime omissivo.
Nos crimes comissivos, a norma é proibitiva, ordenando (implicitamente) que não se pratique a conduta descrita no tipo penal. 
Conduta omissiva
Existem duas teorias a respeito da omissão:
Teoria naturalística da omissão: a omissão é um fazer, é perceptível no mundo natural como algo que muda o estado das coisas, ou seja, quem se omite dá causa ao resultado sob o ponto de vista naturalístico. Era adotada pelos causalistas e, hoje, tem apenas importância histórica, pois acabou refutada totalmente pela teoria normativa da omissão, vista em seguida; 
Teoria normativa da omissão: quem se omite não faz nada e o nada não causa coisa alguma, não tem relevância causal. Excepcionalmente, porém, embora não tendo produzido o resultado, o omitente responderá por ele quando a lei lhe impuser o dever jurídico de agir. Por isso é chamada teoria normativa, pois, para que a omissão tenha relevância causal (por presunção ou ficção legal), há necessidade de uma norma impondo, na hipótese concreta, o dever jurídico de agir. É a teoria adotada pelo finalismo. 
Espécies de crimes omissivos
Existem duas espécies de crimes omissivos:
Crime omissivo próprio ou puro: a conduta negativa é descrita no preceito primário da lei penal. Nesse caso, o omitente responderá por sua própria conduta e não pelo resultado (exemplo: art. 135 do Código Penal – omissão de socorro). Nesses crimes, a simples omissão é suficiente para a consumação, independente de qualquer resultado (por isso são também chamados de crimes de simples desobediência); 
Crime omissivo impróprio, espúrio, impuro, promíscuo ou comissivo por omissão: o agente tem o dever jurídico de agir para evitar o resultado e, podendo, não age. Assim, o agente não faz o que deveria ter feito. Há, portanto, a norma dizendo o que ele deveria fazer, passando a omissão a ter relevância causal. Como consequência, o omitente não responde só pela omissão como simples conduta, mas pelo resultado produzido, salvo se esse resultado não lhe puder ser atribuído por dolo ou culpa.
ATENÇÃO! Saliente-se que os crimes omissivos impróprios admitem a tentativa, ao passo que os omissivos próprios não. Outra distinção importante: os omissivos impróprios podem ser dolosos ou culposos; os omissivos próprios são, na legislação pátria, dolosos (mas, como observa Flávio Monteiro de Barros, nada impede que se crie crime omissivo próprio culposo, o que, aliás, acabou acontecendo, numa rara exceção, com o crime de omissão de cautela na guarda de arma de fogo, previsto no art. 13 do Estatuto do Desarmamento – Lei 10.826/03 – que se trata de delito omissivo próprio culposo).
Para lembrar:
Nos tipos comissivos, o delito resta configurado quando o agente violar a norma proibitiva (obrigação legal de não fazer);
Nos crimes omissivos, a norma é preceptiva (ou mandamental), ordenando que se pratique a conduta. Assim, para configurar um crime omissivo o agente deve violar a norma mandamental, deixando de fazer o que a norma determina (obrigação legal de fazer);
Pode ocorrer que os delitos comissivos sejam praticados mediante omissão, o que ocorre nas hipóteses em que o agente pode e deve agir (dever jurídico especial) para impedir o resultado e se omite (são os crimes comissivos por omissão).
Hipóteses legais em que há dever de agir para evitar o resultado
Nos termos do art. 13, § 2º, do CP, são três as hipóteses de dever jurídico de agir:
Dever legal: quando a lei impõe a obrigação de cuidado, proteção ou vigilância (exemplo: responderá por estupro o policial militar que assistir uma jovem sendo estuprada e, podendo evitar o resultado, nada faz);
Dever do garantidor: hipótese do agente que, por lei, não tem nenhuma obrigação de cuidado, proteção ou vigilância, no entanto assume essa obrigação por meio de um contrato (exemplo: uma babá contratada para tomar conta de uma criança responderá pelo resultado caso aconteça algo com ela). O garantidor também pode advir da liberalidade, ou seja, alguém que assume livremente a obrigação, independentemente de contrato;
Ingerência: agente que, com seu comportamento anterior, criou o risco para a produção do resultado (exemplo: se alguém empurra uma pessoa na piscina, por brincadeira ou acidentalmente, deve socorrê-lo e impedir o resultado).
Resultado: 2º elemento do fato típico
	Crime (conceito tripartido)
	Fato típico
	Ilícito (ou antijurídico)
	Culpável
	Conduta
Resultado
Nexo causal
Tipicidade (formal e material)
	Conceito por exclusão: é ilícita a conduta que não se enquadra em causa excludente da ilicitude (art. 23, CP)
	Imputabilidade
Potencial consciência da ilicitude
Exigibilidade de conduta diversa
Para grande parte da doutrina, não há diferença entre resultado e evento. Entretanto, há quem entenda que evento é qualquer acontecimento (exemplo: um raio que provoca um incêndio) e resultado é a consequência de uma conduta humana juridicamente relevante.
Há duas espécies de resultado: resultado jurídico e resultado naturalístico.
Resultado jurídico (ou normativo): é a consequência jurídica do crime, ou seja, é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido. Sob o aspecto jurídico, não há crime sem resultado, pois todo crime fere ou expõe a perigo um bem jurídico.
Resultado naturalístico: é a modificação que a conduta provoca no mundo natural, no mundo concreto (exemplo: antes do furto, a vítima tinha posse do bem; depois, houve mudança no mundo concreto, pois não tem mais a posse do bem). Nem todos os crimes possuem resultado naturalístico. Como visto no tópico sobre a classificação dos crimes, de acordo com a existência ou não do resultado naturalístico, é possível classificar os crimes em três espécies:
Crimes materiais: são crimes que somente se consumam com a produção do resultado naturalístico, ou seja, o resultado naturalístico integra o próprio tipo penal (exemplos: homicídio, furto, sequestro etc.);
Crimes formais: são crimes em que a ocorrência do resultado naturalístico, apesar de admitida, não é relevante, pois se consumam antes e independentemente de sua produção. Por isso são também chamados de crimes de consumação antecipada. O crime formal aloja um tipo incongruente, pois, conforme dito, admite resultado naturalístico, mas não o exige para sua consumação (daí a incongruência). Nesses crimes, a produção do resultado naturalístico é considerada mero exaurimento, o que influenciará a fixação da pena (art. 59, CP). (ex: extorsão mediante sequestro – nesse crime, o resultado naturalístico visado é a obtenção da vantagem econômica e consequente diminuição do patrimônio da vítima; no entanto, o crime se consuma no momento em que a vítima é sequestrada, independentemente do recebimento ou não do resgate; o eventual recebimento do resgate pode levar ao aumento da pena);
Crimes de mera conduta: o tipo não prevê a ocorrência de resultado naturalístico (ex: crime de desobediência, violaçãode domicílio etc.).
HÁ CRIME SEM RESULTADO?
 
Enquanto para a teoria naturalística o resultado é uma entidade natural, distinta do comportamento do sujeito, para a concepção normativa é o mesmo fato, mas considerado sob o prisma da proteção jurídica. Daí a seguinte consequência: de acordo com os naturalistas há crime sem resultado; para os normativistas, porém, o resultado é elemento do delito. Compreende-se. Para os primeiros, a quem o resultado não se confunde com a ofensa ao interesse tutelado pela norma, há delitos em que o comportamento do sujeito não produz uma modificação no mundo externo, como os de mera conduta, em que o tipo só faz referência ao comportamento, não descrevendo qualquer efeito da ação. Assim, todo crime produz lesão ou perigo de lesão de um bem jurídico, mas há alguns que não possuem resultado.
Para os segundos, é evidente que não há crime sem resultado, pois o consideram sempre existente. Para a teoria do resultado jurídico, todo crime produz um dano (real, efetivo), ou um perigo de dano (relevante possibilidade de dano, dano potencial), isto é, cria uma alteração do mundo externo que afeta a existência ou a segurança do bem ou interesse que a lei protege com a ultima ratio da sanção penal.
Para os partidários da teoria do resultado jurídico, todo crime possui resultado, mesmo os de mera conduta, havendo nestes uma coincidência temporal e espacial entre a ação e o evento. Têm em consideração o art. 13 do CP, que fala: “O resultado, de que depende a existência do crime, …”. Assim, pelo art. 13 do CP, parece que não há crime sem resultado, pelo menos sob o prisma jurídico. A anterior Exposição de Motivos, interpretando o antigo art. 15, afirmava que, com o vocábulo ‘”resultado”, a disposição “designa o efeito da ação ou omissão criminosa, isto é, o dano efetivo ou potencial, a lesão ou perigo de lesão de um bem ou interesse penalmente tutelado. O projeto acolhe o conceito de que não há crime sem resultado. Não existe crime sem que ocorra pelo menos um perigo de dano; e sendo o perigo um ‘trecho da realidade’ (um estado de fato que contém as condições de superveniência de um efeito lesivo), não pode deixar de ser considerado, objetivamente, como resultado, pouco importando que, em tal caso, o resultado coincida ou se confunda, cronologicamente, com a ação ou omissão" (n. 13). Daí afirmar Nélson Hungria "que não existe crime sem resultado. A toda ação ou omissão penalmente relevante corresponde um eventus damni ou um eventus periculi, embora, às vezes, não seja perceptível pelos sentidos".
Não obstante isso, parece não constituir nenhum obstáculo ao entendimento da existência de crimes sem resultado naturalístico o que se contém no art. 13 do CP e a razão é simples: dependendo da teoria adotada pode ou não haver crime sem resultado. As teorias, na verdade, não se chocam, mas, antes, se completam, porque analisam o “resultado” sob dois ângulos diversos: um naturalístico e o outro normativo.
Para lembrar:
Muito embora no art. 13, caput, do CP, conste que para a existência de um crime é necessário um resultado, predomina na doutrina que se trata do resultado naturalístico;
Entretanto, como visto, nem todo crime possui resultado naturalístico (como os crimes de mera conduta). Assim, para a doutrina majoritária, é preciso interpretar o aludido art. 13 de modo restritivo, a fim de considerar que apenas os crimes materiais necessitam de resultado para sua existência;
Por outro lado, parcela minoritária da doutrina (Luiz Flávio Gomes e Rogério Greco, por exemplo), entende que se deve interpretar o art. 13 do CP no sentido de que o resultado referido se trata do resultado normativo, não sendo necessário uma interpretação restritiva, tendo em vista que todo crime possui resultado no sentido jurídico (lesão efetiva ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado).
 
Nexo Causal: 3º elemento do fato típico
	Crime (conceito tripartido)
	Fato típico
	Ilícito (ou antijurídico)
	Culpável
	Conduta
Resultado
Nexo causal
Tipicidade (formal e material)
	Conceito por exclusão: é ilícita a conduta que não se enquadra em causa excludente da ilicitude (art. 23, CP)
	Imputabilidade
Potencial consciência da ilicitude
Exigibilidade de conduta diversa
Nexo causal é o elo que se estabelece entre a conduta e o resultado naturalístico. O nexo causal é uma relação ditada pelas leis da física, da causa e efeito. Dizer que existe nexo causal é dizer que, por meio das leis da física, a conduta provocou o resultado.
Somente há nexo causal nos crimes materiais e comissivos (praticados por meio de ação).
Das várias teorias existentes sobre o tema, o CP adotou, no art. 13, a teoria da equivalência dos antecedentes causais (ou teoria da conditio sine qua non).
Teoria da equivalência dos antecedentes causais (ou “conditio sine qua non”)
Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
O Código Penal adotou a teoria da equivalência dos antecedentes, também conhecida como teoria da conditio sine qua non. Para essa teoria, concebida por Glaser, Von Buri e Stuart Mill, tudo que tenha contribuído, de qualquer modo, para o resultado considera-se sua causa (art. 13, caput, do Código Penal). A lei atribui relevância causal a todos os antecedentes do resultado, considerando que nenhum elemento de que depende a sua produção pode ser excluído da linha de desdobramento causal. Tudo que retirado da cadeia de causa e efeito provocar a exclusão do resultado considera-se sua causa. 
Para se estabelecer se a conduta foi causa do resultado, basta aplicar o critério da eliminação hipotética, de professor sueco Thyrén, que consiste em eliminar mentalmente uma conduta da cadeia causal: se a eliminação da conduta fizer com que desapareça o resultado é porque a conduta causou o resultado. É causa, portanto. Se, por outro lado, “apagando” a conduta o resultado ainda permanecer, significa que não foi causa.
Questão do regressus ad infinitum
Pergunta-se: Diante da teoria da equivalência dos antecedentes, não poderia haver uma responsabilização muito ampla, na medida em que são alcançados todos os fatos anteriores ao crime? Os pais não poderiam responder pelos crimes praticados pelo filho? Afinal, sem os pais, não existiria o filho nem o delito por ele praticado. Nessa linha de raciocínio, não se chegaria a um regressus ad infinitum?
Resposta: Não. A teoria da equivalência dos antecedentes situa-se no plano exclusivamente físico, resultante da aplicação da lei natural de causa e efeito. Assim, é claro que o pai e a mãe, do ponto de vista naturalístico, deram causa ao crime cometido pelo filho, pois se este não existisse, não teria realizado o delito. Não podem, entretanto, ser responsabilizados por essa conduta, ante a total ausência de vontade delitiva, ou seja, se não agiram com dolo ou com culpa não existiu ação ou omissão típica.
Conclui-se, então, que para o Direito Penal é insuficiente o nexo causal meramente natural, sendo imprescindível para a existência do fato típico a presença do dolo ou da culpa (necessários para a tipicidade), ao que a doutrina chama de nexo causal “subjetivo” ou “psíquico”.
Nesse sentido, a lição de Rogério Sanches Cunha: “Mesmo sendo causa, a responsabilidade penal do agente depende do dolo ou culpa em relação à provocação do resultado – a tal limitação deu-se o nome de filtro de causalidade psíquica” (Código Penal – doutrina e jurisprudência, Salvador, Editora Jus Podivm, 5ª ed., 2012, p. 33). 
Vejamos o seguinte exemplo: o fabricante de uma faca de cozinha utilizada para matar alguém, pela teoria da equivalência dos antecedentes causais deu causa ao resultado, uma vez que eliminando-se mentalmente a fabricação e posterior venda daquela faca, a vítima não teria morrido como morreu (há, portanto, nexo causal físico ou natural). Entretanto, apesar do nexo causal físico, o fabricante não responderá pelo resultado, uma vez que agiu sem dolo ou culpa na

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