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GRUPO DE ESTUDOS SOBRE FRATURA DE MATERIAIS DEMET/EM/UFOP DESCONTINUIDADES ESTRUTURA DE MATERIAIS Cristais perfeitos Resistência coesiva teórica e real Tipos de descontinuidades Descontinuidades eletrônicas Descontinuidades pontuais Descontinuidades lineares Descontinuidades superficiais Descontinuidades volumétricas DESCONTINUIDADES (DEFEITOS) Tipos de descontinuidades cristalinas. DESCONTINUIDADES SUPERFICIAIS Descontinuidades bidimensionais ou planares Contornos de grãos Contornos de subgrãos Contornos de maclas Falhas de empilhamento Interfaces entre fases Superfícies externas Contornos de antifase Fronteiras de domínios Superfície Externa A superfície externa (superfície livre) dos monocristais e dos policristais é a descontinuidade cristalina que causa maior distúrbio na estrutura e portanto apresenta maior energia por unidade de área. Esta energia por unidade de área pode ser entendida como uma tensão superficial ou interfacial entre as fases sólido e vapor (no caso a atmosfera). Esta energia está associada com as ligações rompidas ou insatisfeitas na superfície, ou seja, os átomos do cristal localizados na superfície têm número de coordenação que é aproximadamente a metade do número de coordenação no interior do cristal. Embora seu valor absoluto seja alto, sua importância relativa é pequena, pois a quantidade de superfície por unidade de volume nos componentes é praticamente desprezível. Em algumas áreas, tais como metalurgia do pó e processamento de materiais cerâmicos, a quantidade de superfície por unidade de volume é alta e a energia de superfície desempenha um papel importante. A tabela abaixo apresenta valores de energia de superfície para alguns materiais, próximo ao seu ponto de fusão. De uma maneira geral, quanto maior for o ponto de fusão do material, maior será sua energia de superfície. Modelo de ligações quebradas para a energia superficial. Variação da energia superficial com θ. Modelo de ligações quebradas: a superfície consiste numa estrutura de degraus, onde cada camada é um plano densamente empacotado. Um plano cristalino com um ângulo θ em relação aos planos densos terá ligações quebradas em excesso, devido aos átomos dos degraus. Se ε representa a resistência da ligação entre dois átomos, então atribui-se uma perda de energia ε/2 para cada ligação quebrada. Assim, a energia superficial (por comprimento no plano da figura e comprimento paralelo aos degraus) será dada pela seguinte expressão: E = (cosθ + senθ) ε/2a2 Contornos de Grãos A grande maioria dos materiais cristalinos utilizados em engenharia é policristalina. O agregado policristalino consiste de pequenos cristais, denominados grãos, com dimensões de poucas dezenas de micrômetros, arranjados de maneira a preencher todo o espaço (sem deixar vazios). Contornos de grãos são as fronteiras bidimensionais que separam cristais de diferentes orientações em um agregado policristalino. A região do contorno tem uma espessura de aproximadamente duas a três distâncias interatômicas e é bastante defeituosa. Pode-se dizer que os átomos do contorno apresentam um número de coordenação menor do que os átomos no interior dos grãos. Esquema de um contorno de grãos. Espessura de 2 a 3 distâncias interatômicas. Representação esquemática de um contorno de grão. Fonte: E.Rizzo, ABM, 2007. Orientação relativa dos grãos e do contorno, formando (a) um contorno de inclinação e (b) um contorno de torção. A natureza de um contorno de grão depende da desorientação entre os dois grãos adjacentes e da orientação do plano do contorno em relação aos grãos. As células unitárias dos dois grãos podem se tornar coincidentes pela rotação de um ângulo adequado ao redor de um eixo. Existem dois tipos simples de contornos de grãos: de inclinação e de torção. Um contorno de inclinação ocorre quando o eixo de rotação é paralelo ao plano do contorno. Um contorno de torção é formado quando o eixo de rotação é perpendicular ao plano do contorno. É mais fácil considerar o modelo de um contorno de grão quando a desorientação entre os dois grão é pequena (< 10-15º). Neste caso, tem-se um contorno de baixo ângulo. Este tipo de contorno pode ser simplesmente considerado como um arranjo de discordâncias. Células de discordâncias apresentam este tipo de contorno em suas paredes. O contorno de inclinação de baixo ângulo é um arranjo de discordâncias em cunha paralelas, enquanto o contorno de torção de baixo ângulo é uma grade cruzada de dois conjuntos de discordâncias em hélice. Em cada caso, os átomos nas regiões entre as discordâncias ajustam-se quase perfeitamente em ambos grãos adjacentes, e os átomos nos núcleos das discordâncias são regiões de fraco ajuste, onde a estrutura cristalina é fortemente distorcida. (a) Contorno de inclinação de baixo ângulo. (b) Contorno de torção de baixo ângulo: “o” são átomos do cristal abaixo do contorno, “ são átomos do cristal acima do contorno. Estes contornos são simétricos em relação aos dois grãos adjacentes. Read (1953). (a)Estrutura esquemática de um contorno de grão consistindo de discordâncias em cunha. (b)Micrografia no MET mostrando um contorno de grão em uma amostra de Fe-3%Si, com arranjo de discordâncias regularmente espaçadas. Um contorno de inclinação não simétrico, mostrando discordâncias com dois vetores de Burgers. O contorno de inclinação não precisa ser simétrico em relação aos dois grãos adjacentes. Entretanto, neste caso discordâncias com diferentes vetores de Burgers são requeridas para acomodar o desajuste. Em geral, contornos de grãos são uma mistura de tipo inclinação e tipo torção, formados por diversos arranjos de discordâncias cunha e hélice. Esquema de contornos de grãos de baixo e de alto ângulo. Devem ocorrer também diferenças de orientação entre grãos vizinhos de dezenas de graus. Por esta razão, este tipo de descontinuidade é denominada contorno de alto ângulo. Estas grandes diferenças de orientação impedem que este tipo de contorno possa ser descrito ou representado por arranjos convenientes de discordâncias, pois, neste caso, elas estariam muito próximas, a ponto de ocorrer interações entre seus núcleos. Grande quantidade de bolhas de sabão, mostrando vários grãos com diversas orientações. Note que os contornos com menor desorientação são compostos por uma fileira de discordâncias, enquanto contornos de alto ângulo apresentam uma estrutura desordenada, onde discordâncias individuais não podem ser identificadas. Shewmon, 1969. Amostra de zircônio policristalino fotografada com luz polarizada. MO, 350X. Tântalo. TiC. Micrografia (microscópio ótico) de uma amostra de ferro policristalino, mostrando contornos de baixo e de alto ângulo. Micrografia (microscópio ótico) de uma amostra de aço extra doce, policristalino, enfatizando a orientação cristalográfica de cada grão. 64 milhões de grãos/cm3 Contorno de baixo ângulo em uma liga Al-Cu deformada 0,7% por tração e observada em um MET (32.000X). Este contorno possui tanto característica de inclinação como de torção. Contorno de baixo ângulo em uma amostra de magnésio. As linhas de etch pits correspondem a posições onde discordâncias interceptam a superfície. Amostra de alumínio recozido, observada no MET. Emaranhados de discordâncias são produzidos por interação de discordâncias em movimento durante a deformação plástica. Quando o número de emaranhados se torna bem elevado, uma parede de discordâncias é construída. Amostra de alumínio recozido, observada no MET. Discordâncias livres e móveis interagemcom as paredes de discordâncias. Esta interação resulta em uma configuração mais regular e estável de discordâncias – os subcontornos, que separam regiões de subgrãos do cristal com relativamente baixa densidade de discordâncias. Cada discordância que participa na formação do subcontorno contribui para a desorientação dos subgrãos adjacentes, por uma quantidade que depende de seu vetor de Burgers. O grau de desorientação pode ser estimado no MET pelo contraste através do contorno: quanto maior o contraste, maior a desorientação. Amostra de aço inoxidável austenítico Fe-18Cr-14Mn-0,6N temperado, mostrando um contorno de alto ângulo. Como se trata de uma descontinuidade planar, quando o plano do contorno está inclinado em relação à folha fina no MET, o contorno será visto como uma faixa com lados paralelos (interseção do contorno de grão com as duas superfícies da folha). Dependendo das condições de formação de imagem no MET, franjas paralelas brancas e pretas, típicas de todas as imperfeições planares, podem ser visíveis ou invisíveis dentro da faixa. Diversas discordâncias paralelas parecem se movimentar dentro da faixa; na realidade elas estão se movendo em um plano acima ou abaixo do contorno. Amostra de aço inoxidável austenítico Fe-18Cr- 14Mn-0,6N temperado, observada no MET. A fotografia mostra um contorno de alto ângulo, que funciona como uma barreira praticamente impenetrável ao movimento de discordâncias. A distância entre discordâncias nos empilhamentos vai diminuindo, à medida que estes se aproxima do contorno. A tensão na ponta dos empilhamentos, estimada pelas sombras escuras nos pontos A, B e C, é bastante elevada. Quando a tensão alcança um valor crítico, fontes de discordâncias serão ativadas no contorno, para produção de discordâncias no grão à esquerda. Amostra de aço inoxidável austenítico Fe-18Cr- 14Mn-0,6N após 2% de deformação a frio, observada no MET. A iniciação de novas discordâncias no próximo grão é o mecanismo básico para transferência de discordâncias através dos contornos de grãos durante a deformação plástica. Existem alguns modelos que tentam descrever os contornos de grão em agregados policristalinos, apesar disto, o conhecimento de sua estrutura é bastante limitado. Um dos primeiros modelos propostos para descrever os contornos de grão foi o modelo do cimento amorfo, apresentado em 1900, por J. A. Ewing e W. Rosenhain. Segundo eles, os contornos de grão são regiões não cristalinas ou amorfas, que envolvem os diferentes cristais ou grãos mantendo-os unidos. Atualmente, um dos modelos mais aceitos é o proposto pelo pesquisador alemão H. Gleiter, apresentado a seguir. Note neste modelo a presença de degraus (“ledges”) nos contornos de grão. Degraus em contornos de grão são uma característica importante dos contornos de alto ângulo. Observações recentes utilizando microscopia de alta resolução sugerem que os contornos de alto ângulo consistem de grandes regiões em que a adaptação atômica entre os dois grãos é relativamente boa separadas por regiões de má adaptação. Os degraus estão associados com estas regiões de má adaptação. De uma maneira geral, pode-se afirmar que a quantidade (ou densidade) de degraus aumenta com o aumento da diferença de orientação entre grãos vizinhos. Modelo de contorno de grão contendo degraus, segundo H. Gleiter. O contorno de grão tem a ele associado uma energia por unidade de área ou tensão superficial. Esta energia é praticamente uma constante do material, embora existam alguns contornos especiais de menor energia, denominados contornos de alta coincidência ou simplesmente contornos de coincidência. A tabela a seguir apresenta uma coletânea de energias de contornos de grão para diversos materiais. A energia dos contornos de grão está relacionada com a energia da superfície externa. De um modo geral, a energia média de contorno de grão é cerca de 1/3 da energia de superfície de um material. α-Fe Pt A energia de um contorno de grão de baixo ângulo é simplesmente a energia total das discordâncias por unidade de área do contorno. Ela depende do espaçamento das discordâncias, obtido a partir de um arranjo de discordâncias: Modelo de discordâncias para um contorno de baixo ângulo. Relação geométrica entre o ângulo de desorientação θ e o espaçamento d entre discordâncias. Para valores muito pequenos de θ o espaçamento entre discordâncias torna-se muito grande, e a energia γ do contorno de grão é aproximadamente proporcional à densidade de discordâncias no contorno (1/d), isto é: Por outro lado, para uma desorientação relativamente elevada o espaçamento entre discordâncias torna-se muito pequeno, os núcleos das discordâncias se sobrepõem, tornando-se impossível a identificação física das discordâncias. Neste momento, a energia do contorno de grão é praticamente independente da desorientação. Esquema mostrando a estrutura de um contorno de grão desordenado. Contornos de alto ângulo contêm extensas áreas de fraco ajuste, e uma estrutura relativamente aberta. As ligações entre os átomos estão quebradas ou altamente distorcidas, e o contorno é associado com uma elevada energia. Esquema mostrando a variação da energia de um contorno de grão com a desorientação. Resultados da variação da energia de um contorno de grão com a desorientação para uma amostra de Fe-Si. Read, 1953. É importante destacar que um grão em um agregado policristalino é um poliedro que deve preencher todo o espaço (sem deixar vazios), satisfazer o equilíbrio de tensões superficiais e, é claro, satisfazer as relações entre o número de vértices, arestas e faces (teorema de Euler). O poliedro que mais se aproxima destas exigências é o ortotetracaidecaedro, apresentado na figura abaixo. Forma provável dos grãos de um material policristalino: (a) ortotetracaidecaedro (24 vértices, 36 arestas e 14 faces); (b) arranjo tridimensional (sem vazios) destes poliedros. A figura abaixo apresenta diferentes secções de um material policristalino monofásico, conforme observadas por microscopia ótica. Microestrutura monofásica policristalina (esquema). Aços inox ferríticos laminados a frio – 1.50mm SL SL SL SL 16Cr4Nb (14,5mm) 18Cr1Ti6Nb (64,3mm) 16Cr5Ti (16,5mm) 17Cr2Ti2Nb (49,4mm) O número de faces, arestas e vértices dos grãos em um agregado policristalino pode ser determinado experimentalmente. Tomemos, por exemplo, um pedaço de alumínio puro com grãos grandes (isto pode ser obtido fazendo-se um tratamento térmico em altas temperaturas, quando ocorre crescimento de grão). Se o alumínio policristalino for colocado em contato com gálio líquido (ponto de fusão 40°C), ocorre difusão preferencial dos átomos de gálio pelos contornos de grão do alumínio e a concentração de gálio nestas regiões é bastante aumentada. A presença de gálio nos contornos (segregação) diminui a força de coesão entre os grãos, tornando o material frágil (fragilização por metal líquido). Sob aplicação de pequenas tensões, os grãos se desagregam por fratura intergranular, como fossem os grãos de uma romã. Se os números de faces, arestas e vértices de vários grãos forem determinados, os valores médios serão muito próximos aos do ortotetracaidecaedro. Grãos removidos de uma amostra de latão, apresentando três tamanhos distintos. Tamanho de Grão Método comparativo Método planimétrico Método do intercepto MET-155 Efeito do tamanho de grão ferrítico no limite de escoamento de um aço com adições de Mn e Nb (de 0,05-0,09%). Fonte: E.Rizzo, ABM, 2007. MET-158 Efeito do tamanho de grão ferrítico no limite de escoamento e na temperatura de transiçãode impacto de um aço com 0,10%C, 0,50%Mn, 0,2%Si, 0,006%N. 2 1 dk oys MET-158 Valores de K para enriquecimento de P e S em contornos de grãos em ligas ferrosas. A segregação pode ser vista como uma redistribuição de soluto entre duas fases: o volume e o contorno de grão. A segregação em contorno de grão é inversamente proporcional à solubilidade volumétrica. O parâmetro K mede o enriquecimento do elemento no contorno de grão. Equação de Langmuir- McLean, que descreve o grau de enriquecimento do contorno de grão em função da concentração da impureza no volume e da temperaturaT : Transição de comportamento dúctil-frágil para um aço com 0,2%C na presença de impurezas fragilizantes de contorno de grão. Energia livre de segregação a 800oC e correspondente variação na temperatura DBTT. Competição de ocupação de sítios em contornos de grãos entre C e P (esquerda) e C e S (direita). Arranjo esquemático mostrando um material nanocristalino bi-dimensional. Materiais nanocristalinos: manipulação de átomos para formar grãos com tamanho nanométrico. Falhas de empilhamento No capítulo sobre “arranjos atômicos”, foi mencionado que uma determinada estrutura cristalina pode ser obtida por meio do empilhamento de planos arranjados em uma seqüência regular. Estas seqüências regulares podem ser localmente alteradas por deformação plástica e aglomerados de defeitos puntiformes criados por irradiação do material com partículas pesadas de alta energia ou por têmpera, dando origem a falhas de empilhamento. Discordâncias parciais delimitando falhas de empilhamento. A área da falha de empilhamento é delimitada por discordâncias parciais: a primeira provoca um distúrbio na sequência de empilhamento, e a segunda restaura o arranjo atômico regular da matriz. Estas discordâncias parciais se repelem. Quanto maior for a energia por unidade de área da falha de empilhamento, mais próximas estarão as discordâncias parciais, de modo a minimizar a área defeituosa. A EFE é um dos mais importantes parâmetros indicativos das propriedades dos materiais. O valor da EFE vai determinar o tipo de subestrutura de discordâncias produzida no material por deformação plástica. Por exemplo, um material com baixa EFE apresenta após deformação plástica maior densidade de discordâncias, distribuição mais uniforme de discordâncias e maior energia armazenada na deformação, do que um material com elevada EFE e deformado nas mesmas condições. Além disto, os materiais com baixa EFE geralmente apresentam maior taxa de encruamento, maior resistência à fluência e maior susceptibilidade à corrosão sob tensão do que materiais de elevada EFE. Metal Energia de falha de empilhamento (mJ/m2) Coeficiente de encruamento Característica do deslizamento Aço inoxidável < 10 ≈ 0,45 Planar Cobre ≈ 90 ≈ 0,30 Planar/Ondulado Alumínio ≈ 250 ≈ 0,15 Ondulado Relação entre a energia de falha de empilhamento, o coeficiente de encruamento e a característica do deslizamento para diversos metais. Formação de duas discordâncias parciais e de uma região falhada, a partir de uma discordância normal. Esta combinação é chamada de “discordância estendida”. Esquema tridimensional de uma falha de empilhamento em um cristal CFC. A falha consiste na faixa cinza, com espessura igual a diversos diâmetros atômicos. Ela é contornada por discordâncias parciais AB e CD. Formação de duas discordâncias parciais e de uma região falhada em uma estrutura CFC. A falha corresponde a um empilhamento HC. Comparação com a formação de uma macla. Estrutura de uma discordância em cunha na rede CFC. (a,b) Não dissociada. (c,d) Dissociada. (a) e (c) são vistas normais ao plano (111). A tabela acima apresenta energias de falha de empilhamento de alguns materiais. A grande maioria das determinações de EFE foi realizada na temperatura ambiente. As determinações de EFE acima da temperatura ambiente apresentam dificuldades experimentais. Os poucos resultados experimentais disponíveis sugerem que a EFE da maioria dos materiais aumenta com o aumento da temperatura. EFE A energia de falha de empilhamento – EFE – pode ser determinada experimentalmente medindo-se a distância entre as discordâncias parciais, com auxílio do MET. A largura de equilíbrio da falha de empilhamento é determinada pelo equilíbrio entre a força de repulsão associada com as discordâncias parciais e a força atrativa associada com a EFE. Tem-se então, de acordo com Cottrell (1953) a separação de equilíbrio dada pela seguinte expressão: EFE As falhas de empilhamento são um tipo simples de descontinuidade planar. Quando elas estão inclinadas em relação à superfície da folha fina, elas são visualizadas no MET como faixas contendo franjas brancas e pretas paralelas, resultantes do contraste por difração criado pela imperfeição planar no arranjo periódico dos átomos. Medição da distância d entre parciais no MET. Aço AISI 304. Uma falha é produzida pelo deslocamento do cristal acima do plano da falha por um vetor constante u relativo à parte de baixo do plano de falha. Para colunas de elétrons atravessando a falha, um fator 2pi g u provoca uma diferença de amplitude entre o feixe principal e o feixe difratado. Assim, quando o produto g u for nulo ou um inteiro, não existirá contraste e a falha será invisível. Isto está demonstrado na figura (a), onde o vetor u situa-se no plano da falha e os planos difratados são paralelos a u. Para qualquer outro valor de g u, a falha produzirá contraste, conforme mostrado na figura (b). Deslocamentos de planos de reflexão mostrados por linhas na falha de empilhamento AB. O vetor de difração g é perpendicular a estes planos. Em (a), g u = 0 e não ocorre contraste. Em (b) g u ≠ 0 e a interferência entre as ondas acima e abaixo da falha fornecem uma franja. (a) Micrografia eletrônica de transmissão de uma folha fina, mostrando uma franja típica de falha de empilhamento que situa-se em um plano inclinado em relação ao plano da folha, como esquematizado em (b). Quando a falha está inclinada em relação à superfície da amostra, o contraste toma a forma de franjas brancas e escuras paralelas à linha de interseção do plano da falha com a superfície. A forma precisa do contraste por franjas depende das condições de difração empregadas, proporcionando a análise das falhas e de outras descontinuidades superficiais, como maclas e contornos de grãos. Imagens de discordâncias e de falhas de empilhamento no MET. Falha de empilhamento em um aço inoxidável. a) Contraste normal de franjas; b) Contraste realçando as discordâncias parciais. Imagens de discordâncias estendidas no MET. Exemplo de dissociação em cristal CFC. Falhas de empilhamento em uma amostra de Cu-15,6%atAl. MET, 44.000X. Head et alli, 1973. Falhas de empilhamento em uma amostra de Fe-18NCr-14Mn-0,6N. MET. A mudança de brilho ou perda de imagem de algumas áreas resulta da sobreposição de falhas de empilhamento na espessura da folha fina, que causa uma mudança na intensidade dos elétrons transmitidos. Grupo de falhas de empilhamento em um aço SAE 302, barradas em um contorno de grão. Wilsdorf, 1986. Falhas de empilhamento em um aço 18Cr-8Ni. As falhas são ligadas nas extremidades por discordâncias parciais. As finas bandas negras são maclas de deformação. Michelak, 1973. Falhas de empilhamento em GaP. P.Pirouz. Células de discordâncias e sub-grãos A distribuição de discordâncias em um metal ou liga deformado plasticamente depende de vários fatores: estrutura cristalina,energia de falha de empilhamento, temperatura e velocidade de deformação. Por exemplo, quando um metal com estrutura CFC e baixa EFE é deformado por métodos usuais (ensaio de tração, laminação, forjamento, etc.), suas discordâncias têm baixa mobilidade, devido ao fato das discordâncias parciais estarem muito afastadas entre si. Isto implica em dificuldade para ocorrência de fenômenos de deslizamento cruzado e escalada de discordâncias. Uma vez tendo baixa mobilidade, as discordâncias geradas na deformação tenderão a ter uma distribuição plana (homogênea) na microestrutura. Arranjo esquemático de discordâncias homogeneamente distribuídas em um grão encruado. A distribuição de discordâncias em materiais com baixa EFE (<20mJ.m-2) é estritamente bidimensional ou planar. Exemplo: aço inoxidável austenítico Fe-18Cr-9Ni (16-40mJ.m-2). Por outro lado, metais e ligas com estrutura CCC, ou com estrutura CFC e elevada EFE, deformados plasticamente por métodos habituais na temperatura ambiente apresentam discordâncias dissociadas em parciais próximas umas das outras, facilitando a ocorrência de deslizamento cruzado e de escalada. Isto implica em discordâncias com elevada mobilidade, que tendem a se localizar em planos cristalinos de baixos índices de Miller, assim como aniquilar-se com discordâncias vizinhas de sinal oposto. Devido a estes fatores, materiais com elevada EFE tendem a apresentar uma distribuição heterogênea tridimensional de discordâncias. Arranjo esquemático de células de discordâncias distribuídas em um grão encruado. As discordâncias concentram-se preferencialmente em paredes de células (formando emaranhados de discordâncias), e o interior das células permanece praticamente livre de discordâncias. A diferença de orientação entre células vizinhas é em geral muito pequena, menor que 20. Uma elevação na temperatura de deformação e/ou diminuição na velocidade de deformação favorecem a formação da estrutura celular. (a) Liga Fe-34%Ni de elevada EFE, arranjo de células de discordâncias. (b) Liga Fe-15%Cr-15%Ni de baixa EFE, arranjo planar de discordâncias. Efeito da EFE na subestrutura de discordâncias. Ambos materiais foram deformados por choque, numa pressão de pico de 7,5 GPa em um pulso de 2ms. Efeito da composição química e, portanto, da EFE na estrutura de discordâncias. A presença de átomos de soluto vai diminuir a EFE do material. (a) Níquel puro deformado 3,1% a 293K, MET, 25.000X. (b) Níquel + 5,5%Al deformado 2,7% a 293K. MET, 37.500X. Alumínio – elevada EFE Cobre – baixa EFE Cu-7%Al – baixíssima EFE Um monocristal ou um grão em um agregado policristalino pode estar subdividido em sub-grãos , que têm entre si pequenas diferenças de orientação, em geral menores do que 50. A fronteira que separa dois sub-grãos é denominada contorno de pequeno ângulo ou sub-contorno. Em geral, os contornos de pequeno ângulo podem ser descritos por arranjos convenientes de discordâncias. Um tipo particular de sub-contorno é o contorno inclinado puro, composto apenas de discordâncias em cunha. Arranjo de discordâncias em cunha, formando um contorno de sub-grãos. A diferença de orientação é dada neste caso pelo ângulo, em radianos, que pode ser calculado pela relação: D b onde b é o vetor de Burgers e D é o espaçamento médio entre discordâncias. Note que as discordâncias neste tipo de arranjo minimizam a energia, devido a seus campos de tensão. Embora sub- contornos do tipo inclinado puro realmente existam, a maioria dos sub-contornos é mais geral e contém vários tipos de discordâncias. D Um mecanismo de formação destes subcontornos foi proposto pelo pesquisador inglês R. W. Cahn, em 1950. Segundo o modelo de Cahn, durante o aquecimento de um metal deformado plasticamente, as discordâncias são reagrupadas, havendo aniquilação de discordâncias de sinais opostos e rearranjo das restantes minimizando seus campos de tensão elástica (vide figura abaixo). Este mecanismo é denominado poligonização, devido ao facetamento da superfície externa do cristal. O conceito de poligonização pode ser ampliado de modo a descrever a formação de subgrãos em monocristais e policristais. Representação esquemática do mecanismo de poligonização: (a) distribuição ao acaso de discordâncias em um monocristal deformado por flexão; (b) rearranjo das discordâncias ativado termicamente originando os subcontornos (poligonização). Durante o aquecimento de um metal deformado plasticamente e que apresenta subestrutura celular, ocorre o “aperfeiçoamento” das paredes de células (formadas por emaranhados de discordâncias) que se transformam em subcontornos de grão. Os materiais com baixa EFE, que não apresentam subestrutura celular após a deformação a frio, também apresentam formação de subgrãos (poligonização) no posterior recozimento. De uma maneira geral, pode-se afirmar que mesmo monocristais bem recozidos podem apresentar subgrãos. Uma das primeiras fotografias em MET do extensivo trabalho pioneiro de Hirth, Horne e Whelan, 1956, sobre a poligonização em alumínio, 65.000 X. Subgrãos observados no MET em amostra de tântalo policristalino deformado a frio até 99% de redução em área por forjamento rotativo e depois recozida por 1h a 750oC. Formação de contornos de baixo ângulo observados no MET durante a deformação a quente de aço inoxidável austenítico AISI 304. Micrografia no MET de uma estrutura de recuperação em uma liga Fe-8%Cu, laminada a frio com 60% de redução na espessura, recozida por 3h a 500oC, depois 100min a 650oC. 54.400X. A diferenciação entre células de deformação e subgrãos é um tanto arbitrária. O principal critério para diferenciá-los é o grau de ativação térmica envolvido na sua formação, já que ambos são constituídos de arranjos de discordâncias e a diferença de orientação entre regiões vizinhas que eles separam é da mesma ordem de grandeza. Em geral, um subcontorno é mais aperfeiçoado que uma parede de célula, pois a subestrutura de subgrãos envolve uma considerável ativação térmica durante sua formação, o que permite o rearranjo das discordâncias. A energia dos subcontornos depende fortemente da diferença de orientação, ao contrário da energia dos contornos de grão. Esta energia depende também da natureza do subcontorno, ou seja, do tipo e do arranjo de discordâncias do subcontorno. Evolução da microestrutura de um material deformado plasticamente. (a) emaranhados de discordâncias. (b) formação de células. (c) aniquilação de discordâncias nas paredes das células. (d) formação de subgrãos. Contornos de maclas Contornos de macla são descontinuidades bidimensionais que separam duas regiões do cristal ou do grão que são imagens especulares uma da outra, conforme mostra a figura ao lado. Representação esquemática de uma macla no sistema CFC. O plano da figura é o plano (110). Os planos A1 e A2 são os planos de maclação. Empilhamento CFC. Plano de macla A. Deformação ou tratamento térmico Representação esquemática mostrando como uma macla pode ser produzida por um simples movimento de átomos. Este tipo de descontinuidade pode ocorrer durante a solidificação, deformação plástica, recristalização ou durante o crescimento de grão. Normalmente, distinguem-se dois tipos de macla conforme a origem: macla de recozimento e macla de deformação. Embora os dois tipos mencionados sejam cristalograficamente idênticos na mesma estrutura, as maclas de recozimento, formadas em altas temperaturas, apresentam contornos retilíneos, enquanto as maclas de deformação, formadas durante a deformação a frio, apresentam contornos lenticulares (vide figura abaixo). Grãos maclados:(a) e (b) maclas de recozimento em materiais com estrutura CFC;(c) macla de deformação em materiais com estrutura HC. Uma importante característica das maclas é o fato delas nunca atravessarem contornos de grãos; elas podem terminar em um contorno de grão ou de macla, ou então no interior do grão. A tabela abaixo apresenta valores de energia de maclas coerentes e incoerentes, comparadas com contornos de grãos de alto ângulo. As maclas de recozimento ocorrem mais freqüentemente durante a recristalização e/ou durante o crescimento de grão. Elas são mais freqüentes em materiais com baixa energia de falha de empilhamento. A energia do contorno coerente de macla é aproximadamente a metade da energia de falha de empilhamento. Desta maneira, é esperado que materiais com baixa EFE apresentem alta frequência de maclas de recozimento. Por exemplo, as maclas de recozimento são raríssimas em alumínio, ferro-alfa, nióbio, molibdênio e tungstênio, mas são muito freqüentes em cobre, prata, ouro, latão e em aços inoxidáveis austeníticos. As maclas de recozimento são raras no estado bruto de fundição, mesmo em materiais de baixa EFE. Isto mostra que sua formação ocorre principalmente durante a recristalização e o crescimento de grão, quando ocorre migração de contornos de alto ângulo. Freqüentemente, as maclas de recozimento terminam no interior do grão. Neste caso, aparece um contorno incoerente de macla (vide figura a seguir). A energia por unidade de área destes contornos incoerentes de macla é comparável a energia dos contornos de grão. Contornos coerentes e incoerentes de macla: (a) arranjo atômico; (b) aspecto observado em metalografia. Diferença entre um contorno coerente ab e um contorno incoerente bc de macla. Um contorno coerente pode ser visto como um contorno de grão especial de alto ângulo. Por outro lado, note a presença de discordâncias no contorno incoerente, caracterizando a ausência de relação geométrica entre os dois lados. (a) Contorno coerente de macla. (b) Contorno incoerente de macla. (c) Energia do contorno de macla em função da orientação do contorno de grão. Amostra de aço inoxidável austenítico Fe- 18Cr-14Mn-0,6N temperado, observada no MET. A orientação de diferentes maclas em um mesmo grão é geralmente idêntica. Nesta fotografia, os contornos coerentes (A) de duas maclas são paralelos. Os contornos incoerentes (B e C) são aleatoriamente orientados com a matriz. Amostra de aço inoxidável austenítico Fe- 18Cr-14Mn-0,6N temperado, observada no MET. O contorno de grão mostrado nesta fotografia contem degraus coerentes (paralelos) e incoerentes (não paralelos). A maclação mecânica (maclas de deformação) é uma maneira alternativa de deformação plástica, conforme mostra a figura a seguir. Como este modo de deformação plástica exige o movimento coordenado de muitos átomos, embora os deslocamentos sejam pequenos, ele ocorre principalmente em situações em que a deformação plástica por deslizamento de planos é muito difícil. A maclação mecânica ocorre, por exemplo, em metais HC, devido ao baixo número de sistemas de escorregamentos nesta estrutura. Em metais CCC, quando deformados abaixo a temperatura ambiente ou com altas velocidades de deformação, também ocorre maclação mecânica. Este mecanismo de deformação plástica não tem muita importância em metais e ligas com estrutura CFC. A maclação mecânica não envolve difusão, exige o movimento coordenado de átomos e este movimento envolve pequenos deslocamentos. Estas características são comuns às transformações martensíticas ou “militares”. Maclação mecânica em cristais CFC. Amostra de aço inoxidável duplex ferrita- austenita temperado, observada no MET. A maclação é um processo típico que ocorre durante a recristalização de metais e ligas de baixa energia de falha de empilhamento (EFE). Estas maclas são chamadas de maclas de recozimento. A presença de maclas de recozimento na austenita ajuda a distinguir facilmente grãos de austenita (A) de grãos de ferrita (F) no aço duplex. Amostra de zinco após 2% de deformação, observada no MET. A maclação mecânica é o principal mecanismo de deformação em metais com estrutura HC (Mg, Zn, Cd). Isto se deve a um deslizamento restrito, que ocorre somente no plano basal. O processo de maclação costuma ser acompanhado em alguns destes metais por perda de energia na forma de som – por exemplo, o chamado “grito do estanho” que acompanha o dobramento de uma barra de estanho devido à formação de numerosas maclas. Amostra de latão (CuZn30), observada no MET. A frequência na formação de maclas está relacionada com a EFE do material. Maclas nunca se formam no alumínio (alta EFE), mas são comuns no cobre recozido (média EFE) e são um elemento importante nos grãos recristalizados de α-Cu do latão (baixíssima EFE). Amostra de aço ferrítico contendo 10%Mn, 2%Si, 0,1%V e 0,1%N, observada no MET. A maclação é um processo raro em cristais CCC. Somente o MET pode revelar micromaclas extremamente finas formadas em alguns aços baixa liga. Amostra de aço ferrítico contendo 10%Mn, 2%Si, 0,1%V e 0,1%N, após deformação plástica aplicada rapidamente, observada no MET. Maclas de deformação podem ser produzidas em cristais CCC por deformação plástica, especialmente com carregamento dinâmico. Estas maclas mecânicas são geralmente muito finas, e são chamadas de micromaclas. (a) Maclas de deformação em magnésio. (b) Maclas de recozimento em latão. Microscópio ótico. (a) Maclas de deformação em Fe-Si. (b) Maclas de recozimento em W. Microscópio ótico. Maclação mecânica em uma amostra de zircônio policristalino. Microscópio ótico. Maclação de recozimento em uma amostra de aço inox austenítico. Microscópio ótico. Planos e direções de macla, e deformação correspondente. Aços TWIP apresentam plasticidade induzida por maclação. Trata-se de ligas austeníticas que possuem elevado teor de manganês, alguma quantidade de alumínio e de silício (por exemplo, Fe-25Mn-3Si-3Al) e carbono e nitrogênio presentes essencialmente como impurezas. Estas ligas possuem baixo limite de escoamento (200-300 MPa), mas elevados valores de limite de resistência (1100 MPa) e de deformação total (60-95%). O efeito da maclação mecânica é duplo. As maclas ajudam na plasticidade, mas também aumentam a taxa de encruamento, pela subdivisão da austenita não maclada em finas regiões. Uma conseqüência prática importante é a capacidade deste tipo de aço de absorver elevada quantidade de energia por impacto. MET-158 Interfaces A grande maioria dos materiais de engenharia apresenta na sua microestrutura mais de uma fase, isto é, eles são polifásicos. Freqüentemente, as fases presentes na microestrutura de um material polifásico apresentam diferentes composições e estruturas, embora também ocorram casos em que a estrutura cristalina é a mesma mas a composição é diferente e vice-versa. A fronteira que separa as duas fases é denominada interface. A figura abaixo apresenta uma microestrutura policristalina e bifásica vista em três dimensões. Microestrutura polifásica e bifásica (esquema). Material: aço AISI/SAE 1045 Microestrutura, ataque Nital Material: aço DP 600 Microestrutura, ataque Le Pera Dependendo das relações de orientação entre as duas fases, as interfaces podem ser classificadas como coerentes, semicoerentes ou incoerentes. As interfaces coerentes são mais raras e só ocorrem quando as duas fases apresentam mesma estrutura cristalina e parâmetros de rede quase idênticos. Além disto, uma das fases deve estar dispersa na outra (matriz) e ter dimensões muito pequenas,em geral, menores que 0,1 μm. As interfaces semicoerentes são mais freqüentes e podem ocorrer mesmo quando as duas fases tem diferentes estruturas cristalinas. Neste caso, o ajuste dos reticulados das duas fases pode ser facilitado pela presença de discordâncias na interface. As interfaces incoerentes são muito mais freqüentes e representam o caso geral. Os três tipos de interface mencionados são apresentados na figura abaixo. Arranjo dos átomos ao redor das interfaces: (a) coerente; (b) semicoerente e (c ) incoerente (segundo E. Hornbogen). Representação esquemática de estruturas interfaciais. (a) Contorno coerente com desajuste de deformação; (b) Contorno semicoerente com desajuste de discordâncias. Quanto mais diferentes forem as duas fases entre si e principalmente quanto maior for o grau de desajuste entre as suas estruturas tanto maior será a energia da interface. A tabela abaixo apresenta as energias de interface para alguns sistemas. Os valores da tabela acima mostram que a energia por unidade de área de uma interface coerente é comparável com a energia de subcontornos e contornos coerentes de macla. Por outro lado, a energia das interfaces incoerentes é comparável com a energia dos contornos de grão. Contornos de antifase Conforme já foi mencionado no ítem sobre soluções sólidas, algumas fases apresentam reação do tipo ordem-desordem. Em geral, as regiões ordenadas tem o mesmo tipo de estrutura cristalina que a matriz. Vamos considerar o caso do latão β, com concentração equiatômica de cobre e zinco. Em altas temperaturas predomina a estrutura CCC, com os átomos de cobre e de zinco ocupando as posições do centro da célula e dos vértices indistintamente e sem preferência. Diz-se nesta situação que a fase é desordenada. Em temperaturas mais baixas, os átomos de cobre têm preferência pelas posições do centro da célula enquanto os átomos de zinco ocupam as posições do vértice do cubo. Diz-se nesta situação que a fase é ordenada. Uma liga ou uma fase que sofre ordenação apresenta regiões em que o tipo de ordem difere. A fronteira entre estas regiões é denominada contorno de antifase. A figura ao lado apresenta este tipo de descontinuidade bidimensional. A passagem de uma discordância por uma fase ordenada pode criar um contorno de antifase. Por esta razão, as discordâncias atravessam as fases ordenadas aos pares. Enquanto a discordância “à frente” desordena, a discordância “de trás” reconstitui a ordem. Este par de discordâncias é denominado superdiscordância. Estrutura ordenada bidimensional apresentando contornos de antifase. (a) Diagrama esquemático mostrando a configuração atômica do Cu3Au, que resulta na formação de contornos de antifase planos. (b) Observação dos contornos de antifase no MET. Fronteiras de Domínios Em muitas fases ocorre o alinhamento dos spins eletrônicos dando origem a domínios magnéticos. As fronteiras que separam estes domínios são denominadas fronteiras de domínio ou fronteiras de Weiss, em homenagem ao físico francês P. Weiss, que sugeriu pela primeira vez a existência de domínios magnéticos, em 1907. A figura abaixo apresenta uma representação esquemática de domínios magnéticos em um cristal de metal ferromagnético. As direções de magnetização são representadas na figura por flechas. Existem nos materiais magnéticos outros tipos de domínio e de fronteiras de domínio que não foram abordados neste capítulo, mas podem ser encontrados em livros especializados sobre magnetismo e materiais magnéticos. Esquema ilustrativo de fronteiras de domínios. • A.F.Padilha: Materiais de Engenharia – Microestrutura e Propriedades, Hemus, 2000. • W.D.Callister e D.G.Rethwisch: Ciência & Engenharia de Materiais, 8a Edição, GEN/LTC, 2012 • R.E. Reed-Hill, R,Abbashian, L.Abbashian : Physical Metallurgy Principles, 4th Edition, Cengage Learning, 2009. • R.E.Smallman e A.H.W.Ngan: Physical Metallurgy and Advanced Materials, Elsevier, 2007. • G.E.Dieter : Mechanical Metallurgy, 3rd Edition, McGraw-Hill Book Co., 1988. • M.A.Meyers & K.K.Chawla : Mechanical Behavior of Materials, 2nd Edition, Cambridge University Press, 2009. • J.P.Bailon e J.M.Dorlot: Des Materiaux, 3th Edition, École Polytechnique de Montréal, 2000. • D.A.Porter, K.E.Easterling e M.Y.Sherif: Phase Transformations in Metals and Alloys, 3rd Edition, 2009. Bibliografia
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