Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
2014 Frederico Luiz de Oliveira Santos Bruno Felipe de Araújo Teixeira Universidade Veiga de Almeida 27/10/2014 Desenvolvimento Bionergético Brasileiro A Bioenergia no Brasil O Brasil possui uma extensão territorial de 851 milhões de hectares e uma grande incidência de raios solares, logo apresenta um imenso potencial para a produção de bioenergia. A área agricultável brasileira é superior a 300 milhões de hectares, dos quais apenas 70 milhões de hectares são explorados atualmente. A área de plantação de cana de açúcar, a partir do qual se produz o etanol e que representa praticamente a totalidade do insumo utilizada na geração de bioeletricidade no Brasil, representa apenas 10% da área agricultável explorada atualmente. Neste sentido, torna-se claro o quanto a produção de bioenergia no Brasil pode se expandir sem a necessidade de derrubar uma árvore sequer. Por fim, cabe mencionar que os avanços tecnológicos têm gerado ganhos de produtividade que permitem incrementos na produção sem a necessidade de se aumentar a área cultivada. Porém, existe uma grande assimetria no desenvolvimento dos biocombustíveis e da bioeletricidade que será discutida a seguir. Biocombustível no Brasil: um exemplo para o mundo O programa de utilização de etanol combustível na frota de veículos leves brasileira é um caso clássico de resposta pró-ativa de um problema de grandes dimensões, explorando as potencialidades nacionais, e que colocou o país em uma situação privilegiada. As Crises do Petróleo da década de 70 resultaram em uma necessidade de redução imediata do consumo de petróleo devido às restrições impostas pelas contas externas e os efeitos nocivos que a escalada de preços dos combustíveis fósseis poderia ter sobre a economia brasileira. As medidas adotadas pelo governo brasileiro, em sua maioria, foram iguais às tomadas por outros países: elevação do preço interno da gasolina, política de promoção das exportações para atração de divisas, aproximação com os países produtores de petróleo e aumento da produção nacional de petróleo. Porém, tais medidas eram reativas e não resolviam o problema estrutural da dependência externa. Além disso, algumas políticas como aumento do preço da gasolina tinham caráter recessivo. A medida que atacou o problema em sua estrutura, alterou de forma definitiva a matriz energética brasileira no setor de transportes e colocou o Brasil em uma posição de vanguarda foi a criação do Pró-Álcool. Além do objetivo basilar de redução da dependência do petróleo, o programa também tinha objetivos sócio-econômicos como a geração de renda interna e redução das disparidades regionais de renda. O programa foi implementado em duas etapas: a partir de 1975 passou a se adicionar 20% de etanol na gasolina comercializada enquanto que a partir de 1979 passou a se comercializar veículos movidos a etanol. Os resultados do Pró-álcool no âmbito energético e de contas externas foi um sucesso. Em meados da década de 80, quase a totalidade de veículos novos comercializados no Brasil era movida a etanol. No período compreendido entre 1976 e 2005, foram consumidos 275 bilhões de litros de álcool, equivalentes a 1,51 bilhões de barris de petróleo. Este consumo de álcool permitiu a economia de US$ 69,1 bilhões em importações evitadas. Embora os resultados do Pró-Álcool na década de 80 tenha sido um sucesso, o início da década de 90 marca o colapso do programa devido ao aumento do preço do açúcar, a queda do preço do barril do petróleo e a saída do Estado do programa. Após a produção de álcool se manter estagnada ao longo da década de 90, o início da década 00 marca um novo ciclo expansivo do consumo de etanol devido ao aumento do percentual de etanol anidro misturado à gasolina e a introdução de veículos flex-fuel no mercado. O consumo de etanol no Brasil configura o mercado de combustíveis para veículos leves de forma absolutamente distinta dos demais países do mundo. No início de 2008, o consumo de etanol passou a ser superior ao consumo de gasolina pela primeira vez após o colapso do Pró-Álcool, no fim da década de 80. Esta participação é extremamente significativa comparada às metas da União Européia de adição de 5,75% de biocombustíveis aos combustíveis fósseis até 2010 e de 10% em 2020. Mesmo quando comparada aos EUA, maiores consumidores de etanol, a matriz brasileira é ímpar porque a participação relativa dos biocombustíveis na matriz de combustíveis norte americana ainda é diminuta. Apesar de ser típica a associação no caso brasileiro de biocombustível com etanol, é importante frisar que nos últimos anos tem sido desenvolvido um programa de estímulo à produção de biodiesel com a determinação de percentuais de biodiesel a ser adicionado ao óleo diesel de forma progressiva nos próximos anos. Este programa é muito importante porque o óleo diesel tem grande participação no consumo energético do setor de transportes, e é bastante poluente. Além disso, as condições naturais brasileiras são extremamente propícias à produção de biodiesel. O Governo brasileiro tem incentivado o desenvolvimento do biodiesel como estratégia de inclusão social através da agricultura familiar, através da utilização do selo social, movimentando a pequena economia e desenvolvendo as biotecnologias. O biodiesel oferece uma oportunidade para a integração entre indústria, agricultura familiar e combate à pobreza. Tudo isso ao lado da conquista de novo padrão energético: sustentável, ambientalmente responsável e economicamente dinâmico. O Brasil já possuiu a patente de fabricação do biodiesel a partir de pesquisas, estudos e testes realizados na Universidade Federal do Ceará na década de 70 (ANP, 2007). A utilização do biodiesel aumenta a participação das fontes limpas e renováveis na matriz energética brasileira. Com o auxílio da biotecnologia o Brasil será capaz de liderar a produção e o desenvolvimento de bicombustíveis a partir da utilização das espécies vegetais mais adaptadas a indústria a exemplo da agricultura nacional tem a mamona, o dendê, o girassol, a palma, a soja, o amendoim, etc. Bioeletricidade no Brasil: o hiato entre potência efetiva e potencial de geração. Embora a bioeletricidade possa ser produzida a partir de diferentes tipos de resíduos, a produção brasileira de bioeletricidade utiliza essencialmente como insumo o bagaço da cana de açúcar devido à imensa escala de produção do setor sucroalcooleiro brasileiro e sua característica tradicional de auto-suprimento energético. Desta forma, a análise da bioeletricidade brasileira estará restrita à bioeletricidade canavieira no presente trabalho porque às demais fontes de geração possuem importância secundária. As usinas sucroalcooleiras são auto-suficientes em 98% de suas necessidades energéticas, utilizando como combustível o bagaço da cana de açúcar. No entanto, a opção histórica do setor foi por tecnologias de baixa eficiência porque o objetivo primordial era maximizar a queima do bagaço devido à dificuldade de armazenamento e a pouca relevância do mercado de bagaço in natura. Neste sentido, existe um imenso potencial de produção de excedentes de eletricidade a serem exportados para rede com a adoção de tecnologias de produção mais eficientes. A potência instalada para a geração de bioeletricidade no setor sucroalcooleira no início de 2008 era de aproximadamente 3.900 MW, dos quais 3.000 MW para auto-suprimento e apenas 900 MW exportados. Isto em uma conjuntura onde a tecnologia de extra- condensação capaz de gerar 80 KWh de energia elétrica excedentea ser comercializada está disponível e o setor sucroalcooleiro passa por um ciclo expansivo sustentável. Por sua vez, o progressivo fim das queimada irá disponibilizar uma quantidade adicional de biomassa a ser utilizada como combustível oriundo da palha. Neste sentido, torna-se nítido o quanto a potência instalada atual está aquém da potencial geração de bioeletricidade. A utilização de 75% do bagaço disponível e 50% da palha disponível na safra 2012/13, na qual estima-se uma produção de cana de 696 milhões de toneladas, permite projetar uma potência instalada para exportação de 19.284 MW em um horizonte de cinco anos, equivalendo a uma energia assegurada de 9.642 MWmed a ser inserida na rede, o que equivale à energia firme ofertada pela usina de Itaipu. Além das vantagens inerentes a uma fonte de energia renovável gerada de forma eficiente, a inserção da bioeletricidade sucroalcooleira no sistema hidrelétrico brasileiro possui a importante função de mitigar o risco hidrológico porque o período de safra, entre maio e novembro, é coincidente com o período seco na região Sudeste, onde se encontra localizados os maiores reservatórios brasileiros. Existe um grande hiato entre a geração de bioeletricidade atual e o potencial de geração existente. Tal hiato é injustificável diante à série de benefícios proporcionados pela inserção da bioeletricidade no sistema elétrico brasileiro. No ano de 2006, a geração de eletricidade a partir da biomassa representou 3,3% da geração de eletricidade brasileira, valor incompatível com as potencialidades brasileiras. Conclusão: A maior participação de bioenergia na matriz energética mundial é essencial para equacionar o conflito entre segurança do suprimento e mitigação do aquecimento global. Os biocombustíveis são a utilização mais importante da bioenergia devido a não haverem alternativas viáveis para o setor de transporte atualmente a nível mundial. Entretanto, o potencial de geração de bioeletricidade não pode ser menosprezado. O consumo de biocombustíveis no Brasil apresenta grande escala e está consolidado enquanto que, a geração de eletricidade a partir da biomassa encontra-se muito aquém do seu potencial. A adoção de uma política de subsídios, incentivos fiscais e principalmente a adoção de um preço prêmio que remunere de forma justa a eletricidade da biomassa são meios eficazes de inserção da bioeletricidade na matriz elétrica. Referências Bibliográficas: CASTRO, Nivalde José de; DANTAS, Guilherme de A. A Bioeletricidade Sucroalcooleira e o Hiato entre Oferta Potencial e Oferta Efetiva. IFE n. 2.213, Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 2008. DANTAS, Guilherme de A.; Bioenergia no Brasil e na Europa: uma análise comparativa. Disponível em: http://www.nuca.ie.ufrj.br/gesel/artigos/0810XX_CastroDantas_ BioenergiaBrasilEuropa.pdf , acessado em 25/10/2014. TOSCANO, Emanoela M.; COSTA, Aurilene de Souza; AMORIM, Andréa; SILVA, Giselle Medeiros da Costa. Biodiesel: uma utilização da biotecnologia a favor do desenvolvimento sócio-econômico e ambiental no Brasil. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/18295/1/ BID-13.pdf , acessado em 26/10/2014.
Compartilhar