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Aula_07

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CONTEÚDO, METODOLOGIA E PRÁTICA DE ENSINO DA HISTÓRIA E GEOGRAFIA 
Rio de Janeiro- 2011
O VIVER E FAZER DE UM POVO
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CULTURA
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OBJETIVOS DA AULA
 
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Demonstrar que não existem diferenças entre os termos cultura e civilização. 
Compreender que os preconceitos culturais são tão fortes que até se confundem por vezes com diferenças biológicas ou 
raciais.
Identificar as duas principais características da cultura 
brasileira.
Destacar a importância do convívio da produção cultural popular com a produção cultural erudita no cotidiano da sociedade brasileira.
Verificar a importância de se trabalhar a questão indígena de modo mais reflexivo e menos exótico.
Reconhecer a necessidade de se analisar os diversos itens culturais dos indígenas para bem caracterizá-los.
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TÓPICOS DA AULA
Tópico 1- Cultura e Civilização: 
preconceito racial e cultural
Tópico 2- A Cultura Brasileira
Tópico 3- O índio brasileiro na escola
 
 
 
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Um dos mais curiosos exemplos da inadequação da política de integração de um índio na sociedade não-índia foi a experiência de Ralita, um kalapalo que prestou serviço militar e chegou a trabalhar como garçom na cidade do Rio de Janeiro. De volta ao Xingu, ele revela que teve dificuldades de readaptação ao modo de vida de seu povo, mas que não quer voltar para a cidade.  
A desilusão de um kalapalo no mundo dos caraíbas
Edilson Martins
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A história de Ralita introduz bem o tema da aula de hoje: “O viver e fazer de um povo”.
 
Ela trata da construção de conceitos como cultura, civilização e etnocentrismo.
 
Faz-nos ver que as diferenças culturais são decorrentes de determinantes históricos e não de fatores étnicos ou raciais. 
A experiência de Ralita nos ajuda a entender que é preciso conviver com as diferenças culturais que estão presentes em nosso cotidiano . E isso deve ser analisado e discutido na sala de aula.
 
 
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1-CULTURA E CIVILIZAÇÃO:
 PRECONCEITO RACIAL E CULTURAL
 
 
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O conceito de cultura, em seu sentido antropológico, significa o conjunto das criações materiais e imateriais de um grupo social ou povo.
Nesse sentido, ele corresponderia exatamente ao termo “civilização”.
Mas infelizmente o que se constata na maioria dos trabalhos dos historiadores do mundo ocidental e, sobretudo, nos livros didáticos , é uma diferenciação entre os dois termos: aplica-se a palavra cultura e civilização com valores diferentes.
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UMA DIFERENCIAÇÃO 
PRECONCEITUOSA 
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”Civilização Indígena” ou “Cultura Indígena” ?
”Civilização Europeia” ou “Cultura Europeia”? 
Aos grupos sem escrita, ditos “primitivos” aplica-se o termo cultura e a palavra “civilização” aos povos de cultura mais complexa, já possuidores de escrita e de um tipo de organização mais elaborado.
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Raramente vemos nos livros a expressão ”civilização indígena” ou “cultura europeia” , o que demonstra uma diferenciação preconceituosa estabelecida entre povos sem escrita, ditos sem civilização ou sem história e os que possuem as três.
Essa atitude de discriminar culturas e povos é antiga. Na antiguidade tudo o que não participava da cultura greco-romana, recebia o nome de “bárbaro”.
A civilização ocidental, em seguida, utilizou o termo ”selvagem” no mesmo sentido, quando referiu-se aos indígenas. 
E até hoje, usa-se expressões como “modos selvagens”, “parece primitivo”, “programa de índio” para indicar alguma atitude que condenamos.
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 AUGUSTO COMTE 
Nos três casos existe a recusa de admitir o próprio fato da diversidade cultural, lançando do lado de fora tudo o que não se harmoniza com os padrões sob os quais se vive.
Esse conjunto de preconceitos se origina do etnocentrismo, ou seja, a atitude que cada povo tem de se achar melhor do que os que dele diferem. 
Os preconceitos culturais são tão fortes que até se confundem por vezes com diferenças biológicas ou raciais.
Isso provoca a situação de colocar o preconceito racial e o cultural de mãos dadas.
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Segundo, Claude Lévi-Strauss 
“... nada, no estado atual da ciência, permite afirmar a superioridade ou inferioridade intelectual de um povo em relação a outro”.
Claude Lévi-Strauss
No trato de problemas relativos à diversidade cultural devemos deixar a criança à vontade para elaborar seu próprio julgamento de si e dos outros.
 
Os padrões culturais devem ser avaliados sem estabelecer “a priori” um modelo como certo e os demais como errados.
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CARACTERÍSTICAS DA CULTURA E 
OBJETIVOS DO TRABALHO EM SALA DE AULA
 
Percepção das diversas formas de intervenção do homem na natureza 
Trabalhando essa característica estamos discutindo com os alunos a necessidade de se criar um novo modelo de vida no qual o consumo seja repensado e a natureza seja mais respeitada.
A cultura é a mediação entre o homem e a natureza
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A cultura é herança e resulta do jogo da comunicação
O reconhecimento da importância de se trocar experiências entre pessoas de idades, origens e histórias de vida diferentes.
Essa característica nos permite discutir a questão da diversidade cultural.
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A cultura é construção e permite aos indivíduos e grupos se projetarem para o futuro.
A cultura é dinâmica, certos traços são interiorizados, outros são rejeitados e outros são criados.
Essa característica nos permite trabalhar com os alunos a aceitação das mudanças e inovações.
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A paisagem carrega a marca da cultura
A organização do espaço reflete as técnicas materiais e estéticas de cada época.
Esta característica vai nos permitir explicitar a relação entre sociedade, espaço, tempo e cultura.
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A cultura é em grande medida feita de palavras, articula-se no discurso e realiza-se na representação. 
A cultura é constituída de realidades e signos que foram inventados para descrevê-la, dominá-la e verbalizá-la. Ao serem repetidos em público, certos gestos assumem novas significações. Transformam-se em rituais e criam, para aqueles que os praticam ou que os assistem, um sentimento de comunidade compartilhada.
Esta característica vai nos permitir discutir as diferenças entre povos.
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A cultura é um fator essencial de diferenciação social 
Nem todo mundo recebe a mesma bagagem, não a interioriza da mesma maneira e nem a utiliza para os mesmos fins. A cultura é um dos fatores essenciais da diferenciação das situações sociais e do status que é reconhecido a cada um.
 
Esta característica vai nos permitir analisar as diferentes leituras de mundo.
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TÓPICO 2- A CULTURA BRASILEIRA
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-diluição e a pasteurização de expressões culturais ancestrais;
-imposição de um só modelo cultural; 
-propostas de massificação e uniformização das expressões artísticas; 
-transformação o indivíduo em receptáculo de uma só forma de leitura do mundo.
Globalização X Manutenção das Culturas
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Em um mundo composto por uma imensa pluralidade cultural, acredita-se que não existam possibilidades do predomínio de uma cultura dominante, em detrimento das demais. 
Somente por meio do fortalecimento das comunidades locais e da criação de um novo sistema internacional que valorize a cooperação acima da competição pode-se encaminhar o mundo para um novo modelo. 
Esse modelo descarta o processo de uniformização das culturas e prega uma mundialização produzida de forma economicamente justa, valorizando o que é local e procurando desfazer a hierarquia entre os povos. 
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http://youtu.be/ClGcewCVnNM A invenção do povo brasileiro
O Brasil é um país cuja cultura tem várias características, sendo que ao menos duas delas são essenciais: a diversidade e a dinâmica.
A primeira (diversidade) se explica pelas múltiplas raízes que formaram o povo brasileiro. Embora na maioria das vezes nós mesmos não reconheçamos este fato, somos, na verdade
filhos de muitos pais, mas também de muitas mães e de uma só terra. 
A DIVERSIDADE DA CULTURA 
BRASILEIRA
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No emaranhado da identidade brasileira existem fortes raízes indígenas, africanas, europeias, e mais recentemente árabes e asiáticas. 
Esse processo fez de nós um povo que soube reunir muitas vozes, muitas faces, muitas cores, numa só alma. 
 A partir dessa alma os brasileiros expressam através de sua arte, de sua cultura. 
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A segunda característica essencial da cultura brasileira é o seu dinamismo. 
O povo brasileiro sempre soube renovar sua expressão, com grande agilidade e em alta velocidade, sem jamais perder suas tantas raízes. 
 
Como resultado temos hoje uma cultura aberta, que recebe e assimila influências sem perder em nenhum momento seu eixo, seu tônus vital.
Essa enorme capacidade de assimilação faz com que em nossa cultura exista uma forma pessoal de se expressar. Recebemos as influências, as elaboramos, e logo as devolvemos.
O DINAMISMO DA CULTURA 
BRASILEIRA
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EXEMPLIFICANDO COM O BARROCO E A BOSSA NOVA
Barroco Brasileiro: 
-primeira expressão de uma arte brasileira; 	
-nasce do barroco trazido 
de Portugal;
-resultado da assimilação, adaptação, brasileira.
 Bossa Nova: 
-ritmo musical brasileiro, 
reelaborado com fortes influências 
do jazz norte-americano.
-samba renovado , terminou sendo influência fundamental para a renovação do próprio jazz.
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0 Brasil tem uma cultura de fortes e profundas raízes populares, que convive e muitas vezes interage com uma cultura que os estudiosos chamam de "superior", mais sofisticada - ao menos, em teoria.
Basta observar a literatura de João Guimarães Rosa, ou a música de Heitor Villa-Lobos, para ficarmos em duas obviedades.
 São expressões de uma arte altamente elaborada, mas que em nenhum momento deixa de mostrar um mergulho profundo na alma do Brasil - ou seja, em suas raízes mais autênticas. 
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Karl Marx
Friedrich
 Engels
Dentro da expressão das artes normalmente classificada como "popular" os exemplos de alta sofisticação, elaboração e refinamento também são comuns. 
É só observar a música de Pixinguinha (imensa discografia) ou de Ernesto Nazareth -tangos (em torno de 90 peças), as valsas (cerca de 40) e as polcas (cerca de 20)- para uma vez mais ficarmos em apenas dois exemplos.
Claro que a própria história e o desenvolvimento do Brasil como Estado, como nação, contribuíram para que essa unidade exista a partir justamente (e não apesar) da diversidade. 
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No Brasil os descendentes de imigrantes integram-se e agregam as suas raízes. Ninguém é definido, no Brasil, como "ítalo-brasileiro", ou como "germano-brasileiro". 
Podem ser tratados como Italiano", "japonês", "turco" ou "polaco", mas serão sempre considerados brasileiros - e assim se consideram.
Essa enorme capacidade de assimilação de nosso povo fez com que culturalmente nos tornássemos exatamente aquilo que na estrutura social e econômica não conseguimos ser até hoje: um país efetivamente democrático. 
A sociedade brasileira continua sendo desigual, segregadora, injusta. A cultura brasileira, não. 
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TÓPICO 3- O ÍNDIO BRASILEIRO NA ESCOLA
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Até hoje, nas escolas, o tratamento dado aos índios não é feito de modo correto.
 
Vê-lo como um indivíduo diferente e exótico, lembrar dele somente na comemoração das datas cívicas, enfeitar os alunos com peninhas e riscos nos rostos é no mínimo desrespeitoso e antiético. 
“Falar dos índios é abordar, com seriedade, os problemas que ele vem enfrentando em sua trajetória. É falar das precárias condições em que vivem, é falar da dizimação que seu povo vem sofrendo, é falar da luta pela demarcação de suas terras...”1
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Calcula-se que, quando os portugueses apontaram nestas terras, os indígenas somavam cerca de 4 milhões de pessoas.
 
Hoje, depois de cinco séculos, a população indígena é de aproximadamente de 400 mil pessoas.
Desde a década de 1980, porém, a população indígena tem crescido sem cessar. Esse processo foi impulsionado, em primeiro lugar, pela organização dos indígenas, que têm reivindicado seus direitos de forma ostensiva.
A Constituição brasileira reconhece aos índios “os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam”. Eles são usufrutuários. 
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Desse modo, as terras indígenas são patrimônio da União, à qual compete demarcá-las e protegê-las. 
O desrespeito sofrido pelos indígenas, ainda continua: perseguição pelos fazendeiros, empresas de madeiras e mineradoras que tentam explorar as riquezas minerais e florestais de seus territórios.
Ao longo do século XX os irmãos Vilas Boas criaram o Parque Nacional do Xingu, no norte do Mato Grosso onde vivem vários grupos conservando sua cultura e modo de vida. 
Outro fato importante nesse período foi a criação da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) que hoje funciona com a gestão participativa do índio.
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Segundo a FUNAI há atualmente 215 diferentes sociedades indígenas, que somam uma população superior a 345 mil pessoas, com 180 línguas. 
Porém se lembrarmos que na época do descobrimento eram faladas pelo menos 1300 língua, veremos que esse número representa uma perda irreparável.
Mesmo assim, a cultura indígena é marcante em nosso cotidiano: palavras de origem tupi (Pacaembu, Morumbi, Itatiba etc), uso de ervas medicinais, a culinária ( milho e da mandioca), em hábitos como o gostar de tomar banho etc.
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Para trazer toda essa problemática para a sala de aula é importante o uso de vários recursos: notícias de jornal, filmes, trazer as lendas e histórias indígenas para ler com os alunos, visitar museus, fazer entrevistas com antropólogos ...
E principalmente estudar muito sobre esses grupos sociais -cultura ontem e hoje.
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