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APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 Daniele B. Longo M7 – 2018.1 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – CAMPUS JOÃO UCHÔA Medicina Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 1 → Sumário: 1. Acuidade visual.....................................................................2 2. Ametropias............................................................................3 3. Fundoscopia..........................................................................6 4. Retinopatia diabética.............................................................8 5. Retinopatia hipertensiva........................................................9 6. Uveítes.................................................................................10 7. Doenças orbitárias...............................................................11 8. As causas mais comuns de perda crônica de visão............14 9. As causas mais comuns de perda súbita de visão..............17 10. Diagnóstico diferencial do olho vermelho............................19 Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 2 → Acuidade visual: Medida da visão: É feita pela campimetria visual (percepção do espaço), teste pseudoisocromático de Ishihara (percepção de cores), teste de acuidade visual (tabelas de optótipos de Snellen, Jagger ou Logmar). Acuidade visual: É a medida da capacidade de perceber formas de imagens observadas. É aferida pela menor imagem que pode ser observada. Para ela funcionar, o olho tem que estar funcionando bem, assim como a retina e o disco óptico. Ela mede a capacidade da pessoa de ver determinado objeto. O ângulo visual: 1 grau é 60 minutos de arco. Mínimo ângulo de resolução (MAR) é igual a 1 minuto de arco. 1 minuto de arco é igual a 1/60 graus. É o tamanho mínimo necessário para que a pessoa consiga enxergar a imagem. 5 minutos de arco é 5/60 graus. Fatores que influenciam na acuidade visual: Doenças oculares/SNC, iluminação, contraste, tamanho da pupila, idade. Medida da acuidade visual de longe: É uma fração. O numerador representa a distância do exame (normalmente 6 metros ou 20 pés) e o denominador representa a distância que a letra produz um ângulo visual de 5 minutos de arco. Exemplo: 20/20 ou 6/6 ou 1 (visão normal); 20/40 ou 6/12 ou 0,5; 20/200, 6/60 ou 0,1. A prática: PROVA!!! Para longe, tampa-se o olho esquerdo em concha inicialmente, sem apertar, coloca-se a tabela a 6 metros e aponta-se de cima para baixo as letras. Mostra-se 5 caracteres por linha, quando o indivíduo acerta metade ou mais da linha prossegue-se para a linha inferior com letras menores, quando erra mais da metade, para o exame. O nível de visão é da linha superior. Exemplo: errou 3 caracteres de 5 em 20/30, então a visão é 20/40. Repete com o outro olho. O normal é ele enxergar até 20/20. Para perto o procedimento é semelhante só que usa a escala de Jaegger. Para perto, em geral é medida pela escala de Jaegger, J1, J2, J3, J4, J5 e J6. As letras de tamanho menor são J1 (semelhantes à de bula de remédios) e vão aumentando progressivamente de tamanho até J6. Não há relação de distância observada e ângulo visual nesta escala que varia de uma tabela para outra. Ela não gera ângulo visual e não tem reprodutibilidade científica. Baixa visão ou visão subnormal no brasil: Acuidade visual entre 0,3 (20/60) e 0,05 (20/400) no melhor olho com a melhor correção visual, equivale a deficiência visual. Cegueira: Cego é aquela pessoa que não enxerga 20/400 no melhor olho e com a melhor correção visual. Visão monocular: Visão em profundidade é diminuída. Não deve operar máquinas de corte ou prensas industriais. Pilotar aviões. Manipular produtos tóxicos ou explosivos. Dirigir caminhões, ônibus ou veículos articulados. Eles têm direito de concorrer a vagas para deficientes. Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 3 → As causas mais comuns de redução visual (ametropias): Emetropia: Consiste na focalização dos raios de luz que penetram no globo ocular na retina. Os objetos visíveis são nítidos para longe e perto. Miopia: Os raios de luz que penetram o olho focalizam na frente da retina. Olho grande ou córnea muito curva são as principais causas. O indivíduo vê melhor para perto e pior para longe, e acaba apertando os olhos para ver de longe. Quanto mais míope, mais perto ele está vendo o objeto. O foco de luz é manipulado pelas lentes prismáticas. As lentes divergentes corrigem a miopia. Ela é negativa, diminuindo o tamanho da imagem. É mais fina no meio e mais grossa na ponta. Elas afastam o foco dos raios de luz para trás até a retina. Você muda a direção dos raios de luz para eles focarem na retina. Para isso, eu mudo a forma do vidro. A imagem vista através desta lente é menor. A lente é definida como um número negativo, exemplo: -1,00 esf. Hipermetropia: Os raios de luz que penetram os olhos focam atrás da retina. Quando o míope fica hipermetrope? Se ele usar uma lente divergente, ou lente maior do que ele precisa, ou diabetes descompensado. As principais causam são olho curto (crianças) ou córnea pouco curva (mais plana). Quando se contrai músculos ciliares intraoculares pode-se focar a luz na retina com esforço visual. A visão é pior para perto do que para a longe, pois contrai mais o músculo ciliar. Se você forçar demais, você começa a ter dor de cabeça (frontal), náuseas. As lentes convergentes corrigem a hipermetropia. Elas aproximam o foco da luz de trás do olho para a retina. Aumentam a imagem da vista através delas. São representadas como +2,00 esf. MIOPIA LENTE DIVERGENTE HIPERMETROPIA LENTE CONVERGENTE Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 4 Astigmatismo: Os raios de luz focam em dois pontos diferentes em relação do olho. As principais causas são córnea com curvaturas diferentes no plano vertical ou horizontal. Causam sensação de imagem dupla ou fantasma e atrapalham a visão para perto e longe. As lentes cilíndricas ou esferocilíndricas permitem a focalização dos dois focos de luz na retina. Causam focalização distinta da luz que entra no olho em diferentes direções. Elas selecionam os raios de luz que entram e mudam a sua curvatura. Um exemplo são os raios horizontais que são focalizados para frente e os verticais não são movidos. Existem vários tipos de astigmatismo. O astigmatismo miópico simples, um ponto está na retina, e outro está antes dela. -1,25 CX 90 graus. Você corrige com uma lente cilíndrica simples. O astigmatismo miópico composto os dois pontos estão antes da retina. -1,00 esf () -2,00 CX 180 graus. Você dá uma lente cilíndrica para o primeiro foco juntar com o segundo, e depois dou 1 grau para ele ficar emétrope. É uma lente esferocilíndrica. Astigmatismo hipermetrópico simples, um ponto est[a na retina e o outro depois dela. + 2,00 esf () – 2,00 CX 170 graus. Astigmatismo hipermetrópico composto os dois pontos estão depois da retina. + 4,50 esf () – 2,00 CX 165 graus. Astigmatismo misto um ponto está antes e o outro depois da retina. ASTIGMATISMO ASTIGMATISMO MIÓPICO SIMPLES ASTIGMATISMO MIÓPICO COMPOSTO ASTIGMATISMO HIPERMETRÓPICO SIMPLES ASTIGMATISMO HIPERMETRÓPICO COMPOSTO ASTIGMATISMO MISTO Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR15 Regras notações do astigmatismo: No astigmatismo miópico simples haverá sempre um número negativo seguido do cilindro. No astigmatismo miópico composto, dois números negativos: um esférico e um cilindro. No astigmatismo hipermetrópico simples: um número esférico + e um número cilíndrico negativo igual ao esférico. No astigmatismo hipermetrópico composto: um número esférico + e um número cilíndrico negativo menor do que o esférico. No astigmatismo misto: um número esférico + menor do que o número do cilindro negativo. Presbiopia: Ocorre após os 40 anos. O paciente tende progressivamente a afastar o material de leitura dos olhos para conseguir focar. Ocorre por uma deficiência da acomodação, não consegue mudar a forma do cristalino para ver de perto. É também chamada de vista cansada. Lentes para corrigir presbiopia: Lente simples para perto: pode ser qualquer grau, contudo ela é sempre maior do que o grau de longe. Exemplo: para longe: OD: +0,50 esf. OE: - 2,00 esf. E para perto: OD: + 2,00 esf. OE: -0,50 esf. Ou para perto: adição de + 1,50 esf. O máximo de adição receitada é em geral + 3,00 esf. Lente bifocal: tem grau para longe na parte de cima e para perto na parte de baixo separados por linha. Lente multifocal: tem grau para longe na parte de cima, grau para distâncias intermediárias no meio e para perto na parte inferior. Distorce a imagem nas laterais. Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 6 → Fundoscopia: Conceitos: Exame realizado para avaliação visual do segmento posterior. Observamos o vítreo, a retina, a coroide e o disco óptico. A cavidade vítrea é o espaço delimitado pela cápsula posterior do cristalino até a retina. É preenchida pelo humor vítreo (cerca de 4 ml), estrutura gelatinosa e transparente. A retina é o tecido composto por neurônios fotorreceptores (cones e bastonetes), neurônios de condução (células bipolares e ganglionares), interneurônios e células gliais de sustentação. A coroide é o tecido conjuntivo frouxo ricamente vascularizado situado entre a retina e a esclera. A malha de capilares (coriocapilar) é fundamental na nutrição das camadas mais profundas da retina. A interface entre a retina e coriocapilar chama-se membrana de Bruch. O disco óptico é a porção visível do nervo óptico que é composta pelos axônios cujos corpos celulares estão localizados na camada de células ganglionares da retina. Indicações da fundoscopia: - Auxílio no diagnóstico de patologias do nervo óptico, vítreo, retina e coroide - Avaliação da porção terminal do leito vascular retiniano, permitindo associação com outros órgãos e sistemas - Avaliação do nervo óptico e sua associação com doenças do SNC - Achados clínicos de doenças infecciosas inflamatórias e de neoplasias sistêmicas Métodos de avaliação: A oftalmoscopia pode ser direta ou indireta. A direta baseia-se no princípio de que os raios provenientes da retina de uma pessoa emétrope serão focalizados na retina de um observador também emétrope. Nós fazemos a avaliação corneana com a luz de cobalto. Pingamos um colírio de fluoresceína. Com ela você pode observar algumas alterações epiteliais, como a ceratite puntiforme e a ceratite herpética. A luz em fenda é utilizada para avaliação da câmara anterior do olho. Outra forma para avaliarmos a CA é através da iluminação perpendicular ao globo ocular com lanterna. Deve-se analisar a sombra que se forma do lado oposto ao iluminado. Teste da lanterna: Teste do reflexo vermelho: Avalia a transparência dos meios oculares, sendo possível a detecção de opacidades corneanas, cristalinianas e vítreas. Teste do olhinho: É um exame rápido e indolor, realizado pelo pediatra para detectar alterações congênitas e permitir o tratamento precoce de catarata, tumores, trauma de parto, hemorragias, infecções, malformações, glaucoma congênito e descolamento de retina. Quando e como fazer? O primeiro exame até 2 semanas após o nascimento. O segundo exame de 6 a 8 semanas. E o terceiro exame aos 6 meses. Fazer na penumbra, distância de 50 cm a 1 Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 7 metro. Os reflexos devem estar presentes e simétricos. Leucocoria é um reflexo anormal ao se direcionar um foco luminoso para os olhos, também chamada de pupila branca. A catarata congênita é uma lesão ocular que provoca alterações no cristalino gerando graus de opacidade que podem levar a cegueira infantil. Técnica de exame: Orientação do paciente, dilatar ou não dilatar (?), baixa iluminação no local do exame, orientar o paciente a fixar a distância todo o tempo, exame primeiro no OD com o OD do examinador, focalização no reflexo vermelho, aproximação, identificação e focalização de uma estrutura no fundo de olho. Roteiro para avaliação: - Nervo óptico - Arcadas vasculares - Retina equatorial e periférica - Polo posterior e mácula Avaliação do disco óptico: Descrição do disco: bordas estão nítidas e bem delimitadas? A rima neural está presente? Possui defeitos localizados? Olhar a coloração, a vascularização, a presença de hemorragias, e olhar a escavação, que é a fração de espaço pelo todo. Escavação é a porção do disco sem rima neural. Na avaliação vascular, lembrar da proporção arteriovenosa de 2:3 (2 artéria e 3 veia). Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 8 → Retinopatia diabética: Fatores de risco: - Tempo do diagnóstico - Controle irregular da glicemia - HAS e doença cardiovascular - Dislipidemia - Nefropatia diabética É a complicação mais comum do diabetes. DM tipo I há 15 anos, 90% terá retinopatia diabética. E DM tipo II há 15 anos, 58 a 85% terá. Obs.: As primeiras alterações retinianas ocorrem com 5 anos do início da doença. Patogenia: Espessamento da membrana basal, perda dos periquitos endoteliais e aumento da agregação plaquetária. Começa a haver necrose na retina, edema macular, microaneurismas, hemorragias devido a esses aneurismas, etc. Proteína VEGF (PROVA!!!): É o fator de crescimento vascular derivado do endotélio. Essa proteína cria neovasos. Porém, na retinopatia diabética essa proteína está muito estimulada, pois devido a necrose, não está chegando muito sangue. Exsudato duro X exsudato algodonoso: o duro é por perda dos periquitos e o algodonoso é devido a necrose. Edema macular: É quando possui líquido e exsudato na mácula. Classificação: Ausência de retinopatia diabética, retinopatia diabética não-proliferativa (as alterações são mais brandas) e retinopatia diabética proliferativa (quando tem a formação de neovasos). Retinopatia diabética não-proliferativa: O tratamento do edema macular é feito através do controle da glicemia, fotocoagulação focal ou em barreira (laser), triancinolona intravenosa, implante intra-vítreo de dexametasona ou anti-angiogênicos intra-vítreos (bloqueia a VEGF). Retinopatia diabética proliferativa: Há a formação de neovasos, possui um edema difuso e hemorragia. O tratamento é através do controle da glicemia, fotocoagulação retiniana difusa, anti-angiogênicos intra-vítreos e vitrectomia via pars plana. Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 9→ Retinopatia hipertensiva: Conceito: Nós definimos a HAS como a PA sistólica > 140 mmHg e a diastólica > 90 mmHg. Nós vemos o cruzamento patológico, um estreitamento arteriolar, exsudato duro, exsudato algodonoso, hemorragias retilíneas, oclusões venosas, etc. A artéria faz uma vasoconstrição arteriolar e há alteração da proporção arteriovenosa. Exames complementares: Os exames que vão nos auxiliar no diagnóstico são a avaliação sistêmica com um cardiologista, um nefrologista e um neurologista, a retinografia, uma angiotomografia fluoresceínica e uma tomografia de coerência óptica. A análise retiniana é o exame mais sensível para detectar lesões em órgão-alvo. Tratamento: O tratamento é feito com normalização gradual e progressiva da pressão arterial, fotocoagulação retiniana para o edema macular e ou neovascularização, triancinolona intra-vítrea, anti-angiogênico intravítreo. Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 10 → Uveítes: Trato uveal: É composto pela íris, pelo corpo ciliar e pela coroide. 70% da circulação ocular está na coroide, ele possui alto fluxo sanguíneo. A fóvea só é vascularizada pela coroide, é a área nobre. Quais são as funções do trato uveal? Controle da luminosidade, acomodação (feita pelo trato ciliar), papel na redução da pressão intraocular, produção de pigmentos, nutrição (da retina no 1/3 externo e no segmento anterior), dissipação do calor no processo visual. Classificação: Pode ser classificada quanto a sua anatomia em anterior (íris), intermediária (corpo ciliar), posterior (coróide) e difusas. Quanto a seu aspecto clínico em granulomatosas (formam granulomas, como na tuberculose) e não-granulomatosas. Quanto ao curso clínico em aguda (até 3 meses de evolução) ou crônica, e quanto a etiologia em exógenas (relacionado a alguma bactéria) e endógenas (LES). Uveítes anteriores: A inflamação pode ocorrer na íris e ou porção anterior do corpo ciliar (irites ou iridociclites). As causas são: inespecífica, na maioria das vezes, mas podem ser iridociclite heterocrômica de Fuchs, espondilite anquilosante e artrite reumatoide juvenil. A clínica aguda é baixa da acuidade visual, dor, fotofobia, hiperemia, Flare (proteínas) e células inflamatórias (bolinhas brancas na câmara anterior). Já no quadro crônico temos precipitados ceráticos (PK`s), sinéquias anterior e posterior, catarata e glaucoma. O tratamento é através de midriáticos e cicloplégicos tópicos, que vão paralisar o músculo ciliar e evitam a formação e tratam as sinéquias. Podem ser associados os corticoides, pois diminuem a reação inflamatória. São em forma de colírios. Uveítes posteriores: São inflamações que ocorrem na retina e coroide com apresentação focal ou multifocal. As principais causas são toxoplasmose, SIDA e toxocaríase (verminose). A toxoplasmose acomete mais de 500 milhões de pessoas no mundo. Ela é mais comum na primeira e na segunda década de vida, e geralmente dá unilateral. É uma infecção causada pelo protozoário intracelular Toxoplasma gondii. A via de transmissão é por ingestão de cistos teciduais, mais comumente, e transplacentária. O acometimento ocular se dá principalmente por via sanguínea, através da forma livre ou em leucócitos circulantes. A forma mais comum de acometimento ocular é causada pela recorrência da infecção congênita. A clínica da toxoplasmose é baixa acuidade visual, iridociclite e PK`s (grosseiros), vitreíte/moscas volantes, foco inflamatório retiniano (branco-amarelado, podendo vir com hiperpigmentação associada, dá o diagnóstico de uveíte posterior), vasculite e papilite. Você pode lançar mão de exames complementares para ajudar no diagnóstico, como sorologia para anticorpos anti-toxoplasmose IgM/IgG, mapeamento de retina, retinografia e angiografia fluoresceínica, ultrassonografia ocular. O tratamento não existe, não há como você erradicar a infecção, mas elas permanecem latentes. Você vai então tratar a infecção ativa evitando danos e sequelas aos tecidos oculares, reduzir o processo inflamatório e evitar a disseminação sistêmica a partir do globo ocular em imunossuprimidos. O tratamento específico então baseia-se no composto com pirimetamina + sulfadiazina, e uma terapia adjunta com ácido folínico e corticoide. Se o paciente for alérgico a sulfas você faz clindamicina. E se for uma grávida você faz espiramicina. Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 11 → Doenças orbitárias: Anatomia: A cavidade óssea da órbita é formada por 4 paredes em forma de pêra e o pedículo é o canal óptico. A parede medial é a cavidade mais fina. Possui um volume com cerca de 30 cm3. O conteúdo dessa caixa é gordura, o globo ocular, vasos, nervos, músculos e glândula lacrimal. A órbita tem relação com o osso frontal, o seio esfenoidal e o osso maxilar. Ectoscopia: Devemos observar os supercílios, cílios, pálpebras (se estão em posição normal, que é a 2mm do limbo superior), a carúncula (não tem função) e o óstio da glândula lacrimal (onde a lágrima é drenada). Propedêutica: É importante saber a história desse paciente, que normalmente é uma história de dor, devido a alguma inflamação ou infecção. E pode ter uma progressão aguda ou crônica (tumores). Na inspeção devemos olhar se há deslocamento do globo ocular, que pode ser anteroposterior ou distopia. Quando ela é anteroposterior podemos chamar de proptose ou exoftalmia, quando estão saltados para fora; e enoftalmia, quando estão retraídos. E nas distopias, que podem ser horizontais e/ou verticais. A melhor posição para se examinar um paciente é com ele deitado e o médico examinando ele de cima. Exoftamometria é um exame onde se mede a posição anteroposterior do globo ocular, que é da borda orbitária lateral até a superfície anterior da córnea. Mede o quanto esse globo ocular está deslocado. O normal é ser entre 15 a 16mm, e dizemos que está assimétrico quando estiver com uma assimetria maior que 2mm. Na palpação, devemos sentir as regiões do rebordo ósseo (ver se tem fraturas, crepitações), se há massas, se há enfisema cutâneo (devido a alguma comunicação com os seios da face), se há alguma pulsação (devido a fístulas), frêmitos... E também auscultar o globo ocular e o osso mastoide a procura desses sinais. Exames de imagem: O exame padrão-ouro para o diagnóstico é a tomografia computadorizada. Ela é solicitada em qualquer suspeita de doença orbitária e avalia o contorno, a localização, a extensão e as características da lesão. Celulite: É o acometimento por continuidade de processos sinusais e faciais, podendo ser causada por uma sinusite bacteriana, infecção dentária ou pele, trauma orbitário, entre outras. Os agentes infecciosos principais responsáveis por esse quadro são S. Pneumoniae, S. Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 12 Aureus, S. Pyogenes, H. Influenzae, no grupo das bactérias, podendo também ser causada por fungos em indivíduos imunossuprimidos ou por parasitos, sendo esse quadro mais raro. A celulite bacteriana é uma das causas mais frequentes de órbita aguda, que é o tipo mais comum na infância e na adolescência. Classificação: Pode ser classificada em pré e pós-septal. O septo separa a parte anterior da órbita da parte posterior. É uma fáscia que liga o tarso ao periósteo do rebordo orbitário. O que estiver inflamado antes do septo é pré-septal, e o que estiver depoisé pós-septal. Celulite pré-septal: É a inflamação do tecido subcutâneo anterior, não acometendo o compartimento orbitário. O paciente possui uma clínica de edema palpebral, hiperemia, inflamação, quemose e a movimentação ocular é preservada. O tratamento é feito com antibiótico via oral. Em crianças utilizamos cefalexina ou ampicilina, e em adultos podemos utilizar ampicilina + sulbactran ou sulfametoxasol + trimetropina ou clindamicina. As crianças nós temos que acompanhar, ver todo dia, já os adultos temos que ver de 48 em 48 horas, pois a celulite pode complicar. Celulite pós-septal (orbitária): Envolve estruturas posteriores ao septo. O paciente possui uma clínica de dor, edema, quemose (edema da conjuntiva), hiperemia palpebrais, febre, astenia, proptose/distopia ocular, redução da acuidade visual, diplopia e diminuição da mobilidade ocular com dor. A tomografia computadorizada é o exame principal para o diagnóstico. Alguns achados são comuns como abscesso subperiósteo, abscesso orbitário ou celulite difusa. Podemos abrir mão também de exames laboratoriais, como hemograma, glicemia e função renal. Trata-se de uma infecção grave, logo o tratamento é feito com internação hospitalar e antibiótico IV com oxacilina 2g de 6 em 6 horas + ceftriaxona 2g de 12 em 12 horas. Ela por ser um quadro mais grave pode gerar complicações, como trombose de seio cavernoso, abscessos cerebrais, meningite e até mesmo a morte. Orbitopatia de graves: É uma doença inflamatória autoimune orbitária. É a principal e mais frequente causa de proptose e retração palpebral em adultos. 90% delas está associada a disfunção tireoidiana autoimune (hipertireoidismo ou doença de graves). Aproximadamente 50% dos pacientes com hipertireoidismo não apresentam manifestações oculares. Antigamente foi descrita uma tríade para a doença, que se caracterizava por exoftalmia, hipertireoidismo e mixedema pré-tibial. Pode ocorrer na doença de Hashimoto ou sem alteração tireoidiana. E é sempre bom lembrar que o curso da doença ocular não precisa ser paralelo a atividade da tireoide. A patogênese é devido a uma reação autoimune órgão-específica, ou seja, há a produção de autoanticorpos contra o receptor do hormônio estimulador da tireoide. Há indução da produção autônoma e descontrolada dos hormônios tireoidianos. Com isso, gera inflamação dos músculos extra-oculares e infiltração celular inflamatória. Manifestações clínicas: acometimento lento e insidioso, bilateralidade assimétrica, retração palpebral associada a proptose, estrabismo restritivo ou neuropatia óptica, sinal de Dalrymple (retração palpebral superior – ocorre em 90% dos casos), proptose ou exoftalmo (ocorre em 60% dos casos, é um aumento do tecido muscular e adiposo). Vai dar diplopia pois um olho está com restrição de movimento, não consegue mexer. Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 13 O tratamento na fase aguda é feito com lubrificante ocular, pois aquele olho está muito exposto, fica muito hiperemiado; imunossupressor passado pelo endocrinologista; prednisona 1mg/kg/dia, fazendo uma redução lenta. Já na fase sequelar a gente utiliza o tratamento cirúrgico, podendo ser feita uma retração palpebral, proptose ou um estrabismo restritivo (não tem mais espaço para o olho se movimentar). Importante saber que tem casos que a cirurgia é urgente, como em casos de neuropatia óptica ou descompensação corneana pela prótese. Fraturas orbitárias: É qualquer descontinuidade óssea patológica que ocorre subitamente no esqueleto orbitário. O diagnóstico você faz quando o paciente tem histórico de trauma, pela inspeção e pela palpação, pela medida da acuidade visual e pelo exame dos reflexos pupilares, avaliação da motilidade ocular, pela biomicroscopia e pela fundoscopia. Lembrar que você pode pedir tomografia computadorizada (padrão-ouro) e ressonância magnética quando tiver alterações finas de partes moles (tomar cuidado ao fazer quando tiver suspeita de corpo estranho metálico). Essas fraturas podem ser internas, como o Blow-out. A interna é quando o rebordo não é acometido. A fratura blow-out é quando tem um defeito de cerca de 2cm de diâmetro limitado a uma só parede, que é a porção anteromedial do assoalho da órbita. Há uma abertura óssea de dentro para fora. A clínica nós temos uma diplopia com limitação vertical e enoftalmia. Já a blow-in é quando houve uma fratura de fora para dentro. Um fragmento ósseo é deslocado para o interior da órbita. E elas podem ser associadas, quando o rebordo é acometido. Dentre elas, as orbitozigomáticas são as mais frequentes e o fragmento ósseo pode estar alinhado, deslocado ou cominuído. Classificação LeFort: LeFort II é quando há uma fratura triangular do terço médio da face, a órbita é fraturada em parede medial e assoalho. Já o LeFort III há uma disjunção craniofacial em uma linha horizontal separando os ossos da face dos ossos do crânio. Há uma fratura nas paredes laterais da órbita, passando o traço de fratura através das paredes mediais, sendo assim provoca o desabamento dos dois assoalhos em bloco. O tratamento depende do tipo de fratura e do grau de mobilidade gerado. Se tiver neuropatia óptica traumática tratamos com corticoterapia em megadoses até 8 horas do trauma. Se não tiver sinal de compressão neural, o tratamento pode ser cirúrgico. Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 14 → As causas mais comuns de perda crônica de visão: Introdução: No mundo são 39 milhões de cegos, e só no Brasil são 1,2 milhões. Existem algumas condições debilitantes no idoso, como quedas, atropelamentos, uso trocado de medicamentos, depressão pela baixa visual, entre outros. As principais causas de baixa visual e cegueira que estudaremos são as cataratas, os erros refrativos, o glaucoma e o DMRI (doença macular relacionada ao idoso). Catarata: É a principal causa de cegueira, é reversível. Sua prevalência aumenta a cada ano. A OMS prevê que em 2020 existam 40 milhões de pessoas acometidas. Ela é qualquer tipo de perda de transparência do cristalino, congênita ou adquirida, independente de causar prejuízos à visão. É o envelhecimento do cristalino. O cristalino é uma lente biconvexa, elástica e transparente, que possui um poder refrativo e de acomodação. Saco capsular envolve o cristalino. Zônula é a estrutura que prende o cristalino e faz a acomodação. Classificação: Pode ser congênita (paciente nasceu com ela), no caso de infecções, ou adquirida, entre elas a senilidade, doenças sistêmicas, doenças oculares ou trauma ocular. Catarata senil: Ocorre a esclerose do cristalino bilateralmente e não concomitante. Ocorre em indivíduos maiores que 60 anos e acomete ambos os sexos. Essa perda da transparência se dá devido a exposição a radiações UV, pois há a produção de cromóforos (triptofano), há uma modificação química das proteínas estruturais, há queda da atividade enzimática e esclerose por compressão e enrijecimento das fibras. Os fatores de risco são os hábitos nutricionais, a genética, radiação UV (A e B), tabagismo e idade. Classificação das opacidades: Quando ela acomete a região anterior chamamos de cortical, quando acomete o centro, chamamos de nuclear e quando acomete a região posterior chamamos de subcapsular posterior. Sintomas: Ocorre a diminuição progressiva da visão, o embaçamento e distorção dos objetos, o paciente vê uma nuvem na frente da visão, e possui dificuldade de enxergar contra a luz. Os raios de luz quando temos uma catarata são fragmentados ao passarpelo cristalino (que está opaco), formando essas imagens. O paciente não melhora mesmo com óculos Diagnóstico: É feito com uma boa anamnese, fazendo a acuidade visual do paciente, e outros exames como a biomicroscopia (sob midríase, o paciente estará dilatado), fundoscopia (também sob midríase) e PAM (potencial de acuidade visual ou buraco estenopeico, tem uma ideia se o paciente vai melhorar ou não). Tratamento: É cirúrgico através da colocação de lentes intraoculares. Você faz a facectomia com implante de lente intraocular! PROVA!! Quando tiver uma catarata dura você faz a técnica extracapsular ou quando tenho complicações, onde você faz uma incisão de mais ou menos 180 graus, tira o cristalino todo e depois dá ponto. Mas tem outra técnica que é a Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 15 elétrica, chamada facoemulsificação, você vem com uma “caneta” onde você faz apenas uma incisão, não precisa dar ponto e a recuperação é melhor. Glaucoma: É a segunda causa de cegueira no mundo e a principal causa de cegueira irreversível. Sua prevalência é em indivíduos maiores que 40 anos de 1 a 2%. Ele é uma doença neurodegenerativa de etiologia multifatorial compreendendo inúmeras afecções oculares que tem como características em comum a lesão progressiva do nervo óptico. Importante saber que a pressão intraocular elevada é um fator de risco para o desenvolvimento de glaucoma. Patogenia: Na região do corpo ciliar há a produção do humor aquoso que dá a nutrição. Se eu tenho alguma alteração que prejudique a drenagem do humor aquoso, eu aumento a PIO que danifica o nervo óptico. Tipos: Pode ser primário como o de ângulo aberto (GPAA) e o de ângulo fechado (GPAF), ou secundário como o corticogênico, pseudoesfoliativo, pigmentar, alterações da retina, hemorragia ocular, tumores oculares, hipertensão venosa episcleral, alterações do cristalino, alterações do endotélio corneano e trauma. Fatores de risco: Para o glaucoma de ângulo aberto temos a PIC elevada, idade maior que 40 anos, raça negra, história familiar, espessura corneana central, miopia elevada, entre outros. Já para os de ângulo fechado nós temos idade maior que 50 anos, sexo feminino, ascendência oriental, história familiar, câmara rasa, ângulo estreito, comprimento axial menor que a média, cristalino volumoso, etc. Sinais e sintomas: O glaucoma de ângulo aberto não é identificado uma causa ocular ou sistêmica que contribua para a obstrução do fluxo do humor aquoso. Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 16 Diagnóstico: Feito através da medida da pressão intraocular (PIO) que deverá estar entre 10 e 21 mmHg. Pode ser feito através da gonioscopia, você observa o aspecto do seio camerular. Podemos dar o diagnóstico através do aspecto do nervo óptico observando a escavação (o normal é estar em 0.3). Os pacientes também apresentam alterações no campo visual. Tratamento: A PIO é o único parâmetro alterado pela medicação! Tratamos com medicamentos, como os betabloqueadores, alfa-adrenérgicos, inibidores da anidrase carbônica e prostaglandinas. Podemos fazer o tratamento com laser, chamado de trabeculoplastia e tem o tratamento cirúrgico, que são as cirurgias fistulizantes. Em caso de glaucoma corticogênico há uma indução típica que pode ser tópica, periocular, intraocular ou oral. Pode ocorrer em qualquer tipo de administração. A PIO desse paciente se eleva em poucas semanas. O tratamento é descontinuar o uso, se for em forma aguda a PIO reduz em dias, mas se for em uma forma mais crônica, ela reduz em até um mês. DMRI: É a doença macular relacionada a idade. É a principal causa de cegueira legal em pacientes com mais de 50 anos no ocidente. Os fatores de risco são idade, raça branca, tabagismo, obesidade, HAS, exposição excessiva a luz solar, íris clara, etc. Ela pode ser seca ou exudativa. Patogenia: Ocorrem as drusas, que são excrescências das células da retina. E elas podem ser duras ou moles. Quando elas são duras, elas são amareladas, puntiformes e bem definidas. E quando são moles, são branco-amareladas e com bordas mal-definidas. Sintomas: Há perda da visão central, metamorfopsia (perda da visão em linha reta, ele vê distorção no que for reto). Diagnóstico: Fazemos através da grade de Amsler, que serve tanto para o diagnóstico quanto para o monitoramento. Você dá um papel quadriculado para o paciente com um ponto preto central, quem tem DMRI vê o ponto preto maior e as linhas em volta estão distorcidas. Você pede para ele desenhar o que ele está vendo e é exatamente isso que ele desenha. Podemos fazer a fundoscopia, angiografia fluoresceínica e uma tomografia de coerência óptica (OCT). DMRI seca: É responsável por 90% dos casos, e 20% deles são de cegueira legal. Possui como características as drusas (sinal clínico mais característico), elas podem ser duras ou moles. Ocorre atrofia geográfica e hiperpigmentação do EPR. O tratamento é evitar a progressão da doença para forma neovascular e com vitaminas e antioxidantes orais e parar de fumar para os tabagistas. DMRI exudativa: Corresponde a 10% dos casos e 80% deles são de cegueira legal. Possui como característica o crescimento de neovasos da coroide entre as camadas da retina e possui uma cicatriz disciforme. O tratamento é feito com fotocoagulação a laser para reduzir a taxa de progressão para perda visual grave ou terapia antiangiogênica para melhora da acuidade visual (através do bloqueio do VEGF). Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 17 → As causas mais comuns de perda súbita de visão: Tratamento do hifema: Quando ele for parcial, cicloplegia com atropina a 0.5% - 1 gota ao dia; cilodex (colírio) – 1 gota por dia de 4/4 horas por 10 dias; timolol a 0.5% (colírio) – 1 gota de 12/12 horas; evitar esforços físicos e acompanhamento diário e redução da dose com melhora evolutiva. Quando for total, tratamos com manitol a 20% (250ml) – 60 gotas EV/min, e podemos fazer a cirurgia para extração do hifema. Queimaduras químicas: É uma emergência ocular que ameaça perda visual irreversível. A irrigação imediata é essencial. Tratamento de queda de corpo estranho sobre a córnea: Deve-se fazer a remoção do corpo estranho com anestesia tópica e agulha na lâmpada de fenda. Devemos também fazer a oclusão ocular com Epitezan ou Regencel pomade oftálmica por 24 horas e reavaliação a seguir. Nós fazemos o diagnóstico avaliando o risco na anamnese, a câmara anterior rasa, a pupila está descentrada, o olho hipotônico e a íris com orifício. Isso se for evidente, mas os sinais podem ser ocultos. Devemos suspeitar de um globo ocular rompido se houver trauma ocular contuso grave, objeto ponteagudo entrando em contato com o olho, martelando metal com metal. Nesses casos avaliamos os sinais de mau-prognóstico, como perfuração, corpo estranho intraocular (CEIO), fenda maior que 10 mm, hemorragia vítrea, lacerações posteriores ao músculo reto e descolamento de retina. Cuidados iniciais: Não manipular excessivamente, não limpar, dieta zero, antibioticoterapia sistêmica, antiemético sistêmico, protetor ocular e analgésico sistêmico. Queimaduras químicas – conduta inicial: Instile anestésico tópico, procurar e remover os corpos estranhos, instituir uma irrigação copiosa. O tratamento, se a queimadura tiver sido feita por solda elétrica, é examinar com instilação de anestésico tópico, e a oclusão ocular com epitezan (pomada oftalmológica) por 24 horas.E se a queimadura for por substâncias químicas, faz-se a lavagem abundante com pelo menos um frasco de soro fisiológico, ciloxan (colírio) – 1 gota de 4/4 horas, maxidex (colírio) – 1 gota de 4/4 horas por 10 dias, cicloplegia, lacrima-plus (colírio) – 1 gota de 4/4 horas e reduzir se houver melhora do quadro. Tratamento: Se ocorrer no segmento anterior fazemos uma sutura de córnea e esclera com redução ou ressecção de hérnia de íris sob anestesia geral, mas já se for no segmento posterior podemos fazer uma vitrectomia imediata (endoftalmite, CEIO de cobre ou matéria orgânica, descolamento de retina), ou a vitrectomia em 10 a 14 dias – ferimentos penetrantes com hemorragia vítrea. Inflamação corneana ou infecção: O paciente tem dor, sensação de corpo estranho, visão reduzida, infiltração corneana. Conduta e tratamento de ceratites bacterianas: Cultura e antibiograma da úlcera com raspado da lesão, ofloxacina – 1 gota de 1 em 1 hora com redução gradual à medida que há Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 18 melhora do quadro, atropina a 0,5% - 1 gota de 12 em 12 horas com redução gradual e observação diária para ver a melhora. Endoftalmite: Para o tratamento da endoftalmite, o principal é a injeção intravítrea de vancomicina e ceftazidime caso a visão esteja maior do que percepção luminosa (PL), ou a vitrectomia se a visão estiver pior ou igual a PL. Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 19 → Diagnóstico diferencial do olho vermelho: Blefarite anterior: É a inflamação das margens palpebrais. Acomete principalmente os cílios. Pode ser causada principalmente pelo S aureus e S epidermidis e possui caráter bilateral e simétrico. O paciente possui a sensação de corpo estranho no olho (areia nos olhos), prurido, há a presença de crostas nas pálpebras e hiperemia conjuntival. Blefarite posterior (meibomite): É a disfunção da glândula meibomiana. A margem palpebral vermelha e os orifícios das glândulas se enchem com secreção oleosa ou espessa. As glândulas, que são mais puntiformes, ficam mais túrgidas, e se espremer sai uma secreção gordurosa. O tratamento das blefarites é feio com um tratamento inicial, englobando a higiene palpebral e compressas mornas (tornar a gordura mais fácil de ser drenada). Em casos crônicos podemos lançar mão de antibiótico (polimixina B ou bacitracina) + corticoide tópico (dexametasona) em pomada. Nas recidivas (principalmente da posterior) usamos antibiótico oral (posterior) para controle da produção de ácidos graxos, ou podemos usar doxiciclina 100 mg (2x/dia por 15 dias + 1x/dia por 15 dias). Hordéolo: PROVA PRÁTICA!!! É uma infecção aguda de uma glândula meibomiana na qual ocorre a formação de abscesso no interior do tarso. O quadro clínico é de hiperemia conjuntival e palpebral, discreta secreção mucopurulenta e um nódulo palpebral doloroso, quente e hiperemiado. Possui sinais flogísticos. O diagnóstico é clínico. O tratamento, em casos leves, possui regressão espontânea. Porém em casos intensos podemos utilizar compressas mornas e fazer antibióticoterapia + corticoide pomada (ciprofloxacino + dexametasona) 3x ao dia de 7 a 10 dias. Calázio: É uma lesão inflamatória crônica de uma glândula meibomiana na qual ocorreu a formação de um granuloma no interior do tarso. Surge como uma evolução de um hordéolo. O quadro clínico apresentado pelo paciente é de um nódulo palpebral endurecido e indolor. O tratamento é feito, inicialmente, com compressas, e em casos crônicos com exérese cirúrgica. Conjuntiva: É a membrana modificada que recobre a superfície interna das pálpebras (tarsal) e o globo até a margem corneana (bulbar). A conjuntiva é constituída por um epitélio escamoso estratificado não queratinizado, células caliciformes e por glândulas lacrimais acessórias (Krause e wolfring). A conjuntiva bulbar recobre o globo ocular e a conjuntiva tarsal recobre o tarso. Ela é extremamente vascularizada e possui um processo de regeneração rápido. Além disso, possui células germinativas limbares (córnea e conjuntiva). As alterações patológicas da conjuntiva podem ser resultado de diversas doenças. Os achados são raramente patognomônicos. O diagnóstico é feito pela história e exames dos tecidos adjacentes. Reação folicular X reação papilar: A reação folicular é pelos folículos, que são agregados de tecido linfoide dentro do estroma superficial da conjuntiva. É mais comum encontrarmos no fórnice posterior. Já as papilas são estruturas sobrelevadas vasculares separadas por áreas pálidas, resultado de edema e infiltração de polimorfonucleares. São mais encontradas no tarso. Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 20 Pseudomembrana X membrana: A pseudomembrana é um exsudato protéico e coágulo de fibrina frouxamente aderido ao epitélio conjuntival inflamado. Já as membranas se infiltram nas camadas superficiais do epitélio. A tentativa de retirada geralmente causa laceração do epitélio e sangramento. Ps.: Simbléfaro é tipo uma fibrose, é uma resposta da conjuntiva a um processo infeccioso. Conjuntivite viral: É a infecção ocular externa mais comum. Pode ser transmitida por via respiratória ou secreções oculares. O principal vírus envolvido é o adenovírus. Os sintomas são lacrimejamento unilateral, fotofobia e acometimento do olho contra-lateral em 1 a 2 dias, porém com menor intensidade. Os sinais são hiperemia, edema palpebral e linfadenopatia pré- auricular sensível, folículos, pseudomembranas. O tratamento é feito com lágrimas artificiais e compressa gelada. Também podem ser utilizados corticoesteróides tópicos nas membranosas. Conjuntivite bacteriana: PROVA!!! É uma causa relativamente incomum, a viral é mais frequente. É uma infecção, por contato direto com o indivíduo infectado, os microorganismos geralmente são da própria conjuntiva ou são de vias aéreas superiores. Geralmente é autolimitada, com exceção das causadas pelo N meningitidis e N gonorrhoeae. Os agentes causadores mais comuns são o streptococcus pneumoniae, staphylococcus aureus, moraxella sp, haemophilus sp e staphylococcus coagulase negativo. Os sintomas apresentados pelo paciente são de sensação de corpo estranho, secreção (as pálpebras estão coladas ao acordar), e geralmente é bilateral. Pode haver também injeção conjuntival difusa, reação papilar intensa e uma secreção mucopurulenta. Ela não demanda exames laboratoriais na maioria dos casos, apenas nos casos de conjuntivite neonatal ou caso não haja resposta ao tratamento. O tratamento é empírico com antibioticoterapia de amplo espectro como tobramicina e fluoroquinolonas, 1 gota de 4 a 6 vezes ao dia durante 10 a 14 dias. O tratamento sistêmico nos casos de conjuntivite por Haemophilus em crianças possui alto risco de infecção sistêmica, é feito com ampicilina 50 a 100 mg/kg/dia. Os agentes mais frequentes são: Chlamydia trachomatis, streptococcus viridans, staphylococcus aureus, Haemophilus influenzae, streptococcus do grupo D, moraxella catarrhalis, E coli e neisseria gonorrhoeae. Importante não começar de cara com o antibiótico mais moderno! A conjuntivite neonatal por chlamydia trachomatis não há reação papilar/folicular devido a imaturidade linfocitária. O aparecimento é entre 5 e 15 dias de vida e possui um quadro clínico de edema palpebral, secreção mucopurulenta em pequena quantidadee formação de pseudomembranas. O tratamento é feito com eritromicina xarope 50 mg/kg/dia dividido em 4 vezes ao dia por 4 dias. Há o risco de pneumonia associada. E pode fazer eritromicina (pomada oftálmica) como tratamento adjuvante, além de limpeza local e compressas frias. Já a conjuntivite neonatal por neisseria gonorrhoeae possui apresentação entre 2 a 5 dias de vida e possui um quadro clínico de edema palpebral, secreção mucopurulenta em grande quantidade e quemose. Faz-se profilaxia com nitrato de prata a 1% (Credé). E o tratamento é feito com ceftriaxona dose única 50 mg/kg intramuscular, ou cefotaxima EV 25 mg/kg de 8 em 8 horas por 7 dias, ou penicilina G intravenosa 100.000 unidades/kg/dia durante 1 semana, ou através de uma pomada com eritromicina (tratamento adjuvante). Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 21 Conjuntivite alérgica: Ocorre por reação de hipersensibilidade tipo I. Há surtos transitórios e agudos de hiperemia, lacrimejamento e prurido, associado a espirros e coriza. Possuímos sinais como edema palpebral, quemose e papilas (?). Pterígio: É o crescimento fibrovascular subepitelial e triangular de tecido conjuntival degenerativo que atravessa o limbo e invade a córnea. Os fatores de risco são exposição aos raios UV e possui prevalência em regiões equatoriais em torno de 22,5%. Possui quadro clínico de hiperemia recorrente, sensação de corpo estranho, ardência, astigmatismo irregular, diminuição de acuidade visual (a depender do tamanho). Pode ser classificada em tipo I quando avança sobre a córnea menos que 2 mm; tipo II quando estende-se pela córnea entre 2 a 4 mm, e tipo III quando atinge a zona óptica (mais que 4 mm). O tratamento da tipo I é feito com compressas frias, lubrificação ocular, vasoconstritores tópicos e corticoide tópico (períodos curtos). Já para os tipos II e III, quando há razões cosméticas ou diminuição da acuidade visual, podemos fazer com exérese + transplante autólogo de conjuntiva. E a recidiva é frequente em casos jovens, na maioria. Episclerite: A episclera é um denso tecido conjuntivo vascularizado que se situa entre o estroma superficial da esclera e a cápsula de Tenon. Possui uma apresentação súbita, podendo ser bilateral. Os sintomas são de queimação, pontada e desconforto, e sinais como hiperemia difusa. Pode estar associada a doenças sistêmicas, como artropatias soronegativas e vasculites. O tratamento é feito, em caso de um primeiro ataque, com lubrificações, compressas frias e corticoide tópico. Já quando os ataques são recorrentes, utilizamos AINE sistêmico. Esclerite: É o edema e infiltrado de células inflamatórias em toda a espessura da esclera. É menos frequentes que episclerites, porém mais comum em mulheres, e possui associações com doenças sistêmicas. O paciente sente dor e pode deixar sequelas. Pode ser dividida em tipos: anterior não necrosante (difusa ou nodular – associação com herpes zoster oftálmico), anterior necrosante (um trauma de pequena intensidade pode romper espontaneamente), escleromalácia perfurante e posterior. Fechamento angular agudo: Possui sintomas como dor ocular intensa, cefaleia hemicraniana e ipsilateral, visão turva, visão de halos coloridos, náuseas e vômitos. E possui sinais como PIO elevada (maior que 40 mmHg), redução da AV, edema de córnea epitelial, midríase média paralítica, CA rasa, abaulamento periférico da íris (bombée), fechamento angular, hiperemia conjuntival com injeção ciliar e Tyndall inflamatório e/ou pigmentar. Os fatores de risco podem ser demográficos ou oculares. Os demográficos são idade maior que 50 anos, sexo feminino, ascendência oriental e história familiar. Já os oculares são câmara rasa, ângulo estreito, redução do comprimento axial, redução do diâmetro corneano, aumento da curvatura corneana, hipermetropia e cristalino volumoso. Para dar o diagnóstico podemos fazer o teste da lanterna, onde visualizaremos o sinal do eclipse, e a tonometria bidigital. O tratamento é feito com agentes hiperosmóticos, podendo ser com manitol 20% (1,5 a 2g/kg de peso) a 80 a 100 gotas/min, ou glicerina 50% gelada via oral (1,5g/kg de peso). Usamos também acetazolamida 250 mg VO de 6 em 6 horas (dose de ataque de 500 mg), pilocarpina 2% (1 gota de 15/15 min por 3x, depois de 1/1h por 3x, depois de 6/6 horas), Daniele Longo APOSTILA DE OFTALMOLOGIA – PR1 22 maleato de timolol 0,5% de 12/12 horas, tartarato de brimonidina 0,2% nas primeiras 24 horas, depressão central da córnea e paracentese de câmara anterior. Corpo estranho metálico: O tratamento é a remoção com agulha hipodérmica na lâmpada de fenda e com antibiótico tópico pomada + cicloplegia + oclusão. Sempre quando houver abrasões lineares, devemos fazer a eversão da pálpebra superior e avaliar a conjuntiva tarsal. A profilaxia é o uso correto dos EPI.
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