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Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 1 Medicina Legal Ae Allana fernandes j. Catafesta Crislaine Padilha Penna Kelly Thais de pellegrin k ATM 2019 Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 2 ÍNDICE Peritos e perícias............................................................................................................................................................ 3 Traumatologia............................................................................................................................................................... 9 Asfixias........................................................................................................................................................................ 14 Agentes físicos – Energia térmica e elétrica............................................................................................................... 17 Agentes químicos e suas lesões.................................................................................................................................. 21 Lesões corporais......................................................................................................................................................... 28 Técnica de necrópsia.................................................................................................................................................. 31 Tanatologia................................................................................................................................................................ 35 Declaração de óbito................................................................................................................................................... 39 Embriaguez e alcoolismo........................................................................................................................................... 42 Código de ética médica.............................................................................................................................................. 46 Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 3 Peritos e Perícias Peritos Peritos são técnicos de nível superior, especialistas em determinada área e que, por designação de autoridade competente, prestam serviço à Justiça ou à Polícia a respeito de (objeto da perícia): Fatos, Pessoas, Coisas. De acordo com a investidura, os peritos se classificam em: Oficiais (polícia, justiça), Nomeados ou louvados (esporáticos), Assistentes técnicos (investigam laudos, de modo a apresentar suposições contrárias). Previsão legal dos peritos oficiais – área criminal CPP – Art.159. O exame de corpo de delito e as outras perícias serão realizadas por perito oficial, portador de diploma de curso superior (peritos criminais ou médicos-legistas). §1º Não havendo peritos oficiais, o exame será realizado por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior, escolhidas, de preferência, entre as que tiverem habilitação técnica relacionada à natureza do exame. (Atualmente, pode ser realizado por apenas uma pessoa). §2º Os peritos não oficiais (“AD HOC”) prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo. Previsão legal dos peritos – área cível CPC – Art. 421. O juiz nomeará o perito (PERITO “AD HOC” OU LOUVADO – de confiança do juiz), ficando de imediato o prazo para a entrega do laudo. §1º Incumbe às partes, dentro de 5 (cinco) dias, contados da intimação do despacho de nomeação do perito: I. Indicar o assistente técnico*, II. Apresentar quesitos *Notar que são também nomeados e, portanto, são “ad hoc” ou louvados, mas como são indicados pelas partes são conhecidos como Assistentes técnicos. Perícia A perícia é toda a atuação de um técnico, consubstanciada em um documento (laudo, na maioria dos casos), para informar ou esclarecer a Justiça; A perícia é o meio probatório pelo qual se procura obter para o processo uma opinião (informação), fundamentada em conhecimento técnico-cinetíficos sobre uma questão de fato que é útil no descobrimento ou na valoração de um elementro prova. Todos os exames elaborados por médicos (exames clínicos, laboratoriais ou necroscópicos) e que são destinados ao uso judicial são denominados PERÍCIAS MÉDICO-LEGAIS. Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 4 Os exames elaborados por profissionais de outras áreas, desde que destinados ao uso como meio de prova em juízo, são denominadas PERÍCIAS. Classificação das perícias 1. Segundo à matéria Médica o Psiquátrica o Necroscópica, o Traumatológica, etc. Não-médica o Contábil, o Engenharia, o Química o Balística, etc. 2. Quanto ao ramo do direito: Cível, Criminal, Trabalhista. 3. Quanto ao modo como se realiza o exame: Perícia direta – exame em corpo de delito Perícia indireta – exame realizado por fichas hospitalares ou outros documentos. 4. Quanto aos fins: Perícia de retratação (percipiendi) – apenas uma descrição (narração minuciosa) do que foi observado pelo perito – “virsum et repertum” – ver e repetir. Perícia interpretativa (deduciendi) – realizada por um processo científico de interpretação dos fatos e das circunstâncias, no qual chega a uma conclusão técnica. Perícia opinativa – é exarado um parecer do especialista sobre determinado assunto. 5. Quanto ao momento de realização: Retrospectivas – Exames relacionados no presente, mas relacionados com fatos passados com o objetivo de perpetuar os elementos de prova (maioria das perícias). Prospectivas – Tratam de situações presentes, cujos efeitos deverão ocorrer no futuro. Ex: exame de cessação de periculosidade (Art. 775 CPP). Corpo de delito x Exame de corpo de delito Algumas infrações penais, como a injúria verbal não deixam vestígios – “delicta facti transeuntis”. Outras, como homicídios ou delitos contra o patrimônio, deixam modificações no mundo material que podem ser percebidas por nossos sentidos ou por aparelhos especiais – “delicta facti permanentis”. CORPO DE DELITO é a somatória de elementos vestigiais enontrados nos: Locais dos fatos, Instrumentos, Peças, Pessoas físicas (vivas ou mortas). Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 5 CPP – Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Nos delitos que deixam vestígios, então, necessariamente deverá existir exame pericial, sob pena de nulidade processual. Observação: Ocorre que o próprio Código de Processo Penal, nos casos de crimes que deixam vestígios, expressamente, estabelece que quando estes últimos desaparecerem, o exame de corpo de delito pode ser suprido, apenas e tão somente por um único meio de prova, qual seja a testemunhal (CPP, art. 167): Art. 167 – “Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haver em desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.” Em outras palavras, não sendo possível a realização do corpo de delito por haverem desaparecido – e não por não terem sido realizados em prazo adequado – a prova testemunhal poderá, então, suprir tal hipótese. Perícias – Exemplos: Perícias em vivos: violências sexuais em geral (conjunção carnal, atos libidinosos), gravidez, parto, lesão corporal,estimativa da idade, dosagem alcoólica, exames toxicológios, infortúnios do trabalho e outros. Perícias em cadáveres: realidade da morte, causa da morte, necrópsia em mortes violentas e suspeitas, cronologia da morte, identificação, exames toxicológicos das vísceras e outros complementares. Perícias no esqueleto: Identificação antropológica (diagnóstico da espécie), sexo, estatura, idade, achados de violência. Perícias em locais e objetos: Impressões digitais, armas de fogo, manchas em vestes e em instrumentos. Documentos periciais Os documentos relativos às perícias realizadas por médicos são denominados Documentos médico-legais. Aqueles relativos ao trabalho pericial realizados por peritos que não atuam na área médica são usualmente denominados laudos periciais. Documentos médico-legais São todas as informações de conteúdo médico e que tenham interesse judicial. Características: Emitidos por médicos habilitados, Decorrentes de exames médicos, Apresentados, geralmente, por escrito, Objetivam o esclarecimento de questão judicial. Classificação: Atestados (certificado-França / declaração-Léo Coutinho), Notificações compulsórias Relatórios médico-legais Pareceres Depoimentos orais. Atestados Atestado clínico: simples declarações para certificar condições de sanidade ou enfermidade, p.ex., para justificar ausência do paciente ao trabalho (é sempre fornecido a pedido do interessado). Atestados para fins previdenciários: para comprovação de estado patológico (INSS). Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 6 Atestados de óbito (morte): Natural: atribuição do próprio médico, desde que tenha assistido o paciente. Natural mas por doenças mal definidas: médicos do SVO – Serviço de Verificação de Óbitos. Violenta (Acidente, suicídio e crime) e suspeita (inesperada, sem causa evidente): IML – Instituto Médico Legal. (*RS – DML = Departamento Médico-Legal). Atestados falsos: Chamado de gracioso, de favor ou complacente: quando fornecido a alguém por amizade ou por qualquer outro motivo. Não se efetiva o ato médico (exame, por exemplo). “A não necessidade do ex. clínico do paciente é permitida pela Resolução CFM 1.658/02 – art. 6º, §2º - médico poderá valer-se de opinião de outros profissionais afetos a questão para exarar seu atestado.” Às vezes é dado com fim de lucro. É improcedente a alegação de que a finalidade do atestado é meramente protocolar, sem importância. Além de problemas e questões ÉTICAS, um atestado gracioso ou lucrativo poderá vir a caracterizar um “atestado falso”, punível, nos termos do Código Penal. o Art.302 – Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso: Pena: detenção de um mês a um ano. Parágrafo único: Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa. >>> Não se dá atestado em pronto-socorro. >>> Se colocar CID, o paciente deve assinar autorizando. Elementos de um atestado (aconselháveis): Papel timbrado (receituário), onde conste o nome do médico, CRM (CREMERS), endereço profissional, telefone. Cabeçalho: ATESTADO Descrição: Atesto, a pedido de (nome do requerente), para fins de (ex: abono de faltas, habilitação para o trabalho, etc) que o mesmo se encontra (enfermo/apto para o trabalho) e que necessitará de (dias/meses) de (repouso/afastamento de suas atividades) Data e local: Rio Grande, 22 de agosto de 2008. Assinatura e carimbo: Deverá constar: médico/especialidade e CREMERS Notificações compulsórias São notificações obrigatórias às autoridades competentes por razões sociais ou sanitárias (documentos padronizados): Doenças de notificação obrigatória: P. ex., dengue, hanseníase, AIDS, tuberculose, etc. Comunicação de acidente de trabalho (CAT): inclui também doença profissional e do trabalho. Comunicação de ocorrência de crime de ação penal pública incondicionada: desde que não exponha o cliente a procedimento criminal. Sem representação do ofendido. Não se discute o desejo da vítima. Em razão de seu cargo estão obrigados a noticiar às autoridades a ocorrência de crimes no desempenho de suas atividades. Comunicação de ocorrência de morte encefálica: para captação e distribuição de órgãos (Lei 9.434/1997); Ocorrências induzidas ou causadas por alguém não médico: óbitos, lesão corporal, danos à saúde (comunicação ao CRM e à Polícia). Ocorrência de violência contra a mulher: p.ex., esterilizações cirúrgicas (Lei 10.778/2003). Pareceres São consultas feitas a renomados especialistas na área médica para utilização em processo judicial (criminal, cível ou trabalhista) ou administrativo. Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 7 São documentos oficiosos, particulares, encomendados pelas partes para reforçar sua tese e, por isto, devem ser analisados com cautela e raramente se sobrepõem aos exames oficiais. Elementos dos pareceres: Compõe-se de quatro partes (não possui descrição): Preâmbulo: qualificação do médico consultado; Exposição: transcrição dos quesitos e do objeto da consulta; Discussão: (parte mais importante do parecer), onde os fatos apresentados serão analisados em minúcias; Conclusões: modo de ver do parecerista, dando resposta aos quesitos formulados. Depoimentos orais Dados pelo médico perante autoridade policial ou judicial, objetivando o esclarecimento de questão médica de interesse judicial. Ex: Esclarecimento de fato médico em inquérito policial. Tais depoimentos são normalmente reduzidos a termo, sobre fatos obscuros ou conflitantes. Relatórios médico-legais São resultantes da atuação médico-legal. Auto: o Relatório ditado ao escrivão ou ao escrevente na presença do delegado ou do juiz, o É normalmente elaborado por peritos “ad hoc”, o É assinado por peritos nomeados, pelo escrivão e pelo delegado. Laudo: o Elaborado pelos próprios médicos, o É o mais comum de todos os relatórios. >>> Se for ditado logo após o exame: Auto. Se for redigido posteriormente pelos peritos: Laudo. Elementos do laudo: Preâmbulo Quesitos (área criminal os quesitos são oficiais e padronizados) Histórico Descrição Discussão Conclusões: É a síntese do laudo Respostas aos quesitos Fecho ou encerramento >>> Exemplo: LAUDO DE NECRÓPSIA Aos vinte e três dias de janeiro de dois mil e nove, nesta cidade de Pelotas, no necrotério do PRML, à requisição do Sr. Delegado de Polícia da (...), compareceram o (s) perito (s) oficial (ais), para proceder exame no cadáver de xxxxxx, nascido (a) em , de cor , estado civil (a), natural de e residente na , descrevendo o que encontraram e respondendo aos seguintes quesitos: - PRIMEIRO, se houve morte; - SEGUNDO, qual a causa da morte; - TERCEIRO, qual o instrumento ou o meio que produziu a morte; - QUARTO, se foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por outro meio insidioso ou cruel (resposta especificada). - Em conseqüência, passaram os peritos a fazer o exame requisitado e as investigações que julgaram necessárias, concluídas as quais, declararam o seguinte: HISTÓRICO: Pela autoridade policial foram os peritos informados de que a vítima.... DESCRIÇÃO: Exame realizado no dia 23/01/2006 com início às 16:30 h. Envolvendo o cadáver se identificam dois cobertores nas cores verde e vermelha, tintos de sangue desidratado, observando-se que este vestia uma bermuda na cor azul, parcialmente tinta de sangue não se identificando soluções de continuidade no tecido. O cadáver é do sexo masculino, de Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 8 cor mista, aparentando pesar75,0 kg e medindo aproximadamente 1,71 m, bem compleiçoado, bom estado nutricional, apresentando rigidez muscular generalizada e livores de hipóstase não fixos nas regiões posteriores do corpo. Couro cabeludo dá implantação a cabelos curtos, lisos, pretos e está íntegro. Tegumento da face íntegro. Globos oculares depressíveis, córneas semitransparentes, pupilas dilatadas, íris de coloração castanha. Narinas, boca e ouvidos secos. Pescoço sem mobilidade anormal e com tegumento íntegro. Tórax simétrico apresenta quatro cicatrizes ovaladas, deprimidas, consolidadas, medindo até 1,0 cm no maior eixo e estando assim distribuídas: região peitoral esquerda (01), região hipocondríaca direita (01) e hipocondríaca esquerda (02). Na região peitoral esquerda vê-se tatuagem amadora designando a palavra ÂNIAK. Ventre tenso e plano. Tegumento dos membros apresenta na face medial da transição dos terços superior e médio da coxa direita, uma ferida ovalada, de bordos levemente evertidos, com orla de escoriação, medindo 2,0 x 1,4 cm nos maiores eixos (Entrada do Projétil de Arma de Fogo – PAF). Cerceando a lesão descrita, vê-se halo de equimose e queimadura medindo até 1,5 m de espessura (Sinal de Werkgaertner). Na face posterior do terço médio da coxa direita vê-se área abaulada onde se palpa o PAF. À dissecção da coxa identifica- se túnel de desorganização tecidual e hemorragia que interliga os compartimentos musculares anterior e posterior da coxa, passando pelo compartimento muscular medial lacerando completamente a veia femoral neste nível, e por fim termina em fundo cego ao nível do tecido subcutâneo correspondente à área de abaulamento descrita, local de onde se retirou o PAF. Vêem-se duas tatuagens assim distribuídas: face medial do antebraço direito (xxxx - xxxxx) e face lateral do braço esquerdo (coração). Regiões posteriores e genitália externa sem particularidades. INSPEÇÃO INTERNA DA CAVIDADE CRANIANA: Não foi aberta a cavidade craniana visto serem os achados de necropsia, associados aos comemorativos do caso, suficientes para explicar a causa mortis. INSPEÇÃO INTERNA DO PESCOÇO: Não foi dissecada visto serem os achados de necropsia, associados aos comemorativos do caso, suficientes para explicar a causa mortis INSPEÇÃO INTERNA DA CAVIDADE TÓRACO-ABDOMINAL: Plastrão condro-esternal e arco costais íntegros. Cavidades pleurais direita e esquerda secas. Pulmões expandidos e livres nas cavidades pleurais apresentam difusas estrias antracóticas subpleurais e, ao corte, estão oligoêmicos. Saco pericárdio e coração sem particularidades. Cavidade peritoneal seca. Estômago contendo pequena quantidade de resíduos alimentares liquefeitos. Demais órgãos e vísceras examinados “in situ” e separadamente nada apresentam digno de nota. Foram colhidas amostras de sangue e urina para pesquisa de álcool e toxicológico, e material das mãos para exame residuográfico, cujos resultados seguirão posteriormente. DISCUSSÃO: O projétil de arma de fogo (PAF) penetrou no corpo da vítima na face anterior da coxa direita, transpassando as seguintes estruturas: musculatura do compartimento anterior; veia femoral e compartimento muscular medial, vindo finalmente a se alojar no tecido subcutâneo do terço posterior da coxa, local de onde foi retirado. Em seu trajeto causou extenso túnel de desorganização tecidual e hemorragia, causa da morte. Sua direção foi de frente para trás, da direita para a esquerda e de cima para baixo. As características do orifício de entrada do PAF permitem aos peritos concluir que o disparo foi de tiro encostado. Anexo três mapa (s) da (s) região (ões) anatômica (s), bem como um projétil deformado, pesando 10,0 g, constituído de jaqueta e núcleo de chumbo. Nestas condições, respondemos: ao primeiro quesito, SIM; ao segundo quesito, CHOQUE HIPOVOLÊMICO CONSECUTIVO A FERIMENTO PENETRANTE DE MEMBRO INFERIOR DIREITO POR PROJÉTIL DE ARMA DE FOGO; ao terceiro quesito, PÉRFURO-CONTUNDENTE; e ao quarto quesito, NÃO. Outras questões Falsa perícia Prevista no art. 342 do CP. Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 9 Alcança peritos oficiais e não oficiais. Na falsa perícia, o especialista, propositadamente: o Faz afirmação falsa ou, o Nega a verdade ou, o Silencia sobre fato relevante. Prazo para realização da perícia Prazo para entrega do laudo Suspeição, incompatibilidade e impedimento dos peritos Suspeição: vínculo do perito com as partes, Impedimento: relação de interesse com o objeto do processo, Incompatibilidade: outras razões de conveniência previstas nas leis de organização judiciária, Tais situações são as mesmas previstas para os juízes (CPP – arts.: 252, 253 e 254. / CPC – arts.: 134 e 135). Conclusão A função pericial requer duas condições ao médico: preparação técnica e moralidade. Não se pode ser um bom perito se faltar uma destas condições. O dever de um perito é dizer a verdade; no entanto, para isso é necessário primeiro saber encontrá-la e, depois querer dizê-la. “O primeiro é um problema científico, o segundo é um problema moral.” Traumatologia Traumatologia Forense é a parte da medicina legal que estuda traumas, lesões e os instrumentos (agentes) vulnerantes. Tem como objeto de estudo as lesões produzidas por violência sobre o corpo humano, as quais são produzidas por algum tipo de energia. As energias podem ser: mecânica, física, química, física-química, bioquímica, biodinâmica ou mista. Mecânica Aquelas capazes de modificar o estado de repouso ou de movimento de um corpo. Meios: Meio ativo: objeto em movimento. Meio Passivo: corpo humano em movimento. Meio misto: os dois em movimento. Classificação do Meio Instrumento Lesão Perfurantes Puntiforme ou Punctória Cortantes Cortante Contundentes Contusa Pérfuro – cortantes Pérfuro – cortante Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 10 Pérfuro – contundentes Pérfuro – contusas Corto – contundentes Corto – contusa Lesões Simples 1. Instrumento perfurante Ferida Punctória: forma assume aspecto diferente. 1º lei de filhos: objeto de médio calibre produz uma ferida semelhante à ferida por instrumento de dois gumes. A ferida e o instrumento se “fecham como casa de botão”. 2º lei de filhos: diz que lesões na mesma região terão suas linhas de força e eixo no mesmo sentido. Lei de Langer: confluência de linhas de força diferentes, extremidade da lesão com aspecto de ponta de flecha. 2. Instrumento cortante Ferida cortante ou incisa Cauda de escoriação: no início da lesão, ela será mais profunda e a borda de saída da lesão será mais superficial. Cauda de escoriação é voltada para a extremidade final da lesão. Obs: Bisturi é usado em INCISÃO (médico) 3. Instrumento contundente Rubefação Edema traumático Equimose Hematoma Escoriação Ferida contusa Fratura Luxação Entorse Roturas Viscerais. Feridas Produzidas por Ação Perfurante / Ferida Punctória Mecanismo de Ação: percussão ou pressão, afastamento das fibras do tecido. Instrumento: estilete, agulha, furador de gelo. Características: “abertura estreita”, raramente sangra, pouca nocividade na superfície e, às vezes, de grande gravidade na profundidade (varia com o órgão atingido). As fibras têm elasticidade e fazem retratilidade tecidual, por isso, pode haver um ferimento com diâmetro menor do que o diâmetro do instrumento. Instrumentos perfurantes: floretes e agulhas. Instrumentos perfurantes de médio calibre: Espeto, sovela, furador de gelo. Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 201911 Lesões Produzidas por Ação Cortante / Incisas Meios: gume mais ou menos afiado. Mecanismo de Ação: deslizamento sobre o tecido. Características: bordas regulares, fundo regular, ausência de trauma na periferia do ferimento, grande hemorragia, maior em comprimento que em profundidade, afastamento das bordas, cauda de escoriação voltada para a extremidade final da lesão, profundidade igual em toda a sua extensão. Ex: incisão por bisturi. >>> No diagrama qual é a primeira lesão e qual a segunda? - Primeiro sempre ocorre a lesão contínua ( linha horizontal da figura 4), depois a segunda lesão perde sua continuidade. Tipos especiais de lesões cortantes, incisas: Esquartejamento: pessoa é seccionada nas articulações, por exemplo, braços separados do tronco. Espostejamento: pessoa seccionada em outros locais que não nas articulações. Ex: atropelamento. Lesões Produzidas por Ação Contundente Instrumentos: produzidos por um corpo de superfície. Mecanismo de ação: pressão explosão, deslizamento, compressão, descompressão, distensão, torção, contragolpe. Lesões produzidas: Rubefação / Eritema: congestão momentânea, mancha avermelhada (até 24h). Não rompe tecidos ou vasos, só fica vermelho e depois desaparece. Escoriação: arrancamento da epiderme e desnudamento da derme. Podem surgir crostas, as quais caem entre o 4º - 10º dia. Não deixa cicatriz. Edema Traumático: aumento difuso do volume por acúmulo de líquido intercelular. Modificação traumática da permeabilidade dos vasos capilares. Deve ser distinguidos dos vários outros tipos de edemas, sendo importante a correta utilização do termo “edema traumático”. Hematoma: extravasamento de sangue de um vaso calibroso. Sangue localizado em cavidade, não infiltra tecido. Coloração violácea de reabsorção lenta. Não há difusão nas malhas do tecido. Bossa Sanguínea: é um hematoma, mas sempre sobre o plano ósseo. Ferida cutânea: lesões abertas. Características: forma sinuosa e estrelada, bordas irregulares, pontes de tecido íntegros, ligando as vertentes pouco sangrantes. Fratura: perda da continuidade óssea. Decorrem de mecanismos de compressão, flexão ou torção. São classificadas: o Quanto à exposição: fechada ou aberta. o Quanto à extensão: completa ou incompleta. Luxação: deslocamento de dois ossos cuja superfície de articulação deixa de manter suas relações de contato que lhes são comuns. Podem ou não se acompanhar de rupturas dos ligamentos. Entorses: lesões articulares provocadas por movimentos exagerados. Incide sobre os ligamentos. Roturas viscerais internas: é lesão de órgãos das cavidades. Equimose: infiltração hemorrágica nas malhas dos tecidos, sangue é reabsorvido. Rompe vasos pequenos, causando a infiltração sanguínea. Quanto a forma, podem ser: o Sugilação: forma de grãos. o Víbice: forma de estrias. Ex: marca dos dedos quando alguém agride uma criança. o Petéquias: pontilhado hemorrágico. Crianças quando choram, vomitam ou tossem muito, podem ficar com petéquias na região de artéria temporal. Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 12 Evolução cromática da equimose: Utilizada para avaliar a temporalidade da lesão, por meio da análise da oxidação da hemoglobina. Analisar a cor mais externa da lesão. Idosos e crianças podem ter uma reação diferente, pois o organismo pode demorar mais para fazer a digestão dessa hemoglobina. Logo, idade e região de acometimento são variáveis que interferem na evolução cromática. Diagnóstico Diferencial de Equimose com Livor Hipostático o Equimose: apresenta sangue coagulado, malhas de fibrina, infiltração hemorrágica, presença de sangue fora dos vasos, devido ao rompimento de vasos. o Livor hipostático: apresenta sangue não coagulado, ausência de malhas de fibrina, ausência de infiltrado hemorrágico. Sempre aparece na região mais baixa do corpo. >>> Observações: 1. Encravamento x Empalamento o Encravamento: Penetração de objeto afiado consistente em qualquer parte do corpo. o Empalamento: Tipo de encravamento onde o objeto penetra no ânus ou períneo. Geralmente as lesões são múltiplas e variadas. 2. Lesões por cinto de segurança o Cintura em pelve: traumatismos crânio – faciais, rotura de vísceras internas , como bexiga e fratura de coluna. o Cinto tóraco – diagonal: lesões de joelho, pernas e coluna cervical. o Cinto combinado: hiperflexão ou hiperdistensãoo brusca da região cervical. Traumatismo da mandíbula, fraturas e luxações de vértebras cervicais. 3. Lesão por atropelamento o Fraturas de membros inferiores. o 1º choque: contusão com o veículo. 2º choque: queda ao solo. o Impressão de rodas sobre o corpo: estrias pneumáticas de Simonin. Lesões Mistas Lesões produzidas por ação Pérfuro – Cortante Instrumento: o Um gume (faca): forma de botoeira, um ângulo agudo e outro arredondado. o Dois gumes (punhal): forma dois ângulos agudos. o Três gumes: ferimento de forma triangular. >>> Feridas penetrantes geralmente são graves. Causa mais frequente: homicídio. Lesões produzidas por ação Cortocontundente Instrumentos: foice, facão, machado, enxada, serra elétrica. Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 13 Características: forma variável, quase sempre graves, não apresentam cauda de escoriação, nem pontes de tecidos íntegros entre as vertentes da ferida, o que as diferencia das feridas cortantes e contusas. Lesões Produzidas por Ação Perfuro – Contundente Características: decorrentes de mecanismos que perfuram e contundem ao mesmo tempo, são mais perfurantes que contundentes. Instrumento padrão: projétil de arma de fogo. >>> O ferimento de entrada depende se é resultante de tiro encostado, a curta distância (queima roupa) ou a longa distância. Noções de balística forense: Raias: saliências na face interna do cano da arma de fogo. Essas saliências fazem com que o tiro seja mais perfeito, atinja melhor o alvo e identificam de qual arma pertence o projétil. Essas raias são únicas para cada arma. Projétil desenvolve um movimento de giro sobre ele mesmo. Estrias: impressões das raias no projétil de arma de fogo. Lesões: considerar o ferimento de entrada, trajeto e ferimento de saída. A propulsão de um projétil ocorre do seguinte modo: o percutor bate na espoleta, a qual inflama a pólvora. A queima libera gases e o projétil é empurrado no cano. Tiro Encostado Os gases de explosão e projétil penetram no ferimento e refluem. Se houver plano ósseo abaixo, as bordas serão irregulares, denteadas ou com entalhes, podendo (através dos gases de explosão) gerar “câmara de mina Hoffmann” com crepitação gasosa ao redor do ferimento. Efeito de “mina”: quando, em alguns casos, as bordas ficam evertidas pelo efeito dos gases de explosão. Não há zona de tatuagem ou esfumaçamento, mas vertentes enegrecidas ou desgarradas, como uma cratera de mina. Sinal de Werkgaertner: desenho do cano e da massa da mira. Tatuagem pela queimadura causada pela arma encostada na pele. Tiros a curta-distância (queima-roupa) Caracteriza-se por sinais de resíduos da combustão da arma, sendo determinado pelos estigmas do efeito secundário, sendo do efeito primário o do projétil. Forma: arredonda ou ovalar. Orla de escoriação: desnudamento de orla de epiderme periorificial. Bordas invertidas, projétil entra e “leva as bordas com ele”. Halo de enxugo: resíduos de materiais que a bala carreia em seu trajeto. Halo de tatuagem: resíduos de pólvora que impregnam a derme, fazendo uma tatuagem ao redor da lesão.Não sai com água e fricção. Orla de esfumaçamento: fumaça dos gases na periferia da lesão. Sai com água e fricção. Zona de queimadura: tecido / pele periorificial de aspecto apergaminhado. Aréola equimótica: contusão projetil periferia Zona de compressão de gases: periferia ferida. Tiros à distância Caracteriza-se por bordas invertidas, de forma circular ou ovalar, com orla de escoriação e orla de enxugo. OBS: no caso de munições com múltiplos projeteis (arma de caça), forma-se a “rosa de tiro”, onde se formarão múltiplos ferimentos de entrada, concêntricos, sendo o diâmetro da “rosa de tiro” diretamente proporcional à distância com que foi deflagrada a munição. Quanto mais distante, maior o diâmetro da rosa de tiro. Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 14 Ferimento de saída Tem como características bordas evertidas, fundo irregular, maior sangramento que o orifício de entrada e não apresenta orla de escoriação nem orla de enxugo. Tem o diâmetro maior que o orifício de entrada sempre! Trajeto de projetil: caracteriza-se por sangue e corpos estranhos de outras regiões no interior do trajeto. Para seguir o trajeto de projeteis, rastreia-se a infiltração de sangue. Observações: Lesão em martelo: calota craniana em pedaços. Olhos de guaxinim: fratura ou lesão de base do crânio. Lesões de Defesa: procurar nos locais mais comuns: mãos, braços, pés, costas. Quando se apresenta um corpo por suposto suicídio, sempre procurar se não há lesões nas mãos que demonstrem lesões de defesa em caso de tentativa de homicídio. Resíduo gráfico da mão: nesse exame é feito a pesquisa de vários componentes que estão em projetis (fogo, gases, elementos químicos, pólvora). Asfixias Conceito Síndrome caracterizada por sinais e sintomas resultantes da obstrução do ar desde a entrada das vias aéreas superiores até o alvéolo pulmonar. Classificação I. Mecânica: Gases não-respiráveis (confinamento) Obstáculo à penetração do ar (sufocação direta ou indireta) Meio gasoso em líquido (afogamento) Meio gasoso em sólido (soterramento) II. Mista: fenômenos circulatórios, respiratórios e nervosos (esganadura) III. Química: gerada por agentes químicos, como o CO2 Asfixias Mecânicas Obstrução à passagem do Ar Tipos I. Sufocação direta Oclusão externa das vias aéreas superiores, podendo ser por corpo estranho. Engasgamento Soterramento II. Sufocação indireta Esganadura Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 15 Estrangulamento Enforcamento Afogamento Achados Perinecroscópicos Externos Observa-se no corpo congestão perioral, labial, na ponta dos dedos e face. Ocorre formação de petéquias subconjuntivais e, eventualmente, cutâneas. Também se observa protusão ocular e procidência da língua, dado aumento de pressão. Achados Perinecroscópicos Internos Podem ser encontradas as chamadas Manchas de Tardieu (petéquias subserosas com tamanho ≤2cm), assim como congestão polivisceral e modificações no aspecto do sangue das câmaras cardíacas, que se torna fluído (com total ausência de coágulos) e escuro. Sufocação Direta Oclusão externa das vias aéreas superiores, consistindo em uma modalidade de asfixia onde há impedimento da passagem de ar do meio externo para o sistema respiratório. Pode ser causada por oclusão manual da boca e narinas (grande diferença de força entre o agressor e a vítima), oclusão por roupas de cama/anteparos ou ainda por confinamento da cabeça da vitímica em um saco de plástico. Dentro dessa categoria encaixam-se o soterramento (queda em meio pulverulento com oclusão de vias aéreas por areia, terra, grãos, etc.) e o engasgamento (oclusão de vias aéreas por aspiração de corpo estranho, usualmente bolo alimentar – comum em lactentes e idosos com sequela de AVC). Nos casos de homicídio por oclusão manual da boca e narinas, se as marcas digitais na vítima estiverem à esquerda, indica que o agressor é destro (e vice-versa). Sufocação Indireta Resulta do impedimento da expansão pulmonar por meio de pressão tóraco-abdominal externa. Pode ser causada pela queda de objetos pesados sobre o corpo da vítima e consequente compressão do tórax e abdome. Antigamente, era uma forma comum de “auxiliar doentes terminais no fim de sua vida” (exortadores). A morte por sufocamento indireto gera sinais característicos, como a máscara equimótica (Morestin – edema + equimose por compressão dos grandes vasos e diminuição do retorno venoso) e comemorativos externos (em função da aplicação de força/compressão). É comum encontrar fratura de processo estiloide em crianças (que já tenham desenvolvido). Esganadura Evento resultante da compressão cervical pelas mãos do agressor. Normalmente, há um desequilíbrio de forças entre a vítima e o agressor. É caracterizada como homicídio. Por se tratar de uma agressão, costuma vir acompanhada de sinais de defesa, como estigmas ungueais na pele da região cervical e fragmentos da pele do agressor no espaço subungueal das mãos da vítima. Pela aplicação de força, pode ocorrer fratura dos ossos/cartilagens cervicais (processo estiloide, hioide e cartilagem tireoide). Sinais Frequentes Roturas arciformes: presentes na íntima da carótida comum – Marcas de França Infiltrado hemorrágico na musculatura cervical (muito comum) Congestão da face Sinais gerais comuns às asfixias mecânicas Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 16 Estrangulamento Resulta da compressão cervical por laço tensionado por força externa. A morte por estrangulamento pode se tratar tanto de um homicídio quanto de um acidente. No caso de homicídios, se realizado com a região antebraqueal, não deixa marcas externas. Quando se trata de um acidente, deve-se sempre desconfiar de asfixia erótica (hipoxifilia – parafilia), fetiche no qual a pessoa sente excitação ao ficar sem ar. Sinais Frequentes Marcas de laço em regial cervical: geralmente horizontalizado e completo (360° em torno do pescoço – atenção para as diferenças dessa marca para as de enforcamento). Infiltrados hemorrágicos na musculatura cervical Fratura de hioide e cartilagem cricoide (eventualmente) Petéquias cutâneas faciais e subconjuntivais Sinais gerais comuns às asfixias mecânicas Enforcamento Evento resultante da compressão cervical por laço tensionado pelo próprio peso da vítima. A morte por enforcamento pode se tratar de suicídio, acidente ou homicídio (execução). Podem ser considerados “típicos”, quando a marca do nó encontra-se na região cervical posterior, ou “atípicos”, quando a marca do nó encontra-se na região cervical anterior. Os livores de morte estarão nos pés e próximos à corda. A marca sulcada no pescoço deixada pelo enforcamento tem direção de baixo para cima, de anterior para posterior e segue um caminho oblíquo. Além disso, a marca é incompleta, sendo interrompida no local onde se encontra o nó. A morte pode ocorrer tanto com a suspensão completa quanto incompleta do corpo (pessoa pode estar ajoelhada, por exemplo). Sinais Frequentes Marcas de laço em região cervical, geralmente oblíquo + incompleto (marca de nó) + apergaminhamento (gerado por material duro do laço ou demora em achar o corpo – gera a dita linha argêntica, que consiste na marca no tecido adiposo). Infiltrados hemorrágicos na musculatura cervical Fratura de hióide e cartilagem cricoide (eventualmente) Sinal de Friedberg (sufusão da adventícia da carótida) Sinal de Amussat (roturas transversais da íntima da carótida) Sinal de Brouardel (infiltrado hemorrágico retrofaríngeo) Sinais gerais comuns às asfixias mecânicas Afogamento Resultante da morte por penetração de líquido nas vias aéreas, impedindo a passagem de ar. Pode ocorrer por acidente, suicídio ou ainda homicídio. Pode ser classificado como verdadeiro (afogado azul), onde há presença de líquido nas vias aéreas, ou falso (afogado branco de Parrot), onde não há presença de líquido nas vias aéreas, sendo a asfixia resultante de espasmo glótico. Há ainda o afogado por inibição, que não apresenta líquido nas vias aéreas nem sinais de asfixia (mecanismo ainda não elucidado). Sinais Frequentes Externos Vestes e tegumento úmidos Piloereção/pele anserina – por contração muscular Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 17 Corrugamento da pele das mãos e pés – soltura da pele “em luva”. Cogumelo de espuma – forma-se durante o afogamento, saindo quando o corpo é retirado da água. Sua coloração é clara. Não é exclusivo do afogamento. Petéquias submucosas Corpos estranhos em via aérea, cavidade oral e leito subungueal (areia e plantas aquáticas) Escoriações cutâneas lineares e paralelas – gerados pelo arrastamento do corpo no fundo do lago, rio ou oceano. Ação da fauna aquática – consomem os lábios e pálpebras do cadáver. Internos Líquido em vias aéreas e estômago Enfisema aquoso Sinal de Paltauf – Sufusões subpleurais (iguais às de Tardieu, porém >2 cm) Hemorragias o Sinal de Nilles – bitemporal o Sinal de Vargas-Alvarado – lâmina crivosa Sinal de Ettiene-Martin – Congestão hepática e corrugamento da cápsula esplênica Pesquisa histopatológica pulmonar positiva para diatomáceas e cristais (plâncton) – confirma que a morte ocorreu na água (e não que o corpo foi jogado lá após um homicídio). Quando o corpo se encontra em decomposição, pode gerar falsos positivos. Esgorjamento Trata-se da lesão cervical lateral ou anterior, produzida por instrumento cortante ou corto-contundente. Dependendo da intensidade do manejo do instrumento , pode atingir até a coluna vertebral. Pode se tratar de um homicídio, acidente ou suicídio. Causas de óbito I. Choque hipovolêmico por lesão vascular (forma mais comum de óbito) II. Parada cardio-respiratória por lesão nervosa III. Asfixia por entrada de sangue na árvore respiratória (formação de cogumelo de espuma róseo) IV. Embolia gasosa por entrada de ar em grandes veias (raro) Degolamento Consiste em uma lesão produzida por instrumento cortante, localizada na região posterior do pescoço. É sempre causada por homicídio. Não se caracteriza em asfixias. Agentes físicos - Energia térmica e elétrica Lesões por energia térmica Definição: Energias geradas por transferência de calor. Tipos: Lesões induzidas pelo frio Lesões induzidas pelo calor Lesões induzidas por eletricidade Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 18 Lesões induzidas pelo frio Natureza jurídica: o Homicídio – Ex: Abondono de recém-nascido o Acidental (mais comum) – Ex: Mendigos, alcoolistas. A ação do frio pode ser generalizada ou localizada. Quando localizada, é chamada de geladura, que é uma lesão semelhante ao calor e classificada em graus: 1º Grau: Palidez ou rubefação e pele de aspecto anserino. 2º Grau: Eritema + flictenas (bolhas pequenas) com líquido claro hemorrágico em 12h. 3º Grau: Necrose dos tecidos moles, formação crostas enegrecidas, aderentes e espessas. 4º Grau: Gangrena e ou desarticulação. Não existe lesão típica da ação generalizada e esta resulta de perda de calor do indivíduo. A perícia deve orientar- se do(s): o Comemorativos do caso, o Estudos do ambiente, o Fatores próprios da vítima (fadiga, depressão orgânica, idade, alcoolismo, perturbações mentais). Elementos Hipóstase vermelho-clara, sangue menos escuro, isquemia cerebral, congestão polivisceral, às vezes disjunção das suturas cranianas (se temperaturas extremas ou abaixo de 0ºC), sangue pouco coagulado, congestação e repleção das cavidades cardíacas, espuma sanguínea em via área superior, flictenas (bolhas) na pele. Erosões e infiltrados hemorrágicos da mucosa gástrica (S. Wischnewski). Alterações in-vivo Alterações do sistema nervoso central: Sonolência, convulsões, delírios, pertubação do movimento, anestesias, congestão ou isquemia visceral Morte. Gangrena Ex: “Pés de trincheira” – Gangrena ocasionada pela falta de proteção dos pés ao frio, ocorridas na guerra. Lesões induzidas pelo calor Definição: Lesão resultante da transferência de calor para a vítima, em nível supra fisiológicos. Finalidade básica da perícia: Diagnosticar lesões in vita ou post mortem; Natureza jurídica: acidente, suicídio, homicídio; Estimar a gravidade da(s) lesão(ões). Tipos lesionais 1. Intermação – Calor difuso Intenso calor ambiental + local fechado + pouco ar (comum em alcoolistas) Fisiopatogenia: Lise da miosina cardíaca e destruição hemática = coagulação intravascular e anafilaxia, efeitos diretos no SNC ou metabólitos sanguíneos lisados. 2. Insolação – Calor difuso Calor ambiental + local aberto + sol + pouco ar + excesso de vapor d’água. >>> Nos casos letais de insolação e intermação pode aparecer: Secreção espumosa e sanguinolenta nas vias respiratórias; precocidade da rigidez cadavérica, putrefação antecipada, congestão e hemorragia das vísceras. Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 19 >>> O diagnóstico se dá pelos antecedentes, análise das condições locais e ausência de outras lesões à necrópsia. 3. Queimadura – Calor direto O calor direto gera queimadura de extensão variável. Fontes: Chamas, calor irradiante, líquidos escaldantes, gases em altas temperaturas, sólidos quentes e raios solares. Agentes: o Líquidos escaldantes – Causa jurídica: geralmente acidental. o Calor irradiante – Ex: exposição ao calor de forno industrial, raios solares. Classificação das queimaduras por Hoffmann Grau Características Primeiro Eritema simples (sinal de Christinson) com lesão restrita a epiderme e vasodilatação. OBS: Não se evidencia no cadáver. Segundo Eritema + vesículas ou flictenas com líquido amarelo/claro (sinal de Chamber) Terceiro Coagulação necrótica (se passar algum tempo, que geram cicatrizes de segunda intenção), podendo a cicatriz ser retrátil ou formar queloide. Observa-se que este grau atinge o plano muscular. Quarto Carbonização em nível de plano ósseo. >>> Queimaduras de 2º grau até 10% da superfície corporal geralmente podem ser tratadas ambulatorialmente, exceto se a localização for em mãos, face, articulações ou se estiverem infectadas. Queimaduras maiores devem ser tratadas em centros para queimados, com risco de morte aumentando conforme aumenta a área afetada. Extensão da queimadura Baixa: Menos de 15% Média: de 15 a 40% Alta: Acima de 40% Carbonização generalizada Características: Diminuição do corpo, posição de lutador, cabelos crestados, exposição do couro cabeludo, tórax com aberturas, ossos fissurados, pele enegrecida que ressoa a percussão, desapareciemento do sulco nasogeniano. Perícia: Como saber se o indivíduo está vivo ou morto no momento da queimadura? o Procurar outras lesões distintas da queimadura, o Pesquisar se houve respiração durante a queimadura – óxido de carbono no sangue e fuligem nas vias respiratórias (sinal de Montalt). o Flictenas: O morto pode conter, porém o conteúdo não será seroso, ao contrário dos vivos, em que a microscopia revela hemáceas descoradas, migração leucocitária e edemas das papilas dérmicas. >>> Queimaduras por líquidos ou gás a altas temperaturasnão são tão profundas nem chamuscam os pelos. >>> Queimaduras por calor irradiante respeitam o corpo (parte) coberto. >>> Observar a direção das chamas. Regra dos “nove” de Pulaski e Tennison Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 20 Lesões térmicas por eletricidade Tipos de eletricidade: Natural ou cósmica – Raios Artificial – Energia elétrica ou industrial Unitermos relacionados às lesões por eletricidade Eletricidade artificial – Eletroplessão: Qualquer acidente que venha ou não ter êxito letal. Eletricidade artificial – Eletrocussão: Execução através de corrente elétrica. Eletricidade natural – Fulminação: Morte por ação de descarga elétrica natural Eletricidade natural – Fulguração: Lesão por ação de descarga elétrica natural que não resulte em morte. Marca elétrica é o ponto de entrada de eletricidade no corpo. Queimadura elétrica: calor corrente gera escara escura, apergaminhada, de bordas nítidas, sem áreas de congestão ou flictenas. >>> É frequente encontrar o sinal de saída da descarga elétrica no nivel da planta do(s) pé(s). Queimadura elétrica Tipos / Características Porosa: dá o aspecto da histologia pulmonar. Anfractuosa: tem aspecto de esponja gasta. Cavitária: tem aspecto de crateras com tecido carbonizado. Itens importantes de verificação em vítima de eletroplessão Identificar marca elétrica, Identificar queimadura elétrica, Raspagem marca de Jellinek (espectrometria reab. Atômica) – Suspeita Exame minucioso das três cavidades (tórax, crânio e abdome) Verificar sinais gerais de asfixia Detalhar alterações Verificação em vítima de fulminação Dados meteorológicos do período, Exame e informação detalhada do local, Verificação de queimaduras, carbonização e calcinação, Verificar lesões secundárias: fraturas, contusões, etc. Identificar lesões arboriformes, Estudo das três cavidades (crânio, tórax e abdome), Verificar micro-hemorragias cerebrais e cerebelares, Sinal de Devergie (boxeador) nos carbonizados. Fatores importantes para resultado da ação descarga elétrica Intensidade da corrente (Ampéres): Quantidade de eletricidade que atravessa um condutor em determinado espaço de tempo (segundos). o Lesão fatal: Correntes contínuas entre 400-600 miliampéres Correntes alternadas (baixa frequência) entre 20-150 miliampéres Correntes alternadas (alta frequência) acima de 150 miliampéres. Resistência do condutor (Ohms): No corpo humano, a resistência superficial varia de 15 mil a 40 mil. Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 21 o Em meio úmido: 1200 Ohms o Submerso: 500 Ohms >>> A produção desse tipo de lesão ou mortes está ligada às variáveis: Intensidade da corrente, resistência do corpo, tempo de exposição, derivação da corrente elétrica, próprio indivíduo. Efeitos da corrente elétrica Efeito térmico (“efeito joule”): Produção de calor pela passagem de corrente elétrica. Efeito luminoso: Elevação da temperatura do condutor, torna-o incandescente. Efeito magnético: Ao percorrer condutor, cria um campo magnético (produção de eletroímã). É visto em fuguração, principalmente. Efeito fisiológico: O choque elétrico aumenta a excitabilidade muscular. Esta é a principal ação elétrica sobre o organismo. Fisiopatologia da morte por eletricidade Causas Mecanismos Pulmonar Tetanização dos músculos respiratórios e fenômenos vasomotores asfixia, edema pulmonar, enfisema subpleural, congestão visceral e petéquias subendocárdicas e subpleurais, congestão de traqueia e brônquios. Cardíaca Contração fibrilar do ventrículo, alterando a condução elétrica. Cerebral Hemorragia das meninges, paredes ventriculares, bulbo, corno anterior da medula, edema do parênquima. Principais causas de morte Alta tensão (>1200 V): Morte cerebral (hemorragia encefálica e ou medular) e asfixia. Média tensão (120 a 1200 V): Morte por asfixia. Baixa tensão (<120 V): Morte por fibrilação ventricular. Agentes Químicos e suas Lesões Definição São substâncias que, ao entrar em contato interno ou externo com o organismo, são capazes de causar dano à saúde. Tipos Cáusticos: causam lesões tegumentares e diretas, podendo ser externa e/ou visceral. Venenos: necessitam ser absorvidos. Efeitos 1. Efeito Coagulante: age por desidratação dos tecidos, formando escaras endurecidas de tonalidade diversas. Ácido sulfúrico, óleo de vitríolo: deixam escaras enegrecidas. Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 22 Nitrato de prata: cáustico lunar. A inalação causa tosse, queimação, dificuldade respiratória, cefaleia, náuseas, vômitos. Causa lesões amareladas, cuidar com colírios feitos à base de nitrato de prata. Essa substância perde seu efeito se exposto à luz. Acetato de cobre: presente em antifúngicos e corantes. Deixa escaras acinzentadas. Cloridrato de zinco: presente em vasoconstritores. Deixa escaras acinzentadas. 2. Efeito Liquefaciente: produzem escaras úmidas, translúcidas e moles, tem um efeito mais agressivo que o coagulante, pois essas substâncias entram no tecido e nas células, causando degradação e formação de úlcera. É necessário retirar a substância para que ela pare de penetrar no tecido em caso de acidente com esse tipo de substância. Perigoso quando alguém ingere uma substância que tenha efeito liquefaciente para suicídio, pois é difícil sobreviver. Soda cáustica: presente em papel, tecidos e detergentes. Amônia: gás incolor que está presente em fertilizantes agrícolas, produtos de limpeza e explosivos. Potassa: produto alcalino e corrosivo, presente em limpadores de metais, baterias, fabricação de sabão. Cáusticos Importância do estudo das lesões externas: 1. Determinação da gravidade: depende da quantidade, concentração e natureza do cáustico. 2. Distinguir se foi lesão in vita ou post mortem: é de difícil determinação, pois alguns ácidos atuam igualmente no vivo ou no cadáver. 3. Identidade da substância usada: feita pelo aspecto das lesões e reações químicas. 4. Natureza Jurídica: para determinar se a lesão foi por acidente, suicídio ou homicídio. Quando a ação é criminosa predomina o arremesso da substância em áreas expostas, principalmente face e pescoço, visto que o intuito é a deformação. Os agentes cáusticos danificam os tecidos, devido à sua capacidade de alterar a estrutura das proteínas, dos lipídios, dos carboidratos e dos ácidos nucleicos tão acentuadamente a ponto de ocorrer perda da integridade celular. Vitriolagem São as lesões cutâneas e viscerais produzidas por ação de substâncias cáusticas, fundamentalmente ácidos e bases. >>> Características da lesão externa: cicatriz deformante, saliente, ás vezes, até queloidiana, com extensas retrações principalmente em locais de articulação. Ácidos Mecanismo de ação: age por coagulação das albuminas, lesão térmica e intensa desidratação local. Exemplos: ácido sulfúrico (óleo de vitríolo), ácido nítrico (ácido azótico), ácido clorídrico, ácido muriático. Lesões mais características: Ácido nítrico: escaras secas, resistentes, amareladas. Ácido sulfúrico: escaras secas, enegrecidas (hematina). Ácido clorídrico: escaras esbranquiçadas. Álcalis – Bases Produzem escaras úmidas, moles e untuosas. Lesões por álcalis não formam crostas protetoras, resultando em lesões mais profundas e dolorosas, úmidas, amolecidas, saponáceas (gordura x álcali). Caso não sejam eliminadas, tendem a causar lesão progressiva. Mecanismo de ação: agem por dissolução mineral, determinando ulceraçõesque tendem a hemorragia. Ex: soda cáustica. Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 23 Queimadura química: a gravidade das lesões dependerá da concentração e da quantidade do produto, duração e modo de contato com a pele, extensão corporal exposta ao agente e do mecanismo de ação da substância. Lesão Visceral por ingestão de álcali ou bases fortes: Sinais e Sintomas: Dor atroz Vômitos Hálito com odor atípico Atresia ou estenose esofagiana Gangrena gastrointestinal Peritonite Gravidade das lesões: Apresenta espectro variável, desde lesões discretas até sequelas deformantes e morte. Quando há êxito letal, geralmente sobrevêm por hipotensão e necrose tubular aguda. Achados de necropsia: múltiplas lesões renais, hepáticas, gastrointestinais, bem como trombose. Orientações Terapêuticas Retirada de roupas contaminadas, substância tem efeito enquanto está em contato com a pele. Lavar em água corrente abundante reduz a taxa de reação e diluirá o cáustico. Lavar de forma que essa água e substância não escorram para outros locais do corpo. Quando for álcali, deve-se evitar cobrir a lesão, visto que gera reação exotérmica, resultando em maior dano. Medidas locais: gaze vaselinada, desbridamento tecidual precoce. Venenos Toxicologia: ciência que estuda venenos e substâncias tóxicas com efeitos no organismo. Definições de venenos Substância que, quando introduzida no organismo, em quantidades pequenas e agindo quimicamente é capaz de produzir lesões graves à saúde (no caso do indivíduo comum e no gozo de relativa saúde). É toda substância que lesa a integridade corporal ou a saúde do indivíduo ou lhe produz a morte, mesmo em quantidades relativamente pequenas. Substância que pode ser concomitantemente medicamento e veneno, dependendo da quantidade que é administrada. O conceito de veneno está intimamente vinculado à dose. Os venenos podem ser: o Medicamentos: depressores e estimulantes do SNC; o Produtos químicos diversos: raticidas e formicidas a base de arsênico, cianetos, fósforo, mercúrio, chumbo. o Plantas tóxicas: mandioca brava, espada de são Jorge, mamoma, comigo ninguém pode, copo de leite. o Animais: serpentes, aranhas, vespas, abelhas. Animais peçonhentos ou venenosos Animais peçonhentos: possuem glândula de veneno que se comunica com dentes ocos, ferrões ou aguilhões inoculadores do veneno. Tem veneno e o inocula. Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 24 Animais venenosos: possuem o veneno, todavia, não tem um aparelho inoculador (dentes, ferrões). Provocam envenenamento por contato (lagartas), por compressão (sapo) ou por ingestão (peixe baiacu – veneno na supra- renal). No mundo, existem cerca de 3 mil espécies de cobras, no Brasil, 250, sendo 70 venenosas e 4 peçonhentas (como a Coral). A quantidade de veneno inoculada para causar a morte, tem relação com a superfície corporal da pessoa. Em pessoas menores, uma menor dose já pode causar morte. Veneno aconitina – planta acônito: 1 gota desse veneno pode ser letal, não é pego pela avaliação toxicológica. Tem efeito neurológico e sistêmico. Termos Relacionados Intolerância: hipersensibilidade à substância. Mitridatismo: hiposensibilidade adquirida. Pessoa adquire uma resistência a determinada substância. Ex: pessoas que utilizam digitálicos (aumento gradativo da dose para adaptação do organismo); Rasputin que tomava pequenas doses de veneno para diminuir sua sensibilidade à substância em caso de tentativa de homicídio. Sinergismo: potencialização pela combinação de substâncias. Equivalente tóxico: dose mínima, endovenosa, capaz de matar 1 Kg de tecido do animal considerado. Deve constar na bula. Fisiopatologia da lesão por agente químico Alguns venenos tem capacidade transdérmica, causando penetração – absorção – distribuição (capilar) – fixação – transformação – eliminação. Vias de Penetração: Mucosas: tem uma penetração rápida. Ex: supositório com antitérmico para diminuir a temperatura. Gatrointestinal: via mais utilizada. Pulmonar: mais grave em ser utilizada. Tegumentar Circulatória (endovascular) Intradérmica Intramuscular Intratecal Absorção Capacidade de se difundir para o sistema circulatório. É a fixação da substância no tecido alvo. É específica por via (VO, IV, etc). Determinantes: solubilidade, repleção ou vacuidade gástrica, presença de neutralizadores. A via de absorção determinará maior ou menor velocidade quanto aos efeitos. Por exemplo, a via mucosa é mais rápida, pois evita o fenômeno de primeira passagem hepática. Distribuição e Fixação Determinantes: a distribuição dependerá da via de absorção e condições circulatórias da vítima. A fixação dependerá do grau de afinidade molecular entre o veneno e o tipo de tecido. Exemplos: Digitálicos: miocárdio Barbitúricos: hemácias e tecido cerebral. Cocaína: substância branca da medula espinhal. Halogenados: tecido adiposo Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 25 Metais pesados: fâneros e fígado. Chumbo: ossos Cádmio e mercúrio: rins. Transformação Determinantes: dependentes dos mecanismos bioquímicos de destruição e síntese molecular presente em vários órgãos. O mais insigne é o citocromo p450 no tecido hepático. Contudo, outros parênquimas também são capazes de transformar e até neutralizar o tóxico. Ex: sistema imune e arcabouço ósseo. Transformação a nível celular para ser eliminado ou absorvido. Eliminação Várias são as vias de eliminação dos agentes tóxicos, contudo, a mais importante é a via renal (perícia – coleta de urina). Outras vias: aparelho digestivo (vômito e catarse - evacuação), saliva, fígado (bile), pele (glândulas sudoríparas), pulmão, fâneros, unhas e pelos. Convém lembrar que a eliminação do veneno está na dependência de inúmeras variáveis, sendo as mais comuns: estado da vítima, presença de neutralizadores (Ex. café x álcali), alimentos, repleção ou vacuidade gástrica, idiossincrasia (característica de cada um reagir a uma substância), mitridatismo. Pesquisa de metais pesados: procurar nos cabelos, unhas, fígado. Não convém pesquisar no sangue. Procedimentos básicos nos casos suspeitos de envenenamento Solicitar ajuda e contatar o serviço de emergência de saúde (SAMU). Contatar o Centro de Informações Toxicológicas. CIT / RS: 0800 721 3000 Coleta nos casos suspeitos de envenenamento: Coletar urina (5ml) Coletar sangue (5ml) Coleta (cadáver): fragmentos viscerais: estômago (mandar para análise o órgão inteiro), rim, fígado, encéfalo e armazenar em temperatura inferior à 4ºC. Não se deve adicionar conservante, como álcool ou formol; amostras armazenadas somente sobre refrigeração. Exceção: sangue (dosagem de álcool, cocaína e ácido cianídrico – adicionar fluoreto de sódio). Para enviar à toxicologia: Dividir a amostra em 4 partes: 1º parte: análise de venenos voláteis. 2º parte: análise de venenos minerais. 3º parte: análise de venenos alcaloides 4º parte: armazenar para eventual contraprova. Principais manifestações e seus correspondentes mais frequentes Manifestação Característica Substância Odor Alcoólico Acetona Gás carvão Acre Fenol, cianeto, álcool. Álcool. Monóxido de carbono. Paraldeído. Pele Hiperemia Cianeto, álcool. Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 26 Vermelho cereja Cianose Palidez Icterícia Monóxido de carbono. Anilina, organofosforados. Benzeno.Cogumelos, fósfoto, CI4C. Temperatura Aumento Diminuição Dinitrofenol. Hidrato de cloral, morfina, barbitúrico. Pulso Rápido Irregular Lento Barbitúrico. Inseticida. Morfina. Respiração Kussmaull Rápida Sibilante Salicilato. Co, cianeto. Organofosforado. Convulsão - Álcool, inseticidas clorados. Vômitos - Qualquer substância. Rigidez de nuca - Estricnina, brucina, cocaína. Distúrbios abdominais - Corrosivos. Contrações musculares - Organofosforados. Critérios para diagnóstico de envenenamento 1. Clínico: Externos: cheiros (fenol – amêndoas), dilatação de pupila (atropina), lesão de lábios (cáusticos) Internos: estudo das vísceras. Asfixia por monóxido de carbono CO fixa na hemoglobinas dos glóbulos vermelhos, impedindo transporte de oxigênio para tecidos. Asfixia para carboxihemoglobina (Hb o2 + CO = COHB + 02) – ASFIXIA TISSULAR. Apresentam transtornos psíquicos e neurológicos. Mais frequente como forma suicida e acidental. Não é asfixia mecânica. Sinais mais frequentes Rigidez cadavérica mais tardia. Tonalidade rósea da face. Manchas de hipóteses mais claras. Sangue fluido e róseo. 2. Histológico Rim: necrose tubular aguda Fígado: esteatose 3. Químico / toxicológico Formol impede pesquisa de ácido cianídrico / monóxido de carbono. Álcool: impede pesquisa de formol / fósforo. Anisocoria: pupilas diferentes. Midríase: ambiente com pouca luz, anóxia ou hopóxia severa, fármaco, cocaína, maconha, LSD, cola. Miose: ambiente com muita luz, fármaco, intoxicações exógenas, heroína, morfina, ópio. Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 27 Quando não se encontra veneno? Substância escapa à pesquisa química. Eliminada em vida. Substância decompõe no organismo. Doses pequenas e mortais (Aconitina) Decomposição cadáver desintegra veneno (digitálicos, atropina). Amostras e Resultados À medida que as metodologias analíticas evoluem, a principal questão da toxicologia forense não é saber o que é, mas sim o que isso significa. Não basta identificar a nível das amostras orgânicas uma substância com relevância toxicológica, porém é essencial interpretar adequadamente os resultados obtidos. São inúmeros fatores envolvidos em uma pesquisa toxicológica: Relativos à análise: estado das amostras, técnica analítica. Analista operador, rendimento dos métodos e um número de erros sistemáticos ou fortuitos passíveis de ocorrer em qualquer atividade de análise química. Fatores que possam contribuir para que os resultados entrem em contradição com as hipóteses da investigação: via de absorção do tóxico, o tempo de sobrevida, tempo decorrido entre a ocorrência e a morte ou o intervalo de tempo até colheita de amostras, e não as medidas terapêuticas. Necropsia dos intoxicados ou envenenados Suspeita de envenenamento, deve-se prestar atenção em: Lesões orais Lesões esofágicas Lesões gástricas Lesões renais Lesões hepáticas Pupilas Elementos que podem sugerir ou indicar a causa da morte por envenenamento: Tendência ao suicídio Toxicomania Resto de medicamento (hipnótico), veneno ou produto químico usado. Quadro clínico correspondente às grandes síndromes tóxicas, como gastro-intestinal por arsênico ou cerebral por inseticidas organofosforados. Outros elementos que possam sugerir ou indicar a maneira de morte: suicídio, acidente ou homicídio. Exame externo – inspeção Cadáver de adolescente ou jovem adulto, sem história pregressa de doença grave: drogas ou venenos. Espuma na boca e narinas, envenenamento por drogas. Odores especiais: álcool, amêndoas amargas (cianeto - 20 - 25% das pessoas são incapazes de senti-lo). Inspeção particular da pele e mucosas Cor vermelho – carmim ou cereja: principalmente das hipóteses sanguíneas – monóxido de carbono ou cianeto. Icterícia: intoxicação por fósforo ou tetracloreto de carbono. Lesões cáusticas nos lábios, mãos, vestuário (gola): ingestão de produto químico (biocidas em geral). Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 28 Erupções cutâneas: arsênio, fósforo, mercúrio. Cicatrizes de lesões cortantes (punhos) indicativas de tentativa anterior de suicídio. Lesões múltiplas puntiformes (picadas), recentes ou cicatrizes ao longo de trajetos venosos (antebraço): droga (toxicomania). Não descartar a possibilidade de ser vestígio de injeção (possibilidade rara) com propósitos de envenenamento (insulina, curarizantes, etc). Perfuração do septo nasal. Lesões Corporais Conceitos O termo “lesão corporal” apresenta conceitos diferentes, de acordo com a área de conhecimento que estamos consultando: Medicina pericial: “qualquer modificação de normalidade de origem externa capaz de provocar dano pessoal em decorrência de culpa, dolo ou acidente”. Doutrina penal: “consequência de um ato violento capaz de produzir, direta ou indiretamente, qualquer dano à integridade ou saúde de alguém ou responsável pelo agravamento/continuidade de uma perturbação já existente”. Medicina curativa: “alteração anatômica e funcional de um órgão ou tecido”. Para a medicina legal, lesão corporal é aquela que atingem a integridade física e psíquica de alguém. Têm o significado jurídico de configurar, no dolo ou na culpa, um crime contra a pessoa. Objetivo do Médico Perito Caracterizar a lesão em sua: Extensão Gravidade Perenidade Termos Técnicos Causa: é o que leva a resultados imediatos e responsáveis por determinada lesão (relação causa x efeito) Concausa: fatores que se associam para o agravamento ou atenuação de uma lesão. Ex.: portador de esplenomegalia que se rompe ao receber um murro no abdome. Pré-existente: portador de alguma alteração orgânica ou anatômica que já estava lá antes do ferimento. Ex.: morte por perfuração de coração após ferimento em hemitórax direito de paciente com situs inversus. Superveniente: não segue a consequência natural do ferimento. Ex.: morte por tetania desenvolvida em ferimento originalmente leve. Voluntária: agravamento das lesões por negligência, imprudência ou imperícia da vítima. Lesão agravada pelo resultado: causas não seriam nem anteriores nem posteriores ao ferimento; a morte ocorre por surgimento de agravo não esperado ou possível de ser previsto. Ex.: ferimento por projétil de arma de fogo transfixante que atingiu pescoço apenas em planos superficiais (lesão leve – enfraquece parede carotídea). Dias depois, paciente vem à óbito por hemorragia em função do rompimento inesperado da carótida (impossível verificar em exames antes da ocorrência). Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 29 Classificação das Lesões por Dano Lesões Leves Estão representadas por danos de pouquíssima repercussão orgânica, sendo caracterizadas como superficiais. O conceito de lesão corporal de natureza leve é estabelecido por exclusão dos fatores que a caracterizariam como grave ou gravíssima. Vale lembrar que, na classificação de uma lesão, leva-se em conta o dano causado pelo agressor, não sua intensão (gravidade do crime). As lesões leves são responsáveis por 80% do total das lesões corporais, constituindo-se em equimoses, escoriações (solução de continuidade superficial da epiderme – recente ou não) e feridas contusas (caso deixem impresso o formato do objeto, são ditas lesões em assinatura). Lesões Graves São caracterizadas como graves as lesões que resultam em incapacidade para ocupações habituais por mais de 30 dias, mesmo que não venha a serde forma integral. Essa incapacidade deve ser real (perito deve comprovar que não se trata de simulação do periciado, que pode estar buscando vantagens ou incriminar alguém). Quando geram sequelas, elas são de debilidade (permanece capaz de realizar a função, porém com menor eficácia). O ofendido fica sem condições de retornar a todas suas atividades comuns antes de 30 dias, os quais são contados a partir da data da lesão. A incapacidade não precisa ser absoluta, basta que a lesão caracterize perigo ou imprudência no exercício dessas ocupações. A perícia deve ser repetida em um segundo momento (prazo estipulado de acordo com a natureza da lesão), a fim que seja constatada a necessidade de um período maior do que 30 dias para a recuperação da vítima e retorno às suas ocupações habituais. Observações As fraturas são as lesões que mais incapacitam, comumente necessitando de períodos superiores a 30 dias (exceto fraturas nasais) para que haja recuperação e retorno às atividades. 30 dias é um prazo clínico e previsto por lei. Apesar disso, pode ser estendido (ex.: fratura de ossos longos – 90 dias). O que estabelece a alta definitiva sem necessidade de cuidados assistenciais é mais a cura funcional do que a cura física. Perigo X Risco à Vida Apesar de parecerem sinônimos, “risco” e “perigo” apresentam significados diferentes. Um quadro de perigo à vida deriva de uma situação de risco à vida que evoluiu: por exemplo, uma pessoa atravessa correndo uma rodovia de alta velocidade (risco à vida) e é atropelada por um ônibus (perigo à vida). O perigo decorre de diagnóstico e não de mero prognóstico de peritos – trata-se da possibilidade eminente de morte, com dano efetivo e atual (não uma hipótese, como no risco). Caracterizado com sintomas graves e sérios, onde as funções vitais estejam indiscutivelmente comprometidas. As lesões com maior probabilidade são feridas penetrantes do abdome e tórax, hemorragias abundantes, fraturas de crânio e coluna vertebral. Resulta na morte do ofendido se não for socorrido adequadamente e em tempo hábil. Debilidade Permanente de Membro/Sentido/Função Sempre de caráter funcional, não levando em consideração o aspecto físico (significado fisiológico, não anatômico). O ofendido segue sendo capaz de realizar a função, porém com uma eficiência muito menor. As funções passíveis de debilitação são as atividades de órgãos/aparelhos do corpo humano, normalmente pares (rins, olhos, ouvidos, membros) que, apesar de reduzidas, não ficam inutilizadas por completo. Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 30 Aceleração do Parto Antecipação da data prevista ou esperada para o parto, motivada por agressão física ou psíquica. Caso ocorra óbito fetal, a lesão passa a ser classificada como gravíssima, dado que resultou em aborto. Lesões Gravíssimas Caracterizadas por incapacidade permanente para o trabalho (e não ocupações habituais). Quando há dano anatômico ou funcional que torne o ofendido inválido de forma total e permanente para o exercício de atividade laboral (perda total da função). Vale lembrar que a readaptação profissional não modificará o conceito médico-legal da incapacidade permanente, não resultando em benefício/redução de culpa do agressor. Os critérios para avaliação de invalidez devem ser norteados por persistência ou agravamento dos sinais e sintomas, constatação por exames subsidiários, tempo de doença, insucesso terapêutico, local e extensão do dano. Enfermidade Incurável Déficit funcional ou orgânico causado por uma ação lesiva, de evolução crônica ou permanente (ex.: epilepsia decorrente de lesão). É necessário que seja incurável. O ofendido não está obrigado a passar por terapias de risco ou excepcionais para beneficiar o agressor – porém, não deve de modo proposital, dificultar o processo de cura. Perda ou Inutilização de Membro/Sentido/Função Consiste na perda total da capacidade concedida por um órgão ou conjunto de membros, tornando o agredido inútil para determinada função. ○ Observação: a perda ou grave comprometimento permanente de um só dos órgãos duplos são considerados uma lesão grave (debilidade da função). Já a perda de um deles acompanhada de grave comprometimento ou perda de outro é considerada uma lesão gravíssima. Deformidade Permanente São lesões imprescindíveis a alteração da aparência de forma permanente e irreparável pelos meios comuns. Dano estético seja capaz de causar uma impressão vexatória ou interfira negativamente na vida social ou econômica, entrando nesse mérito quaisquer lesões que causem constrangimento, sentimento de repulsa ou piedade. Abortamento Consiste na morte do embrião ou feto no útero ou sua expulsão violenta seguida de morte. É indispensável ao reconhecimento a constatação pericial dos sinais de certeza da gravidez, do nexo de causa e efeito, da existência de vida fetal antes do ocorrido e da sua causa mortis. Alguns admitem que é indispensável que o agente tenha conhecimento da gravidez da ofendida ou que sua ignorância quanto a mesma tenha sido inescusável (neste caso ter-se-á “um erro de fato invencível” – agressor não tinha consciência nem intenção do dano que causou). Paciente masculino, 46 anos, sofre acidente que tem como desfecho a enucleação de um globo ocular com preservação do outro – lesão grave (ainda é capaz de enxergar). Mesmo paciente sofre o mesmo acidente, porém tem como desfecho a enucleação de um globo ocular e desenvolvimento de catarata severa no outro – lesão gravíssima (perda visual total). Exame Complementar É um segundo exame pericial que se faz logo que decorra o prazo de 30 dias após a ocorrência da lesão corporal. Esse exame avalia a extensão dos danos causados pela lesão, sua perenidade e se o ofendido já está (ou não) apto para Allana Catafesta, Crislaine Padilha e Kelly Thaís – ATM 2019 31 retornar às suas atividades cotidianas e laborais. Se necessário, pode ser realizado novamente após 60/90/120/... dias, de acordo com a lesão. Lesão Corporal Seguida de Morte Sempre que ocorre morte por consequência da lesão corporal produzida pelo agente e que este não teve intenção de matar, nem de assumir o risco desse resultado. Caso haja intensão, é caracterizado como homicídio. O reconhecimento dos elementos deste tipo cabe a justiça, mas o informe médico é de capital importância na diferenciação do crime doloso x culposo. Perícia Através da perícia é possível determinar a forma de energia que deu causa as lesões e o instrumento ou meio utilizado, bem como a causa jurídica da lesão. As lesões devem ser localizadas precisamente dentro do corpo humano, sendo utilizadas para tanto nomenclaturas que permitam um mapeamento do corpo e possibilitem a determinação exata de cada ponto graficamente. Ao final da perícia, o laudo fornecerá respostas objetivas a quesitos, que permitirão que se afirme as causas e conseqüências do delito, diante dos elementos colhidos no exame, juntamente com provas complementares. Não cabe ao perito descrever suas impressões éticas da agressão periciada. Quesitos Oficiais I. Se houve ofensa à integridade física ou à saúde; II. Qual o instrumento utilizado III. Se a lesão foi produzida por meio insidioso ou cruel (veneno, tortura, etc.) IV. Se provocou incapacidade por período superior a 30 dias (leve?) V. Se resultou em dano permanente/perda/inutilização de membro/sentido/função (grave?) VI. Se inabilitou a vítima ao trabalho, gerou doença incurável ou, ainda, deformidade (gravíssima?) VII. Se provocou aceleração de parto ou aborto Classificação por Qualidade Ofensa a integridade corporal Incapacidade para ocupações habituais Incapacidade permanente para o trabalho
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