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APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 Daniele B. Longo M7 – 2018.1 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – CAMPUS JOÃO UCHÔA Medicina Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 1 → Sumário: 1. Terminologia básica em lesões músculo-esqueléticas.....................................2 2. Métodos diagnósticos em ortopedia e traumatologia........................................5 3. Fraturas abertas................................................................................................7 4. Principais fraturas do membro superior...........................................................11 5. Principais fraturas do membro inferior.............................................................13 6. Lesões traumáticas da coluna vertebral..........................................................15 7. Infecções graves osteoarticulares...................................................................19 8. Tumores ósseos..............................................................................................21 9. Imobilizações...................................................................................................23 Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 2 → Terminologia básica em lesões músculo-esqueléticas: Contusão: É uma lesão produzida por trauma direto (pancada), consequente a impacto causado por objeto contundente (não cortante). O paciente sente dor, edema (aumento de volume local) e rubor ou equimose. Entorse: É uma lesão ligamentar provocada por movimento anormal que solicita as fibras do ligamento além das suas cargas fisiológicas. O ligamento é forçado além de sua capacidade. Paciente relata dor, edema e deformidade (pode ocorrer em casos de ruptura total). Estiramento: É uma lesão muscular causada pela contração rápida e muito vigorosa do músculo, tipo uma câimbra. Pode ser também por um movimento anormal, além do limite fisiológico, do arco de movimento. Paciente sente dor, edema e tem deformidade (uma depressão local). Luxação: É quando ocorre perda da congruência articular. Pode ser por trauma direto ou trauma indireto (mecanismo de alavanca). Paciente sente dor e há uma deformidade e uma impotência funcional. Fratura: É quando existe uma solução de continuidade do osso. Ele se quebra devido a energia do trauma. Podendo ser por trauma direto ou indireto. Paciente sente dor, tem uma deformidade, uma impotência funcional, crepitação e há sangramento quando esta for uma fratura exposta. Fratura exposta: “Solução de continuidade da pele e tecidos moles adjacentes permitindo comunicação óssea direta ou de seu hematoma fraturário com o meio exterior”. A conduta a ser feita é não explorar a ferida, cobertura da ferida com curativo estéril e fazer uma imobilização provisória. Ou seja, devemos tratar as feridas, restaurar o alinhamento dos membros, melhorar a perfusão e imobilizar com talas. Conduta inicial nas lesões de extremidades: Tratar as feridas, restaurar alinhamento dos membros, melhorar a perfusão e imobilizar com talas. Avaliação secundária – exame dos membros: Inspeção, palpação, palpar o pulso, avaliar motricidade e sensibilidade. Classificação dos ossos: Os ossos são classificados em longos (fêmur, tíbia, úmero), curtos (carpo e tarso), planos (ilíaco, escápula) e irregulares (vértebras). Anatomia óssea: O osso é constituído de epífises (ponta do osso), diáfises (corpo do osso), fise (placa de crescimento que vai Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 3 aparecer nos ossos das crianças), osso cortical, osso esponjoso e por acidentes ósseos. Mecanismo de força (carga exercida): Flexão (angulação) gera traços oblíquos, a torção gera traços espirais, a avulsão gera traços transversos, a compressão axial gera impacção, e há também a deformidade plástica. Complexidade da fratura: Pode ser simples (quando é em 2 fragmentos), cominutiva ou complexa (quando é em 3 ou mais fragmentos), segmentares (quando tem 2 linhas de fratura). Ela pode ser também completa ou incompleta. Completa quando há 2 corticais e ocorre desvio angular, e incompleta quando tem 1 cortical somente e não há desvio. Uma fratura sem desvio angular ocorre com alinhamento do membro preservado. Já uma fratura com desvio angular o membro está com deformidade/rotação/encurtamento. Ps.: Fratura em galho verde é um tipo especial que ocorre no esqueleto imaturo, possui alta concentração de colágeno e água e o periósteo está espessado. Fraturas intra-articulares: São consideradas graves pelo potencial de causar osteoartrose, que é uma doença degenerativa. Fraturas patológicas: Ocorrem secundariamente a alguma condição patológica que predispõe e ocorrência de uma fratura, por fragilizar o osso. Sempre que o osso já tiver alguma condição que predispõe a essa fratura. Pode ser devido a uma infecção, um tumor (primário ou metastático), uma doença ósteo-endócrino-metabólica (tumor marrom – hiperparatireoidismo, paget, osteoporose, osteogenesis imperfecta). Consolidação óssea das fraturas: PROVA!!! As condições necessárias para a consolidação de uma fratura dependem de causas biológicas como a vascularização (suprimento sanguíneo) ou mecânicas como a estabilidade. Pode ser direta ou primária, quando só ocorre com fixação óssea com estabilidade absoluta e ocorre sem calo ósseo. E pode ser indireta ou secundária quando ocorre com estabilidade relativa, e ocorre com calo ósseo. Na consolidação óssea primária ocorre perfeita aposição dos fragmentos, há uma osteossíntese (com placa e parafusos) sem calo ósseo, e há um ósteon que é o cone (osteoblastos) mais a cabeça cortadora (que é o osteoclastos). A consolidação óssea secundária possui fases. Inicialmente forma tecido cartilaginoso e depois forma-se o osso. Há um hematoma fraturário, que secretam mediadores inflamatórios e células pluripotenciais. Até 2 semanas forma-se um calo mole (não é visualizado no raio X), que é um calo fibrocartilaginoso e já possui alguma estabilidade. Após 2 semanas esse calo já começa a se calcificar e se transforma em calo duro onde há a formação de osteoblastos, a cartilagem é transformada em osso, é visível ao raio X e o osso já está estável. Isso continua por uns dois meses e após esse processo ocorre a remodelação em até 8 meses, o excesso de osso neoformado desaparece e o osso retorna à sua forma original. Redução da fratura: É o realinhamento dos fragmentos. Em fraturas fechadas pode ser por manipulação (incruenta), por tração esquelética ou por tração cutânea (somente em crianças), é a manobra de tração contra tração. Já nas abertas (cruenta) em fraturas complexas ou intra- articulares fazemos a redução anatômica (cirúrgica). Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 4 Estabilização da fratura com tutor externo: Há contenção externa com aparelho gessado por 4 a 6 semanas, pode ser também com órteses plásticas. Mantém pelo período normal de consolidação de fraturas. Estabilização da fratura com fixador externo: Pode ser por um método temporário ou por um método definitivo. Há mais risco de infecção. É muito utilizado em fraturas expostas pois ele não ultrapassa partes moles. Estabilização da fratura com fixação interna: A osteossíntese é feita com placas e parafusos, hastes ou fios. Ela confere ao osso uma estabilidade absoluta e não formará calos. As hastes garantem uma recuperação rápida.Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 5 → Métodos diagnósticos em ortopedia e traumatologia: Radiografia convencional: Pedir no mínimo duas incidências. É a primeira opção na avaliação do trauma ósseo. Observamos interrupções de parte de trabéculas (fissuras), e interrupções de toda a trabécula, com afastamento dos fragmentos entre si quando houver fratura. As principais limitações são a sobreposição de tecidos e a distinção de tecidos com densidade similar (tecidos moles e fluidos, por exemplo). Ombro: Na incidência AP verdadeira você vê o espaço articular entre a cavidade glenoide e o úmero. É o melhor padrão. Existe também o perfil de escápula. A cabeça do úmero tem que estar dentro do “Y”. Cotovelo: Na incidência AP eu consigo ver bem os epicôndilos e no perfil do cotovelo eles ficam sobrepostos. Punho: Pode pedir incidências em AP ou PA, ou incidência em perfil. Eu procuro ver os ossos do carpo. Mão: Incidência oblíqua ou PA. Na oblíqua eu consigo ver os ossos em posições diferentes, separadamente. Coluna: Podemos pedir para a coluna cervical a incidência transoral, AP ou perfil. No AP eu não consigo ver atlas e áxis, só vejo a partir da terceira. Se eu tiver suspeita de fratura eu peço a transoral, pois aí eu tiro a mandíbula da frente. A perfil eu peço, pois, ela me dá uma previsão se a coluna está curvada, etc. Na coluna torácica eu peço AP e perfil. No PA eu posso ver a escoliose. Suspeita de algum trauma na coluna torácica é a distância entre os pedículos, tem que estar preservado. Na lombar eu peço AP e perfil. Pelve: Incidência panorâmica de bacia ou bacia em AP. Avaliar a conjuntura (o anel pélvico tem que estar fechado). Quadril: Fazemos AP e perfil. No AP eu quero ver as trabéculas, se estão preservadas. Joelho: Incidência axial de patela, AP e perfil. No pé pedimos AP e oblíqua. Tomografia computadorizada: É indicado no trauma quando tiver fraturas complexas da pelve ou fraturas complexas articulares, como anormalidades articulares ou corpos intra- articulares, em tumores/metástases, que vai avaliar o tamanho e a extensão tumoral, na coluna para ver alterações degenerativas das articulações facetarias ou epicondiólise. Ela é boa para ver osso, mas não é boa para ver partes moles. As desvantagens desse método é que tem exposição à radiação, há pequena capacidade de avaliação de partes moles e artefatos metálicos alteram a imagem. Densitometria óssea: PROVA!!! É indicado em mulheres na pós-menopausa, em mulheres acima dos 50 anos ou homens acima dos 60 anos, uso prolongado de corticoesteróides, hiperparatireoidismo primário, histórico familiar de osteoporose, achado de osteopenia em radiografias e para controle e acompanhamento. Ultra-sonografia: Não é invasiva, não apresenta riscos, não utiliza radiação, não causa danos ao paciente, não é desconfortável. Consegue avaliar a massa óssea de um indivíduo. Geralmente é feito de coluna lombar e de fêmur proximal. É indicado em lesões de partes moles quando ocorrem rupturas musculares/lesões tendinosas/tendinites e sinovites, lesões ligamentosas, cistos/abscessos, luxação congênita do quadril (até o sexto mês), neuroma de Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 6 Morton, e para avaliar derrames articulares. A desvantagem é que é um método dependente de um operador. Medicina nuclear – cintilografia óssea: É indicado quando temos fratura de estresse, necrose da cabeça do fêmur, avaliar soltura e infecção de próteses, doenças articulares, osteomielite e metástases. Ressonância magnética: Tempos de relaxamento (T1 por exemplo lesões em tecido gorduroso, T2 por exemplo lesões intramusculares, abscessos). É indicado em lesões da medula óssea, lesões ligamentares/meniscais, rupturas tendinosas, lesões nervosas, detecção precoce da osteomielite hematogênica, tumores ósseos e de partes moles, necrose avascular da cabeça femoral e em patologias discais e vertebrais. E as desvantagens são imobilidade do paciente durante o exame, confinamento do exame, cuidados com portadores de marcapassos cardíacos. Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 7 → Fraturas abertas: Conceito: fratura é quando eu tenho a perda da integridade do osso. E elas podem ser fechadas ou abertas, quando eu falo aberta eu posso falar exposta também. É a solução de continuidade da pele e tecidos moles adjacentes (envoltórios) permitindo a comunicação óssea direta com o meio ambiente ou de seu hematoma fraturário com o meio exterior. Não só a exposição óssea como também de seu hematoma fraturário em contato com o membro inferior. As fechadas podem ter indicação de tratamento conservador, algumas delas. Já as expostas, tem que ser submetidas a um tratamento cirúrgico. Pois quando eu falo em exposição eu estou pensando em uma potencial complicação que é a infecção. Infecção no osso é muito difícil de controlar, chamamos ela de osteomielite, que é de difícil tratamento, você controla, mas não consegue eliminar todas as bactérias. Isso torna ela uma emergência ortopédica, o paciente tem que ir para o centro cirúrgico para fazer uma lavagem de campo cirúrgico. São fechadas quando não existe ruptura do envoltório, enquanto nas abertas existe uma comunicação com o meio externo. Mecanismo de trauma: Pode ser de dentro para fora (baixa energia), quando o fragmento ósseo fraturado perfura partes moles e pele de dentro para fora. Ou ele pode ser de fora para dentro (alta energia), quando algum agente externo provoca lesão inicial do invólucro de pele e partes moles antes da fratura. Há também a fratura aberta oculta, que ocorre no ânus, no tubo digestivo ou na vagina. Existe a fratura, mas você não enxerga nos exames, você descobre através da palpação dessas regiões. Classificação de Gustilo e Anderson: MULTIMÍDIA!!! A tipo IIIc são de energia elevada e gravidade crescente. Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 8 Objetivos do tratamento: Na abordagem inicial realizar o controle do dano (damage control), fazer a profilaxia para o tétano, a profilaxia de infecções secundárias, e estabelecer condições favoráveis à consolidação como o suprimento sanguíneo e estabilidade. Deve-se também fazer a abordagem secundária (second look) e o tratamento definitivo que é através de um implante. Pode estar associado ao trauma de outra região (politraumatismos), por isso lembrar de realizar o ABCDE do trauma (PROVA!!!), dando mais foco no “E” de exposure/exposição. Avaliar se aquele paciente apresenta algum déficit neurovascular ou de partes moles, importante NÃO explorar a ferida na emergência, fazer cobertura da ferida com curativo estéril, antibioticoprofilaxia por 48-72 horas, profilaxia para o tétano, exames de imagem e imobilização provisória. Antibioticoprofilaxia: MULTIMÍDIA!!! A antibioticoprofilaxia está indicado começar o mais precocemente possível. Se for classificado como Gustilo tipo I, tratar com cefalosporina de primeira geração para fazer a cobertura de gram positivo, usamos cefalotina 2 g de 6 em 6 horas ou cefazolina 2 g de 8 em 8 horas IV. Se for Gustilo tipo II nós devemos acrescentar aminoglicano que vai cobrir também gram negativos, para isso usamos gentamicina 3 a 5 mg/kg/dia IV divididos em 3 doses. Se for Gustilo tipo III ou quando tiver contaminação fecal por clostridium,fazemos penicilina cristalina 4 a 5 milhões U de 4 em 4 horas ou metronidazol 500 mg de 12 em 12 horas IV. Ps.: Não usar fluoroquinonas pois não tem benefício adicional e prejudica a consolidação. Profilaxia antitetânica: Para quem tem imunização nos últimos 10 anos, deve ser feita uma imunização ativa com 0,5 ml de toxóide tetânico IM (imunoglobulina). Para quem tem imunização há mais de 10 anos ou é desconhecida, fazemos imunização com 0,5 ml de toxóide tetânico IM ou imunização passiva com 4 U/kg com globulina imune tetânica humana. Fazemos a vacina. Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 9 Tratamento cirúrgico: Na emergência devemos fazer a primeira abordagem cirúrgica em até 4 horas. Faz-se a exploração da ferida. Observar os 4 “C’s”, que são contração, circulação, cor e consistência. E ainda o desbridamento de tecido desvitalizado. Consolidação óssea: A consolidação óssea tem fases, primeiramente forma-se um hematoma, posteriormente vai se formando um calo mole, depois um calo duro e por último uma remodelação. Esse processo leva em torno de 2 a 6 meses. Retardo de consolidação: É a insuficiência em consolidar no tempo habitual. Ele está consolidando, porém, estas etapas estão lentas. Pode acontecer quando tenho excesso de movimento no local da fratura insuficiente, ausência vascularização dos fragmentos, ausência de estabilidade, tipo de fratura, idade, enfermidades sistêmicas, falhas no tratamento, infecção, falta de cooperação do paciente, neuropatias e estado nutricional. Além disso, o tabagismo (principalmente), o uso de AINE e anti-coagulantes são fatores de risco para isso ocorrer. Pseudoartrose: Pseudo é falso e artrose é articulação. É quando há ausência de consolidação óssea completa em 6 a 8 meses, ou quando não há progressão sem intervenção. Os fatores envolvidos são uma reação anatômica, traço da fratura, método de tratamento, infecção (ainda contraditório), assim como a fratura aberta e a lesão de partes moles. Os fatores de risco são diabetes, medicamentos, doenças reumáticas, tabagismo, etc. Diagnóstico: É feito com história e exame físico, exames de imagem, achados laboratoriais e bacteriologia. Na história e no exame físico devemos observar se o paciente tem dor e sensibilidade, se há mobilidade no foco de fratura, a natureza da lesão (energia do trauma, verificar se a fratura é aberta), avaliar partes moles, pesquisar procedimentos já realizados e se há alguma infecção. De exames de imagem podemos pedir uma radiografia do membro, onde podemos ver um calo ausente ou hipertrófico, alargamento de traço da fratura e/ou esclerose nas extremidades da fratura. Quando a pseudoartrose é asséptica, não possui foco infeccioso associado, e quando ela é séptica, possui um foco infeccioso no foco de fratura. Pseudoartrose atrófica/avascular: Ocorre uma resposta insatisfatória, ou seja, não há células formadoras de ossos (osteogênicas). Ele tenta formar calo, mas não consegue pois não tem vascularização. Os fatores de risco para isso acontecer são fratura exposta, desvascularização, DM e tabagismo. Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 10 Pseudoartrose hipertrófica: Ocorre uma boa vascularização mas há deficiência de estabilização que prejudica a consolidação. O calo ósseo é exuberante na tentativa de conter mobilidade do foco. O tratamento dessas pseudoartroses possui como objetivo obter a consolidação. Pode ser cirúrgico ou não cirúrgico. O tratamento cirúrgico se dá por uma técnica atraumática. Faz-se uma cruentização do foco de pseudoartrose e uma auto-enxertia óssea (com BMP, células tronco, PRP), e faz-se a compressão do foco. Consolidação viciosa: É uma consolidação óssea com fragmentos desalinhados. Há deformidade, dor, encurtamento do membro e uma sobrecarga mecânica. A consequência é a sobrecarga articular. O tratamento conservador aceita deformidade, por outro lado o tratamento cirúrgico há uma correção imediata ou progressiva. Lesões fisárias: É quando ocorre fratura da placa fisária, com o esqueleto imaturo. Podem ser germinativas, proliferativas, hipertróficas ou uma ossificação endocondral. É comum em crianças. Classificação de Salter Harris: I é quando o traço da lesão percorre a placa fisária, II é quando a lesão é na metáfise do osso, III o traço sai pela metáfise e também pela articulação, IV é o traço que vai da superfície articular, corta a placa fisária e sai pela metáfise, e o V houve um achatamento da placa fisária. Síndrome compartimental: É quando ocorre aumento da pressão em um espaço fechado levando à isquemia e necrose tecidual, ou seja, pode levar a lesões vasculares e neurais. Tem como causas o hematoma, edema de partes moles, ósseo e de isquemia-reperfusão. O paciente tem a clínica de 5 P’s: PROVA!!! pain (dor), paresthesia (parestesia), palor, pulseless (ausência de pulso) e paralysis (paralisia). Ocorre lesão quando a pressão de perfusão muscular for maior que 20mmHg abaixo da diastólica. A pressão intracompartimental maior que 30mmHg pelo método de White-Sides. A complicação é a contratura de Volkmann (fibrose muscular). O tratamento é feito, na urgência, com a retirada da imobilização e uma fasciotomia. Tromboembolismo pós-fratura: PROVA!!! TVP e EP. Existe a tríade de Virchow que é coagulabilidade aumentada, estase venosa e lesão endotelial. Avaliar membros inferiores e pelve, pois é mais frequente. 2/3 dos pacientes com TVP são assintomáticos. Porém os sintomáticos se apresentam com alteração na cor e na temperatura, distensão venosa, edema e dor. Para diagnóstico é feita uma ultrassonografia dúplex de fluxo, que possui alta sensibilidade e especificidade em pacientes sintomáticos, porém é pouco sensível em pacientes assintomáticos. Pode-se abrir mão do D-dímero e ecodoppler venoso para verificar se tem trombo. A profilaxia para TVP e EP é feita com a manipulação cuidadosa do membro, manipulação pós-operatória ativa e precoce, elevação do pé da cama, meias de compressão, Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 11 compressão pneumática externa, iniciar heparina 5000 UI (se profilática usar enoxaparina e para tratamento utiliza-se heparina em sua dose plena) e manter TTPa 1,5 a 2,5 para controle, HBPM e filtros de veia cava. → Principais fraturas do membro superior: Fratura da clavícula: São as mais comuns, com ocorrência de 4% a 16%. É de fácil diagnóstico, 80% delas em terço médio, 15% em terço lateral e 5% em terço medial. O mecanismo de lesão mais comum é a queda sobre o ombro. Luxação acrômio-clavicular: É uma lesão ligamentar, pode ser lesão do ligamento acrômioclavicular ou do ligamento córacoclavicular. A principal etiologia é a queda sobre o ombro com o braço abduzido. Causa deformidade no paciente e impotência funcional. Sinal da tecla o acrômio fica embaixo da clavícula! TTO é com tipoia em caso de luxação leve. Luxação glenoumeral: Trauma por abdução e rotação externa. Comum em nadadores, atletas de vôlei e lutas, ou por quedas. A mais comum (95%) é na direção anteroinferior. Ocorre lesão do ligamento glenoumeral inferior e lesão labral isolada (bankart) e associada com o bordo da glenóide (bankart ósseo). Pode também evoluir com instabilidade. O TTO é tipoia por 1 semana. Luxação traumática aguda – conduta: É uma emergência. Ocorre lesão articular/artrofibrose. No exame radiológico vemos uma luxação simples ou complexa (associada a fratura). Deve-se fazer um exameneurovascular completo (avaliar nervo axilar). O tratamento é a redução com ou sem sedação. Fratura do úmero: É causa de 3-5% das fraturas e 5% das fraturas expostas. É de alta energia em jovens e baixa energia em idosos. A fratura da diáfise do úmero pode ser simples (oblíqua, espiral ou transversa) ou complexas. Fratura de Holstein-lewis é a fratura de terço diafisário distal/oblíquo, ocorre lesão do nervo radial em 10% dos casos. O tratamento é conservador, com gesso em pinça de confeiteiro, ou com um gesso pendente axilo-palmar. Mas o tratamento pode ser também cirúrgico, faz-se um encurtamento maior que 2.5cm, desvio Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 12 em varo maior que 30 graus/anterior maior que 20 graus, fratura bilateral e paralisia progressiva do nervo radial. Pode-se colocar placas e parafusos/hastes intramedulares. Fratura supracondileana na criança: PROVA!!! Responsável por 13% das fraturas em crianças e 60% das fraturas pediátricas do cotovelo. Mais comum em meninos por volta dos 5-8 anos de idade devido diminuição do diâmetro AP da região supra-condilar por remodelação óssea. A principal etiologia é a queda com cotovelo em hiperextensão e mão espalmada. Ocorre lesão do nervo radial em 45% na parte medial e do nervo mediano em 32% na parte lateral. Classificação de Gartland (1959) tipo I possui traços pouco evidente (sem desvio), possui o sinal do coxim gorduroso (ou adiposo). Criança tem um hematoma com abaulamento do membro e a criança tem dor na região supracondilar. O tratamento é com gesso axilo-palmar; o tipo II possui traço visível com desvio e cortical posterior intacta. Trata-se com redução fechada com colocação de gesso; e tipo III é quando está completamente desviada póstero-lateralmente, o tratamento é cirúrgico. Fratura do olécrano: Responsável por 12,9% das fraturas, comum em todas as idades, o mecanismo de lesão é por trauma direto – cominuição, ou trauma indireto quando há queda com a mão estendida e cotovelo em flexão com contração do tríceps – traço transverso/oblíquo. O paciente tem incapacidade na extensão do cotovelo. Se não tiver desvio o tratamento é conservador através da imobilização com gesso axilo-palmar, mas pode ser cirúrgico em casos mais graves. Pronação dolorosa: Ocorre na população infantil, principalmente em meninas de 2 a 5 anos devido a imaturidade do ligamento anular da cabeça do rádio. Ocorre tração, extensão e pronação. Você traciona a criança com o braço estendido e o antebraço pronado, fazendo uma subluxação da cabeça do rádio. O paciente chega com o membro mantido junto ao corpo. Pode reduzir espontaneamente ou através da manobra de supinação e flexão. Fratura do antebraço: O rádio e a ulna funcionam como articulação. A pronossupinação é o movimento mais importante. O mecanismo de lesão é por trauma direto (monteggia/cassetete) ou a queda com a mão em pronação (galeazzi/monteggia). Galeazzi é a fratura do rádio e luxação rádioulnar distal. Monteggia é a fratura da ulna e luxação rádioulnar proximal. E Cassetete é a fratura isolada da ulna. O tratamento é cirúrgico pela colocação de placas e parafusos. Em crianças coloca-se gesso axilo-palmar. Fratura do rádio distal: PROVA!!! Fraturas extra e intrarticulares. Paciente fica com uma deformidade chamada dorso de garfo (fratura de colles). O mecanismo de lesão em 90% dos casos é a queda com hiperextensão da mão, com desvio radial do punho e pronação. Podem ser redutíveis ou irredutíveis, instáveis ou estáveis. Tratamento é cirúrgico quando ela é redutível ou instável. Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 13 Fratura do escafoide: Ocorre devido à queda com punho em extensão (mais que 90 graus). A lesão da cintura do escafoide é a mais comum. Há uma vascularização ruim, o que pode gerar retardo no diagnóstico (tomografia computadorizada) e/ou pseudoartrose. Paciente tem dor na tabaqueira anatômica. Fratura do boxer: É a fratura da cabeça do quinto metacarpo. O mecanismo da lesão é o soco. O tratamento pode ser conservador quando o desvio é menor que 45 graus, e cirúrgico quando o desvio for maior que 45 graus. → Principais fraturas do membro inferior: Fratura do colo do fêmur: Classificamos de acordo com a classificação de Powell e a de Garden. A de Powell tipo I é quando o ângulo da fratura for de 30 graus, a powell tipo II quando for de 50 graus e a tipo III quando for de 70 graus. Na de Garden são 4 tipos, os tipos I e II não há desvio de fragmentos ósseos, a tipo III ocorre desvio parcial dos fragmentos e a tipo IV ocorre desvio completo. O tratamento pode ser através da artroplastia ou através de uma osteossíntese. Fratura transtrocanteriana: PROVA!!! Nos jovens é devido a trauma de alta energia e nos idosos devido a trauma de baixa energia/osteopenia. Há uma deformidade igual a fratura do colo femoral. É incapacitante e a morbidade é alta pelo decúbito. O tratamento é cirúrgico. Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 14 Fratura da pelve: O mecanismo de lesão é por compressão lateral (fecha anel), sendo ele de baixa energia no idoso e alta energia no jovem, compressão anteroposterior (livro aberto – as sínfises púbicas se separaram) ou cisalhamento vertical pela ruptura dos ligamentos estabilizadores da pelve. Quando há sangramento ósseo o venoso é o mais comum (95% dos casos) e 5% quando for arterial, pela lesão do plexo venoso lombosacro. O tratamento é com fixação externa. Estruturas estabilizadoras do anel pélvico: Sacroilíacos anteriores, ligamento sacro tuberal, ligamento sacro espinhal, sínfise púbica, ílio lombar e sacroilíacos posteriores. Classificação de Young & burgess. Fratura exposta da pelve: Possui uma mortalidade de até 30 a 50%, devemos buscar por fratura exposta oculta, pode se manifestar nas zonas de Faringer. Há indicação para colostomia. O tratamento definitivo é cirurgia com talas e pinos. Fratura da tíbia: Proximal: Fratura planalto tibial (articular), é por trauma axial, ocorre mudança no eixo mecânico e artrose pós-traumática. O tratamento é cirúrgico. Diáfise: Ocorre na face anteromedial – subcutânea, é um trauma de alta energia ou torcional. O tratamento é conservador. Distal: Ocorre no pilão tibial (articular), devido a um trauma axial/torcional, e pode levar a uma artrose pós-traumática. O tratamento é cirúrgico. Fratura do tornozelo: O mecanismo de fratura é torcional. Quando a lesão é medial pode ocorrer fratura do maléolo medial ou lesão do ligamento deltoide. As fraturas podem ser uni, bi- ou trimaleolares. O tratamento é cirúrgico para fraturas instáveis. Podemos classifica-la de acordo com a classificação de Laugen-hansen. Tipo A é a fratura por supinação-eversão (SE) em estágios I, II, III e IV. Tipo B é fratura por supinação-adução (AS) em estágios I e II. Tipo C é fratura por pronação-eversão (PE) em estágios I, II, III e IV. E tipo D é fratura por pronação- adução (PA) em estágios I, II e III. A fratura luxação do tornozelo é uma emergência! Fratura da tuberosidade do quinto metatarso: O mecanismo de lesão é semelhante à entorse do tornozelo (inversão-adução). Paciente tem dor e há uma equimose na face lateral Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 15 do pé. Cursa com um bom prognóstico e o tratamento é pela colocação de uma bota ortopédica. Fratura-luxação de lisfranc: MULTIMÍDIA!!! É uma lesão grave do complexo de lisfranc, quecorresponde à articulação tarso-metatarsiana. Há uma equimose na região plantar e é de difícil diagnóstico. É no primeiro metatarso. O tratamento é sempre cirúrgico. → Lesões traumáticas da coluna vertebral: Anatomia: O cone medular é a terminação caudal da medula espinhal, contém os mielômeros sacrais e coccígeo. Já a cauda equina são raízes motoras e sensoriais dos mielômeros lombossacrais, menos passíveis de sofrer lesão pois tem mais espaço dentro do canal. É o cone medular + um déficit motor. Etiologia: As principais causas dos traumatismos da coluna são acidentes automobilísticos (mais de 50%), projétil de arma de fogo (15%), mergulho em água rasa e queda da própria altura. Epidemiologia: Lesões da medula espinhal são em geral 2,6% dos pacientes acolhidos nas unidades de traumatologia. 80% deles apresentam lesões multissistêmicas. 41% apresentam TCE. 17% morrem durante a hospitalização inicial. A média de idade desses indivíduos é de 25 a 29,7 anos, são indivíduos jovens. E a proporção é de 4 homens para cada 1 mulher. 42% dos pacientes tem menos de 10 anos e 8% dos 15 aos 17 anos tem lesão da medula espinhal sem anormalidades radiológicas. Localização das lesões: Na cervical é em torno de 50 a 64%, é mais grave e menos diagnosticada (dissociação crânio cervical). Na medula lombar ocorre de 20 a 24% (na junção toracolombar em torno de 60% entre T11 a L2). E na medula torácica ocorre em torno de 17 a 19% e é mais comum na junção cérvico torácica. Sempre olhar as áreas de transição entre as vértebras. Terminologia (lesões da medula espinhal): Primárias são as concussões (ruptura fisiológica sem alteração anatômica), contusão (hemorragia e inchaço dos tecidos, é potencialmente reversível) e as lacerações (quebra da continuidade dos elementos estruturais). E as secundárias são de resposta biológica iniciada pelo mecanismo de ruptura dos tecidos. Tipos de lesão medular: Pode ser completa, quando não se nota função motora ou voluntária caudal ao nível da lesão após o retorno do reflexo bulbocavernoso. Ou incompleta, quando persiste alguma função neurológica caudal ao nível da lesão após o retorno do reflexo bulbocavernoso. Lembrar que a preservação sacral é representada pela sensação perianal, função motora retal e flexão do primeiro pododáctilo. Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 16 Terminologia: Nível neurológico é quando ocorre no segmento mais caudal com função sensorial e motora normal. Quando ocorre a nível sensorial, ocorre no segmento mais caudal com função sensorial normal. E quando ocorre a nível motor, quer dizer que está no segmento mais caudal com função motora normal. Avaliação inicial: Lembrar sempre de realizar o ABCDE do trauma, colocando o colar cervical (rígido – Philadelphia), fazer uma radiografia da coluna cervical, mobilização em bloco e o exame neurológico. No exame neurológico devemos observar a motricidade, a sensibilidade, os reflexos superficiais e profundos (bulbocavernoso e sua relação com o choque medular), e classificar o paciente na escala de FRANKEL. Para avaliar se o paciente está com choque medular, devemos fazer o reflexo bulbocavernoso. A ausência desse reflexo indica choque medular. Está nas raízes de S2, S3 e S4. No choque medular você não tem função nenhuma. A medula sofreu um impacto e desregulou tudo dali pra baixo. É a interrupção das suas funções elétricas, podendo ter retorno ou não, o que prejudica o nosso exame neurológico. Você acompanha através do exame periódico, de 4 em 4 horas. O primeiro reflexo que retorna é o reflexo bulbocavernoso. Você faz a compressão da glande, e com o toque anal você percebe a contração do esfíncter no seu dedo. Na escala de FRANKEL nós temos 5 tipos. A é quando o paciente tem ausência de motricidade e sensibilidade. Frankel B ele tem só a sensibilidade. Frankel C ele tem sensibilidade e motricidade (não útil) (<G3). Frankel D ele tem sensibilidade e motricidade (útil) (> G3). E Frankel E é aquele paciente que tem sensibilidade e motricidade normais. Dermátomos: Mamilos – T4, apêndice xifoide – T7, umbigo – T10, Inguinal – T12. Testes neurológicos: PRÁTICA!!! Na coluna cervical fazemos o teste de C5. A motricidade você testa fazendo abdução do braço ou flexão do antebraço (flexão do cotovelo contra-resistência). O reflexo é o bicipital e o dermátomo está localizado na face lateral do braço. Em C6 a motricidade é testada fazendo flexão do antebraço ou hiperextensão do punho contra-resistência. O reflexo é o estiloradial e o dermátomo está na face anterior e lateral do antebraço e primeiro e segundo dedo da mão. Em C7 na motricidade testamos fazendo extensão do antebraço, fazendo flexão do punho ou estendendo os dedos das mãos. O reflexo é o tricipital e o dermátomo está localizado no dedo do meio da mão. De C8 a T1 a motricidade é testada pela abdução e adução dos dedos das mãos. Não há reflexos e o dermátomo está localizado na face medial do antebraço e braço, na altura da fossa cubital. C8 está no quarto e quinto dedo e face medial do braço. T1 é face medial do braço, musculatura intrínseca da mão. C8 você faz a flexão dos dedos da mão. Na coluna lombar, para testar a força muscular em L2 Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 17 fazemos a flexão do quadril, e em L3 fazemos a extensão da perna. Para testar L4 na motricidade fazemos a dorsiflexão do tornozelo, o reflexo é o reflexo patelar e o dermátomo está localizado na face medial da perna. S1 é a flexão plantar, seu dermátomo está na face plantar, o reflexo é o aquileu; e L5 a extensão do hálux, e seu dermátomo localizado na face lateral da perna e dorso do pé. Lesões medulares incompletas: PROVA E PRÁTICA!!! Síndrome medular anterior: No tracto córtico-espinhal nós observamos a perda motora bilateral, e no tracto espino-talâmico lateral nós observamos a perda da dor e temperatura bilateral. Logo, o paciente perde os movimentos em ambos os lados, além da dor e da temperatura. Síndrome de Brown-Séquard: Também chamada de hemi-secção medular, n tracto córtico- espinhal o paciente perde a motricidade ipsilateral a lesão, no tracto espinotalâmico há perda de dor e temperatura contralateral, e no funículo posterior há perda da propriocepção e sensibilidade especial. Ou seja, se o paciente sofreu uma lesão do lado esquerdo da medula, ele terá perda de movimento do lado esquerdo (ipsilateral), perda de dor e temperatura no lado direito (contralateral) e perda da propriocepção e da sensibilidade especial. Síndrome medular posterior: No fascículo grácil e cuneiforme há perda da propriocepção, vibração e do tato epicrítico. Síndrome medular central: Há perda da motricidade dos membros superiores mais do que nos membros inferiores. Tratamento farmacológico: É feito com metilprednisona, pois é a primeira droga a demonstrar melhora significativa na recuperação em humanos. Ela segura a resposta inflamatória. Nas primeiras 3 horas você dá 30mg/kg + 24 horas de 5,4mg/kg/hora. Entre 3 e 8 horas vamos dar 30mg/kg + 48 horas de 5,4mg/kg/hora. Contraindicações: - Ausência de déficit neurológico - Lesões abertas (arma branca/PAF) - < 14 anos - Gestante - Imunossupressão Fraturas de coluna vertebral: Uma coluna estável mantém a integridade estrutural sob cargas fisiológicas sem dano neural. E uma coluna instável tem risco de dano neurológico. Como vemos que uma coluna é instável? Quando tiver lesão posterior (ligamentar/óssea), lesãoanterior, 2 colunas de Dennis, cifose > 20 graus (toracolombar), angulação (>11 graus na cervical/5 graus na torácica/>22 graus na lombar), translação > 3,5mm na cervical/2,5mm na torácica/4,5mm na lombar, canal ocupado > 50%, depressão do corpo > 50%, lesão neurológica (radicular/medular/cauda equina), lesão de articulação costocondral. Não precisa decorar! Colunas de Dennis: A coluna anterior é a metade anterior do corpo e o ligamento longitudinal anterior (evita a hiperextensão da coluna). A coluna média é a metade posterior do corpo e o ligamento longitudinal posterior. E a coluna posterior é os pedículos, lâminas, processo espinhoso e complexo ligamentar. Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 18 Fraturas da coluna cervical alta: É em torno de C1 e C2, temos a fratura de Jefferson (Atlas) e a fratura do processo odontóide. E há também da coluna subaxial que é de C3 a C7. PROVA!!! A fratura de Jefferson também é chamada de fratura em explosão. É por um trauma axial. Quando um objeto pesado cai sobre a cabeça, a vértebra explode. Na fratura do processo odontóide há 25% de lesão medular. Lembrar que para ver C1 e C2 eu tenho que pedir radiografia transoral. Fraturas da coluna cervical subaxial: Existem as fraturas em explosão, fratura de faceta, fratura em cunha, fratura de processos. Tomar cuidado com uma hérnia discal traumática, fazer ressonância magnética. Na avaliação radiológica tomar cuidado com as incidências, sempre observar se dá para ver todas as vértebras na radiografia, principalmente as áreas de transição. Quando não estiver dando para ver, você pode abrir mão de algumas manobras, como a tração de ombros ou a posição do nadador. Tração de ombros é você puxar os dois braços da pessoa pra baixo. E a posição do nadador é levantar somente um dos braços e assim bater a radiografia. PROVA!!! Fratura da coluna toracolombar: Mais comum em jovens, por trauma de alta energia. No idoso ocorre por trauma de baixa energia devido a osteoporose. Ela pode ser de vários tipos, como por compressão, por explosão, lesão posterior óssea ou lesão posterior ligamentar (devido a alguma instabilidade). As por compressão geralmente são estáveis. As por explosão devemos sempre avaliar o muro posterior na tomografia. Fratura de chance é a fratura óssea posterior. Desaceleração do carro, você bate a cabeça para trás e fratura a cervical, depois joga o tronco para frente e fratura a lombar. A lesão ligamentar posterior é por distração ligamentar, comum em acidentes automobilísticos. Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 19 → Infecções graves osteoarticulares: Osteomielite: Do grego, “osteos” significa osso e “myelós” significa medula. É um quadro agudo quando acontece nas primeiras 24-48 horas, e crônico quando ocorre de 24-48 horas a 2-3 semanas. Pode ser bacteriana ou fúngica. Sua disseminação pode ser por via hematogênica, mais comum em neonatos, crianças, idosos ou imunossuprimidos, ou por inoculação direta, como nos traumas, pós-punção ou pós-cirúrgica. Quando ocorre na emergência, possui risco de septicemia e morte. Ela gera respostas celulares a infecção. Ocorrerá vasodilatação, com isso hiperemia local, proliferação bacteriana, aumento de partes moles progressivamente, consequentemente causa isquemia (devido a compressão dos vasos), necrose tissular ou óssea e formação de um abscesso (que não possui efeito com antibiótico). Os fatores predisponentes são: Regiões metafisárias em crianças, subnitrição e desnutrição, diabetes e AIDS. Classificação: Pode ser hematogênica aguda, em sua maioria (80% dos casos – fêmur, tíbia, úmero, fíbula), ou pode ser pós-traumática. Fisiopatologia: Há um foco infeccioso, geralmente na metáfise dos ossos longos por ser o trajeto filiforme do sangue, com isso há proliferação bacteriana, também pelo aumento da pressão intra-óssea, há bloqueio da perfusão sanguínea. Ocorre necrose e a formação de um abscesso subperiosteal. Forma-se um invólucro, que é o osso novo através do sequestro do osso velho. Agentes etiológicos: PROVA!!! Os principais agentes etiológicos são Staphylococcus aureus (80%) das crianças, estreptococos do grupo B, S. aureus e E. coli em neonatos, e Salmonella quando relacionado a anemia falciforme. Diagnóstico: O paciente chega com um quadro de dor (pela pressão intra-óssea e reação inflamatória), edema, hiperemia, febre (acima de 38,5 graus que não cede), bacteremia, impotência funcional (pseudoparalisia). Podemos pedir hemograma (veremos leucocitose), o VHS estará aumentado, a hemocultura estará positiva em 50% dos casos. A radiografia estará sem alterações em sua fase inicial, e em torno de 10 a 15 dias vemos um descolamento periosteal. Podemos pedir também cintilografia com gálaio, TC ou RNM ou uma USG para descartar artrite séptica. O tratamento é feito com internação, drenagem cirúrgica e antibioticoterapia venosa! A antibioticoterapia é feita após colher culturas com cefalosporina + aminoglicosídeo por 10 dias endovenoso seguido por mais 3 semanas via oral. Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 20 Complicações: Septicemia e morte, cronificação, artrite séptica (metáfise intra-articular, quadril, ombro e tornozelo). Artrite séptica: PRÁTICA!!! Pode ser bacteriana ou fúngica. É uma infecção articular. Como consequências pode levar a destruição da cartilagem hialina, necroses epifisárias e luxações. Há um foco infeccioso que gera proliferação bacteriana (aumento de volume líquido intra-articular), há a distensão articular e, com isso, isquemia da membrana sinovial e da epífise, gerando necrose da cartilagem e da epífise (do ombro e do quadril) causando uma subluxação ou luxação. O diagnóstico é feito com a clínica de dor (geralmente intensa e com limitação da mobilidade), aumento de volume, prostração, calor local e vermelhidão, febre. De exames complementares podemos pedir um hemograma (onde veremos leucocitose), o VHS estará aumentado, e na radiografia veremos um espessamento da cápsula, edema de partes moles, aumento do espaço articular e, após 48 horas, sinais de subluxação. Alguns exames complementares são úteis, como USG (onde veremos líquido intra- articular), cintilografia, punção articular (é o padrão ouro! Fecha o diagnóstico), e além disso, fazemos a cultura e o antibiograma. O tratamento é feito através da drenagem cirúrgica e antibioticoterapia. Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 21 → Tumores ósseos: Epidemiologia: Os tumores ósseos primários correspondem a 3-4% das neoplasias. A lesão secundária é mais frequente e pode ser de origem pulmonar, prostática ou mamária. Clínica: Dor noturna e no repouso, deformidade, fratura patológica, sinais e sintomas constitucionais, achados de exames/assintomáticos. Comportamento biológico: Os tumores benignos possuem uma evolução longa e a dor é ausente ou pequena. Já os tumores malignos possuem rápida evolução, a dor é intensa, tem envolvimento cutâneo (pele fica brilhante, alopecia, está aderida a planos profundos) e há rede venosa superficial. Radiologia: Na radiografia nós vemos lesões líticas/blásticas/mistas, insufla cortical, rompe cortical, não invade articulação (diferentemente das infecções), invasão de partes molese aspectos específicos (Nidus, raio de sol). Características radiográficas: Os tumores benignos são lesões bem delimitadas, há tecido ósseo reacional, sem reação periosteal, não rompe cortical e não atinge partes moles. Já os malignos os limites são indefinidos, possui áreas líticas/neoformação, há reação periosteal, erosão cortical e permeia partes moles. As principais reações periosteais são as lameladas (ou em formato de casca de cebola), a espiculada (ou em forma de raios de sol) e o triangulo de Codman, que é a mais agressiva. Tumores ósseos primários malignos: Com o diagnóstico precoce nós conseguimos fazer o controle local e aumentar a taxa de sobrevida em 5 anos. Na história quando vemos dores fracas ou história de trauma leve pode atrasar o diagnóstico. Os sintomas são geralmente persistentes. Há uma discrepância da dor com a intensidade do trauma. O diagnóstico é feito com radiografia para confirmação da suspeita, pedir sempre no mínimo duas projeções. Na dúvida repetir o exame com intervalo curto (1 a 2 semanas). 60% dos tumores ósseos primários estão no joelho. Para achados iniciais, quando as alterações são mínimas pedimos uma tomografia computadorizada e uma ressonância magnética (observamos o tamanho da lesão, o envolvimento de partes moles adjacentes, a destruição óssea e o tecido ósseo reacional). Podemos pedir uma cintilografia para o diagnóstico precoce de lesões metastáticas. Os exames laboratoriais são de pouca utilidade diagnóstica, são muito inespecíficos e retardam o diagnóstico definitivo. A biópsia óssea é o último procedimento a ser feito pois altera a imagem. O tratamento é cirurgia preservadora do membro. Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 22 Tumores benignos: São formadores de tecido cartilaginoso, como o osteocondroma, o encondroma e o condroblastoma. Osteocondroma: É o tumor ósseo benigno mais frequente. A localização mais comum é no joelho. Não é uma neoplasia verdadeira. Ocorre exostose óssea. Pode ser uma lesão solitária ou generalizada (osteocondromatose). O tratamento é observação e ressecação se houver compressão neurovascular ou malignização. Encondroma: É uma lesão cartilaginosa benigna. É o tumor mais comum da mão. São lesões líticas, centrais, com bordas bem definidas e com calcificação interior. Acomete pequenos ossos tubulares das mãos e dos pés. Geralmente o paciente está assintomático, mas se tiver sintomas fazemos a ressecação cirúrgica. Condroblastoma: É uma lesão benigna rara, a região epifisária fica ovalada e com calcificações finas no interior. Acomete adolescentes e adultos jovens. O tratamento é através da ressecção marginal sem lesar a placa epifisária. Há também os tumores benignos formadores de tecido ósseo, como o osteoma osteóide, o osteoblastoma e o tumor de células gigantes. Osteoma osteóide: É uma lesão óssea benigna. Possui uma área osteolítica (nicho) circundada por intensa área de tecido reacional. Paciente refere dor noturna e melhora com salicilatos (patognomônico). Osteoblastoma: É um osteoma osteóide de maior tamanho. Há uma lesão lítica, podendo ser expansiva e afinar a cortical. A localização é na coluna e esqueleto apendicular. Pode ser agressivo e simular um tumor maligno. Paciente tem dor que não cede com AAS. O tratamento é a curetagem ou ressecção segmentar. Tumor de células gigantes: Possui crescimento rápido e é pouco dolorosa. É uma lesão lítica, expansiva, com afilamento cortical sem neoformação ou reação periosteal. O estroma é de núcleos ovalados e células gigantes multinucleadas. O tratamento é através da ressecção marginal com adjuvante. Tumores malignos: Osteossarcoma: É o tumor maligno primitivo mais frequente. Há formação de osteóide e tecido ósseo. Ocorre na metáfise de ossos longos (mais comum no joelho), entre 10 a 30 anos. O crescimento é rápido, geralmente em semanas. Paciente relata dor e aumento de volume na região. É uma lesão lítica/blástica, com destruição cortical, invasão de partes moles e descolamento do periósteo. Na radiografia encontramos calcificações de partes moles e reação periosteal (imagem em raios de sol). O tratamento é com quimioterapia mais ressecção. Condrossarcoma: É um tumor maligno cartilaginoso, mais raro que o osteossarcoma. Possui um crescimento lento e metástase tardia. Comum entre 40 a 60 anos e pode ser primário ou secundário a um encondroma/osteocondroma. É uma lesão lítica arredondada, erosão endosteal, pode lesar cortical, possui reação periosteal lamelar ou espiculada e calcificações puntiformes. O tratamento é uma ressecção ampla e se resistir fazer uma radioterapia ou quimioterapia. Sarcoma de ewing: MULTIMÍDIA!!! É um tumor uniforme de células pequenas (não é formador de osso!). É responsável por 3% de todas as neoplasias pediátricas, mais comum entre 5 e 15 anos. É altamente maligno. Há aumento do volume, flogose, febre e diminuição do estado geral. Há uma lesão permeativa difusa em casca de cebola e há grande envolvimento de partes moles. O tratamento é com poliquimioterapia e ressecção ampla. Mieloma múltiplo: É uma proliferação descontrolada de plasmócitos, são lesões difusas, ocorre em pacientes maiores de 50 anos, principalmente do esqueleto axial (coluna toracolombar, pelve e crânio). São lesões osteolíticas múltiplas. Podemos pedir exames laboratoriais como eletroforese de proteínas, onde veremos um aumento das globulinas, veremos anemia, hipercalemia, proteínas anormais no sangue e na urina (proteína de Bence-Jones) e aumento do VHS. A cintilografia vai vir negativa!! O tratamento é com Daniele Longo APOSTILA DE ORTOPEDIA – PR1 23 quimioterapia (para doença sistêmica), ou transplante de medula óssea e cirurgia em caso de fraturas. → Imobilizações: Conceitos: Servem para evitar o movimento e prevenir desvio de fragmentos e para acionar a função muscular. Geralmente inclui 2 articulações e serve para analgesia/alinhamento, permitir o efeito da gravidade (gesso pendente) e para corrigir (gesso de risser). Elas podem ser gessadas (tubo/tala) ou enfaixamentos (Jones/solidarização). E os imobilizadores podem ser as órteses plásticas ou os imobilizadores de punho, de joelho, etc. Tipos: A tipoia ou o oito posterior são utilizados em lesões da articulação glenoumeral, em fraturas da clavícula e em lesões da articulação acrômioclavicular. A pinça de confeiteiro/velpeau é usada em fraturas de úmero proximal ou em fraturas diafisárias do úmero. A tala axilopalmar/gesso é utilizada em fraturas do cotovelo, em fraturas do antebraço ou em fraturas do punho. O gesso/tala luva é usada em tendinites e em fraturas dos metacarpos. A tala de alumínio é usada em lesões das falanges como fratura, lesão ligamentar, luxação, dedo em martelo, etc. O gesso pelvicopodálico é usado em lesões femorais nas crianças. O gesso/tala cruropodálica é usado em lesões no joelho, como fratura ou lesão ligamentar. A tala bola/bota gessada é usada em fraturas da perna, tornozelo ou pilão tibial, e também nas lesões músculo-tendinosas e nas entorses. MULTIMÍDIA!!!: A solidarização é feita com esparadrapo, usada em lesões dos pododáctilos. No punho podemos utilizar um imobilizador em caso de cisto sinovial, tendinites dos flexores do punho, tendinite dos extensores do punho e tenossinovites de de quervain. No joelho nós utilizamos imobilizadores em lesões ligamentares, pós-operatórios de fraturas ou ligamentoplastias, e no estiramento muscular. A bota ortopédica usamos em entorses de grau I e II, em tendinites fibulares, e no pós-operatório de fraturas, lesão ligamentar e lesão tendinosa.
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