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A Mercadoria - Mercado de Trabalho

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COMPRA E VENDA DA FORÇA DE TRABALHO – MERCADO DE TRABALHO
Dado que a força de trabalho ou capacidade de trabalho é o conjunto das faculdades físicas e mentais que o ser humano possui e emprega ao produzir valores-de-uso de qualquer espécie, tal qual explica Marx em “O Capital”, faz-se mister explicar as condições necessárias para efetuar-se a compra e venda dessa força de trabalho, ou seja, explicar como se constitui o mercado de trabalho. 
Já sabemos que a força de trabalho constituiu-se historicamente e que ela aparece como uma mercadoria, disponível ao comprador que possui dinheiro, somente quando temos uma grande massa de despossuídos dos meios de produção para sua subsistência que não pode sobreviver senão vendendo sua força de trabalho no mercado para aquele que detém os meios de produção e, por isso mesmo, o dinheiro para arrematá-la. Essa situação é construída historicamente e se dá por meio, principalmente, da expropriação.
Entretanto, para compreender melhor como funciona essa compra e venda da força de trabalho no mercado, é preciso mergulhar um pouco mais fundo nos condicionantes dessa relação e no próprio significado do termo “força de trabalho” com suas implicações e diversas relações.
Marx já pontuara em sua obra máxima “O Capital” que a mudança do valor do dinheiro que se pretende transformar em capital não pode se processar no próprio dinheiro e tampouco nas revendas da mercadoria, mas sim no consumo de uma mercadoria específica que gere mais valor do que o necessário pra sua reprodução. Torna-se óbvio com a informação que já angariamos nesse trabalho que esta mercadoria não poderia ser outra senão a força de trabalho. Porém, antes do consumo dessa mercadoria específica há o ato de compra e venda da mesma e que só se efetua dadas determinadas condições.
Primeiramente, a força de trabalho só pode ser disponibilizada no mercado se, aquele que a possui, a tem como mercadoria própria, como sua propriedade. Ou seja, o vendedor da força de trabalho deverá dispor livremente de sua própria capacidade de trabalho para ofertá-la no mercado, ou melhor, deverá dispor livremente de sua pessoa, portanto, não poderá ser escravo no sentido antigo da palavra. 
Ao confrontar-se com o possuidor do dinheiro, com o que deseja comprar a força de trabalho, o possuidor desta encontra-se em igual condição de proprietário de mercadoria. Assim, só diferenciamos as mercadorias a serem trocadas: uma é dinheiro e a outra é força de trabalho. Continuando essa relação, o possuidor da força de trabalho só poderá efetuar a venda de sua mercadoria por um determinado período de tempo, pois se a vende definitivamente, passa de homem livre para escravo e aí romperia-se uma das condições que o capital impõe para que se efetue a compra e venda da força de trabalho no objetivo não de reproduzir e valorizar o trabalho, mas sim o próprio capital. 
Pois bem, dada a primeira condição para que se efetue a compra e venda da força de trabalho, a segunda condição essencial para concretizar esta relação é o fato de o ofertante da força de trabalho não poder ofertar outra mercadoria objetivada pelo seu trabalho. Ou seja, ele deve ser despossuído dos meios de produção (matérias primas, instrumentos de produção) tal qual falado anteriormente. É justamente por isso que ele só poderá vender sua força de trabalho, existente somente nele mesmo, para poder sobreviver.
Nisso, se estabelece a divisão entre os que detêm meios de produção e os que não detêm nada além de sua força de trabalho. Com essa divisão estão dadas as condições básicas para que se dê a compra e venda da força de trabalho e, consequentemente, no processo de consumo desta, a transformação do dinheiro em capital, pois o possuidor do dinheiro se defronta no mercado com o trabalhador livre e livre tanto no sentido de dispor como pessoa livre da sua capacidade de trabalho como também livre no sentido de estar despojado de todos os instrumentos necessários à materialização do seu trabalho. Mal saberia o trabalhador que é justo essa tal “liberdade” que o conduz a “escravidão”.
Além disso, é de suma importância pontuar que Marx dirá que toda essa relação foi construída historicamente e que de forma alguma podemos conceber essa separação de proprietários de dinheiro e de mercadorias e proprietários unicamente de força de trabalho como algo natural, mas sim como resultado de um longo desenvolvimento histórico anterior, o produto de muitas revoluções econômicas, como produto do desaparecimento de toda uma série de antigas formações da produção social.
Ao explanar os condicionantes desse surgimento da compra e venda da força de trabalho que constitui em linhas básicas o mercado de trabalho, o qual é determinado pela troca de trabalho livre por dinheiro com o objetivo de reproduzir o próprio dinheiro, é necessário explicar, ao mínimo de forma introdutória, o que determinará o valor dessa força de trabalho a ser vendida no mercado.
O valor da força de trabalho, Marx já dirá que será determinado como o de qualquer outra mercadoria. Ou seja, pelo tempo de trabalho necessário para a sua produção e consequente reprodução. Agora, esse tempo de trabalho necessário à produção e reprodução da força de trabalho será igual ao tempo de trabalho necessário à manutenção da existência do indivíduo, o que, por sua vez, é igual ao tempo de trabalho necessário pra produzir os meios de subsistência que mantém existindo esse mesmo indivíduo.
Resumindo, podemos dizer que o valor da força de trabalho dependerá do valor dos meios de subsistência de quem a possui, e estes, do estágio de civilização a que se refere. Além dos meios de subsistência do indivíduo, Marx destacará os meios de subsistência necessários à família deste indivíduo, garantindo assim a procriação da força de trabalho perpetuamente por meio da segurança da existência dos filhos destes indivíduos, que ocuparão o lugar de seus pais como fornecedores da força de trabalho necessária futuramente para que o capital continue seu ciclo contínuo de auto valorização. 
Diante disso, cabe ressaltar novamente que é no consumo dessa força de trabalho na esfera de produção, além da simples relação de troca e de sua superfície, que se dá a geração de maior valor do que aquilo que é gasto pra produzir a mercadoria. É na força de trabalho interagindo com os meios de produção e produzindo uma mercadoria que contém maior valor do que os custos do seu processo, que está a chave da compreensão do movimento do capital e do modo de produção capitalista. O chamado mercado de trabalho só irá aparecer como um condicionante para que se dê a extração da chamada mais-valia no processo de produção.
 É no mercado de trabalho que encontraremos trabalhadores livres dispondo somente de sua capacidade de trabalho, defrontando-se com os donos dos meios de produção e do dinheiro necessário para se comprar a mercadoria que está sendo ofertada por estes trabalhadores. Uma remuneração que só corresponderá aos custos de vida do trabalhador e de sua família e não ao que ele verdadeiramente produz. É no mercado de trabalho, enfim, que veremos com clareza o primeiro ato – D – M – que culminará no objetivo máximo do capital: valorizar-se.

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